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AULA 01 - A crise do Estado de Bem-Estar Social Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo capitalista produziu duas tendências importantes. Por um lado, verificamos a expansão dos mercados, especialmente o mercado mundial de mercadorias, sob hegemonia e a pressão do mercado norte-americano. Por outro lado, foi o período de crescimento do Estado, de forma diferenciada, na Europa e no restante do mundo. A isto, na Europa Ocidental e na América do Norte, damos o nome de Estado de bem-estar social. Segundo Wood (2001:12), “o capitalismo é um sistema em que os bens e serviços, inclusive as necessidades mais básicas da vida, são produzidas para fins de troca lucrativa; em que até a capacidade humana de trabalho é uma mercadoria à venda no mercado; e em que todos os agentes econômicos dependem do mercado, os requisitos da competição e da maximização do lucro são as regras fundamentais da vida (...). Acima de tudo, é um sistema em que o grosso do trabalho da sociedade é feito por trabalhadores sem posses, obrigados a vender sua mão-de-obra por um salário, a fim de obter acesso aos meios de subsistência”. O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL (Welfare State): é um tipo de organização política e econômica que coloca o Estado (nação) como principal agente regulamentador de toda vida e saúde social, política e econômica do país, em parceria com sindicatos e empresas privadas, em níveis diferentes. Vamos entender um pouco mais sobre ele? 1) INÍCIO: O Estado do bem-estar social foi uma política do capitalismo no pós-guerra, ela teve como objetivo recuperar a Europa devastada pela 2 Guerra Mundial. Seu desenvolvimento está intimamente relacionado ao processo de industrialização e aos problemas sociais gerados a partir dele. A construção do Estado do bem-estar social teve seu início marcado com a aprovação em 1942, de uma série de providencias nas áreas da saúde e escolarização. Ocorreu tb uma ampliação dos serviços de assistenciais públicos, abarcando as áreas de renda, habitação e previdência social, entre outras. Paralelamente a prestação de serviços sociais, o Estado do bem-estar social passou a intervir fortemente na área econômica, de modo a regulamentar praticamente todas as atividades produtivas com a proposta de geração de riquezas materiais para atender ao lucro capitalista e também a diminuição das desigualdades sociais com o objetivo de desmobilizar a classe trabalhadora. 2) MUDANÇA DE MODELO: Porem em meados dos anos 1970 (e sobretudo em 1980) ocorreu a mudança radical com relação a esse modelo de desenvolvimento capitalista. Essa mudança está relacionada a transformação das relações entre mercados e as empresas e entre os Estados e os mercados. Esse período passou por um processo de desindustrialização relativa, que em muitos países se produziu de forma vertiginosa, Também, por um processo de expansão enorme dos mercados financeiros que são altamente competitivos e passam a interferir diretamente na relação mercado/ Estado. 3) CONSEQUÊNCIAS: Sendo assim, o desaquecimento da produção, associado ao crescimento do mercado financeiro, intensificou a dependência dos Estados Nacionais, notadamente dos países periféricos que passaram a necessitar da “confiança “ desses mercados para implementar sua política. Um desequilíbrio perigoso: Talvez você ainda não tenha percebido, mas o que ocorreu a partir da mudança de modelo foi um desequilíbrio nas relações entre Estados, entre mercado e Estado e, consequentemente, entre Estado e indivíduo. Vamos ver por outra perspectiva: Embora a produção industrial tenha reduzido em 10% nos países centrais do capitalismo, o crescimento econômico, mesmo que, em menor proporção, permaneceu. Inclusive, o comercio internacional de produtos industrializados, apresentou crescimento nos anos 1980. No fim do século XX, os países do mundo capitalista desenvolvido se achavam, tomados como um todo, mais ricos e mais produtivos do que no início da década de 70 e a economia global (da qual ainda formavam o elemento central) estava imensamente mais dinâmica. Esse não era o caso da África, da Ásia Ocidental e da América Latina, que se viram as voltas com o aumento da pobreza e da queda da produção. Da mesma forma os países socialistas da Europa, apesar de apresentarem um pequeno crescimento econômico nos anos 80, não resistiram ao processo de “desindustrialização”, caracterizado pelas novas formas de produção, pelo desenvolvimento da economia de serviços e pelas novas formas de gerenciamento empresarial. Tudo isso proporcionou pobreza, desemprego e miséria. Mesmo nos países mais ricos do mundo capitalista, as diferenças sociais se aprofundaram: “a produção agora dispensava visivelmente seres humanos mais rapidamente do que a economia de mercado gerava novos empregos para eles”. Dessa forma, o desemprego não é ocasional, temporário, pelo contrário, ele é a expressão da nova organização econômica. Com isso, a presença de milhares de pessoas pelas ruas, sem ter onde morar, compõe o cenário dos maiores centros empresariais do mundo. A ascensão do neoliberalismo Finalmente na década de 1990, não dava mais para esconder que o modelo de desenvolvimento capitalista da época estava em crise. Crise essa, que já se anunciava em grande parte do mundo, desde meados dos anos de 1970. Isso favoreceu a crítica dos economistas conservadores, neoliberais, que há tempos vinham combatendo o Estado de Bem-estar social. Os neoliberais afirmavam que a economia e a política do Estado Keynesiano, baseada no pleno emprego, altos salários e nos direitos sociais, impediam o controle da inflação e o corte de custos, tanto no governo quanto nas empresas privadas, Pare eles, só o livre mercado seria capaz de fomentar a distribuição da riqueza e da renda. A ofensiva neoliberal Ao se contrapor ao Estado de bem-estar social, segundo os preceitos do Consenso de Washington, o neoliberalismo defendia a privatização dos serviços públicos, como educação, saúde e previdência, de forma a aliviar o Estado e tornar esses serviços competitivos no mercado. Desta forma, direitos conquistados transformaram-se em mercadorias adquiríveis no mercado. Ao longo das duas últimas décadas, a intensificação do processo de internacionalização das economias capitalistas com ênfase nos mercados financeiros mundiais e a formação de grandes blocos econômicos, têm aumentado a pobreza e aprofundado as desigualdades no mundo capitalista globalizado. Sendo assim, a crise do Estado de bem-estar social está relacionada à construção de um novo modelo de capitalismo que, no afã de recuperar a lucratividade, contrapõe direito a investimentos e acumulação de capitais, e é responsável pela condução da reforma do Estado que tem provocado cortes substanciais no orçamento das políticas sociais dos países periféricos em benefício dos países centrais. AULA 2: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA POLÍTICA EDUCACIONAL E SEUS REFLEXOS Olá! A partir dessa aula vamos começar a estudar as legislações brasileiras. Nesse capítulo, em particular vamos abordar as constituições. No vídeo acima, você vê o momento em Getúlio Vargas preside a solenidade de cremação das bandeiras estaduais, conforme determinação na nova Constituição de 1937, a Constituição do Estado Novo. Passeio pela história A Constituição é a lei que estabelece as principais regras e normas jurídicas, políticas, econômicas e sociais de um país, dentre elas as da educação. Através