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Apostila de direito Empresarial III

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APOSTILA DE DIREITO COMERCIAL III 
TÍTULOS DE CRÉDITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Professor César Luiz Dagostin 
 
2 
 
 
 
 
 
TÍTULOS DE CRÉDITO – PARTE GERAL 
 
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
 
 
CRÉDITO: 
 
Desde os primórdios, a mercancia faz parte da história 
humana. No início era praticado o escambo ou troca de mercadorias. 
Mas essa troca acabou se restringindo a medida que as necessidades 
por determinado tipo de produto mudava. Se alguém tinha óleo para 
trocar por grãos, talvez quem possuísse grãos não tinha interesse no 
óleo. 
 
Assim, o homem criou mecanismos em que os negócios 
pudessem ser cumpridos noutro momento. Para isso é necessário ter 
confiança no parceiro de negócios. É preciso acreditar que o outro vá 
cumprir sua obrigação como estabelecido. 
 
Nasce assim o Crédito. Derivado do verbo latino 
credere, crédito significa crer, acreditar. 
 
Mas como qualquer negócio jurídico, deve ser cercado 
de cuidados. O Código de Hamurabi já dizia que “se um mercador 
emprestou a juros, grão ou prata, sem testemunha, nem contrato, ele 
perderá tudo o que tiver emprestado” Então para que não houvesse 
essa perda era necessário a prova, testemunhal ou documental, que 
negócio realizado. É a prova mais confiável de provar uma obrigação é 
obter do devedor uma declaração de seu dever. 
 
TÍTULO: 
 
Originado da palavra latina titulus, quer dizer 
inscrição. Refere-se, portanto, a um texto que dá identidade ou 
adjetivação à coisa, ao fato ou à pessoa. 
 
Título então é um documento, a inscrição 
materialmente grafada, que representa a inscrição jurídica de um débito 
e de um crédito, ou seja, um instrumento representativo do crédito. 
 
Claramente, se vê que o título de crédito deve atender 
as exigências legais para que seja válido, e em sentido oposto, perdendo 
sua qualidade caso não atenda as exigências legais, no mínimo em 
função do que consta no artigo 104, III, primeira parte, do CC: “(A 
validade do negócio jurídico requer: (...) III. Forma prescrita ou não defesa 
em lei)”, bem como em face do liberalismo cambiário. 
 
 
3 
 
A invalidade do instrumento que faz prova do 
débito/crédito não se tradus em invalidade do próprio débito/crédito. 
Não se aplica, portanto, o art. 166, IV, do CC, a não ser nos limites 
previstos no art. 170. Ou seja, será nula apenas a pretensão de 
constituir um título de crédito, mas não a operação subjacente, 
servindo o documento como prova para executabilidade processual (art. 
585, do CPC), para a ação monitória ou para a ação de cobrança. 
 
Normalmente, o título de crédito é um papel, com 
poucas anotações, representando o débito/crédito e facilitando sua 
circulação. A condição de título de crédito corresponderia ao 
atendimento a um conjunto de características mínimas, quais sejam: 
1) A anotação de uma obrigaçãounilateral, atribuível a 
devedor ali indicado; 
2) A representação obrigatória no instrumento ( o 
papel em que se documenta); 
3) O caráter de declaração unilateral de uma obrigação 
que guarda autonomia do ato ou negócio no qual se 
gerou; 
4) A limitação do universo de suas obrigações àquelas 
que estão definidas na lei e àquelas que estão 
inscritas no documento, em sua literalidade; 
5) Atenção a um conjunto de requisitos mínimos a 
saber: 
a) Forma prescrita em lei; 
b) Data e local de emissão; 
c) Precisão dos direitos conferidos; 
d) Assinatura. 
 
 
Os títulos de crédito podem ser classificados em 
próprios ou impróprios. Os títulos de crédito próprios são a Letra de 
Câmbio, a Nota Promissária, o Cheque e a Duplicata. Para além destes 
há um vasto conjunto de títulos de crédito, chamados impróprios, que 
apresentam particularidades específicas, que rompem com auqles 
princípios. São as Cédulas de Crédito Bancário, Conhecimento de 
Depósito, Letra de Crédito Imobiliário, entre outros. 
 
 
CAMBIARIDADE 
 
Tem-se um instrumento que atesta um débito de uma 
pessoa e, via de conseqüência, um crédito correspondente a outra 
pessoa e que pode ser usado como circulação de riquezas. Trata-se da 
prova de uma obrigação que pode ser juridicamente executada. Sua 
circulação está diretamente ligada à percepção de que, embora a 
obrigação esteja vinculada à pessoa de um ou mais devedor, o crédito 
respectivo não está vinculado a um credor necessário, podendo ser 
transferido. Quem tem o crédito, transfere-o a outro como pagamento 
de uma obrigação sua, nos termos em que esses tenham ajustados e 
que permita a lei. 
 
4 
 
Em latim, cambiare significa troca mudança, permuta. 
É exatamente o que ocorre com os títulos de crédito, um documento 
constituído sob a forma prescrita em lei cuja finalidade é provar a 
existência de uma relação jurídica de débito/crédito, mas cuja 
finalidade secundária é permitir e garantir a circulação desse crédito, 
ou seja, a mudança da titularidade do sujeito ativo, permitindo que 
outrem seja um novo titular desse crédito. Então a figura do devedor é 
certa, como é a obrigação, mas o credor é cambiável. 
 
 
EMISSÃO E SEUS EFEITOS 
 
A partir da criação (preenchimento do título de crédito, 
atendendo à forma legal) e sua emissão (colocação no mercado, onde 
pode circular) cria-se uma obrigação jurídica determinada que está 
representada no papel correspondente (cártula). Eu peço pegar o talão 
de cheque e preencher. Ao entrgá-lo a alguém, emito-o, dando 
existência social, afirmando que há uma declaração de cunho 
obrigacional do emitente de pagar determinada quantia ou de entregar 
determinada coisa. É um ato jurídico unilateral. O negócio jurídico de 
compra e venda é bilateral, mas a emissão de um título de crédito é 
unilateral e serve ao negócio jurídico, podendo significar pagamento (pro 
soluto) ou garantia de pagamento (pro solvendo). 
 
PRINCÍPIO DA INCORPORAÇÃO 
Com a emissão do título de crédito, a obrigação 
jurídica se incorpora àquele documento, e passa a estar vinculada a ele. 
 
 
TÍTULOS DE CRÉDITO 
 
1 - CONCEITO: 
 
Definição célebre formulada por Vivante: 
"Título de crédito é o documento necessário para o 
exercício do direito, literal e autônomo nele mencionado". 
 
Obs. Art. 887 do novo Código Civil: 
 
“O título de crédito, documento necessário ao exercício 
do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito 
quando preencha os requisitos da lei”. 
 
2 – CARACTERÍSTICAS OU PRINCÍPIOS: 
 
A) Cartularidade - o título de crédito se assenta numa 
cártula (papel ou documento necessário para o exercício do direito 
resultante do crédito que a cártula representa). É essencial a exibição 
 
5 
 
do documento, acarretando como conseqüência prática a necessidade 
da cártula em original para ingressar nas vias executivas, bem como 
para promover o requerimento falimentar, baseado na impontualidade 
de pagamento de dívida representada por um título de crédito, não 
aceitando, cópia xerox, nem mesmo autenticada. 
 
A existência da cártula é indispensável ao exercício do 
direito nela contido, como se lê no art.887, do CC. Para exigir o 
cumprimento da obrigação, exige-se que o credor demonstre sua 
condição a partir da apresentação do título ao devedor, para 
adimplemento voluntário, ou ao judiciário, instruindo o processo de 
execução, à luz do art. 580, do CPC. 
 
O ART. 223, DO cc, quando prevê que a cópia 
fotográfica de documento fornecido por tabelião de notas, valerá como 
prova de declaração de vontade, esclarece, em seu parágrafo único, que 
tal prova não supre a ausência do título de crédito, como conseqüência 
direta de sua cambiaridade, servindo inclusive para proteção do 
devedor. 
 
Não se aplica, portanto aos títulos de crédito, face ao 
seu regime jurídico específico, a regra geral do art. 309, do CC, segundoa qual o pagamento feito ao credor putativo e válido, ainda provado 
depois que não era credor. 
 
B) Literalidade – Afirma o art. 887, do CC, que o título 
de crédito contém um direito literal, um direito que se lê no documento 
representativo do crédito. Consiste no fato de valer no título apenas o 
que nele está escrito e, conseqüentemente, o que nele não está escrito, 
não pode ser alegado, limitando desta forma os direitos e as obrigações 
ali incorporados. 
 
Obs. Uma obrigação, por exemplo, de aval, expressa 
em documento separado, ao título não se integra. Igualmente, descabe 
prova testemunhal para comprovar pagamento de parte da dívida, por 
exemplo. 
 
Há sempre um limite estabelecido pela lei. Assim, uma 
assinatura isolada no verso da cártula, traduz-se por endosso. Uma 
assinatura na face (anverso) traduz-se por aval. 
 
 
C) Autonomia – Ainda segundo o artigo 887, do CC, o 
título de crédito contém um direito autônomo. Trata - se de uma das 
maiores garantias dos títulos de crédito, capaz de promover, com 
segurança, a circulação dos direitos emergentes dos títulos. Cada 
obrigação que deriva do título é autônoma em relação às demais, por 
conseguinte a invalidade de uma obrigação não invalida as outras. As 
obrigações constantes do título são sempre obrigações internas, 
cartulares ou cambiárias, a saber, aval, endosso e aceite. 
 
 
6 
 
Assim, impede que a um terceiro de boa-fé, que não 
conhece e por certo nem deveria conhecer eventuais vícios do negócio 
jurídico que deu origem ao título, sejam-lhe impostas exceções (defesas) 
que digam respeito ao negócio inaugural. 
 
De acordo com o artigo 906, do CC, o devedor de um 
título de crédito só pode opor ao portador que lhe apresenta a cártula 
para pagamento (extrajudicial ou judicial) exceção fundada em direito 
pessoal ou em nulidade de sua obrigação. Assim, as relações pessoais 
entre os partícipes do negócio fundamental não podem ser opostas para 
resistir à pretensão do terceiro de boa-fé ao recebimento do crédito. 
 
