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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS – CÂMPUS URUAÇU DEPARTAMENTO DE ÁREAS ACADÊMICAS CURSO DE BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVIL ISADORA POTIGUARA GOTARDO PAINÉIS SOLARES FOTOVOLTAICOS PELO SISTEMA GRID-TIE – PROPOSTA DE INSTALAÇÃO NO IFG- CÂMPUS URUAÇU URUAÇU 2017 1 ISADORA POTIGUARA GOTARDO PAINÉIS SOLARES FOTOVOLTAICOS PELO SISTEMA GRID-TIE – PROPOSTA DE INSTALAÇÃO NO IFG- CÂMPUS URUAÇU Trabalho de conclusão do curso Bacharelado em Engenharia Civil apresentado ao Departamento de Áreas Acadêmicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás – Câmpus Uruaçu. Orientadora: Ma. Paula Miranda da Silva URUAÇU 2017 Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, e validada pelo Sistema Integrado de Bibliotecas do Instituto Federal de Goiás (IFG) – Campus Uruaçu Gotardo, Isadora Potiguara. Painéis solares fotovoltaicos pelo sistema grid-tie proposta de instalação no IFG- Câmpus Uruaçu [manuscrito] / Isadora Potiguara Gotardo. - 2017. CXI, 112 f.: il. Orientador: Prof. Paula Miranda da Silva; Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Engenharia Civil, Câmpus Uruaçu, 2017. Bibliografia. Anexos. Apêndice. Inclui siglas, lista de figuras, lista de tabelas. 1. Engenharia civil. 2. Energia solar. 3. Painel Fotovoltaico. 4. Sistema Grid-Tie. 5. Energia Renovável I. Silva, Paula Miranda da (orientador). II. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás. IV. Título. CDU: 621.3 CDD: 621.47 2 Dedico este trabalho primeiramente a Deus, socorro presente nas horas de angústia. Aos meus pais, irmãos, meus amigos e meu companheiro que, com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida. À minha sobrinha Luna, por todo seu amor. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a minha professora orientadora, Paula Miranda, que teve paciência de transbordar conhecimento, sendo imprescindível para a conclusão deste trabalho. Agradeço também todos os meus professores que durante muito tempo me ensinaram е mostraram a importância da educação, que forneceram o melhor de si para minha formação como profissional. Agradeço ao professor Guilherme e a professora Andreia Prado, por serem tão atenciosos e terem disponibilizado do seu tempo para me auxiliar. Agradeço ao Sebastião e Antônio, por se disponibilizarem a me ajudar nas pesquisas de campo. Agradeço a Nassolar, na pessoa de Newton Sousa e sua esposa Vanessa Sousa, por toda colaboração e inspiração fornecida ao longo de minha jornada nessa pesquisa. Agradeço ao futuro colega de trabalho Tiago Reis por sua disponibilidade e boa vontade em me ajudar e me ensinar a lidar com novos programas. Agradeço também a algumas pessoas importantes em vida que foram imprescindíveis para que eu fizesse esse trabalho, Fernando Moreira, Gabriella Borges, Cristielly Bedran e Marina Gonçalves. Agradeço a minha família por acreditar no meu potencial, me apoiar e incentivar durante toda minha vida. 4 . “Os cientistas estudam o mundo como ele é; os engenheiros criam um mundo como ele nunca havia sido”. Theodore von Karman 5 RESUMO O grande crescimento da demanda energética mundial e a utilização de matrizes energéticas de recursos finitos geram a necessidade de investimento e estudo em tecnologias renováveis. A tecnologia fotovoltaica, que é o aproveitamento da energia proveniente do sol, através de painéis solares fotovoltaicos, se apresenta como uma solução ecologicamente correta e altamente eficiente. Este trabalho apresenta uma proposta de instalação de um sistema de geração de energia nos edifícios do IFG – Câmpus Uruaçu. A proposta é de um sistema fotovoltaico conectado com a rede de distribuição já existente, chamado de Grid-Tie, com o objetivo de redução no consumo energético da edificação pela geração própria de eletricidade. No orçamento apresentado verificou-se que, apesar dos custos iniciais de implantação serem altos, o investimento é recuperado em pouco mais de seis anos, pois a redução no consumo de energia da concessionária foi considerável, proporcionando uma maior independência da unidade consumidora. Assim, concluiu-se que é viável a implantação desse sistema, pois ele proporciona tanto benefícios ecológicos quanto econômicos. Palavras-chave: Energia Solar. Painel Fotovoltaico. Sistema Grid-Tie. Energia Renovável. 6 ABSTRACT The large growth in world energy demand and the use of finite resource energy matrices generate the need for investment and study in renewable technologies. Photovoltaic technology, which is the use of energy from the sun, through solar photovoltaic panels, is presented as an ecologically correct and highly efficient solution. This work presents a proposal for the installation of an energy generation system in the IFG - Campus Uruaçu buildings. The proposal is for a photovoltaic system connected to the existing distribution grid, called the Grid-Tie, with the objective of reducing the energy consumption of the building by the own generation of electricity. In the presented budget, it was verified that, although the initial costs of implantation are high, the investment is recovered in little more than six years, because the reduction in the consumption of energy of the concessionaire was considerable, providing a greater independence of the consumer unit. Thus, it was concluded that the implantation of this system is feasible, since it provides both ecological and economic benefits. Keywords: Solar energy. Photovoltaic panel. Grid-Tie System. Renewable energy. 7 Lista de Siglas ABE Eólica Associação Brasileira de Energia Eólica ABNT Associação Brasileira de Normas Tecnicas ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica AR Antirreflexo a-Si Silício Amorfo a-Si:h Silício Amorfo Hidrogenado BIG Banco de Informações de Geração C Celsius c-Si Silício Cristalino CdTe Telureto de Cádmio CEO Chief Executive Officer (Diretor Executivo) CEPEL Centro de Pesquisa de Energia Elétrica CRESESB Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio Brito c-Si Silício Cristalino CSP Concentrated Solar Power (Energia Solar Concentrada) EGP Enel Green Power (EGP) Fiesp Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FV Fotovoltaico GWh Giga Watt hora ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IEA International Energy Agency ( Agência Internacional de Energia) IFG Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás IF-UFRGS Instituto de Física – Universidade Federal do Rio Grande do Sul INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia IPT Institutode Pesquisas Tecnológicas kW Kilowatt MIT Massachusetts Institute of Technology Mono-SI Silício Monocristalino MW Mega Watt ONU Organização das Nações Unidas Poly-SI Silício policristalino 8 PV Photovoltaic (Fotovoltaico) SIN Sistema Interligado Nacional TW Terawatt UNICAMP Universidade Estadual de Campinas W/h Watt por hora W/m² Watt por metro quadrado 9 Lista de Figuras Figura 1 Cinturão Solar ............................................................................................................ 17 Figura 2 Silício metalúrgico ..................................................................................................... 17 Figura 3 Distribuição das reservas de combustíveis fósseis pelos diferentes continentes e regiões do mundo ..................................................................................................................... 20 Figura 4 Mapa do aproveitamento do potencial hidrelétrico brasileiro.................................... 21 Figura 5 Aerogerador no nordeste ............................................................................................ 22 Figura 6 Potencial Eólico Brasileiro ......................................................................................... 23 Figura 7 Redução da Densidade de Energia Solar Média ........................................................ 24 Figura 8 Distribuição Espectral da Luz Solar ........................................................................... 25 Figura 9 Órbita da Terra em torno do Sol, com seu eixo N-S inclinado .................................. 26 Figura 10 Variação na irradiação de acordo com a altura do sol ............................................. 27 Figura 11 Irradiação média horária para o mês de Janeiro em Uruaçu .................................... 27 Figura 12 Modelo de disposição dos componentes da radiação solar que atinge um módulo fotovoltaico ............................................................................................................................... 28 Figura 13 Radiação Solar Global.............................................................................................. 29 Figura 14 Usina Cidade Azul em Tubarão - SC ....................................................................... 30 Figura 15 Custo mundial de geração por fonte (US$ / MWh) ................................................. 31 Figura 16 Exemplo de energia solar passiva na edificação ...................................................... 32 Figura 17 Representação do fluxo de energia de um sistema CSP .......................................... 