do estudo dos textos constitucionais que o Brasil já viveu, podemos perceber a importância que a educação ocupou em diferentes momentos da nossa história. Você verá, a partir de agora, como cada Constituição que o Brasil conheceu tratou a questão educacional. CONTEXTO HISTÓRICO: A necessidade da Constituição nasceu no momento em que o Brasil tornou-se independente de Portugal. Após a disputa entre a elite brasileira e os interesses portugueses,a primeira Carta Magna brasileira foi outorgada pelo Imperador D. Pedro I NA LETRA DA LEI: A educação é tratada em um dos últimos itens do artigo 179, parte integrante do título que dispunha acerca dos direitos dos cidadãos como se vê a seguir: Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte. XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cidadãos. XXXIII. Collegios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos das Sciencias, Bellas Letras, e Artes. COMENTÁRIOS: A partir da leitura do dispositivo legal, repara-se, portanto, a pouca importância reservada a instrução, que se mantem nessa época restrita a uma pequena parcela da população. A constituição estabelecia gratuidade do ensino primário, porém não indicava as condições para que essa situação se concretizasse, consequentemente a população mantinha-se afastada das salas de aula e por conseguinte, durante muito tempo as taxas do analfabetismo apresentavam- se bem elevadas. 1891 – A primeira Constituição Republicana A República proclamada em 1889 mudou o regime político no país, e como decorrência exigiu a elaboração de outro texto constitucional que correspondesse aos novos tempos. Vamos conhecer um pouco mais sobre a Carta Magna de 1891. A Constituição de 1934 Longos debates entre educadores e um movimento social crescente começava a invadir a sociedade brasileira, exigindo reformas no país, sobretudo no campo educacional, a partir dos anos de 1920. A criação do Ministério da Educação é um exemplo das mudanças resultantes da pressão do movimento conhecido como Escola Nova. O capítulo II do texto legal abordou a questão educacional incorporando sugestões e ideias levantadas por intelectuais e professores da época, já apresentadas no Manifesto dos Pioneiros, publicado em 1932. 1937 – A Constituição do Estado Novo Estado Novo foi o nome dado por Getúlio Vargas à ditadura que instalou no Brasil a partir de 1937, que correspondeu a um longo período de autoritarismo e repressão. Em todas as áreas sociais, particularmente na educação, houve um enorme retrocesso. As conquistas apresentadas na Carta Constitucional anterior (1934), que nem chegaram a ser colocadas em prática, foram totalmente abandonadas na nova lei. A Constituição de 1946 Em 1945, a longa Era Vargas chega ao fim. Uma nova Carta Constitucional foi redigida para acompanhar os novos tempos. Tempos democráticos que se instalavam na vida brasileira, e que traziam alguns direitos sociais. Quanto à educação, o antigo debate dos Pioneiros de 1932 é recuperado em relação a alguns temas. Diretrizes e Bases A constituição de 1946 também determinou que fosse elaborada legislação especifica que aprofundasse o tem, através do seu artigo 5o, e estabelecesse as diretrizes e as bases da educação brasileira. Na próxima aula estudaremos de maneira mais profunda a primeira Lei que tratou sobre o tem. AULA 03 - O SENTIDO DA LEI Nº. 4024/61: A ELABORAÇÃO DA PRIMEIRA LEI DE DIRETRIZES E BASES Esta aula busca apresentar e discutir o longo processo de elaboração da primeira lei de diretrizes e bases, destacando os grupos envolvidos no debate e os interesses em questão, além de caracterizar os principais temas aprovados. Retomando nosso percurso... Você está lembrado da aula passada? Pois então, naquele momento você foi convidado a fazer um passeio histórico sobre a presença da educação nas Constituições. Nesta aula voltaremos a falar sobre o tema da Constituição de 1946 para que possamos aprofundar o nosso debate sobre o processo que desencadeou a elaboração da Lei 4024/61, que foi a primeira LDB que o Brasil produziu. Esse momento histórico foi marcado pelo fim do governo de Getúlio Vargas, entre os anos de 1930 e 1945 (caracterizado em seus últimos sete anos pela ditadura do Estado Novo). Instalou-se, em decorrência, um processo de democratização da sociedade, com novos partidos se organizando e a elaboração de uma constituição que representasse essa nova fase política. A título de curiosidade, no vídeo ao lado você vê cenas do “exílio voluntário” de Getúlio Vargas após sua saída do poder, bem como o tom “pomposo” pelo qual o narrador trata o então senador Getúlio. Mais tarde, ele voltaria ao poder. Os resultados: A retomada de práticas democráticas, sobretudo as parlamentares, permitiu um alongado debate sobre a legislação educacional do país. Nesse texto constitucional ficara determinado, entre outras questões, como já vimos anteriormente, que a educação era entendida como um direito de todos. Vamos ver o trecho da lei? Art. 5º - Compete à União: (...) XV - legislar sobre: (...) d) diretrizes e bases da educação nacional; O processo de elaboração: A elaboração da primeira LDB que o Brasil conheceu demorou muitos anos. Na verdade, esse processo pode ser dividido em dois períodos, que corresponderam a discussões e polêmicas bem distintas. Uma primeira fase caracterizou-se pelo conflito partidário entre dois políticos, cujas trajetórias sempre estiveram vinculadas à educação. De um lado encontrava-se o Ministro do governo ora no poder, o Sr. Clemente Mariani. Mariani era filiado à UDN (União Democrática Nacional), partido ligado a setores conservadores, articulado às classes média e alta do país e à burguesia internacional, e de oposição às forças de Vargas. E do outro lado o ex-Ministro da Educação do Estado Novo, Deputado Gustavo Capanema, filiado ao PSD (Partido Social Democrático), apoiado pelas forças getulistas. O Ministro Mariani representando os interesses do governo, apresentou um projeto que possuía características descentralizadoras, que se chocou com os argumentos do deputado Gustavo Capanema, que propunha um sistema de ensino centralizador. O deputado redigiu um parecer que acabou por levar o projeto ao arquivamento. Essa disputa político-partidária adiou por alguns anos a discussão, que foi retomada efetivamente em 1957, quando da apresentação em plenário do projeto de lei conhecido como “Substitutivo Lacerda”. Segundo período: Outra fase dessa longa trajetória de elaboração da LDB se iniciou. O debate, naquele momento, girou em torno da questão das verbas públicas. Vamos ver como foi? Carlos Lacerda: O Dep. Carlos Lacerda, que deu nome ao projeto, encampou a proposta dos representantes das escolas particulares, sobretudo os colégios confessionais, que sob o lema da liberdade do ensino, defendiam os interesses privatistas, reivindicando a aplicação de recursos públicos para a manutenção tanto de escolas públicas quanto de particulares. Anísio Teixeira: De outro lado, em torno da defesa de verbas publicas exclusivamente para escolas publicas, se colocaram educadores e intelectuais, como Anisio Teixeira, Fernando de Azevedo, Florestan Fernandes, entre outros. Eles chegaram a articular e publicar um outro Manifesto de Educadores, em 1959, intitulado “Mais uma vez convocados”. O famoso documento recuperou em parte as ideias presentes no movimeto de 1932, defendendo, destacadamente, a obrigatoredade e a gratuidade do ensino primario. A primeira lei de diretrizes e bases: O texto final, aprovado pelo Congresso Nacional em 1961, representou em parte a vitória dos setores privatistas, pois a lei (através de alguns mecanismos) permitia a transferência para as escolas particulares de recursos públicos, contrariando a proposta da “Campanha em defesa da escola Pública”. A lei instituía a educação como um direito de todos e estruturava o ensino em: a) pré-escola b) ensino primário c) ensino médio (este último se subdividia em ginásio e colegial). Artigo 2o A educação é direito de todos e sera dada no lar e na escola. Parágrafo Único. A família cabe escolher o gênero de educaçãoque deve dar a seus filhos. A LDB tinha como seus principais títulos os seguintes: 1) Dos fins da educação – o desenvolvimento e formação do cidadão para a vida em sociedade, em uma perspectiva democrática de acordo com o momento histórico. 