Do princípio da autonomia decorrem três 
subprincípios: 
a) a abstração: O próprio título é desvinculado da 
causa Circulação 
b) inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros 
de boa fé. 
c) Independência: desvinculação dos coobrigados uns 
em relação aos outros. É uma extensão da autonomia, "cada qual se 
obriga por si e responde pelo cumprimento da obrigação contraída". 
 
 
 
D - ABSTRAÇÃO - Abstração significa ausência de 
causa necessária para a emissão da cártula, que destarte, pode decorrer 
de qualquer tipo de negócio jurídico e não de um negócio em especial. 
 
No entanto, há títulos de crédito que necessariamente 
têm causa necessária à sua emissão, como é o caso de conhecimento de 
transporte, que deve se originar de um contrato de transporte, 
chamados títulos causais, onde a causa pode e deve ser alegada 
(cheque, nota promissória, pro solvendo). A jurisprudência vem 
entendendo que se o título é causal, mesmo em sendo endossado, de 
boa fé, a causa pode ser discutida. Logo, o mesmo não ganha abstração. 
 
 
Obs. I - Abstração ≠ Autonomia 
 
Obs. II - Observe-se, entretanto, que, de regra, após o 
endosso, os títulos tornam-se abstratos, excetuada hipótese de endosso 
de má-fé e dos títulos causais, como se disse acima. 
 
Ex: Nota Promissória entre as partes - pro solvendo - 
título causal 
Nota Promissória que circulou, por endosso de boa fé- - 
pro soluto - título abstrato. Nota Promissória causal – mesmo sendo 
endossada de boa-fé – título não abstrato – título causal. 
 
E) FORMALISMO - o título de crédito é formal por isso 
indispensável se torna que o documento se revista de certas exigências 
 
7 
 
impostas pela lei para que tenha a natureza de título de crédito e 
assegure ao portador os direitos incorporados no mesmo. Cada espécie 
de título possui uma forma própria que se obtém através do 
cumprimento de requisitos expressamente enumerados na lei regente 
do mesmo. Se faltar, ao menos um daqueles requisitos considerados 
essenciais, o escrito não terá valor de título de crédito. Trata-se do 
denominado rigor cambiário. 
 
F) CIRCULAÇÃO - finalidade precípua dos títulos de 
crédito, uma vez que a existência destes se justifica para facilitar as 
operações de crédito e a transmissão dos direitos neles incorporados. 
Esta transmissão se dá regularmente pela tradição ou pelo endosso, a 
terceiro de boa fé, tendo poder liberatório de moeda. As modalidades 
que se revestem esses títulos, quanto a circulação são à ordem(ver arts. 
910 a 920 do novo Código Civil) ou ao portador (ver arts. 904 a 909 do 
Código Civil). 
 
Art. 893 do novo Código Civil “ A transferência do título 
de crédito implica a de todos os direitos que lhe são inerentes.” 
 
Pergunta-se: Para maior segurança do portador é 
melhor que o título circule, por endosso, muito ou pouco ? 
 
G) FORÇA EXECUTIVA - confere aos títulos de crédito 
o direito às vias executivas, considerados que são, como títulos 
executivos extrajudiciais. 
 
Obs. 1 - ver art. 585 e 586 do CPC. 
 
Destes princípios foi criado um aparato jurídico que 
garante ao comerciante credor: 
a) a pessoa que transfere o título não poderá cobra-lo 
mais; 
b) somente podem interferir no crédito as relações 
dispostas e transcritas na cártula; 
c) nenhuma exceção pertinente a relação que ele não 
tenha participado terá eficácia jurídica quando da cobrança do título. 
 
 
3 - DA INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES 
PESSOAIS: 
 
Este é um princípio resultante dos conceitos, já 
expostos, da autonomia e da abstração das relações cartulares, trata-se 
apenas de um aspecto processual desses princípios. 
 
O tema em questão está consagrado em algumas 
normas legais, dentre elas, o art. 906 do Código Civil; o art. 51 do 
Decreto nº 2.044/1908; na Lei Uniforme de Genebra (Decreto nº 
57.663/66), art. 17 e na Lei 7.357/85, art. 25. 
 
 
8 
 
Desse princípio extrai-se que: 
 
3 . 1 - O objetivo do presente princípio é a garantia do 
3º de boa fé, adquirente do título de crédito, constituindo a mais 
importante afirmação do direito moderno em favor da segurança, da 
circulação e negociabilidade dos títulos de crédito. 
 
3 . 2 - As exceções pessoais só podem ser opostas entre 
os envolvidos na relação pessoal direta, entre o subscritor, ou 
transmitente do título, e o novo portador. 
 
3. 3 - O emissor pode opor a seu credor direto as 
exceções de direito pessoal que contra ele tiver, tais como, por exemplo, 
a circunstância de já lhe ter efetuado o pagamento do mesmo título, ou 
pretender compensá-lo com crédito que contra ele possuir. Mas, se o 
mesmo título houver saído das mãos do credor direto e for apresentado 
por terceiro, que esteja de boa fé, já nenhuma exceção de defesa ou 
oposição, poderá usar o devedor contra o novo credor, baseado na 
relação pessoal anterior, que não lhe diz respeito. 
 
3. 4 - Podem ser opostas a qualquer portador os vícios 
formais ou a falta de requisito necessário ao exercício da ação, em 
prestígio ao rigor cambiário. 
 
3. 5 - Apenas uma exceção comporta a regra: quando 
há má-fé, por parte do portador, ao adquirir o título com finalidade de 
prejudicar o devedor. Daí dizer a lei que a regra vigora "a menos que o 
portador, ao adquirir a letra, tenha procedido conscientemente em 
detrimento do devedor", é o que estatui o art. 17 da LUG, in fine. 
 
Configura-se a má-fé na aquisição do título com o 
propósito de prejudicar o devedor, facultando, então, a lei, a oposição de 
exceção que teria contra o portador anterior. 
 
 
4. RELATIVIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS 
 
Os princípios estudados, contudo, vem sofrendo 
abrandamento diante da jurisprudência aplicada pelos nossos 
Tribunais, diante da saudável hermenêutica própria denosso tempo. 
Esta posição da jurisprudência se acentuou a partir do 
novo Código Civil, onde as relações privadas foram amarradas a 
princípios éticos, de respeito a uma moralidade privada. Mesmo na 
interpretação dos negócios jurídicos que envolvem títulos de crédito, 
deve-se atentar pela boa-fé e os usos do Lugar da celebração (art. 113, 
do CC), considerando inválido aqueles que tenham motivo ilícito, 
comum a ambas as partes (art. 166, III, do CC), ou que tenham por 
objetivo fraudar a lei imperativa (art. 166, VI, do CC), invalidade essa 
que alcança até a simulação (art 167 e SS, do CC). Ademais na emissão, 
na circulação e na cobrança dos títulos de crédito exige-se das partes o 
respeito aos limites da função social do contrato, guardando todos os 
 
9 
 
envolvidos os princípios da probidade e da boa-fé (arts. 421 e 422, do 
CC). 
 
Assim, por exemplo, uma nota promissória vinculada a 
um contrato de abertura de crédito em conta-corrente lhe retira a 
abstração e a autonomia, pois a iliquidez do contrato contamina o 
título. 
 
 
5. REQUISITOS 
 
A forma do papel de crédito deve obedecer formalismos 
específicos que visam à proteção da segurança das partes envolvidas ou 
que venham a ser envolvidas na eventualidade da circulação do 
instrumento de crédito. 
 
A não observância desses requisitos formais não torna 
a emissão de um título de crédito um ato ilícito. A não atenção aos 
requisitos mínimos simplesmente retira o documento do âmbito jurídico 
específico das normas cambiárias, remetendo-o para o plano das 
relações jurídicas de Direito Comum. Nesse sentido, o art. 888, do CC, 
segundo o qual a omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito 
a validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio 
jurídico que lhe deu origem. Assim, o documento perde sua 
executoriedade específica, bem como perde a possibilidade de 
circulação. 
 
Aos requisitos mínimos do Direito Cambiário somam-
se requisitos obrigatórios do Direito Comum, aos quais igualmente 
estão submetidos os atos unilaterais de emissão de títulos de crédito. 
Nessa hipótese, porém, a desatenção à previsão normativa conduz, 
conforme o caso, à nulidade ou à anulabilidade. 
 
5.1 AGENTE CAPAZ 
 
A emissão de um título de crédito é um ato jurídico, 
tanto quanto o é a promessa de pagar ou entregar bem ou bens que 
nele está inscrita e, assim materialmente repersenta. Em sua qualidade 
de ato jurídico, submete-se o título ao regime geral dos atos e negócios 
jurídicos: agente capaz; objeto lícito, possível, determinado ou 
determinável; e forma prescrita ou não defesa em lei. A Convenção de 
Genebra, acordo internacional que visa à uniformização das regras 
cambiárias, a qual o Brasil aderiu, há convenção destinada a regular 
certos conflitos de leis, em cujo art. 2º foi estabelecido que a capacidade 
de uma pessoa obrigar-se por letra ou nota promissória é regulada pela 
respectiva lei nacional. Se a lei declarar competente a lei de outro país, 
será aplicada esta última. A pessoa incapaz, segundo a regra 
precedente, é, contudo, havida como validamente obrigada se tivae 
aposto sua assinatura em território de um país em cuja legislação teria 
sido considerada capaz. 
 
 
10 
 
No plano dos sujeitos, não é válida a emissão do título 
de crédito se o agente que se obriga, em se tratando de pessoa natura, é 
absolutamente incapaz; se o agente que se obriga é relativamente 
incapaz, a obrigação é anulável. Em oposição, a incapacidade do 
beneficiário não vivia o ato, já que a emissão de um título de crédito é 
uma declaração unilateral de vontade e não um negócio jurídico. Existe 
então um único ato jurídico, aquele praticado pelo emitente que, pela 
exigência do art. 5º, do CC, deverá ser pessoa plenamente capaz. 
 
No caso de emissão de cártula por representante, é 
indispensável que o emissor disponha de poderes conferidos por lei ou 
pelo interessado, conforme previsão do art. 115, do CC, e nos limites 
daqueles poderes, como estipulado pelo art. 116, do CC. É fundamental 
que o representante apresente-se notoriamente como exercendo atos 
que vinculem terceiros, respeitando o art. 118, do CC, segundo o qual o 
representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em 
nome do representado, sua qualidade e extensão de seus poderes, sob 
pena de, não o fazendo, responder pelos atos que a estes excederem. 
 
