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Traumatismo Cranio- encefálico Condições Neurológicas II Grupo 1 CN 2- Grupo 1 Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 2 Índice Introdução ..................................................................................................................................... 5 Neuroanatomia ............................................................................................................................. 6 Tronco Encefálico ................................................................................................................... 6 Superfície posterior do tronco encefálico ....................................................................... 7 Superfície anterior do tronco encefálico ......................................................................... 8 Formação reticular............................................................................................................ 10 Meninges ............................................................................................................................... 10 Feixes descendentes ........................................................................................................... 11 Feixes corticoespinhais ................................................................................................... 12 Feixes reticuloespinhais .................................................................................................. 13 Feixe tectoespinhal .......................................................................................................... 14 Feixe rubroespinhal .......................................................................................................... 15 Feixe vestibuloespinhal ................................................................................................... 16 Traumatismo Cranio-encefálico (TCE) ......................................................................................... 18 Mecanismos de lesão .......................................................................................................... 18 Sinais/Sintomas .................................................................................................................... 19 Tipos de TCE ........................................................................................................................ 19 Lesões Primárias .................................................................................................................. 20 Lesões Secundárias ............................................................................................................. 21 Fisiopatologia das lesões secundárias ............................................................................. 21 Etiologia ................................................................................................................................. 22 Epidemiologia ........................................................................................................................ 23 Grupos de risco ................................................................................................................... 23 Prevenção ............................................................................................................................ 23 Quadro clínico consoante a área de lesão ....................................................................... 24 Sequelas e complicações ................................................................................................... 24 Prognóstico TCE ....................................................................................................................... 25 Avaliação e cuidados imediatos a um paciente com TCE ................................................. 25 Avaliação do Fisioterapeuta ........................................................................................................ 26 Avaliação Subjectiva ............................................................................................................ 26 Avaliação objectiva ............................................................................................................... 27 Actividade Funcional ........................................................................................................ 28 Funções do corpo e estruturas ....................................................................................... 28 Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 3 Raciocínio Clínico ............................................................................................................. 30 Pontos-Chave da Avaliação............................................................................................ 31 Evolução e Documentação ............................................................................................. 32 Tratamento do TCE...................................................................................................................... 33 Cuidados Imediatos no local do acidente ......................................................................... 33 Cuidados do paciente em Unidade de Cuidados Intensivos ......................................... 33 Tratamento consoante o tipo de TCE ............................................................................... 34 Tratamento da TCE leve ................................................................................................. 34 Tratamento da TCE moderada ....................................................................................... 34 Tratamento da TCE grave ............................................................................................... 34 Intervenção médica .............................................................................................................. 35 Tratamento farmacológico .................................................................................................. 35 Tratamento Cirúrgico ........................................................................................................... 36 Craniotomia descompressiva, craniectomia descompressiva e cranioplastia ........ 36 Hipertensão intracraniana ............................................................................................... 36 Hematoma subdural/ Indicações cirúrgicas ................................................................. 36 Hematoma epidural .......................................................................................................... 37 Fracturas cranianas/ Indicações cirúrgicas .................................................................. 37 Lacerações do Couro Cabeludo .................................................................................... 37 O estado de coma ................................................................................................................ 38 Estímulos no coma ou programas para despertar do coma ...................................... 38 Recuperação do coma ..................................................................................................... 38 Intervenção Fisioterapêutica no TCE .......................................................................................... 39 Objectivos Gerais: ................................................................................................................ 39 Função respiratória .......................................................................................................... 40 Integridade musculoesquelética ..................................................................................... 41 Intervenção fase após internamento: ................................................................................ 42 Conceito Bobath............................................................................................................... 42 Intervenção – noções gerais - ............................................................................................. 43 Conjuntos Posturais ......................................................................................................... 44 Análise dos conjuntos posturais ..................................................................................... 45 Áreas Chave ...................................................................................................................... 46 Movimento Selectivo e Actividade Funcional ............................................................... 46 A relação entre o movimento automático e voluntário ............................................... 47 Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 4 Handling ............................................................................................................................. 49 Facilitação .......................................................................................................................... 51 Movimento Activo; Learned Nonuse; Neglect; Movimento Passivo ............................. 52 Importância do movimento activo (Gjelsvik, 2008) ......................................................... 52 Feedback ............................................................................................................................... 53 Considerações Finais .......................................................................................................... 53 Outras intervenções: ................................................................................................................... 