33 Figura 18 Participação no mercado de cada tipo de célula solar. ............................................. 34 Figura 19 Estrutura típica da célula solar (esquerda) e princípio de funcionamento (direita). 35 Figura 20 a) junção pn ilustrando região onde ocorre o acúmulo de cargas. (b) campo elétrico resultante da transferência de cargas através da junção pn. ..................................................... 36 Figura 21 Exemplo de sistema Solar Tracker ou Rastreador Solar .......................................... 38 Figura 22 Mapa apresentando as capitais e suas características de posicionamento dos módulos para os maiores ganhos de radiação ........................................................................... 39 Figura 23 Exemplos de painéis solares..................................................................................... 40 Figura 24 Planta de implantação do IFG câmpus Uruaçu ........................................................ 41 Figura 25 Fachadas dos prédios do IFG - Uruaçu .................................................................... 42 Figura 26 Esquema representativo das fachadas ...................................................................... 43 Figura 27 Representação do Norte Magnético e da Declinação Magnética ............................. 45 10 Figura 28 Estudo de sombreamento das coberturas do dia 22/12 – Solstício de Verão no Brasil .................................................................................................................................................. 54 Figura 29 Estudo de sombreamento (vistas) do dia 22/12 – Solstício de Verão no Brasil ...... 55 Figura 30 Estudo de sombreamento das coberturas do dia 22 de junho – Solstício de inverno no Brasil .................................................................................................................................... 56 Figura 31 Estudo de sombreamento (vistas) do dia 22 de junho – Solstício de inverno no Brasil ........................................................................................................................................ 56 Figura 32 Estudo de sombreamento das coberturas do dia 21 de março – Equinócio no Brasil .................................................................................................................................................. 58 Figura 33 Estudo de sombreamento (vistas) do dia 21 de março – Equinócio no Brasil ......... 58 Figura 34 Planta de cobertura bloco 100/200 ........................................................................... 60 Figura 35 Planta de cobertura do bloco 300 ............................................................................. 61 Figura 36 Planta de cobertura bloco 400 .................................................................................. 62 Figura 37 Esquema da portaria ................................................................................................. 63 Figura 38 Esquema da área de Transportes .............................................................................. 63 Figura 39 Fachada do bloco 100/ 200 ...................................................................................... 64 Figura 40 Fachadas do Bloco 400 ............................................................................................ 65 Figura 41 Fachada do bloco 300 ( brises )................................................................................ 66 Figura 42 Variação do consumo mensal do ano 2016 .............................................................. 68 Figura 43 Consumo x Geração solar ........................................................................................ 72 Figura 44 Porcentagem do consumo atendido por alternativa ................................................. 73 Figura 45 Saldo anual de energia consumida x gerada perante à concessionaria em kWh ...... 74 Figura 46 Dados de entrada para o calculo de "d" ................................................................... 75 Figura 47 Esquema da aplicação de painéis através da maquete eletrônica ............................. 75 Figura 49 Esquema dos painéis através maquete eletrônica..................................................... 76 Figura 49 Saldo mensal de energia após instalação dos módulos ............................................ 82 11 Lista de Tabelas Tabela 1 Consumo médio mensal e diário de energia .............................................................. 44 Tabela 2 Modelos de painéis solares do mercado .................................................................... 48 Tabela 3 Fórmulas para o dimensionamento ............................................................................ 49 Tabela 4 Inversores selecionados para o dimensionamento ..................................................... 50 Tabela 5 Fórmulas para dimensionamento deinversores ......................................................... 51 Tabela 6 Dimensões do bloco 100/200..................................................................................... 60 Tabela 7 Dimensões do bloco 300 ............................................................................................ 61 Tabela 8 Dimensões do bloco 400 ............................................................................................ 62 Tabela 9 Dimensões da portaria ............................................................................................... 64 Tabela 10 Dimensões da área de Transportes .......................................................................... 64 Tabela 11 Dimensões das brises do Bloco 100/ 200 ................................................................ 65 Tabela 12 Dimensões das brises do Bloco 400 ........................................................................ 66 Tabela 13 Dimensões das brises do bloco 300 ......................................................................... 67 Tabela 14 Áreas do telhado disponíveis para instalação do sistema ........................................ 67 Tabela 15 Irradiação média mensal de Uruaçu em KWh/m²/dia ............................................. 69 Tabela 16 Alternativas de geração............................................................................................ 71 Tabela 17 Número de painéis fotovoltaicos por bloco ............................................................. 76 Tabela 18 Dimensionamento de inversores .............................................................................. 79 Tabela 19 Suportes dos módulos fotovoltaicos ........................................................................ 80 Tabela 20 Custos totais finais do sistema ................................................................................. 81 Tabela 21 Comparativo de energia gerada e demandada pela rede .......................................... 82 12 Sumário 1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 14 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................... 14 1.2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 16 1.2.1 Objetivo Geral ......................................................................................................... 16 1.2.2 Objetivos Específicos .............................................................................................. 16 1.3 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 16 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................... 18 2.1. CONTEXTO HISTÓRICO ......................................................................................... 18 2.2. ENERGIA RENOVÁVEL NO BRASIL .................................................................... 21 2.2.1.Hidroelétrica ............................................................................................................ 21 2.2.2.Energia Eólica.......................................................................................................... 22 2.2.3 Energia Solar ........................................................................................................... 23 2.3. MÉTODOS DE APROVEITAMENTO DE ENERGIA SOLAR .............................. 31 2.3.1 Energia Solar Passiva .............................................................................................. 31 2.3.2 Energia Solar Térmica ............................................................................................. 32 2.3.3 Energia Termossolar ou Concentrada...................................................................... 33 2.3.4 Energia Solar Fotovoltaica ...................................................................................... 33 2.4 ASPECTOS ARQUITETÔNICOS DOS PAINÉIS SOLARES .................................. 40 3. PROGRAMA EXPERIMENTAL ............................................................................... 41 3.1 DESCRIÇÃO DO LOCAL .......................................................................................... 41 3.2 ESTUDO DAS REGIÕES SOMBREADAS ............................................................... 43 3.3 CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA ..................................................................... 