A assinatura na cártula é do representante, que age 
em nome do representado, se for o caso, através de poderes outorgados 
por procuração, rompendo-se assim o princípio da independência, 
vinculando o título ao instrumento de outorga de poderes. Ver art. 892, 
do CC. 
 
 
5.2 OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL E CAPAZ 
 
Também se exige que a emissão de um titulo de crédito 
seja ato que tenha por objeto lícito. E depois, o objeto da obrigação 
declarada, sua correspondência não só com a lei, mas sua possibilidade 
de determinação. 
 
O objeto deverá ser lícito, igualmente por ser 
juridicamente possível, ou seja, por conter obrigação contida em lei 
específica, e ademais na legislação genérica. Assim a emissão de um 
cheque deve informar a obrigação de pagar determinada quantia em 
dinheiro, não sendo lícito assumir afirmar a obrigação de entregar coisa 
certa, como ouro, pedra preciosa, etc. deve ainda respeitar a legislação 
genérica, ou seja, aquela que rege os comportamentos da sociedade. 
Assim, não é lícito, por exemplo, um conhecimento de depósito de 
determinada quantidade de cocaína, ou qualquer outro bem ilícito. 
O objeto, ademais, deverá ser possível. Será impossível, 
por exemplo, obrigação de pagar determinada quantia em moeda não 
mais existente, como cruzeiros de réis. Também seria impossível um 
título com obrigação de pagar valor astronômico, por exemplo, 400 
quatrilhões de reais, notoriamente despido de seriedade para ser aceito 
no mercado. Jurídica e fisicamente impossível é a abrigação assumida 
por quem já foi morto. 
 
 
11 
 
Ainda de acordo com o art. 104, II, do CC, exige-se que 
o objeto do ato jurídico seja determinado ou determinável, como 
parâmetro de certeza e liquidez na obrigação. Nesse entendimento, não 
será válida, por exemplo, cártula que assume obrigação de entregar 
reais, sem precisar quantos, ou seja, sem definir a quantidade que 
permita precisar a obrigação. 
 
5.3 EMISSÃO LÍCITA 
 
Requisito essencial para o título de crédito, além dos já 
estudados, é que sua emissão seja lícita, ou seja, que se concretize nos 
limites que são permitidos pelo Direito. 
 
O CC de 2002 inovou ao retirar o arbítrio da 
individualidade, para submeter os atos e negócios jurídicos aos 
princípios de uma moralidade pública para os atos privados. Assim, o 
art. 113, do CC afirma que os negócios jurídicos devem ser 
interpretados conforme a boa-fé e os costumes do Lugar de sua 
celebração, ao passo que o art. 122 considera ilícitos as condições dos 
atos jurídicos que sejam contrárias à lei, à ordem pública e aos bons 
costumes, incluindo as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, 
ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. 
 
O artigo 138 e SS, remete-nos a outro rol de requisitos, 
a implicar a adequação entre a vontade do obrigado e o negócio jurídico 
do qual se obriga, a aprtir da qual se originará a emissão da cártula. 
Assim tem-se por negócio anulável que seja decorrente de situação de 
erro ou ignorância (art. 138 e ss), dolo (art. 145 e ss), coação (art. 151 e 
ss), estado de perigo (art. 156), lesão enorme ou lesão no contrato (art. 
157) e fraude contra credores (arts 158 e ss). 
 
Não se pode esquecer, por fim, das previsões de 
invalidade anotadas no art. 166, do CC, sendo nula a obrigação quando 
o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito. Assim, 
tem-se como não exigível uma cártulaque seja emitida para representar 
dívida de jogo, que à luz do art. 814, do CC, não obrigam o pagamento, 
mesmo que se trate de mútuo feito por terceiro no ato de apostar ou 
jogar (ver art. 815, do CC). Mas a nulidade não pode ser oposta ao 
terceiro de boa-fé face aos princípios da autonomia, abstração e 
independência, que têm supremacia. 
 
Por outro lado, não é lícito a emissão de título de 
crédito para fraudar lei imperativa, aplicando-se a hipótese do art. 166, 
VI, do CC. Então, por exemplo, é nula a emissão da cárttula por aquele 
que sabendo-se falido e busca, no ato de emitir a cártula, prejudicar os 
demais credores. 
 
Por fim, são nulas as obrigações que a lei 
taxativamente declare nulas, a exemplo da listagem que se encontra 
disposta no art. 51, da Lei 8.087/90. Também são nulas as obrigações 
contraídas em negócio simulado. 
 
12 
 
 
5.4 FORMA PRESCRITA EM LEI 
 
Criados para circular, os títulos de crédito são 
comumente usados como moeda no mercado. Essa confiança do 
mercado, por certo se encontra na unicidade da forma entre os títulos, 
cujo padrão se encontra definido em lei. A forma, para os títulos de 
crédito é um elemento fundamental, pois distingue dos demais títulos 
submetidos ao regime jurídico comum. 
 
Assim, faz-se necessária a definição de elementos 
mínimos de informações que são exigidas do todos os títulos, 
independentemente do tipo. A esses somam-se informações específicasa 
de cada tipo. 
 
Oe o artigo 889, do CC , que define o elenco mínimo 
dos requisitos exigidos dos títulos de crédito, estabelecendo a 
necessidade de que contenham a data da emissão, a indicação precisa 
dos direitos que conferem e a assinatura do emitente. 
 
5.4.1 Data da emissão: 
 
O título deve trazer sua data de emissão, requisito que 
é essencial de acordo com o art. 889, do CC. Mesmo que o título seja 
passado sem que tal informação seja preenchida, é dever de seu 
portador, se deseja exigir o cumprimento da obrigação, datá-lo e assim, 
completá-lo, cumprindo a exigência da legislação. 
 
A data tem importância vital para a prescrição. Pode 
valer o título de crédito para ação executiva, ação monitória ou ação de 
cobrança. 
 
5.4.2 Data de vencimento 
 
Ao contrário da data de emissão, a data de vencimento 
não é requisito indispensável para validade da cártula, entendendo-se 
como ser a vista o título de crédito que não contenha indicação de 
vencimento (art. 889, § 1º, do CC). 
 
Assim, se conter data de vencimento da obrigação, 
entende-se que o direito está adquirido pelo credor, estando suspenso 
seu exercício, que deve ser condicionado a evento futuro e certo, qual 
seja, a chegada no calendário civil do dia de vencimento anotado na 
cártula. 
 
Assim, permite-se ao credor, entre a data de emissão e 
a data de vencimento, o exercício do direito de preservação de seu 
crédito, como o arresto, previsto no art. 813, do CPC, percebendo-se 
que o art. 814 fala em prova literal da dívida líquida e certa. 
 
 
13 
 
Pode também pedir a insolvência do devedor, 
garantindo tratamento isonômico com os demais credores, cujas dívidas 
vencidas ou não, estejam sendo pagas em seu prejuízo (art. 955, do CC 
cc art. 748, do CPC). Na hipótese de decretação dea insolvência, o 
deferimento do pedido provocará o vencimento antecipado da obrigação, 
na forma do art. 751, i, do CPC. 
 
5.7 PRECISÃO DOS DIREITO CONFERIDOS 
 
Outro requisito mínimo indispensável à validade do 
título de crédito é a definição precisa dos direitos que são conferidos 
pela cártula. Só assim é possível a circulação da cártula no mercado. 
 
Não se considera o que na cártula não está escrito. No 
entanto esse poder de definição não é ilimitado. Há clausulas que são 
consideradas ilícitas, e cujo registro, se feito, deverá ser considerado 
inexistente. O art. 890, do CC, prevê que se consideram não escritas as 
cláusulas de juros, proibitiva de endosso, a excludente de 
responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a 
observância de termos e formalidades prescritas e a que, além dos 
limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos e obrigações. 
 
 
5.8 ASSINATURA 
 
O título de crédito é visto como uma declaração 
unilateral de vontade e, na forma do art. 219, do CC, as declarações 
constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras em 
relação aos signatários. A assinatura é marca pessoal, uma das 
características da individualidade, e ao teor do art. 889, do CC, é 
requisito essencial do título de crédito, por provar que a declaração 
unilateral de direito corresponde ao emitente que, para tanto, deve 
firmá-la de próprio punho ou através de procurador com poderes 
especiais para tanto. 
 
5.8.1 Assinatura falsa 
 
Discorrer. 
 
5.8.2 Outras falsidades 
 
Aumento de valor, alteração de vencimento. 
 
5.9 LOCAL 
 
 
Os fatos jurídicos se situam no tempo e no espaço. 
Neste contexto duas são as referências físicas possíveis no título de 
crédito, o local da emissão e o local onde deverá ser feito o pagamento. 
 
 
14 
 
Importante questão em relação ao Direito Processual, 
pois o local de emissão ou do pagamento pode definir o foro competente 
para a ação. Por igual carece o credor de exigir que a obrigação seja 
saldada em Lugar diverso daquele estipulado. 
 
 
5.10 EMISSÃO ELETRÔNICA 
 
Discorrer 
 
 
5.11 MOEDA ESTRANGEIRA 
 
O art. 318 do CC afirma serem nulas as convenções 
para pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como 
compensar a diferença entre o valor desta e a da moeda nacional, 
excetuados os casos previstos na legislação especial. 
 
5.12 PARTES EM BRANCO 
 
O art. 891, do CC deixa claro que as partes deixadas 
em branco no momento da emissão devem ser preenchidas de acordo 
com os ajustes realizados. 
 
5.12.1 Extravio de cártula em branco 
 
5.13 ERROS E RASURAS 
 
 
6. TRANSFERÊNCIA DO TÍTULO 
 
6.1 Aspectos Gerais 
 
A cambiaridade, como já se disse, é uma das marcas 
características predominantes dos títulos de crê dito, instrumentos que 
registram uma obrigação que não apenas pode ser exigida do credor ali 
indicado, mas uma obrigação que também é passível de circulação, de 
transferência do seu pólo ativo. 
 
