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Aula sobre Dobras

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106
4. DOBRAS 
4.1. INTRODUÇÃO 
 As dobras constituem um dos aspectos mais conspícuos das estruturas geológicas. 
Embora possam ser estruturas primárias, apenas estudaremos as dobras que correspondam a 
estruturas secundárias, por serem as que, normalmente, interessam ao estruturalista. 
 Uma dobra consiste num encurvamento de uma superfície estrutural, originalmente plana.1 
Um dobramento é, assim, uma deformação heterogénea. No entanto, uma dobra poderá resultar 
da modificação de uma dobra inicial, através de uma deformação homogénea. As dobras 
amplificadas por uma deformação homogénea dizem-se passivas, pois não passam de um efeito 
cinemático, enquanto que as “verdadeiras” dobras (ditas activas) são o resultado de uma 
instabilidade dinamicamente activada (Fig.4.1).2 
 
 
 
 
 Fig.4.1- Amplificação passiva (cinemática) de dobras. 
 a) Deformação homogénea por cisalhamento puro b) Deformação homogénea por cisalhamento 
simples 
 
 
1 Tais superfícies designam-se, genericamente, por foliações, cujo estudo se fará no Cap.5. 
2 Um dobramento activo pode, sem dúvida, afectar uma dobra preexistente, dando lugar a uma interferência de 
dobramentos. 
 107
 As superfícies dobradas podem ser estruturas primárias (nomeadamente, planos de 
estratificação). Mais frequentemente, as dobras ocorrem em rochas metamórficas, onde afectam 
foliações resultantes de uma reorganização e/ou reorientação dos minerais preexistentes ou dos 
de neoformação, sob a acção de tensões deviatóricas. 
 
 
4.2. DESCRIÇÃO GEOMÉTRICA DAS DOBRAS 
 Na descrição geométrica de uma dobra há a considerar dois níveis de informação: 
 i. Dados relativos à descrição de uma superfície singular, definível na estrutura 
 dobrada; 
 ii. Dados que esclarecem as relações entre as superfícies singulares adjacentes, 
 sobrepostas na estrutura dobrada, conferindo-lhe espessura. 
 
 
4.2.1. Descrição de uma superfície singular dobrada 
4.2.1.1. Perfil de uma dobra: linhas e pontos notáveis 
 Em geral, numa superfície dobrada, a curvatura varia de ponto para ponto. Ao longo de 
certas linhas (em geral, curvas) dessa superfície, a curvatura atinge valores máximos. Tais linhas 
designam-se por linhas de charneira ou, simplesmente, charneiras (Fig.4.2). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.2- Definição de linhas notáveis, numa superfície singular dobrada: ch, charneira; ii, linha de inflexão; 
 (Estas linhas são independentes da orientação espacial da superfície) 
i 
i 
i 
i
i
i
i
i
ch 
ch
ch
ch 
ch 
ch
 108
 A secção de uma superfície dobrada num plano normal à charneira, num dado ponto, 
constitui o perfil da dobra, nesse ponto (Fig.4.3). Embora perfis naturais sejam algo comuns 
(porque as dobras estão, frequentemente, intersectadas por diaclases aproximadamente normais 
às charneiras), no campo, a forma e a atitude de uma dobra devem ser visualizadas com cuidado: 
deverá ter-se em conta a orientação (relativamente à dobra) do corte que se está a observar (v. 
Fig.4.3). 
 
 
 
 
 Fig.4.3- Observação de três cortes numa superfície dobrada e o traçado parcial do perfil de duas das suas dobras. 
 
 
 Num perfil, poderão definir-se alguns pontos notáveis: 
 i. Ponto de charneira - ponto do perfil, onde a curvatura é máxima; 
 ii. Pontos de inflexão - pontos, onde a curvatura do perfil é nula; 
 iii. Ponto de culminação e ponto de depressão - pontos que, relativamente a um nível 
horizontal de referência se encontram, respectivamente, o mais acima e o mais abaixo. 
 
A reunião destes pontos, determinados em perfis sucessivos, definem na superfície 
dobrada, respectivamente, a charneira, as duas linhas de inflexão e a linha de culminação (crest 
line) e a linha de depressão (trough line); 
 
 Nem todas as dobras têm uma geometria que permita definir, inequivocamente, todos os 
elementos acima referidos. Por exemplo, se uma dobra corresponde a uma porção de superfície 
esférica (onde, portanto, a curvatura é constante) não é possível definir linhas de charneira, nem 
de inflexão: é o caso de alguns domos e de algumas bacias estruturais. Já numa dobra em 
“ziguezague” (Z-fold ou chevron) é possível definir uma linha de charneira, mas não linhas de 
inflexão. 
 Numa superfície dobrada ocorre, habitualmente, uma sucessão de dobras, cujos limites 
são as sucessivas linhas de inflexão. Consequentemente, o perfil de cada dobra individual é 
 109
delimitado por dois pontos de inflexão. Assim, na Fig.4.3, representaram-se os perfis de duas 
dobras de uma dada superfície dobrada. 
 Em cada dobra individual, é costume 
delimitarem-se três partes distintas: a zona de 
charneira e dois flancos. A zona de charneira 
corresponde ao sector da dobra situado na 
vizinhança da linha de charneira; os flancos 
são as partes da dobra, de um e outro lado da 
zona de charneira (Fig.4.4). 
 
 Fig.4.4- V. texto 
 
 Introduzindo rigor geométrico às vagas noções acabadas de referir, J. G. Ramsay usa 
perfis das dobras para delimitar aquelas regiões, como se descreve na Fig.4.5. Assim, a zona de 
charneira corresponde, em cada perfil da dobra, ao sector com uma curvatura maior que a de 
uma circunferência de diâmetro igual à distância entre os dois pontos de inflexão que delimitam o 
perfil; os flancos correspondem às zonas de menor curvatura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
flanco 
flanco 
Zona de charneira
 Fig.4.5-Zona de charneira e flancos de uma dobra, segundo Ramsay (v. texto): 
a) Definição do raio unitário, para uma determinada dobra: a curvatura da circunferência será tida como igual à unidade. 
b) Análise da variação da curvatura (c =1 / r) , ao longo do perfil, definindo-se os pontos F1 e F2 (que delimitam os 
sectores de curvatura maior e menor que a unidade) e C (correspondente à curvatura máxima do perfil). 
 c) Definição, no perfil, da zona de charneira e dos flancos da dobra, por transferência dos pontos F1 e F2 definidos em 
b). 
O ponto P é o ponto de charneira obtido por transferência do ponto C definido em b)
1 
i i’ i i’
0 
i i’F1 F2C F1 F2 C 
1 
c
Zona de 
charneira 
flanco flanco
P 
dobra 
a. b. c. 
 110
 Sendo rigorosa, a definição de Ramsay falha, na medida em que há dobras em que ela 
não é aplicável, o que não impede de, intuitivamente, os geólogos continuarem a ver, nessas 
dobras, uma zona de charneira e dois flancos. Na Fig.4.6, ilustram-se alguns casos particulares 
notáveis que exemplificam essa situação. 
 
 
 
Fig.4.6- Dobras em que, segundo a definição de Ramsay, não é possível delimitar a zona de charneira nem os 
 flancos 
 a) A curvatura é sempre nula, excepto na linha de charneira, onde tende para infinito 
 b) A curvatura é constante (e, por definição, unitária) 
 c) A curvatura é variável, mas sempre inferior à unidade 
 
 
 
 Por outro lado, a variação da curvatura, ao longo de um perfil, pode ser complexa, dando 
lugar à definição de mais de uma linha de charneira e de mais de uma zona de charneira. Dobras 
com mais de uma charneira dizem-se policlinais: é o caso, por exemplo, das chamadas box folds 
(Fig.4.7-a; Fig.4.59, p.156) e dos kinks (Fig.4.7-b). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig.4.7- Box-fold (a) e kinks (b) 
 
 
i i’
1
c
1 
c 
a) 
b)
x
x
 111
4.2.1.2. Dobras cilíndricas. Diagrama-π e diagrama-β 
 Muitas dobrasnaturais correspondem a superfícies aproximadamente cilíndricas, sendo 
descritas como tais. Numa dobra cilíndrica, os perfis que se definam têm uma forma constante, 
pois, por definição, uma superfície cilíndrica é uma superfície gerada por uma recta que se desloca 
paralelamente a si própria. A recta geratriz da superfície dobrada define a direcção axial ou 
eixo da dobra. Relativamente a esta definição de eixo de dobra, convém ter presente: 
 
 i. Numa dobra cilíndrica, a charneira é uma recta que tem a direcção do eixo da dobra 
(mas não é o eixo da dobra); 
 ii. Às dobras não-cilíndricas não é aplicável a noção de eixo de dobra (a menos que 
definido diferentemente). 
 
 Em rigor, as dobras naturais serão, quando muito, cilindróides. A fim de avaliar em que 
medida a forma de uma dobra se aproxima da de uma superfície cilíndrica, recorre-se à projecção 
estereográfica de elementos da dobra. Dois métodos poderão ser seguidos (Fig.4.8): 
 
 i. Projecção dos pólos das normais à superfície dobrada, em diferentes pontos; 
 ii. Projecção ciclográfica de elementos planos da superfície dobrada, ou seja, de planos 
tangentes à superfície dobrada, em diferentes pontos. 
 
