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Aula 5 – Renascimento
Nas aulas anteriores, mencionamos o monopólio que a Igreja católica exercia durante a Idade Média e como esse privilégio se traduziu no aumento do poder católico nesse período. Vejamos agora de que forma esse pensamento medieval foi gestado e serviu como base para o pensamento moderno.
Vamos falar sobre as universidades medievais e como essas instituições foram fundamentais para o desenvolvimento do pensamento e cultura do homem europeu. Quando falamos em universidade, nos vêm à mente instituições de ensino superior que cursamos após o fim do ensino médio, como forma de adquirirmos uma profissão e nos especializarmos em uma área de conhecimento. As primeiras universidades têm em comum com aquelas que conhecemos hoje o fato de congregarem mestres e alunos, mas existiam sobretudo para o aprendizado de um ofício e para ensiná-lo, e qualquer um que o dominasse estava capacitado. Podemos dizer que, nessa realidade, não existiam diplomas que aferissem a capacidade dos mestres. Por isso, a palavra original universitas quer dizer corporação, a exemplo das corporações de ofício que vimos nas aulas passadas. Como o termo é de origem latina, ele também tem o sentido de universalidade, já que nele eram estudados diversos saberes.
Antes de falar sobre essa estrutura propriamente dita, vamos voltar nossos olhos para o Oriente e para os saberes trazidos pela presença muçulmana na Europa. Lembra-se? Falamos dela na última aula. Os muçulmanos ocuparam durante séculos uma parte da Europa e, mesmo tendo sido expulsos no processo de unificação dos estados nacionais, deixaram uma grande herança cultural como legado. Durante a baixa Idade Média, sobretudo a partir do século XIII, há uma enorme transformação do pensamento Ocidental, pois as obras que haviam sido produzidas durante a antiguidade chegam, por intermédio do oriente, aos pensadores do medievo.
Mas como podemos compreender essa influência árabe no mundo medieval, já que neste último imperava a igreja católica? Como o renascimento urbano e comercial e, mesmo antes disso, com as cruzadas, muito do conhecimento muçulmano penetrou no medievo. Além disso, nas universidades, coexistiam tanto o ensino religioso como o laico.  Como exemplo, podemos citar a obra do filósofo grego Aristóteles, que chega ao ocidente através de traduções feitas, inicialmente do árabe. Grande parte das obras, escritas em árabe e grego, vinha das regiões hispânicas dominadas pelos mouros.
O paradigma mais comum para definir a ciência seria algo que pode ser observado e cuja experiência pode ser repetida até que os resultados possam ser considerados um padrão. Vamos ver um exemplo simples. Sabemos que a água ferve a 100 graus centígrados. Para termos essa informação, os cientistas ferveram a água incontáveis vezes e chegaram a conclusão de que esta afirmação é verdadeira. Sob qualquer condição, a água ferve a 100 graus. Em história, não podemos fazer isso. Não podemos repetir os fenômenos e eventos históricos várias vezes para tirarmos nossas conclusões, ou seja, o paradigma de ciência tradicional pode ser aplicado às ciências exatas, mas não às ciências humanas, o que não quer dizer, necessariamente, que ela não seja ciência.
Será que se tivéssemos as mesmas circunstâncias que provocaram a Revolução Francesa em outro país teríamos o mesmo resultado? Jamais saberemos. Por isso, também não podemos falar em causa e consequência em história, já que não podemos dizer que as mesmas causas provoquem consequências idênticas. A mesma conjuntura provoca processos diferentes, dependendo do lugar, das classes sociais envolvidas, do desenvolvimento dessas classes, do conhecimento acumulado pelos indivíduos, enfim, depende de uma série de fatores que são únicos em cada lugar e tempo histórico. Por isso também é impossível utilizarmos a ideia de “e se..” Ela não tem validade em história. E se Inglaterra e França tivessem se unificado antes de Portugal e Espanha? Teriam se lançado antes na expansão marítima e colonizado a América? É impossível saber!
Entendendo a questão como um processo histórico, temos um conjunto de fatores que permitiram a existência das unidades medievais. Como fruto do seu tempo, as universidades servem também para suprir a mão de obra qualificada, já que tinha como um de seus objetivos o ensino de ofícios. Mas ao lado desse tipo de ensino, também havia uma forte formação cultural com o estudo de filósofos e escritos da antiguidade. Esses elementos estarão fortemente presentes na constituição do pensamento moderno. Os marcos precisos para quando essas instituições começaram de fato a existir é motivo de controvérsia. Entretanto, é certo que as universidades existiram não só como uma necessidade de sua época, mas também como uma disputa entre o ensino laico e religioso.