A leitura do art. 890 do CC mostra a importância que a 
circulação do crédito representa para o instituto dos títulos de crédito, 
prevendo considerar-se não escritas no título, entre outras, a cláusula 
proibitiva de endosso. Trata-se de norma geral que pode ser 
excepcionada pela legislação especial, como bem assinala o art. 903, do 
CC. Essa regra geral mostra outra particularidade: em princípio, o 
devedor não pode opor-se à circulação da cártula, e via de 
consequência, do crédito. 
 
Posta em circulação a cártula, protegida pelos 
princípios da autonomia, da abstração e da independência, seu texto 
literal define o universo das questões jurídicas em si implicadas. Essa é 
 
15 
 
uma garantia jurídica para que tal instrumento possa cumprir as 
funções dele esperada pela sociedade, na emissão do título, 
indubitavelmente, há um riso assumido pelo emissor, pressupondo 
estar consciente disto: o que conta no papel deve afirma-se perante 
qualquer pessoa, que muito provavelmente, não tem conhecimento das 
circunstâncias em que se concretizou a declaração documentada pela 
cártula. 
 
O grande valor, então, é a segurança de terceiros de 
boa-fé, que ocupa Lugar na cadeia de sucessões de direitos conferidos 
pelo título, e que tem sua preocupação limitada ao papel. É risco que 
assume o emissor. Se faz emissão ao portador, assume riscos ainda 
maiores, pois amplia os caminhos pelos quais pode trafegar o crédito. 
 
6.2 Sucessão de Direitos 
 
Em função do princípio da carturalidade, a 
transferência da condição de credor da obrigaçãoanotada no titulo faz-
se por meio da transmissão física do papel correspondente. Com a 
transferência do título são transferidos todos os direitos que lhe são 
inerentes, conforme dispõe o art. 893, do CC. Não se pode esquecer que 
a emissão de um título de crédito é um ato unilateral de vontade, onde 
alguém declara a existência de uma obrigação. 
 
Justificada por tal conformação jurídica, na sucessão 
cambiária, fruto da transferência do título, há uma sucessão subjetiva 
ativa, ou seja, na posição de credor e limitada apenas ao direito de 
credor. Como há autonomia entre o título de crédito e o negócio jurídico 
originário, o sucessor, isto é, o novo credor, não assume os deveres que 
são próprios da relação originária, mas apenas os direitos que estão 
declarados na cártula ou lhe sejam decorrentes de previsão legal. É 
distinto, portanto de transmissão de um contrato, onde se transfere 
direitos e deveres de quem era titular. 
 
O título mantém sua condição de instrumento 
afirmativo de uma obrigação a ser cumprida, facultando ao credor, 
esteja ele indicado ou simplesmente detendo-o, no caso de títulos ao 
portador, exigir o cumprimento da obrigação tão logo seja satisfeito o 
requisito da data aprazada, ou transferi-lo a outrem em qualquer 
negócio lícito havido entre eles, estando vencido ou não. O artigo 894 do 
CC visivelmente encampa o princípio da carturalidade, vinculando-o o 
exercício dos direitos inerentes ao título de crédito ao manejo do papel 
correspondente. 
 
6.3 Analogia à coisa móvel 
 
De acordo com o artigo 83, III, do CC, consideram-se 
móveis para os efeitos legais os direitos pessoais de caráter patrimonial. 
Nesse prisma, o CC toma os títulos de crédito não apenas como um 
instrumento que prova uma obrigação ali anotada, mas também como 
uma coisa móvel. O papel no qual se garfa o título é considerado uma 
 
16 
 
“coisa” física, material, permitindo essa analogia. Isso fica claro no art. 
1.395 do CC que permite o usufruto de títulos de crédito. 
 
Faculta-se, ademais, àquele que porta o título de 
crédito, ocupando, naquele momento, a condição de credor da obrigação 
nele representada, utilizar a cártula para dação em pagamento, 
devendo-se respeitar a exigências específicas de cada tipo de título, 
podendo completar-se simplesmente com a tradição ou por meio de 
endosso. Caso o credor, que dá o título de crédito, não seja o legítimo 
portador, aquele que recebeu a cártula beneficia-se da regra prevista no 
art. 359 do CC, segundo a qual se restabelece a obrigação primitiva, 
ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados direitos de terceiros. 
 
A materialidade física do título fica comprovada pelo § 
único do art. 223, que prevê que a cópia fotográfica não supre a 
ausência do título e crédito, sendo necessária a exibição do original 
para o exercício do direito de cobrar a obrigação nele escrita. 
Igualmente, a entrega do título ao devedor presume o pagamento, mas 
se o credor provar em 60 dias a falta de pagamento, a quitação torna-se 
sem efeito (art. 324 do CC). Igualmente, o art. 386 prevê que a 
devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito 
particular, prova desoneração do devedor e seus coobrigados, se o 
credor for capaz de alienar e o devedor, de adquirir. 
 
6.4 TÍTULO AO PORTADOR 
 
O título que não traz inscrito o nome do beneficiário do 
crédito ali afirmado é chamado de ao portador. Essa ausência pode 
justificar-se por particularidades do tipo do título, não havendo espaço 
destinado a tal inscrição. 
 
A emissão de título ao portador, entretanto, não é 
faculdade ampla, colocada à disposição do mercado, sendo nulo o título 
que, sem autorização legal, seja emitido ao portador, como estabelecido 
pelo art. 907 do CC; mas é norma permitida pelo art. 891 do CC que o 
emitente delegue ao portador o ônus do preenchimento de determinadas 
lacunas no título. Assim, não há que se falar em nulidade do título que 
não comporta cobrança por meio de mero portador é entregue sem a 
indicação do beneficiário; há mandato de preenchimento do campo pelo 
credor. Somente se o credor, até o momento de exercitar seu crédito, 
não se desonera do seu poder/dever de preencher o campo, indicando o 
beneficiário, haverá se falar em nulidade por ser um título, sem 
previsão legal, mostra-se emitido ao portador. 
 
O CC, em seu art. 905 é claro ao afirmar que o 
possuidor de um título de crédito ao portador tem direito à prestação 
nele indicada, mediante sua simples apresentação ao devedor. 
 
É preciso estar atente para uma particularidade. O 
Direito tem instrumento que estão à disposição daquele que alega ser o 
legítimo credor, permitindo-lhe responder à situações de perda ou 
 
17 
 
extravio, bem como pelo seu desapossamento injusto. Medidas 
judiciais, como a ação de anulação e substituição de títulos, que são 
mais complexas, e medidas emergenciais, como a possibilidade de 
imediata notificação do devedor ou ao sacado do desapossamento 
injusto, perda ou extravio. 
 
A regra, em relação ao título de crédito ao portador, 
inscrita no art. 904 do CC, é a da transferência da titularidade a partir 
da simples entrega da cártula ao cedente ou cessionário. 
 
É regra do art. 896, segundo o qual o título de crédito 
não pode ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé e na 
conformidade das normas que disciplinam sua circulação, como 
resultado do princípio da cambiaridade ou circulação. A posse de boa-fé 
é garantida, mesmo que sua circulação tenha sido efetuada contra a 
vontade do emitente, como realça o § único do art. 905 do CC 
 
 Toda essa constatação desemboca no art. 906 do CC, 
segundo o qual o devedor só poderá opor ao portador exceção pessoal 
ou de nulidade da obrigação, e nunca exceção em relação a terceiros. 
 
Diante dessa particularidade da transmissão 
simplificada, pode-se perguntar se o transmissor e o receptor da cártula 
podem ser chamados de endossante e endossatário, que, como se sabe, 
a transmissão da cártula se faz por meio de endosso. O endosso, porém 
em sentido estrito, só é necessário quando a sucessão de títulos de 
crédito deve ser anotada no título, onde consta a indicação de um 
beneficiário. Se a obrigação está relacionada a um credor, será 
indispensável a prova de que este transferiu o crédito a outro, grafando-
se com o endosso a cártula; se não está relacionada a qualquer pessoa, 
não há necessidade de grafar a transferência que, como visto, 
concretiza-se pela simples tradição. 
 
Lembre-se que, com exceção dos cheques até R$ 
100,00, todo título de crédito deve ser nominativo, ou seja, deve 
identificar seu portador. 
 
6.5 TÍTULO À ORDEM 
 
Tem-se um título à ordem sempre que a cártula traz a 
indicação do beneficiário do crédito ali escrito, permitindo-se que se 
faça o pagamento a outrem, à ordem do beneficiário nomeado no 
documento. 
 
Então, há dois elementos básicos para sua 
caracterização: (1) o título não apenas afirma a obrigação de um 
devedor certo, mas também traz a indicação de um beneficiário (credor) 
certo; (2) faculta-se ao credor nomeado na cártula ordenar que o 
pagamento se faça a outrem, seja indicando essa outra pessoa, seja não 
indicando. Essa faculdade do credor nomeado como beneficiário do 
 
18 
 
crédito ordenar que o pagamento se faça a outrem caracteriza o 
instituto jurídico do endosso. 
 
Segundo Ulhôa, endosso "é o meio pelo qual se 
processa a transferência do título de crédito de um credor para 
outro, redundando em sua circulação. É um instituto típico do 
direito cambiário". 
 
O endosso é uma forma específica de cessão de crédito, 
afinal o titular do crédito cede-o a outro, transfere-o, ocorrendo 
sucessão subjetiva ativa na relação jurídica na qual estão definidos o 
devedor (sujeito passivo) e a obrigação(objeto da relação jurídica). Pode-
se dizer, em sentido amplo, que o endosso é espécie do gênero cessão de 
crédito, tratado pelos art. 286 e ss, do CC. 
 
Em sentido estrito, o endosso é bastante distinto do 
instituto de cessão de crédito. É, pois, um ato unilateral que preserva a 
autonomia, independência e abstração em relação ao negócio 
fundamental, na qual a cártula foi emitida, quando sejam essas 
características dadas em abstrato e/ou concreto, não abrangendo assim 
todos os acessórios do crédito, pois desvinculado do negócio subjacente. 
 
6.5.1 DIFERENÇAS ENTRE CESSÃO CIVIL DE 
CRÉDITO E ENDOSSO 
 
A cessão civil de crédito também é ato possibilita a 
transferência de um crédito de uma para outra pessoa, porém, 
diferencia-se do endosso, visto que submete-se ao regime do direito civil 
e do cambiário como o endosso. 
 