 No primeiro método, obtém-se um diagrama-π, enquanto que, no segundo, se obtém um 
diagrama-β. Numa dobra perfeitamente cilíndrica, os pólos do diagrama-π definem um círculo 
máximo, pois as normais consideradas serão complanares, uma vez que são perpendiculares a 
uma direcção comum (o eixo da dobra). Num diagrama-β, cada elemento plano projecta-se 
segundo um círculo máximo e, se a dobra for perfeitamente cilíndrica, os diferentes círculos 
máximos intersectam-se num ponto único, pois aqueles elementos planos são, todos eles, 
paralelos a uma direcção única (o eixo da dobra). 
 Qualquer dos diagramas permitirá definir, se a dobra for cilíndrica (ou cilindróide), o eixo 
da dobra: no diagrama-π corresponderá ao pólo do círculo máximo obtido; no diagrama-β, 
corresponderá ao ponto de intersecção dos círculos máximos traçados. 
 
 Se bem que equivalentes, o diagrama-π é preferível ao diagrama-β, pois se a dobra não 
for perfeitamente cilíndrica, a dispersão dos pólos num diagrama-π é facilmente corrigida, mediante 
o traçado do círculo máximo que melhor se ajuste aos pólos obtidos. Já num diagrama-β, a 
dispersão dos planos dá lugar a numerosas intersecções, cuja relevância se torna difícil destrinçar. 
 112
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.8- Análise do carácter cilíndrico de uma dobra. a) Elementos projectados b) Diagramas π e β, para uma 
 dobra perfeitamente cilíndrica c) Diagramas π e β, para uma dobra cilindróide 
 
 
4.2.1.3. Abertura de uma dobra 
 A abertura de uma dobra constitui um dos aspectos mais marcantes da sua forma. A 
abertura de uma dobra é expressa, no seu perfil, pelo ângulo definido pelas rectas tangentes ao 
 113
perfil, nos pontos de inflexão. De acordo com a terminologia de Fleuty, as dobras, quanto à 
abertura, classificam-se em suaves (gentle), abertas (open), fechadas (close), apertadas (tight), 
isoclinais (isoclinal) e flabeliformes (elasticas), como a Fig.4.9 ilustra. 
 
 
 
 
 
 
Fig.4.9- Classificação das dobras quanto à abertura (Fleuty, 1964) 
 
 
 Note-se que o ângulo de abertura, como a Fig.4.10 evidencia, não traduz fielmente a forma 
de uma dobra. Por essa razão, têm surgido outros parâmetros que contribuem para uma definição 
mais precisa da forma de uma dobra. A título de exemplo, na Fig.4.10 indica-se um desses 
parâmetros, proposto por J. G. Ramsay (1967). 
 
 Note-se, ainda, que se pode depreender a forma de uma dobra, a partir do seu 
diagrama−π, atendendo à distribuição dos pólos marcados (Fig.4.11). 
 114
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.10- Dobras com diferentes formas, mas com o mesmo ângulo de abertura (36º) 
 
 
Essa distribuição depende, no entanto, do estilo da dobra e, como a Fig.4.12 evidencia, os 
estereogramas podem ser enganadores, devendo ser analisados em confronto com o observado 
no campo (e convenientemente anotado no livro de campo). 
 
 
 
Fig.4.11- A abertura de uma dobra é igual a 180º- θ. 
 
36º 36º 
 115
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.12- a) Influência do estilo das dobras: dobras em chevron vs. dobras arredondadas 
 b) Duas dobras em chevron com aberturas diferentes, que, por serem suplementares, 
 dão lugar ao mesmo diagrama-π. 
 
 
 
4.2.1.4. Atitude de uma dobra 
 Na descrição da atitude geral de uma dobra no espaço, surgem três termos específicos: 
antiforma, sinforma e dobra neutra (Fig.4.13). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.13- Designação genérica das dobras quanto à sua atitude espacial. 
ANTIFORMA SINFORMA 
DOBRAS NEUTRAS 
a. b. 
 116
 Uma antiforma é uma dobra, cuja abertura está dirigida para baixo; sinforma é uma dobra, 
cuja abertura está voltada para cima; dobra neutra, aquela, cuja abertura se orienta lateralmente. 
 Estes termos vieram substituir os termos clássicos de anticlinal e de sinclinal, cujo 
significado actual se verá mais adiante. No entanto, alguns autores continuam a usar estes termos 
clássicos para caracterizar a atitude espacial das dobras. 
 
 Em geral, uma superfície dobrada exibe uma sequência de dobras, frequentemente, uma 
alternância de antiformas e sinformas. Estas dobras constituem um sistema (ou um trem) de 
dobras. Elas podem ter-se formado simultaneamente, ou sequencialmente. 
 Um sistema de dobras corresponde a uma ondulação (periódica ou aperiódica), delimitada 
entre duas superfícies (em geral não paralelas) designadas por superfícies envolventes (Fig.4.14). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.14- Definição, num perfil, das superfícies envolventes (SE) e da superfície mediana (SM) num sistema de 
 dobras. 
 
 
 Num sistema de dobras, define-se, ainda, a superfície mediana: superfície definida pelas 
linhas de inflexão das sucessivas dobras. Geralmente, não se encontra a meia distância das 
superfícies envolventes. 
 
 Frequentemente, numa superfície dobrada é possível reconhecer várias ordens de 
dobramentos, isto é, na zona de charneira e nos flancos de uma dobra (dita maior) observam-se 
corrugações ou dobras de menor amplitude (dobras menores ou dobras parasíticas). Como a 
Fig.4.15 ilustra, as diferentes ordens de dobras podem ser discriminadas, traçando sucessivas 
superfícies medianas das dobras menores, até se obter uma superfície mediana plana (uma linha 
recta, num perfil). 
 
SE 
SE 
SM
 117
 
 
 
 Fig.4.15- Reconhecimento de três ordens de dobramento nas dobras representadas em a). 
 As dobras de 1ª ordem são definidas pela mediana das dobras de 2ª ordem e assim sucessivamente. 
 (Medianas, a tracejado) 
 
 
 118
 Os eixos destas dobras de diferentes ordens (admitamos que elas são cilindróides) são 
paralelos. Um outro aspecto importante destas dobras menores é a sua simetria variável, 
consoante a sua localização relativamente à dobra maior. As dobras menores situadas na zona de 
charneira da dobra maior são simétricas, apresentando dois flancos de dimensões semelhantes, 
pelo que, em perfil, têm a forma de um M. Pelo contrário, as dobras menores situadas nos flancos 
da dobra maior são assimétricas, apresentando flancos longos alternando com flancos curtos: em 
perfil, têm uma forma em S ou em Z, consoante a direcção segundo a qual forem observadas.3 
 
 
 Fig.4.16- Dobras menores (em M, S e Z) numa dobra maior. 
 
 
 A observação da simetria das dobrasmenores é um elemento importante da análise 
estrutural, pois permite identificar dobras maiores que, pela sua dimensão, escapam à observação 
directa do geólogo. Para esse efeito, regista-se a forma das dobras menores (M, S ou Z), quando 
observadas na direcção em que os seus eixos mergulham. Dobras em M situar-se-ão na zona de 
charneira da dobra maior (regional), enquanto que, num flanco, encontraremos dobras em S e, no 
outro, dobras em Z. 
Nesta análise estrutural, é frequente usar-se o termo vergência. Vergência corresponde à 
direcção horizontal, no plano do perfil da dobra, segundo a qual se dirige a componente superior 
da rotação que, aparentemente, deu lugar à dobra menor (S ou Z) desenhada por flanco 
longo−flanco curto−flanco longo (Fig.4.17-a). 
 A vergência dada por um par de dobras menores dirige-se para a zona de charneira 
da antiforma maior. Habitualmente, na prática, regista-se no mapa da área a forma das dobras 
 
3 Como é evidente, se marcarmos um S numa folha transparente: vista do outro lado, aquela letra converte-se num Z. 
 119
menores, vistas em perfil, o que permitirá reconhecer as zonas de charneira e os flancos das 
dobras maiores (Fig.4.17-b). 
 
. 
 
 
 Fig.4.17- a) Definição de vergência das dobras menores 
 b) Mapa com o registo da forma das dobras menores, o qual permite reconhecer as zonas de charneira 
e 
 os flancos das dobras maiores. 
 
 
 
 
4.2.2. Relações entre superfícies dobradas sobrepostas 
 Num corpo litológico dobrado, habitualmente, reconhecem-se sucessivas superfícies 
sobrepostas dobradas. Considerando tais superfícies, definem-se (Fig.4.18): 
i. Superfícies de inflexão, que integram as linhas de inflexão definidas nas sucessivas 
superfícies dobradas, sobrepostas; 
 ii. Superfícies axiais, que integram as sucessivas linhas de charneira.4 
 
 Estas superfícies são, em geral, curvas, mas, frequentemente, são tratadas como se 
fossem planas. Assim, é usual dizer-se plano axial em vez de superfície axial. 
 