44 3.4 DEFINIÇÃO DA POSIÇÃO DE INSTALAÇÃO DOS PAINÉIS SOLARES FOTOVOLTAICOS .................................................................................................... 45 3.5 GANHO POR RADIAÇÃO SOLAR ........................................................................... 46 3.6 SELEÇÃO DOS PAINÉIS SOLARES FOTOVOLTAICOS ...................................... 46 13 3.7 CÁLCULO DA POTÊNCIA NECESSÁRIA .............................................................. 48 3.8 DIMENSIONAMENTO DOS INVERSORES ............................................................ 50 3.9 ORÇAMENTO ............................................................................................................. 52 4 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS ...................................................... 53 4.1 REGIÕES SOMBREADAS ......................................................................................... 53 4.2 ÁREAS DAS COBERTURAS DOS BLOCOS E DAS BRISES ................................ 60 4.3 CONSUMO ENERGÉTICO DO IFG .......................................................................... 68 4.4 GANHO POR RADIAÇÃO SOLAR ........................................................................... 68 4.5 POTÊNCIA DE INSTALAÇÃO ................................................................................. 69 4.6 ALTERNATIVAS DE GERAÇÃO ............................................................................. 70 4.7 REDUÇÕES DO USO DA ENERGIA DA REDE ...................................................... 71 4.8 DISPOSIÇÃO DOS PAINÉIS ..................................................................................... 74 4.9 CÁLCULO DO NÚMERO DE INVERSORES .......................................................... 76 4.10 CABEAMENTO, ESTRUTURA DE FIXAÇÃO E MÃO DE OBRA ..................... 80 4.11 ANÁLISE FINAL DA PROPOSTA .......................................................................... 81 5- CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............ 83 5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 83 5.2 SUGESTÕES ............................................................................................................... 85 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 86 APÊNDICE A – IMAGENS DA MAQUETE ELETRÔNICA COM OS RESPECTIVOS SOMBREAMENTOS .............................................................................................................. 92 APÊNDICE B – PROPOSTAS DE PAINÉIS FOTOVOLTAICOS ..................................... 106 14 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Desde os primórdios da civilização, a construção civil surgiu como uma necessidade de sobrevivência do ser humano, quando ainda não existiam técnicas aprimoradas para planejamento ou execução de edificações. Assim, o homem foi modificando o ambiente no qual estava inserido de acordo com suas necessidades. A indústria da construção civilinsere-se no contexto como agente causadora de impactos ambientais significativos, portanto possui grande responsabilidade quanto a isso. A sustentabilidade que, segundo o Relatório de Brundtland (RELATÓRIO...,1987, p. 54, traduzido por o Autor, 2016), “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”, é um tema que entrou na agenda política dos países pela primeira vez em 1987. Este relatório foi criado pela Assembleia Geral da ONU tendo como participantes diversos países, como Canadá, Estados Unidos, Itália e Brasil. Numa visão contemporânea de interação entre ser humano e meio ambiente, entende-se que é necessário haver limites para a utilização dos recursos naturais finitos, de forma que estes sejam preservados. Atualmente existem técnicas elaboradas para a construção de edificações, possibilitando assim, padrões de qualidade cada vez mais elevados, além da preocupação e comprometimento ambiental, para que todo impacto gerado, além de controlado, seja minimizado. Nesse contexto, pode-se destacar a utilização de fontes energéticas, sem prejudicar o fornecimento de eletricidade, como sendo uma técnica que reduz a agressão ao meio ambiente. A energia solar, mesmo tendo sido descoberta há muito tempo, apresenta-se como uma alternativa de fonte de energia limpa. De acordo com pesquisas feitas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT, 2015) e registrada em seu livro intitulado “O futuro da energia solar”, este tipo de obtenção energética é muito promissora e pouco agressiva ao meio ambiente. Existem diversas maneiras de aproveitamento da tecnologia solar, as três principais são: solar térmica; termossolar ou energia concentrada e fotovoltaica, sendo esta última o objeto de estudo deste trabalho. A energia solar térmica ocorre quando o calor do sol é captado por painéis solares térmicos, e transmitindo para a água. Tal processo possibilita o 15 aquecimento, por exemplo, da água proveniente dos chuveiros, piscinas, ambientes ou processos industriais. A termossolar ou energia concentrada é aquela onde o calor é produzido através de espelhos que concentram a radiação solar e a transformam em energia elétrica, porém, tem alto custo e é mais complexa (NEOSOLAR, 2016). Por fim, a energia solar fotovoltaica, aquela obtida através da conversão direta da luz solar em eletricidade, por meio do efeito fotovoltaico, que Cabral (2001) define como uma diferença de potencial nos limites de um material semicondutor, que é gerada pela absorção de luz, sendo a célula fotovoltaica a principal responsável pelo processo de conversão. Para o aproveitamento fotovoltaico, existem dois tipos de sistemas que podem ser utilizados. O primeiro é o Off-Grid, onde os painéis são instalados independentes de outro tipo de utilização de energia elétrica, sendo mais usual em locais que não possuem acesso a rede elétrica, portanto este sistema se torna mais oneroso, pois é necessário ter bateria para armazenar a energia para uso posterior. O outro sistema, objeto de estudo desta pesquisa, é o Grid-Tie, que utiliza a tecnologia fotovoltaica ligada à rede elétrica que já abastece a população, não sendo necessária a aquisição de bateria e nem a mudança na rede elétrica da edificação. Quando o gerador solar produz, em certo momento, uma quantidade de energia superior àquela que é consumida na edificação, o usuário fica com créditos perante a concessionária. Durante o período noturno, onde não há produção de energia por parte dos painéis, a concessionária de energia elétrica vinculada ao sistema convencional fornece a energia necessária a ser utilizada. A junção desses dois sistemas acarreta economia de energia, pois, além do crédito adquirido, de acordo com a norma nº 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não é cobrado no Estado de Goiás desde 2015 para usuários de energia solar. Existem ainda, além dos sistemas Off-Grid ou Grid-Tie, outros sistemas que podem se encaixar em ambos. Nesta pesquisa será mencionado o sistema solar tracker, conhecido como seguidor solar e o sistema de placas fixas. O solar tracker direciona os painéis ou módulos para a direção do sol, ou seja, durante o dia e conforme o movimento da Terra, os painéis se movem para maximizar a quantidade de energia capturada. De acordo com Zipp (2013) conforme é minimizado o ângulo de incidência do raio solar, ângulo que um feixe de luz do sol faz com uma linha perpendicular à face do painel, potencializa-se o aproveitamento da energia. Já o sistema de placas fixas funciona com as placas imóveis no substrato. 16 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral Propor um projeto de instalação de um sistema solar fotovoltaico, através da conexão de placas solares com a rede de energia elétrica já existente, na forma Grid-Tie, no Câmpus Uruaçu do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás. 1.2.2 Objetivos Específicos - Calcular o dimensionamento do sistema fotovoltaico combinando os dados de consumo de energia elétrica do IFG câmpus Uruaçu com os ganhos de radiação da cidade de Uruaçu; - Propor um projeto de instalação de um sistema fotovoltaico - Calcular a economia energética que será gerada quando o sistema solar for adotado. 1.3 JUSTIFICATIVA A escolha do tema foi motivada pelo interesse no estudo de energias renováveis, assunto de grande relevância tanto para a construção civil, que atualmente investe em construções sustentáveis, quanto para a sociedade. No âmbito da pesquisa, sendo o Instituto Federal de Goiás – câmpus Uruaçu uma instituição que aborda ensino técnico e superior, é de extrema importância que se pense em tecnologias alternativas para redução das despesas, pois há atualmente uma crescente demanda por energia elétrica, que causa grande impacto sobre o meio ambiente e o uso da energia solar se mostra como alternativa viável de aproveitamento a ser estudada e inserida cada vez mais no mercado. O Brasil está inserido no cinturão solar, como mostra a Figura 1, recebendo grande quantidade de radiação solar diariamente. De acordo com Rüther (2000), apenas 12 minutos de radiação solar seriam suficientes para obter a mesma quantidade de energia necessária para o consumo anual da população mundial. 