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Odontologia Legal Conceitos Fundamentais de Odontolgia Legal: Identificação Humana Ariane Salgado IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO Identidade é o conjunto de caracteres físicos, funcionais e psíquicos, natos ou adquiridos, porém permanentes, que torna uma pessoa diferente das demais e idêntica a si mesma. Em sentido estrito, a identidade neste conceito refere-se à identidade física. Em sentido amplo, o conceito de identidade inclui todos os elementos que possam individualizar uma pessoa, como: estado civil, filiação, idade, nacionalidade, condição social, profissão, etc.é Identificação é o processo que compara esses caracteres, procurando as coincidências entre os dados previamente registrados e os obtidos no presente. Em outras palavras, identificação é um conjunto de procedimentos diversos para individualizar uma pessoa ou objeto. REQUISITOS TÉCNICOS Para que um processo de identificação seja aplicável, é necessário que preencha cinco requisitos técnicos: Unicidade ou Individualidade – é a condição de não ver repetido em outro indivíduo o conjunto dos caracteres pessoais, isto é, apenas um único indivíduo pode tê-los. Imutabilidade – é a condição de inalterabilidade, por toda a existência, dos caracteres. Perenidade – é a capacidade de certos elementos resistirem à ação do tempo. Praticabilidade – é a condição que torna o processo aplicável na rotina pericial. É, enfim, a qualidade que permite que certos caracteres sejam utilizados, como: custo, facilidade de obtenção, facilidade de registro, etc. Existem métodos que podem ser de excelente qualidade em termos de identificação, como o perfil de DNA, porém, seu elevado custo, bem como a dificuldade de aplicação do teste dificulta a sua utilização rotineira. Classificabilidade – é a condição que torna possível guardar e achar, quando preciso, os conjuntos de caracteres que são próprios e identificadores das pessoas. Isto é, a possibilidade de classificação para facilitar o arquivamento e a rapidez de localização em arquivos. IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL Os procedimentos concebidos através dos tempos para a identificação criminal foram os mais diversos, mas sempre deixando marcas evidentes para identificar e segregar da sociedade os criminosos. Por exemplo, a lei islâmica, que após julgamento sumário, o ladrão tem a mão direita amputada; ou mesmo a marcação por ferrete, que foi muito utilizada na Europa e no Brasil, em que a localização da marca do ferrete determinava o tipo de crime cometido (roubo, prostituição, etc). Esses se constituiam métodos de identificação empíricos. Mais modernamente, com a evolução da sociedade e com o intuito de preenchimento dos requisitos técnicos, surgiram os métodos científicos que podem ser divididos em três grandes grupos: 1. MÉTODOS ANTROPOMÉTRICOS: Método de Bertillon (Bertillonage): Idealizado por Alphonse Bertillon, em Paris, baseia- se na fixidez e na variedade do esqueleto. Medem-se os diâmetros transverso e ântero- posterior do crânio; a estatura; a envergadura e os comprimentos do antebraço, do pé, dos dedos médio e mínimo do lado esquerdo. Consta de: o Assinalamento antropométrico = medições corporais; o Assinalamento descritivo = fotografia de frente e perfil direito de 5 x 7; o Assinalamento segundo marcas particulares = manchas, marcas, cicatrizes, etc. o Este método foi utilizado no fim do Brasil Império e no começo da fase republicana. Método geométrico de Matheios: Consiste na confrontação de medidas, sobre fotografia, da face. Esse método é a essência do exame prosopográfico e prosopométrico, que consiste na decomposição analítica das proporções do rosto, segundo uma metodologia geométrico-matemática proposta por Ghyka (1938), com a finalidade de determinar graus de parentesco pelas características coincidentes da face. Método odontológico de Amoedo: Consiste no levantamento dos dentes de ambos os arcos dentais, superior e inferior, com o assinalamento das particularidades de cada dente. Método otométrico de Frigério: Baseado nas formas e nas medidas dos pavilhões auriculares. 