2) Do direito à educação – estabeleceu-a como um direito de todo cidadão cabendo à família a escolha do tipo de educação a ser oferecida. 3) Da liberdade de ensino – todos tinham direito a transmitir seus conhecimentos. 4) Da administração do ensino – afirmou que cabia ao MEC exercer as atribuições do poder público federal, e atribuiu competências ao Conselho Federal. 5) Dos sistemas de ensino – criou os sistemas de ensino federal, estaduais e municipais. 6) Dos recursos para a educação – instituiu que os recursos seriam aplicados preferencialmente nas escolas públicas, abrindo espaço para o setor privado. AULA 4: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DA DITADURA MILITAR Introdução Logo após a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases, o Brasil mergulhou em um novo momento político quando se instalou, em 1º de abril de 1964, através de um Golpe de Estado, outro governo autoritário, fase conhecida como Ditadura Militar. Foram anos marcados por uma intensa repressão que perseguia opositores, cassando e torturando políticos; e impedia os movimentos sociais, inclusive a organização de estudantes que lutavam contra a ditadura. Uma nova Constituição vai ser redigida e outorgada à sociedade pelo governo militar. Esta foi a sexta Carta Constitucional do Brasil. Nela, os direitos dos cidadãos são restringidos, o Executivo Federal concentrava poderes, além de ser eleito de forma indireta pelo Congresso Nacional. No capítulo sobre educação, o direito de todos a ela é reafirmado, apesar de também ficar expresso que o ensino é livre à ação da iniciativa privada, que continua a ter acesso a incentivos e facilidades financeiras dos cofres públicos, como disposto na Constituição anterior. Conforme escrito na Carta: Art. 168. A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola; assegurada a igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana. §1º. O ensino será ministrado nos diferentes graus pelos poderes públicos. §2º. Respeitadas as disposições legais, o ensino é livre à iniciativa particular, a qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos poderes públicos, inclusive bolsas de estudo. Esse momento histórico exigiu alterações na legislação educacional. Não foi elaborada nova Lei de Diretrizes e Bases, mas sim duas leis que reformaram alguns aspectos da LDB vigente. Uma tratou de modificar os ensinos primário e secundário enquanto outra abordou o superior. As diretrizes básicas, estabelecidas pela lei 4024/61 (os 5 primeiros títulos), não são alteradas, demonstrando a continuidade da ordem socioeconômica mantida pelo golpe. A lei 5540/68 A reforma do ensino superior tinha por finalidade a desmobilização dos estudantes universitários. Para tanto, instituiu o sistema de créditos que obrigava os alunos a realizarem a matrícula por disciplinas, o que impedia a formação de grupos nas mesmas turmas, como no tradicional curso seriado, dificultando a organização de grupos de pressão. A repressão aos estudantes foi uma ação constante ao longo desse período. A lei 5540/68 também determinou que as disciplinas passassem a ser agrupadas por departamentos, deixando de se organizar por cursos, reforçando o caráter da fragmentação. Por fim, estabeleceu o vestibular unificado, desarmando as crescentes demandas, sobretudo dos estudantes secundaristas, por mais vagas nas universidades públicas. A lei 5692/71 Esta legislação é frequentemente chamada de lei de diretrizes e bases de forma errônea. Contudo, ela não pode ser confundida, pois se refere exclusivamente a dois segmentos da educação, que correspondem ao que nos dias atuais chamamos de educação básica. A lei 5692 não tratava, também, dos objetivos gerais e finalidades da educação para o país. Ela era específica para dois segmentos do ensino. A referida lei foi criada por um grupo de trabalho instituído pelo Presidente Médici, que tinha por objetivo adequar o ensino ao momento político instaurado pelo Golpe de 1964, e às necessidades sociais e econômicas que o governo militar se empenhava em garantir. General Emílio Garrastazu Médici, que ficou no poder entre 30 de outubro de 1969 e 15 de março de 1974. Em linhas gerais, a lei criou a estrutura de ensino que se organizava em 1o e 2o graus. O 1o passou a abranger os antigos ensinos primário e ginásio, atendendo as crianças dos 7 aos 14 anos. Ampliou, então, a obrigatoriedade escolar de 4 para 8 anos. Art. 1o (...) – Para efeito do que dispõe os artigos 176 e 178 da Constituição, entende-se por ensino primário a educação correspondente ao ensino de primeiro grau e por ensino médio, o segundo grau. Secundário X 2o Grau: em seguida, a Lei transformou o antigo curso secundário (que se apresentava como clássico, cientifico ou normal) em ensino de 2o grau, nivelando todos os cursos e possibilitando que qualquer concluinte pudesse prestar vestibular para qquer área universitária. Ensino Profissionalizante: tornou, ainda, o 2o grau em obrigatoriamente profissionalizante. Essa medida se restringiu em grande parte apenas as escolas públicas que submetidas a exigência, procedem as adaptações, no prazo previsto na Lei. Entretanto, as escolas particulares, que se aproveitando dos prazos para a adequação, e por não sofrerem rigorosas fiscalizações, mantiveram, em sua maioria, o ensino propedêutico, até a revogação da obrigatoriedade do ensino profissionalizante. 2o Grau e Vestibular: Com a promulgação da Lei, o segundo grau passava a combinar uma dupla característica: garantia ao mesmo tempo a terminalidade para aqueles que pretendiam a formação em nível técnico e a continuidade para os que desejavam prestar vestibular. A lei 5692/71: oficialização do ensino supletivo O ensino profissionalizante tinha o objetivo de atender à formação de mão-de-obra no sentido de garantir o suporte para a ampliação do parque industrial brasileiro, em reposta aos preceitos liberais de divisão internacional do trabalho. Para isso, foi a primeira legislação educacional que criou um capítulo para tratar do ensino supletivo. CAPÍTULO IV - Do Ensino Supletivo Art. 24. O ensino supletivo terá por finalidade: a) suprir a escolarização regular para os adolescentes e adultos que não a tenham seguido ou concluído na idade própria; b) proporcionar, mediante repetida volta à escola, estudos de aperfeiçoamento ou atualização para os que tenham seguido o ensino regular no todo ou em parte. Parágrafo único. O ensino supletivo abrangerá cursos e exames a serem organizados nos vários sistemas de acordo com as normas baixadas pelos respectivos Conselhos de Educação. Ainda na lei 5692/71 A Lei 5692/71 também introduziu algumas propostas, que contribuíram para o debate pedagógico, a saber: INTEGRAÇÃO