Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Topologia Geral Ofelia Alas Lu´cia Junqueira Marcelo Dias Passos Artur Tomita Suma´rio Cap´ıtulo 1. Alguns conceitos ba´sicos 5 Cap´ıtulo 2. Espac¸os topolo´gicos 9 1. Espac¸os topolo´gicos. Conjuntos abertos e fechados. 9 2. Subespac¸os 12 3. Vizinhanc¸as. Bases 13 4. Fecho, interior e fronteira. Conjuntos densos 17 5. Axiomas de enumerabilidade. 20 6. Func¸o˜es cont´ınuas. 22 7. Axiomas de separac¸a˜o. 24 8. Homeomorfismos. Func¸o˜es abertas e fechadas. Topologia mais fina. Topologias geradas por func¸o˜es 32 Cap´ıtulo 3. Operac¸o˜es sobre espac¸os topolo´gicos. 35 1. Subespac¸os. 35 2. Produtos Cartesianos 39 3. Espac¸os quocientes e func¸o˜es quocientes 47 Cap´ıtulo 4. Espac¸os conexos 51 Cap´ıtulo 5. Espac¸os compactos 55 1. Introduc¸a˜o 55 2. Espac¸os compactos 55 3. O Teorema de Tychonoff 62 4. Espac¸os localmente compactos 65 5. Espac¸os de Lindelo¨f 68 6. Espac¸os enumeravelmente compactos 70 7. Famı´lias localmente finitas e paracompacidade 72 Cap´ıtulo 6. Espac¸os me´tricos 79 1. Espac¸os me´tricos 79 2. Espac¸os me´tricos compactos e completos 81 3 CAP´ıTULO 1 Alguns conceitos ba´sicos Neste cap´ıtulo introduziremos alguns conceitos ba´sicos e notac¸o˜es da teoria dos conjuntos que sera˜o usados ao longo desta apostila. Definic¸a˜o 1.1. Sejam A e B dois conjuntos. (i) Diremos que A e´ um subconjunto de B, denotado por A ⊂ B, se todo elemento de A e´ tambe´m um elemento de B. (ii) Diremos que A e B sa˜o iguais, A = B, se A ⊂ B e B ⊂ A. (iii) O conjunto vazio e´ o u´nico conjunto que na˜o possui nenhum elemento e sera´ denotado por ∅. E 1.1. Diga precisamente o que significa dois conjuntos serem diferentes. E 1.2. Mostre que, para todo conjunto A, ∅ ⊂ A. Usaremos o s´ımbolo ∈ para indicar que um elemento pertence a um conjunto. Note que este elemento pode ser um outro conjunto. Por exemplo, se X e´ um conjunto, {X} e´ o conjunto cujo u´nico elemento e´ X. E´ importante na˜o confundir ∈ com ⊂. A ⊂ B diz que todos elementos de A tambe´m sa˜o elementos de B, ou seja, se x ∈ A, enta˜o x ∈ B. E 1.3. Diga se cada afirmac¸a˜o abaixo e´ verdadeira ou falsa e justifique: (a) ∅ ∈ {∅}; (b) ∅ ∈ ∅; (c) ∅ ⊂ ∅; (d) {a} ∈ {{a}}; (e) a ∈ {b} se e so´ se a = b. Definic¸a˜o 1.2. O conjunto de todos os subconjuntos de um conjunto X e´ chamado conjunto das partes de X. Este conjunto sera´ denotado por P(X). E 1.4. Como e´ o conjunto P({1, 2, 3})? E 1.5. Quantos elementos voceˆ acha que tem o conjunto P({1, 2, 3, 4})? E o conjunto P({1, 2, . . . , n}), onde n e´ um nu´mero inteiro? E 1.6. Diga se cada uma das afirmac¸o˜es abaixo e´ verdadeira ou falsa e justifique: (a) x ∈ X se e so´ se {x} ∈ P(X). (b) {x} ∈ P(X) se e so´ se {x} ⊂ X. (c) {x} ⊂ P(X) se e so´ se x ⊂ X. E 1.7. Mostre que ∅ ∈ P(X) e que X ∈ P(X) , para todo conjunto X. 5 6 1. ALGUNS CONCEITOS BA´SICOS E´ comum vermos famı´lias de conjuntos que estejam indexadas pelos inteiros positivos, algo do tipo {A1, A2, A3, . . .}. Mas podemos tambe´m usar outros conjuntos (que sera˜o cha- mados conjuntos de ı´ndices) para indexar famı´lias de conjuntos. Por exemplo, o conjunto {]p, q[⊂ R : p, q ∈ Q} e´ o conjunto de todos intervalos abertos de R com extremos racionais. E 1.8. Escreva explicitamente os conjuntos: (a) {2n+ 1 : n ∈ N, 1 ≤ n < 9}; (b) {2r : r ∈ R}; (c) {rq : r ∈ R e q ∈ Q}; (d) { n m : n,m ∈ N, n 6= 0}; (e) {i : i ∈ {j}}. Recordamos que dados dois conjuntos A e B, a unia˜o de A e B, denotada por A∪B, e´ o conjunto {x : x ∈ A ou x ∈ B}. A intersecc¸a˜o de A e B, denotada por A ∩ B, e´ o conjunto {x : x ∈ A e x ∈ B}. De modo geral podemos definir: Definic¸a˜o 1.3. Seja C = {Ai : i ∈ I} uma famı´lia de conjuntos. (i) A unia˜o de C e´ o conjunto {x : x ∈ Ai para algum i ∈ I}. Este conjunto sera´ denotado por ⋃ C, ou ⋃ {Ai : i ∈ I}, ou ainda ⋃ i∈I Ai. (ii) Se C 6= ∅, a intersecc¸a˜o de C e´ o conjunto {x : x ∈ Ai para todo i ∈ I}. Este conjunto sera´ denotado por ⋂ C, ou ⋂ {Ai : i ∈ I}, ou ainda ⋂ i∈I Ai. Quando tomamos uma unia˜o (ou intersecc¸a˜o) de uma colec¸a˜o finita de conjuntos, e´ comum dizermos simplesmente unia˜o (ou intersecc¸a˜o) finita. E 1.9. Mostre que para quaisquer conjuntos X e Y : (a) ⋃ {X} = X; (b) ⋃ {X,Y } = X ∪ Y ; (c) ⋂ {X,Y } = X ∩ Y (d) ⋃ P(X) = X; (e) ⋂ P(X) = ∅; (f) X ∩ {Y } 6= ∅ se e so´ se Y ∈ X. E 1.10. Em cada um dos ı´tens abaixo, diga quem e´ ⋃ C e ⋂ C: (a) C = {[−n, n] : n ∈ N, n 6= 0}. (b) C = {(− 1 n , 1 n ) : n ∈ N, n 6= 0}. (c) C = {(−1 + 1 n , 1− 1 n ) : n ∈ N, n 6= 0}. (d) C = {(a, b) : a, b ∈ Q, a < b}. (e) C = {[r,+∞) : r ∈ R}. E 1.11. Seja C = {Ai : i ∈ I} uma famı´lia de conjuntos. Mostre que ⋂ C ⊂ Ai ⊂ ⋃ C, para todo i ∈ I. 1. ALGUNS CONCEITOS BA´SICOS 7 Definic¸a˜o 1.4. Sejam A e B dois conjuntos. O complemento de A em relac¸a˜o a B , denotado por B \ A, e´ o conjunto {x : x ∈ B e x /∈ A}. E 1.12. Prove as seguintes afirmac¸o˜es abaixo: (a) Se A ⊂ X, enta˜o X \ (X \ A) = A. (b) Se A,B ⊂ X, enta˜o A ⊂ B se e so´ se X \ A ⊃ X \B. (c) Se A,B ⊂ X, enta˜o A = B se e so´ se X \ A = X \B. (d) Se A,B ⊂ X, enta˜o A \B = A ∩ (X \B). Teorema 1.5. (Leis de De Morgan) Seja C uma famı´lia de subconjuntos de X. Enta˜o (1) X \ ⋃ C = ⋂ {X \ A : A ∈ C} e (2) X \ ⋂ C = ⋃ {X \ A : A ∈ C}. Demonstrac¸a˜o: Exerc´ıcio. � E 1.13. Sejam A e B dois conjuntos. Mostre que: (a) A ∩B = A se e so´ se A ⊂ B. (b) A ∪B = A se e so´ se B ⊂ A. (c) A ∩B = A e A ∪B = A se e so´ se A = B. E 1.14. Se A ⊂ B e C ⊂ D sa˜o conjuntos, mostre que: (a) A ∩ C ⊂ B ∩D e (b) A ∪ C ⊂ B ∪D. E 1.15. (Propriedade distributiva) Seja C uma colec¸a˜o de subconjuntos de um conjunto X e B ⊂ X. Mostre que: (a) B ∩ ( ⋃ C) = ⋃ {B ∩ A : A ∈ C} e (b) B ∪ ( ⋂ C) = ⋂ {B ∪ A : A ∈ C}. E 1.16. Seja C uma colec¸a˜o na˜o vazia de subconjuntos de X e B ⊂ X. Mostre que: (a) B ∪ ( ⋃ C) = ⋃ {B ∪ A : A ∈ C} e (b) B ∩ ( ⋂ C) = ⋂ {B ∩ A : A ∈ C} E 1.17. Dados A = {x ∈ P(N) : 2 ∈ x} ∪ {x ∈ P(N) : 3 ∈ x} e B = {x ∈ P(N) : pelo menos um divisor de 6 pertence a x}. (a) Mostre que se {xi : i ∈ I} e´ uma famı´lia qualquer de elementos de A, enta˜o ⋃ {xi : i ∈ I} e´ um elemento de A. O mesmo vale para intersecc¸a˜o? (b) Determine A ∪B e A ∩B. E 1.18. Escreva explicitamente o conjunto P(X), onde X e´: (a) X = {∅, {∅}}; (b) X = {3, {1, 4}}; (c) X = {a, {a}, {a, {a}}}; (d) X = P({a}); (e) X = P({a, b}). E 1.19. Mostre ou deˆ contraexemplo: (a) A ∩ (B \ C) = (A ∩B) \ C; (b) A ⊂ B ∩ C se e so´ se A ⊂ B e A ⊂ C; (c) A ⊂ B ∪ C implica A ⊂ B ou A ⊂ C; (d) B ∩ C ⊂ C implica que B ⊂ A ou C ⊂ A. (e) A ∩B = A e A ∪B = A se e so´ se A = B. 8 1. ALGUNS CONCEITOS BA´SICOS E 1.20. Se A e B sa˜o dois conjuntos, a diferenc¸a sime´trica entre A e B e´ o conjunto A△B = (A \B) ∪ (B \ A). Mostre: (a) A△B = B△A; (b) (A△B)△C = A△(B△C); (c) A ∩ (B△C) = (A ∩B)△(A ∩ C); (d) A ∪B = (A△B)△(A ∩B). CAP´ıTULO 2 Espac¸os topolo´gicos O objetivo deste cap´ıtulo e´ introduzir va´rias noc¸o˜es ba´sicas de topologia. 1. Espac¸os topolo´gicos. Conjuntos abertos e fechados. Definic¸a˜o 2.1. Um espac¸o topolo´gico e´ um par (X, T ), onde X e´ um conjunto e T e´ uma colec¸a˜o de subconjuntos de X satisfazendo as seguintes propriedades: (1) O conjunto vazio e o conjunto X sa˜o elementos de T . (2) A intersecc¸a˜o finita (na˜o vazia) de elementos T e´ um elemento de T . (3) A unia˜o qualquer de elementos de T e´ um elemento de T . Neste caso dizemos que T e´ uma topologia sobre X (ou que X esta´ munido da topologia T ) e que X e´ o suporte do espac¸o topolo´gico (X, T ). Os elementos de X sa˜o chamados de pontos do espac¸o. Por abuso de notac¸a˜o, quando estiver claro qual e´ a topologia, denotaremos o espac¸o topolo´gico simplesmente por X. Definic¸a˜o 2.2. Os elementos de Tsa˜o chamados de abertos de X. Como consequeˆncia da definic¸a˜o de topologia temos que os abertos satisfazem as seguintes propriedades: (i) o conjunto vazio e o espac¸o todo sa˜o conjuntos abertos; (ii) a intersecc¸a˜o finita de abertos e´ aberta; (iii) a unia˜o qualquer de abertos e´ um aberto. Definic¸a˜o 2.3. Seja X um espac¸o topolo´gico. Dizemos que um subconjunto F de X e´ fechado se e somente se X \ F e´ um conjunto aberto. Usando as leis de De Morgan, podemos ver que as seguintes propriedades esta˜o satisfeitas: Proposic¸a˜o 2.4. Para um espac¸o topolo´gico X temos: (1) O espac¸o todo e o conjunto vazio sa˜o subconjuntos fechados. (2) A unia˜o finita de conjuntos fechados e´ um conjunto fechado. (3) A intersecc¸a˜o de qualquer colec¸a˜o de conjuntos fechados e´ um conjunto fechado. Demonstrac¸a˜o: Vamos verificar, por exemplo, que (3) esta´ satisfeita. Seja F uma colec¸a˜o de subconjuntos fechados de X. Por definic¸a˜o, para mostrar que ⋂ {F : F ∈ F} = ⋂ F e´ um conjunto fechado precisamos mostrar que X \ ⋂ F e´ um conjunto aberto. Usando as leis de De Morgan, temos X \ ⋂ {F : F ∈ F} = ⋃ {X \ F : F ∈ F}. Enta˜o, como para cada F ∈ F , X \ F e´ um conjunto aberto, temos que X \ ⋂ {F ∈ F} e´ uma unia˜o de abertos, e portanto e´ um aberto pela propriedade (3). � Antes de prosseguirmos com a teoria, daremos va´rios exemplos de espac¸os topolo´gicos: 9 10 2. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS Exemplo 2.5. Topologia discreta. Seja X um conjunto e seja T a colec¸a˜o de todos os subconjuntos de X, i.e. T = P(X). E´ facil verificar que T satisfaz as condic¸o˜es (1)-(3) da definic¸a˜o 2.1. Dizemos que X esta´ munido da topologia discreta ou que (X, T ) e´ o espac¸o topolo´gico discreto. Exemplo 2.6. Topologia cao´tica. Seja X um conjunto e seja T o conjunto cujos dois u´nicos elementos sa˜o ∅ e X, i.e. T = {∅, X}. Claramente T e´ uma topologia sobre X. Note que se X e´ um conjunto contendo mais de um ponto, enta˜o a topologia discreta e a topologia cao´tica sa˜o distintas. Note, tambe´m, que qualquer topologia sobre X conte´m a topologia cao´tica e esta´ contida na topologia discreta. E 2.1. Seja X = {0, 1}. Quais sa˜o as poss´ıveis topologias em X? Passaremos agora a alguns exemplos menos triviais de espac¸os topolo´gicos: Exemplo 2.7. Topologia cofinita. Seja X um conjunto infinito e defina T = {∅} ∪ {V ⊆ X : X \ V e´ finito }. E 2.2. Mostre que T do exemplo anterior e´ uma topologia sobre o conjunto X. E 2.3. Se X um conjunto infinito e T = {∅} ∪ {V ⊆ X : V e´ finito }, enta˜o T e´ uma topologia sobre X? Justifique. Para o pro´ximo exemplo precisaremos da seguinte definic¸a˜o: Definic¸a˜o 2.8. Um conjunto X e´ enumera´vel se X e´ finito ou se existe um bijec¸a˜o entre X e o conjunto dos nu´meros naturais N. Exemplo 2.9. Topologia coenumera´vel. SejaX um conjunto na˜o-enumera´vel e defina T = {∅} ∪ {V ⊆ X : X \ V e´ enumera´vel }. E 2.4. Mostre que a topologia T do exemplo anterior e´ uma topologia sobre o conjunto X. E 2.5. Seja X um conjunto na˜o-enumera´vel e seja T1 a topologia discreta sobre X, T2 a topologia cao´tica sobre X, T3 a topologia cofinita sobre X e T4 a topologia coenumera´vel sobre X. Compare as topologias duas a duas com relac¸a˜o a inclusa˜o. Exemplo 2.10. A reta real com a topologia usual. Vamos denotar este espac¸o topolo´gico por R. Um subconjunto A sera´ aberto nesta topologia se e somente se para cada ponto x de A existe um ǫ > 0 tal que ]x− ǫ, x+ ǫ[ esta´ contido em A. E 2.6. Verifique que a topologia usual e´ de fato uma topologia sobre a reta real. O pro´ximo espac¸o topolo´gico aparecera´ diversas vezes como contra-exemplo: Exemplo 2.11. A reta de Sorgenfrey A reta de Sorgenfrey tem como suporte o conjunto dos nu´meros reais, mas a topologia e´ diferente da topologia usual da reta. Um subconjunto A nesta topologia sera´ aberto se e somente se para cada ponto x em A existe um ǫ > 0 tal que [x, x+ ǫ[ esta´ contido em A. Iremos denotar a reta de Sorgenfrey por RS. 1. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS. CONJUNTOS ABERTOS E FECHADOS. 11 E 2.7. Verifique que de fato foi definida uma topologia no exemplo acima. Verifique que se A e´ um conjunto aberto na topologia usual da reta, enta˜o A e´ um conjunto aberto na topologia de Sorgenfrey. Segue abaixo mais exerc´ıcios sobre conjuntos abertos e conjuntos fechados. E 2.8. Mostre que se X e´ um espac¸o topolo´gico com a topologia discreta, enta˜o todo subconjunto de X e´ aberto e fechado. No exerc´ıcio anterior vimos um exemplo de espac¸o topolo´gico no qual todos os subcon- juntos sa˜o abertos e fechados. De modo geral, em um espac¸o topolo´gico qualquer podemos ter subconjuntos abertos e fechados (por exemplo o ∅), conjuntos que sa˜o so´ abertos ou so´ fechados e podem existir conjuntos que na˜o sa˜o nem abertos e nem fechados. Um conjunto que e´ aberto e fechado ao mesmo tempo sera´ chamado de conjunto aberto- fechado. E 2.9. Mostre que os intervalos da forma [a, b[ e da forma ]a, b] (a, b reais, a < b) na˜o sa˜o nem abertos e nem fechados em R. E 2.10. Considere os espac¸os topolo´gicos (R, I), (R,D), (R, T ), (R,F) e RS, onde I e´ a topologia cao´tica, D e´ a topologia discreta, T e´ a topologia usual em R e F e´ a topologia cofinita. (a) Se x ∈ R, {x} e´ aberto em algum desses espac¸os? Quais? (b) Se x ∈ R, {x} e´ fechado em algum desses espac¸os? Quais? (c) Em quais desses espac¸os o conjunto ]a, b[ e´ aberto? Em quais e´ fechado? E os conjuntos [a, b[, ]a, b] e [a, b]? (d) O conjunto {x ∈ R : x 6= 1 n } e´ aberto em algum desses espac¸os? E´ fechado? (e) O conjunto {x ∈ R : x 6= 1 n e x 6= 0} e´ aberto em algum desses espac¸os? E´ fechado? E 2.11. Seja X um conjunto e T1 e T2 duas topologias distintas sobre X. (a) T1 ∩ T2 e´ uma topologia sobre X? Justifique. (b) T1 ∪ T2 e´ uma topologia sobre X? Justifique. 1.1. Espac¸os me´tricos. Uma classe especial de espac¸os topolo´gicos sa˜o os espac¸os me´tricos. Vamos primeiro recordar a definic¸a˜o destes espac¸os: Definic¸a˜o 2.12. Um espac¸o me´trico e´ um par (M,d), onde M e´ um conjunto e d e´ uma func¸a˜o do conjunto M ×M em R+ (o conjunto dos reais na˜o negativos) satisfazendo as seguintes propriedades: (M1) para todos x, y ∈M , d(x, y) = 0 se e somente se x = y. (M2) para todos x, y ∈M temos que d(x, y) = d(y, x). (M3) para todos x, y e z em M , d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z). Lembramos que a propriedade (M3) e´ chamada de desigualdade triangular. A func¸a˜o d e´ chamada de me´trica ou distaˆncia sobre M . Por abuso de notac¸a˜o, quando estiver claro qual a me´trica, denotaremos o espac¸o me´trico simplesmente por M . 12 2. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS Definic¸a˜o 2.13. Seja (M,d) um espac¸o me´trico, x um elemento deM e ǫ um nu´mero real positivo. Chamamos de bola aberta de centro x e raio ǫ ao conjunto { y ∈M : d(x, y) < ǫ}, o qual denotaremos por Bd(x, ǫ) (ou simplesmente por B(x, ǫ) quando estiver claro qual e´ a me´trica utilizada). Chamamos de bola fechada de centro x e raio ǫ ao conjunto { y ∈ M : d(x, y) ≤ ǫ}, ao qual denotaremos por Bd[x, ǫ] (ou simplesmente por B[x, ǫ] quando na˜o houver ambiguidade). Lembramos que a reta real e´ um espac¸o me´trico com a seguinte distaˆncia: para todos x, y ∈ R, d(x, y) = |x− y|, onde | | e´ a func¸a˜o mo´dulo. Nesta me´trica, B(x, ǫ) =]x− ǫ, x+ ǫ[. Assim como no caso da topologia usual na reta, para cada espac¸o me´trico podemos definir uma topologia utilizando as bolas abertas: Definic¸a˜o 2.14. Seja (M,d) um espac¸o me´trico e Td a colec¸a˜o de subconjuntos de M definida por: Td = {U ⊆M : para cada x ∈ U existe ǫ > 0 tal que B(x, ǫ) ⊆ U}. Dizemos que Td e´ a topologia associada a me´trica d. E 2.12. Verifique que de fato Td e´ uma topologia sobre M . Mostre que toda bola aberta e´ um conjunto aberto do espac¸o (M, Td). E 2.13. Seja X o espac¸o topolo´gico associado a uma me´trica d.Verifique que asbolas fechadas sa˜o conjuntos fechados. E 2.14. Seja (M,d) um espac¸o me´trico. Defina as func¸o˜es d′ e d∗ do seguinte modo: para cada x, y ∈M , d′(x, y) = min{d(x, y), 1} e d∗(x, y) = 2d(x, y). Verifique que d′ e d∗ sa˜o me´tricas sobre M e que Td = Td′ = Td∗. Observac¸a˜o 2.15. Note que nem toda topologia esta´ associada a uma me´trica. Um exemplo simples e´ a topologia cao´tica num conjunto com mais de um ponto. Alia´s, como veremos futuramente, o caso em que a topologia esta´ associada a uma me´trica e´ um caso “especial”. E 2.15. Seja X um conjunto e defina uma me´trica d em X por d(x, y) = 0 se x = y e d(x, y) = 1 se x 6= y. Mostre que a topologia associada a me´trica d e´ a topologia discreta. E 2.16. Considere as seguintes me´tricas em R2: d((x1, y1), (x2, y2)) = √ (x1 − x2)2 + (y1 − y2)2 (me´trica euclidiana), d′((x1, y1), (x2, y2)) = |x1 − x2|+ |y1 − y2| e d′′((x1, y1), (x2, y2)) = max{|x1−x2|, |y1−y2|}, para todos (x1, y1), (x2, y2) ∈ R 2. Verifique se as topologias associadas a essas me´tricas sa˜o iguais ou na˜o. 2. Subespac¸os Lema 2.16. Se (X, T ) e´ um espac¸o topolo´gico e Y um subconjunto de X, enta˜o a famı´lia O = {Y ∩ U : U ∈ T } forma uma topologia sobre Y . 3. VIZINHANC¸AS. BASES 13 Demonstrac¸a˜o: Exerc´ıcio. � Podemos enta˜o dar a seguinte definic¸a˜o: Definic¸a˜o 2.17. Seja (X, T ) um espac¸o topolo´gico e Y um subconjunto de X. Se O = {Y ∩U : U ∈ T }, enta˜o dizemos que (Y,O) e´ um subespac¸o de X, e que O e´ a topologia induzida por X. Definic¸a˜o 2.18. Dado um subespac¸o Y de um espac¸o topolo´gico X, diremos que Y e´ um subespac¸o fechado se Y e´ um subconjunto fechado de X. De forma ana´loga, definimos subespac¸o aberto. E 2.17. Seja X um espac¸o topolo´gico infinito com a topologia cofinita. Se Y e´ um subconjunto infinito de X, como e´ a topologia em Y induzida por X? Proposic¸a˜o 2.19. Seja X um espac¸o topolo´gico e M um subespac¸o de X. Um conjunto A ⊆M e´ fechado em M se e somente se existe um fechado F de X tal que F ∩M = A. Demonstrac¸a˜o: (⇒) Se A ⊆ M e´ fechado em M , enta˜o M \ A e´ aberto em M , portanto existe um aberto U em X tal que U ∩M = M \A. Enta˜o F = X \ U e´ um fechado tal que F ∩M = (X \ U) ∩M = M \ (M ∩ U) = M \ (M \ A) = A. (⇐) Seja F um fechado de X. Enta˜o X \ F e´ um aberto de X. Logo, M ∩ (X \ F ) = M\(M∩F ) e´ um aberto deM . Portanto,M\(M\(M∩F )) = M∩F e´ um fechado deM . � Fica a cargo do leitor verificar a seguinte proposic¸a˜o: Proposic¸a˜o 2.20. Seja X um espac¸o topolo´gico e M um subespac¸o de X. Enta˜o, dado um subconjunto L de M , as topologias induzidas em L por X e M coincidem. Proposic¸a˜o 2.21. Seja (M,d) um espac¸o me´trico e Y um subconjunto de M . Se res- tringirmos a me´trica d ao conjunto Y × Y , temos uma me´trica sobre Y . Podemos enta˜o definir em Y a topologia induzida por essa me´trica. Essa topologia coincide com a topologia de subespac¸o induzida por M . Demonstrac¸a˜o: Exerc´ıcio. � Exemplo 2.22. O intervalo [0, 1] com a topologia induzida pela me´trica usual e´ um subespac¸o fechado da reta real R com a topologia usual. Note que o intervalo ]a, 1] (onde 0 < a < 1) e´ aberto em [0, 1] (verifique!), mas na˜o e´ aberto em R. E 2.18. Mostre que Z, o conjunto dos nu´meros inteiros, e´ um subespac¸o discreto de R, isto e´, a topologia induzida por R e´ a topologia discreta. Mostre que o subespac¸o A = { 1 n : n ∈ N \ {0}} tambe´m e´ discreto. A ∪ {0} tambe´m e´ discreto? 3. Vizinhanc¸as. Bases Definic¸a˜o 2.23. Seja X um espac¸o topolo´gico e x um elemento de X. Dizemos que um subconjunto A de X e´ uma vizinhanc¸a de x se existe um aberto U tal que x ∈ U ⊆ A. Quando a vizinhanc¸a e´ um conjunto aberto, dizemos que e´ uma vizinhanc¸a aberta. Observac¸a˜o 2.24. Segue imediatamente da definic¸a˜o, que todo aberto e´ uma vizinhanc¸a dos seus pontos, ou seja, se U e´ aberto e x ∈ U , enta˜o U e´ uma vizinhanc¸a de x. 14 2. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS Definic¸a˜o 2.25. Seja X um espac¸o topolo´gico e seja x um ponto de X. Dizemos que uma colec¸a˜o Vx de subconjuntos de X e´ um sistema fundamental de vizinhanc¸as de x se (i) cada V em Vx e´ uma vizinhanc¸a de x; (ii) cada vizinhanc¸a de x conte´m algum elemento de Vx. Definic¸a˜o 2.26. Se Vx e´ um sistema fundamental de vizinhanc¸as de um ponto x em X e se os elementos de Vx sa˜o conjuntos abertos, enta˜o dizemos que Vx e´ uma base (local) para o ponto x ou que e´ um sistema fundamental de vizinhanc¸as abertas de x. O pro´ximo resultado pode ser muito u´til para mostrarmos que um conjunto e´ aberto: Proposic¸a˜o 2.27. As seguintes afirmac¸o˜es sa˜o equivalentes: (i) U e´ um conjunto aberto; (ii) para cada x ∈ U existe uma vizinhanc¸a Vx de x contida em U ; (iii) para cada x ∈ U existe um aberto Vx contido em U e tal que x ∈ Vx. Demonstrac¸a˜o: O fato que (i) implica (ii) segue da observac¸a˜o feita acima: se U e´ aberto e x ∈ U , enta˜o U e´ uma vizinhanc¸a de x e U ⊆ U . Suponha agora que vale (ii). Fixe x ∈ U e uma vizinhanc¸a Vx de x contida em U . Pela difinic¸a˜o de vizinhac¸a temos que existe um aberto Wx tal que x ∈ Wx ⊆ Vx e enta˜o temos (iii). Resta apenas mostrar que (iii) implica (i). Seja U satisfazendo (iii). Para cada x ∈ U fixe um aberto Vx ⊆ U tal que x ∈ Vx. Teremos enta˜o que U = ⋃ {Vx : x ∈ U}. Logo U e´ aberto, pois e´ uma unia˜o de abertos. � Corola´rio 2.28. Para cada x em um espac¸o topolo´gico X, seja Vx o conjunto de todas as vizinhanc¸as de x. Enta˜o U ⊆ X e´ aberto se e somente se U ∈ Vx para todo x ∈ U . Demonstrac¸a˜o: Exerc´ıcio. � Os seguintes exemplos sa˜o deixados como exerc´ıcio: Exemplo 2.29. Seja X o espac¸o topolo´gico associado a uma me´trica d. Enta˜o para cada x ∈ X, o conjunto das bolas de centro x e raio 1 n , onde n = 1, 2, ..., forma uma base de abertos para o ponto x. Exemplo 2.30. Seja x um ponto da reta de Sorgenfrey. Enta˜o, o conjunto dos intervalos semi-abertos [x, x+ 1 n [, onde n = 1, 2, ..., forma uma base de abertos para o ponto x. Definic¸a˜o 2.31. Seja (X, T ) um espac¸o topolo´gico. Dizemos que uma colec¸a˜o B de conjuntos abertos de X e´ uma base de abertos para o espac¸o topolo´gico X se todo aberto pode ser escrito como a unia˜o de uma subcolec¸a˜o de elementos de B, i.e., para todo V ∈ T , existe B′ ⊆ B tal que V = ⋃ B′. Proposic¸a˜o 2.32. Seja B uma colec¸a˜o de abertos de X. Enta˜o B e´ uma base da topologia se e somente se, para todo aberto V e todo ponto x de V , existe U ∈ B tal que x ∈ U ⊆ V . Demonstrac¸a˜o: Exerc´ıcio. � E 2.19. Seja X um espac¸o topolo´gico associado a uma me´trica d. Mostre que o conjunto de todas as bolas abertas forma uma base para X. 3. VIZINHANC¸AS. BASES 15 E 2.20. Mostre que cada intervalo semi-aberto [x, x+ ǫ[ e´ um conjunto aberto na reta de Sorgenfrey. Mostre tambe´m que o conjunto dos intervalos semi-abertos forma uma base de abertos para este espac¸o. E 2.21. (a) Mostre que se B e´ uma base de um espac¸o topolo´gico X, enta˜o, para cada x em X, a famı´lia B(x) = {B ∈ B : x ∈ B} e´ uma base para o ponto x. (b) Mostre tambe´m que, por outro lado, se para cada x ∈ X, B(x) e´ uma base para o ponto x, enta˜o a unia˜o B = ⋃ {B(x) : x ∈ X} e´ uma base para X. Diversas propriedades de um espac¸o topolo´gico que estudaremos dependera˜o apenas de uma base de abertos ao inve´s do conjunto de todos os abertos. Em particular, no caso de propriedades envolvendo um ponto x, muitas delas dependera˜o apenas de uma base de abertos no ponto x. Por isso, em muitos casos, fica mais conveniente (e mais claro) definir a topologia em func¸a˜o de uma base de abertos ou dos sistemas fundamentais de vizinhanc¸as de cada ponto do espac¸o. Vejamos primeiro quais propriedades sa˜o necessa´rias para que possamos definir uma topologia a partir de uma famı´lia de subconjuntos de modo que esta famı´lia seja uma base. Definic¸a˜o 2.33. Seja B uma colec¸a˜ode subconjuntos de um conjunto X e seja B∗ a colec¸a˜o de todos os subconjuntos de X que sa˜o unio˜es de elementos de B (inclusive a unia˜o vazia). Se B∗ e´ uma topologia sobre X, enta˜o B∗ e´ chamada de topologia gerada por B, e B e´ uma base para a topologia B∗. Olhando a definic¸a˜o acima e´ natural perguntar quais propriedades a colec¸a˜o B precisa ter para que possamos garantir que B∗ e´ uma topologia sobre X. O exerc´ıcio seguinte mostra que essa pergunta faz sentindo, ou seja, na˜o e´ verdade que B∗ e´ sempre uma topologia: E 2.22. Seja B a colec¸a˜o de todos os intervalos fechados [a, b] da reta real tais que a < b. Mostre que a colec¸a˜o B∗, de todas as poss´ıveis unio˜es de elementos de B, na˜o e´ uma topologia sobre os reais. A seguinte proposic¸a˜o nos da´ uma condic¸a˜o nescessa´ria e suficiente sobre a colec¸a˜o B para que B∗ seja uma topologia: Proposic¸a˜o 2.34. Sejam X um conjunto e B uma colec¸a˜o de subconjuntos de X satis- fazendo as seguintes propriedades: (1) Para cada U1, U2 ∈ B e cada x ∈ U1 ∩ U2, existe U ∈ B tal que x ∈ U ⊆ U1 ∩ U2. (2) Para cada x ∈ X, existe U ∈ B tal que x ∈ U . Enta˜o, a colec¸a˜o B∗, formada pelas unio˜es de subcolec¸o˜es de B e´ uma topologia sobre X e B e´ uma base para o espac¸o topolo´gico (X,B∗). Demonstrac¸a˜o: Para verificarmos que ∅ ∈ B∗, basta tomar a unia˜o da subcolec¸a˜o vazia. Temos que X e´ um elemento de B∗, pois, X = ⋃ B, por (2). Vamos mostrar apenas que a intersecc¸a˜o de dois elementos de B∗ esta´ em B∗ (para intersecc¸a˜o finita qualquer e´ ana´logo ou segue por induc¸a˜o). Sejam U, V ∈ B∗ e x ∈ U ∩ V qualquer. Pela definic¸a˜o de B∗, temos que existe B′ ⊆ B tal que U = ⋃ B′. Como x ∈ U , temos que existe U ′ ∈ B′ tal que x ∈ U ′ ⊆ U . Como B′ ⊆ B, U ′ ∈ B. Analogamente, existe V ′ ∈ B tal que x ∈ V ′ ⊆ V . Sendo assim, x ∈ U ′ ∩ V ′, e por (1), posso fixar Wx ∈ B tal que x ∈ Wx ⊆ U ′ ∩ V ′. Portanto, Wx ⊆ U ∩ V . Podemos enta˜o, para todo x ∈ U ∩ V achar Wx 16 2. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS coma acima e assim U ∩ V = ⋃ {Wx : x ∈ U ∩ V }. Como {Wx : x ∈ U ∩ V } ⊆ B, temos que U ∩ V ∈ B∗. Falta apenas verificarmos que a unia˜o qualquer de elementos de B∗ e´ um elemento de B∗ . Seja U uma subcolec¸a˜o de B∗. Para cada U ∈ U , existe uma subcolec¸a˜o B(U) de B tal que U = ⋃ B(U). Enta˜o ⋃ U = ⋃⋃ {B(U) : U ∈ U}. Basta agora notar que ⋃ {B(U) : U ∈ U} e´ uma subcolec¸a˜o de B. Pela definic¸a˜o de base temos que B e´ uma base para a topologia B∗. � Observac¸a˜o 2.35. Se X e´ um espac¸o topolo´gico e B e´ uma famı´lia de subconjuntos abertos de X satisfazendo as propriedades (1) e (2) da proposic¸a˜o acima, enta˜o a topologia gerada por B na˜o precisa ser a topologia original, pore´m, claramente qualquer aberto da topologia gerada por B sera´ um aberto da topologia original. E 2.23. Seja X um conjunto na˜o enumera´vel e fixemos um ponto x0 de X. Seja B = {{x} : x ∈ X \ {x0}} ∪ {A ⊆ X : x0 ∈ A e X \ A e´ enumera´vel }. Verifique que B satisfaz as condic¸o˜es (1) e (2) da proposic¸a˜o 2.34. Veremos agora como definir a topologia a partir dos sitemas fundamentais de vizinhanc¸as de cada ponto. Usando a difinic¸a˜o de vizinhanc¸a e´ fa´cil mostrarmos: Proposic¸a˜o 2.36. Seja X um espac¸o topoloo´gico e para cada x ∈ X denotemos por Vx o conjunto de todas as vizinhanc¸asde x. Enta˜o vale que: (I) x ∈ V , para todo V ∈ Vx; (II) se V1 e V2 pertencem a Vx, enta˜o V1 ∩ V2 tambe´m pertence a Vx; (III) se V ∈ Vx e V ⊆ U ⊆ X, enta˜o U ∈ Vx; (IV) se V ∈ Vx, enta˜o existe U ∈ Vx tal que U ⊆ V e U ∈ Vy, para todo y ∈ U . Teorema 2.37. Seja X um conjunto na˜o vazio e suponhamos que para cada x ∈ X esta´ associado um conjunto Vx de subcojuntos de X de modo que as condic¸o˜es I, II, III e IV acima estejam verificadas. Enta˜o existe uma u´nica topologia T sobre X de modo que cada Vx seja o conjunto das vizinhanc¸as de x em (X, T ). Demonstrac¸a˜o: Com efeito, seja T = {U ⊆ X : U ∈ Vx para todo x ∈ U}. Enta˜o T e´ uma topologia sobre X. E´ imediato que o ∅ e X pertencem a T e que a intersecc¸a˜o finita e a reunia˜o qualquer de elementos de T pertence a T . Note que o conjunto U em IV sera´ aberto em T . Em vista disso, em (X, T ) cada Vx sera´ o conjunto de todas as vizinhanc¸as de x, para todo x ∈ X. Mostremos agora a unicidade da topologia. Suponhamos que T ′ fosse uma topologia sobre X tal que Vx e´ o conjunto das vizinhanc¸as de x em (X, T ′), para todo x ∈ X. Enta˜o, se U ∈ T ′, U ∈ Vx, para todo x ∈ U e U pertenceria a T . Por outro lado, se U ∈ T , enta˜o U ∈ Vx, para todo x ∈ U e U seria aberto em T ′. � Exemplo 2.38. O plano de Niemytzki. Seja L o conjunto de todos os pontos do plano com a segunda coordenada maior ou igual a zero, ou seja, L = { (x, y) ∈ R2 : y ≥ 0 }. Denotemos por L1 a reta y = 0 e seja L2 = L \ L1. Para cada x ∈ L1 e r > 0, seja U(x, r) o conjunto de todos os pontos em L no interior da bola de raio r tangente a L1 no ponto 4. FECHO, INTERIOR E FRONTEIRA. CONJUNTOS DENSOS 17 x e seja Ui(x) = U(x, 1 i ) ∪ {x} para i = 1, 2, . . .. Para cada x ∈ L2 e r > 0, seja V (x, r) o conjunto de todos os pontos de L dentro do c´ırculo de raio r e centro x e seja Ui(x) = V (x, 1 i ) para i = 1, 2 . . .. Para cada x ∈ L, seja Bx = {Ui(x)} ∞ i=1. E´ fa´cil verificar que a colec¸a˜o B = ⋃ {Bx : x ∈ L} satisfaz as condic¸o˜es 1) e 2) da proposic¸a˜o 2.34. O conjunto L1 e´ fechado com respeito a` topologia gerada pelo sistema de vizinhanc¸as abertas {Bx}x∈L. O espac¸o L e´ chamado de Plano de Niemytzki. E 2.24. Mostre que no exemplo acima, L1 com a topologia de subespac¸o e´ discreto. 