17 Figura 1 Cinturão Solar Fonte: SANTOS (2014). Rüther ainda afirma que a maior usina de geração solar do Brasil, na cidade de Tubarão, Santa Catarina, está localizada num dos piores locais do país para o aproveitamento fotovoltaico, e ainda assim o aproveitamento do sistema chega a 85% de eficiência. Além disso, o silício, como visto na Figura 2, que é o material mais utilizado para confecção das placas fotovoltaicas, é um elemento abundante no Brasil, possibilitando assim a fabricação própria dos painéis. Figura 2 Silício metalúrgico Fonte: ANUNCIAÇÃO (2012). 18 1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1. CONTEXTO HISTÓRICO Na história da humanidade, a energia teve seu início através de questões biológicas. A principal matriz energética é o sol, fonte de calor e luz, que transfere energia à Terra, para as plantas, para a evaporação da água dos rios e lagos, formando as chuvas, e ainda para o efeito estufa, fenômeno no qual parte da radiação solar recebida é absorvida pela superfície terrestre, aquecendo a Terra e tornando-se vital para existência da humanidade. Segundo Farias; Sellitto (2011, p. 7) “A energia pode ser definida como a capacidade de realizar trabalho ou de transferir calor”. Ainda Farias;Sellitto (2011) discorrem em sua tese que na Idade Média o progresso dos setores da engenharia e suas áreas modificaram o uso da energia e dominaram a transformação das formas de energia primárias para secundárias. Energia primária é aquela fornecida pela natureza, como a lenha, cana-de-açúcar, hidráulica e entre outras, enquanto a energia secundária é consequente de métodos de conversão, para simplificar seu deslocamento e retenção. O homem foi evoluindo, e a partir de novos estudos e técnicas, foi capaz de descobrir e também aprimorar, técnicas de geração e aproveitamento de energia. O carvão mineral, primeiro combustível fóssil utilizado em larga escala, era substancial nos séculos XVIII e XIX para as atividades das máquinas que trabalhavam a vapor. A partir da Segunda Revolução Industrial, surge a exploração do petróleo, e atualmente a sociedade é totalmente dependente desse produto e de seus derivados. A sua utilização em grande proporção se dá, principalmente, por ser ele uma matriz energética potente, que existe de uma forma ainda abundante, porém finita. Segundo Vera (2004), apenas nos últimos 50 anos as fontes de energia renováveis vem crescendo, por consequência de impactos ambientais e custo dos combustíveis fósseis. E ainda assegura que o sistema energético utilizado atualmente enfrenta diversos desafios, como: proteção ao meio ambiente, eficiência energética e planejamento de acordo com a demanda, enquanto a tecnologia fotovoltaica pode suprir o consumo até mesmo em regiões isoladas, onde não existe uma concessionária de energia e esta deve ser feita de forma independente (como seria o sistema fotovoltaico Off-grid). 19 Com o passar dos anos, o crescimento populacional mundial, juntamente com a evolução das tecnologias, fez a demanda por energia elétrica crescer e por conta deste fato multiplicaram-se as opções de recursos para a obtenção de energia. Os países foram se adaptando e encontrando as melhores maneiras de compor a matriz energética conforme seus recursos econômicos comerciais e também naturais. Porém, muitas matrizes energéticas que são empregadas possuem recursos finitos de utilização, ou seja, em algum momento no futuro serão esgotadas. Além desse fato, a quantidade de energia ofertada já não atende mais a demanda de energia necessária para suprir o consumo exigido pela população mundial. De acordo com Santiago, Rocha e Carvalho (2016), o mundo passa por um período de restringimento de possibilidades energéticas. Santos et al. (2006) indicam que o estoque de petróleo no Brasil, de qualidade satisfatória, é escasso e é tido como suficiente por apenas mais 22 anos, contados a partir da data da pesquisa. E não é apenas no Brasil que esse fato acontece. De acordo com Howard (2006, apud Santos 2006, p. 54,) No século que se passou, a humanidade já consumiu a metade do petróleo que existe na Terra e aquilo que restou em todas as reservas existentes seria suficiente apenas para mais 37 anos. Howard ainda expõe que o futuro da civilização industrial será conturbado, mudanças econômicas, políticas e sociais acontecerão em escala nunca antes vista e esse período será marcado por uma diminuição das atividades cotidianas, como o adeus aos carros, aviões e ocorrerão vários conflitos e epidemias. Portanto, de acordo com o mencionado acima, é possível que a vida como se conhece hoje, mude bastante nos próximos anos, e que, além dessa catástrofe não estar muito longe, será bastante impactante. Outro fator preocupante é que os recursos energéticos mais utilizados atualmente, além de serem recursos finitos, estão mal distribuídos ao longo do mundo, como mostra a Figura 3. Santos et al. (2006) confrontam as previsões de Howard, afirmando que a visão geral a respeito do assunto é mais positiva do que aquela por ele apresentada. Porém, a sociedade e seus representantes devem ficar alertas quanto a essas informações, a fim de esmerar-se mais na busca de fontes sustentáveis. 20 Figura 3 Distribuição das reservas de combustíveis fósseis pelos diferentes continentes e regiões do mundo Fonte: Adaptado de TRIPLEX (2016). A busca por energia de fontes inesgotáveis e renováveis, como a energia solar, que se insere nesse contexto de forma viável, torna-se uma necessidade primordial. Rüther (2000) afirma em seu trabalho que, para suprir a demanda energética da população mundial por um ano, seriam necessários apenas 12 minutos de incidência solar em apenas um momento de captação, se a eficiência do sistema de captação fosse aproveitada por completa, e ainda com a captação dos raios solares durante três semanas, seria possível obter a mesma quantidade de energia disponível em todas as reservas de combustíveis fósseis já conhecidas pelo homem, como óleo, gás natural e carvão. “Na escala global, o recurso solar é amplamente distribuído. Onde há pessoas, há luz solar... A escala do recurso solar e sua ampla distribuição em todo o mundo são consistentes com energia solar tornar-se uma fonte importante, talvez a principal fonte de eletricidade geração em todo o mundo” (MIT, 2015, pg. 04, traduzido por o Autor, 2016). Portanto, além de ser um recurso inesgotável e abundante, a energia solar é bem distribuída ao longo de todo planeta, apesar da influência dos efeitos de rotação e translação da Terra, conseguindo incidir sobre todas as superfícies, não apresentando problemas de oferta nos recursos energéticos, enquanto os métodos mais comuns de obtenção de energia atuais são de recursos limitados e finitos, além de mal distribuídos pelos países. 21 1.2. ENERGIA RENOVÁVEL NO BRASIL 1.2.1. Hidroelétrica O tipo mais comum de energia produzida no Brasil é aquela proveniente das hidroelétricas, fontes de energia renovável que utiliza a energia potencial da água dos rios para mover turbinas, e assim gerar eletricidade. De acordo com Bronzatti; Neto (2008), o Brasil pertence ao grupo dos países que possuem a maior parte da produção de eletricidade proveniente de usinas hidroelétricas, correspondendo a 75% da potência instalada. Em janeiro de 2016, 76,5% da energia gerada no Brasil foi proveniente de hidrelétricas, ou seja, é um grande potencial aproveitado (PORTAL BRASIL, 2016). Grande parcela do potencial hidráulico do país já foi explorado, principalmente nas regiões mais desenvolvidas e o aproveitamento do potencial têm crescido bastante ao longo dos anos, como mostra a Figura 4. Figura 4 Mapa do aproveitamento do potencial hidrelétrico brasileiro. Fonte: ANEEEL (2002). Os dados fornecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL (2005) são categóricos em dizer que em 2030 o consumo de energia elétrica no Brasil irá aumentar para até 1.250 TW/ano, sendo que este consumo foi de 460,0 TW/hora/ano em 2016 (Empresa de Pesquisa Energética, jan., 2017) e mesmo elevando o aproveitamento do potencial hidráulico para 80%, a demanda de energia elétrica não poderá ser suprida. Apesar das hidroelétricas serem fontes renováveis de geração de energia e não emitirem nenhum poluente em sua obtenção é necessário inundar grandes áreas, o que leva a 22 perda da biodiversidade, devastação de vegetação natural, desapropriação de comunidades locais e ainda mudança no leito dos rios, trazendo impactos ambientais bastante significativos. 1.2.2. Energia Eólica A energia eólica, gerada por aerogeradores a partir da força dos ventos, também se aplica a diversos tipos de mercados, tanto para grandes proporções quanto para sistemas de micro geração. A Figura 5 apresenta um tipo de aerogerador utilizado no Nordeste.Segundo Farias; Sellitto (2011) as centrais de pequeno porte podem atender sistemas isolados, distantes dos grandes centros urbanos, sem acesso à energia elétrica, enquanto centrais de grande porte podem ser conectadas ao Sistema Interligado Nacional - SIN. Figura 5 Aerogerador no nordeste Fonte: BBC Brasil (2015). Atualmente existem 410 usinas eólicas instaladas no Brasil, com capacidade de geração de 10,26 GW, gerando uma redução na emissão de 17.650.000 toneladas por ano de CO2, e uma capacidade futura de 7,89 GW de energia, provenientes de usinas em construção (Associação Brasileira de Energia Eólica – ABE Eólica, 2016). Existe a possibilidade da integração da energia eólica com as hidrelétricas já existentes, pois há grande oferta de vento no mesmo período em que ocorre a seca no Nordeste, local muito propício para esta tecnologia. Porém, não são em todos os locais onde a utilização dessa tecnologia é viável, já que é necessária uma oferta de vento em quantidade suficiente para movimentar as hélices, o 23 que não ocorre em todas as regiões do Brasil, como é o caso do estado de Goiás. Pode-se ver, pela Figura 6 que, principalmente na região Centro Oeste, onde está localizada a cidade de Uruaçu, não há grande potencial eólico para o aproveitamento. Figura 6 Potencial Eólico Brasileiro Fonte: ANEEL (2008). 