6.5.1.1 - ENDOSSO 
 
O endossante responde, de regra, (ver clausula sem 
garantia) pela existência do crédito e pela solvência do devedor (o 
endossatário poderá executar o crédito contra o endossante, caso o 
devedor principal não tenha realizado o pagamento deste). 
 
- O devedor principal do título também não poderá 
defender-se, quando executado pelo endossatário, argüindo matérias 
atinentes a sua relação jurídica com o endossante (principio da 
autonomia das obrigações cambiais e subprincipio da inoponibilidade 
das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé, referidos no art. 17 da LU 
e 916 do CC/2002. 
 
6.5.1.2 CESSÃO CIVIL DE CRÉDITO 
 
- O cedente responde apenas pela existência do crédito 
(não pela solvência do devedor (CC/2002, arts. 295 e 296). 
 
 
19 
 
- O devedor do título poderá defender-se, quando 
executado pelo cessionário, arguindo matérias atinentes a sua relação 
jurídica com o cedente (CC/2002, art. 294). 
 
 
Ademais, o endosso é um ato simples por natureza, 
não se aplicando o rigor do art. 288, em que a celebração da cessão de 
crédito por instrumento público, para que tenha validade perante 
terceiros, deva ser efetuada por instrumento público, ou particular 
revestido das solenidades previstas no art. 654, § 1º do CC. Pelo 
contrário, o endosso exige apenas que o beneficiário lance sua 
assinatura no verso do título, ou lançando-o na face, que esclareça seu 
ato pela palavra “endosso” ou qualquer outra similar. 
 
Na mesma linha, não tem aplicação o art. 290 do CC, 
que prevê que a cessão de crédito não tem eficácia em relação ao 
devedor, senão quando a este notificada por escrito público ou 
particular. Ato unilateral que é, prescindo o endosso de tal formalidade. 
 
Igualmente não se aplica a regra do art. 292, segundo 
a qual o devedor fica desobrigado o devedor que, antes de ter ciência da 
cessão, paga ao credor primitivo. E intrínseca è emissão de um título de 
crédito a percepção de que o devedor conhece seu credor quando este 
lhe apresenta o título, daí falar-se ser o título de crédito um documento 
de apresentação. 
 
O artigo 915 do CC prevê as possíveis matérias de 
defesa que o devedor pode opor ao cessionário, ao portador e/ou 
endossatário do título, podendo estes exercer os atos conservatórios do 
direito cedido, independentemente do conhecimento da cessão pelo 
devedor. 
 
• ENDOSSO PRODUZ, EM REGRA, DOIS EFEITOS: 
a) Transfere a titulariedade do crédito representado no título do 
endossante para o endossatário; 
b) Vincula o endossante ao pagamento do título, na qualidade de 
coobrigado. (LU, art. 15) 
 
Igualmente, aplica-se o artigo 296 do cc, segundo o 
qual o cedente não se responsabiliza pela solvência do devedor. Note-se 
que o artigo 296 prevê a possibilidade de o cedente assumir a 
responsabilidade pelo crédito cedido, na eventualidade da insolvência 
do devedor, assumindo o cedente a posição de avalista, desde que tal 
esteja aposta na cártula, com as particularidades do artigo 297. A LUG 
prevê em seu artigo 15 que o endossante, salvo cláusula em contrário, é 
garante tanto da aceitação como do pagamento da letra. O endossante 
pode proibir um novo endosso, e, neste caso, não garante o pagamento 
às pessoas a quem a letra for posteriormente endossada. Por sua vez, a 
Lei 7.358/85 (Lei do Cheque) estipula em seu artigo 21, que Salvo 
estipulação em contrário, o endossante garante o pagamento. E no seu 
parágrafo único, que pode o endossante proibir novo endosso; neste 
 
20 
 
caso, não garante o pagamento a quem seja o cheque posteriormente 
endossado. A jurisprudência não é firme neste sentido, existindo 
posições contrárias em relação ao endosso como garantia do 
pagamento. 
 
 
ENDOSSO SEM GARANTIA 
 
O endosso que não produz o efeito de vincular o 
endossante ao pagamento do título é o chamado endosso sem garantia, 
previsto no art. 15 da LUG. Com esta cláusula o endossante transfere a 
titularidade da letra, sem se obrigar ao seu pagamento. Exemplo: 
pague-se sem garantia a João. 
 
Aplica-se ainda o artigo 297, segundo o qual o crédito 
penhorado não pode mais ser cedido. É claro que deve haver o 
necessário conhecimento do credo da penhora efetuada. 
 
 
6.6 CARACTERÍSTICAS DO ENDOSSO 
 
Forma simplificada que é de transferência de crédito 
representado pela cártula, o endosso tem regras próprias, todas 
constituídas em respeito aos princípios que orientam o Direito 
Cambiário. 
 
Para endossar o título, basta que o beneficiário nele 
nomeado (ou não) assine a cártula, na sua face (anverso) ou na parte de 
trás (verso). Se o faz no verso é de sua escolha se fará acompanhar a 
assinatura de texto que identifique seu ato. Pode expresá-la 
simplesmente pela palavra endosso. 
 
Endosso. Fulano de Tal. 
 
A LUG permite que o endosso seja lançado em folha 
ligada à letra de câmbio ou à nota promissória, portanto esta regra 
específica para tais títulos. Na ausência de regra específica, deve ser 
aplicada a regra geral do artigo 903 do CC, segundo o qual o endosso 
deve ser lançado no próprio título. 
 
Na hipótese de o título indicar mais de um beneficiário, 
se estiver marcado fulano ou beltrano, qualquer um deles pode endossar 
a cártula, pois são credores solidários. Neste caso o que endossou 
responde perante o(s) outra(s) pelo seu ato, mas nunca o endossatário 
de boa-fé. Por outro lado, se a nomeação indica um conjunto 
necessário, fulano e beltrano, tem-se afirmação de obrigação indivisível, 
devendo o endosso ser realizado por ambos. 
 
ENDOSSO CONDICIONAL 
 
 
21 
 
O endosso condicional, em que a transferência do 
crédito fica subordinado a alguma condição não é nulo, mas a referida 
condição será ineficaz, porque a lei a considera não-escrita. (CC/2002, 
art. 912, caput). 
O endosso não tem vinculação com o negócio 
subjacente que deu origem à cártula, fortalecendo o princípio da 
independência. O endosso somente transfere o crédito; nenhum direito 
o dever acessório é transmitido ao patrimônio do endossatário. 
Coerentemente, se considera não escrita qualquer condição escrita na 
cártula (art. 912). Para o Direito Cambiário não existe endosso sujeito a 
termo, condição ou encargo. 
 
No entanto, poderá se socorrer do Direito Comum o 
endossante que aponta na cártula uma condição, como por exemplo, 
que faz constar do endosso que o faz para pagamento de determinada 
coisa, que lhe deverá ser transferida posteriormente. Esse modo não 
possui validade para o endosso, que se completou; mas a cártula e a 
declaração nela inscrita fazem prova do negócio e permitem o 
aforamento de ação própria para exigir a entrega da coisa comprada. 
 
ENDOSSO PARCIAL 
 
A lei veda ao endossante limitar o endosso a uma parte 
do valor da letra, considerando nulo o endosso parcial. (LU, art. 12; 
CC/2002, art. 912, parágrafo único). 
 
 
Há nítida vinculação entre o crédito e a cártula, razão 
pela qual não se permite a transferênciaparcial do título, vedação esta 
contida no art. 912 do CC. Assim, se o endossante conserva a cártula, 
nela tendo aposto um endosso parcial, tem-se como não escrita, 
devendo o devedor adimplir sua obrigação sem se ater ao endosso. Se a 
cártula está de posso do endossatário, a nulidade do endosso revela a 
ilegitimidade deste para apresentar o título e exigir, judicial ou 
extrajudicialmente, o adimplemento da obrigação. 
 
ENDOSSO IMPRÓPRIO 
 
Segundo Ulhoa, "aquele que não produz o efeito de 
transferir a titulariedade do crédito documentado pela letra de câmbio, 
mas legitima a posse sobre a cártula exercida pelo seu detentor". Opera 
a transferência do título, independentemente do crédito nele 
consignado. Transfere só a posse da cártula, mas não o valor nela 
contido. 
O ENDOSSO IMPRÓPRIO PODE SER DE DUAS 
ESPÉCIES: 
 
- Endosso-Procuração (ou endosso-mandato), o 
endossatário recebe o título simplesmente para efetuar a cobrança do 
valor nele mencionado e dar a respectiva quitação. Age como mero 
mandatário do endossante. Ex. Cobrança bancária. 
 
22 
 
 
- Endosso-Caução (ou endosso-pignoratício) o título é 
transferido ao endossatário como garantia de alguma obrigação 
assumida, sendo devolvido após o seu cumprimento. Caso não seja 
cumprida a obrigação por parte do endossante, esse endosso caução 
transforma-se em endosso próprio, transferindo a titularidade do 
documento. 
 
 
6.6.1 Modalidades de endosso 
 
Endosso pode ser de duas espécies: Em branco e em preto. 
 
� Em branco, quando não identifica o endossatário. Ex. simples 
assinatura do credor lançado no verso do título e, veja bem, com os 
dizeres PAGUE-SE ou sob outra expressão equivalente. Pode, 
inclusive, o credor se limitar a assinar a letra no verso, visto que não 
precisa dizer a quem se deve pagar. 
 
� Em preto, quando identifica o endossatário. Ex. assinatura do credor 
lançada no verso ou anverso do título e com os dizeres PAGUE-SE A 
FULANO DE TAL ou sob outra expressão equivalente, que contenha 
o nome da pessoa a quem se deve pagar. 
 
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES 
 
• O endosso em branco transforma a letra de câmbio, por exemplo, 
necessariamente sacada NOMINATIVA, em título ao portador. 
• Isso significa que, inicialmente, constava na letra de câmbio o nome 
do devedor e do credor. O credor, ao endossar a letra (assinatura + 
entrega da cártula) sem mencionar o nome do endossatário (endosso 
em branco), acabou por transformar a mesma em título ao portador, 
porque não nomeou a quem se deve pagar. 
• O endossatário de um título por endosso em branco poderá 
transferir o crédito nele representado por mera tradição, hipótese em 
que não ficará coobrigado. Só o endossante ficará coobrigado. 
• Não há qualquer limite para o número de endossos de um título de 
crédito; ele pode ser endossado diversas vezes, como pode, 
simplesmente, não ser endossado. 
 