4 Na literatura inglesa, ocorre o termo hinge surface, como sinónimo de axial surface. 
 120
 
 Fig.4.18- Definição de superfícies axiais (s.a.) e de superfícies de inflexão (s.i.) numa sucessão de superfícies 
dobradas sobrepostas (S1 , S2 , ..., S4 ). (ch., linhas de charneira; l.i., linhas de inflexão) 
 
 
 
4.3. DESCRIÇÃO DA ATITUDE ESPACIAL DE UMA DOBRA 
 Na descrição da atitude de uma dobra, recorre-se aos elementos geométricos (linhas e 
superfícies) definidas nas secções precedentes. Geralmente e em primeira análise, tais elementos 
são considerados como linhas rectas ou como superfícies planas. Numa dobra cilíndrica (ou 
cilindróide) os elementos considerados são a charneira (ou o eixo da dobra) e o plano axial, 
cujas atitudes devem ser medidas no campo ou determinadas, indirectamente, recorrendo à 
projecção estereográfica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig.4.19- Elementos usados para caracterizar a atitude espacial de uma dobra: P.a., plano axial; f, eixo; ch., charneira 
 
P.A. 
f 
ch. 
 121
 Vejamos os métodos habituais da indicação da atitude espacial de uma recta e de um plano, em 
Geologia. 
 i. Atitude de uma recta (Fig.4.20) 
 Pode ser definida de duas maneiras diferentes. Pode ser definida através da indicação do 
ângulo que a recta faz com a sua projecção horizontal (mergulho) e do azimute dessa projecção 
horizontal (ou seja, o azimute do plano vertical que contém a recta considerada). Alternativamente, 
a atitude de uma recta pode ser definida através do ângulo agudo (rake) que ela define com a 
horizontal de um plano (estrutural) predefinido. No último caso, ao dar o valor do rake deverá ser 
indicado o rumo geral do mergulho da recta. 
 Por exemplo, para o caso representado na Fig.4.20, a orientação da recta r seria 
descrita como sendo: 
 30º → 075º (mergulha 30º para o azimute de 75º) 
ou recta de rake = 46ºNE em S, sendo S um plano de orientação conhecida. 
 Tratando-se da definição da atitude do eixo de uma dobra, em vez do termo (geral) rake, 
usa-se o termo pitch, sendo S1 o plano axial da dobra.5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.20- Definição da atitude uma recta em Geologia Estrutural e sua representação em projecção 
estereográfica. 
 
 
5 O termo pitch tem sido usado em diversas acepções. Nas últimas décadas, tem sido usado como sinónimo de rake, 
apesar de ser este o termo recomendado por um comité da USGS , que propôs o abandono do termo pitch , naquela 
acepção. No entanto, em Geologia Estrutural, a generalidade dos autores recentes usa o termo pitch conforme se define no 
texto. 
N
PV 
PH 
S µ 
rH 
rH 
r 
α 
H 
H’ 
S 
PH, plano horizontal 
PV, plano vertical de r 
RH, projecção horizontal de r 
S, um plano que contém r 
HH’, horizontal de S 
α, azimute de r = 075º 
µ, mergulho de r = 30º 
ρ, rake = 46ºNE 
N 
090º
180º 
270º
075º 
PV 
ρ 
µ r 
 122
 
 ii. Atitude de um plano (Fig.4.21) 
 Pode ser definida de duas maneiras diferentes: através da indicação do azimute da sua 
horizontal (direcção do plano), conjuntamente com o ângulo que o plano define com um plano 
horizontal (inclinação do plano); alternativamente, pode ser definido através da sua recta de maior 
declive, de que se deve indicar o mergulho e o azimute, como acima se indicou. 
 No primeiro caso, várias notações são comuns. Frequentemente, a definição do azimute é 
feita através de um ângulo inferior a 180º, medido a partir do Norte, para Este ou para Oeste. 
Outros autores indicam o ângulo medido, sempre no sentido horário, a partir do Norte, podendo, 
portanto, variar entre 0º e 180º. A inclinação, como se vê pelos exemplos abaixo dados, é sempre 
traduzida por um ângulo entre 0º e 90º, com indicação do seu sentido. 
 Exemplos: 
 N30ºE-34ºSE N030-34ºS recta de maior declive : 34º →120º 
 N20ºW-67ºW N160-67ºW recta de maior declive : 67º → 250º 
 N50ºW-20ºNE N130-20ºN recta de maior declive : 20º → 040º 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.21- Definição da atitude um plano (S) em Geologia Estrutural e sua representação em projecção 
 estereográfica (polar e ciclográfica). 
 
 
 As superfícies acima definidas (e especialmente, a superfície ou plano axial) são também 
descritas através das suas intersecções (traços) noutras superfícies, nomeadamente, no plano 
horizontal onde se faz a projecção cartográfica ou no plano de um perfil da dobra. 
 Note-se que reconhecendo, num mapa, o traço axial (i.e., o traço do plano axial) e a 
direcção axial é possível determinar a atitude do plano axial (Fig.4.22). 
δ 
i 
PH 
S
O 
R 
H 
H’ 
δ = 30º 
i = 28º 
 
S: N30ºE-28ºSE 
PH, plano horizontal 
HH’, horizontal de S 
OR, recta de maior declive de S 
OR’, projecção de OR em PH 
R’ 
N 
030º
120º
S 
28º 
N 
 123
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.22- Determinação, sobre um estereograma, da atitude do plano axial (PA), a partir do traço axial (TT’) e do 
 eixo da dobra (b ), definidos no mapa. 
 
 
4.4. DESCRIÇÃO DA “ATITUDE ESTRATIGRÁFICA” DE UMA DOBRA 
 Vimos que, quanto à sua atitude espacial geral, uma dobra pode ser uma antiforma, uma 
sinforma ou uma dobra neutra. Considerando, agora, as relações, em termos de tipo de sequência 
estratigráfica das superfícies dobradas, usam-se os termos anticlinal e sinclinal.6 O significado 
destes termos pode ser apreendido, considerandoum corte das dobras, perpendicularmente ao 
perfil (Fig.4.23). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig.4.23- Distinção entre anticlinal e sinclinal. As dobras representadas tanto podem ser antiformas como sinformas. 
 (As setas dão a polaridade da estratificação) 
 
 
6 Recorde-se que, classicamente, estes termos tinham o significado de antiforma e de sinforma. 
50º 
N 
T
T 
T’ 
ρ = PITCH (ou RAKE) 
60º 
µ = MERGULHO (60º) 
PA 
µ ρ 
b
eixo da dobra (b) 
traço axial 
T’
Polaridade Polaridade 
+ recente + antigo 
núcleo núcleo 
SINCLINAL ANTICLINAL 
antiforma / s informa 
 124
 Duas situações podem ocorrer: os estratos dobrados estão em sequência normal ou estão 
invertidos.7 No primeiro caso, uma antiforma diz-se anticlinal e uma sinforma diz-se sinclinal. No 
segundo caso, uma antiforma diz-se sinclinal e uma sinforma diz-se anticlinal. As quatro 
possibilidades estão ilustradas na Fig.4.24. 
 Note-se, ainda, que os termos anticlinal e sinclinal podem ser usados como substantivos, 
enquanto que os termos antiforma e sinforma são adjectivados: em vez, por exemplo, de antiforma 
sinclinal (“syncline antiform”), há quem diga sinclinal antiformal (“antiformal syncline”). 
 
Neste contexto, usa-se o termo vergência para referir a direcção em que, ao longo da 
superfície axial da dobra, se “caminha” para as camadas mais recentes: por exemplo, “antiforma 
anticlinal com vergência para noroeste”.8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.24- a) Antiforma anticlinal b) Antiforma sinclinal c) Sinforma sinclinal d) Sinforma anticlinal. 
 As setas indicam a polaridade (normal, n ; invertida, I ) e, portanto, a vergência (facing) das dobras. 
 (O esquema mostra que a polaridade foi determinada através da granoclassificação dos sedimentos) 
 
 
 
 
 
7 A polaridade da estratificação será determinada pelos métodos correntes da Estratigrafia, atendendo, por exemplo, de 
estruturas sedimentares (granoclassificação, estratificação cruzada, etc.), da disposição dos fósseis, etc. 
8 Na literatura inglesa surge, ainda, em vez do termo vergence, o recurso ao verbo to face, ou seja, traduzindo o exemplo 
dado, anticline antiform facing Northwest. Em inglês, dir-se-á, portanto, que: an anticline antiform faces upwards ; a syncline 
antiform faces downwards. 
 125
4.5 CLASSIFICAÇÃO DAS DOBRAS 
 A nomenclatura das dobras tornou-se, no decorrer dos tempos, muito confusa, pela 
profusão dos termos usados pelos diferentes autores, pela imprecisão da definição de muitos 
desses termos e pelo uso do mesmo termo com significados diferentes. Recentemente, tem-se 
procurado fazer uma arrumação da terminologia e, no caso da classificação das dobras, distinguir 
os termos que descrevem a atitude espacial da dobra dos que descrevem a sua forma. 
 Devemos, pois, adoptar dois sistemas de classificação: um para descrever a atitude 
espacial da dobra e outra para descrever a forma da dobra. 
 Uma classificação muito seguida para descrever a atitude da dobra é a de Turner e Weiss 
(1963), ou a sua modificação por Fleuty (1964), aplicável a dobras cilindróides de superfície axial 
plana (ou tida como tal). Para definir a forma das dobras, é muito conveniente uma classificação 
como a desenvolvida por Ramsay (1967). 
 