54 Treino de força ...................................................................................................................... 54 Treadmill training .................................................................................................................. 54 Dispositivos auxiliares ......................................................................................................... 54 Défices cognitivos e de memória e mudança de personalidade (Janet Carr, 2008) ................... 56 Terapia Comportamental (Janet Carr, 2008) .............................................................................. 56 Treino Relacionado com a tarefa (Janet Carr, 2008) ................................................................... 56 Reintegração na comunidade ..................................................................................................... 56 Conclusão .................................................................................................................................... 57 Bibliografia .................................................................................................................................. 59 Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 5 Introdução No âmbito do módulo de Condições Neurológicas II foi entregue um caso sobre traumatismos cranio-encefálicos. Posto isto, foi feita uma pesquisa que incidiu sobre vários aspectos que nos levaram a dar certa importância à estrutura e funções do sistema nervoso central. Para além disso, o trabalho também tem como objectivos focar assuntos mais específicos do tema central como epidemiologia, etiologia, mecanismos de lesão, fisiopatologia, complicações, sequelas, entre outros. Como seria de esperar também será abordada toda a avaliação necessária para um diagnóstico concreto e para perceber qual o estado real do paciente. Depois do diagnóstico, será focada a intervenção no paciente abordando os cuidados a ter no local após o traumatismo, os cuidados médicos, a neurocirurgia se necessária e a abordagem do fisioterapeuta de forma genérica, focando-se no Conceito de Bobath. Após este trabalho pretende-se um maior conhecimento sobre os traumatismos cranio-encefálicos e uma visão do ponto de vista do fisioterapeuta. É também importante uma visão cada vez mais clara de que cada paciente é diferente de outro mesmo que quando afectados pela mesma patologia. Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 6 Neuroanatomia O sistema nervoso central é uma estrutura bilateral e essencialmente simétrica com 7 áreas distintas: a medula espinal (1), o bolbo raquidiano (2), a ponte (3), o mesencéfalo (5), o cerebelo (4), o diencéfalo (6) e os hemisférios cerebrais (7) (Figura 1) (Levitt, 2001) (Lundy-Ekman, 2004). Figura 1: Sistema Nervoso Central. Retirada de (Kandel, Schwartz, & Jessell, 2000) Tronco Encefálico O tronco encefálico consiste no bolbo raquidiano, ponte e mesencéfalo. Localiza-se sobre a parte basilar do osso occipital conectando-se com o cerebelo e sendo recoberto pelo mesmo. O bolbo raquidiano localiza-se entre a parte superior da medula espinal e a margem inferior da ponte e, o mesencéfalo, superiormente, é contínuo com o diencéfalo do prosencéfalo (Figura 2) (Crossman & Neary, 2007) (Lundy-Ekman, 2004). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 7 Figura 2: Secção Sagital do Tronco Encefálico. Adaptado de (Netter, 2003) Superfície posterior do tronco encefálico A parte posterior do tronco encefálico consegue ver-se se o cerebelo for removido cortando-se os 3 pares de pedúnculos. Na superfície do bulbo a linha mediana é marcada pelo sulco mediano posterior contínuo com o da medula espinhal e na parte inferior encontram-se os fascículos grácil e cuneiforme que contém neurónios sensitivos de primeira ordem e terminam nos núcleos grácil e cuneiforme (Figura 3) (Crossman & Neary, 2007) (Lundy-Ekman, 2004). O canal central move-se progressivamente cada vez mais posterior formando o quarto ventrículo (Figura 2) em que as paredes laterais da parte superior do quarto ventrículo são compostas pelos pedúnculos cerebelares superior e inferior que unem o tronco encefálico ao cerebelo (Figura 3) (Crossman & Neary, 2007) (Lundy-Ekman, 2004). Ainda na face posterior conseguem identificar-se 4 elevações que dizem respeito aos colículos superiores e inferiores (Figura 3) que são parte dos sistemas visual e auditivo respectivamente (Crossman & Neary, 2007) (Lundy-Ekman, 2004).. Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 8 Figura 3: Vista posterior do tronco encefálico. Adaptado de (Netter, 2003). Superfície anterior do tronco encefálico Anteriormente encontram-se duas colunas longitudinais, as pirâmides que dão o seu nome ao feixe piramidal e corticospinal subjacente. Existe ainda a decussação das pirâmides que é um local onde a maioria das fibras se cruza. Lateralmente às pirâmides encontra-se a oliva contendo o núcleo olivar inferior que tem conexões com o cerebelo e está envolvido no controlo do movimento (Figura 4) (Crossman & Neary, 2007) (Lundy-Ekman, 2004). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 9 Figura 4: Vista anterior do tronco encefálico. Adaptado de (Netter, 2003). Relativamente ao bolbo raquidiano, as suas redes neuronais coordenam o controlo cardiovascular, a respiração, o movimento da cabeça e a deglutição. Essas actividades são executadas em parte por nervos cranianos com núcleos localizados no bolbo: VII, X e XII (Lundy-Ekman, 2004). Quanto à ponte, esta processa informações motoras do córtex cerebral e remete-as para o cerebelo. Os núcleos pontinos dos nervos cranianos processam informação da face (V), controlam os músculos envolvidos na expressão facial (VII), o movimento lateral dos olhos (VI) e a mastigação (V) (Lundy-Ekman, 2004). O mesencéfalopode ser dividido em pedúnculos da base (formados pelos pedúnculos cerebrais e por um núcleo adjacente – substância negra), tegmento e tecto. O tegmento contém feixes sensitivos, o pedúnculo cerebral superior, o núcleo rubro (recebe informação do cerebelo e do córtex central), o núcleo pedunculopontino (os seus neurónios fazem parte do circuito dos núcleos da base estão envolvidos no inicio e fim da actividade locomotora) e o núcleo do III e IV nervos cranianos. Os colículos superiores, localizados no tecto do mesencéfalo estão envolvidos nos movimentos reflexos dos olhos e da cabeça (Lundy-Ekman, 2004). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 10 Formação reticular A formação reticular consiste numa matriz complexa de neurónios que se estende ao longo de todo o tronco encefálico. A formação reticular tem conexões aferentes e eferentes generalizadas com outras partes do SNC e isso reflecte-se nas suas funções complexas e multimodais. Os centros respiratório e cardiovascular consistem em redes neuronais difusas localizadas na formação reticular do bolbo que controlam os movimentos respiratórios e a função cardiovascular. Os feixes reticuloespinhais descendentes originam-se na formação reticular do bolbo e da ponte influenciando a postura e o tónus muscular. Para além disso, algumas fibras ascendentes formam o sistema reticular activador que recebe aferências de múltiplas fontes sensitivas, causam activação do córtex cerebral e provocam o acordar (Lundy- Ekman, 2004). Os núcleos da rafe são um grupo de núcleos localizados na linha média em que: as fibras ascendentes para o prosencéfalo estão envolvidas nos mecanismos neurais do sono e as fibras descendentes para a medula espinal estão envolvidas na modulação dos mecanismos nociceptivos (Crossman & Neary, 2007). Por último, relativamente ao locus ceruleus (Figura 3), este tem fibras ascendentes que se projectam ao cerebelo, hipotálamo, tálamo, sistema límbico e córtex cerebral e fibras descendentes que se projectam amplamente a todo o tronco encefálico e medula espinal. O locus ceruleus tal como os núcleos da rafe estão responsáveis pelos mecanismos neurais de regulação do sono, particularmente do sono REM (Crossman & Neary, 2007) (Lundy-Ekman, 2004). A formação reticular devido ao grande número de conexões que apresenta com as diferentes partes do sistema nervoso seria de esperar um grande número de funções e, sendo as mais relevantes: • Controlo do músculo-esquelético; • Controlo da sensibilidade somática e visceral; • Controlo do sistema nervoso autónomo; • Controlo do sistema nervoso endócrino; • Influência sobre os ritmos biológicos; • Sistema activador reticular (Snell, 2003). Meninges As meninges circundam o cérebro e a medula espinal e denominam-se de dura-máter, aracnóide-máter e pia-máter (Snell, 2003) (Lundy-Ekman, 2004). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 11 Feixes descendentes (Figura 5) Os neurónios motores localizados nas colunas cinzentas anteriores da medula espinal emitem axónios que vão inervar os músculos esqueléticos. Por vezes, esses neurónios são designados de neurónios motores inferiores e são constantemente “bombardeados” por impulsos nervosos que descem do bolbo, ponte, mesencéfalo e córtex cerebral. Então, as fibras nervosas que descem pela substância branca partindo de vários centros nervosos supra espinhais e que são segregadas em feixes nervosos tomam por nome: feixes descendentes (Snell, 2003) (Lundy-Ekman, 2004). A via descendente, desde o córtex cerebral, é formada por 3 neurónios. O primeiro, neurónio de 1ª ordem, tem o seu corpo celular no córtex cerebral e o seu axónio desce para fazer sinapse com o neurónio de 2ª ordem (situado na coluna cinzenta anterior da medula espinal) que tem um axónio curto e faz sinapse com o neurónio de 3ª ordem (neurónio motor inferior) que também se encontra na coluna cinzenta anterior (Figura 6) e que inerva os músculos esqueléticos (Snell, 2003). Nota: por vezes o neurónio de 1ª ordem termina directamente no neurónio de 3ª ordem; por exemplo, nos arcos reflexos (Snell, 2003) (Lundy-Ekman, 2004). Figura 5: Feixes descendentes. Retirada de (Snell, 2003). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 12 Figura 6: Neurónios dos feixes descendentes. Retirada de (Snell, 2003). Feixes corticoespinhais (Figura 7) Surgem como axónios das células piramidais no córtex cerebral e, a maioria das suas fibras são mielinizadas, delgadas e com baixas velocidades de condução. Este Feixe, ao entrar na ponte, é desagregado em vários feixes que voltam a reunir-se no bolbo ao nível da pirâmide. Na junção do bolbo com a medula espinal, a maioria das fibras cruza a linha média na decussação das pirâmides entrando na coluna branca lateral (formam o Feixe corticoespinal lateral) enquanto as outras, que não cruzam, descem pela coluna branca anterior formando o Feixe corticoespinal anterior (Snell, 2003) (Lundy-Ekman, 2004). Função: embora não sendo os únicos estão, relacionados com movimentos voluntários, conferindo-lhes agilidade, em especial os das extremidades distais dos membros (Snell, 2003) (Lundy-Ekman, 2004). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 13 Figura 7: Feixes corticoespinhais. Retirada de (Snell, 2003). Feixes reticuloespinhais (Figura 8) Alguns neurónios que pertencem à formação reticular emitem axónios que, na sua maioria, não cruzam a ponte e formam o Feixe reticuloespinal pontino. O mesmo acontece em neurónios semelhantes no bolbo que também emitem axónios que podem ou não cruzar e formam o Feixe reticuloespinal bulbar. As fibras reticuloespinais originadas na ponte descem pela coluna branca anterior ao passo que as fibras reticuloespinais originadas no bolbo descem pela coluna branca lateral e, ambas as fibras se encontram ao nível das colunas cinzentas anteriores da medula espinal facilitando ou inibindo motoneurónios alfa ou gama (Snell, 2003) (Lundy- Ekman, 2004). Função: os feixes reticuloespinhais juntam-se ao Feixe vestibuloespinhal lateral para desempenhar um papel importante no ajuste postural e na manutenção do equilíbrio. Em geral, o sistema reticuloespinhal excita os flexores Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 14 dos membros inferiores, extensores dos membros superiores e flexores axiais completando assim a acção do sistema vestibuloespinhal (Burt, 1993). Figura 8: Feixes reticuloespinhais. Retirada de (Snell, 2003). Feixe tectoespinhal (Figura 9) As fibras deste Feixe originam-se em células nervosas no colículo superior do mesencéfalo e, a maioria cruza a linha média logo após a sua origem. Desce pelo tronco encefálico e posteriormente pela medula espinal pela coluna branca anterior (Snell, 2003) (Lundy-Ekman, 2004). Função: relacionado com movimentos posturais reflexos em resposta a estímulos visuais. Também relacionado ao reflexo pupilar de dilatação como resposta à escuridão (Snell, 2003) (Lundy-Ekman, 2004). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 15 Figura 9: Feixe tectoespinhal. Retirado de (Snell, 2003). Feixe rubroespinhal (Figura 10) Os axónios dos neurónios do núcleo vermelho, que se situa no tegmento mesencefálico, cruzam a linha média ao nível do núcleo descendo pela ponte e bolbo entrando na medula espinal pela coluna branca lateral e sinapsando nos neurónios de 2ª ordem na coluna cinzenta anterior da medula espinal (Snell, 2003) (Lundy-Ekman, 2004). Função: actua tanto em motoneurónios alfa como gama, então, facilita a actividade dos flexores e inibe a actividade dos extensores ou antigravíticos (Snell, 2003) (Lundy-Ekman,2004). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 16 Figura 10: Feixe rubroespinhal. Retirada de (Snell, 2003). Feixe vestibuloespinhal (Figura 11) Os núcleos vestibulares situam-se na ponte e no bolbo e recebem fibras aferentes originadas no ouvido interno, pelo nervo vestibular e do cerebelo. Este Feixe desce sem cruzar a linha média pelo bolbo e por toda a medula espinal pela coluna branca anterior terminando com sinapses ao nível do neurónio de 2ª ordem (Snell, 2003) (Lundy-Ekman, 2004). Função: o ouvido interno e o cerebelo, por meio deste Feixe, facilitam a actividade dos extensores e inibem a actividade dos flexores, por isso, está relacionado com a actividade postural e equilíbrio (Snell, 2003) (Lundy-Ekman, 2004). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 17 Figura 11: Feixe vestibuloespinhal. Retirada de (Snell, 2003). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 18 Traumatismo Cranio-encefálico (TCE) Um TCE pode ser definido como uma agressão cerebral, que não tem natureza degenerativa ou congénita, mas resulta de uma força física externa, que pode produzir um estado diminuído ou alterado de consciência. Esta alteração de consciência pode provocar o comprometimento das habilidades cognitivas ou do funcionamento físico (distúrbios do funcionamento comportamental ou emocional, de forma temporária ou permanente, distúrbios do comprometimento funcional parcial ou total, ou mau ajustamento psicológico) (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007).. Os critérios clinicos da sua identificação são a confusão ou desorientação, perda de consciência, amnésia pós-traumática e outras anomalias neurológicas, tais como sinais neurológicos focais, apreensão e /ou lesões intracranianas. Estas manifestações de TCE não podem ser devidas a alcóol, drogas ou medicamentos, nem por outras lesões ou tratamentos (como por exemplo lesões sistémicas, faciais ou de entubação, ou outros problemas tais como trauma psicológico, barreira linguistica ou coexistentes condições médicas (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007).. Mecanismos de lesão Um TCE pode resultar de um trauma directo (trauma por pressão) ou através de traumas indirectos (por aceleração/desaceleração) (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). (Tecklin, 2002). Os traumas por pressão ocorrem quando a cabeça, em repouso, sofre o impacto de um objecto sólido, tal como uma pedra ou objecto pesado. Produzem fracturas cranianas e uma lesão focal no local do impacto (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007).(Tecklin, 2002). Os traumas por aceleração/desaceleração ocorrem quando a cabeça, em movimento, bate num objecto fixo, como o chão ou o pára-brisas, levando a um deslocamento diferencial do crânio e dos conteúdos cranianos. As direcções dos traumas de aceleração podem ser translacionais (lineares) ou rotacionais (angulares), sendo o mais frequente a combinação das duas. Num trauma translacional ocorre um deslocamento lateral do crânio e do encéfalo, conhecido como “golpe em chicote”. Na direcção oposta à força inicial o encéfalo desacelera-se contra as estruturas ósseas do crânio e provoca um contragolpe. Num trauma rotacional o crânio roda e o encéfalo permanece parado, provocando uma força angular sobre o encéfalo, contusões superficiais, lacerações e trauma em cisalhamento. Os traumas rotacionais podem Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 19 resultar em danos encefálicos difusos ou locais (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). (Tecklin, 2002). Sinais/Sintomas Os sintomas de um TCE podem variar entre leves, moderados e graves,de acordo com os danos causados ao cérebro. Numa lesão leve a vitima permanece consciente ou perde a consciência por alguns segundos ou minutos e pode sentir-se desorientado ou não se sentir bem durante os primeiros dias ou semanas após o trauma. Outros possiveis sintomas são a dor de cabeça, confusão, tonturas, visão desfocada ou cansaso nos olhos, zumbido nos ouvidos, paladar alterado, fadiga ou letargia, mudanças do padrão de sono, comportamentais ou de humor (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007).. Numa lesão grave ou moderada podem ser sentidos os mesmos sintomas, mas com uma dor de cabeça mais forte, vómitos, náuseas, convulsões ou crises convulsivas, incapacidade em acordar do sono, dilatação de uma ou de ambas as pupilas, discurso incoerente, fraqueza ou dormência nas extremidades, perda da coordenação, confusão, impaciência ou agitação. No caso das crianças existem sinais especificos como o choro persistente, incapacidade de ser consolado e recusa aos enfermeiros e ás refeições (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007).. Tipos de TCE Um TCE, também denominado por traumatismo craniano, pode ser classificado quanto à sua gravidade, quanto à morfologia da lesão e quanto ao mecanismo de lesão (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007).. • Quanto à severidade ° Leve ° Moderada ° Grave Classificação feita segundo a escala de coma de Glasgow. (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). • Quanto à morfologia da lesão ° Fechado: quando não há lesão da caixa craniana; ° Aberto: quando há atingimento do tecido cerebral(Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 20 • Quanto ao mecanismo de lesão As lesões cerebrais foram classificadas em primária e secundária. As lesões primárias por trauma são um resultado directo das forças que actuam na cabeça, no momento do impacto inicial, das quais fazem parte as concussões, fracturas do crânio, contusões, hemorragias intracranianas (hematomas extradurais, hematomas intradurais) e lesão axonal difusa. As lesões secundárias