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Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 09/08/2017 Curso: Engenharia Mecânica Série: 10º Semestre Sistemas Fluidotérmicos Aula 1 – O Ciclo Otto Quarta 21:00 às 22:40 Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 2 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto 09/08/2017 É interessante, antes de analisarmos os ciclos utilizados nos motores com pistão, apresentar alguns termos e definições que são importantes na análise desses ciclos. Os motores mais utilizado nos automóveis operam com quatro, seis ou oito cilindros e cada conjunto cilindro-pistão apresenta diâmetro nominal B. O pistão está conectado a um virabrequiim (manivela), por meio de uma biela. A figura 12.13 mostra o esboço da configuração cilindro-pistão utilizada nos motores de combuistão interna. Observe que o ângulo da manivela, q, varia com a posição do pistão no cilindro. O curso do pistão é dado por: 1 – Introdução 𝑆 = 2𝑅𝑚𝑎𝑛 Figura 12.13 – Configuração cilindro-pistão utilizada nos motores de combustão interna. Eq. 12.6 O volume deslocado no motor pode ser calculado com a equação: 𝑉𝑑𝑒𝑠𝑙 = 𝑁𝑐𝑖𝑙 𝑉𝑚á𝑥 − 𝑉𝑚í𝑛 = 𝑁𝑐𝑖𝑙 𝐴𝑐𝑖𝑙 𝑆 Eq. 12.7 Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 3 09/08/2017 Note que o volume deslocado no motor caracteriza bem o seu tamanho. A razão entre os volumes internos, máximo e mínimo, da câmara de combustão é denominada pela relação de compressão: 𝑟𝑣 = 𝑅𝐶 = 𝑉𝑚á𝑥 𝑉𝑚í𝑛 Figura 12.13 – Configuração cilindro-pistão utilizada nos motores de combustão interna. Eq. 12.9 O trabalho líquido realizado por um cilindro em um ciclo é: 𝑊𝑙í𝑞 = 𝑚 𝑤𝑙í𝑞 = 𝑃𝑚𝑒𝑓 𝑉𝑚á𝑥, 𝑉𝑚í𝑛 Eq. 12.10 Eq. 12.8 O volume desslocado no motor em conjunto com a relação de compressão caracteriza a geometria do motor. O trabalho específico líquido num ciclo completo é utilizado para definir a pressão média efetiva: 𝑤𝑙í𝑞 = 𝑃 𝑑𝑣 = 𝑃𝑚𝑒𝑓 𝑣𝑚á𝑥 − 𝑣𝑚í𝑛 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 4 09/08/2017 Podemos utilizar esse resultado para determinar a potência do motor, ou seja, 𝑊 = 𝑁𝑐𝑖𝑙𝑚𝑤𝑙í𝑞 𝑟𝑝𝑚 60 = 𝑃𝑚𝑒𝑓𝑉𝑑𝑒𝑠𝑙 𝑟𝑝𝑚 60 Eq. 12.11 Em que rpm significa rotações por minuto. Esse resultado precisa ser corrigido pelo fator ½ quando a equação for utilizada no cálculo da potência dos motores de quatro tempos e isso ocorre porque são necessárias duas revoluções completas para que o motor de quatro tempos complete o ciclo. A maioria dos motores é de quatro tempos e apresenta os seguintes processos (o movimento do pistão e a posição da manivela se referem à figura 12.13): Processo / Movimento do Pistão Posição da Manivela / Ângulo da Manivela Variação de Propriedades Admissão / 1S PMS a PMI / 0 – 180 graus P ≈ Cte, V ↑, escoamento de admissão Compressão / 1S PMI a PMS / 180 – 360 graus V ↓, P ↑, T ↑, Q = 0 Ignição e Combustão / 1S Aproximando-se rapidamente de PMS / 360 graus V = Cte, Q fornecido, P ↑, T ↑ Expansão / 1S PMS a PMI / 360 – 540 graus V ↑, P ↓, T ↓, Q = 0 Exaustão / 1S PMI a PMS / 540 – 720 graus P ≈ Cte, V ↓, escoamento de exaustão 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 5 09/08/2017 Observe que como os processos de admissão e exaustão (escapamento) realizam-se durante um curso do pistão, duas rotações com quatro cursos do pistão são necessárias para o ciclo completo. Num motor de dois tempos, a exaustão começa antes de a expansão ser completada e a admissão se sobrepõe no tempo a parte do processo de exaustão e continua durante a compressão. Isso reduz a eficácia dos processos de compressão e de expansão, mas há geração de potência em cada rotação e a potência total é quase duas vezes a potência do motor de quatro tempos do mesmo tamanho. Na figura xx, é apresentado, esquematicamente, o modo de funcionamento de um motor de dois tempos à gasolina. Na figura yy, são apresentados outros exemplos de aplicações. Figura xx – Funcionamento de um motor dois tempos à gasolina. Figura yy – Motores dois tempos à gasolina: exemplos de aplicações. 