HORIZONTAL: Previa, também, a integração horizontal, que buscava eliminar a diferença entre os antigos ramos de ensino: agrícola, comercial, industrial e normal, articulando as várias áreas do conhecimento, no interior de cada serie. INTEGRAÇÃO VERTICAL: A lei previa a integração vertical. Entre os dois graus, entre os níveis (o primeiro e o segundo segmento do 1o grau) e entre todas as series de ensino das atividades, áreas de estudo e disciplinas, com o propósito de garantir um trabalho de continuidade desde a 1 série do 1 grau até a última série do 2 grau VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO: é uma outra questão presente na lei. Foi citada especialmente buscando a crescente profissionalização de professores, o aperfeiçoamento daqueles já formados e adequando os vencimentos salariais segundo os critérios do nívelde formação, ao contrário do nível que ministrava. Sugerimos que você assista ao filme “O que é isso, companheiro? ”, dirigido por Bruno Barreto e lançado no Brasil em 1997. O filme é baseado no livro homônimo escrito por Fernando Gabeira. Trata da história de um grupo de estudantes que se incorporaram ao MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), cujo maior êxito foi o de ter elaborado e executado o sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil. A finalidade da ação era de usar tal diplomata como moeda de troca para a liberação de diversos presos políticos que foram exilados. AULA 5: A POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA NA TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA: A CARTA DE 1988 O objetivo dessa aula é o de debater o processo de elaboração da atual Constituição, levando em conta a conjuntura político-econômica da época, ao mesmo tempo em que busca identificar os interesses nacionais envolvidos durante o processo. Vamos apresentar o momento histórico em que a Constituição de 1988 foi elaborada e promulgada, e debater os principais aspectos educacionais definidos pelo texto constitucional. No vídeo acima, você vê o momento em que a Constituição foi promulgada, pelas mãos de Ulisses Guimarães. VISÃO GERAL DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 Estrutura da Carta: O texto constitucional que vigora nos dias de hoje, foi aprovado em 5 de outubro de 1988 e está organizado em 9 títulos, subdivididos em capítulos que por sua vez se desdobram em seções e subseções quando se faz necessário. Os artigos têm numeração sequencial. Contexto histórico: Foi elaborada em um momento político bem característico, pois correspondia a uma grande mobilização popular que, diante do fim de um longo período ditatorial, exigia efetivas transformações na sociedade. Considerações Gerais: Em seu conteúdo apresentou alguns avanços nas áreas sociais e políticas, como a igualdade de direitos entre homens e mulheres, o voto do analfabeto, o voto aos 16 anos, o racismo tratado como crime, além de pôr fim a censura. O texto constitucional estabeleceu ainda, alguns dispositivos que defendem o cidadão qdo seus direitos são negados, especialmente os dispositivos contra a arbitrariedade do Estado. Vem daí o fato dela ser conhecida por muitos políticos e festejada pela imprensa como a constituição cidadã. Direitos Conquistados: Habeas-corpus: Assegura reparação ou prevenção do direito de ir e vir, constrangido por ilegalidade ou por abuso de poder (as ditaduras, assim que instaladas, haviam suspendido esse instrumento com o propósito de realizar prisões ilegais); Habeas-data: garante ao cidadão o acesso as informações a seu respeito constantes no registo do banco de dados de qualquer entidade governamental; Mandado de segurança: protege o cidadão qdo seus direitos estão prestes a ser desrespeitados por uma instituição. Agora, existe também o mandado de segurança coletivo, isto é, impetrado por sindicados e associações da sociedade civil; Mandado de injunção: assegura o exercício de um direito garantido pela contribuição; Ação popular: tem como objetivo anular ato lesivo ao patrimônio público e punir seus responsáveis A Educação no texto constitucional: O tema educacional na constituição é apresentado no Título VIII que trata da Ordem Social, em seu Capítulo III, intitulado: Da Educação, da Cultura e do Desporto, especificado na Seção I, chamada Da Educação, que se dispõe em 10 artigos, entre o 205 e 214. O papel de cada esfera: A União, estados, distrito federal e municípios devem proporcionar o acesso à cultura, á educação e à ciência, e que todas as esferas têm competência para legislar sobre educação, desde que respeitadas as diretrizes e bases fixadas em seu texto. Apresenta, ainda, como dos municípios, a prioridade quanto à responsabilidade de manter programas para os níveis pré-escolar e ensino fundamental (cabendo à União complementar recursos, em casos de dificuldades dos municípios). Art. 211 A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino (...). § 2º - Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. § 3º - Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. § 4º - Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. Outras considerações A Constituição de 1988 assegura ainda o direito à educação dos povos indígenas, garantindo que o ensino se realize em língua materna e na língua portuguesa. Permite, dessa maneira, a integração dos povos à sociedade brasileira, preservando sua cultura. Verbas públicas destinadas à educação: Quanto à aplicação das verbas públicas, a Constituição estabelece que cabe à União aplicar no mínimo 18%, enquanto que os municípios e estados devem investir no mínimo 25% cada. Podemos considerar essa vinculação dos recursos como um avanço, pois predetermina uma parcela do orçamento que deve ser aplicada em educação. Como vimos, a Carta de 1988 consagrou alguns direitos sociais, resultado de intensas lutas que animaram durante muitos anos a sociedade brasileira, algumas iniciadas ainda antes da Ditadura Militar. A questão é que, assim que o texto foi publicado, mobilizações de setores contrários aos direitos aprovados começaram a se fazer notar, e buscavam caminhos para o retrocesso, seguindo premissas neoliberais. Esse tema vamos abordar com detalhes nas aulas seguintes. AULA 6: O SIGNIFICADO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi o resultado de um longo debate travado na sociedade brasileira, que se iniciou em 1979 com a elaboração do Código de Menores, e que ganhou um novo impulso com a promulgação da atual constituição brasileira (CF/1988). Esse debate envolveu diferentes setores da sociedade, sob a forma de movimentos populares, incluindo-se as Organizações Não Governamentais (ONGs) e representantes dos Três Poderes da República. No plano internacional, a assinatura da Convenção Internacional dos Direitos da Criança das Organizações das Nações Unidas (1989) acelerou decisivamente a transformação das políticas públicas voltadas para crianças e jovens. Lugar de criança é na escola: O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90) é o dispositivo legal que estabelece os direitos e deveres da criança e do adolescente no Brasil. Apresenta os direitos relacionados a educação, a saúde, a vida familiar e a vida em sociedade, além de também dispor sobre os deveres. ESTRUTURA: O texto do estatuto compõe-se de 267 artigos e está organizado em duas partes: geral e especial, que por sua vez dividem-se em títulos, subdivididos em capítulos e esses em seções TÍTULOS: 1. Diretrizes Fundamentais – 2. Prevenção – 3. Política de atendimento – 