deve acompanhar vossos trabalhos. 31. “Bem-aventurada és tu que acreditaste, porque se hão de cumprir 33 as coisas que da parte do Senhor te foram ditas” (Lc 1,45). Estas palavras, que Isabel dirige a Maria, portadora de Cristo, são aplicá- veis à Igreja, da qual a Mãe do Redentor é tipo e modelo. Feliz és tu, América, Igreja da América, portadora de Cristo também, que rece- beste o anúncio da salvação e creste “nas coisas que te foram ditas da parte do Senhor”! A fé é a tua ventura, a fonte da tua alegria. Felizes vós, homens e mulheres da América Latina, adultos e jovens, que conhecestes o Redentor! Junto com toda a Igreja, e com Maria, podeis dizer que o Senhor “pôs os olhos na humildade de sua serva” (Lc 1,48). Felizes vós, os pobres da terra, porque chegou para vós o Rei- no de Deus! “O que o Senhor te disse, se cumprirá”. Sê fiel ao teu batismo reaviva neste Centenário a imensa graça recebida, dirige teu coração e teu olhar ao centro, à origem, Àquele que é o fundamento de toda a felici- dade, a plenitude de tudo! Abre-te a Cristo, acolhe o Espírito, para que em todas as tuas comunidades tenha lugar um novo Pentecostes! E surgirá de ti uma humanidade nova, bem-aventurada; e experimen- tarás de novo o braço poderoso do Senhor, e “o que o Senhor te disse se cumprirá”. O que te disse, América, é Seu amor por ti, é Seu amor pelos teus homens, por tuas famílias, pelos teus povos. E esse amor se cumprirá em ti, e te encontrarás de novo a ti mesma, encontrarás teu rosto, “te proclamarão bem-aventurada todas as gerações” (Lc 1,48). Igreja da América, o Senhor passa hoje ao teu lado. Chama-te. Nesta hora de graça, pronuncia de novo teu nome, renova sua aliança conti- go. Oxalá ouças hoje sua voz, para que conheças a verdadeira e plena felicidade, e entres em seu descanso! (cf. SI 94,7.11). TeRedemptoris missionemos invocando Maria, Estrela da primeira e da nova evangelização. A Ela, que sempre esperou, confiamos nossa esperança. Em suas mãos, colocamos nossos cuidados pastorais e todos os trabalhos desta Conferência, encomendando a seu coração de Mãe o êxito e a projeção da mesma sobre o futuro do Continente. Que Ela nos ajude a anunciar Seu Filho: 34 “Jesus Cristo ontem, hoje e sempre!” Amém. Santo Domingo, 12 de outubro de 1992. João Paulo II MENSAGEM DA IV CONFERÊNCIA AOS POVOS DA AMÉRICA LATINA E CARIBE I. APRESENTAÇÃO 1. Convocados pelo Santo Padre João Paulo II para a IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e presididos por ele na sua inauguração, reunimo-nos, em Santo Domingo, representantes dos Episcopados da América Latina e Caribe, e colaboradores do Papa na Cúria Romana. Participaram também outros Bispos convidados de diversas partes do mundo e igualmente sacerdotes, diáconos, religio- sos, religiosas e leigos, além de observadores pertencentes a outras Igrejas cristãs. 35 2. Uma significativa efeméride sugeriu a data desta IV Conferência: os 500 anos do início da evangelização do Novo Mundo. A partir de então, a Palavra de Deus fecundou as culturas dos nossos povos, che- gando a constituir parte integrante da sua história. Por isso, depois duma longa preparação, que incluiu uma novena de anos, inaugurada aqui mesmo em Santo Domingo pelo Santo Padre, congregamo-nos com atitude assumida pelo próprio Santo Padre, ou seja, com a hu- mildade da verdade, dando graças a Deus pelas muitas e grandes luzes e pedindo perdão pelas inegáveis sombras que cobriram este período. 3. A IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano quis traçar as linhas fundamentais de um novo impulso evangelizador, que ponha Cristo no coração e nos lábios, na ação e na vida de todos os latino-americanos. É esta a nossa tarefa: fazer com que a verdade sobre Cristo, a Igreja e o homem penetre mais profundamente em todas as camadas da sociedade, em busca da sua progressiva trans- formação. A nova evangelização foi a preocupação do nosso trabalho. 