2.2.3 Energia Solar A energia solar pode ser considerada a base de praticamente todas as matrizes energéticas utilizadas pela humanidade, desde a fonte de alimento (fotossíntese das plantas), até o fornecimento de calor, que impulsiona os ventos, correntes de rios e decomposição da matéria orgânica que dá origem aos combustíveis fósseis. Sabe-se que o recurso solar existente é significativamente maior do que qualquer outro recurso disponível no planeta. Aproximadamente 174.000 TW de energia são fornecidos na atmosfera terrestre pelo sol, e o consumo mundial de energia elétrica em um ano se aproxima dos 17 TW, fazendo com que pouco tempo de radiação solar que atinge a Terra seja suficiente 24 para suprir a demanda anual. Ainda de acordo com o MIT (2015, p. 1, traduzido por o Autor, 2016). A geração de eletricidade solar é uma das poucas tecnologias de energia de baixo carbono com potencial para crescer em escala muito grande. Como consequência, a enorme expansão da capacidade de geração solar global em escala multi-terawatt é um componente essencial muito provável de uma estratégia viável para mitigar o risco de mudanças climáticas. Apesar de estar disponível em todos os locais do planeta, a radiação solar pode ser influenciada por alguns fatores, dependendo da época do ano e a localização latitudinal da região, como a ocorrência de nuvens de acordo com a climatologia ou a poluição com gases de efeito estufa, a rotação terrestre, que impede a captação da energia durante o período noturno, além da inclinação do globo terrestre. A Figura 7 apresenta a redução da densidade de energia solar média. Esses fatores reduzem a densidade de energia que chega à superfície terrestre, que estaria disponível para ser captada e utilizada pelos painéis solares. Figura 7 Redução da Densidade de Energia Solar Média Fonte: Adaptado de Massachusetts Institute of Technology (2015, p. 254) Observa-se na Figura 7 a perda de densidade referente à parcela absorvida da atmosfera terrestre e o espalhamento de outra parte desta, a perda relativa ao ângulo oblíquo de incidência do raio solar, referente ao posicionamento geográfico do local em relação à posição 25 do sol, a perda referente à variação diurna da insolação e aquela devido à intermitência induzida que ocorre devido às nuvens. Quanto à perda devida à absorção atmosférica e espalhamento, pode-se dizer que toda superfície emite radiação térmica, fenômeno conhecido como “radiação de corpo negro” e o espectro dessa radiação, que é a quantidade de energia emitida ou absorvida, depende do comprimento de onda da radiação e é determinado pela temperatura da superfície. Segundo o MIT, 2015, o espectro do corpo negro, em uma temperatura de 5,505ºC é muito parecido com o espectro da radiação solar que se dá no topo da atmosfera, com um comprimento de onda na casa dos 400 e 750 nanômetros, podendo ser utilizado para observação da radiação que é perdida ao longo de seu trajeto até a superfície terrestre. A radiação tem uma porção de luz visível, e o restante infravermelho, como é mostrado na Figura 8. Figura 8 Distribuição Espectral da Luz Solar Fonte: Adaptado de Cabral (2001). Durante a passagem do raio de sol pela atmosfera, a radiação interage com as partículas que a compõe, como o vapor de água, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e ozônio, fazendo com que porções da luz sejam absorvidas e outras refletidas. A absorção da luz ocorre em regiões distintas do espectro, que originam as perdas mostradas na Figura 8, pois a radiação que se dá no topo da atmosfera, não é a mesma observada ao nível do mar. A perda na radiação ao nível do mar depende da espessura da camada da atmosfera, que pode ser identificada como “Massa de Ar”, além do ângulo Zenital do Sol (ângulo 26 existente entre a reta que descreve a incidência dos raios solares e a vertical Zênite), da distância que se encontra o sol da Terra e das condições meteorológicas. Já o fator de perda de irradiação correspondente à incidência oblíqua, tem relação com o movimento que a Terra faz em volta do sol. Durante o período de um ano, a Terra pratica um movimento elíptico em torno do sol, em um plano inclinado de aproximadamente 23,5º em relação ao plano que corta a linha do Equador. Por causa dessa inclinação, há uma variação na ascendência do sol ao longo dos dias, originando as estações do ano e dificultando os cálculos relativos ao posicionamento que o sol se encontra em determinada hora e data. A Figura 9 apresenta a órbita da Terra em torno do sol. Figura 9 Órbita da Terra em torno do Sol, com seu eixo N-S inclinado Fonte: Adaptado de CABRAL (2001). A intensidade da radiação vai variar por causa das diferentes alturas do sol ao longo do ano, já que os raios solares são mais concentrados quando incidentes na vertical, e esse fato não ocorre todos os dias. Quanto menor for o ângulo formado entre a horizontal e a trajetória de incidência dos raios solares, mais espalhada e menos concentrada a radiação será e maior será a camada da atmosfera que a irradiação terá que atravessar ocorrendo maiores perdas na densidade de energia que atinge a superfície terrestre ao nível do mar (GRIMM, 1999). A Figura 10 mostra a variação na irradiação de acordo com a altura do sol. 27 Figura 10 Variação na irradiação de acordo com a altura do sol Fonte: Adaptado de MIT (2015). Ao longo do movimento de rotação da Terra, pode-se observar o terceiro fator de perda de densidade solar, que é a variação diurna da radiação. O gráfico da Figura 11, obtido através do programa Radiasol, mostra que a irradiação recebida na superfície terrestre é zero no período noturno, pois o sol encontra-se do lado oposto do planeta. Essa condição aliada ao fato de haverem períodos nos quais o céu está encoberto de nuvens, fazem com que o clima da região também influencie a radiação solar. Figura 11 Irradiação média horária para o mês de Janeiro em Uruaçu Fonte: Radiasol (2017). 28 Na Figura 12 é apresentado um esquema de ilustração para identificar os tipos de radiação que chegam à superfície terrestre. Segundo Santos (2014), a irradiação que atinge os módulos solares além depossuir espectros com comprimento de onda diferente incide na superfície de modos diferente e a partir desse esquema pode-se realizar o dimensionamento dos painéis solares. Basicamente, a radiação que atinge o painel solar na superfície terrestre, considerando todas as perdas de densidade citadas, pode ser separada em direta, difusa e albedo. A direta atinge diretamente o corpo, sem sofrer interferências do meio, a difusa é aquela refletida pela atmosfera, enquanto o albedo se da pela reflexão da cobertura do solo. Um dos desafios a ser vencido para fazer com que essa tecnologia atenda à demanda mundial por energia é a conversão das flutuações ofertadas existentes para escalas confiáveis, ou seja, para que os índices de captação possam ser mais constantes e não possuam tantas interferências. Figura 12 Modelo de disposição dos componentes da radiação solar que atinge um módulo fotovoltaico Fonte: Santos (2014). 2.2.3.1 Energia Solar Fotovoltaica A geração de energia utilizando-se placas solares fotovoltaicas já é uma realidade no Brasil. Os dados fornecidos pelo Banco de Informação de Geração (BIG) da ANEEL mostram que o Brasil possui 42 empreendimentos de Centrais Geradoras Solares Fotovoltaicas, outorgando uma potência de 27.008 kW, que representa 0,02% da energia total gerada pelo país. Há ainda nove empreendimentos em construção, para elevar a potência de geração em 258.000 kW, o que levará a uma representatividade de 3,01% do total de energia gerado. Ainda existem 101 projetos que serão iniciados e levarão a uma geração de 2.692.397 kW, 29 fazendo com que o percentual representativo da energia solar salte para até 15,7%, muito maior do que o já existente. A taxa de incidência dos raios solares é um fator importante e o Brasil se localiza perto da linha do equador. Dessa forma, não ocorrem grandes variações na incidência dos raios solares, já que a inclinação da Terra não interfere de maneira significativa nessa região do globo, como se vê na Figura 13. Figura 13 Radiação Solar Global Fonte: CRESESB (2013). Além do fator do índice da radiação ser considerado determinante para inserção dessa tecnologia em território brasileiro, existe ainda outro ponto a ser considerado. O silício, principal matéria prima de fabricação das placas fotovoltaicas, é o “segundo elemento