4.Medidas de Proteção – 5.Pratica do Ato infracional – 6. Medidas Pertinentes aos Pais e Responsáveis – 7. Conselho Tutelar – 8. Acesso à Justiça – 9. Crimes e Infrações Administrativas. A lei 8069/90 é considerada um dos modelos legais mais avançados do mundo, tanto em termos políticos quanto jurídicos. O texto da lei evidencia o compromisso do Estado e da sociedade civil de garantir o atendimento dos direitos das crianças e dos jovens. O Estatuto e a Educação: O tema da Educação é tratado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente como um direito de todos e um dever do Estado. Apresenta-se sob a forma de sete artigos (do artigo 53 ao 59), em que estão estabelecidos os objetivos da educação, além de estarem especificados os papéis do Estado quanto aos deveres, a responsabilidade da família, as competências dos gestores escolares, o respeito aos valores culturais, artísticos e históricos da comunidade aqual o estudante pertence. Aqui foram destacados os artigos do estatuto em que estão explicitados os direitos e os deveres (clique para ver o texto da lei): Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º - O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º - Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola. VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º - O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º - Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola. “O Estatuto da Criança e do Adolescente mudou os paradigmas em relação ao menor, reconhecendo-o como sujeito de direitos, assegurando-lhe, entre outros, o direito fundamental à educação. Portanto mudou a lei que alterou a relação entre a criança, o adolescente e a educação. Todavia indaga-se: mudou a formação do professor? A sua formação contempla a questão da cidadania infanto-juvenil? A mudança da lei proporcionou alteração em sua prática diária na sala de aula? ” (Ferreira, Luiz Antônio M. O Estatuto da Criança e do Adolescente e o Professor – reflexos na sua formação e atuação. S.P.: Cortez, 2008, p. 16) A formação docente precisa acompanhar esses novos tempos iniciados com a publicação do Estatuto. É necessário incorporar novos conhecimentos na sala de aula e novas posturas que reconheçam os direitos das crianças e jovens cidadãos. A falta de informação sobre o dispositivo legal em questão acarreta problemas nas escolas, desrespeitos generalizados, violências indiscriminadas. O conhecimento da lei por todos os envolvidos no processo de aprendizagem contribuirá sobremaneira para a garantia desses direitos. O Estatuto e a Constituição: O texto do estatuto está em consonância ao que prevê o texto constitucional, que afirma: Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. As crianças e os jovens adolescentes devem ser vistos como pessoas que estão em processo de desenvolvimento, sujeitos de direitos e passiveis de proteção integral: Crianças: pessoas até 12 anos Adolescentes: pessoas entre 12 e 18 anos Casos excepcionais, previstos na lei, esse entendimento se estende até os 21 anos Mundo ideal versus mundo real: A questão principal, contudo, é a de implementar o conteúdo que o Estatuto apresenta. Não basta que os textos legais se mostrem avançados em suas formulações, o fundamental é que os avanços se apresentem em conquistas sociais. Infelizmente vivemos diante de uma realidade que em nada favorece grande parcela de crianças e adolescentes que ainda vivem sem as mínimas condições de dignidade. Observando a tabela de 2006, 16 anos após a criação do ECA, responda: Podemos considerar que a legislação foi cumprida integralmente em todas as regiões do País? Não. Ao observarmos a tabela vemos muitas crianças e jovens ainda se encontram excluídas do processo educacional Brasileiro. Percebemos que os índices de crianças entre 0-3 anos, matriculadas em escolas de educação infantil, ainda é muito baixo. É necessário que a sociedade, através de movimentos organizados, exija os seus direitos e de suas crianças e adolescentes e faça cumprir a lei. Começando a terminar... É fundamental, portanto, que todo professor conheça o texto do Estatuto da Criança e do Adolescente para que possa contribuir no cumprimento de suas determinações, além de acompanhar a sua aplicação. Ferreira (2008:109) entende que educação e cidadania são indissociáveis, pois somente a educação assegura o exercício pleno da cidadania. Pela educação, os alunos serão capazes de exigir direitos e de cumprir deveres. Fazer cumprir significa criar condições de manter todas as crianças nas escolas. Além disso, interessa também ao educador conhecer o Conselho Tutelar, seu funcionamento e atuação. Este é o órgão que recebe as denúncias e assegura o cumprimento dos termos do estatuto. É composto por conselheiros eleitos na comunidade, que tem como objetivo acompanhar os casos de violações. AULA 7: A POLÍTICA EDUCACIONAL DOS ANOS 90 A ideologia neoliberal, apresentada como única via para enfrentar a crise econômica nacional, ocupou paulatinamente credibilidade junto às elites brasileiras e tornou-se hegemônica a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). A política educacional brasileira dos anos 90 foi implementada através de um conjunto articulado de reformas, com orientação do Banco Mundial, de acordo com o que preconizava tal ideologia no que tange à educação. No vídeo acima, você vê parte da campanha para reeleição de FHC (1998). Quem é o Banco Mundial? ORIGEM: A Fundação do Banco Mundial (BIRD) está vinculada a fundação do FMI, no ano de 1944, na Conferência de Bretton Woods. Como resultado da preocupação dos países centrais com o estabelecimento de uma nova ordem internacional no pós-guerra. No início, o papel de destaque cabia ao FMI; a atuação do Banco Mundial estava apenas voltada para a reconstrução do Continente europeu, de forma a assegurar a hegemonia do sistema capitalista e os interesses da economia americana sobre o mercado desse continente. ORGANOGRAMA: O Grupo do Banco Mundial compreende: a) o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento 0 BIRD; b) a Corporação Financeira Internacional – IFC; c) O Organismo Multilateral de Garantia de Investimentos – MIGA; d) a Associação Internacional de Desenvolvimento – IDA; e) Centro Internacional para a Resolução de Disputas sobre Investimentos - ICSID. Em 1992, o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) passou para a coordenação do Banco, tornando-se o maior gestor de recursos para o meio ambienteno âmbito global. POLÍTICA DE ATUAÇÃO: Como podemos observar, tanto na Europa, como nos países periféricos, a política de financiamento do FMI e do Banco Mundial está intimamente associada a defesa dos interesses econômicos do EUA que, após a 2 guerra mundial, assume a liderança política e econômica do Bloco Capitalista. Portanto, cabe destacar que os Organismos Internacionais estão fortemente vinculados aos Estados Nacionais, sobretudo aos EUA. POLÍTICA DE FUNCIONAMENTO: O poder de decisão dos países no Banco Mundial e no FMI não se dá através do voto individual de cada país, mas sim em função do capital depositado por cada um deles no Fundo. Sendo assim, desde a fundação até hoje existe uma divisão entre Europa e EUA, de modo que sempre o presidente do Banco Mundial é um americano, e do FMI indicado pela União Europeia. O financiamento, não é o único nem o mais importante papel desempenhado pelo Banco no setor social, mas sim o caráter estratégico que vem desempenhando no processo de reestruturação neoliberal dos países