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 6 09/08/2017 Motores de dois tempos são usados como motores a diesel em navios de grandes dimensões e como pequenos motores à gasolina para cortadores de grama e ferramentas manuais. Por causa do potencial de ocorrência de fluxo cruzado entre o fluxo de entrada (com combustível) e o de exaustão, o motor de dois tempos de gasolina teve seu uso reduzido e não pôde se adaptar aos requisitos atuais de baixa emissão. Por exemplo, motores de popa para propulsão de barcos que anteriormente eram motores de dois tempos agora são motores de quatro tempos. Na figura zz, é apresentado, esquematicamente, o funcionamento de um motor de dois tempos à diesel. O ciclo do diesel dois-tempos funciona assim: 1. Quando o pistão está no alto de seu curso, o cilindro contém uma carga de ar altamente comprimido. Figura zz – Motores dois tempos à diesel: modo de funcionamento [xx]. 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 7 09/08/2017 O combustível diesel é pulverizado no cilindro pelo injetor e inflama-se imediatamente devido ao calor e à pressão dentro do cilindro. É o mesmo processo descrito em Como funcionam os motores a diesel. 2. A pressão criada pela combustão do combustível empurra o pistão para baixo. Este é o ciclo de potência. 3. Quando o pistão se aproxima do fim de seu curso, todas as válvulas de escapamento se abrem. Os gases queimados são expelidos rapidamente do cilindro, aliviando a pressão. 4. Quando o pistão chega ao final do seu curso, descobre as janelas de admissão de ar. O ar pressurizado enche o cilindro, forçando para fora o restante dos gases queimados. Figura zz – Motores dois tempos à diesel: modo de funcionamento [xx]. 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 8 09/08/2017 5. As válvulas de escapamento se fecham e o pistão começa a voltar a subir, fechando as janelas de admissão e comprimindo a carga de ar fresco. Este é o ciclo de compressão. 6. Quando o pistão se aproxima do topo do cilindro, o ciclo se repete a partir do primeiro passo. Os maiores motores são motores à diesel usados em aplicações estacionárias para geração de potência e em aplicações móveis para sistemas de transporte, como em locomotivas e navios. Uma central de potência comum a vapor não pode iniciar o funcionamento autonomamente e assim tem o apoio de um motor a diesel para acionar sua instrumentação e sistemas de controle. Uma localização remota em terra ou em uma plataforma de perfuração e extração de petróleo em alto mar também usa um motor a diesel para geração de potência. Figura zz – Motores dois tempos à diesel: modo de funcionamento [xx]. 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 9 09/08/2017 Os caminhões e ônibus usam motores a diesel devido a sua alta eficiência e durabilidade; com potência variando de poucas centenas até cerca de 500 HP. Navios usam motores diesel com rotação de 100 a 180 rpm, e dessa forma não necessitam de uma caixa de redução até a hélice (esses motores podem ter sua rotação invertida sem a necessidade de uma caixa de redução. O maior motor do mundo é um motor de dois tempos a diesel com deslocamento volumétrico de 25 m3 e 14 cilindros, fornecendouma potência máxima de 105000 HP, utilizado em um navio porta-contêineres. Figura zz – Navio com motor dois tempos a diesel. 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 10 09/08/2017 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto O ciclo padrão a ar Otto é um ciclo ideal que se aproxima do motor de combustão interna de ignição por centelha. Os diagramas P-v e T-s desse ciclo são apresentados na figura 12- 14. O processo 1-2 é uma compressão isoentrópica do ar quando o pistão se move, do ponto morto do lado da manivela (inferior) para o ponto morto do lado do cabeçote (superior). O calor é então transferido para o ar, a volume constante, enquanto o pistão está momentaneamente em repouso no ponto morto superior (num motor real, esse processo corresponde à ignição da mistura combustível-ar pela centelha, e à queima subsequente). O processo 3-4 é uma expansão isoentrópica e o processo 4-1 é o de rejeição de calor do ar, enquanto o pistão está no ponto morto inferior. Admitindo que o calor específico do ar seja constante, determina-se o rendimento térmico deste ciclo do seguinte modo: 2 – O Ciclo Otto Figura 12-14 – Ciclo padrão a ar Otto. 