6.7 SEQUÊNCIA DE ENDOSSOS 
 
Como os títulos de crédito foram criados para circular, 
é normal a existência de pluralidade de endossos, tornando necessário 
o exame de seus efeitos em relação ao portador, aos obrigados 
cambiários e ao próprio título. Sequência de endossos ou cadeia de 
endossos é a série ininterrupta de endossos lançados no título, e que 
tem início com o endosso feito pelo seu beneficiário. 
 
A cadeia de endossos deve ser examinada sob quatro 
aspectos: (1) legitimação do portador; (2) pagamento feito pelo devedor; 
 
23 
 
(3) aquisição non domino; (4) cancelamento do endosso. Por outro lado, 
o exame da cadeia de endossos deve levar em conta sua aparência 
formal, pois a legislação cambiária não exige que o devedor, ao pagar, 
seja obrigado a observar a autenticidade das assinaturas dos 
endossantes. 
 
6.7.1 Portador Legítimo (LUG, art. 16, al. 1ª, LC, 
art. 22 e CC, art. 911). 
 
Portador legítimo é o detentor do título de crédito que 
prova seu direito por uma série ininterrupta de endossos, mesmo que o 
último seja em branco. O portador para ser legitimado, deve justificar 
seu direito com base no último endosso e nos endossos anteriores. 
 
Resulta do exposto que somente o portador legitimado 
pode exercer os direitos cambiários decorrentes do título de crédito em 
relação aos obrigados cambiários. Do mesmo modo, o devedor de 
regresso que pagar a soma cambiária só terá ação cambiária em face 
dos devedores anteriores se o seu direito for legitimado em relação ao 
endosso anterior. 
 
6.7.2 Pagamento feito pelo devedor (LUG, art. 40, 
al. 3ª e CC, art. 911, § único) 
 
O devedor que pagar o título deve verificar a 
regularidade da cadeia de endossos e não a autenticidade das 
assinaturas. Assim, para o devedor que paga liberar validamente da sua 
obrigação cambiária, deve verificar, pelo exame da cadeia de endossos, 
se o detentor é o portador legítimo. Se pagar a portador que não seja 
legítimo, pode ser compelida a pagar novamente. 
 
 
6.7.3 Aquisição a non domino (LUG, art. 16, al. 2ª e 
LC, art. 24). 
 
Na cadeia de endossos sucessivos os titulares são, na 
realidade, os sucessivos proprietários do título, ou seja, a titularidade 
do direito é determinada pela propriedade do título, e o proprietário do 
direito é o possuidor de boa-fé, pouco importando sua aquisição a non 
domino (aquilo que não é proveniente do dono). 
 
O endossatário adquire direito originário, que se 
justifica pela propriedade do título e não direito do titular anterior. Daí 
a legislação cambiária prescrever que desapossado alguém de um título 
de crédito, por qualquer evento (v.g., extravio, furto e roubo), o novo 
portador legitimado não está obrigado a restituí-lo, se não o adquiriu de 
má-fé. Portador de boa-fé é quem, no momento da aquisição do título, 
não sabia e nem deveria saber a respeito da existência de vício na posse 
do portador anterior. 
 
6.7.4 Cancelamento do endosso 
 
24 
 
 
A alínea 1º do art. 16, da LUG prescreve que, para 
efeito de legitimação do portador, os endossos riscados consideram-se 
como não escritos, pouco importando a razão do cancelamento. 
 
O cancelamento da assinatura do endossante não 
interrompe a cadeia de endossos quando for precedido de um endosso 
em branco, porque o portador do título pode justificar seu direito com 
base nesse último endosso. No entanto, se o endosso for em preto e este 
for cancelado, o portador não pode mais justificar seu direito porque o o 
endosso foi cancelado. 
 
 
7. AVAL 
 
7.1 Definição 
 
O adimplemento de obrigação cambiária de pagar 
determinada soma, seja do devedor principal, seja de qualquer 
coobrigado, pode ser garantido por aval, conforme estipulado no art. 
897 do CC. 
 
Aval é uma declaração unilateral por maio da qual 
alguém (o avalista) assuma solidariedade passiva por certa obrigação 
constante do título de crédito; o obrigado beneficiário desta declaração 
se chama avalizado. 
 
O aval é instituto próprio do Direito Cambiário e 
consiste na promessa de um terceiro em adimplir a obrigação do 
avalizado e é realizado graciosamente e, portanto, ato jurídico benéfico e 
como tal deve ser interpretado restritivamente, como previsto no art. 
114, do CC, não interessando ao Direito os motivos que levaram o 
avalista a proferir tal declaração. 
 
 
O avalista garante a obrigação assumida pelo avalizado 
e não a pessoa deste. Também, assume a posição idêntica a do 
avalizado, razão pela qual sequer é preciso provar o inadimplemento 
deste para afirmar a obrigação do avalista. Basta que o título esteja 
vencido para que se possa exigir do avalista a obrigação por ele 
assumida, fruto da afirmação de seu autor, o avalista, de que saldará o 
debito garantida, independentemente de qualquer outro elemento, tais 
como condições, modos, etc. Aliás, se apostas tais observações na 
cártula, devem ser tidascomo não escritas. Exemplo disso é a vedação 
ao aval parcial, expressa no § único do art. 897, do CC, onde é avalista 
está obrigado à satisfação integral do débito. 
 
Se aposto na cártula um aval parcial, este deve ser 
considerado não escrito, ou seja, inexistente o aval, em sua totalidade e 
não sua limitação. Essa conclusão é necessária diante do previsto no 
 
25 
 
art. 114, do CC, que determina a interpretação restritiva quando se 
trate de negócios benéficos, como é o aval. 
 
A proibição do aval parcial constitui regra geral e 
pode ser excepcionada, de acordo com o art. 903 do CC, por 
legislação específica de qualquer título de crédito (LUG, art. 30, 
alínea 1ª; Lei do Cheque, art. 29 e Lei das Duplicatas, art. 25). 
 
A simples assinatura na parte da frente do título é 
considerado aval, desde que não se trate das assinaturas do sacado e 
sacador. 
 
O aval também pode ser escrito no verso do título, ou 
em folha anexa, devendo se exprimir pelos termos "por aval" ou 
qualquer outra equivalente e assinado pelo avalista. 
 
Basta o vencimento da obrigação, sem o seu 
adimplemento, para que a obrigação do avalista se torne imediatamente 
exigível e na medida em que o avalista assume a posição de coobrigado 
solidário, o credor pode exigir-lhe o cumprimento da obrigação. No caso 
de pagamento parcial, o demais devedores continuam solidariamente 
responsáveis pela obrigação. 
 
Não há benefício de ordem no aval, podendo o credor 
exigir a obrigação de um ou de qualquer um dos devedores sem a 
observância da ordem do aval, podendo inclusive exigir do avalista 
diretamente, sem a necessidade de exigir antes do devedor principal. 
 
O avalista que paga total ou parcialmente se subrroga 
nos direitos do credor, podendo exigir em ação regressiva, a obrigação 
dos demais avalistas, se houverem, ou do devedor principal, até o limite 
do pagamento que efetuou. 
 
Na concessão do aval deve ser indicado quem é o 
avalizado, se houver omissão considerar-se-á que o aval foi dado em 
favor do sacador ou emitente. 
 
Mesmo sendo nula a obrigação do avalizado, continua 
valendo a do avalista, a exceção dessa regra ocorre apenas se houver 
vício na formação do título. 
 
7.2 Diferenças entre o Aval e a Fiança 
 
O aval e a fiança apesar de terem pontos em comum 
são distintos, a seguir citamos as diferenças entre ambos: 
 
O instituto da fiança é tratado nos arts. 818 e ss, do 
CC. 
 
 
26 
 
1. A fiança é um contrato previsto no Código Civil, enquanto que o 
aval é garantia própria dos títulos de crédito, a qual ocorre por 
meio de uma simples declaração de vontade do avalista. 
 
2. O aval, como regra geral, deve ser lançado diretamente no título, 
bem como continua valendo mesmo sendo nula a obrigação do 
avalizado, exceto se houver vício de forma, já a fiança é um 
contrato acessório que depende para sua existência do contrato 
principal, desse modo, sendo nula a obrigação do afiançado, se 
extingue também a obrigação do fiador. 
 
3. O avalista se equipara ao avalizado, assim sendo o credor tem a 
opção de cobrar a dívida diretamente do avalista, enquanto que na 
fiança há o benefício de ordem, ou seja, o fiador pode exigir no 
caso de não cumprimento da obrigação, que o credor cobre 
primeiro o afiançado. 
 
4. Na prestação da fiança, sendo o fiador casado, será necessária a 
outorga do outro cônjuge, enquanto que o aval não prescinde de 
autorização conjugal. 
 
5. Na fiança, é permitido ao credor exigir a substituição do fiador 
quando este se torna insolvente, medida não permitida em caso de 
aval. 
 
6. É lícito aos fiadores reservarem o benefício da divisão, ou seja 
havendo mais de um fiador, cada um deles assume 
proporcionalmente a dívida de acordo com a quantia de fiadores, 
devendo o credor, por exemplo, no caso de 2 fiadores, cobra a 
metade de cada um (art. 829, do CC). No caso de aval, cada um 
responde pela integralidade da dívida, podendo o credor cobrar 
somente de um deles a dívida por inteiro. 
 
7. Embora haja exceções em lei especial, o aval não pode ser parcial, 
ou contrário da fiança, em que o fiador pode estipular uma 
limitação ao valor garantido (art. 830, do CC). 
 
8. É permitido ao avalista promover a execução do crédito contra o 
devedor/afiançado sempre que o credor, sem justa causa, 
demorou a fazê-lo (art. 834, do CC). No aval, não existe esse 
possibilidade. 
 