dependentes. A crise do endividamento, vivida pelos países da América Latina a partir dos anos 80, possibilitou uma maior interferência do Banco na política interna dessas nações. Sob essa perspectiva, o Banco Mundial, no final dos anos 80, formulou um conjunto de reformas a serem aplicadas nos países endividados para atender às necessidades de expansão do capital internacional. Essas reformas, que ficaram conhecidas como “Consenso de Washington”, defendiam principalmente: a) o equilíbrio orçamentário mediante a redução dos gastos públicos; b) a abertura comercial; c) a liberalização financeira; d) a desregulamentação dos mercados internos; e) a privatização das empresas e dos serviços públicos. Embora esses países pudessem enfrentar recessão e aumento da pobreza num primeiro momento de implantação das reformas, só assim, afirmava o Banco, seria possível retomar o crescimento econômico. Enfim, retomar o desenvolvimento sustentável. No vídeo acima, você vê o anúncio da então Ministra da Economia do Governo Collor anunciado um pacote econômico, em 16/03/1990. Economia e política social: O princípio de política social focalizada na pobreza, expressa nos documentos do Banco Mundial, reflete uma concepção de atendimento mínimo para aqueles que não podem adquirir esses serviços no mercado. Entretanto, tal posicionamento rompe com o princípio da igualdade de direitos, luta histórica do movimento popular. Nesse sentido a educação, como política social focalizada, tem lugar de destaque nas propostas do Banco Mundial para a América Latina. A reforma a Educação instituída para priorizar a educação inicial em detrimento dos demais níveis é um bom exemplo do papel que desempenhamos nessa nova ordem mundial. Ora, se as condicionalidades impostas pelos Organismos Internacionais têm nos conduzido a um processo de recolonização, caracterizado pelo fim do desenvolvimento autônomo e dependência cientifica e tecnológica, qual seria a necessidade de se investir numa educação de longa duração? Política educacional - lógica neoliberal: O Banco, que nesse momento tem a tarefa de implementar a política de ajuste econômico nos países periféricos, apresenta para a Educação um conjunto de mudanças caracterizadas como Reformas Educacionais da década de 90. Sendo assim, não há lugar para o desenvolvimento autônomo de todos os países nem para a inclusão de todos os indivíduos. É a isso que o Banco chama equidade; na verdade, uma distribuição desigual. Funcionamento da reforma educacional Nesse sentido, as Reformas Educacionais indicadas pelo Banco Mundial apresentaram basicamente dois eixos. O primeiro voltado para uma educação racional e eficiente, capaz de reduzir os custos, o que implica na divisão de responsabilidades entre o Estado e a sociedade. O segundo, centrado na qualidade do ensino em função do diagnóstico apresentado pelo Banco acerca dos principais problemas da educação. Tais problemas estão relacionados ao acesso e permanência dos alunos na escola, crescimento acelerado da demanda de educação secundária e superior, alfabetização de adultos e aprofundamento da distância entre países da OCDE (Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e da América Latina e Caribe. Política neoliberal para a educação A concepção neoliberal que passou a orientar essa política educacional tratou a educação não mais como um direito do cidadão, mas sim como uma mercadoria. Não seria por outro motivo que, Paulo Renato Souza, um economista que foi ministro da educação nos dois governos de Fernando Henrique, tenha ocupado uma vice-presidência no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A educação ocupou um papel relevante na reforma do Estado brasileiro. Para tanto, o primeiro governo de Fernando Henrique (1995-1998) sofreu uma profunda reformulação, tomando como base o conceito de equidade social da forma que aparece nos estudos produzidos pelos Organismos Internacionais ligados à ONU e promotores da Conferência de Jomtien. Por equidade podemos entender a possibilidade de estender certos benefícios obtidos por alguns grupos sociais à totalidade das populações, sem, contudo, ampliar na mesma proporção às despesas públicas para esse fim (cf. Oliveira, 1999:74). Descentralização do ensino ou da responsabilidade? A “Conferência de Educação para Todos” (Março de 1990, em Jomtien) estabeleceu como orientação priorizar o ensino fundamental em detrimento dos demais níveis de ensino. Ainda, defendeu que a tarefa de assegurar a educação é de todos os setores da sociedade. De acordo com essa postura, o dever do Estado foi relativizado. A teoria na prática O eixo descentralização/racionalização tem, na municipalização do ensino e na criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), a principal articulação do governo federal para ampliar o atendimento ao ensino fundamental, sem aumentar os recursos destinados a esse nível de ensino. O governo federal repassa aos municípios, muitas vezes as unidades mais pobres da Federação, a responsabilidade com esse nível de ensino, como bem podemos observar no quadro a seguir: Síntese da Aula: A política educacional desse modelo de Estado Capitalista, implantado no Brasil de forma dominante a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso, tem na municipalização da educação e no FUNDEF os elementos fundamentais da atual política econômica. Com essa descentralização, o Estado repassa a responsabilidade do investimento na educação para outros setores da sociedade. Porém, a formulação e o controle da aplicação dessa política são altamente centralizados, o que não permitiu a participação da sociedade na sua elaboração. AULA 8: A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL: ELABORAÇÃO, CARACTERÍSTICAS, AVANÇOS E RETROCESSOS Nessa aula você vai estudar o processo de elaboração da atual LDBN 9394/96, no governo de Fernando Henrique, em um contexto de Reestruturação do Estado, no qual a educação exerceu um papel preponderante na política Nacional. No vídeo acima, você vê uma brincadeira que relaciona parte do cotidiano de sala de aula com a realidade brasileira, tudo regado a uma paródia de música. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN 9394/96 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é considerada a lei maior da educação no país, e está subordinada à Constituição Federal e situa-se logo abaixo dela, definindo de uma maneira geral a nossa educação. Por ter um caráter abrangente, necessita de regulamentação, ou seja, de legislação específica para vários de seus dispositivos. Segundo Demerval Saviani, fixar as diretrizes da educação nacional: “(...) não é outra coisa senão estabelecer os parâmetros, os princípios, os rumos que se deve imprimir à educação nopaís. E ao se fazer isso estará sendo explicitada a concepção de homem, sociedade e educação através do enunciado, dos primeiros títulos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional relativos aos fins da educação, ao direito, ao dever, à liberdade de educar e ao sistema de educação bem como à sua normatização e gestão”. (Saviani, 1998, p.189). A LDB sancionada sem vetos pelo Presidente da República em 20 de dezembro de 1996, é resultado de 8 anos de tramitação no Congresso Nacional e muita mobilização da sociedade. As mudanças no caminho: Entretanto, ainda em 1992 depois do projeto da câmara já completar 3 anos de debate e de intensa negociação, repentinamente surge no senado um novo projeto do senador Darcy Ribeiro. Este projeto, oriundo de um intelectual que