4. Fecho, interior e fronteira. Conjuntos densos Seja (X, T ) um espac¸o topolo´gico. Definic¸a˜o 2.39. Um ponto x ∈ A e´ ponto interior de A se existe V ∈ T tal que x ∈ V ⊆ A. Ao conjunto dos pontos interiores chamamos interior de A e denotamos por A˚. E 2.25. Mostre que A e´ aberto se e somente se A˚ = A. Definic¸a˜o 2.40. Um ponto x ∈ X e´ ponto aderente (ou ponto de clausura, ou ponto de fecho) de A se para todo V ∈ T tal que x ∈ V tem-se que V ∩ A 6= ∅. Definic¸a˜o 2.41. Um ponto x ∈ X e´ ponto de acumulac¸a˜o de A se para todo V ∈ T tal que x ∈ V tem-se (V \{x})∩A 6= ∅. Ao conjunto dos pontos de acumulac¸a˜o de A chamamos derivado de A. E 2.26. Mostre que nas definic¸o˜es de ponto aderente e ponto de acumulac¸a˜o poder´ıamos substituir “para todo V ∈ T ” por “para todo V ∈ calV x, onde calV x e´ um sistema funda- mental de vizinhanc¸as de x qualquer. E 2.27. Seja X = {1, 2, 3} e T = {∅, {1}, {1, 2}, X}. Mostre que 3 e´ ponto de acumulac¸a˜o de {1} e de {1, 2} e que 1 na˜o e´ ponto de acumulac¸a˜o de {1, 2}. E 2.28. Sobre o conjunto dos nu´meros reais R considere a topologia T abaixo definida: um subconjunto V de R pertence a T se e somente se para cada x ∈ V \ Q existe ǫx > 0 tal que ]x − ǫx, x + ǫx[⊆ V . Mostre que qualquer que seja A ⊆ R, A na˜o tem pontos de acumulac¸a˜o racionais. Por outro lado, se x ∈ R e´ ponto de acumulac¸a˜o de um subconjunto A nesta topologia T , tambe´m sera´ ponto de acumulac¸a˜o de A na topologia habitual de R. E 2.29. Na reta de Sorgenfrey mostre que 1 na˜o e´ ponto de acumulac¸a˜o de [0, 1]; no entanto, e´ ponto de acumulac¸a˜o na reta real. Veremos agora o conceito de fecho de um conjunto, que esta´ relacionado com o conceito de ponto adereˆncia, como veremos a seguir. Definic¸a˜o 2.42. Seja (X, T ) um espac¸o topolo´gico e seja A um subconjunto de X. O fecho (ou adereˆncia ou clausura) de A e´ a intersecc¸a˜o de todos os fechados que conte´m A e sera´ denotado por A T ou clT (A). Quando estiver claro qual a topologia, denotaremos por A X ou clX(A), ou simplesmente por A ou cl(A). O operador fecho e´ a func¸a˜o que associa a cada subconjunto de X o seu fecho. Como vimos anteriormente, a intersec¸ca˜o de conjuntos fechados e´ um conjunto fecha- do. Segue enta˜o da definic¸a˜o defecho a seguinte proposic¸a˜o, cuja demonstrac¸a˜o fica como exerc´ıcio. 18 2. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS Proposic¸a˜o 2.43. Seja X um espac¸o topolo´gico e A ⊆ X. Enta˜o: (i) A e´ um conjunto fechado; (ii) A ⊆ A; e (iii) A e´ o menor fechado contendo A, i.e., se F e´ conjunto fechado e A ⊆ F , enta˜o A ⊆ F . A seguinte caracterizac¸a˜o de fecho e´ muito u´til e relaciona fecho com pontos aderentes: Proposic¸a˜o 2.44. Para cada A ⊆ X as seguintes condic¸o˜es sa˜o equivalentes: (i) o ponto x pertence a A. (ii) para cada vizinhanc¸a V de x temos V ∩ A 6= ∅. (iii) para todo sistema fundamental de vizinhanc¸as Vx do ponto x, para cada V ∈ Vx temos que V ∩ A 6= ∅. Demonstrac¸a˜o: Para mostrar que (i) ⇒ (ii), suponhamos que x ∈ A e seja V uma vizinhanc¸a de x. Pela definic¸a˜o de vizinhanc¸a, existe um aberto U tal que x ∈ U ⊆ V . Como V ∩A ⊇ U ∩A, basta mostrar que U ∩A 6= ∅. De fato, se U ∩A = ∅, enta˜o A ⊆ X \U . O conjunto U e´ aberto, logo, o conjunto X \ U e´ fechado por definic¸a˜o. Portanto, pela proposic¸a˜o acima, temos que A ⊆ X \ U , ou seja, U ∩ A = ∅, contradic¸a˜o, pois x ∈ U ∩ A. Com isto mostramos que U ∩ A 6= ∅. E´ fa´cil ver que (ii) ⇒ (iii). So´ resta mostrar que (iii)⇒ (i). Suponha que (i) na˜o esteja satisfeita, ou seja, que x /∈ A. Enta˜o, pela definic¸a˜o de fecho, existe um fechado F contendo A tal que x /∈ F . Logo X \F e´ uma vizinhanc¸a aberta de x e portanto existe V ∈ Vx tal que V ⊆ X \F , ou seja, V ∩F = ∅. Como A ⊆ F , isso implica que V ∩ A = ∅, contradizendo (iii). � Corola´rio 2.45. O fecho de um conjunto A e´ o cojunto dos pontos aderentes de A. E 2.30. Calcule os fechos dos seguintes subconjuntos da reta dos reais com relac¸a˜o a`s diferentes topologias dadas no exerc´ıcio 2.10: (a) (0, 1); (b) [0, 1]; (c) [0, 1); (d) (0, 1]; (e) {0}; (f) Q; (g) { 1 n : n ∈ Z \ {0}}; (h) ∅. E 2.31. Sejam X = {a, b, c, d} e T = {∅, X, {a}, {a, b}, {c, d}, {a, c, d}} uma topologia sobre X. Calcule {a, d} e {b, d}. E 2.32. Mostre que um conjunto e´ fechado se, se somente se, ele e´ igual ao seu fecho E 2.33. Mostre que o interior de um conjunto A e´ o maior aberto (com relac¸a˜o a inclusa˜o) que esta´ contido em A. E 2.34. Mostre que x e´ um ponto de acumulac¸a˜o de A se e somente se x ∈ A \ {x}. Definic¸a˜o 2.46. Um ponto x ∈ X e´ ponto de fronteira de A se para todo V ∈ T tal que x ∈ V tem-se V ∩ A 6= ∅ e V ∩ (X \ A) 6= ∅. Ao conjunto dos pontos de fronteira de A chamamos fronteira de A e denotamos por Fr(A). 4. FECHO, INTERIOR E FRONTEIRA. CONJUNTOS DENSOS 19 E 2.35. Mostre que: (i) Fr(A) = A ∩X \ A e (ii) A e´ aberto-fechado se e somente se Fr(A) = ∅. No pro´ximo teorema temos as principais propriedades do operador fecho: Teorema 2.47. O operador fecho em um espac¸o topolo´gico X tem as seguintes proprie- dades: (1) ∅ = ∅. (2) (A) = A. (3) Para todo A,B ⊆ X, temos A ∪B = A ∪B. Demonstrac¸a˜o: As propriedades (1) e (2) seguem diretamente da definic¸a˜o de fecho e do fato de A ser um conjunto fechado. Vamos mostrar agora que a propriedade (3) e´ va´lida. “⊇” : Pela proposic¸a˜o 2.43, temos que A ⊆ A ∪ B ⊆ A ∪B, e que isso implica que A ⊆ A ∪B. Analogamente, temos que B ⊆ A ∪B e portanto temos que A ∪B ⊆ A ∪B. “ ⊆ ” : Por outro lado, temos que A ⊆ A e B ⊆ B, e portanto, temos que A∪B ⊆ A∪B. Como o u´ltimo conjunto e´ uma unia˜o de dois conjuntos fechados, ele e´ um conjunto fechado. Utilizando a proposic¸a˜o 2.43 novamente, segue enta˜o que A ∪B ⊆ A ∪B. Com isto, mostramos que a igualdade em (3) esta´ satisfeita. � E 2.36. E´ verdade que para quaisquer subconjuntos A e B de um espac¸o topolo´gico X (i)A ∩B = A ∩B e (ii) A \B = A \B? Prove ou deˆ contraexemplos. E 2.37. Seja X um espac¸o topolo´gico e M um subespac¸o de X. Mostre que se A e´ um subconjunto de M , enta˜o A M = A X ∩M . Definic¸a˜o 2.48. Seja X um espac¸o topolo´gico. Dizemos que um subconjunto D de X e´ denso em X se o fecho de D e´ igual a X. Claramente X e´ denso em X. Vamos dar alguns outros exemplos menos triviais: Exemplo 2.49. O conjunto Q dos racionais e´ um conjunto denso na reta de Sorgenfrey. Exemplo 2.50. Se X e´ um espac¸o discreto, enta˜o X e´ o u´nico subconjunto denso de X. Exemplo 2.51. Se X e´ um espac¸o cao´tico, enta˜o qualquer subconjunto na˜o-vazio e´ denso em X. E 2.38. Mostre as afirmac¸o˜es feitas nos exemplos acima. E 2.39. Mostre que as seguintes afirmac¸o˜es sa˜o equivalentes para um espac¸o topolo´gico X: (i) D e´ denso em X; (ii) D ∩ U 6= ∅, para todo aberto na˜o-vazio U em X; (iii) para qualquer base B de X, D ∩B 6= ∅, para todo B ∈ B. E 2.40. (i) Seja X um conjunto infinito com a topologia cofinita. Mostre que um sub- conjunto D de X e´ denso se, e somente se, D e´ infinito. (ii) Seja X um conjunto na˜o-enumera´vel com a topologia coenumera´vel. Mostre que um subconjunto D de X e´ denso se, e somente se, D e´ na˜o-enumera´vel. 20 2. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS E 2.41. Mostre que D e´ denso em R se, e somente se, D e´ denso em RS. E 2.42. Seja X um espac¸o topolo´gico e D ⊆ X. Prove que D e´ denso em X se, e somente se, D ∩ V = V , para todo aberto V . 5. Axiomas de enumerabilidade. Definic¸a˜o 2.52. Seja X um espac¸o topolo´gico. (a) Se cada ponto do espac¸o X possui um sistema fundamental de vizinhanc¸as que e´ enumera´vel, dizemos que ele satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade. (b) Quando X possui uma base enumera´vel, dizemos que X satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade. (c) Dizemos que X e´ separa´vel ou que satisfaz o terceiro axioma de enumerabilidade, se possui um conjunto denso enumera´vel. Exemplo 2.53. Seja (X, d) um espac¸o me´trico. Para todo ponto x de X, temos que {Bd(x, 1 n ) : n = 1, 2, . . .} e´ um sistema fundamental de vizinhanc¸as de x, logo X satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade. Exemplo 2.54. Considere a reta real com a topologia usual. Facilmente tem-se que Q e´ denso em R, logo a reta real e´ separa´vel. Ale´m disso, {]r − 1 n , r + 1 n [: r ∈ Q, n = 1, 2, . . .} e´ uma base que e´ enumera´vel. Portanto R satisfaz tambe´m o primeiro e o segundo axioma de enumerabilidade. Note que {]a, b[: a < b e a, b ∈ Q} tambe´m e´ uma base enumera´vel de R. Exemplo 2.55. Seja X um conjunto na˜o-enumera´vel com a topologia cofinita. Enta˜o nenhum ponto de X tem sistema fundamental de vizinhanc¸as enumera´vel. E 2.43. Mostre a afirmac¸a˜o do exemplo anterior. X e´ separa´vel? O que acontece quando X e´ um conjunto enumera´vel? E 2.44. Considere o espac¸o definido no exerc´ıcio 2.23. Prove que somente o ponto x0 na˜o tem sistema fundamental de vizinhanc¸as que seja enumera´vel. E 2.45. Prove que todo espac¸o que satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade satisfaz tambe´m o primeiro. E 2.46. Mostre que se X e´ enumera´vel e satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade, enta˜o X tambe´m satisfaz o segundo axioma da enumerabilidade. Proposic¸a˜o 2.56. Todo espac¸o topolo´gico X satisfazendo o segundo axioma de enume- rabilidade e´ separa´vel. Demonstrac¸a˜o: Por hipo´tese, existe uma base de abertos B de X que e´ enumera´vel. Podemos assumir, sem perda de generalidade, que cada elemento de B e´ na˜o vazio. Logo, para cada U ∈ B, podemos fixar um ponto xU pertencente a U . Claramente D = {xU : U ∈ B} e´ um subconjunto enumera´vel de X e, para cada aberto U ∈ B, xU ∈ U ∩D. Logo, segue do exerc´ıcio 2.39, que D e´ um subconjunto denso. � Veremos agora que a rec´ıproca da Proposic¸a˜o 2.56 vale no caso dos espac¸os me´tricos: Proposic¸a˜o 2.57. Seja X um espac¸o topolo´gico associado a uma me´trica d. Enta˜o X satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade se e somente se X e´ separa´vel. 5. AXIOMAS DE ENUMERABILIDADE. 21 Demonstrac¸a˜o: (⇒) Segue da Proposic¸a˜o 2.56. (⇐) Suponhamos que X e´ separa´vel e seja D um subconjunto enumera´vel denso de X. Vamos mostrar que a famı´liaB = {Bd(x, 1 n ) : x ∈ D e n = 1, 2, . . .