4.5.1. Classificação de Turner e Weiss 
 Nesta classificação atende-se ao mergulho da linha de charneira e à inclinação da 
superfície axial. Os termos usados estão indicados no Quadro 4.1 e ilustrados na Fig.4.25. 
 
 
QUADRO 4.1- Classificação de Turner e Weiss (1963) 
 LINHA DE CHARNEIRA 
 HORIZONTAL MERGULHANTE VERTICAL 
 VERTICAL Horizontal normal Plunging normal Vertical 
 
 
 OBLÍQUA 
 
 
Horizontal inclined 
Plunging inclined 
 
 
Reclined 
 
 
 
 
− 
HORIZONTAL Recumbent − − 
 
 Traduzindo, uma dobra poderá ser: normal horizontal , normal mergulhante, vertical , 
inclinada horizontal , inclinada mergulhante, reclinada , ou recumbente.9 
 
 
9 Alguns autores de língua inglesa, em vez do termo normal (para designar dobras de plano axial vertical), usam o termo 
upright. Também, os termos relativos à atitude do plano axial precedem, por vezes, os referentes à charneira, i.e., em vez 
de, por exemplo, plunging inclined fold , dizem inclined plunging fold. 
 126
 
 Fig.4.25- Ilustração da classificação das dobras quanto à sua atitude espacial. (Dobras dispostas 
 como no Quadro 4.1) 
 
 Note-se que os termos referentes à atitude da superfície axial, em alguns autores, 
precedem os termos referentes à linha de charneira, como no Quadro 4.1 se escreveu. Isto é, em 
vez de dizerem plunging inclined fold, preferem dizer inclined plunging fold. 
 Na modificação de Fleuty, consideram-se graduações do mergulho do eixo da dobra e da 
inclinação da superfície axial (Fig.4.26). 
 
 
Fig.4.26- Classificação de Fleuty (1964) 
 127
4.5.2. Classificação de Ramsay 
 Esta classificação diz respeito à forma da dobra, independentemente da sua atitude 
espacial ou estratigráfica. Essa forma é analisada sobre o perfil da dobra e, basicamente, assenta 
na disposição das isógonas de inclinação (dip isogons). Uma isógona de inclinação é uma linha 
que, nos perfis das superfícies dobradas sobrepostas, reúne pontos de igual inclinação dessas 
superfícies (Fig.4.27). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.27- a) Definição de uma isógona de inclinação, i (a correspondente à inclinação, α = 32º) 
 b) Duas isógonas (32º e 20º) , definidas numa dobra: elas convergem para os arcos internos, que têm, 
 portanto, uma curvatura maior que os arcos externos. 
 
 
 Como a Fig.4.27-a ilustra, para traçar a isógona correspondente a um certo ângulo, traça-
se uma horizontal de referência e procuram-se os pontos de tangência às sucessivas superfícies 
dobradas, determinados por rectas com o declive definido por aquele ângulo. 
 A disposição relativa das isógonas depende das relações de curvatura entre as superfícies 
dobradas e, portanto, depende da forma das dobras. Se as isógonas forem paralelas, podemos 
concluir que os arcos que formam o perfil considerado têm a mesma curvatura; se as isógonas não 
forem paralelas, é porque há um aumento da curvatura das superfícies dobradas, na direcção em 
que as isógonas convergem. Na prática, fala-se em “convergência” ou em “divergência” das 
isógonas, pressupondo que elas são observadas partindo dos arcos externos para os arcos 
internos, i.e., do lado convexo da dobra para o lado côncavo da mesma (Fig.4.28). 
h o r i z o n t a l 
i i
32º 
20º 
a. b.
 128
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.28- a) Isógonas ditas “convergentes” (a curvatura do arco interno é maior que a do arco externo). 
 b) Isógonas ditas “divergentes” (a curvatura do arco interno é menor que a do arco externo). 
 
 
 
 Para uma mais fácil definição da forma das dobras, J.G. Ramsay recorre à análise da 
variação da espessura da “camada” dobrada, ao longo da dobra. A espessura é determinada, no 
perfil da dobra, entre rectas, com um dada inclinação relativamente ao traço axial, tangentes às 
superfícies dobradas (Fig.4.29). 
 Duas definições de espessura podem ser usadas: espessura axial (Tα, determinada 
paralelamente ao traço axial) e ortogonal (tα, perpendicular às tangentes que a definem). Em 
princípio,é indiferente usar uma ou a outra, pois elas estão relacionadas entre si, para cada 
valor do ângulo de inclinação: 
tα = Tα cos α 
sendo α o ângulo de “inclinação” das tangentes consideradas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.29- Definição de espessura axial (Tα ) e de espessura ortogonal (tα), para um dado valor de α, para a dobra 
 delimitada pelas superfícies S1 e S2 
 
+ 
− 
α 
traço axial
Tα 
tα 
S1 
S2 
Tο 
 129
 De preferência aos valores absolutos daquelas espessuras, usam-se valores 
normalizados, independentes da dimensão das dobras analisadas. Esses valores (T’α e t’α ) obtêm-
se, dividindo as espessuras absolutas pelo valor da espessura T0 (= t0) correspondente à 
inclinação α = 0º, ou seja, determinada ao longo do traço axial: 
 T’α = Tα/ T0 e t’α = tα/ t0 
 
 Definem-se cinco classes de dobras, designadas por 1A, 1B, 1C, 2 e 3, que se podem 
caracterizar como se descreve nos quadros seguintes. Note-se que as classes 1A, 1B e 1C 
correspondem a sub-classes de uma classe (classe 1) , definida a par com as classes 2 e 3. 
 
 
 ISÓGONAS ESPESSURA AXIAL 
CLASSE 1 Convergentes Tα > T0 (T’α > 1) 
CLASSE 2 Paralelas Tα = T0 (T’α = 1) 
CLASSE 3 Divergentes Tα < T0 (T’α < 1) 
 
 
 ISÓGONAS ESPESSURA ORTOGONAL 
CLASSE 1A Fortemente convergentes tα > t0 (t’α > 1) 
CLASSE 1B Perpendiculares às dobras tα = t0 (t’α = 1) 
CLASSE 1C Fracamente convergentes tα < t0 (t’α < 1) 
 
 
 Na Fig.4.30 exemplificam-se dobras das diferentes classes (com as respectivas isógonas). 
 
As dobras da classe 1B correspondem às dobras paralelas clássicas (dobras de 
espessura ortogonal constante) e as da classe 2, às dobras similares (dobras de espessura axial 
constante). No entanto, tais dobras não serão as mais vulgares: na Natureza, as dobras das 
classes 1C e 3 parecem ser as mais vulgares. 
 
 130
 
 
Fig.4.30- Dobras, exemplificando cada uma das classes definidas por J.G. Ramsay 
 
 Note-se, finalmente, que uma dobra pode não ser enquadrável, inequivocamente, em 
qualquer das classes acima referidas. Tal está ilustrado na Fig.4.31, para uma dobra de geometria 
complexa, em que t’(α ) se situa nos campos das classes 3, 2 e 1C. A consideração das derivadas 
de primeira e de segunda ordem daquela curva leva J.G. Ramsay a descrevê-la como sendo da 
classe 3, modificada pela classe 1A. 
 
 
 
Fig.4.31- Dobra não directamente enquadrável na classificação de Ramsay, como as isógonas e a função t’(α) evidenciam. 
 (In. J.G. Ramsay, 1967) 
 131
4.6. MODELOS CLÁSSICOS DE DOBRAMENTO 
 Na literatura geológica faz-se, frequentemente, referência a três modelos simplificados de 
dobramento, reproduzidos em muitas situações experimentais ou em simulações de computador. 
Eles permitem caracterizar diferentes formas de distribuição da deformação no interior (e em torno) 
da unidade dobrada, servindo como modelos de referência para o estudo das dobras naturais. 
 Para cada caso, parte-se de uma 
camada competente de secção rectangular, 
onde se inscrevem diversas marcas para 
análise da deformação, incluindo, na sua face 
superior, rectas representativas de uma 
lineação original (Lo ). (Fig.4.32). 
 