O que podemos concluir é que mesmo em meio à mentalidade medieval, dominada pela Igreja, há o florescimento e a expansão do ensino e da cultura, além da recuperação do conhecimento da antiguidade. Por isso, não faz sentido nos referirmos a esse termo como Idade das Trevas. Falamos disso em outras aulas, você se lembra?
Agora que vimos mais sobre o pensamento medieval, podemos perceber o quanto esse termo é pejorativo. Estima-se que o primeiro a se referir ao período medieval como Idade das trevas tenha sido Francesco Petrarca, intelectual e poeta italiano, no século XIV. Petrarca era um homem de seu tempo, culto e que, além disso, vivia em um dos maiores centros de efervescência cultural da época, a Itália. Para essa nação, durante os séculos anteriores, a literatura latina havia experimentado um enorme declínio, o que o fez considerar o período como obscuro ou tenebroso. O termo foi apropriado pelos iluministas que entendiam o medievo como uma época de misticismo e superstição, no qual a ciência ficou relegada a segundo plano e o mundo era regido pelas sagradas escrituras. A existência e desenvolvimento das universidades mostram o quanto esse termo é errôneo, mas essa revisão foi feita somente no século XX. Levamos séculos para perceber que o conhecimento medieval é a base na qual se sustentaria o conhecimento moderno e que este, como qualquer dinâmica humana, se transforma e se adapta aos novos tempos.
Nas universidades, especialmente a partir do século XV, teremos o desenvolvimento e a difusão do humanismo. Podemos definir humanismo, de modo geral, como o conjunto de ideias e valores que priorizam a visão de mundo do homem. O que isso quer dizer?
Visão Teocêntrica de Mundo ( Durante séculos, predominou na Europa a visão teocêntrica de mundo. Todos os fatos da vida humana, do nascimento à morte, eram determinados por princípios divinos e baseados na fé. Como qualquer conjunto ideológico baseado no princípio divino, a trajetória da vida humana não teria nenhuma definição racional, já que todas as escolhas estariam submetidas à vontade de Deus. Nesse mundo, o homem é um mero espectador de seu destino e depende da vontade de seu criador para existir.
Crença em um Ser Divino ( Não queremos aqui questionar o sentido ou validade na crença em um ser divino. O que temos que compreender, como historiadores, é como essa fé determinou a trajetória dos homens do medievo. Se tudo é determinado pela vontade divina, então faz parte do plano superior o homem ter nascido servo ou nobre e a imobilidade social é vista como algo natural, inato e que não pode ser transformado. Isso contribuiu para a manutenção da estrutura feudal enquanto esse pensamento vigorou.
O Homem não é mais um Mero Expectador ( A expansão do conhecimento permite que o homem questione o seu papel no mundo e, é claro, o papel de Deus na ordem das coisas. Na Idade Moderna, o homem não é mais um mero espectador, mas um agente transformador da realidade e do mundo que o cerca, interferindo diretamente em seu meio. Esse é o principal sentido do humanismo, ou da perspectiva antropocêntrica, na qual as necessidades humanas passam a ser valorizadas.
Progressivamente, os dogmas católicos passam a ser questionados, especialmente no tocanteao acúmulo de capital. A igreja condena o lucro e a usura, que por sua vez são a base do comércio que permitirá à burguesia enriquecer. Não é à toa que a burguesia será um dos principais agentes que apoiarão as reformas religiosas, como veremos nas próximas aulas. A antiguidade trazia em sua filosofia e arte traços do humanismo que serão recuperados na Idade Moderna. Podemos notar isso em diversos exemplos, como na filosofia de Platão e Aristóteles, em suas discussões sobre a organização social, ou na medicina de Hipócrates, o pai da medicina, para quem a definição de saúde envolvia não só o corpo físico, mas também uma grande parte espiritual.
Na antiguidade, já existia uma preocupação com o corpo humano e com a forma como ele era representado. Buscava-se a perfeição e a simetria das formas, o que vai ser retomado no renascimento. Vamos ver as diferentes maneiras como isso se materializava na arte? Esta é a escultura feita pelo artista grego Fidias, representando o Deus Dionísio. Essa obra foi feita no século IV e mostra uma preocupação com as formas, o torso bem definido, numa clara tentativa de representar o corpo humano da maneira mais realista possível. Para os romanos, os deuses assumem formas humanas e por isso o corpo de Dionísio está sendo esculpido como um corpo humano de simetria perfeita. Vamos compará-lo com esta pintura de Pietro Cavallini. O artista, que viveu entre os séculos XIII e XIV retratou nessa obra chamada A Anunciação, o anjo de Deus anunciando à Maria a gravidez dela. Não só a escolha do tema religioso é característica da idade Média, mas também a maneira como as figuras são retratadas. Completamente vestidas, como convém a uma obra religiosa, e que destoa completamente do Dionísio nu de Fidias, não há uma preocupação na reprodução dos traços fisionômicos, na expressão do rosto ou no desenho das mãos e dos traços físicos. Por último, vejamos uma das esculturas mais famosas de todos os tempos: o Davi de Michelângelo. O que impressiona nesta obra é o cuidado do artista com a representação do corpo. Os músculos, a expressão facial, o contorno das mãos, todos esses elementos indicam um conhecimento científico da anatomia humana. Era comum que os pintores e escultores fossem às universidades assistir às aulas de medicina e anatomia e isso se reflete em suas obras. Quando vemos essa progressão da arte, da antiguidade até a renascença, podemos perceber a clara retomada de valores da antiguidade. O conceito de renascimento como “recuperação de valores e ideais da antiguidade clássica grega e romana” é algo que vemos desde os nossos tempos de escola. Agora vimos, através dessas imagens, como de fato ela se manifesta.