são o resultado da evolução das alterações fisiopatológicas iniciadas pelo trauma primário, desenvolvem-se algumas horas ou dias, e contribuem de uma foma significativa para sequelas do TCE, sendo por isso, a sua prevenção, o principal objectivo do tratamento. Incluem edema encefálico, pressão intracraniana, hipoxia cerebral e isquemia, síndromes de herniação e eventos neuroquímicos (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007) (Tecklin, 2002). Lesões Primárias • Concussão cerebral (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). (Tecklin, 2002); • Contusão cerebral (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). (Tecklin, 2002); • Lesão axonal difusa (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). (Tecklin, 2002) (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007); • Fracturas cranianas (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). (Tecklin, 2002); • Hemorragias intracranianas (Figura 12) (Tecklin, 2002); � Hematomas extradurais ou epidurais (Tecklin, 2002); � Hematomas intradurais (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). ; Figura 12: Localização dos hematomas subdural e epidural, retirado de (Davis, King, & Schultz, 2005) Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 21 Lesões Secundárias • Edema encefálico (Tecklin, 2002); • Pressão intracraniana (Tecklin, 2002); • Síndrome de herniação (Tecklin, 2002); • Lesão hipóxico-isquémica (Tecklin, 2002); • Eventos neuroquímicos (Tecklin, 2002). Em relação aos danos provocados podem ser focais, confinados a uma área cerebral, ou difusos, quando há envolvimento de mais de uma área (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007).. Fisiopatologia das lesões secundárias As lesões secundárias são um processo multifactorial que têm início após o trauma, e que apenas são evidentes mais tarde (Figura 13) (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007).. O edema cerebral é a causa mais frequente de lesões secundárias. Pode haver formação de um edema local ou difuso, podendo o local ser encontrado em áreas de necrose do cérebro como resultado de contusão, expansão de hematomas intracerebrais ou bolsas de sangue subaracnóideo. O edema cerebral difuso resultade hipoxia e isquemia cerebral, estes dois fenómenos vão permitir que a barreira hemato- encefálica deixe sair plasma (edema cerebral). Com o aumento da PIC e isquemia cerebral desenvolvem-se falhas no fluxo sanguíneo, podendo mesmo atingir níveis críticos em que a irrigação do tecido cerebral não ocorre (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). Os hematomas subdural e epidural também podem contribuir para o aumento da PIC. As lesões cerebrais isquémicas desenvolvem-se quando a PIC atinge valores acima de 20-25 mmHg. Os locais mais comuns de isquemia são o hipocampo, a ganglia basal, e os hemisférios cerebrais (fronteira entre a região anterior, a artéria cerebral média e a artéria cerebral posterior) (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). A morte neuronal, particularmente no hipocampo, pode ser mediada pela libertação de glutamato. Apesar deste ser um neurotransmissor abundante no cérebro, a exposição a níveis tóxicos leva ao fenómeno de excitotoxidade. O trauma provoca uma despolarização, com um aumento significativo de potássio extracelular e uma libertação indiscriminada do neurotransmissor excitatório (Zasler, Katz, & Zafonte, Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 22 2007). O glutamato activa receptores NMDA (N-methyl-d-aspartate) dos canais de cálcio, aumentando a sua libertação. O afluxo de cálcio leva à morte celular (Davis, King, & Schultz, 2005). Como já foi referido, uma visão mais clássica classifica as lesões axonais como danos primários, ou seja com origem na força física aplicada no momento do trauma. Contudo, estudos mais recentes mostram que estas lesões podem ser provocadas por uma sucessão de acontecimentos pós-trauma, dos quais a permeabilidade axonal e o afluxo de cálcio ou uma anomalia no citoesqueleto são responsáveis (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). Etiologia As causas de traumatismos cranianos podem variar muito mas são bastante comuns as quedas, acidentes automobilísticos, ferimentos por arma de fogo, abuso/agressão e actividades recreacionais/desportos (Tecklin, 2002). Figura 13 Desenvolvimento das lesões secundárias K- potássio EAA- aminoácidos excitatórios Ca- cálcio AA- ácido araquidónico BBB- barreira hemato encefálica ICP- pressão intracraniana (PIC) CBV- volume sanguíneo cerebral (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 23 O tráfico rodoviário envolve condutores de automóvel, passageiros, ciclistas, peões, entre outros e, por isso, os acidentes rodoviários são a maior causa de traumatismo craniano na sociedade actual. Para além destes também os acidentes no trabalho (quedas) constituem um número considerável devido ao não uso dos protectores na cabeça. Relativamente aos desportos é mais comum nas modalidades de box e corridas de cavalos também por falta de uso de protecção na cabeça (Wilkinson & Lennox, 2006). Podem também acontecer alguns acidentes em casa que podem levar a traumatismos cranianos. Principalmente em crianças devido a quedas por causa de janelas abertas, escadas, … (Wilkinson & Lennox, 2006). Grupos de risco Tendo em conta as possíveis causas, podemos concluir que os grupos de risco para a ocorrência de TCE são as crianças, os idosos, as pessoas que passem muito tempo na estrada, que pratiquem desportos violentos e de contacto e as pessoas com patologias que provoquem alterações de equilíbrio. As restantes causas para este tipo de traumatismo (violência, tentativas de suicídio, entre outras), predispõe qualquer pessoa aos TCE (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). Prevenção A ocorrência de TCEs pode ser prevenida de forma primária, secundária ou terciária (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007). Epidemiologia Relativamente a dados recolhidos em Portugal, verifica-se uma maior ocorrência de TCE em homens do que em mulheres. As mulheres, representam 36% do total de internamentos e 22% dos casos de morte. A proporção de internamentos é então maior nos homens (numa razão 1,8:1) assim como a mortalidade, que também se encontra aumentada em relação às mulheres (numa razão de 3,4:1). A diferença nos valores de mortalidade entre os dois sexos é mais marcada na população adulta jovem entre os 20 e os 39 anos de idade. Esta diferença marcada entre o número de mortes nos 2 sexos começa a ser mais evidente no inicio da idade escolar e depois mantém-se (Santos, Sousa, & Castro-Caldas, 2003). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 24 Quadro clínico consoante a área de lesão O aspecto clínico imediato pode incluir alterações na função autonómica, consciência, função motora, respostas pupilares, movimentos oculares e outros reflexos do tronco cerebral (Unphred). Os problemas causados num trauma cranio-encefálico dependem da área cerebral atingida. As lesões isoladas do tronco encefálico podem causar um misto de sinais ipsi e contralaterais. Isto ocorre porque os nervos cranianos inervam a face e o pescoço ipsilateralmente, enquanto muitos dos feixes verticais atravessam a linha média do tronco encefálico para inervar o corpo contralateral. Para além deste tipo de lesões o tronco encefálico também pode interferir com as funções vitais e consciência (Lundy- Ekman, 2004). Uma lesão no cerebelo leva a uma diminuição ou dificuldade na actividade motora. Os principais sintomas vão ser a perda de coordenação de movimentos (ataxia), inclusive a dos movimentos finos dos dedos, dos movimentos das extremidades e da cabeça, controlo postural e movimentos oculares, a perda de equilíbrio, perda da capacidade de planeamento motor, decomposição dos movimentos, tremores e alterações cognitivas como o desvio de atenção. Estas lesões manifestam-se do lado ipsilateral (Ekman, 2004). Ao nível do córtex a lesão pode ocorrer nos diferentes lobos. Quando a lesão atingiu o lobo frontal há perda de capacidades como o controlo motor dos movimentos voluntários (inclusive os associados à fala), controlo das expressões emocionais e dos comportamentos morais e éticos. Se afecta o lobo parietal as perdas estão relacionadas com a avaliação sensorial geral e integração da informação geral que é necessária para o estado de atenção do corpo relativamente ao ambiente externo. O lobo temporal lesado vai levar a problemas de audição e equilíbrio, emoções e memória e na compreensão da linguagem. Uma lesão a nível do lobo occipital provoca danos nas capacidades visuais e formas de expressão com elas relacionadas (Widmaier, Raff, & Strang, 2006). Sequelas e complicações • Úlceras de pressão (Tecklin, 2002); • Epilepsia pós-traumática (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007); • Lesão dos nervos cranianos (Tecklin, 2002); • Distúrbios da função intelectual e de memória (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007); Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 25 • Diminuição na capacidade de atenção, perseveração, redução na habilidade de solucionar problemas, falta de iniciativa e perda do raciocínio e pensamento abstracto (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007); • Dor (Schneider, Kreitschmann-Andermahr, Ghigo, Stalla, & Agha, 2009); • Alterações da personalidade (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007); • Disfunção da glândula pituitária (Schneider, Kreitschmann-Andermahr, Ghigo, Stalla, & Agha, 2009); • Instabilidade