 Fig.4.32 
 
 
4.6.1. Dobramento por deformação longitudinal tangencial 
 É o tipo de dobramento que, muito provavelmente, ocorrerá num corpo laminar submetido 
a uma compressão que lhe é aplicada paralelamente, como a Fig.4.33 ilustra. 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.33 
 
 
 
4.6.1.1. Deformação interna 
 Neste tipo de dobramento formam-se dobras paralelas (i.e., da classe 1B), cujo estado de 
deformação, observado no plano do perfil, tem as características seguidamente enumeradas 
(Fig.4.34). 
Lo
 
η2 
n2 
η2 
n2 
η1
n1 
ηi , viscosidades (η1 > η2 ) 
(alternativamente, E1 e E2, em 
materiais elásticos) 
ni , expoente da eq. 3.10 
(n = 1 se o líquido for newtoniano)
 132
 i. Uma das direcções principais da deformação (X ou Z) orienta-se perpendicularmente às 
superfícies dobradas e as outras duas (Y e Z ou X), tangencialmente às mesmas superfícies. Este 
estado de deformação interna designa-se por longitudinal tangencial. 
 ii. Ocorre uma superfície neutra, ou seja, uma superfície ao longo da qual não ocorre 
deformação finita: as extensões finitas principais são nulas. Esta superfície não se situa, 
necessariamente, a meia distância dos limites da dobra e, na verdade, a sua posição varia durante 
a história deformacional; por esta razão, deverá, antes, designar-se por superfície neutra finita. 
 
 
 Fig.4.34- Estado de deformação numa dobra por deformação longitudinal tangencial (in. J.G. Ramsay, 1967) 
 
 iii. Ocorre uma deformação plana (plane strain): a área no plano do perfil da dobra 
manteve-se invariável (i.e., (1+e1)(1+e3) = 1 ) e a extensão segundo a direcção axial da dobra é 
nula (e2 = 0). O eixo da dobra é, portanto, em todos os pontos, paralelo ao eixo intermediário (Y) do 
elipsóide de deformação finita e o plano do perfil corresponde, sempre, ao plano XZ. 
 iv. A dobra é paralela e, portanto, tem uma espessura ortogonal constante. No entanto, se 
individualizarmos, ao longo da superfície neutra finita, uma banda que originalmente tivesse uma 
espessura constante, verifica-se que ela foi adelgaçada junto dos arcos externos (acima da 
superfície neutra, relativamente ao seu centro de curvatura) e foi alargada nos arcos internos. Os 
arcos externos estão distendidos e os internos, comprimidos. 
 v. A deformação, ao longo de cada isógona no plano do perfil, aumenta com a distância à 
superfície neutra finita, aumentando mais rapidamente nos arcos internos que nos arcos externos. 
 133
 
4.6.1.2. Deformação de uma lineação preexistente 
 O ângulo (α) que a lineação definia originalmente com a direcção axial é modificado em 
todas as superfícies em que se observe a lineação, excepto ao longo da superfície neutra finita. 
Nos arcos externos da dobra (onde ocorre uma distensão), aquele ângulo torna-se maior, 
enquanto que, nos arcos internos (onde ocorre contracção), ele torna-se menor (Fig.4.35). 
 
 
 
 
 b. 
 Fig.4.35- Efeito de um dobramento por deformação longitudinal tangencial sobre uma lineação preexistente (Lo). 
 a) Situação inicial 
 b) Situação após dobramento, para superfícies acima e abaixo da superfície neutra finita (S.N.) 
 
 
 
 
 Em projecção estereográfica, o registo da atitude de uma lineação observada em 
diferentes superfícies de uma dobra deste tipo, dará lugar a pólos situados em três arcos menores, 
consoante a lineação for observada num arco externo, num arco interno, ou na superfície neutra 
(Fig.4.36). Um registo da variação da orientação de uma lineação observada em diversos 
afloramentos, numa dada área, que tenha este aspecto, permitirá reconhecer as dobras naturais 
em que o estado de deformação interna seja do tipo longitudinal tangencial. 
 
 
 
 134
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.36- Registo, em projecção estereográfica, da variação de orientação de uma lineação dobrada, no caso de 
 uma dobra por deformação longitudinal tangencial. 
 
 
4.6.1.3. Estruturas menores associadas 
 As estruturas menores associadas a este tipo de dobramento são, predominantemente, 
estruturas cataclásticas, isto é, estruturas em que ocorre a fracturação da rocha. Essa rotura dá-se 
quando o material deixa de ter a capacidade de acomodar mais deformação por mecanismos de 
deformação dúctil como os que, até então, vinham ocasionando o progressivo dobramento do 
“estrato”.A forma de fracturação, dependendo do estado de tensão, não é a mesma nos arcos 
externos e nos arcos internos da dobra (Fig.4.37). Nos primeiros, onde ocorre distensão (regime 
tractivo), ocorrem fendas de tracção (tension gashes) normais a X, em forma de cunha, pois 
propagam-se do arco exterior da dobra para a superfície neutra, que constitui o limite do seu 
avanço. À medida que se vão formando e ampliando, vão sendo preenchidas por material 
facilmente mobilizável pelas tensões diferenciais, nomeadamente, por minerais como o quartzo ou 
a calcite, presentes nas rochas circundantes. Esses minerais tenderão a migrar das zonas sujeitas 
às maiores tensões compressivas para as sujeitas às menores compressões (fenómeno da 
dissolução por pressão). Em particular, estando os arcos internos sujeitos a um estado de tensão 
mais elevado que o presente nos arcos externos, eles tendem a perder aqueles minerais 
facilmente mobilizáveis. É, então, frequente ver-se que os arcos internos (i.e., “abaixo” da 
superfície neutra finita) são mais escuros que os externos (i.e., “acima” da superfície neutra finita), 
por se terem empobrecido daqueles minerais claros. 
f 
arco interno
arco externo
superfície neutraα’ 
α’’
 135
 
 Fig.4.37- Estruturas menores associadas às dobras por deformação longitudinal tangencial 
 
 
 Nos arcos internos, o regime é compressivo e a rotura do material ocorre sob a forma de 
falhas inversas (thrusts), dispostas simetricamente em relação a X e Z do elipsóide deformação 
finita. 
 Ainda nos arcos internos, ocorre, por vezes, uma fissuração perpendicular a X (portanto, 
por tracção e orientando-se paralelamente à “estratificação”). A formação desta fissuração é 
facilitada pela presença de uma elevada pressão intersticial. 
 
 Nestas dobras, uma deformação dúctil (fluxo do material sem que haja rotura) pode 
também dar origem a estruturas associadas. É o caso da clivagem de dissolução por pressão, 
presente, de uma forma mais ou menos incipiente, nos arcos internos. Trata-se de uma foliação 
que, sendo normal a Z do elipsóide de deformação finita, define um leque convergente, 
relativamente ao traço axial da dobra no plano do seu perfil. 
 
 
4.6.1.4. Flexão anticlástica 
 Em rigor, o dobramento de uma barra, como na Fig.4.33, não dá lugar às dobras cilíndricas 
de geometria simples, atrás descritas. Uma simples experiência, como a de dobrarmos uma vulgar 
borracha usada em Desenho, põe-no bem em evidência: a dobra obtida não é cilíndrica e tem uma 
forma complexa, em sela (Fig.4.38). Verifica-se, em sobreposição ao dobramento por deformação 
 136
longitudinal tangencial, um dobramento semelhante, mas de menor amplitude, que lhe é 
perpendicular. Este efeito designa-se por dobramento anticlástico. Como se vê na Fig.4.37-b, o 
arco exterior da dobra tende a contrair-se ao longo da charneira, enquanto que o arco interno 
tenderá a distender-se. A deformação deixa de ser plana. 
 
 
 Fig.4.38- Dobramento anticlástico. 
 a) Representação em perspectiva da dobra b) Secção segundo a charneira 
 (A ponteado, secção para uma dobra por deformação longitudinal tangencial, ideal) 
 
 
 Se bem que, na crusta terrestre, o confinamento de um “estrato” pelas rochas envolventes 
iniba a formação de dobramentos anticlásticos, tem-se admitido que este tipo de dobras possa 
ocorrer, naturalmente, quando a unidade dobrada é de extensão lateral limitada. A incidência de 
dobramento anticlástico tem sido, ocasionalmente, invocada para justificar a observação de eixos 
de dobras com variações no seu mergulho, ao longo da estrutura dobrada. 
 
 
4.6.2. Dobramento flexural 
 É um mecanismo típico de rochas com uma forte anisotropia mecânica planar, isto é, 
divididas por descontinuidades planas, paralelas, que, pela sua menor resistência mecânica 
(nomeadamente, menor coesão) comandam o dobramento. 
 As dobras formadas são paralelas (classe 1B). 
 Duas situações poderão ocorrer, como a Fig.4.39 ilustra. 
 
b. 
 137
 
 Fig.4.39- Dobras flexurais. a) Dobra por escorregamento flexural b) Dobra por fluxo flexural 
 
 
 i. O escorregamento verifica-se ao longo de planos discretos, tal como acontece ao dobrar-
se uma resma de folhas de papel. A deformação não se distribui uniformemente, mas concentra-se 
ao longo das descontinuidades mecânicas que dividem a unidade dobrada em “folhas” 
relativamente possantes (Fig.4.39-a). O movimento de escorregamento é nulo junto da charneira e 
aumenta, progressivamente, à medida que nos afastamos dela. As dobras formadas designam-se 
por dobras por escorregamento flexural (flexural slip folds). 
 ii. O movimento relativo entre as “folhas” varia de forma contínua, como se a rocha fosse 
composta por um número infinito de “folhas”, de espessura infinitesimal. Como modelo analógico, 
podemos considerar o dobramento de uma esponja paralelepipédica. A deformação distribui-se de 
uma forma gradual, contínua, através da dobra (Fig.4.39-b), aumentando progressivamente dos 
arcos externos para os internos e da charneira para as linhas de inflexão. As dobras deste tipo 
designam-se por dobras por fluxo flexural (flexural-flow folds). 
 