químico mais frequente no mundo” e tem sido explorado sob diversas formas: monocristalino (mono-Si), policristalino (poly-Si) e amorfo (a-Si) (PINHO; GALDINO, 2014, p. 44). E ainda, segundo pesquisas do MIT (2015, p.1, traduzido por o Autor, 2016.), Sistemas de a -Si provavelmente vão dominar o mercado de energia solar para as próximas décadas e talvez mais além. Além disso, se a indústria puder reduzir substancialmente sua dependência de prata para contatos elétricos, insumos materiais para a geração de c -Si PV estão disponíveis em quantidade suficiente para apoiar a expansão de escala terawatt. O Brasil possui as maiores reservas mundiais de quartzo, matéria prima do silício, porém importa o silício purificado a um preço muito maior do que exporta em matéria bruta, e 30 segundo pesquisas realizadas pela UNICAMP, existe tecnologia suficiente no país para a purificação do silício com ordem de grandeza suficiente para a fabricação dos painéis solares ( 99,9993% de pureza) (ANUNCIAÇÃO, 2012). Em reportagem publicada pelo site da Globo (2014), com o tema “Maior usina solar do país atinge 85% de geração em um mês de operação”, é exposto que a maior usina instalada no Brasil é a Usina Cidade Azul, localizada em Tubarão, Santa Catarina. Foi inaugurada em 9 de agosto de 2014, com 19.424 painéis solares, que produzem energia suficiente para abastecer uma cidade, com população entre 10 e 15 mil habitantes , ou aproximadamente 2,5 mil casas em um ano. A usina possui 10 hectares de área, sendo 4,9 destes ocupados pelos painéis, conforme mostra a Figura 14. Figura 14 Usina Cidade Azul em Tubarão - SC Fonte: Tractebel Energia (2016). O coordenador do projeto, Ricardo Rüther, explica que a região de Tubarão está situada em um dos piores lugares no Brasil para a captação da radiação solar e o local foi escolhido por ter abundância de recursos humanos para instalação. Ainda assim, o aproveitamento do sistema chegou a 85%. Ainda afirma que além da usina de Tubarão existem oito locais no Brasil com sete tecnologias diferentes sendo analisadas, cada uma destas com características específicas para o clima na qual está inserida, para que se use a mais adequada para cada região. Outra usina de grande potencial que está no foco dos assuntos atuais é a usina de Ituverava, na Bahia, em construção desde dezembro de 2015. De acordo com dados fornecidos pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), será a maior usina de geração de energia solar fotovoltaica da América Latina, com capacidade de geração de 254 MW e produção anual de 500 GWh. A empresa responsável pela concepção da usina, 31 Enel Green Power (EGP), investirá 400 milhões de dólares na construção. O CEO da empresa Enerray, Michael Scandellari, parceiro da obra, declarou “Acreditamos que o Brasil representa uma grande oportunidade por ser um mercado com perspectivas de crescimento muito significativas a médio e longo prazo” (FIESP, 2016, p. 1). Apesar do uso das energias renováveis estar em fase de crescimento, os custos mundias no investimento em infraestrutura ainda são onerosos se comparados às outras tecnologias de geração, como mostra o gráfico da Figura 15, que apresenta os custos das tecnologias para geração de energia elétrica. Figura 15 Custo mundial de geração por fonte (US$ / MWh) Fonte: W.C Turkenburg Utrecht university (2003). 1.3. MÉTODOS DE APROVEITAMENTO DE ENERGIA SOLAR 2.3.1 Energia Solar Passiva A energia solar passiva vislumbra a arquitetura da edificação projetada para que a incidência solar ilumine ou aqueça os ambientes, não fazendo o uso de equipamentos específicos para isso, como mostra a Figura 16. 32 Figura 16 Exemplo de energia solar passiva na edificação Fonte: Portal Energia – Energias Renováveis (2017). Esse sistema transmite naturalmente a energia térmica por meio de convecção, condução e radiação sem o uso de bombas ou painéis. A edificação deve ser planejada desde o principio, para que se faça o máximo aproveitamento da incidência solar. 2.3.2 Energia Solar Térmica Energia solar térmica é um sistema onde se utiliza da fonte inesgotável da radiação solar para transformá-la em calor, com o objetivo de aquecer a água. Os coletores de radiação solar são, na maioria das vezes, dispostos no telhado das edificações, para receberem a luz do sol e converter em calor. Os coletores tem cobertura de vidro e o calor é gerado por meio de uma placa de metal que age como se fosse um corpo negro. A placa é integrada a um sistema de tubos, responsáveis por transmitir o calor gerado para o fluido de transferência térmica, que irá para um tanque de armazenamento de água quente. A água potável a ser utilizada é aquecida pela permuta de calor, e o líquido de transferência térmica retorna para o local de aquecimento, para assim realizar um novo ciclo (ENERGIA Solar Térmica, 2004). Este tipo de sistema traz apenas economia de uso da água aquecida para chuveiros, pois seu objetivo não é a geração de eletricidade. 33 2.3.3 Energia Termossolar ou Concentrada Esta tecnologia, conhecida como Concentrated Solar Power (CSP) é um sistema que utiliza concentradores com o objetivo de direcionar aradiação solar para um dispositivo receptor que esquenta um líquido de transferência e é levado ao bloco de potência, onde a eletricidade é gerada, ou seja, no ciclo de potência o líquido se expande ou pode ser usado vaporizado em procedimentos industriais nas turbinas, então, a energia captada não é utilizada para aquecimento de fluidos, mas sim, para gerar eletricidade. A Figura 17 representa um esquema do fluxo de energia termossolar. Figura 17 Representação do fluxo de energia de um sistema CSP Fonte: BIANCHINI (2013). 2.3.4 Energia Solar Fotovoltaica A história da tecnologia fotovoltaica divide-se em quatro fases. Na primeira, as células fotovoltaicas são utilizadas apenas em aplicações espaciais. A partir de 1970, na segunda fase, por conta da crise do petróleo, essa tecnologia começou a ser utilizada pelo sistema off-grid, não conectado a rede, em locais onde não existia o fornecimento de energia elétrica. Ao final de 1990, alguns países deram incentivos financeiros à geração de energia fotovoltaica, levando-a até a terceira fase, caracterizada pela paridade de tarifas na geração distribuída. A última fase diz respeito à atualidade, onde a tecnologia está mais competitiva com as fontes convencionais de obtenção de energia. 34 A energia fotovoltaica faz o uso de células fotovoltaicas, que são dispositivos elétricos formados de silício e tendo a prata como condutora de energia, capazes de converter a energia solar em energia elétrica fazendo o uso do inversor e gerando energia limpa. As células se dispõem em módulos ou painéis, e fazem a transformação de energia pelo efeito fotovoltaico. Alonso et al. (2013) afirmam que os fótons oriundos da radiação solar transmitem sua energia aos elétrons de valência de materiais semicondutores (materiais que apresentam características intermediárias aos isolantes e condutores de eletricidade), rompendo suas ligações, tornando-os livres para se movimentarem no material. Forma-se então uma lacuna, pela falta de um elétron no local antes ocupado e esta também pode mover-se pelo semicondutor. Como tanto elétrons quanto lacunas se movimentam, estes são chamados de portadores de carga, e este movimento em direções opostas entre eles geram uma corrente elétrica no material semicondutor. Para os elétrons não retornarem às lacunas, utiliza-se um campo elétrico que força o movimento em sentidos contrários ao das cargas. Quanto aos componentes básicos das células solares, pode-se destacar a utilização de células de silício cristalino (monocristalino e policristalino), silício amorfo e telureto de cádmio, além de outros compostos de cobre, gálio e índio. A Figura 18 apresenta a porcentagem de utilização de cada tipo de célula solar no mercado. Nota-se que os modelos mais utilizados são aqueles formados por painéis de silício cristalino (monocristalino e multicristalino). De acordo com Marinoski, et al. (2004) a utilização da tecnologia de filmes finos (CdTe, por exemplo) está crescendo bastante, por possuir vários modelos com preço acessível, ocupando, portanto, o terceiro lugar em utilização. Figura 18 Participação no mercado de cada tipo de célula solar. Fonte: ALONSO et al. (2013, p. 5). 