nervosa pós-traumática (Ropper, 2005); • Problemas endócrinos (Tecklin, 2002); • Hidrocefalia (Ropper, 2005) (Tecklin, 2002); • Convulsões (Tecklin, 2002); • Infecções (Tecklin, 2002); • Aumento do volume ventricular pós-traumático (Tecklin, 2002); • Lesões vasculares (Tecklin, 2002); • Insuficiências sociais e comportamentais (Whyte & Rosenthal, 1993); • Distúrbios de linguagem percepção visual-espacial e construtiva (Whyte & Rosenthal,1993); • Disfunção do intestino e bexiga (Whyte & Rosenthal, 1993). Prognóstico TCE O prognóstico de um TCE depende de vários factores, tais como: - Responsabilidade do profissional de saúde relativamente ao paciente no ponto de acidente e nos hospitais - Idade - Causa - O estado clínico inicial (GCS) - O tipo de lesões cerebrais - Associação com um politraumatismo (Zasler, Katz, & Zafonte, 2007) Avaliação e cuidados imediatos a um paciente com TCE Os Primeiros socorros a uma vitima de TCE passam por: • Preparação Pré e Intra-Hospitalar; • Exame Primário; Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 26 • Reanimação; • Exame Secundário (J. Nolan, 2005;) (INEM, 2002) (Timerman, 2000). Avaliação do Fisioterapeuta O principal objectivo da avaliação é perceber o estado do paciente, analisando a função motora, bem como, recolher dados sobre este, por exemplo, como vive, com quem vive, a sua situação laboral, entre outros. Esta avaliação permite ao fisioterapeuta criar hipóteses (causa-efeito) e assim perceber que sistemas, juntamente com o Sistema Nervoso Central estão afectados. Desta forma é possível elaborar um plano de tratamento adequado ao paciente tendo em conta as suas dificuldades (actividades disfuncionais, controlo postural e motor, e consequências no seu dia-a-dia) (Gjelsvik, 2008). A análise de movimento durante actividades é o passo mais importante da avaliação pois permite verificar que actividades o paciente é capaz de executar, como as executa, como ultrapassa as suas limitações e porque executa as actividades de determinada forma (Gjelsvik, 2008) (Tecklin, 2002). Avaliação Subjectiva Esta parte da avaliação é importante para obter informações relevantes sobre o paciente, como: • Aspectos sociais (relação com a família, com quem vive, actividades e profissão); • História médica (níveis funcionais prévios, tratamentos anteriores, exames médicos realizados, contra-indicações ou qualquer aspecto que necessita cuidado especial); • Situação actual; • Principais necessidades e desejos; • Início e mecanismo de lesão; • Resultados dos testes de diagnóstico (Raio X, RM, TC); • Sinais vitais; • Funcionamento do sistema nervoso autónomo; • Integridade da pele; • Estado respiratório, intestinal e disfágico; Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 27 • Medicamentos. (Gjelsvik, 2008) (Tecklin, 2002) Se o paciente não for capaz de dar estas informações, o fisioterapeuta deverá procurar recolhê-las junto dos cuidadores deste paciente (Gjelsvik, 2008) (Tecklin, 2002). Avaliação objectiva Esta avaliação serve para detectar incapacidades e limitações funcionais comuns neste tipo de paciente (Tecklin, 2002). Deve-se avaliar o estado cognitivo e comportamental, através do nível de vigília e orientação (o que pode ser expresso pela letargia, sonolência e até mesmo coma); da atenção (avaliar a capacidade de responder a um estimulo específico), afecto e mudanças de humor (nível de agitação, confusão, impulsividade durante o tratamento); de memória (avaliar a capacidade do paciente se lembrar das sessões de tratamento anteriores, a amnésia é uma indicação de que ocorreu uma concussão) e linguagem (Tecklin, 2002). Para avaliar a severidade das lesões a nível cognitivo pode-se recorrer à Mini-mental state examination. Deve-se avaliar também o estado sensório-motor básico, ver se o paciente apresenta hipertonia ou uma postura anormal que pode ser apenas dos membros, ou global (corpo todo). Pode-se observar a postura de natureza decorticada (flexão das extremidades superiores e extensão das extremidades inferiores) ou descerebrada (extensão em todas as extremidades) (Tecklin, 2002). Avalia-se também se o paciente apresenta ataxia e diminuição na coordenação motora (estes podem ser inicialmente encobertos pela hipertonia muscular); amplitude de movimento, pois uma perda desta pode ocorrer principalmente nos cotovelos, punhos, dedos, joelhos e tornozelos (avaliar isto é importante uma vez que a perda de amplitude de movimento pode ocorrer rapidamente, e o tratamento precoce é essencial para a sua prevenção) (Tecklin, 2002). Pessoas com TCE podem estar sujeitas também a perdas de audição e de visão. Para avaliar a perda de audição podem-se usar as provas de Rinne e de Webber, usando um diapasão. A visão deve ser avaliada testando a acuidade visual, a acomodação, o reflexo pupilar, a omissão ou não dos campos visuais, distúrbios na percepção de profundidade, diplopia e cegueira cortical transitória (Tecklin, 2002). Avaliar se existem fracturas na pelve, extremidades inferiores ou mesmo em outros locais é importante uma vez que estas são frequentemente associadas ao TCE e devem ser tratadas precocemente (Tecklin, 2002). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 28 Actividade Funcional Aqui é permitido ao fisioterapeuta verificar que actividades o paciente é capaz de executar, o seu grau de independência, e a sua capacidade para cooperar e interagir (Gjelsvik, The Bobath Concept in Adult Neurology, 2008). O terapeuta começa por fazer uma pequena entrevista em que o paciente lhe diz que actividade é capaz de executar no seu dia-a-dia e quais são mais importantes nesse momento. Através desta entrevista, o fisioterapeuta fica informado sobre: • A condição geral e capacidade motora; • A função de comunicação (durante a entrevista o terapeuta fica com a impressão da capacidade de compreensão e expressão do paciente); • Actividade funcional (quantidade, qualidade, como executa o movimento); • Necessidade de ajuda. Ao mesmo tempo, o terapeuta deve observar, de uma forma informal, os seus movimentos respiratórios e depois pedindo lhe que execute algumas actividades. Deve verificar se este é capaz de manter a postura, caminhar, fazer transferências, vestir e despir; e durante a actividade deve igualmente obter informação sobre sensação de segurança, esforço, eficiência, postura, padrões de movimento, sequência de activação, alinhamento, actividade selectiva das extremidades, tónus, estratégias compensatórias, sensação, cognição (Gjelsvik, 2008). A avaliação da actividade funcional é também realizada com base na CIF que presta atenção a actividades e comportamentos como: • Interacção com o ambiente; • Transferências (por exemplo, se é capaz de passar da posição sentado para deitado); • Vestir e Despir; • Higiene pessoal; • Comer e beber; • Percepção e cognição. (Gjelsvik, 2008) Funções do corpo e estruturas Esta parte envolve principalmente observação, o handling e a análise. Como o paciente geralmente adopta várias posições e posturas o terapeuta deve avaliá-lo em várias posições e mesmo em actividades dinâmicas prestando atenção a diversos Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 29 pontos como a relação com ambiente e o próprio corpo, o alinhamento, o tónus, a concentração e a motivação (Gjelsvik, 2008). Com o handling, o terapeuta vai obtendo informações sobre as estruturas e a sua relação com o movimento - actividade muscular, alinhamento, tónus, sequência de activação, estabilidade, controlo postural, selectividade, capacidade de ser activado e responder às facilitações. As informações recolhidas permitem que este vá formulando hipóteses de acordo com a área afectada. Nesta fase a avaliação não é passiva pois o recrutamento de actividade e movimento são importantes (Gjelsvik, 2008). Para além do handling, é importante observar o movimento e posturas e ter bom conhecimento dos movimentos típicos. O terapeuta precisa avaliar como o paciente executa as actividades, o que é capaz de fazer, e como o executa; o que exige umaanálise das estruturas do corpo e as suas funções durante a actividade (Gjelsvik, 2008). Durante a análise da qualidade de movimento o terapeuta deve avaliar: • Orientação na linha média; • Base de suporte, e actividade muscular; • Relação e acção combinada de diferentes áreas; • Padrão de movimento, sequência de activação e factores biomecânicos; • Controlo selectivo de movimento; • Qualidade muscular (força, flexibilidade e tónus); • Estratégias compensatórias. (Gjelsvik, 2008) Os testes sensoriais também podem ser efectuados para verificar se a transmissão sensorial está a ocorrer como seria esperado, nomeadamente estereognosia e destreza. Desta forma se existir uma diminuição de sensibilidade pode haver lesão ao nível das fibras ascendentes directamente ou em áreas associadas. Se a percepção sensorial se encontrar afectada o Sistema Nervoso Central não interpreta a informação recebida, pois trata-se de um problema de integração sensorial e, não, de recepção (Gjelsvik, 2008). A dor é um aspecto importante pois pode limitar os processos de reaprendizagem e levar o paciente para um estado de depressão, perda de motivação e isolamento social. Esta dor pode ser sentida durante actividades do dia-a-dia (actividades funcionais) e pode dever-se a factores como tónus diminuído, trauma, percepção sensorial alterada, condições degenerativas, inflamações (Gjelsvik, 2008). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 30 Podem verificar-se alterações ao nível da pele (mudança de cor, úlceras) devido à imobilização e diminuição da circulação sanguínea. A temperatura das extremidades (mãos e pés) pode também sofrer alterações. Este tipo de alterações pode dever-se a lesões do sistema nervoso central pois estas levam à inactividade e consequente imobilização (Gjelsvik, 2008). Raciocínio Clínico A história, a observação, o handling, bem como a experiencia e competência do terapeuta contribuem para a formação do raciocínio clínico. A actividade e a participação são avaliadas em conjunto com a capacidade de resolver problemas do doente, comportamento motor em relação às tarefas e ao ambiente: • Recursos e restrições na participação; • Recursos e limitações na actividade; • Desvios ou perda de função das estruturas do corpo como um resultado directo da lesão neurológica, ou consequência da mesma, pois rapidamente são adquiridas estratégias compensatórias que se tornam difíceis de separar dos resultados directos; • Mudança no tónus que influencia a capacidade do doente permanecer em pé, e em lidar com a gravidade; • Alterações no comprimento do músculo, flexibilidade e elasticidade, amplitude de movimento, capacidade de alternar actividade excêntrica e concêntrica; • Mudanças na inervação recíproca podem alterar a relação entre agonistas, antagonistas e sinergistas, bem como alterar a ordem de recrutamento de unidades motoras e estabilidade para o movimento; • A sequência da activação muscular, torna-se responsável pelas alterações no alinhamento (Gjelsvik, 2008). Problemas nas estruturas do corpo e funções provocam perda de equilíbrio e de movimento e influenciam a capacidade do doente realizar actividades da vida diária. O raciocínio clínico é baseado no conhecimento e experiência profissional e pessoal do terapeuta, necessitando de habilidade para: • Perceber as necessidades e expectativas do paciente; • Detectar as capacidades e limitações do paciente em todas as dimensões; • Criar hipóteses sobre o que parece ser mais importante para o nível de actividade do paciente, capacidade de movimento, e maneira como se movimenta; Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 31 • Traçar objectivos a curto e longo prazo, de preferência com a colaboração do doente; • Avaliar a evolução do tratamento e ir desenvolvendo mais hipóteses (Gjelsvik, 2008). Pontos-Chave da Avaliação A avaliação assenta em duas partes, a criação de hipóteses sobre o potencial do paciente, e porque o paciente se move de determinada forma (Gjelsvik, 2008). Consequente a essas hipóteses pode ter-se várias causas, nomeadamente: • Causas relacionadas com problemas de equilíbrio ou de movimento O fisioterapeuta deverá ter a percepção de: o Que actividade neuromuscular é recrutada ou não em diferentes situações; o Que actividade está em falta ou alterada; o Alterações do tónus devido a estratégias compensatórias, não permitindo um correcto recrutamento muscular, que pode indicar disfunção no sistema cortiço-reticuloespinhal e corticorubroespinhal; o Se existem problemas sensório-motores primários; o Se o doente dispõe de controlo postural e equilíbrio (Gjelsvik, 2008). Os sistemas somato-sensorial, vestibular e visual desempenham um papel muito importante no controlo postural, logo alterações primárias ou secundárias nestes sistemas irão prejudicar o controlo postural (Gjelsvik, 2008). • Causas relacionadas com disfunções somato-sensoriais ou perceptuais Quando a informação sensorial atinge a medula espinhal é integrada e modificada a um certo nível. A sensibilidade ao nível da medula permanece, mesmo que ao nível cognitivo tal não se verifique (Gjelsvik, 2008). Apesar da dificuldade na distinção entre perda de sensibilidade e diminuição da percepção sensorial, é possível distingui-las, pois caso a sensibilidade do paciente melhore ao longo do tratamento, possivelmente trata-se de uma diminuição da percepção sensorial e não uma perda de sensibilidade. A percepção das disfunções perceptuais ocorre mais ao nível das actividades da vida diária, e tal pode ser Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 32 melhorado por terapias específicas, bem como a activação de extremidades em actividades funcionais (Gjelsvik, 2008). O equilíbrio e o movimento requerem a capacidade de percepcionar as diferentes partes do corpo em relação umas às outras e com o ambiente por parte do paciente. Se o paciente tem disfunções perceptuais possivelmente irá influenciar a percepção na linha média (Gjelsvik, 2008). • Causas relacionadas com défices cognitivos O fisioterapeuta deverá ter a percepção de: o Se o paciente percebe o que lhe está a ser pedido para fazer; o Se ouve o que lhe está a ser pedido; o Se o paciente tem afasia; o Se está deprimido ou se não aceita criticas; o Se possui capacidades para novas situações e problemas; o Se consegue estar concentrado e atento à sessão; o Que consequências estão subjacentes para as actividades funcionais (Gjelsvik, 2008) Evolução e Documentação A avaliação deverá ficar documentada para auxiliar no tratamento, para facilitar a comunicação entre diferentes profissionais de saúde, acompanhar a evolução do paciente e dar-lhe informação sobre o seu estado (Gjelsvik, 2008). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 33 Tratamento do TCE O tratamento do paciente com TCE é bastante complexo e tem como objectivos principais a preservação da vida, a prevenção de lesões secundárias e a reabilitação do indivíduo e consequente integração do mesmo na sociedade. Tanto o tratamento como a reabilitação do paciente solicita a intervenção de uma equipa multidisciplinar que inclui o neurocirugião, neurologista, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, terapeuta da fala, psicólogo e assistente social (Janet Carr, 2008) (Gjelsvik, 2008) (Marion, 2005). O tratamento é realizado ao longo de 3 etapas: • Cuidados imediatos no local do acidente; • Cuidados do paciente numa Unidade de Cuidados Intensivos (estabilização da função ventilatória e hemodinâmica do paciente); • Ambulatório(Janet Carr, 2008) (Marion, 2005) Cuidados Imediatos no local do acidenteOs Primeiros socorros no paciente que sofreu TCE passam por: • Preparação Pré e Intra-Hospitalar; • Exame Primário; • Reanimação (Suporte Básico de Vida); • Exame Secundário (J. Nolan, 2005;) (Timerman, 2000). Cuidados do paciente em Unidade de Cuidados Intensivos Dependendo do tipo de TCE os pacientes podem necessitar de serem internados numa unidade hospitalar. Os critérios para a decisão de internamento encontram-se no quadro seguinte: Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 34 Quadro 1-Indicação para internamento, adaptado de (Soc.Científ.Neurociências, s.d.). Tratamento consoante o tipo de TCE Tratamento da TCE leve • TC anormal: conduta de acordo com a lesão encontrada (solicitar interconsulta com neurocirurgião) (Soc.Científ.Neurociências, s.d.) (Nathan D. Zasler, 2006) (Marion, 2005); • Indicações de internamento � observar (reavaliações neurológicas frequentes) (Soc.Científ.Neurociências, s.d.) (Nathan D. Zasler, 2006) (Marion, 2005); • Alta hospitalar: o Ausência de indicação de internamento; o Aparentemente normal depois de várias horas de observação; o Fornecer protocolo de “Instruções e Cuidados para Alta de Doentes com TCE”; o Marcar retorno ao ambulatório em uma semana(Soc.Científ.Neurociências, s.d.) (Nathan D. Zasler, 2006) (Marion, 2005). Tratamento da TCE moderada • Tratados como TCE grave; • Não são rotineiramente entubados; • Alta hospitalar: o Melhora neurológica + ausência de lesões cirúrgicas em TCEs subsequentes; • Pode evoluir. (Soc.Científ.Neurociências, s.d.) (Nathan D. Zasler, 2006) (Marion, 2005) Tratamento da TCE grave • Obedecer a princípios gerais o Reanimação • Entubação endotraqueal precoce (coma); • Ventilação com FiO2 de 100% . o Tratamento clínico • Tratamento da PIC; • Profilaxia e tratamento de convulsões; Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 35 • Sedação, analgesia, bloqueio muscular. o Tratamento cirúrgico (Soc.Científ.Neurociências, s.d.) (Nathan D. Zasler, 2006) (Marion, 2005) Intervenção médica Na abordagem a um paciente com TCE o médico deve realizar uma intervenção imediata, bem como tratar e/ou prevenir complicações secundárias (O'Sullivan & Schmitz, 1998). O médico deve ter em conta alguns aspectos tais como a função autonómica e motora, a consciência, as respostas pupilares e movimentos oculares, entre outros reflexos do tronco cerebral (como dor acompanhada por alterações na expressão facial e ausência do reflexo da faringe) (O'Sullivan & Schmitz, 1998). A primeira das prioridades da intervenção médica é a reanimação. Na sua actuação é importante garantir uma respiração adequada (tratamento das funções respiratórias), monitorizar a função cardiovascular, monitorizar a pressão craniana por meio farmacológico, mecânico ou até cirúrgico e realizar uma assistência médica geral (O'Sullivan & Schmitz, 1998). Tratamento farmacológico Os medicamentos mais utilizados durante o tratamento e reabilitação do paciente com TCE são: • Sedativos; • Vasodilatadores; • Esteróides e diuréticos; • Barbitúricos; • Antibióticos; • Anticonvulsivos; • Antidepressivos (O'Sullivan & Schmitz, 1998). Intervenção médica/farmacológica para o tratamento: • da PIC; • das convulsões ; • da espasticidade Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 36 o Toxina Botulina do tipo A; o Baclofeno (O'Sullivan & Schmitz, 1998). Tratamento Cirúrgico Craniotomia descompressiva, craniectomia descompressiva e cranioplastia A craniectomia e a craniotomia são muitas vezes utilizadas como sinónimos, porém são diferentes. A craniectomia é um método no qual há