 Comparando os dois modelos de dobramento, até agora considerados, é de esperar que 
dobras por flexão (em que o estado de deformação é longitudinal tangencial) sejam características 
de materiais mecanicamente isotrópicos, enquanto que as dobras por fluxo ou escorregamento 
flexural serão características de materiais marcadamente estratificados, laminados ou com uma 
foliação penetrativa nítida. Mas, nem sempre tal se verifica. 
 
 138
4.6.2.1. Deformação interna 
 A deformação é por cisalhamento simples heterogéneo, máxima ao longo das linhas de 
inflexão da dobra e mínima (nula) nas linhas de charneira. 
 As principais características do estado de deformação são as seguintes: 
 i. Nas dobras não se define uma superfície neutra; 
 ii. A deformação é plana (λ1 λ3 = 1 e λ2 = 1) em todos os pontos da dobra, cujo eixo é 
paralelo ao eixo Y do elipsóide de deformação finita; 
 iii. Em cada ponto da dobra, a superfície dobrada intersecta os elipsóides de deformação 
finita segundo uma secção circular de raio unitário, i.e., aquela superfície não está deformada; 
 iv. Os planos XY dos elipsóides de deformação finita divergem do plano axial nas 
 antiformas (quando se vai dos arcos externos para os internos). 
 
4.6.2.2. Estruturas menores associadas 
 O movimento ao longo das descontinuidades mecânicas que comandam o dobramento dá 
lugar a incisões nesses planos, designadas por estrias de escorregamento ou slickensides. 
Frequentemente, não são sulcos resultantes de um atrito entre as rochas, mas, antes, 
correspondem a fibras constituídas por minerais (habitualmente, o quartzo ou a calcite), cujo 
crescimento seguiu a direcção do movimento ao longo daquelas descontinuidades. Estas estrias 
são perpendiculares ou subperpendiculares à direcção axial das dobras, sendo mais evidentes 
longe das charneiras (Fig.4.40). 
 Face ao que foi dito, não é de surpreender que em estratos fossilíferos dobrados segundo 
este modelo, as estrias de escorregamento observadas nos planos de estratificação se associam a 
fósseis não deformados. 
 
 
 Fig.4.40- Slickensides numa dobra flexural. 
 
 
 139
 Outras estruturas, que poderemos observar em dobras flexurais, são as fendas de tracção 
dispostas em degraus (en échellon), relacionadas com um cisalhamento frágil-dúctil (Fig.4.41). 
 
 
 
 
 Fig.4.41- Desenvolvimento progressivo de dois sistemas conjugados de fendas de tracção sigmoidais 
 
 
 
 
 Como a Fig.4.41mostra, o seu desenvolvimento decresce das linhas de inflexão para a 
charneira da dobra e, com a intensificação do dobramento, vão adquirindo a forma sigmoidal, que 
lhes é típica. 
 
 
 
4.6.2.3. Deformação de uma lineação preexistente 
 Uma vez que não ocorre qualquer deformação nas superfícies dobradas, o ângulo que 
uma lineação originalmente definia com qualquer outra direcção daquelas superfícies 
(nomeadamente, com a que irá corresponder ao eixo do dobramento) mantém-se invariável. 
Portanto, se, numa projecção estereográfica, marcarmos os pólos das lineações observadas, 
esses pólos definem um círculo menor, correspondente a um afastamento angular constante (α) do 
pólo (f ) da direcção axial (Fig.4.42). 
 
 
 
 140
 
 Fig.4.42- Deformação de uma lineação por dobramento flexural 
 
 
4.6.3. Dobramento por escorregamento laminar (shear folding, slip folding) 
 É o único modelo avançado para visualizar a formação de dobras similares (dobras da 
classe 2). De acordo com o modelo clássico, tudo se passa como num baralho de cartas, em que 
estariam envolvidos escorregamentos laminares (cisalhamentos) segundo planos discretos, 
periodicamente repetidos, oblíquos à superfície que vai ser passivamente dobrada (Fig.4.43-a). 
 Alguns autores substituem este modelo pouco natural, por um outro em que se consideram 
linhas de fluxo tectónico, oblíquas à superfície que vai ser dobrada, e em que o fluxo se dá de 
forma heterogénea: dobramento por fluxo (flow folding), ilustrado na Fig.4.43-b. Estas últimas 
dobras poderão ter uma geometria bem mais complexa que as geradas pelo modelo clássico, 
primeiramente descrito: elas não serão, necessariamente, cilíndricas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.43- Modelos teóricos de génese de dobras similares (v. texto) 
 
DOBRAMENTO POR FLUXO DIFERENCIAL 
a 
M O D E L O A N A L Ó G I C O 
a 
c 
b 
 141
4.6.3.1. Deformação interna 
 Vejamos algumas características destas dobras, relacionadas com o seu estado de 
deformação, interna, adoptando, para as descrições, os eixos cinemáticos de Sander (a, b e c ), 
representados na Fig.4.43 e 4.44. 
 i. Ao longo dos planos de escorregamento (ditos planos do fluxo ou planos do 
cisalhamento ou planos ab) não ocorre deformação, pelo que intersectarão os elipsóides de 
deformação finita segundo circunferências de raio igual a 1 (o valor de λ2). 
 ii. Como a deformação no plano ac é por cisalhamento simples, não há variação de área: 
λ1 λ3 = 1; e sendo λ2= 1, conclui-se que ocorre uma deformação plana. 
 iii. A deformação no plano ac não varia na direcção de a, isto é, ao longo de cada “folha” 
delimitada por dois planos do fluxo, a deformação é constante. Daí resulta que não se define uma 
superfície neutra. 
 iv. A deformação no plano ac é heterogénea: ela varia na direcção de c. 
 v. O plano axial das dobras formadas é paralelo aos planos de fluxo, ab. A atitude dos 
eixos das dobras depende da orientação do “estrato” passivo original, relativamente à direcção do 
fluxo, a. A direcção axial será b, apenas se a for normal àquele “estrato” (Fig.4.45). 
 
 
 
 Fig.4.44- (V. texto) 
 
 142
 
 
 
 
Fig.4.45- (V. texto) 
 (Repare-se que em c), o dobramento não modifica a marca planar e só seria detectado pela deformação 
 de uma lineação preexistente) 
 
 
 
4.6.3.2. Deformação de uma lineação preexistente 
 Admitindo que a direcção do fluxo (a) é constante, uma lineação preexistente (Lo) é 
encurvada, mas mantém-se no plano que a sua direcção original define com a direcção daquele 
fluxo (Fig.4.46). Portanto, em projecção estereográfica, os pólos das foliações medidas definirão 
um círculo máximo. 
 
 
 
a. b. c. 
 143
 
 
 Fig.4.46- Deformação de uma lineação (Lo) por dobramento laminar do plano estrutural que a continha (S): a linha 
 curva resultante (L’) é plana, como a projecção estereográfica evidencia 
 
 
 
 
4.6.3.3. Discussão do modelo de escorregamento laminar 
 Dobras similares ocorrem com alguma frequência em terrenos intensamente 
metamorfizados. São, portanto, típicas de níveis estruturais profundos. A sua ocorrência sempre 
levantou problemas de ordem teórica e o modelo geométrico apresentado não é plausível do ponto 
de vista dos mecanismos de formação. Também, o modelo do fluxo tectónico é dificilmente 
aceitável. Qual seria a origem do fluxo? Como explicá-lo em termos das propriedades reológicas 
dos materiais e da distribuição das tensões? Como compreender a variação periódica da sua 
intensidade, quando seria de esperar uma diminuição exponencial da mesma, a partir da superfície 
original? 
 A produção de dobras similares (ou com uma forma muito próxima) poderá resultar, como 
análises geométricas e trabalhos experimentais têm demonstrado, da conjugação dos seguintes 
factores: 
 i. Dobramento de uma série de camadas, alternadamente competentes e incompetentes; 
 ii. Deformação homogénea (dobramento passivo) de dobras preexistentes. 
 
 Numa série de camadas competentes e incompetentes (por exemplo, mais argilosas) 
alternantes, tem-se verificado que, nas camadas competentes as dobras são da classe 1B e, nas 
incompetentes, da classe 3. Um par dessas camadas, no seu conjunto, praticamente forma uma 
dobra da classe 2. Mais, se comprimirmos essas dobras na direcção da normal à sua superfície 
axial, cada uma delas vai-se aproximando da geometria de uma dobra similar, ao mesmo tempo 
que a dobra formada por um par daquelas camadas é uma dobra similar quase perfeita (Fig.4.47). 
 144
 Trabalhos de modelação matemática (por simulação em computador) demonstraram que 
um estrato de quartzito (húmido) numa matriz de mármore, deformado a 375ºC e a uma velocidade 
de deformação de 10−14 s−1, daria lugar, inicialmente, a dobras concêntricas10 e, depois, por 
elevação da temperatura a 550ºC (que anularia o contraste de ductilidade entre o quartzito e o 
mármore), ocorreria um achatamento homogéneo dessas dobras, que se tornariam praticamente 
similares. 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.47- Deformação homogénea das dobras A (cl.1B) em A’ e de B (cl.3) em B’: ambas as dobras se tornam quase 
 similares (cl.2) e, no seu conjunto, têm, quase exactamente, uma geometria de dobra similar. 
 