2. MÉTODOS ANTROPOGRÁFICOS Método craniográfico de Anfosso: Determinação dos perfis cranianos e dos ângulos formados pelo 1° e 3° quirodáctilos direitos. Método onfalográfico de Bert e Viamy: Constituído pelo levantamento gráfico da cicatriz umbilical. Método flebográfico de Tamassia: Representado pelo levantamento das ramificações venosas do dorso da mão. Método flebográfico de Ameuille: Consiste no levantamento fotográfico das veias da fronte. Método radiográfico de Levinsohn: Constituído pelo levantamento radiográfico minudente dos metacarpianos e metatarsianos. 3. MÉTODOS DERMOPAPILOSCÓPICOS Impressões digitais, impressões palmares, impressões planteres e poroscopia. OS ARCOS DENTÁRIOS NA IDENTIFICAÇÃO: Atualmente, os dentes constituem elementos singulares na identificação humana, e assim como a papiloscopia, os exames de identificação pelos é um dos métodos primários de identificação humana por comparação. Os dentes possuem extraordinária resistência às situações que, via de regra, produzem destruição das partes moles, como a putrefação e as energias lesivas (agentes traumáticos, energias físicas, energias químicas), ou mesmo em grandes catástrofes ou desastres coletivos. Um dos casos mais significativos no Brasil de identificação em que a Odontologia Legal foi decisiva, foi o da identificação dos restos mortais do médico alemão Josef Mengele, em 1985, cognominado de “Anjo da Morte”, responsável pela morte de milhares de pessoas confinadas no campo de concentração de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial. As informações que se pode obter do exame dental dos restos encontrados, desde uma ossada à fragmentos do viscerocrânio, podem orientar sobre dados úteis na investigação policial. Além de identificarem se aquela ossada ou fragmento trata-se de ossos e dentes da espécie humana, o mesmo estudo fornece informações a respeito da vítima que permitem a individualização, tais como: espécie, grupo racial, sexo, idade, altura, individualidades e até mesmo determinadas profissões. Em determinados casos, devido principalmente ao seu estado de deterioração, têm-se recorrido à analise genética (DNA), realizando a coleta do material biológico diretamente em elementos dentários, que vem sendo priorizados para análises genéticas devido, principalmente, ao fato da cavidade pulpar, que se constitui em arcabouço formado pelas paredes entre esmalte, dentina e cemento, propiciar o meio estável para o DNA, e embora a estrutura externa do esmalte apresente trincas a 150°C, o dente preserva o material genético até 600°C, chegando à carbonização completa do esmalte a 800°C e destruição do material pulpar. Assim sendo, a polpa dentária, protegida por este arcabouço, pode ser recuperada para extração do DNA. IDENTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS DENTÁRIOS SEGUNDO FEDERAÇÃO DENTÁRIA INTERNACIONAL (FDI) DENTIÇÃO PERMANENTE: Na dentição definitiva os dentes são identificados por números de dois algarismos. O primeiro dígito vai do 1 ao 4, representando os quadrantes ou hemiarcos, seguindo-se o sentido horário. O segundo dígito, de 1 a 8, representando a peça correspondente desde o incisivo central até o molar. A sequência dos dentes em cada hemiarco é – o Incisivo central (11,21,31 e 41), o Incisivo lateral (12,22,32 e 42), o Canino (13, 23, 33 e 43), o 1° pré-molar (14,24,34 e 44), o 2° pré-molar (15, 25, 35 e 45), o 1° molar (16,26,36 e 46), o 2° molar (17,27,37 e 47) e o 3° molar (18,28,38 e 48). DENTADURA DECÍDUA:os dentes conhecidos como “dentes de leite” são identificados por números de dois algarismos. O primeiro dígito vai do 5 ao 8, representando os quadrantes, e o segundo dígito vai do 1 ao 5, seguindo-se o sentido horário, representando cada elemento dentário. A sequência dos dentes em cada hemiarco é – o Incisivo central (51,61,71 e 81), o Incisivo lateral (52,62,72 e 82), o Canino (53,63,73 e 83), o 1° molar (54,64,74 e 84) e o 2° molar (55,65,75 e 85). PARTES QUE CONSTITUEM OS DENTES: COROA CLÍNICA: É a parte do dente que fica exposta ao meio bucal, visível clinicamente. É constituída, da sua camada mais externa para a mais interna por esmalte, dentina e polpa. RAIZ: É a parte do dente que fica alojada dentro do osso alveolar, cada uma em seu respectivo alvéolo. Os dentes podem ser unirradiculares, contendo somente uma raiz, ou multirradiculares, contendo duas ou três raízes, normalmente. As raízes são constítuidas desde sua camada mais externa para a mais interna por cemento radicular, dentina e polpa. COLO: Local em que se encontra a junção cemento-esmalte. É o encontro da coroa clínica com a raiz. DETERMINAÇÃO DA ESPÉCIE O diagnóstico da espécie só se constitui um problema quando uma ou mais peças dentárias são encontradas isoladas dos respectivos alvéolos. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DOS DENTES HUMANOS MACROSCÓPICO: A característica morfológica fundamental, privativa dos dentes humanos e que os torna diferentes dos de quaisquer outras espécies animais, é que nos dentes humanos a coroa e a raiz se encontram em um mesmo plano, apresentando-se como segmentos de hastes retas. Contrariamente, nos animais, a raiz sempre descreve curvas, exibindo uma grande angulação. Apenas os macacos antropóides mostram uma certa semelhança aos incisivos e caninos humanos. MICROSCÓPICO: O exame microscópico pode ser realizado através de um corte sagital e observação por epiiluminação. Os dentes humanos mostram características exclusivas, tais como: Os prismas de esmalte são ondulados; Os referidos prismas são paralelos e perpendiculares à dentina; Estes prismas têm uma largura média de 5µ e um comprimento de 2mm; Os prismas apresentam estrias escuras transversais a intervalos regulares em torno de 4µ; A linha de união entre o esmalte e a dentina exibe um aspecto em guirlanda. DETERMINAÇÃO DO GRUPO RACIAL As principais características raciais encontram-se presentes nos molares, através dos quais é possível diferenciar as raças ortognatas (brancos ou caucasóides), prognatas (negros, melanodermas e faiodermas) e as denominadas raças primitivas (aborígenes australianos). RAÇAS ORTOGNATAS Cúspides disto-palatinas muito pequenas, quando comparadas com as cúspides mesio- palatinas, e além disso, ambos os grupos de cúspides encontram-se separados pelo sulco principal bem demarcado. 1° molar inferior conserva apenas uma marca leve da soldadura da cúspide posterior; 2° e 3° molares inferiores não têm cúspides posteriores diferenciadas. RAÇAS PROGNATAS Nos molares superiores as cúspides disto-palatinas têm um tamanho significativo; Nos molares inferiores apresenta-se uma cúspide posterior diferenciada. RAÇAS PRIMITIVAS Molares inferiores semelhantes aos dos macacos chimpanzés. ÍNDICE DENTÁRIO: é útil para estabelecer diferenças entre grupos humanos, e uma das formas mais utilizadas para obtê-lo é através do Índice de Flower, com a seguinte fórmula: (Comprimento da borda mesial do 1°PM a borda distal do 3°M) x 100 Distância básio-násio Não se dispondo de todas as peças dentárias, pode-se estabelecer o índice dentário através de: (Comprimento do 11 ou do 21) x 100 Distância básio-násio Ou mesmo de outra fórmula que considera a altura do indivíduo: Comprimento médio de todos os dentes Altura do indivíduo Os índices obtidos pela aplicação de qualquer uma das fórmulas antes mencionadas devem ser confrontados com os índices de tabela abaixo TIPO ID ETNIA Microdontes <41,9 Caucásicos Mesodontes 42,0 a 43,9 Negróides, mongólicos Megodontes >44,0 Australóides DETERMINAÇÃO DO SEXO Em relação à morfologia dos dentes, os incisivos superiores são as peças dentárias que exibem maior dimorfismo sexual, e por consequência, são os dentes que podem oferecer dados relacionados com o sexo de um crânio ou de uma vítima, e isso obviamente é um fator limitante. Incisivos centrais superiores: são mais volumosos nos individuos do sexo masculino do que nos do sexo feminino, mas as diferenças são milimétricas. A relação entre o diâmetro mesio-distal do incisico central e incisivo lateral superiores é menor na mulher do que no homem, visto que na mulher, os dentes são mais semelhantes entre si. Cronologia de erupção: no sexo feminino a erupção da dentição permanente é mais precoce que no sexo masculino, sendo certo que a diferença entre ambos é da ordem de aproximadamente 4 meses. DETERMINAÇÃO DA ALTURA A fundamentação do método matemático que permite o cálculo da