faixas ou pedaços de ossos cranianos que são retirados, enquanto que a craniotomia é qualquer cirurgia ao crânio na qual há recolocação do retalho ósseo (Zasler & Katz, 2007) (Samuels, 2004). A craniotomia descompressiva (CD) é um método cirúrgico para redução imediata da pressão intracraniana (PIC). Habitualmente é indicada em casos de tumefacção cerebral e hematoma subdural agudo ou mesmo para lesões não traumáticas. Consiste em craniotomia unilateral e ampliação do espaço intradural por meio de plástica da dura-mater para se moldar ao cérebro tumefeito. O osso pode ser alojado temporariamente no tecido celular subcutâneo abdominal, como foi o caso do nosso trigger, ou desprezado para posterior cranioplastia com acrílico (Sheehy, 2001). Hipertensão intracraniana Embora exista indicação para realizar craniotomia descompressiva nas situações de HIC refractária, não existe uma recomendação padronizada quanto ao seu emprego. Estudos mostraram melhores resultados quando aplicada precocemente no tratamento da HIC pós traumática (<48horas) (Sheehy, 2001). Hematoma subdural/ Indicações cirúrgicas O hematoma subdural ocorre com mais frequência do que outras lesões intracranianas e é, de todos os tipos de hematomas, o que tem morbilidade e mortalidade mais elevada. A hemorragia para o espaço subdural, entre a dura-mater e a aracnóide, leva à formação do hematoma. Este pode ser agudo, subagudo ou crónico (Sheehy, 2001). O hematoma agudo caracteriza-se por perda de consciência, hemiparese e pupilas fixas, dilatadas. Tem bom prognóstico, se a intervenção cirúrgica tiver lugar no espaço de 4 horas após a lesão (Sheehy, 2001). O hematoma subagudo desenvolve-se no espaço de 48 horas a 2 semanas, após a lesão. Caracteriza-se por um declínio progressivo do nível de consciência e da Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 37 função neurológica. Após a drenagem do hematoma o paciente recupera rapidamente, com muito pouco ou nenhum défice neurológico (Sheehy, 2001). O hematoma subdural crónico forma-se ao longo do tempo, o sangue acumula- se ao longo de 2 semanas a meses sem alterações visíveis no estado neurológico, até ter tamanho suficiente para produzir efeitos de massa. O tratamento do hematoma subdural crónico consiste em realizar furos de drenagem (Sheehy, 2001). Hematoma epidural O hematoma epidural consiste numa hemorragia entre o crânio e a dura-máter. Praticamente metade dos doentes com hematoma epidural não apresentam sinais de fractura craniana. O doente com hematoma epidural queixa-se de cefaleias intensas e pode apresentar hemiparese e pupila dilatada, no lado da lesão (Sheehy, 2001). Fracturas cranianas/ Indicações cirúrgicas A fractura decorre da deformação óssea provocada pela aplicação de uma força no crânio. Na fractura craniana linear não há deslocamentos e está geralmente associada a défice neurológico mínimo (Sheehy, 2001). Quando ocorre um traumatismo que faz deslocar a tábua óssea externa para debaixo da tábua interna contígua no crânio, ocorre fractura craniana com afundamento. Neste caso pode ser necessária elevação do osso por cirurgia caso os fragmentos ósseos tenham ficado alojados no tecido cerebral (Sheehy, 2001). Nas fracturas abertas, com afundamento, o osso deve ser elevado, por cirurgia, e a fractura reparada logo que possível para evitar infecções (Sheehy, 2001). Pode ainda ocorrer fractura na base do crânio com sobreposição da artéria meníngea média, o que provoca hematoma subglial. A ruptura da artéria meníngea média origina cerca de 75% dos hematomas epidurais. As alterações neurológicas das fracturas da base do crânio vão desde ligeiras alterações do estado de consciência a rebeldia e agitação grave (Sheehy, 2001). Lacerações do Couro Cabeludo O couro cabeludo protege o cérebro de lesões. A aplicação de força excessiva no couro cabeludo, pode levar a laceração. Dado que o couro cabeludo é consideravelmente vascularizado e com poucas propriedadesvasoconstritoras, as lacerações sangram muito. A hemorragia deve ser controlada por pressão directa na zona afectada, seguindo-se de uma inspecção cuidadosa para despiste de fracturas (Sheehy, 2001). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 38 O estado de coma Normalmente os pacientes com TCE apresentam-se em estado de coma, o qual se caracteriza por um estado de inconsciência em que não há fala nem resposta ao comando motor, permanecendo o paciente de olhos fechados e com ausência de ciclos sono-vigilia, geralmente não dura mais do que três ou quatro semanas. Por vezes o paciente pode passar por um estado vegetativo no qual não mostra nenhum sinal de cognição, mas pode retomar à vigília com os olhos abertos em resposta a estímulos verbais (Janet Carr, 2008) (Nathan D. Zasler, 2006). Estímulos no coma ou programas para despertar do coma Muitos programas com o objectivo de melhorar o despertar e a compreensão têm sido desenvolvidos, mas são controversos. A razão para esses programas surgiu da necessidade de evitar os efeitos negativos da perda sensorial e mudar sistematicamente o ambiente numa tentativa de incentivar o paciente a responder de um modo mais específico e apropriado. É nesta modificação do ambiente que o fisioterapeuta intervém. Assim, várias tentativas para reduzir a duração do coma por meio de estimulação sensorial têm sido relatadas, mas os resultados são ambíguos (Janet Carr, 2008) (Nathan D. Zasler, 2006). Recuperação do coma A recuperação do coma manifesta-se por períodos de aberturas dos olhos. Tal fenómeno é a evidência de que os mecanismos relacionados com a vida estão a recuperar. A próxima fase é a expressão verbal de palavras em indivíduos que não irão permanecer vegetativos e não são afásicos. A estimulação inicia-se por discursos sem sentido e ocasionais e o paciente pode começar a cumprir instruções. Alguns indivíduos manifestam um período de barulho, comportamento desinibido: praguejar, tentativa de descer da cama e exibição de comportamento agressivo para qualquer pessoa que estiver por perto (Janet Carr, 2008). Neste período de comportamento perturbado o indivíduo pode estar amnésico. A intensidade e a duração deste estágio de recuperação pode variar consideravelmente. Não é claro se esses comportamentos reflectem ou não lesões de diferentes áreas do cérebro, se são associadas a traços da personalidade do indivíduo Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 39 antes do traumatismo, se são estão relacionadas com o ambiente ou se é uma combinação de todos estes factores (Janet Carr, 2008). Esta fase pode ser difícil tanto para os familiares como para equipa multidisciplinar, contudo, é importante que a recuperação natural do paciente não seja impedida por uma sedação exagerada (Janet Carr, 2008). O restabelecimento da deglutição, do respirar sem ajuda, do tossir eficientemente e da comunicação por expressão facial, gesto e linguagem são essenciais para que o paciente inicie uma função. Quando o paciente está a recuperar do coma o estabelecimento de opções não ambíguas e fáceis de produzir resposta, do género sim/não são importantes para restabelecer alguma forma de comunicação. Opções para aumentar a comunicação incluem a comunicação visual, a expressão facial, o gesto e quadros de comunicação como cartas, símbolos ou retratos (Janet Carr, 2008). Intervenção Fisioterapêutica no TCE Objectivos Gerais: • Melhoria da função respiratória; • Eliminar/Prevenir contracturas; • Tratar espasticidades; • Melhorar o movimento global; • Corrigir desequilíbrios musculares; • Evitar a produção de secreções e infecções; • Prevenir insuficiências respiratórias; • Amplificar a oxigenação do cérebro; • Evitar/Corrigir complicações secundárias. (Gjelsvik, 2008) Os objectivos do fisioterapeuta durante a fase de internamento são: • Monitorizar o nível de coma e os sinais vitais do paciente; • Melhorar a função respiratória; • Preservar a integridade musculoesquelética; • Facilitar o envolvimento activo do paciente. (Janet Carr, 2008) (Nathan D. Zasler, 2006) Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 40 Numa fase inicial, a preservação da vida e prevenção das lesões secundárias são as principais prioridades do tratamento (Janet Carr, 2008) (Nathan D. Zasler, 2006). Função respiratória O controlo da função respiratória do paciente em coma com lesão cerebral é complexo e requer uma compreensão abrangente, quer da relação entre as funções pulmonar, cardiovascular e neurológica, bem como dos efeitos fisiológicos e mecânicos das técnicas respiratórias, uma vez que intervenção inapropriada pode exacerbar os problemas de hipóxia e hipercapnia (Janet Carr, 2008) (Nathan D. Zasler, 2006). O controlo de respiração baseia-se, normalmente, numa complexa interacção de uma série de mecanismos. O tecido cerebral requer uma oxigenação adequada para funcionar e o sistema respiratório conta com impulsos do cérebro para controlar a ventilação, estando assim intimamente interligados (Janet Carr, 2008) (B. E. Murdoch, 2001). À medida que a PIC aumenta, há um aumento correspondente da depressão da consciência, levando também a um aumento na pressão sanguínea arterial sistémica, podendo causar bradicardia, e respiração irregular. Um aumento mais intenso na PIC, pode levar a coma profundo, queda progressiva na pressão sanguínea arterial sistémica, as pupilas podem ficar fixas e dilatadas (pupilas midriáticas) e neste estágio ocorre uma queda na pressão de perfusão cerebral (PPC) o que priva o cérebro de oxigénio. Isto, por sua vez, aumenta o edema cerebral e o ciclo continua. Podendo ainda levar a uma herniação de