} e´ uma base de abertos de X. Seja y ∈ X e U uma vizinhanc¸a aberta de y. Como as bolas abertas de centro y formam uma base para o ponto y, existe um ǫ > 0 tal que Bd(y, ǫ) ⊆ U . Seja m um inteiro positivo tal que 2 m < ǫ. Como D e´ denso, existe um ponto x ∈ D tal que x ∈ Bd(y, 1 m ). Como d(x, y) = d(y, x), temos que y ∈ Bd(x, 1 m ). Ale´m disso, se z ∈ Bd(x, 1 m ), enta˜o d(y, z) ≤ d(y, x) + d(x, z) < 1 m + 1 m < ǫ, ou seja z ∈ Bd(y, ǫ). Logo Bd(x, 1 m ) ⊆ Bd(y, ǫ). Enta˜o y ∈ Bd(x, 1 m ) ⊆ Bd(y, ǫ) ⊆ U . Como y e U eram arbitra´rios temos que B e´ uma base de abertos de X. Como B e´ enumera´vel (pois D e´ enumera´vel), temos que X satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade. � Vimos anteriormente que o conjunto dos racionais e´ denso na reta de Sorgenfrey e por- tanto ela e´ separa´vel. Temos tambe´m que ela satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade pois, para cada x ∈ RS, a famı´lia {[x, x + 1 n [}∞n=1 e´ uma base enumera´vel para o ponto x. Veremos agora que a reta de Sorgenfrey na˜o satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade. Isto mostra que a proposic¸a˜o acima na˜o vale para espac¸os topolo´gicos arbitra´rios, mesmo que estes satisfac¸am o primeiro axioma de enumerabilidade. Teorema 2.58. A reta de Sorgenfrey na˜o satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade. Demonstrac¸a˜o: Suponhamos por contradic¸a˜o que B seja uma base enumera´vel para RS. Como B e´ uma base, para cada x ∈ RS, podemos fixar um aberto Ux ∈ B tal que x ∈ Ux ⊆ [x, x + 1[. Note que Ux 6= Uy, sempre que x 6= y. De fato, se x 6= y, sem perda de generalidade, podemos assumir que x < y. Como Uy ⊆ [y, y + 1[, teremos que x /∈ Uy. Portanto, Ux \ Uy 6= ∅. Podemos enta˜o construir uma func¸a˜o injetora do conjunto dos reais no conjunto B, o que e´ uma contradic¸a˜o, pois na˜o existe uma func¸a˜o injetora de um conjunto na˜o enumera´vel num conjunto enumera´vel. � Teorema 2.59. Para um espac¸o topolo´gico X satisfazendo o segundo axioma de enume- rabilidade, cada base B conte´m uma subcolec¸a˜o enumera´vel que forma uma base. Demonstrac¸a˜o: Como X satisfaz o segundo axioma de enumerabilidade, podemos fixar uma base enumera´vel B0 para X. Seja B uma base qualquer para X. Seja D o conjunto de todos os pares ordenados (U, V ) tais que U e V sa˜o elementos de B0 e existe um aberto W ∈ B tal que U ⊆ W ⊆ V . Para cada par (U, V ) ∈ D, fixemos um aberto W (U, V ) ∈ B tal que U ⊆ W (U, V ) ⊆ V . Como D e´ enumera´vel, claramente a famı´lia W = {W (U, V ) : (U, V ) ∈ D} e´ um conjunto enumera´vel. Para terminarmos a demonstrac¸a˜o, e´ suficiente mostrar que W e´ uma base de abertos para X. Seja x ∈ X e V uma vizinhanc¸a aberta de x. Como B0 e´ uma base, existe V0 ∈ B0 tal que x ∈ V0 ⊆ V e como B e´ uma base, existe W0 ∈ B tal que x ∈ W0 ⊆ V0. Usando nova- mente que B0 e´ uma base, temos que existe U0 ∈ B0 tal que x ∈ U0 ⊆ W0 ⊆ V0. Portanto, (U0, V0) ∈ D e x ∈ U0 ⊆ W (U0, V0) ⊆ V0 ⊆ V . Mostramos enta˜o que existe W ∈ W tal que x ∈ W ⊆ V . Como x e V eram arbitra´rios, conclu´ımos que W e´ uma base de X. � Definic¸a˜o 2.60. Uma sequeˆncia em X e´ uma enumerac¸a˜o {xn : n ∈ N} tal que xn ∈ X, para cada n ∈ N. Dizemos que uma sequeˆncia {xn : n ∈ N} converge para x, se, para cada vizinhanc¸a V de x, o conjunto {n ∈ N : xn /∈ V } e´ finito. 22 2. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS E 2.47. Verifique que uma sequeˆncia {xn : n ∈ N} converge para x se, e somente se, para cada vizinhanc¸a V de x, existe n0, tal que xn ∈ V , para todo n ≥ n0. E 2.48. Verifique que se X e´ a reta real, enta˜o a definic¸a˜o de convergeˆncia de sequeˆncias coincide com a definic¸a˜o dada nos cursos de Ca´lculo. E 2.49. Seja X um espac¸o topolo´gico que satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade. Mostre que, para cada ponto x ∈ X, existe uma base {Bn : n ∈ N} no ponto x tal que Bn+1 ⊆ Bn, para todo n ∈ N. Proposic¸a˜o 2.61. Sejam X um espac¸o topolo´gico que satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade e A um subconjunto de X. Mostre que, se x ∈ A, enta˜o existe uma sequeˆncia {xn : n ∈ N} em A (i.e., xn ∈ A, para todo n ∈ N) convergindo para x. Demonstrac¸a˜o: Seja x ∈ A. Fixemos B = {Bn : n ∈ N} uma base de abertos no ponto x dada pelo exerc´ıcio anterior. Pela proposic¸a˜o 2.44, temos que Bn∩A 6= ∅, sempre que n ∈ N. Fixemos xn ∈ Bn ∩ A, para cada n ∈ N. Vejamos que {xn : n ∈ N} converge para x. Seja V uma vizinhanc¸a de x. Como B e´ base de abertos no ponto x, temos que Bn0 ⊆ V , para algum n0 ∈ N. Logo xn ∈ Bn ⊆ Bn0 ⊆ V , para todo n ≥ n0. � E 2.50. Mostre que a rec´ıproca da proposic¸a˜o anterior vale, mesmo quando o espac¸o na˜o satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade, ou seja, se A ⊆ X e {xn : n ∈ N} e´ uma sequeˆncia em A convergindo para x, enta˜o x ∈ A. 6. Func¸o˜es cont´ınuas. A noc¸a˜o de func¸a˜o cont´ınua de R em R ou em espac¸os me´tricos e´ definida em termos de ǫ’s e δ’s, logo, pode parecer que esta noc¸a˜o na˜o tenha um ana´logo em espac¸os topolo´gicos. Vamos definir agora a continuidade de uma func¸a˜o para espac¸os topolo´gicos arbitra´rios e veremos que esta noc¸a˜o e´ equivalente a` noc¸a˜o ja´ conhecida para espac¸o topolo´gico associado a uma me´trica. Definic¸a˜o 2.62. Sejam X e Y espac¸os topolo´gicos e seja f uma func¸a˜o de X em Y . Dizemos que f e´ cont´ınua no ponto x se para cada vizinhanc¸a V de f(x) existe uma vizi- nhanc¸a U de x tal que f(U) ⊆ V . Dizemos que f e´ cont´ınua (em um conjunto A) se f e´ cont´ınua em todo ponto x ∈ X (em todo x ∈ A). A demonstrac¸a˜o da seguinte proposic¸a˜o fica como exerc´ıcio: Proposic¸a˜o 2.63. Sejam X e Y espac¸os topolo´gicos e seja f uma func¸a˜o de X em Y . Sa˜o equivalentes: (i) f e´ cont´ınua em x; (ii) para cada vizinhanc¸a aberta V de f(x) existe uma vizinhanc¸a aberta U de x tal que f(U) ⊆ V ; (iii) se Bx e Df(x) sa˜o bases para os pontos x e f(x), respectivamente, enta˜o, para cada V ∈ Df(x) existe um U ∈ Bx tal que f(U) ⊆ V . O pro´ximo exemplo mostra que a definic¸a˜o de continuidade, dada acima, coincide com a de espac¸os me´tricos, quando X e´ um espac¸o me´trico. 6. FUNC¸O˜ES CONTI´NUAS. 23 Exemplo 2.64. Sejam (X, d) e (Y, d′) dois espac¸os me´tricos e sejam T e T ′ as topologias associadas a` d e d′ respectivamente. Para cada x ∈ X, seja Bx o conjunto de todas as bolas abertas de centro x e para cada y ∈ Y , seja Dy o conjunto de todas as bolas abertas de centro y. Pela equivaleˆncia da proposic¸a˜o anterior, uma func¸a˜o f de X em Y e´ uma func¸a˜o cont´ınua do espac¸o topolo´gico (X, T ) no espac¸o topolo´gico (Y, T ′) se e somente se para cada x ∈ X e para cada bola de centro f(x) e raio ǫ > 0, existe uma bola de centro x e raio δ > 0 tal que f(Bd(x, δ)) ⊆ Bd′(f(x), ǫ). Isto equivale a dizer que para cada ponto x ∈ X e para cada ǫ > 0 existe δ > 0 tal que para cada y ∈ X se d(x, y) < δ enta˜o d′(f(x), f(y)) < ǫ. Proposic¸a˜o 2.65. Seja (X, T ) e (Y, T ′) dois espac¸os topolo´gicos. Uma func¸a˜o f de X em Y e´ cont´ınua se e somente se f−1(U) ∈ T , para cada U ∈ T ′, isto e´, a imagem inversa de um aberto de Y e´ um conjunto aberto de X. Demonstrac¸a˜o: (⇒) Seja U ∈ T ′. Dado x ∈ f−1(U), temos que existe Vx ∈ T , vizinhanc¸a de x, tal que f(Vx) ⊆ U , ja´ que f e´ cont´ınua em x. Portanto Vx ⊆ f −1f(Vx) ⊆ f −1(U) e enta˜o segue que f−1(U) = ⋃ {Vx : x ∈ f −1(U)}. Logo f−1(U) ∈ T . (⇐) Sejam x ∈ X e U ∈ T ′, tais que f(x) ∈ U . Enta˜o x ∈ f−1(U) e f−1(U) ∈ T . Logo f−1(U) e´ um vizinhanc¸a aberta de x e f(f−1(U)) ⊆ U . � A proposic¸a˜o acima nos fornece uma equivaleˆncia de continuidade que em geral e´ mais fa´cil de lembrar e que e´ frequentemente usada. Note que ela trata diretamente da continui- dade “global”, ou seja na˜o precisamos primerio definir a continuidade num ponto particular para depois definir a continuidade da func¸a˜o no domı´nio. Proposic¸a˜o 2.66. Para uma func¸a˜o f de um espac¸o topolo´gicoX num espac¸o topolo´gico Y , as seguintes condic¸o˜es sa˜o equivalentes: (i) a func¸a˜o f e´ cont´ınua. (ii) a imagem inversa de cada aberto em uma base B de Y e´ aberta em X. (iii) a imagem inversa de cada fechado de Y e´ um fechado de X. E 2.51. Demonstre a proposic¸a˜o anterior. E 2.52. Seja f : X −→ Y . Mostre que as seguintes afirmac¸o˜es sa˜o equivalentes: (i) a func¸a˜o f e´ cont´ınua; (ii) para cada A ⊆ X temos f(A) ⊆ f(A); (iii) para cada B ⊆ Y temos f−1(B) ⊆ f−1(B). Exemplo 2.67. Se X e´ um espac¸o topolo´gico munido da topologia discreta enta˜o para todo espac¸o topolo´gico Y , qualquer func¸a˜o f de X em Y e´ cont´ınua. Exemplo 2.68. Se Y e´ um espac¸o topolo´gico munido da topologia cao´tica, enta˜o para cada espac¸o topolo´gico X, toda func¸a˜o f de X em Y e´ cont´ınua. Exemplo 2.69. Seja R a reta real com a topologia usual e RS a reta de Sorgenfrey. Defina a func¸a˜o f de RS em R por f(x) = [x], para todo x ∈ RS, onde [x] e´ o maior inteiro ≤ x. Temos enta˜o que f e´ uma func¸a˜o cont´ınua. E 2.53. Mostre que a func¸a˜o f do exemplo acima e´ cont´ınua. E 2.54. Seja X o espac¸o definido no exerc´ıcio 2.23 e f uma func¸a˜o cont´ınua qualquer de X em R. Mostre que existe um subconjunto enumera´vel X0 de X tal que para cada 24 2. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS x ∈ X \X0, temos f(x) = f(x0), ou seja, a menos de um conjunto enumera´vel, a func¸a˜o f e´ igual a func¸a˜o constante de valor f(x0). (Dica: A imagem inversa por f de um ponto e´ fechada) Teorema 2.70. Seja f uma func¸a˜o cont´ınua sobrejetora de um espac¸o topolo´gico X em um espac¸o topolo´gico Y . Enta˜o se D e´ um subconjunto denso de X, o conjunto f(D) e´ um subconjunto denso de Y . Demonstrac¸a˜o: Seja D um subconjunto denso de X. Para mostrarmos que f(D) e´ denso em Y , e´ suficiente mostrar que para cada aberto na˜o vazio V de Y , o conjunto f(D) ∩ V e´ na˜o vazio. Seja V um aberto na˜o vazio de Y . Como f e´ cont´ınua, temos que f−1(V ) e´ um aberto de X. Temos ainda que f−1(V ) 6= ∅, pois f e´ sobrejetora. Portanto, como D e´ denso em X, temos que existe x ∈ D ∩ f−1(V ). Enta˜o f(x) ∈ f(D) ∩ f(f−1(V )) ⊆ f(D) ∩ V e portanto f(D) ∩ V e´ na˜o vazio. Como V era um aberto arbitra´rio de Y , f(D) e´ denso em Y . � Corola´rio 2.71. Seja f uma func¸a˜o cont´ınua sobrejetora de X em Y . Se X e´ separa´vel, enta˜o Y tambe´m e´ separa´vel. Note que o mesmo tipo de resultado na˜o e´ verdade em geral para os outros axiomas de enumerabilidade. Tente achar exemplos. E 2.55. Sejam T1 e T2 duas topologias em um conjunto X. Mostre que a func¸a˜o identidade idX(x) = x do espac¸o topolo´gico (X, T1) no espac¸o topolo´gico (X, T2) e´ cont´ınua se, e somente se, T2 ⊆ T1. E 2.56. Mostre que a composta de func¸o˜es cont´ınuas e´ cont´ınua. E 2.57. Seja X um conjunto infinito com a topologia cofinita. Mostre que se f e´ uma func¸a˜o sobrejetora de X em X, enta˜o f e´ cont´ınua se, e so´ se, f−1({x}) e´ finito, para todo x ∈ X. 7. Axiomas de separac¸a˜o. A definic¸a˜o de espac¸o topolo´gico e´ muito geral e isso leva a ter poucos resultados de interesse que valem para todos os espac¸os topolo´gicos. Por outro lado, assumir que o espac¸o topolo´gico esta´ associado a uma me´trica, por exemplo, e´ uma restric¸a˜o muito grande. Os axiomas de separac¸a˜o consideram diferentes possibilidades para separar pontos e fechados. Definic¸a˜o 2.72. Um espac¸o topolo´gico X e´ chamado de espac¸o T0 se para cada dois pontos x1, x2 ∈ X distintos, existe um aberto que conte´m apenas um desses pontos. A topologia cao´tica num conjunto com mais de um ponto e´ um exemplo de uma topologia que na˜o e´ T0. E 2.58. Seja X um espac¸o topolo´gico. Mostre que X e´ T0 se, e somente se, para cada x, y ∈ X distintos e para cada Bx e By, bases de abertos dos pontos x e y respectivamente, temos Bx 6= By. E 2.59. Mostre que um espac¸o topolo´gico X e´ T0 se, e somente se, {x} 6= {y}, sempre que x 6= y. 7. AXIOMAS DE SEPARAC¸A˜O. 25 Definic¸a˜o 2.73. Seja X um espac¸o topolo´gico. Dizemos que X e´ um espac¸o T1 se para cada dois pontos x, y ∈ X distintos, existe uma vizinhanc¸a de x que na˜o conte´m y. Note que na definic¸a˜o de espac¸o T0 era suficiente que um dos pontos tivesse uma vizi- nhanc¸a que na˜o contivesse o outro ponto. No caso de espac¸o T1 cada um dos dois pontos deve ter uma vizinhanc¸a que na˜o conte´m o outro ponto. Exemplo 2.74. Seja X um conjunto com mais de um ponto e fixemos um ponto x0 em X. Para cada x ∈ X \ {x0} definimos Bx = {{x}} e para o ponto x0, definimos Bx0 = {X}. Temos que {Bx}x∈X satisfaz as propriedades (1) e (2) da proposic¸a˜o 2.34 e portanto gera uma topologia em X. Na topologia gerada pela famı´lia {Bx}x∈X , o espac¸o X e´ T0 mas na˜o e´ T1. E 2.60. Mostre as afirmac¸o˜es feitas no exemplo acima. A seguinte caracterizac¸a˜o de espac¸os T1 e´ muito usada: Proposic¸a˜o 2.75. Seja X um espac¸o topolo´gico. Enta˜o as seguintes afirmac¸o˜es sa˜o equivalentes: (i) X e´ um espac¸o T1. (ii) para cada ponto x de X, o conjunto {x} e´ fechado. Demonstrac¸a˜o: (i) ⇒ (ii). Seja x um ponto de X e vamos mostrar que X \ {x} e´ um conjunto aberto. De fato, se y ∈ X \ {x}, enta˜o y e´ um ponto distinto de x. Pela definic¸a˜o de T1, temos que existe um aberto U que conte´m y mas na˜o conte´m x. Logo, y ∈ U ⊆ X \{x}. Como o ponto y era arbitra´rio, o conjunto X \ {x} e´ aberto e portanto {x} e´ fechado. (ii)⇒ (i). Sejam x e y dois pontos distintos de X. Como {x} e {y} sa˜o fechados, X \{x} e X \ {y} sa˜o conjuntos abertos. Portanto existe uma vizinhanc¸a de x na˜o contendo y e existe uma vizinhanc¸a de y na˜o contendo x. � E 2.61. Seja X um espac¸o topolo´gico. Mostre que as seguintes afirmac¸o˜es sa˜o equivalen- tes: (i) X e´ um espac¸o T1. (ii) para cada ponto x de X existe uma famı´lia Ux de vizinhanc¸as abertas de x tal que⋂ Ux = {x}. (iii) para cada ponto x de X e para cada base Bx de x, temos ⋂ Bx = {x}. Definic¸a˜o 2.76. Um espac¸o topolo´gico X e´ T2, ou de Hausdorff, se para cada par de pontos distintos x, y ∈ X existem vizinhanc¸as U de x e V de y tais que U ∩ V = ∅. E´ fa´cil ver que todo espac¸ de Hausdorff e´ T1. Exemplo 2.77. Seja X um conjunto infinito com a topologia cofinita. Fica como exerc´ıcio verificar que T e´ uma topologia T1 que na˜o e´ T2. E 2.62. Verifique que um espac¸o topolo´gico X e´ de Hausdorff se, e somente se, para cada ponto x de X, a intersecc¸a˜o de todas as vizinhanc¸as fechadas de x e´ o conjunto {x}. E 2.63. Seja X um espac¸o me´trico com a topologia associada a me´trica. Mostre que X e´ um espac¸o T2. 26 2. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS O pro´ximo resultado sera´ utilizado posteriormente: Teorema 2.78. Para cada par f, g de func¸o˜es cont´ınuas de um espac¸o topolo´gico X em um espac¸o de Hausdorff Y , o conjunto {x ∈ X : f(x) = g(x)} e´ um subconjunto fechado de X. Demonstrac¸a˜o: Vamos mostrar que o conjunto A = {x ∈ X : f(x) 6= g(x)} e´ aberto. Seja x ∈ A. Como f(x) 6= g(x) e Y e´ de Hausdorff, existem abertos U contendo f(x) e V contendo g(x) tais que U ∩ V = ∅. Pela continuidade de f , temos que f−1(U) e g−1(V ) sa˜o vizinhanc¸as abertas de x e portanto W = f−1(U) ∩ g−1(V ) e´ uma vizinhanc¸a aberta de x. Resta mostrar que W ⊆ A. De fato, se y ∈ W , enta˜o temos que f(y) ∈ U e g(y) ∈ V . Como U ∩ V = ∅, segue que f(y) 6= g(y) e portanto y ∈ A. Como x ∈ A foi escolhido arbitrariamente, o conjunto A e´ aberto e portanto X \ A = {x ∈ X : f(x) = g(x)} e´ fechado. � Proposic¸a˜o 2.79. Sejam g e h duas func¸o˜es cont´ınuas de um espac¸o topolo´gico X em um espac¸o topolo´gico Hausdorff Y e seja D um conjunto denso em X. Se g ↾ D = h ↾ D, enta˜o g = h. Demonstrac¸a˜o: Se g ↾ D = h ↾ D, enta˜o D ⊆ {x ∈ X : g(x) = h(x)}. Pelo teorema 2.78, temos que {x ∈ X : g(x) = h(x)} e´ um conjunto fechado, portanto X = D ⊆ {x ∈ X : g(x) = h(x)}, ou seja, g = h. � Definic¸a˜o 2.80. Seja X um espac¸o topolo´gico. Dizemosque X e´ T3 se para cada x ∈ X e cada fechado F ⊆ X tal que x /∈ F existem abertos U contendo x e V contendo F tais que U ∩ V = ∅. Dizemos que X e´ um espac¸o regular se X e´ T1 e T3. Todo espac¸o regular e´ T2 pois assumimos explicitamente a propriedade T1 (e portanto todo ponto e´ fechado). Sem assumir a propriedade T1 na definic¸a˜o, o espac¸o cao´tico satisfaz a propriedade de regularidade e na˜o e´ T1. Para alguns autores (por exemplo o Engelking), regular e T3 sa˜o a mesma propriedade e ambas incluem T1. Proposic¸a˜o 2.81. Um espac¸o X e´ T3 se e somente se para cada x ∈ X e para cada vizinhanc¸a aberta W de x existe uma vizinhanc¸a aberta U de x tal que U ⊂ W . Demonstrac¸a˜o: Primeiro suponha que X e´ T3. Seja x ∈ X e W uma vizinhanc¸a aberta de x. Enta˜o X \W e´ um fechado na˜o contendo x e portanto existem abertos U contendo x e V contendo X \W tais que U ∩ V = ∅. Logo U ⊆ X \ V e como X \ V e´ fechado, temos que U ⊆ X \ V . Ale´m disso, temos que X \ V ⊆ X \ (X \W ) = W e portanto U ⊆ W . Para mostramos a rec´ıproca, seja x ∈ X e F um fechado que na˜o conte´m x. Enta˜o X \F e´ uma vizinhanc¸a aberta de x, logo por hipo´tese, existe um aberto U tal que x ∈ U ⊆ U ⊆ X \F . Note que X \U e´ um aberto contendo X \ (X \F ) = F . Ale´m disso, U ∩ (X \U) = ∅, portanto X e´ T3. � Corola´rio 2.82. Um espac¸o X e´ T3 se, e somente se, todo ponto x em X tem um sistema fundamental de vizinhanc¸as fechadas. Demonstrac¸a˜o: Seja Bx uma base de abertos de x em X e defina Vx = {B : B ∈ Bx}. Pela proposic¸a˜o anterior, temos que Vx e´ um sistema fundamental de vizinhanc¸as de x. � E 2.64. Seja X um espac¸o me´trico com a topologia associada a me´trica. Mostre que X e´ um espac¸o T3. 7. AXIOMAS DE SEPARAC¸A˜O. 27 Vamos agora dar um exemplo de um espac¸o Hausdorff que na˜o e´ regular: Exemplo 2.83. Seja X o conjunto dos nu´meros reais e seja Z o conjunto { 1 n : n = 1, 2, . . .}. Para cada x em X seja Bx a seguinte famı´lia de subconjuntos de X: Bx = { {]x− 1 i , x+ 1 i [: i = 1, 2 . . .} se x 6= 0 {]x− 1 i , x+ 1 i [\Z : i = 1, 2 . . .} se x = 0 Note que {Bx}x∈X satisfaz as propriedades (1) e (2) da proposic¸a˜o 2.34 e que o espac¸o X com a topologia gerada pelo sistema de vizinhanc¸as abertas {Bx}x∈X e´ Hausdorff. Vamos verificar agora que X nesta topologia na˜o e´ regular. De fato, o conjunto Z e´ um fechado de X que na˜o conte´m 0. Fica a cargo do leitor verificar que qualquer aberto de X contendo 0 tem intersecc¸a˜o na˜o vazia com um aberto contendo Z. Definic¸a˜o 2.84. Seja X um espac¸o topolo´gico. Dizemos que X e´ um espac¸o T4 se para cada par de fechados F e G disjuntos, existem abertos disjuntos U e V contendo F e G respectivamente. Se X e´ T1 e T4 dizemos que X e´ um espac¸o normal. Um espac¸o normal e´ um espac¸o regular. Como anteriormente, alguns autores colocam normal e T4 como a mesma propriedade, onde ambas incluem a propriedade T1. Analogamente ao caso dos espac¸os regulares, temos a seguinte proposic¸a˜o: Proposic¸a˜o 2.85. Um espac¸o X e´ T4 se, e somente se, para cada par de fechados disjuntos A e B existe um aberto U tal que A ⊆ U ⊆ U ⊆ X \B. Demonstrac¸a˜o: Exerc´ıcio. � Ainda iremos definir uma classe de espac¸os intermedia´ria, entre os espac¸os regulares e os espac¸os normais, portanto na˜o veremos agora um exemplo de espac¸o regular que na˜o e´ normal. Veremos depois que os reais e o intervalo [0, 1] sa˜o espac¸os normais. Na verdade, todos os espac¸os me´tricos sa˜o espac¸os normais. Vamos primeiro mostrar que: Exemplo 2.86. A reta de Sorgenfrey e´ um espac¸o normal. De fato, sejam A e B dois fechados disjuntos de RS. Para cada a ∈ A, fixemos um aberto [a, x(a)) cuja intersecc¸a˜o com B e´ vazia. Analogamente, para cada b ∈ B, fixemos um aberto [b, x(b)) cuja intersecc¸a˜o com A e´ vazia. Sejam U = ⋃ a∈A [a, x(a)) e V = ⋃ b∈B [b, x(b)). Enta˜o U e´ um aberto contendo A e V e´ um aberto contendo B. Para concluirmos a demonstrac¸a˜o de que a reta de Sorgenfrey e´ normal, basta mostrarmos que U ∩ V = ∅. Suponhamos por contradic¸a˜o que existe y ∈ U ∩ V . Enta˜o existe a ∈ A e b ∈ B tal que a ≤ y < x(a) e b ≤ y < x(b). Temos dois casos a considerar: a < b ou b < a. Ambos os casos sa˜o ana´logos, portanto vamos assumir que a < b. Enta˜o temos a < b ≤ y < x(a), ou seja b ∈ [a, x(a)) ∩B, contradizendo a escolha de x(a). Portanto U ∩ V = ∅. Teorema 2.87. Todo espac¸o regular satisfazendo o segundo axioma de enumerabilidade e´ normal. 