35 2.3.4.1 Formação das placas solares fotovoltaicas O silício, material utilizado na base da célula, possui quatro elétrons de ligação, que se juntam ao átomo vizinho formando uma rede cristalina. Para o campo elétrico a ser obtido, Alonso et al. (2013) relacionam que é necessário haver a adição de impurezas ao sistema, com materiais que possuem excesso ou falta de elétrons se comparados ao silício, como por exemplo, o fósforo, que possui cinco elétrons de ligação, portanto haverá um elétron em excesso que ficará fracamente ligado ao seu núcleo de origem. A Figura 19 apresenta a estrutura de uma célula solar fotovoltaica, que é composta por uma capa antirreflexo (AR), que tem a função de diminuir as perdas por reflexão da superfície; uma rede de metalização, que permite a coleta de elétrons passando uma resistência mínima e deve permitir a maior quantidade possível de luz para o sistema; camadas ativas do material semicondutor formado pelo polo emissor (chamado de capa n) e base (chamada de capa p) e um contato metálico que fica em toda superfície da célula solar. Figura 19 Estrutura típica da célula solar (esquerda) e princípio de funcionamento (direita). Fonte: ALONSO et al. (2013, p. 8). O funcionamento da célula se da com apenas um pouco de energia térmica recebida pelo sol, então o elétron livre que está presente no átomo de fósforo se desvencilha e vai para a banda de condução, portanto o fósforo é chamado de dopante doador de elétrons (dopante n ou impureza n). No outro lado da célula, insere-se um átomo com apenas três elétrons de 36 ligação, o boro, por exemplo, então ocorrerá uma falta de elétrons para atender as ligações com o silício. Essa falta de elétrons é chamada de lacuna. Com a recepção da energia solar, o elétron livre, que se desvencilhou do fósforo, se liga a ultima camada de valência do átomo de boro, fazendo este ter o papel de aceitador de elétrons ou dopante p. A maior parte das células solares se formam por uma união p-n, que é a junção desses dois elementos, um com falta e o outro excesso de elétrons, junto com o silício, onde se adicionam contatos metálicos que são responsáveis por extrair a corrente do sistema. A Figura 20 apresenta um esquema do funcionamento da união p-n. Figura 20 a) junção pn ilustrando região onde ocorre o acúmulo de cargas. (b) campo elétrico resultante da transferência de cargas através da junção pn. Fonte: CABRAL (2001). O tamanho, potência e quantidade dos painéis dependem da demanda de energia a ser captada, possibilitando a escolha de diversos tipos de combinação de sistemas que serão capazes de atender essa demanda. Além disso, a quantidade de energia que o painel gera depende de sua área coletora. Por exemplo, uma placa de 0,4 m² é capaz de gerar 14,5 Volts e uma corrente de aproximadamente 2,5 Ampères ou ainda 150 W/h para o dia que estiver funcionando, se considerado seis horas efetivas de sol, que representam um saldo de radiação de 1.000 W/m 2 . Quando há mais de um painel no sistema, eles precisam estar conectados entre si, e essa ligação pode ser feita em série, paralela ou mista. A ligação em série é indicada quando 37 há uma potência elevada, que permita o aumento da tensão, reduzindo assim a corrente. A ligação em paralelo é útil quando deseja-se aumentar a corrente e manter a tensão constante, então liga-se o terminal positivo de uma placa com o positivo da outra placa e a ligação mista é aquela onde há os dois tipos citados anteriormente, é o caso quando a corrente e a tensão precisam ser elevadas. Para que um sistema funcione corretamente, é necessário que toda sua superfície seja iluminada de maneira bem distribuída, visto que se alguma célula do painel ficar sombreada ocorrerá uma perda de geração em todo módulo, pois “a célula com menor iluminação é que irá determinar a corrente de operação de todas as células que estiverem na mesma série que ela.” (SANTOS, 2014, pg. 11). Nesses casos há uma opção alternativa de utilização de diodos de bypass, que criam um caminho alternativo para a corrente, possibilitando que esta mantenha o mesmo nivelamento das demais células solares que estão recebendo uma iluminação adequada. Outro fator importante é a orientação geográfica e inclinação das placas solares, visto que a melhor situação de captação é aquela onde os raios solares incidem formando um ângulo de 90º com a superfícieda placa. Além disso, é necessário que se faça a ventilação das mesmas, já que a temperatura na qual o módulo funciona também é um fator interligado com a eficiência do conjunto. De acordo com Santos (2014) os módulos compostos de silício cristalino podem reduzir 0,4% de sua eficiência para cada 1º C de aumento na temperatura de trabalho do painel em relação à temperatura ambiente. O cuidado deve ser tomado também com relação aos esforços provenientes do vento, que podem, até mesmo, arrancar as placas do substrato, ou seja, do telhado. 2.3.4.2 Composição do sistema solar fotovoltaico Além das placas solares, o sistema ainda necessita de condutores ou cabeamento, inversores, estruturas de fixação e pode contar com equipamentos opcionais, como o rastreador solar, por exemplo. Os condutores são os cabos isolados formados por fios recobertos de materiais isolantes, sendo feitos de cobre e alumínio, responsáveis por conduzir a energia gerada pelo painel até o inversor. Já os inversores permitem o abastecimento de cargas em corrente alternada, pois os painéis fornecem eletricidade em corrente contínua, e as instalações trabalham em corrente alternada, portanto, o papel do inversor é fazer essa 38 transformação. Na realização desse trabalho, ocorrem perdas pelo inversor, mas são de pequena ordem. Ainda existe um equipamento opcional, que é o rastreador solar. Um sistema que permite o movimento das placas para que estas acompanhem no sentido Leste-Oeste o movimento do sol ao longo do dia. O funcionamento pode ser passivo, baseado no deslocamento de um gás situado entre dois braços ocos instalados em lados opostos da estrutura. Onde o sol estiver incidindo, o gás ficará mais quente e irá expandir, deslocando-se para o braço menos aquecido, movendo a estrutura em direção a este. Dessa forma a incidência do sol é sempre perpendicular ao plano onde se encontra os painéis, obtendo um aproveitamento do sistema 20% mais eficiente do que o sistema de painéis fixos. Além disso, o grupo da empresa CSI Solar Tracker (2016, p. 1) afirma que: O Solar Tracker tem a capacidade de aumentar satisfatoriamente a produção de energia, reduzindo a quantidade de painéis, otimização de espaço, redução da potencia do inversor e levando uma redução de custos no projeto final para o cliente. Ao contrario do que muitos pensam o Solar tracker para telhados é em media 30% mais barato do que instalações com placas fixas. A Figura 21 apresenta um modelo do sistema solar tracker. Figura 21 Exemplo de sistema Solar Tracker ou Rastreador Solar Fonte: CSI Empresa de Rastreadores Solar Fotovoltaico (2017). 2.3.4.3 Orientação das placas solares Como ocorrem grandes perdas de energia ao longo do caminho da irradiação, é imprescindível o posicionamento das placas em relação ao sol. Sabe-se a posição mais 39 adequada para a instalação dos painéis é com inclinação em um ângulo igual ao da latitude do local no qual o módulo será inserido e, para o hemisfério sul do planeta, orientados ao norte verdadeiro. A posição da placa deve ser orientada pelo azimute e a inclinação. O azimute é o ângulo contado a partir do norte até o alinhamento do eixo longitudinal do módulo solar. Este fator depende de como o módulo estará inclinado. A inclinação refere-se ao ângulo formado entre a horizontal e o alinhamento do eixo que se encontra na face do painel. Na região central do Brasil, onde está inserida a edificação de estudo, a radiação recebida pode atingir um aproveitamento de 95% do sistema caso a inclinação dos módulos se mantenha em até 35º com desvios máximos no azimute de 60º para leste ou oeste. Se a inclinação dos painéis for menor que 35º (que é o caso do estudo, pois a cidade de Uruaçu está localizada a 14º 31’ 30” S e 49º 08’ 27” O, então a placa teria de estar inclinada a 14º em relação à horizontal), as perdas não são maiores que 10%. A Figura 22 resume as informações dos estudos realizados por Santos (2014). Figura 22 Mapa apresentando as capitais e suas características de posicionamento dos módulos para os maiores ganhos de radiação Fonte: Santos (2014). De acordo com a Figura 22, o melhor dimensionamento possível no estado de Goiás seria com os painéis voltados para o Norte, ou seja, azimute igual a 0º e inclinação de 14º em relação à horizontal (no caso de Uruaçu). Para tanto, suportes serão necessários para compensar a inclinação dos telhados. 40 Deve-se também observar o valor da Declinação Magnética, que é o ângulo formado entre o norte verdadeiro e o norte magnético, pois os módulos solares devem ser posicionados em relação ao norte verdadeiro, já que o norte magnético varia. Portanto, para máxima geração, o eixo longitudinal do painel deve estar orientado em direção ao norte verdadeiro. Outro ponto importante a ser analisado são as regiões de sombreamento nos locais da instalação dos painéis, onde estes ficarão sombreados e impedidos de receber radiação solar, o que prejudica o sistema visto que a eficiência será a partir do ponto de menor incidência. Também é importante observar a limpeza dos painéis, visto que o acúmulo de sujeira em sua superfície também causa impedimento de recebimento dos raios solares. Um fator que contribui para que os painéis não acumulem sujeira é própria inclinação. 2.4 ASPECTOS ARQUITETÔNICOS DOS PAINÉIS SOLARES A produção de painéis solares fotovoltaicos pode ser divida em três gerações. A primeira geração dos painéis produzidos por células de silício, mais utilizados na construção civil, a segunda geração produzida por de filmes finos, já a terceira geração de células orgânicas e corantes sensibilizados, com pouca utilização no mercado. De acordo com a composição do painel, sua cor varia, o que é importante a ser observado para compor a arquitetura da edificação. A Figura 23 a seguir apresenta alguns modelos de painéis solares fotovoltaicos. Figura 23 Exemplos de painéis solares Fonte: Adaptado de SANTOS, Ísis (2014) e Portal Solar (2017). 