 
 
10 Dobras paralelas (classe 1B) que, em perfil, são formadas por arcos de circunferência 
 145
 
4.7. REDOBRAMENTO 
 Em várias circunstâncias pode ocorrer o dobramento de superfícies de superfícies que já 
se encontram dobradas, originando estruturas de geometria mais ou menos complexa, em que se 
reconhecem superfícies axiais resultantes de um dobramento de superfícies axiais originais, 
idealmente, planas. 
 
 
 
 
 Fig.4-48. Anfibolito patenteando dobramento polifásico (Bohuñov, Rep. Checa) 
 
 
 
 Fala-se em interferência de dobramentos, pois a situação é análoga à da interferência de 
ondas de som ou de luz, como se estuda em Física. Neste caso, tratar-se-á de uma interferência 
de ondas de fluxo da matéria. O resultado final depende da orientação relativa das direcções axiais 
e das superfícies axiais ou direcções de fluxo das (duas) ondas interferentes. 
Correspondentemente, vários “tipos” de interferência de dobramentos têm sido definidos (por 
exemplo, J.G. Ramsay, 1967, define três tipos). 
 
Uma situação possível pode ser facilmente simulada, dobrando e redobrando uma folha de 
papel, como a Fig.4.49 ilustra. Neste caso, as dobras que interferem têm a mesma direcção axial, 
mas planos axiais normais entre si. 
 146Fig.4.49- Redobramento de uma folha de papel S1, superfície axial da dobra original; 
 a2, direcção de fluxo correspondente ao redobramento ; S2, superfície axial do redobramento. 
 Aos dois dobramentos corresponde a mesma direcção axial (normal ao plano de desenho) 
 
 
Um exemplo natural de uma situação análoga está ilustrado na Fig.4.50. 
 
 
 
 Fig.4.50- Dobra redobrada (Hallsands, Sul de Devon, Inglaterra). (Cf. Fig.4.49) 
 
 
 
Outro modelo geométrico simples consiste no redobramento de dobras desenhadas sobre 
um maço de cartões que se movimentam como no modelo analógico do dobramento similar 
descrito na Fig.4.43. Várias orientações relativas entre dobras originais e redobramento podem ser 
reproduzidas, inclusive o caso anteriormente ilustrado (Fig.4.51). 
 
S1 
S1 
S2 a2
 147
 
 
 
 
 
 
Fig.4.51- Modelo de redobramento, recorrendo a um maço de cartões que se deslocam paralelamente 
a si próprios. À esquerda, as dobras originais; à direita, o redobramento. No primeiro exemplo, mostra-se, 
também, o efeito do segundo dobramento sobre uma marca planar original (representando, por exemplo, um 
dique posterior ao primeiro dobramento, mas afectado pelo segundo). 
 148
4.8. TEORIAS DE DOBRAMENTO 
 O estudo teórico do dobramento tem contribuído, apesar das hipóteses simplificadoras em 
que assenta, para uma melhor compreensão das dobras naturais, observadas nas rochas. 
 No campo, o geólogo depara com três situações com aspectos distintivos e que, do ponto 
de vista teórico, devem ser tratadas diferentemente: dobras de “estratos” individuais no seio de 
uma matriz; dobras de corpos multiestratificados (sequências de estratos, ou a alternância de leitos 
num gnaisse, por exemplo); e, por último, dobramento de uma superfície livre ou da superfície de 
contacto entre duas rochas distintas (Fig.4.52). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a) b) c) 
 Fig.4.52- a) Dobramentos de “estratos” que se comportaram como unidades independentes (dobramento 
 disarmónico) 
 b) Dobramento de série de estratos (dobramento harmónico) 
 c) Dobramento de uma interface (µ 1 > µ 2 ) 
 
 
 É notório que, de forma geral, no caso de corpos multiestratificados, embora 
constituídos por materiais com propriedades reológicas diferentes e com possanças variáveis, o 
dobramento é harmónico, isto é, as dobras são semelhantes em amplitude e comprimento de 
onda. 
 Pelo contrário, se os estratos se comportam como corpos singulares, isolados no seio de 
uma matriz, as dobras assumem aspectos diferentes (disarmónicas, no seu conjunto). 
 Não é possível estabelecer, de uma forma bem definida, quando “estratos” subparalelos, 
no seio de uma matriz menos competente, se comportam, ao serem comprimidos, como “estratos” 
individuais ou como constituindo um corpo multiestratificado. Se um dado “estrato” se situar, na 
matriz, fora da zona de deformação de contacto (i.e., numa zona suficientemente afastada do 
“estrato” adjacente, para que se faça sentir o dobramento desse “estrato”), ele dobrará de uma 
forma individualizada, como se estivesse isolado (Fig.4.53). Cálculos teóricos e evidência 
µ 1 
µ 2 
 149
experimental indicam que tal zona não se estende, efectivamente, para além de uma distância 
igual a um comprimento de onda das dobras dos estratos competentes, mesmo quando tenha 
ocorrido uma marcada deformação homogénea, amplificadora daquelas dobras. 
 
 
 Fig.4.53- Zona de deformação de contacto, na matriz, junto de uma dobra (In: J.G. Ramsay, 1967) 
 
 
 
 
 Mas, para que uma série de “estratos” competentes se comporte, no dobramento, como 
um corpo multiestratificado, a distância entre aqueles “estratos” deve ser bem menor que a soma 
dos comprimentos de onda das suas dobras, talvez 1/10 dessa distância ou menos. Nesta 
circunstância, os deslocamentos sofridos por qualquer dos “estratos” têm de ser compatíveis com 
os sofridos pelos “estratos” contíguos, donde a tendência para uma harmonização das dobras 
formadas. 
 
 Um dos aspectos, que poderemos medir numa dobra natural e comparar com os 
resultados teóricos, é expresso pela chamada “razão de esbelteza” (slenderness ratio): razão, W/t, 
entre o comprimento de onda da dobra (W) e a espessura do “estrato” (t). J.A. Sherwin e W.M. 
Chapple (1968), que mediram para cima de 800 dobras naturais, encontraram valores de W / t 
entre 5 e 10. 
 150
4.8.1. Dobramento de “estrato” individualizado 
 Entre os trabalhos de diversos investigadores, são de destacar os de M.A. Biot (1957-
1962) e de H. Ramberg (1959-1970), que consideram a iniciação de dobras sinusoidais num 
“estrato” único, no seio de uma matriz. Nos seus trabalhos, consideram-se, habitualmente, as 
seguintes hipóteses, entre outras: 
 i. A compressão é paralela ao “estrato”, cujo peso é irrelevante (ausência de gravidade); 
 ii. O estrato e a matriz comportam-se como fluidos newtonianos (τ = η γ ); 
 iii. O estado de tensão do “estrato “ dobrado é o correspondente a um estado de 
deformação muito próximo do da deformação longitudinal tangencial. 
 
 Neste caso, as dobras resultam de uma diferença de viscosidade entre “estrato” (mais 
viscoso) e matriz, originando-se por amplificação de pequenas deflecções sinusoidais, presentes 
naquele estrato (Fig.4.54). 
 
 
 
 Fig.4.54- Formação experimental de dobras a partir da amplificação de uma deflecção original. 
 O contraste de competência entre as parafinas usadas é de 10/1 (P. Cobbold,1975). 
 
 
 
 
 A velocidade de amplificação das diversas deflecções depende do seu comprimento de 
onda, sendo máximo para um dado valor, designado por comprimento de onda dominante (Wd ). É 
este que, após algum tempo, prevalece, dando lugar a uma dobra regular, aproximadamente 
sinusoidal. O valor encontrado por Biot e por Ramberg para esse comprimento de onda dominante 
é dado por: 
 151
 Wd = 2 π t √µ1 / 6µ2 (4.1) 
em que η1 e η2 são, respectivamente, as viscosidades do estrato e da matriz (η1 >> η2 ) 
 Este resultado prevê, pois, uma “razão de esbelteza”, 
 W/t = 2 π √µ1 / 6µ2 (4.2) 
o que exprime a dependência da forma destas dobras com as propriedades reológicas dos 
materiais. 
 A dependência do comprimento de onda das dobras iniciadas com a espessura está, 
frequentemente, manifestada em dobras, naturais ou experimentalmente obtidas (Fig.4.52-a e 
4.55). 
 