É claro que é na arte que o renascimento se manifesta de maneira mais visível. Sempre que falamos em renascimento nos vem à mente a expressão “renascimento artístico”. Mas o renascimento é bem mais do que uma manifestação artística e cultural. Ele é um conjunto de valores que se manifesta não só na pintura e escultura, mas na medicina, na física, na astronomia e em vários campos do saber. Isso acontece porque são transformações no campo das ideias e por isso afetam o conhecimento humano como um todo.
Os séculos XV e XV assistem a uma nova maneira do homem se expressar e descrever o mundo que o cerca. Nesse aspecto, Leonardo da Vinci é considerado um homem do renascimento, por excelência. Suas pinturas são conhecidas no mundo todo, mas Da Vinci também foi inventor e engenheiro, acumulando diversos saberes e atuando em diversas áreas. Isso mostra o espírito artístico e científico da época, que busca no homem e na natureza a explicação para vários fenômenos da vida cotidiana. Fatos hoje que nos parecem triviais constituem enormes descobertas, como é o caso da circulação sanguínea. Sabemos que é bombeado pelo coração e percorre todo o nosso corpo. Mas como chegamos até essa informação, imprescindível para o desenvolvimento da medicina moderna? Em mais um exemplo da importância do pensamento clássico no renascimento, um dos pioneiros no estudo do sangue foi Cláudio Galeno, médico que viveu na Roma Antiga. Galeno fazia experiências em macacos, já que era proibido o uso de cadáveres e foi um dos primeiros a estudar as veias e artérias. Durante a Idade Média, estudos com cadáveres eram considerados uma grande profanação e proibidos pela igreja. No século XVI, Andreas Vessalius, usando os trabalhos de Galeno, estabeleceu um minucioso trabalho na descrição do funcionamento do corpo humano e da circulação sanguínea. Vessalius dissecou inúmeros cadáveres para chegar às suas conclusões e por isso foi considerado o pai da anatomia moderna. Mas a produção de conhecimento não estava totalmente livre da interferência da Igreja. Cientistas como Galileu Galilei foram duramente perseguidos por defenderem suas ideias e teorias. No século XV, Nicolau Copérnico desenvolve o modelo heliocêntrico, que mudaria por completo a astronomia. Antes de Copérnico, vigorava o modelo geocêntrico de universo, ou seja, a terra era o centro do universo e ao redor dela orbitavam os demais corpos celestes. Baseado no estudo e na observação dos planetas, Copérnico criou um novo modelo, no qual o sol substitui a terra como centro do universo. A Igreja recusa a descoberta, apesar de Copérnico ser, dentre outras funções, cônego da Igreja Católica. Até então, embora condenasse as descobertas, a Igreja ainda não tinha passado a persegui-las sistematicamente. Mas em 1542 o papa Paulo III restabelece o tribunal da Inquisição que passa a observar as descobertas científicas mais de perto.
Por fim, a invenção da imprensa por Gutemberg, da qual falamos na última aula, vai revolucionar definitivamente o mundo moderno. As obras científicas produzidas durante o renascimento puderam chegar a um número muito maior de pessoas. Mesmo constando no Index, alguns livros ainda são impressos e distribuídos clandestinamente. A importância dessas obras não se encerram em si mesmas. Elas são importantes porque dão origem a novas pesquisas e novos questionamentos. E isso não se restringe às camadas mais altas da sociedade. Cada vez mais, o homem comum buscará a educação como uma maneira de transitar no mundo das ideias, de fazer parte dessa nova realidade. Ler e escrever irão, aos poucos, deixando de ser privilégios restritos aos membros da nobreza. É claro que esse é um processo longo, mas o acesso ao conhecimento, antes quase impossível, é uma das marcas que distinguem a Idade moderna da Idade Média.
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