4. A nossa reunião está em estreita relação e continuidade com as anteriores da mesma natureza: a primeira celebrada no Rio de Janeiro, em 1955; a seguinte em Medellín, em 1968; e a terceira em Puebla, em 1979. Reassumimos plenamente as opções que assinalaram aque- les encontros e encarnaram as suas conclusões mais substanciais. 5. Estes eventos constituem uma valiosa experiência eclesial, da qual provém um rico ensinamento episcopal, útil às Igrejas e à sociedade do nosso continente. A estas orientações junta-se agora o compromis- so evangelizador, que emerge da presente reunião e que oferecemos com humildade e alegria aos nossos povos. 6. A presença materna da Virgem Maria, unida entranhadamente à fé cristã na América Latina e Caribe, foi desde sempre, e em especial nestes dias, guia do nosso caminho de fé, alento nos nossos trabalhos e estímulo diante dos desafios pastorais de hoje. 36 II. A AMÉRICA LATINA E O CARIBE ENTRE O TEMOR E A ESPERANÇA 7. Grandes maiorias dos nossos povos padecem condições dramáticas nas suas vidas. Verificamo-lo nas cotidianas tarefas pastorais e ex- primimo-lo com clareza em muitos documentos. Assim, quando os seus sofrimentos nos oprimem, ressoa aos nossos ouvidos a palavra que Deus disse a Moisés: “Eu vi a miséria do meu povo... tenho ouvi- do o seu clamor... conheço, pois, a sua dor... Estou decidido... a con- duzi-lo desta terra para uma terra fértil e esperançosa” (Ex 3,7-8). 8. Essas condições poderiam abalar a nossa esperança. Mas a ação do Espírito Santo proporciona-nos um motivo vigoroso e sólido para esperar: a fé em Jesus Cristo, morto e ressuscitado, que cumpre a sua promessa de estar sempre conosco (cf. Mt 28,20). Esta fé no-lo mos- tra atento e solícito a toda necessidade humana. Nós procuramos rea- lizar o que Ele fez e ensinou: assumir a dor da humanidade e atuar para que se converta em caminho de redenção. 9. A nossa esperança seria vã, se não fosse atuante e eficaz. A mensa- gem de Jesus Cristo seria falaz, se peRedemptoris missiotisse uma desassociação entre o crer e o atuar. Exortamos aqueles que sofrem a abrir os seus corações à mensagem de Jesus, que tem o poder de dar um sentido novo à sua vida e dores. A fé, unida à esperança e à cari- dade no exercício da atividade apostólica, tem de se traduzir em “terra fértil e espaçosa”, para aqueles que hoje sofrem na América Latina e Caribe. 10. A hora presente faz-nos recordar o episódio evangélico do para- lítico, que havia trinta e oito anos estava junto da piscina que cura, mas não tinha quem o mergulhasse nela. O nosso trabalho evangeliza- dor quer atualizar a palavra de Jesus ao homem enfermo: “Levanta-te, toma o teu leito e anda” (cf. Jo 5,1-8). 11. Desejamos converter os nossos afãs evangelizadores em ações concretas, que façam com que as pessoas superem os seus problemas e curem as suas enfeRedemptoris missiodades — tomem os seus lei- 37 tos e andem —, sendo protagonistas das suas próprias vidas, a partir do contato salvífico com o Senhor. III. UMA ESPERANÇA QUE SE CONCRETIZA EM MISSÃO 1. A nova evangelização 12. Desde a visita do Santo Padre ao Haiti em 1983, temo-nos sentido animados por um impulso encorajador para uma ação pastoral reno- vada e mais eficaz nas nossas Igrejas particulares. A esse projeto global que aspira a um novo Pentecostes dá-se o nome de nova evan- gelização (cf. João Paulo II, Discurso inaugural, 6 e 7). 13. O episódio dos discípulos de Emaús, relatado pelo evangelista Lucas, apresenta-nos Jesus ressuscitado anunciando a Boa Nova. Pode ser também um modelo da nova evangelização. 2. Jesus Cristo ontem, hoje e sempre: Jesus vai ao encontro da hu- manidade que caminha (Lc 24,13-17) 14. Enquanto os discípulos de Emaús, desconcertados e tristes, re-