historicamente esteve ao lado das forças progressistas da sociedade brasileira, além de respeitar todo um processo democrático voltado para a elaboração da LDB, colocou-se a serviço do novo governo eleito na defesa dos interesses das forcas conservadoras. A Nova LDB – Texto final O texto final da atual LDB deve ser compreendido no processo de disputa de projeto político pelo qual passa o país no período final de seu longo trajeto na Câmara e no Senado. A vitória do projeto conservador, no final de 1994, liderado por Fernando Henrique Cardoso, significou para o país o avanço da política neoliberal, na qual o mercado se sobrepõe aos interesses da maioria da população. O resultado desse processo poderia ser assim enumerado: 1. Redução do dever do Estado com a universalização da educação básica – ao responsabilizar o poder público somente pela oferta obrigatória e gratuita do ensino fundamental e ao diminuir o compromisso da União para com a educação pública através da transferência de encargos para as esferas administrativas de nível estadual e municipal, a nova LDB acaba rompendo com o conceito de obrigatoriedade da educação básica, consolidando o disposto na emenda constitucional n° 14, que diz caber à União uma ação meramente suplementar no financiamento da educação. 2. Fragmentação da concepção de Sistema Nacional de Educação – o que estabelece a nova LDB é uma mera justaposição dos poderes municipal, estadual e federal, tendo sido os respectivos conselhos descaracterizados e destituídos de autonomia política, de representatividade social e de responsabilidade de conduzir e acompanhar a implementação das políticas educacionais. 3. Recursos financeiros – alguns aspectos importantes que constam na nova LDB acerca do financiamento da Educação têm origem no projeto da Câmara de Deputados debatido exaustivamente com a sociedade. Sendo assim, vamos destacar em primeiro lugar, a fixação de prazos para o repasse dos valores do caixa da União, dos estados e dos municípios ao órgão responsável pela educação. Outro ponto positivo é a delimitação do que pode e do que não pode ser considerado como despesa de manutenção e desenvolvimento do ensino. Essa medida estava presente no projeto original, e sua permanência representou uma importante conquista para o controle dos recursos públicos pela sociedade. No entanto, a lei aprovada não garantiu que os recursos públicos fossem destinados apenas para a educação pública, o que significou, mais uma vez, a vitória do setor privado ao manter o financiamento público para esse setor. 4. Descaracterização do profissional da educação – ao não estabelecer um piso salarial profissional nacional, a nova lei descaracteriza a figura do professor, descrevendo-a a partir de suas responsabilidades, ou a partir de sua formação. 5. Finalmente, os artigos 74 e 75 que tratam, respectivamente, do custo mínimo por aluno e da ação supletiva e redistributiva da União e dos estados, conjugados à emenda constitucional de n°14 e a Lei 9.424/96 que criou o Fundo, expressam a política educacional do governo federal, que propõe ao país uma educação mínima com obrigatoriedade apenas para o ensino fundamental, abrindo o terreno para a ação da iniciativa privada nos outros níveis da educação nacional. SÍNTESE DA AULA: Nesta aula estudamos a trajetória da LDBN – 9394/96, a estratégia utilizada pelo Ministério da Educação para aprovar a proposta oficial e as principais características dessa Lei. AULA 9: A NOVA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) E O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO O vídeo acima nos leva a fazer um questionamento: qual o melhor formato a ser escolhido para a educação? No Brasil, a educação, sobretudo a de escolas públicas, ainda é precária. Os professores são mal pagos, os alunos têm dificuldade de aprender e o sistema educacional é deficiente. O governo, na tentativa de minimizar a precariedade desse cenário, cria medidas de fomento a iniciativas públicas e privadas que visam dar subsídios para melhorar a qualidade de ensino no país. Nesta aula, vamos ver o que foi a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e como desta surgiu o Plano Nacional de Educação (PNE). A nova lei de diretrizes e bases da educação - Da prevenção, dos produtos e dos serviços: Principais Características: A atual LDB (LEI 9394/96) foi sancionada pelo então presidente FHC e pelo Ministro da Educação Paulo Renato em 20/12/1996. Trouxe diversas mudanças em relação as leis anteriores, como a inclusão da educação infantil (creches e pré-escolas) como primeira etapa da educação. Formação de docentes para atuar na Educação básica de nível superior, sendo aceito para a educação infantil e 4 primeiras séries do ensino fundamental com formação em curso normal do ensino médio; Formação dos especialistas da educação em curso superior de pedagogia ou pós-graduação; A União deve gastar no mínimo 18% e os estados e municípios no mínimo 25% de seus respectivos orçamentos na manutenção e desenvolvimento do ensino público; Dinheiro público pode financiar escolas comunitárias, confessionais e filantrópicas; Prevê a criação do Plano Nacional de Educação; O Plano Nacional de Educação (PNE) 1. DIRETRIZES: O PNE é um plano de governo que estabelece diretrizes, metas e prioridades para o setor educacional brasileiro, com o objetivo de melhorar a qualidade de ensino em todo o país. Entre as principais diretrizes estão a universalização do ensino em todo o Brasil e a criação de incentivos para que todos os alunos concluam a educação básica; 2. ORIGEM: O PNE foi elaborado pelo MEC, fundamentado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). O MEC contou com a participação de mais de 60 entidades, entre sindicatos, associações. Conselhos e secretarias de educação. O plano foi enviado pelo Governo Federal ao Congresso Nacional em dezembro de 1997. Parlamentares apresentaram um projeto substitutivo e após muitos debates e a criação de emendas, o plano foi aprovado no final de 2000 e sancionado pelo então presidente FHC em 9 de janeiro de 2001; 3. AÇÃO: Agora o PNE virou Lei e por isso suas metas deverão obrigatoriamente ser cumpridas até o final desta década. O coordenador do plano e o MEC. Já os Governo Federal, estaduais e municipais são os responsáveis por colocá-lo em prática. A estratégia adotada foi a criação de Políticas Públicas de Educação e de desenvolvimento social. Como recurso financeiro, o governo utilizara 5% do PIB (aproximadamente 52 bilhões de reais). O embate que resultou na criação do PNE: “O Plano Nacional de Educação (PNE), criado pelo MEC, traça as diretrizes e metas para a Educação Brasileira, que devem ser cumpridas até o final desta década”. A demora do Governo Federal para elaborar uma proposta de plano não fez com que a sociedade ficasse parada. Liderada pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, a sociedade organizada formulou e aprovou, no 1º e no 2º Congresso Nacional de Educação (Coned), uma proposta de PNE da sociedade brasileira. A proposta de plano que surgiu dessa mobilizaçãofoi apresentada ao Congresso Nacional antes da do governo pelo deputado Ivan Valente, que reuniu assinaturas de “mais de setenta parlamentares e de todos os líderes dos partidos de oposição” (Valente: 2002 97). Proposta do Governo X Proposta da Sociedade As consequências do PNE do governo para a sociedade: Seguindo suas logicas características, para os liberais o Estado deve agir com neutralidade frente as distintas concepções de bem