28 2. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS Demonstrac¸a˜o: Seja X um espac¸o nas condic¸o˜es acima e sejam A e B dois fechados disjuntos de X. Fixemos uma base enumera´vel de abertos B. Pela regularidade deX, para cada a ∈ A, existe uma vizinhanc¸a aberta Ua de a tal que Ua ∈ B e Ua ∩B = ∅. Como B e´ enumera´vel, podemos fixar uma famı´lia {Un : n ∈ N} de abertos de B tal que para cada a ∈ A, existe n ∈ N tal que Ua = Un. Temos enta˜o uma famı´lia de abertos {Un : n ∈ N} tal que ⋃∞ n=0 Un ⊇ A e para cada n ∈ N temos que Un ∩B = ∅. Analogamente, podemos encontrar uma famı´lia de abertos {Vn : n ∈ N} tal que⋃∞ n=0 Vn ⊇ B e para cada n ∈ N temos que Vn ∩ A = ∅. Seja U∗n = Un \ ( ⋃n m=0 Vm). Como cada ⋃n m=0 Vm e´ fechado, U ∗ n e´ um conjunto aberto, para todo n ∈ N, e portanto o conjunto U = ⋃∞ n=0 U ∗ n e´ aberto. Note que A ∩ Un = A ∩ U ∗ n e que A = A ∩ ⋃∞ n=1 Un. Portanto A = A ∩ ⋃∞ n=1 Un = ⋃∞ n=1(A ∩ Un) = ⋃∞ n=1(A ∩ U ∗ n) = A ∩ ⋃∞ n=1 U ∗ n = A ∩ U . Logo, A ⊆ U . Seja V ∗n = Vn \ ( ⋃n m=0 Um) e V = ⋃∞ n=0 V ∗ n . Analogamente, teremos que V e´ um aberto contendo B. Para terminarmos a demonstrac¸a˜o, falta apenas verificar que U ∩V = ∅. Para isso basta mostrar que U∗n∩V ∗ m = ∅ para todo n 6= m. De fato, se n ≤ m, enta˜o, V ∗ m = Vm \ ( ⋃m i=0 Ui) ⊆ Vm \ Un ⊆ X \ Un ⊆ X \ U ∗ n. De modo ana´logo, podemos mostrar que a intersecc¸a˜o e´ vazia se m ≤ n. � Corola´rio 2.88. A reta real R e o intervalo [0, 1] com a topologia induzida pela me´trica usual sa˜o espac¸os normais. Teorema 2.89. Todo espac¸o enumera´vel regular e´ normal. Demonstrac¸a˜o: Basta adaptarmos a demonstrac¸a˜o acima. Como antes, para cada ponto de um dos fechados, podemos achar uma vizinhanca cujo fecho na˜o intercepta o outro fechado. Como o espac¸o e´ enumera´vel, uma quantidade enumera´vel de abertos sera´ suficiente para cobrir os fechados e portanto poderemos encontrar abertos disjuntos contendo os fechados. Os detalhes ficam como exerc´ıcio. � A ide´ia das duas demonstrac¸o˜es anteriores aparecem em outras demonstrac¸o˜es e podem ser usadas para mostrar: E 2.65. Seja X um espac¸o topolo´gico. Suponha que para quaisquer fechados F e K de X, existem famı´lias de abertos {Un}n∈N e {Vn}n∈N tais que F ⊆ ⋃ n∈N Un, K ⊆ ⋃ n∈N Vn e ale´m disso para cada n ∈ N, Un ∩K = ∅ e Vn ∩ F = ∅. Mostre que X e´ T4. O principal resultado desta sec¸a˜o talvez seja: Teorema 2.90. (Lema de Urysohn) Seja X um espac¸o T4. Enta˜o para cada par de fechados disjuntos A e B de X, existe uma func¸a˜o cont´ınua f : X −→ [0, 1] tal que f(x) = 0, para cada x ∈ A, e f(x) = 1, para cada x ∈ B. Demonstrac¸a˜o: Sejam A e B dois fechados disjuntos de X. Seja Q o conjunto de todos os racionais no intervalo [0, 1] e seja {qn : n ∈ N} uma enumerac¸a˜o de Q tal que q0 = 0, q1 = 1 e para cada n,m ∈ N distintos, temos qn 6= qm. Iremos primeiro definir indutivamente uma sequeˆncia de abertos {Un : n ∈ N} satisfa- zendo as seguintes propriedades: (i) A ⊆ Un ⊆ Un ⊆ X \B, para todo n ∈ N; 7. AXIOMAS DE SEPARAC¸A˜O. 29 (ii) para cada n,m ∈ N se qn < qm, enta˜o Un ⊆ Um. Como X e´ T4, existe um aberto U tal que A ⊆ U ⊆ U ⊆ X \ B. Enta˜o podemos tomar U0 = U e claramente as propriedades (i) e (ii) estara˜o satisfeitas. Vamos agora escolher U1. Pelo fato de X ser T4 e pelo fato de que U0 ⊆ X \ B, existe um abertoU1 tal que U0 ⊆ U1 ⊆ U1 ⊆ X \ B. Como q0 < q1, temos que (i) e (ii) esta˜o satisfeitas. Suponhamos por hipo´tese de induc¸a˜o que k > 1 e que ja´ esta˜o definidos {U0, . . . , Uk−1} satisfazendo as condic¸o˜es (i) e (ii) acima. (Caso haja alguma dificuldade, sugerimos ao leitor tentar primeiro assumir que k = 2, para melhor visualizar o que faremos a seguir.) Temos que escolher Uk satisfazendo (i) e (ii). Seja i ∈ {0, . . . , k − 1} tal que qi = maxM , onde M = {qm : 0 ≤ m < k e qm < qk}, i.e. qi e´ o maior racional de {q0, . . . , qk−1} menor que qk. Note que como q0 = 0, o conjunto M e´ na˜o vazio, portanto i esta´ bem definido. Analogamente, seja j ∈ {0, . . . , k − 1} tal que qj = minN , onde N = {qn : 0 ≤ n < k e qn > qk}, i.e. qj e´ o menor racional de {q0, . . . , qk−1} maior que qk. Como q1 = 1, N e´ na˜o vazio e j esta´ bem definido. Obeserve que pela escolha de i e j, temos qi < qj. Pela condic¸a˜o (ii) da hipo´tese de induc¸a˜o, temos enta˜o que Ui ⊆ Uj. Logo, por X ser T4, existe um aberto Uk tal que Ui ⊆ Uk ⊆ Uk ⊆ Uj. Resta apenas verificar que as condic¸o˜es (i) e (ii) esta˜o satisfeitas: Temos (i), pois por hipo´tese de induc¸a˜o, A ⊆ Ui e Uj ⊆ B e escolhemos Uk de modo que Ui ⊆ Uk ⊆ Uk ⊆ Uj. Para checarmos (ii), e´ suficiente considerarmos os casos m = k ou n = k, pois os outros casos valem pela hipo´tese de induc¸a˜o. Suponhamos que n < k e qn < qk (se qn > qk e´ analogo e fica como exerc´ıcio). Vamos primeiro mostrar que Un ⊆ Ui, para i definido acima. Se i = n na˜o ha´ nada a fazer. Se i 6= n, qn < qi pela definic¸a˜o de i. Logo, pela hipo´tese de induc¸a˜o, temos que Un ⊆ Ui ⊆ Ui. Pela definic¸a˜o de Uk, segue que Un ⊆ Ui ⊆ Uk. Portanto a condic¸a˜o (ii) esta´ satisfeita e terminamos assim a construc¸a˜o da sequeˆncia {Un : n ∈ N}. Vamos agora definir a func¸a˜o f usando essa sequeˆncia. Para cada x ∈ X defina f(x) = inf({qn : x ∈ Un} ∪ {1}). Mostraremos que f e´ a func¸a˜o procurada. Primeiro note que, como 0 ≤ qn ≤ 1, para cada n ∈ N, temos que f(x) ∈ [0, 1]. Se x ∈ A, pela propriedade (i), temos que x ∈ Un, para todo n ∈ N. Portanto f(x) = inf{q : q ∈ Q} = 0, para cada x ∈ A. Por outro lado, se x ∈ B, pela propriedade (ii), temos que x /∈ Un, para cada n ∈ N. Logo, f(x) = inf(∅∪ {1}) = 1, para cada x ∈ B. Enta˜o resta apenas verificar que f e´ uma func¸a˜o cont´ınua. Pela equivaleˆncia (ii) da Proposic¸a˜o 2.66, basta mostrar que imagem inversa de cada aberto em uma base B de [0, 1] e´ aberta. Como para todo 0 < a < b < 1, (a, b) = [0, b)∩(a, 1], e´ suficiente mostrar que f−1[0, b) e f−1(a, 1] sa˜o abertos, para cada b tal que 0 < b ≤ 1 e para cada a tal que 0 ≤ a < 1. Vamos primeiro mostrar que f−1[0, b) e´ aberto. Pela definic¸a˜o de f , temos que x ∈ f−1[0, b) se, e somente se, f(x) = inf({qn : x ∈ Un} ∪ {1}) < b. Mas isso acontece se, e somente se, existe qn < b tal que x ∈ Un. Podemos concluir enta˜o que x ∈ f −1[0, b) se, e 30 2. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS somente se, x ∈ ⋃ {Un : qn < b}, ou seja, f −1[0, b) = ⋃ {Un : qn < b}. Como cada Un e´ aberto e unia˜o de conjuntos abertos e´ aberto, temos que f−1[0, b) e´ aberto. Resta apenas mostrar que f−1(a, 1] e´ aberto. Se x ∈ f−1(a, 1], enta˜o f(x) > a, o que implica que existe qn e qm tais que a < qn < qm e x /∈ Um. Mas qn < qm implica que Un ⊆ Um. Portanto temos que x /∈ Un, ou seja x ∈ X \ Un. Mostramos enta˜o que f−1(a, 1] ⊆ ⋃ {X \ Un : qn > a}. Suponha agora que x ∈ ⋃ {X \ Un : qn > a}. Temos enta˜o que x /∈ Un (e portanto x /∈ Un), para algum qn > a. Como Um ⊆ Un se qm < qn, podemos concluir que x /∈ Um para todo qm < qn. Logo, f(x) > a, ou seja, x ∈ f −1(a, 1], pois qn > a. Mostramos assim que f−1(a, 1] = ⋃ {X \ Un : qn > a} e portanto e´ aberto. � Note que vale a rec´ıproca do Lema de Urysohn: Proposic¸a˜o 2.91. Seja X um espac¸o tal que para cada par de conjuntos fechados dis- juntos A e B existe uma func¸a˜o cont´ınua f de X em [0, 1] tal que f(A) ⊆ {0} e f(B) ⊆ {1}. Enta˜o X e´ um espac¸o T4. Demonstrac¸a˜o: Exerc´ıcio. � Observac¸a˜o 2.92. No enunciado acima, exigimos que f(A) ⊆ {0} e f(B) ⊆ {1}. Se ao inve´s disso, tive´ssemos exigido f−1(0) = A e f−1(1) = B a condic¸a˜o seria mais forte que T4. Iremos agora definir uma classe entre os espac¸os regulares e os espac¸os normais: Definic¸a˜o 2.93. Dizemos que um espac¸o topolo´gico X e´ T3 1 2 se para cada ponto x ∈ X e cada fechado F na˜o contendo x, existe uma func¸a˜o real f , cont´ınua, tal que f(x) = 0 e f(F ) ⊆ {1}. Se X e´ T1 e T3 1 2 dizemos que X e´ um espac¸o de Tychonoff ou e´ completamente regular, Como assumimos que espac¸os normais sa˜o T1, temos que os pontos sa˜o fechados e por- tanto, pelo lema de Urysohn, segue que todo espac¸o normal e´ completamente regular. Temos tambe´m: E 2.66. Mostre que todo espac¸o completamente regular e´ regular. Os pro´ximos dois exemplos mostram que: regular 6⇒ completamente regular 6⇒ normal. Exemplo 2.94. Seja M0 = {(x, y) ∈ R 2 : y ≥ 0}, z0 = (0,−1) e M = M0 ∪ {z0}. Seja L a reta y = 0 e para cada i = 1, 2 . . . seja Li = {(x, 0) : i − 1 ≤ x ≤ i}. Para cada ponto z = (x, 0) ∈ L, definimos A1(z) = {(x, y) ∈ R 2 : 0 ≤ y ≤ 2} e A2(z) = {(x+ y, y) ∈ R 2 : 0 ≤ y ≤ 2}. Se z ∈M0 \L, definimos por Bz o conjunto {{z}}. Se z ∈ L, definimos por Bz o conjunto {(A1(z) ∪ A2(z)) \ F : F e´ um subconjunto finito de M0 que na˜o conte´m z }. Finalmente, se z = z0, enta˜o definimos por Bz o conjunto {Ui : i = 1, 2, . . .