9. É permitido ao fiador exonerar-se da fiança que tiver assinado 
sem limitação de tempo, sempre que lhe convier, ficando, porém, 
obrigado para todos os efeitos da fiança pelos 60 dias seguintes à 
 
27 
 
notificação do credor. Não há a possibilidade no aval, que é 
garantia sem limitação no tempo. 
 
 
7.3 Aval em preto e aval em branco 
 
No aval em preto a pessoa que esta sendo avalizada é 
identificada. Quando não identificada, o aval será em branco. 
 
Quando o aval for em branco, somente poderá ser 
lançado no anverso do título, para que não se confunda com o endosso 
em branco. Neste caso será avalizado o aceitante da Letra de Câmbio 
(art. 31, al 4 da LUG); o emitente do cheque e da nota promissória (art. 
30, parágrafo único da lei de cheque) e duplicata art. 12 da lei de 
duplicata. 
 
7.4. Aval após o vencimento do título 
 
A matéria é controvertida. Para Fran Martins tem efeito 
de fiança. Já para Luiz Emygdio não pode produzir efeito de fiança. O 
entendimento é que, verdadeiramente, o aval dado após o vencimento, 
mas antes do protesto ou do decurso do prazo, tem eficácia, porque 
mero vencimento não exaure a vida cambiária do título que só ocorre 
com o protesto ou declaração equivalente, ou ainda, com o decurso do 
prazo para efetivação do protesto. 
 
7.5. Aval simultâneo ou co-avais 
 
O aval simultâneo é aquele dado em conjunto, por 
duas ou mais pessoas em relação a uma mesma obrigação cambiária. 
 
Ex.: A emite NP em favor de B. X e Y avalizam A em 
conjunto. Se X paga o título, tem ação cambiária em face de A. Se 
cobrar de Y, terá apenas cota parte de 50%. 
 
7.6. Aval sucessivo ou aval de aval 
 
No aval sucessivo, o avalista avaliza outro avalista. 
(art. 30 LUG c/c art. 29 LC) 
EX.: A emitente; B beneficiário; X avalista de A; Y 
avalista de X e Z avalistade Y. 
 
Tratando-se de avais sucessivos, são obrigados do 
mesmo grau. Se X pagar o título terá ação somente contra A, seu 
avalizado. Não poderia cobrar de Ye Z por serem posteriores. 
 
7.7. Aval prestado por pessoa casada 
 
Via de regra, os bens do casal não respondem pelas 
dívidas assumidas por um dos cônjuges. O credor deverá provar o 
 
28 
 
benefício para a família de quem prestou o aval. Cabe ao cônjuge fazer a 
prova em contrário. 
Ex. se um diretor (sócio) avaliza a pessoa jurídica, 
entende-se ter sido dado em benefício da família. Poderá o credor 
executar os bens comuns, que correspondem a meação do cônjuge 
signatário e seus bens particulares. 
 
7.8. Aval prestado por pessoa jurídica contra 
vedação do contrato ou estatuto social. 
 
 Em regra, o aval é ato de liberalidade. Depende da 
vontade do avalista. Normalmente o contrato social das limitadas e o 
estatuto das sociedades anônimas vedam aos seus administradores a 
dação de fiança e aval em nome da sociedade. 
 
Existem dúvidas quanto a validade ou não deste aval. 
Alguns entendem que não tem validade porque: Via de regra, os 
contratos sociais da sociedades empresárias não permitem que os 
sócios possam contrair obrigações em nome da sociedade. O contrato 
social deve ser arquivado no registro público de empresas mercantis, 
predominando o princípio da publicidade, o que permite que o terceiro 
possa com facilidade examinar o contrato da sociedade e verificar se 
existe cláusula de restrição. 
 
O artigo 46 do Decreto 2044 de 1908,diz que quem 
assina a declaração cambial, como mandatário ou representante legal 
de outro, sem estar devidamente autorizado, fica pessoalmente 
obrigado. No mesmo sentido discorrem os artigos 8o. da LUG e 14 da 
LC. Desta forma a sociedade não responderia pelo aval em razão da 
restrição contratual ou estatutária. 
 
Todavia, a orientação predominante é no sentido de 
considerar válida e eficaz a obrigação cambiária decorrente de aval 
prestado por sociedade contra o disposto no contrato ou estatuto social. 
 
O artigo 42 do Dec 2044/1908 orienta que tem 
capacidade cambiária toda pessoa natural ou jurídica que tenha 
capacidade jurídica. Esta norma continua eficaz porque a convenção de 
Genebra destinada a regular conflitos de leis em matéria cambiária 
remeteu para cada lei nacional a competência para dispor sobre 
capacidade cambiária. 
 
O terceiro de boa-fé não pode amargar prejuízo, sendo 
assim, a responsabilidade da sociedade, não pode ser afastada por mera 
cláusula contratual. O administrador é que deverá ressarcir a sociedade 
dos prejuízos causados por ter honrado o aval. 
 
Os negócios mercantis são caracterizados por sua 
celeridade, sendo assim, não se pode criar dificuldades ao seu 
desenvolvimento, por se exigir que a cada ato o terceiro tenha que 
 
29 
 
tomar conhecimento do contrato social, vislumbrando se os seus 
prepostos tem ou não poderes para a prática do ato. 
 
A prática moderna é de se aplicar a “teoria da 
aparência”, buscando a proteção do contratante de boa fé. 
A aparência funciona como autenticador das situações 
formalmente irregulares na sua origem, porém realizadas de boa fé, pois 
a sociedade empresa, contribui por criar aparência de legitimidade. Por 
isso a sociedade responde pelo aval dado por culpa “in elegendo e in 
vigilando” em relação a seus administradores. 
 
O administrador pode não representar a sociedade, 
mas constitui um dos seus órgãos, que exprime e realiza a vontade da 
sociedade. A responsabilidade da sociedade não deve ser considerada 
como regra absoluta. Uma vez que deve ser esclarecido que a sociedade 
não tem responsabilidade como avalista, quando o beneficiário do título 
tem ciência da vedação contratual de dação do aval ou deveria ter em 
razão da sua profissão. 
Ex.: um sócio se retira da sociedade e concorda em 
receber NP’s dos seus haveres, sendo o sócio controlador o emitente e a 
sociedade a avalista. Neste caso a sociedade não deve responder pelo 
aval, por não ser o credor terceiro de boa fé. 
 
Pelo art. 8o da LUG e 14 da LC, obriga-se 
pessoalmente quem assina título de crédito como mandatário ou 
representante sem poderes para tal ou excedendo os que foram 
outorgados. 
 
7.9. Responsabilidade do avalista. 
 
O avalista obriga-se da mesma maneira que o 
avalizado (LUG art. 32, al. 1a – observar erro na LUG quando se refere a 
pessoa afiançada e não avalizada). 
 
Equivale dizer que se o avalizado for devedor direto 
(ex.: emitente da NP), o avalista será igualmente devedor direto. Se for 
devedor indireto (endossante) o seu avalista será também devedor 
indireto. 
 
7.10. Direitos do avalista 
 
Como já vimos o avalista obriga-se da mesma maneira 
que o avalizado. Porém se este paga adquire direito novo, autônomo e 
originário, decorrente do título. Adquire todos os direitos resultantes do 
título contra o avalizado. 
 
7.11. Quem pode ser avalista 
 
A LUG não se manifesta sobre a capacidade cambiária, 
assim prevalece a regra do artigo 42 do Decreto 2044/1908, onde pode 
assumir obrigações cambiárias quem tem capacidade jurídica. 
 
30 
 
 
7.12. Aval por mandato 
 
O aval por mandato exige poderes especiais. O avalista 
pode obrigar-se mediante assinatura de próprio punho ou por 
procurador a quem tenha conferido “poderes especiais” para avalizar. 
Exigência de poderes especiais conforme art. 14 do Decr. 2044/1908. 
 
7.13. Cancelamento e extinção do aval. 
A LUG nada esclarece sobre o assunto, prevalecendo a 
norma do artigo 24 do Decreto 2044/1908. “O pagamento feito pelo 
aceitante ou pelos respectivos avalistas desonera da responsabilidade 
cambial todos os coobrigados”. 
 
Com o pagamento, extingue-se a vida cambiária do 
título por ocorrer pagamento extintivo. 
 
7.13.1. Cancelamento do aval por outro motivo 
(sem pagamento do título) 
 
Este assunto deve ser analisado à luz do artigo 44, 
parágrafo 1º do Decreto 2044/1908, que considera não escrito, para os 
efeitos cambiais, o endosso ou aval cancelado. 
 
A norma ensinada no referido dispositivo legal 
comporta as seguintes observações: 
I - há possibilidade de cancelamento do aval, desde 
que o título ainda esteja em seu poder, antes portanto de entrar em 
circulação; 
II - Considera-se não escrito apenas o aval cancelado, 
permanecendo válidas as demais declarações cambiárias em razão do 
princípio da autonomia das obrigações cambiárias. 
III - Após o título entrar em circulação, se o avalista 
sem ter efetuado o pagamento, riscar a sua assinatura, agindo de má-
fé, por prejudicar direitos de terceiros, responderá civilmente, pela via 
ordinária, por perdas e danos a quem o cancelamento prejudicar. Não 
cabe ação cambiária em face de devedor cuja assinatura foi cancelada, 
ainda que de forma abusiva. 
 
7.13.2. Extinção do aval 
 
Pode ocorrer a extinção do aval pelas seguintes razões: 
I - Pelo pagamento – meio normal para extinção de 
uma obrigação. 
II - Anulação – por qualquer das causas referidas no 
art. 171 do CC. 
III - Decadência – por falta de protesto em se tratando 
de avalista de devedor indireto de letra de câmbio, nota promissória ou 
duplicata. (LUG art. 53 e LD 5.474/68, art. 13, parágrafo 4º.). No caso 
de cheque, pela não apresentação no prazo legal ao banco sacado ou 
pela não comprovação da recusa de pagamento. 
 
31 
 
IV - Pela prescrição cambiária: (LUG art. 70, LC art. 59 
e LD art. 18). 
V - Cancelamento da assinatura do avalista (art. 44, 
parágrafo 1º do decreto 2044/1908). 
 
 
8. ADIMPLEMENTO E INADIMPLEMENTO 
 
8.1 PAGAMENTO 
 
O pagamento é a forma habitual para a solução da 
relação de crédito. Como estabelecido pelo art. 901 do CC, fica 
validamente desonerado, o devedor que paga o título de crédito ao 
legítimo portador, no vencimento, sem oposição, salvo se agiu de má-fé. 
 