𝜂𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑜 = 𝑞𝐻 − 𝑞𝐿 𝑞𝐻 = 1 − 𝑞𝐿 𝑞𝐻 = 1 − 𝐶𝑣 𝑇4 − 𝑇1 𝐶𝑣 𝑇3 − 𝑇2 = 1 − 𝑇1 𝑇4 𝑇1 − 1 𝑇2 𝑇3 𝑇2 − 1 Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 11 09/08/2017 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto Além disso observamos que Figura 12-14 – Ciclo padrão a ar Otto. 𝑇2 𝑇1 = 𝑉1 𝑉2 𝑘−1 = 𝑉4 𝑉3 𝑘−1 = 𝑇3 𝑇4 Portanto, 𝑇3 𝑇2 = 𝑇4 𝑇1 𝜂𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑜 = 1 − 𝑇1 𝑇2 = 1 − 𝑟𝑣 1−𝑘 = 1 − 1 𝑟𝑣 𝑘−1 e em que 𝑟𝑣 = 𝑟𝑒𝑙𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 = 𝑉1 𝑉2 = 𝑉4 𝑉3 Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 12 09/08/2017 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto Um fator importante a ser notado é que o rendimento do ciclo padrão Otto é função apenas da relação de compressão e que o rendimento aumenta com um aumento dessa relação. A figura 12.15 mostra o gráfico do rendimento térmico do ciclo padrão a ar em função da relação de compressão. Também é verdade que para um motor real de ignição por centelha o rendimento térmico aumenta quando a relação de compressão é aumentada. A tendência para utilização de relações de compressão maiores é induzida pelo esforço de se obter rendimentos térmicos maiores. Figura 12-15 – Rendimento térmico do ciclo Otto em função da relação de compressão. Mas quando se aumenta a relação de compressão num motor real, ocorre um aumento na tendência para a detonação do combustível. Essa detonação é caracterizada por uma queima extremamente rápida do combustível e pela presença de fortes ondas de pressão no cilindro do motor e que originam as chamadas “batidas”. Portanto, a máxima relação de compressão que pode ser utilizada é aquela em que a detonação é evtada. Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 13 09/08/2017 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto O aumento das relações de compressão ao longo dos anos, nos motores reais, foi possível devido ao desenvolvimento de combustíveis com melhores características antidetonantes, principalmente com a adição de chumbo tetraetil. Recentemente, entretanto, foram desenvolvidas gasolinas isentas de chumbo que apresentam boas características antidetonantes e isso foi feito para reduzir a contaminação atmosférica. Alguns dos pontos mais importantes, que diferenciam o motor de ignição por centelha de ciclo aberto do ciclo padrão, são os seguintes: 1. Os calores específicos dos gases reais aumentam com o aumento de temperatura. 2. O processo de combustão substitui o processo de transferência de calor a alta temperatura e a combustão pode ser incompleta. 3. Cada ciclo mecânico do motor envolve um processo de alimentação e de descarga e, devido às quedas de pressão dos escoamentos nas válvulas, é necessária certa quantidade de trabalho para alimentar o cilindro com ar e descarregar os produtos da combustão no coletor de escapamento. 4. Existe uma transferência de calor significativa entre os gases e as paredes do cilindro. 5. Existem irreversibilidades associadas aos gradientes de pressão e temperatura. Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 14 09/08/2017 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto Exemplo 12.7 – A relação de compressão num ciclo padrão a ar Otto é 10. No início do curso de compressão, a pressão é igual a 0,1 MPa e a temperatura é 15oC. Sabendo-se que a transferência de calor ao ar, por ciclo é igual a 1800 kJ/kg de ar, determine: 1. A pressão e a temperatura no estado final de cada processo do ciclo; 2. O rendimento térmico; 3. A pressão média efetiva. 3 – Exercícios Figura 12-14 – Ciclo padrão a ar Otto. Sistema: Ar contido no cilindro; Diagrama: Figura 12-14; Informação do estado 1: P1 = 0,1 MPa; T1 = 288,2 K. Informação do processo: Quatro processos conhecidos (Figura 12-14). Também sabemos que rv = 10 e qH = 1800 kJ/kg; Modelo: Gás ideal com calor específico constante e avaliado a 300 K. Aula 1 – Ciclos de Potência dos Motores com Pistão 15 09/08/2017 2017-SF_Aula01_Ciclo_Otto Borgnakke, C. e Sonntag, R.E., “Fundamentos da Termodinâmica”, 7ª Ed., Editora Edgard Blucher, 2010. Bibliografia