}, onde para cada i = 1, 2, . . ., Ui = {z0} ∪ {(x, y) ∈ M0 : 0 ≤ y e x ≥ i}. Fica a cargo do leitor fazer a simples verificac¸a˜o de que {Bz : z ∈M} de fato gera uma topologia Hausdorff sobre M . Vamos agora mostrar que M e´ um espac¸o regular. Se z ∈ M0, enta˜o z possui uma vizinhanc¸a que e´ aberta e fechada, portanto, basta verificarmos a regularidade para z0 e um fechado na˜o contendo z0. Se F e´ um fechado na˜o contendo z0, existe uma vizinhanc¸a Ui0 de 7. AXIOMAS DE SEPARAC¸A˜O. 31 z0 que e´ disjunta de F . Temos enta˜o que existe um aberto V contendo F que e´ disjunta da vizinhanc¸a Ui0+2 de z0. Logo M e´ um espac¸o regular. Para verificarmos que M na˜o e´ um espac¸o Tychonoff, basta mostramos que se L1 e´ um fechado que na˜o conte´m o ponto z0 e f e´ uma func¸a˜o cont´ınua tal que f(z) = 1 para cada z ∈ L1, enta˜o f(z0) = 1. Primeiro vamos mostrar que, para cada i = 1, 2, . . ., (*) o conjunto f−1({1}) ∩ Li e´ infinito. Este fato sera´ demonstrado por induc¸a˜o sobre i. Claramente (*) e´ va´lido para i = 1. Suponhamos que (*) e´ va´lido para i ≤ k, onde k ≥ 1, e mostraremos que e´ va´lido para i = k+1. Seja Z um conjunto infinito enumera´vel de Lk tal que f(z) = 1, para cada z ∈ Z. Analogamente ao exerc´ıcio 2.23, para cada ponto z ∈ Z, podemos mostrar que, para apenas um nu´mero enumera´vel de pontos w em (A1(z)∪A2(z)), teremos f(w) 6= 1. Logo,W = {w ∈⋃ z∈Z A2(z) : f(w) 6= 1} e´ um conjunto enumera´vel. Seja L ′ = {z ∈ Lk+1 : A1(z) ∩W 6= ∅}, isto e´, o conjunto dos pontos da projec¸a˜o de W na reta L que pertencem a Lk+1. Enta˜o L ′ tambe´m e´ enumera´vel. Portanto Lk+1 \ L ′ e´ um conjunto infinito (na˜o-enumera´vel). Afirmamos que Lk+1 \ L ′ ⊆ f−1({1}). De fato, seja z′ ∈ Lk+1 \ L ′ e F um subconjunto finito de M0 que na˜o conte´m z ′. Para cada z ∈ Z, temos que A2(z) intercepta A1(z ′) e para z’s distintos o ponto na intersecc¸a˜o e´ distinto, pontanto, para apenas um subconjunto finito Z∗ ⊆ Z, teremos que A2(z) ∩ F 6= ∅. Portanto para cada z ∈ Z \ Z ∗, existe az ∈ A2(z) ∩ (A1(z ′) \ F ). Como z′ /∈ L′, temos que f(az) = 1. Portanto a imagem de toda vizinhanc¸a de z ′ conte´m o ponto 1. Logo, como o espac¸o e´ Hausdorff e f e´ cont´ınua em z′, temos que f(z′) = 1 (verifique!). Com isto, temos que (*) vale para cada i = k + 1, e portanto, mostramos por induc¸a˜o que (*) vale para cada i ∈ {1, 2, . . .}. Para mostrarmos que f(z0) = 1 basta agora notarque a imagem de toda vizinhanc¸a de z0 pela f conte´m o ponto 1, logo segue da continuidade da f em z0 que f(z0) deve ser 1. Exemplo 2.95. O plano de Niemytzki e´ um espac¸o T3 1 2 que na˜o e´ normal. Como na definic¸a˜o do exemplo, denotaremos este espac¸o por L e a reta y = 0 por L1; e´ fa´cil ver que L e´ um espac¸o de Hausdorff. Se x ∈ L1 denotemos por Sn(x) o c´ırculo de raio 1 n , contido em L, que e´ tangente a` reta L1 no ponto. Se x ∈ L \L1 denotamos por Sn(x) a intersecc¸a˜o de L com o c´ırculo de centro x e raio 1 n . Mostremos que L e´ T3 1 2 . Seja x ∈ L e F um fechado ao qual x na˜o pertence; fixemos n ∈ {1, 2, . . .} de modo que o c´ırculo de centro x e raio 1 n esteja contido em L no caso de x na˜o pertencer a L1. Para cada ponto y ∈ Sn(x) seja y ′ o u´nico ponto da fronteira de Sn(x) tal que y pertence ao segmento de extremidades x e y′. Vamos definir uma func¸a˜o fn de L em [0, 1] do seguinte modo: fn(y) = 0 para y = x 1 para y ∈ L \ U1(x) |xy| |xy′| para y ∈ U1(x) \ {x} onde |ab| denota o comprimento do segmento de extremidades a e b. Note que a func¸a˜o esta´ bem definida. Fica a cargo do leitor verificar que a func¸a˜o e´ cont´ınua. Temos enta˜o que fn e´ uma func¸a˜o cont´ınua tal que fn(x) = 0 e fn(F ) ⊆ {1}. Portanto o espac¸o e´ Tychonoff. 32 2. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS Vamos agora mostrar que L na˜o e´ normal. Primeiro, note que L conte´m um subconjunto enumera´vel denso D (por exemplo, o conjunto Q × (Q∩]0,∞[)). Seja C o conjunto das func¸o˜es cont´ınuas de L em R. Pela Proposic¸a˜o 2.79, podemos definir uma func¸a˜o injetora ϕ que leva cada f ∈ C na func¸a˜o f ↾ D. Contudo, existe uma bijec¸a˜o do conjunto das func¸o˜es de D em R no conjunto dos reais. Temos assim que existe uma func¸a˜o injetora do conjunto C no conjunto dos reais. Pela definic¸a˜o da topologia em L e´ fa´cil mostrar que todo subconjunto A de L1 e´ um conjunto fechado (verifique!). Vamos assumir por contradic¸a˜o que L e´ um espac¸o normal. Enta˜o, pelo Lema de Urysohn, para cada subconjunto A de L1 existe uma func¸a˜o cont´ınua fA de L em [0, 1] tal que fA(A) ⊆ {0} e fA(L1 \A) ⊆ {1} (pois A e L1 \A sa˜o fechados em L). Note que se A 6= B, enta˜o fA 6= fB. Logo, temos uma func¸a˜o injetora do conjunto P(L1) de todos os subconjunto de L1, para o conjunto C. Como L1 = R× {0}, temos uma bijec¸a˜o entre P(L1) e P(R). Ale´m disso, vimos acima que existe uma func¸a˜o injetora do conjunto C no conjunto dos reais. Fazendo a composta dessas func¸o˜es, podemos concluir que existe uma func¸a˜o injetora de P(R) em R, o que e´ uma contradic¸a˜o. E 2.67. Seja (X, τ1) um espac¸o topolo´gico. Suponha que τ2 seja outra topologia em X, tal que τ1 ⊆ τ2. Mostre que, se (X, τ1) e´ um espac¸o Ti, enta˜o (X, τ2) tambe´m sera´ Ti, para i = 0, 1, 2. E 2.68. Verifique quais axiomas de separac¸a˜o o espac¸o topolo´gico definido no exerc´ıcio 2.23 satisfaz. E 2.69. Suponha X um conjunto na˜o-vazio munido da topologia coenumera´vel. Mostre que: (i) X e´ sempre T1. (ii) X e´ T2 se, e so´ se, X e´ um conjunto enumera´vel. E 2.70. Consideremos τ a topologia sobre o conjunto dos nu´meros reais R gerada por B = {{x} : x ∈ Q} ∪ {((x− ǫ;x+ ǫ) ∩Q) ∪ {x} : x ∈ R \Q, ǫ > 0}. Mostre que este espac¸o topolo´gico satisfaz T2 mas na˜o satisfaz T3. E 2.71. Seja X um espac¸o de Hausdorff. Mostre que uma sequeˆncia {xn}n∈N de pontos de X converge para, no ma´ximo, um ponto de X. E 2.72. Suponha X um conjunto na˜o-vazio munido da topologia coenumera´vel. Mostre que: (i) X e´ sempre T1. (ii) X e´ T2 se, e so´ se, X e´ um conjunto enumera´vel. (iii) Mostre que toda sequeˆncia de pontos de X converge para, no ma´ximo, um ponto de X. 8. Homeomorfismos. Func¸o˜es abertas e fechadas. Topologia mais fina. Topologias geradas por func¸o˜es Comec¸aremos esta secc¸a˜o definindo a noc¸a˜o de homeomorfismo: 8. HOMEOMORFISMOS. FUNC¸O˜ES ABERTAS E FECHADAS. TOPOLOGIA MAIS FINA. TOPOLOGIAS GERADAS POR Definic¸a˜o 2.96. Sejam 〈X, T 〉 e 〈Y,O〉 dois espac¸os topolo´gicos. Dizemos que uma func¸a˜o bijetora f de X em Y e´ um homeomorfismo de 〈X, T 〉 em 〈Y,O〉 se f e f−1 sa˜o func¸o˜es cont´ınuas. Dois espac¸os topolo´gicos sa˜o ditos homeomorfos quando existe um home- ormorfismo entre eles. E 2.73. Seja f uma bijec¸a˜o de um espac¸o X no espac¸o Y . Verifique que sa˜o equivalentes: (i) f e´ um homeomorfismo. (ii) um subconjunto A de X e´ aberto se e somente se f(A) e´ aberto. (iii) um subconjunto B de X e´ fechado se e somente se f(B) e´ fechado. Fica a cargo do leitor verificar que ser homeomorfo e´ uma relac¸a˜o de equivaleˆncia(isto e´, e´ uma relac¸a˜o reflexiva, sime´trica e transitiva). Definic¸a˜o 2.97. Seja f uma func¸a˜o de X em Y . Enta˜o f e´ uma func¸a˜o aberta se a imagem de todo aberto de X pela f e´ um aberto de Y . Dizemos que f e´ uma func¸a˜o fechada se a imagem de todo fechado de X pela f e´ um fechado de Y . E 2.74. Verifique que uma func¸a˜o cont´ınua aberta (fechada) f de X em Y e´ um homeo- morfismo se e somente se f e´ bijetora. E 2.75. Uma propriedade topolo´gica e´ uma propriedade que e´ preservada por homeomor- fismos, ou seja, se um espac¸o X satisfaz uma propriedade P e Y e´ homeomorfo a X, enta˜o Y tambe´m satisfaz P . Verifique que ser Ti, para i ∈ {0, 1, 2, 3, 3 1 2 , 4}, e´ uma propriedade topolo´gica. Teorema 2.98. As propriedades T1 e T4 sa˜o preservadas por func¸o˜es cont´ınuas fechadas e sobrejetoras. Demonstrac¸a˜o: Seja X um espac¸o T1 e f uma func¸a˜o cont´ınua fechada de X sobre um espac¸o Y . Para mostrarmos que Y e´ T1, basta mostrar que para cada y ∈ Y temos {y} fechado. Fixe y ∈ Y . Como f e´ sobrejetora, existe x ∈ X tal que f(x) = y. Mas X T1 implica que o conjunto {x} e´ fechado. Portanto o conjunto f({x}) = {y} e´ um conjunto fechado de Y . Seja f uma func¸a˜o cont´ınua fechada e sobrejetora de um espac¸o T4 X em um espac¸o Y . Sejam F e G dois conjuntos fechados disjuntos de Y . Enta˜o f−1(F ) e f−1(G) sa˜o fechados disjuntos de X, logo por X ser T4 temos que existem abertos disjuntos U e V tais que f−1(F ) ⊆ U e f−1(G) ⊆ V . Como f e´ uma func¸a˜o fechada, f(X \ U) e f(X \ V ) sa˜o conjuntos fechados de Y . Portanto, Y \ f(X \U) e Y \ f(X \V ) sa˜o abertos de Y . Note que f−1(Y \ f(X \ U)) ⊆ U (pois se x /∈ U enta˜o x ∈ X \ U e assim f(x) ∈ f(X \ U), ou seja f(x) /∈ Y \ f(X \ U)). Analogamente, f−1(Y \ f(X \ V )) ⊆ V . Logo f−1(Y \ f(X \ U)) ∩ f−1(Y \f(X \V )) ⊆ U ∩V = ∅. Como f e´ sobrejetora, Y \f(X \V )∩Y \f(X \U) = ∅. Para conclu´ırmos a demonstrac¸a˜o, resta mostrarmos que F ⊂ Y \f(X\U) e que G ⊆ Y \f(X\U). Vamos apenas mostrar a primeira relac¸a˜o, ja´ que a segunda e´ ana´loga a primeira. Lembramos que f−1(F ) ⊆ U , portanto, f(X \ f−1(F )) ⊇ f(X \ U) e F ∩ f(X \ f−1(F )) = ∅. Enta˜o F ⊆ Y \ f(X \ f−1(F )) ⊆ Y \ f(X \ U). � Observac¸a˜o 2.99. O fato acima na˜o e´ va´lido para os outros axiomas de separac¸a˜o. Veremos agora que os axiomas de separac¸a˜o na˜o sa˜o preservados por func¸o˜es abertas. De fato, existe uma func¸a˜o aberta sobrejetora de um espac¸o normal no espac¸o cao´tico. Exemplo 2.100. Sejam R a reta real com a topologia usual e D = {a, b} o espac¸o cao´tico com dois pontos. Defina f de R em D por f(x) = a, para cada x ∈ Q, e f(x) = b, para 34 2. ESPAC¸OS TOPOLO´GICOS cada x ∈ R \ Q. Como D e´ um espac¸o cao´tico f e´ cont´ınua. Por Q ser denso e co-denso, a imagem de todo aberto de R pela f e´ o conjunto {a, b} que e´ aberto. Portanto f e´ uma func¸a˜o aberta. Definic¸a˜o 2.101. Seja X um conjunto e T e U duas topologias sobre X. Dizemos que T e´ uma topologia mais fina que U (ou que U e´ uma topologia menos fina que T ) se T ⊇ U , ou seja, todo aberto em (X,U) e´ aberto em (X, T ). Exemplo 2.102. A topologia de Sorgenfrey e´ mais fina que a topologia usual da reta. A topologia de Niemytzki e´ mais fina que a topologia do semi-plano superior induzida pela
Compartilhar