Como a obrigação é representada pelo título e crédito, 
o pagamento válido é aquele que se realiza à vista da cártula, 
devidamente entregue ao devedor principal, ou, diante da mora deste, 
ao coobrigado. 
 
A quitação dada em separado, por instrumento 
particular, atendendo aos requisitos do art. 320 do CC, é válida, mas 
não prescinde da apresentação da cártula. 
 
A quitação é, portanto, direito do devedor, que pode 
reter o pagamento enquanto não lhe apresentada a respectiva quitação 
(art. 319 do CC). 
 
 
8.2 PROTESTO 
 
O protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a 
inadimplência e o descumprimento da obrigação originada em títulos de 
crédito e outros documentos de dívida. Serve para asseverar o 
descumprimento da obrigação e dar publicidade ao mercado de sua 
existência. O protesto é regulado pela lei 9.492/97 e, portanto, nenhum 
ato ilícito pratica quem, de forma lícita, correta e regular, aponta um 
título para protesto. 
 
É de se salientar que o protesto não é requisito 
indispensável ao exercício dos direitos inerentes ao título de crédito. 
Assim, para acionar o devedor principal e seus avalistas, não é 
necessário protestar o não-cumprimento da obrigação cambiária, e,borá 
se possa fazê-lo, por isso se fala em protesto facultativo. 
 
Somente para acionar outros coobrigados, cuja 
responsabilidade não é direito, mas decorrente da inadimplência do 
devedor principal e de seus avalistas, é que é necessárioo protesto do 
título. É o chamado protesto necessário. A lei de falência exige o 
protesto dos títulos de crédito se este for usado para instruir o pedido 
de falência. 
 
32 
 
 
O protesto pode ser efetuado em 3 hipótese diferentes 
(art. 21 da Lei 9.492/97): 
a) Protesto por falta de pagamento: após o vencimento, 
o protesto será sempre efetuado por falta de 
pagamento, vedada a recusa da lavratura e registro 
do protesto por ato não previsto na lei cambial; 
b) Protesto por falta de aceite: somente poderá ser 
efetuado antes do vencimento da obrigação e após 
o decurso de prazo para a devolução; 
c) Protesto por falta de devolução: devido quando o 
sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata 
enviada para aceite e não proceder a devolução 
dentro do prazo legal. 
 
8.2.1 Cancelamento do protesto 
 
A Lei de Protestos prevê o cancelamento do protesto 
mediante apresentação do documento protestado. Com efeito, essa 
apresentação faz pressupor a satisfação do crédito em razão do 
princípio da cartularidade. Somente quando for impossível apresentar o 
documento é aceita sua substituição por declaração de anuência do 
credor. 
9. CHEQUE 
 
9.1 Legislação 
 
O título em análise regulamenta-se pela Lei nº 7.357 
de 02 de setembro de 1985 e subsidiariamente pela Lei Uniforme do 
Cheque, inserida em nosso Direito pelo Decreto nº 57.595, de 07 de 
janeiro de 1966, que intentou uniformizar internacionalmente o Direito 
em matéria de cheque. 
 
Registre-se a observação de Fran Martins de que: 
"A nova lei do Cheque, nº 7.357, é na realidade uma 
consolidação dos princípios da Lei Uniforme sobre o cheque e das leis 
que anteriormente regularam esse título, notadamente a Lei nº 
2591/12. 
. . . 
A nova Lei do Cheque substitui a Lei Uniforme e vigora 
desde o dia 03 de setembro de 1985." 
 
A Lei nº 7.357/85 remete os conflitos de leis nesta 
matéria, à Convenção (Decreto nº 57.595/66). 
 
Anote-se que em 15.09.94, houve a promulgação da 
Convenção Interamericana sobre conflitos de leis em matéria de 
cheques, consubstanciada no Dec. nº 1.240, de 16.09.94. Frise-se, 
ainda, que o cheque também é regulado pelas resoluções e circulares 
emanadas pelo Banco Central. 
 
 
33 
 
9.2. CONCEITO: 
 
"Ordem de pagamento à vista dada a um banco ou 
instituição assemelhada, por alguém que tem fundos disponíveis no 
mesmo, em favor do próprio ou de terceiro." (Fran Martins). 
 
9.9. Natureza jurídica do cheque 
 
A doutrina diverge quanto a natureza jurídica do 
cheque. 
A 1ª corrente: entende que o cheque não é um título de 
crédito por não existir o elemento crédito, sendo apenas um título de 
pagamento à vista, portanto de vida breve extinguindo-se quando do 
seu pagamento pelo banco. 
 
A 2ª corrente: classifica o cheque como título de crédito 
impróprio. Quando circula mediante endosso, porque aparece dessa 
forma o elemento crédito. 
 
A 3ª corrente: caracteriza o cheque como título de 
crédito, mesmo quando não circula, desde que emitido em favor de 
terceiros 
 
9.3. Importância econômica do cheque. 
 
O cheque representa importante ferramenta para 
economia moderna, correspondendo: Meio de pagamento a vista. 
Permite pagamentos à distância pelo envio do título sacado em uma 
praça para ser pago em outra. Instrumento de compensação de débitos 
e créditos, diariamente são extintas várias obrigações pelas câmaras de 
compensação mediante lançamentos recíprocos nas contas do sacador e 
do beneficiário do cheque. Instrumento de comprovação de pagamento. 
 
9.3. O Cheque e o controle estatal 
 
O cheque tem função relevante na economia o que faz 
com que o Estado incentive sua utilização. Em contrapartida, esta 
prática faz com que aumente a preocupação com a segurança dessa 
utilização. 
O cheque é objeto de controle estatal para: Regular seu 
aspecto formal (padronização); Controlar seu uso (cheques sem fundos 
e a frustração de seu pagamento, punição administrativa e penal) 
 
9.4. Figuras 
 
a - sacador ou emitente 
b - sacado (instituição financeira) 
c - beneficiário ou tomador - a favor de quem a ordem é 
dada (sacador ou terceiro). 
 
OBS.: Pode surgir ainda avalistas e endossante. 
 
34 
 
 
Os que sustentam ser o cheque um instrumento de 
pagamento, dizem que este documento se ordena o pagamento, mas, na 
realidade, não se efetua o mesmo, pois, o cheque não representa moeda. 
 
Cheque pré ou pós datado (arts. 1º, inciso V e 32 da 
Lei nº 7.357/85 e art. 28 alínea 2 da LU). 
 
Pela prática habitual e atual do comércio a 
jurisprudência vem admitindo, em alguns casos, o cheque pré ou pós 
datado, mas, considerando-o desnaturado, como cheque, aceitando-o 
como um título de confissão de dívida, ou documento comprobatório de 
um crédito, afastando até, em certos casos a aplicação do art. 171 § 2º 
inciso VI do Código Penal. 
 
A assinatura falsa não invalida o título (art. 13 da 
Lei nº 7.357/85). Firme-se o entendimento majoritário da doutrina e da 
jurisprudência no sentido de imputar ao banco a responsabilidade por 
fraude ou falsificação em face da Teoria do Risco, a qual sustenta que 
quem tem o bônus assume o ônus. É preciso, contudo, verificar se o 
correntista foi descuidado, conivente etc. A presunção é de que o banco 
é culpado, e ao banco cabe ilidir tal presunção. 
 
Obs. Ver ementa da súmula 28 do STF. 
 
O menor, com mais de 16 anos pode ter conta corrente 
desde que maior se responsabilize. Obs. Ver Circular nº 1528 do Banco 
Central. 
 
9.5. Elementos: causa e pressupostos de emissão: 
 
a) Causa: 
Quando for título pro solvendo, a causa estará 
umbilicalmente ligada e pode e deve ser alegada. 
 
b) Pressupostos: (Fran Martins) 
* Ser o sacado um banco ou instituição financeira a ele 
equiparado. 
* A existência de fundos (provisão) disponíveis em 
poder do banco ou da instituição financeira do emitente ou sacador. 
* Ter o emitente ou o sacado disponibilidade sobre os 
fundos ou provisão. 
* Haver entre o emitente e o banco sacado um contrato 
expresso ou tácito para que o primeiro disponha dos fundos ou provisão 
por meio do cheque. 
Obs. Ver arts. 3º e 4º da Lei nº 7.357/85 e comparar 
os pressupostos que invalidam o documento daqueles que não 
prejudicam a validade do cheque. 
 
9.6. DOS REQUISITOS LEGAIS : 
 
 
35 
 
"Deve-se fazer uma radiografia física do cheque para 
certificar-se de sua sanidade formal", como nos sugere Egberto Lacerda 
Teixeira, verificando os requisitos: 
 
a) Essenciais: 
* a palavra "cheque" 
* o mandato puro e simples de pagar uma quantia 
certa e determinada 
* o nome de quem deve pagar (sacado) 
* a assinatura de quem passa o cheque (sacador). 
 
b) Não essenciais: 
* a indicação do Lugar em que o pagamento deve 
efetuar. 
* a indicação da data em que, e do Lugar onde, o 
cheque é sacado. 
 
Obs. Ver os arts. 1º e 2º da Lei 7.357/85 (analisar 
suprimento de requisitos). 
 
9.7. DA ASSINATURA DO SACADOR: 
 
a) O cheque deve trazer a assinatura do sacador ou 
mandatário com poderes especiais. O sacador deve ser uma pessoa 
capaz de dispor de seus bens uma vez que o cheque representa uma 
ordem de pagamento sobre fundos disponíveis do emitente em poder do 
sacado. 
b) Deve-se, entretanto, entender por assinatura todo e 
qualquer sinal material, que sirva para identificar nos papéis ou títulos, 
a pessoa daquele que a apõe. 
c) Admite-se a assinatura por chancela mecânica que 
obedece às determinações da Resolução nº 74 do Banco do Brasil. 
d) Pode o cheque ser emitido por mandatário, contendo 
o mandato poderes expressos e especiais para tanto. (Ver art. 14 da Lei 
nº 7.357/85 e 11 da Lei Uniforme). 
e) A assinatura falsa não invalida o título, abrange-se 
neste raciocínio também a falsificada, entendendo-se

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