tecido cerebral devido à falta de espaço na cavidade craniana (Janet Carr, 2008). Os principais objectivos da intervenção do fisioterapeuta, na prestação de cuidados respiratórios e enquanto elemento de uma equipa multidisciplinar envolvida em prevenção de danos cerebrais secundários são: • Melhorar a função respiratória e • Prevenir a falha respiratória e danos cerebrais secundários, assegurando a ventilação adequada e limpando o excesso de secreções. (Janet Carr, 2008) (Nathan D. Zasler, 2006) É importante que a PIC seja monitorizada durante qualquer intervenção fisioterapêutica. Se ela começar a aumentar, a intervenção deve ser modificada de imediato. A drenagem postural típica é normalmente a forma de intervenção fisioterapêutica mais usual no controlo da PIC, contudo, por vezes, essa drenagem Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 41 pode precisar de ser modificada uma vez que a posição depende da cabeça e há riscos de aumentar a PIC (Janet Carr, 2008) (Nathan D. Zasler, 2006). Outro dos grandes objectivos da fisioterapia durante a fase em que o paciente está em coma e portanto imobilizado, é a prevenção de contracturas musculares e teciduais na tentativa de manter a integridade musculoesquelética (Marion, 2005) (B. E. Murdoch, 2001). Integridade musculoesquelética A lesão encefálica causa défices no controlo motor, podendo resultar numa paralisia associada, em fraqueza muscular, espasticidade e ataxia, podendo a pessoa ficar vulnerável a estas adaptações musculoesquelética e cardiovasculares associadas ao repouso, pelo que nesta fase também se dever ter isso em conta (Janet Carr, 2008) (Nathan D. Zasler, 2006). O tecido muscular responde selectiva e diferencialmente às exigências que lhe são impostas, alterando a sua estrutura, comprimento, volume e área seccional. A produção de força muscular depende da integridade e do correcto funcionamento dos tendões, ligamentos e ossos. Quando o músculo é submetido à mudança mantidae imposta do comprimento, ocorrem mudanças anatómicas, químicas e fisiológicas, estas mudanças podem ser induzidas por imobilizações, desequilíbrios musculares e mau alinhamento postural e começam a ocorrer dentro de poucas horas de imobilização, tendo tendência a ter um profundo efeito no desempenho motor. Quando a imobilizado se encontra numa posição limitada o músculo perde sarcômeros enquanto numa posição alongada ganha sarcômeros. A perda afecta a capacidade do músculo gerar tensão. O tecido conjuntivo numa posição limitada também perde a sua extensibilidade (Janet Carr, 2008) (Nathan D. Zasler, 2006) (Marion, 2005). O principal objectivo na preservação da integridade músculo-esquelética na pessoa em coma ou paralisada e no qual o fisioterapeuta tem um papel fulcral é prevenir ou minimizar mudanças de adaptação nos tecidos moles, evitando desta forma o encurtamento e rigidez, pensando sempre na: • Manutenção dos músculos e tecidos moles numa posição alongada por vários períodos do dia; • Alimentar osso e cartilagem; • Movimentar os membros para ajudar na manutenção da flexibilidade nas articulações, nos tecidos moles e músculos, sendo estes movimentos realizados lentamente para não causar demasiados estiramentos; Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 42 • Aplicação de órtese para colocação dos segmentos numa posição alongada ou neutra, estendendo os elementos do tecido conjuntivo podendo fornecer um estímulo para o aumento dos sarcômeros na fibra muscular; • Uso da mesa vertical, para beneficiar-se dos efeitos da posição vertical, uma vez que a posição vertical é vital para o funcionamento de muitos órgãos. (Janet Carr, 2008) (Nathan D. Zasler, 2006) Intervenção fase após internamento: A intervenção no paciente com TCE após o internamento baseia-se, sobretudo, no Conceito de Bobath: Conceito Bobath Objectivos: • Melhorar o controlo postural; • Favorecer a simetria corporal; • Promover alongamento muscular (tratar espasticidade); • Trabalhar propriocepção; • Melhorar o tónus muscular; • Estimular reacções de protecção e equilíbrio; • Melhorar a deambulação (quando possível); • Implementar habilidades motoras; • Inibir actividade reflexa anormal; • Prevenir contraturas e deformidades (Gjelsvik, 2008). Mecanismos: • Inibe a actividade reflexa anormal através de posturas; • Obtêm solução para problemas motores; • Foca-se nos padrões de movimento normal; • Estabiliza a postura, enquanto o paciente realiza movimentos funcionais; • Utiliza equipamentos como rolos, bolas, bancos, caixas, etc; • Estimula a experiência sensório-motora; • Promove alterações posturais; • Mobiliza articulações e músculos; • Possui exercícios de facilitação (Gjelsvik, 2008) Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 43 Exercícios mais usados: • Dissociação de cinturas; • Rolamento; • Extensão da cabeça; • Correcções posturais; • Manipulação do sujeito e das posturas; • Reacções de equilíbrio e protecção; • Transição entre posturas. (Gjelsvik, 2008) Intervenção – noções gerais - O conceito de Bobath consiste numa abordagem para resolver os problemas da avaliação e tratamento em indivíduos com lesões a nível do SN, que tenham levado a distúrbios da função, movimento e controlo postural. Não se trata, portanto, de uma solução ou método de tratamento (Gjelsvik, 2008). O tratamento centra-se no indivíduo individual, baseando-se no conceito de neuroplasticidade, indo de encontro às suas necessidades e tendo em conta a resposta do indivíduo ao tratamento e da sua condição (Gjelsvik, 2008). A intervenção vai ser feita de acordo com as disfunções sensório-motoras, os seus problemas/potênciais perceptivos e cognitivos, as suas estratégias compensatórias, o ambiente em que se insere e os principais objectivos a atingir (Gjelsvik, 2008). Toda a intervenção, mesmo a que tenha como intuito controlar as complicações secundárias associadas, deve integrar diferentes actividades, com o objectivo funcional, sem descurar o factor motivação, tão importante para a aprendizagem (Gjelsvik, 2008). O tratamento deve incluir: • Reaprendizagem do controlo motor; • Aprendizagem motora; • Estratégias para prevenir e/ou minimizar as complicações; • Uso de estratégias compensatórias adicionais quando a aprendizagem motora não é mais possível (recorrendo a órteses e auxiliares de vida diária); • Abordagem multi e interdisciplinar (Gjelsvik, 2008) Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 44 Conjuntos Posturais Quando o alinhamento biomecânico corporal muda, a actividade neuromuscular também vai ser alterada, isto porque a actividade neuromuscular e os factores biomecânicos estão interligados, influenciando-se mutuamente (Gjelsvik, 2008). Assim, tendo por base o mesmo objectivo, por exemplo o de sentar, podemos atingi-lo de diferentes formas, modificando o meio (por exemplo, sentar mais alto ou mais baixo), resultando em actividades neuromusculares distintas, porque as relações biomecânicas são modificadas com as alterações gravíticas da base de suporte. Deste modo, a actividade é diferente na posição de sentado, na transição de sentado para de pé, de sentado para DD e em DD (Gjelsvik, 2008). Uma análise precisa do movimento em todas as fases da actividade vai permitir formar hipóteses acerca do recrutamento da actividade neuromuscular (Gjelsvik, 2008). Esta análise, associada à análise do desempenho cognitivo e perceptivo do doente, constituem o pressuposto do raciocínio clínico (Gjelsvik, 2008). Um conjunto postural descreve a inter-relação dos segmentos corporais num dado momento. Aqui o movimento é visto como uma contínua mudança de conjuntos posturais (Gjelsvik, 2008). Com a análise dos conjuntos posturais podemos retirar informação acerca: • Do efeito da gravidade; • Da relação da base de suporte; • Do alinhamento; • Dos padrões de movimento; • Da actividade neuromuscular (Gjelsvik, 2008). Os conjuntos posturais são todas as diferentes variações dentro das posturas básicas (como os decúbitos e o sentado) e as transições entre estas (Gjelsvik, 2008). Após a análise dos conjuntos posturais e de toda a avaliação vamos escolher os procedimentos. Os conjuntos posturais são usados no tratamento para permitir uma maior adaptação à capacidade do paciente. O conjunto postural escolhido para a intervenção deve adaptar-se aos problemas individuais do paciente, de modo a aumentar a probabilidade de êxito e motivação (Gjelsvik, 2008). A escolha dos conjuntos posturais depende do equilíbrio do paciente, da relação da base de suporte e do próprio objectivo a alcançar (Gjelsvik, 2008). Traumatismo Cranio-encefálico TCE CN 2- Grupo 1 45 Os conjuntos posturais variam com a fase do tratamento: evolui de uma intervenção mais mobilizadora (para a facilitação da actividade) até que o paciente consiga mover-se sem necessitar do hands on. Estes conjuntos são adaptados para optimizarem a actividade neuromuscular necessária na tarefa funcional que o doente irá realizar (Gjelsvik, 2008). O terapeuta tem de escolher quais os conjuntos posturais mais pertinentes para o tratamento daquele indivíduo, e para tal necessita de observar: • A dificuldade de variar a postura do paciente para um apropriado recrutamento da actividade neuromuscular; • A dificuldade de variar os conjuntos posturais numa transição gradual de uma posição para outra; • A quantidade de esforço que é necessário; • As estratégias motoras que são facilitadas; • Se o paciente perdeu ou fortaleceu o controlo que reconquistou numa posição, à medida que muda para outra. (Gjelsvik, 2008) Um alinhamento
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