que aparecem dentro de uma determinada comunidade, devendo assim permitir que a vida pública seja um resultado espontâneo dos livres acordos celebrados pelos particulares. O que o projeto da sociedade pretendia? Já os comunistas, ao contrário, o Estado deve ser um Estado ativista, comprometido com certos planos de vida e também com certa organização da vida pública. Este compromisso estatal pode chegar a implicar – segundo alguns comunistas – na promoção de um ambiente cultural rico que melhore a qualidade das opções dos indivíduos, a proteção de certas práticas ou tradições consideradas essenciais para a comunidade, criação de fóruns para discussão coletiva acerca de temas de interesse da comunidade, entre outros. Entenda as diferenças entre o PNE defendido pela sociedade brasileira e o PNE aprovado: Entre o PNE defendido pela sociedade e o PNE aprovado pelo governo existem diferenças substanciais. Veja agora essas diferenças e perceba como o poder do governo influenciou o rumo dado as diretrizes da educação no país. Aula 10: Financiamento da Educação e suas vertentes – Emenda constitucional nº 14, FUNDEF, FUNDEB Esta é a última aula dessa disciplina. Agora que você já possui um conhecimento das políticas educacionais brasileira dos últimos anos, precisa compreender como elas se concretizaram. Para isso, nada melhor que buscar este entendimento na composição, distribuição e fiscalização das verbas alocadas na educação. Também é necessário estudar a política de fundos, a nível estadual, utilizada desde 1998, com a implantação do FUNDEF e, posteriormente, do FUNDEB, que mascarou a questão fundamental discutida por estudiosos do financiamento, que apontam a necessidade de ampliar as verbas destinadas à educação, para que o Brasil possa superar os problemas educacionais que se arrastam ao longo da nossa história. Em 1995, ano em que FHC assumiu o governo, qdo os movimentos organizados da sociedade civil lutavam juntos ao Congresso para aprovar o Projeto de Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, o governo apresenta um projeto de emenda constitucional (PEC 233/95) que resultou na aprovação e promulgação, em 12 de setembro de 1996, da Emenda Constitucional nr 14 (EC 14). O texto da Emenda era o seguinte: “dentre outras disposições, obriga Estados e Municípios a aplicarem até 2006, pelo menos, 60% do percentual obrigatório mínimo de 25% (ou seja 15%) da receita de impostos no ensino fundamental”. Essa Emenda criou, no âmbito de cada Estado, por 10 anos, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF), regulamentado logo a seguir pela Lei 9424, de 24 de dezembro de 1996. FUNDEF (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério) O fundo é composto de 15% do Fundo de Participação dos Estados (FPE), do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), do Imposto sobre circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e do Imposto sobre Produtos Industrializados Exportados (IPI-Exportação), que representam recursos de impostos e transferências destinados a manutenção e o desenvolvimento do ensino fundamental e são distribuídos para as redes estaduais e municipais segundo suas respectivas matriculas. Ao criar o fundo, o governo federal determinou que estados e municípios passassem a redistribuir parte do seu orçamento de acordo com o número de alunos matriculados no ensino fundamental regular, o que forcava os municípios que atendiam prioritariamente a educação infantil, a reduzir esse atendimento e abrir vagas no ensino fundamental para não perder repasse feito ao fundo estatal. Ao compararmos os censos de 97 e 98, percebemos que o número de matriculas no ensino fundamental aumentou 6%, enquanto foram eliminadas 147.296 vagas na educação infantil. De posse desses dados, podemos demonstrar que o Governo Federal, ao criar a EC 14 e o FUNDEF, não pretendia ampliar o investimento no ensino fundamental, mas apenas redistribuir verbas já existentes nos Estados e Municípios. Um outro fator que merece destaque é o valor estipulado pelo poder central para o custo-aluno/ ano, desde 98, ao não obedecer a formula de cálculo do valor mínimo a ser gasto por aluno, como determina a Lei 9424/96 (FUNDEF), esse valor tem sido, ano após ano, rebaixado para que a complementação da União seja a menor possível. “Com isso, calcula-se que o ensino fundamental deixou de receber cerca de 10 bilhões de reais de recursos federais desde 98” (Pinto: 2002, 116). Por outro lado, as declarações do Ministro da Educação, afirmando que os recursos do FUNDEF destinam-se prioritariamente à melhoria dos níveis de remuneração e de qualificação de professores, podem ser questionadas a partir do balanço do MEC ao mostrar que, na média nacional, considerando-se todos os níveis de formação e todas as jornadas de trabalho, a remuneração do magistério aumentou 12,9% no período de dezembro de 97 a agosto de 98. O estudo indica que o impacto sobre os salários foi maior nas regiões norte e nordeste, em especial nesta última, onde o aumento médio nas redes municipais alcançou 49,6%. A sociedade e o FUNDEF: Podemos dizer que o FUNDEF é a resposta do governo FHC ao Acordo Nacional de Valorização do Magistério da Educação Básica - assinado em julho de 1994, no governo de Itamar Franco que, entre outras medidas, estabelecia o compromisso de se fixar um Piso Salarial Nacional de R$ 300,00. A criação dos conselhos para o acompanhamento e fiscalização dos recursos do fundo pela sociedade poderia ter iniciado uma nova cultura de participação e fiscalização da população no orçamento dos recursos públicos, mas, na prática, esbarrou na relação de poder estabelecida na nossa organização social. Em muitos estados e municípios, a composição desses conselhos tem sido complementada por lei específica, de forma a reduzir a participação relativa da sociedade civil, o que, aliado à incapacidade técnica da representação social para análise da documentação contábil relativa à receita do Fundo e aplicação dos recursos no ensino fundamental, não possibilitou, ainda, um maior controle por parte da sociedade. Isso contribuiu para o surgimento de uma série de irregularidades na utilização dos recursos do fundo, de forma que o mecanismo de controle social representou muito pouco para o avanço da participação popular na história do financiamento da educação pública. O FUNDEB (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) Foi criado em dezembro de 2006, através da Emenda Constitucional nº 53, para atender toda a educação básica (creche, pré-escola, ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos). Esse fundo substituiu o FUNDEF, que só previa recursos para o ensino fundamental. Ele é um fundo de natureza contábil, regulamentado pela Medida Provisória nº 339, posteriormente convertida na Lei nº 11.494/2007. Sua implantação foi iniciada em 1º de janeiro de 2007, de forma gradual, com previsão de ser concluída em 2009, quando estará funcionando com todo o universo de alunos da educação básica pública presencial e os percentuais de receitas que o compõe terão alcançado o patamar de 20% de contribuição. Sua vigência está prevista para o ano de 2020, atendendo, a partir do terceiro ano de funcionamento, 47 milhões de alunos. Para que isto ocorra,o aporte do governo federal ao fundo, de R$ 2 bilhões em 2007, aumentará para R$ 3 bilhões em 2008, R$ 4,5 bilhões em 2009 e 10% do montante resultante da contribuição de estados e municípios a partir de 2010.
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