41 2. PROGRAMA EXPERIMENTAL Foi feita uma pesquisa experimental, com o objetivo de obter os dados necessários à realização do dimensionamento do sistema solar fotovoltaico no câmpus Uruaçu. 3.1 DESCRIÇÃO DO LOCAL O local, objeto de estudo desse trabalho, é o câmpus do IFG na cidade de Uruaçu, estado de Goiás. O câmpus é composto por cinco edifícios, sendo um bloco principal, denominado bloco 300, onde abriga-se toda a parte administrativa da instituição bem como guarda de materiais e laboratórios de informática e física, possuindo 5 pavimentos, térreo e subsolo. O bloco 100/200, possui dois pavimentos, sendo salas de aula no piso superior, e biblioteca e auditório no piso inferior. O bloco 400 possui dois pavimentos, sendo o pavimento superior composto de salas de aula, e no piso inferior os laboratórios de química e da área da construção civil. Próximo ao bloco 100/200 há uma edificação destinada ao abrigo carros oficiais da instituição e na entrada do câmpus há uma portaria, que possui uma pequena sala para os funcionários. Entre os blocos 300 e 400 existe uma área de pátio coberto, que é um local de destinado a convivência dos alunos. Além das áreas de cobertura, os blocos apresentam brises ao longo das suas fachadas, que também foram analisadas a fim de serem aproveitadas no dimensionamento. Figura 24 Planta de implantação do IFG câmpus Uruaçu Observação: Existe uma quadra poliesportiva descoberta, que não está representada pois não possui cobertura Fonte: Fonte: O Autor (2017). 42 Figura 25 Fachadas dos prédiosdo IFG - Uruaçu Fonte: O Autor (mar,2017) De posse do projeto arquitetônico, foram feitas as medidas das áreas de coberturas, pois uma das hipóteses desse trabalho é que a área de cobertura será suficiente para instalação dos painéis, mesmo tendo que descontar do total as áreas sombreadas. Além disso, foram verificadas as brises das fachadas dos blocos 100-200, 300 e 400, que são uma série de lâminas fixas dispostas horizontalmente e utilizadas para diminuir a ação do sol nas janelas, sem interromper a ventilação. A fim de medir as áreas das brises, pois estas poderiam ser aproveitadas também para instalação de painéis, foi feito um desenho de seu perímetro em todos os blocos, conforme apresentado na Figura 26 a seguir. 43 Figura 26 Esquema representativo das fachadas Fonte: O Autor (2017). 3.2 ESTUDO DAS REGIÕES SOMBREADAS Foi feito um estudo das regiões sombreadas, via uma simulação com o software SketchUp 2016 PRO, aquelas prejudicadas pela presença de árvores ou mesmo pela proximidade de um prédio em relação ao outro, visto que essas regiões podem prejudicar a eficiência a geração, pois o sistema trabalha segundo a eficiência da pior célula conectada em série com as demais. A partir dos desenhos tridimensionais, foram definidas as regiões sombreadas para cada fração de 3 horas do dia, espaçamento horário utilizado na pesquisa de Marinoski, et al. (2004), sendo este estudo feito em um período de 12 horas, compreendido das 6:00 às 18:00,em três dias diferentes do ano. De acordo com Marinoski, et al., 2004, deve-se realizar o estudo de sombreamento para três períodos do ano, nos quais a inclinação do sol é diferente, o solstício de verão (22 de dezembro), solstício de inverno ( 22 de junho) e para os equinócios (21 de março para outono e 23 de setembro a primavera). Essas datas são importantes para o dimensionamento, pois no dia do solstício de verão o sol está incidindo de maneira perpendicular no Trópico de Capricórnio, já no solstício de inverno o sol incide de maneira perpendicular no Trópico de Câncer e nos equinócios, quando o sol incide perpendicularmente na linha do equador. (GRIMM, 1999). Por conta desse fato existe uma angulação diferente dos raios solares em relação à superfície terrestre. O estudo do sombreamento foi realizado de acordo com as datas de solstícios e 44 equinócio, já que estas fornecerão as regiões sombreadas mais críticas do ano inteiro, pois é quando os raio solares estão mais inclinados em relação às superfícies de estudo. Caso não fosse observado esse critério, poderia haver um prejuízo na geração da energia solar, visto que as regiões de sombreamento provavelmente não estariam corretamente posicionadas nas coberturas. 3.3 CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA Dos talões de consumo de energia elétrica, fornecidos pela Instituição, foi possível obter o consumo médio, mensal e diário, de energia elétrica, no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2016. Porém, optou-se por utilizar, nessa pesquisa, apenas os valores referentes ao consumo do ano de 2016, pois são mais atuais, visto que a instituição cresceu, em números de alunos, do ano de 2005 até agora. A Tabela 1 apresenta o consumo mensal anual e diário do ano de 2016. Para o dimensionamento do sistema solar, foi utilizado o valor de consumo médio diário, calculado dividindo-se o consumo mensal em kWh pelo número de dias do mês de referência. Tabela 1 Consumo médio mensal e diário de energia Ano: 2016 Mês Consumo médio (kWh) Dias de consumo por mês Consumo médio diário ( kWh/dia) Janeiro 12.776 31 412,12 Fevereiro 26.494 29 913,59 Março 20.788 31 670,58 Abril 27.201 30 906,70 Maio 28.960 31 934,20 Junho 26.735 30 891,17 Julho 22.185 31 715,65 Agosto 18.556 31 598,59 Setembro 28.551 30 951,70 Outubro 31.491 31 1015,85 Novembro 27.889 30 929,65 Dezembro 24.461 31 789,05 Total 296.088 366 - Média 24674,01 31 808,98 Fonte: O Autor (abr, 2017) 45 3.4 DEFINIÇÃO DA POSIÇÃO DE INSTALAÇÃO DOS PAINÉIS SOLARES FOTOVOLTAICOS Com uma bússola, fez se a leitura do azimute magnético, ângulo formado entre o norte magnético, contado em sentido horário, e o alinhamento da fachada frontal do pátio coberto, para determinação da orientação geográfica das fachadas do prédio. Como os blocos encontram-se alinhados, obteve-se em ambiente aberto, já que a proximidade com qualquer tipo de metal influenciava a leitura da bússola, a medida do ângulo referente a apenas uma fachada. O valor do ângulo obtido foi de 28º NE, como mostra a Figura 27. A declinação magnética, que é o ângulo formado entre o meridiano verdadeiro e o meridiano magnético, foi obtida através do site National Oceanic and Atmospheric Administration – US Department of Commerce (NOAA), para a data de 12 de maio de 2017. Esse valor foi de 21º 2’ NW, sendo, portanto um valor negativo. Figura 27 Representação do Norte Magnético e da Declinação Magnética Fonte: O Autor (2017). Dessa forma, o azimute verdadeiro calculado, referente ao alinhamento longitudinal das fachadas frontais e posteriores dos blocos e o norte verdadeiro é de 7º NE, pois, dos 28º 46 NE medidos através da bússola, deve-se diminuir 21º 2’NW referentes à declinação magnética Oeste, como observa-se na Figura 27. É necessário definir o posicionamento dos painéis, que também serão orientados conforme azimute verdadeiro. O melhor posicionamento dos painéis no caso estudado seria locando-os com um ângulo de 7º a Noroeste em relação à fachadas frontais e posteriores, para compensar o azimute de 7º que a fachada faz em relação ao norte verdadeiro. Porém, para o dimensionamento, adotou-se uma solução mais esteticamente adequada, alinhar os painéis com as fachadas das edificações ao invés de volta-los ao norte verdadeiro. 3.5 GANHO POR RADIAÇÃO SOLAR Os dados referentes ao ganho de radiação diária por metro quadrado foram obtidos através de observações diárias da radiação incidente na cidade de Uruaçu, utilizando-se do software Radiasol 2. Esses valores são importantes para o cálculo da potência necessária para instalação do sistema, pois referem-se à quantidade de energia solar que estará disponível diariamente para ser captada e transformada em energia elétrica pelos módulos. No programa é necessário entrar com os dados da localização geográfica do local de instalação do sistema, o azimute referente ao posicionamento do painel e a inclinação do painel em relação ao horizonte. As observações foram feitas para a localização geográfica de 14º 31’ 30” S 49º 08’ 27” O, azimute de 7º e inclinação de 14º, inclinação conforme à latitude da cidade. O programa disponibiliza dados relativos tanto ao ganho por radiação global no plano horizontal como também no plano inclinado. Além disso, o programa também fornece as parcelas do ganho por radiação inclinada da componente difusa inclinada, aquela referente à parcela refletida pela atmosfera e a componente da direta inclinada, aquela referente à parcela recebida diretamente. 3.6 SELEÇÃO DOS PAINÉIS SOLARES FOTOVOLTAICOS Para o dimensionamento foram selecionados quatro tipos de painéis, disponíveis no mercado, a fim de comparação. No critério de seleção todos tinham pelo menos um selo de qualidade (ISO 9001 ou ISO 14001), e registro no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO). Os painéis divergiram quanto aos tipos de células 47 utilizadas no material de base dos módulos, como células de silício cristalino, silício amorfo, telureto
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