altura do indivíduo a partir dos dentes reside no fato de que existe proporcionalidade entre estas medidas. É denominado Método de Carrea. Mede-se em milímetros o “arco” da circunferência constituído pela somatória dos diâmetros mesio-distais do incisivo central, lateral e canino inferiores do lado esquerdo ou do direito; e mede-se a “corda” deste “arco” traçando uma linha reta entre a borda mesial do incisivo central até a borda distal do canino do mesmo lado. Carrea nomeou essa medida de “raio-corda inferior”. A altura humana deve estar entre essas duas medidas, que devem ser consideradas uma máxima à medida do arco, e uma mínima, à medida do “raio-corda inferior”, quando aplicada na seguinte fórmula para a estimativa da altura em milímetros: 1. Altura máxima (em mm) = Arco x 6 x 10 x 3,1416 2 2. Altura mínima (em mm) = Raio-corda x 6 x 10 x 3,1416 2 A altura masculina estará mais próxima da altura máxima calculada, ao passo que a altura feminina estará mais próxima da mínima. INDIVIDUALIDADE Esse procedimento de identificação, como outros já descritos, chegará a seus resultados através de confrontos entre os achados no material pesquisado e os registros pré-existentes destes materiais, como fichas odontológicas, odontogramas, anamneses, modelos de gesso, radiografias e fotografias. Do mesmo modo de uma perícia datiloscópica, as comparações entre os dentes do material questionado e os registros pré-existentes deve atingir um número suficiente de coincidências para se poder fazer um diagnóstico identificatório de certeza. Contrariamente, a existência de um ou mais pontos discordantes, realmente incompatíveis entre si, pode permitir a exclusão durante o procedimento de confronto. Todavida, os pontos do mesmo objeto de análise que não forem incompatíveis, não permitirão as afirmações de certeza. Pode-se citar como exemplo procedimentos feitos após os registros odontológicos existentes, como exodontias, implantes ou próteses. Apesar de terem alterado alguns possíveis pontos característicos ou de coincidência, não invalidam a identificação quando esta é possível nos dentes que subsistem. Desta forma, a retirada, eliminação ou desaparecimento de pontos característicos não impossibilita nem invalida a identificação. Já a incongruência entre trabalhos realizados ou extrações efetuadas e o achado dessas peças intactas e presentes na dentadura a ser cotejada exclui a identificação ou faz a identificação negativa. PONTOS CARACTERÍSTICOS INDIVIDUALIZANTES Elementos congênitos que constituem alterações dentárias de: Número: agenesias ou anodontias (ausências), oligodontias (diminuição) ou supranumerários (aumento); Tamanho: macrodontia e microdontia; Forma dentária (heteromorfia):quadrada, retangular, triangular ovóide, caninos em agulha; Volume (heterometria, no caso do nanismo); Disposição peculiar (heteropatia): rotações, apinhamentos; Diastemas. Forma dos arcos dentários na norma horizontal, podendo ser: Normal: em forma de arco de elipse; Trapezoidal ou retangular (Negróide); Triangular (Caucasóide); Redonda: em forma de arco de ferradura (arco de círculo – Mongolóide) Assimétrica. Abóbada palatina no plano frontal, conforme o grau de elevação da sua parte central (rafe mediana) se classifica como: “Alça de Balaio”: quando a elevação é menos acentuada e arredondada; Ogival ou em “aro gótico”: com elevação central muito acentuada; Plano: quando o arco da abóbada é praticamente inexistente. Rugas palatinas. Estigmas resultantes de profissões e hábitos pessoais: Fissuras ou desgastes por ação mecânica e/ou traumas; Corrosões por agentes químicos resultando em maiores índices de cáries; Alteraçoes de cor por agentes químicos, tais como chumbo (manchas acinzentadas no colo dos incisivos e caninos), mercúrio (coloração cinzenta global), cobre (manchas esverdeadas com borda azul), ferro (manchas amarronzadas nas bordas incisais), cádmio (manchas amarelas), etc. Estigmas patológicos, como as cáries dos confeiteiros; Mutilações ornamentais culturais; Incrustação metais ou pedras preciosas (piercings dentais) Tratamentos odontológicos registrados em documentos/fichas odontológicas.
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