 
 
 
 
 Fig.4.55- Dependência do comprimento de onda das dobras com a espessura dos “estratos”: o caso curioso 
 do dobramento de um veio que diminui, gradualmente, de espessura 
 
 
 A diferença de comprimentos de onda das dobras de 1ª e de 2ª ordem evidencia a mesma 
dependência, como a Fig.4.56 ilustra. 
 
 
 Fig.4.56- Na dobramento de 2ª ordem, a espessura efectiva é t’, maior que a verdadeira espessura (t) 
 
3
3 
 152
 No entanto, a eq. 4.1 prevê a formação de dobras, mesmo quando não há contraste de 
ductilidade entre “estrato” e matriz, ou seja, quando η1 = η2. Segundo Biot, aquela fórmula só é 
aplicável, quando η1 /η2 for superior a 100. Mas, um tal valor conduziria a dobras com uma razão 
de esbelteza superior a 16, valor superior aos observados em dobras naturais. Por outro lado, 
razões de esbelteza mais realísticos, inferiores a 10, implicariam tensões no “estrato” dobrado 
incompatíveis com a assumida deformação longitudinal tangencial. 
 Estas limitações do modelo de Biot-Ramberg levaram Sherwin e Chapple a considerar a 
ocorrência de uma componente de deformação homogénea,que se sobreporá ao dobramento 
“activo”. Neste caso, obtém-se: 
 Wd = 2 π t √µ1(s-1) /12µ2s2 (4.3) 
 com s = √ λ1 / λ2 
em λ1 e λ2 são as extensões quadráticas principais que descrevem aquela deformação 
homogénea. 
 De acordo com este modelo, é de prever a formação de dobras para um contraste de 
viscosidade, entre “estrato” e matriz, significativamente inferior a 100. 
 
 Mais recentemente, alguns investigadores (por exemplo, R.C. Fletcher, 1974, e R.B. Smith, 
1979) alargaram as análises de Biot-Ramberg para o caso em que, pelo menos, o “estrato” 
dobrado é um líquido não-newtoniano, ou seja, não é linearmente viscoso (τn = Κ γ ; n>1). 
 Segundo Fletcher, nesse caso, a incidência de uma componente de deformação 
homogénea facilitaria ainda mais a formação de dobras, e já não seriam necessários contrastes de 
ductilidade da ordem de grandeza prevista pelos modelos de Biot-Ramberg. Dobras com uma 
esbelteza entre 4 e 10, como as que são comuns na Natureza, poderão formar-se desde que n 
seja superior a 3, um valor perfeitamente compatível com diferentes mecanismos de fluxo 
teoricamente deduzidos. 
 
 Outras análises demonstram que os modelos de Biot-Ramberg deixam de ser aplicáveis, 
quando n é muito elevado (digamos, superior a 20), pois o contraste de ductilidade deixa de ser o 
factor do dobramento. Nessa circunstância, as dobras resultam de uma interacção entre as 
ondulações das duas interfaces do “estrato” com a matriz. Essa interacção e o processo de 
dobramento são optimizados quando o afastamento das duas interfaces é igual a W/4. Assim, este 
possível mecanismo de dobramento (designado por resonant folding) gera dobras de esbelteza 
igual ou ligeiramente superior a 4. 
 Finalmente, a hipótese de um comportamento elástico-viscoso dos “estratos”, durante a 
iniciação do dobramento (o que é, especialmente, viável nos níveis crustais superiores ou para as 
 153
dobras de maior amplitude, nos níveis mais profundos) não deve ser desprezada e contribuirá para 
que os modelos antes referidos dêem soluções cada vez mais realísticas. 
 
4.8.2. Dobramento de multiestratos 
4.8.2.1. Estudos analíticos 
 Trata-se de uma situação geologicamente importante, por ser a mais frequente e a que 
corresponde às estruturas dobradas de maior dimensão. 
 Os precursores das análises desta situação foram, de novo, Biot e Ramberg, mas muitos 
outros autores retomaram o problema, quer analiticamente, quer experimentalmente, quer por 
modelação matemática (análise de elementos finitos e simulação computacional). 
 Aqueles dois autores adoptaram modelos diferentes (Fig.4.57), mas assumindo as 
mesmas hipóteses gerais, então adoptadas para o dobramento de “estratos” individualizados. 
Assumiram, ainda, a ausência de escorregamento ao longo de cada “estrato” do modelo multi-
estratificado. 
 
 
 
 
 Fig.4.57- Modelos de corpo multiestratificado. 
 a) Modelo de Ramberg: um estrato menos competente (de viscosidade η2) entre dois mais competentes (de viscosidade 
η1) 
 b) Modelo I de Biot: N “estratos” de espessura a e viscosidade η1, numa matriz de viscosidade η2 . 
 c) Modelo II de Biot: como o modelo I, mas em que o corpo multiestratificado tem uma espessura H , é bilaminado 
 (alternância de estratos de viscosidades η1 e η2), e está no seio de uma matriz de viscosidade η. 
 
 
 
 Os resultados das duas análises são diversos. Apenas se transcrevem alguns resultados 
de Biot, por se exprimirem numa determinação de comprimentos de onda dominantes. 
 A análise de Biot prevê, para o modelo I, um comprimento de onda dominante, 
 Wd= 2π a √N µ1/ 6 µ2 (4.4) 
 154
em que os símbolos têm o significado ilustrado na Fig.4.57-b. 
 
 Comparando com a situação de “estrato” singular (eq.4.2, com t = N.a), verifica-se que o 
comprimento de onda inicial das dobras é menor num corpo multiestratificado. 
 
 Ao modelo II de Biot, correspondem dois tipos de dobras, consoante o contraste de 
ductilidade entre os “estratos” do multiestrato, ou, seja, a anisotropia deste (Fig.4.58). 
 Se esse contraste for pequeno (Fig.4.58-a), iniciam-se dobras paralelas (classe 1B), 
enquanto que, se ele for relativamente elevado (Fig.4.58-b), se formam dobras similares (classe 2) 
de menor comprimento de onda, relativamente às primeiras. 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.58- Dobras correspondentes ao modelo II de Biot 
 
 
4.8.2.2. Estudos não analíticos 
 O estudo analítico do dobramento tem conduzido a resultados importantes para a 
compreensão geral das estruturas dobradas, mas não permite interpretar, directamente, as formas 
naturais. Estas, ao contrário do suposto naquelas análises, raramente são sinusoidais: as dobras 
naturais em corpos multiestratificados, observáveis a todas as escalas, são, frequentemente, 
dobras em chevron simples (kinks) ou policlinais (kinks conjugados ou box-folds), cujas formas se 
ilustram na Fig.4.59. 
 
 
 155
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.59- a) Chevrons (Tintagel, N. Cornualha, Inglaterra) b), c) Box-folds (Bude, N. Cornualha) 
 
 
 
 Em primeiro lugar, não devemos esquecer que aquelas análises não ultrapassam a fase 
de iniciação das dobras. A análise do seu desenvolvimento posterior recorre a outras técnicas, não 
a. b. 
 156
analíticas. Estes últimos estudos indicam que a compressão homogénea das dobras sinusoidais 
dão lugar a dobras que, progressivamente, se aproximam da forma em chevron e da geometria de 
dobras similares. Um outro resultado interessante de algumas dessas análises é a previsão de 
que, numa alternância regular de “estratos” competentes e incompetentes, nos primeiros observar-
se-ão dobras paralelas (classe 1B) e, nos segundos, dobras da classe 3, formando-se, no 
conjunto, dobras similares (classe 2). Este resultado tem sido observado em dobras naturais, como 
adiante se verá, ao considerar-se a descrição de foliações relacionadas com dobramentos. 
 
 A interpretação das dobras finitas, formadas em corpos multiestratificados, pode ser 
enquadrada nos estudos realizados sobre a deformação de rochas anisotrópicas. Nesses estudos, 
considera-se a possibilidade de escorregamento entre os “estratos” contíguos, o que dependerá do 
grau de anisotropia mecânica das rochas (ou seja, da coesão entre aqueles “estratos”). 
 
 A deformação experimental de rochas anisotrópicas e a modelação com materiais 
estratificados (plasticina e gelatinas, designadamente) tem permitido obter dobras análogas às 
naturais. Na Fig.4.60, representam-se, de uma forma idealizada, alguns dos resultados obtidos por 
M.S. Paterson e L.E. Weiss: durante a compressão de um corpo estratificado, formam-se kinks 
conjugados, que dão lugar a box-folds e, por último, a chevrons. 
 
 
 157
 
 
Fig.4.60- Modelo idealizado de dobramento por escorregamento flexural, num corpo acentuadamente anisotrópico, 
 comprimido paralelamente aos planos de anisotropia. A área inicial do corpo é indicada pelo rectângulo 
 a tracejado, para diferentes estádios da compressão (Paterson & Weiss, 1966). 
 
 
 
 Um outro grupo de investigadores, sediados no Imperial College (nomeadamente, J. 
Cosgrove, J.M. Summers e P. Cobbold), durante a década de 70, desenvolveu um conjunto de 
trabalhos, em que se derivaram formas de expressão da instabilidade criada no interior de corpos 
anisotrópicos, quando comprimidos. Essas formas variam consoante o grau de anisotropia desses 
corpos e a orientação da compressão, relativamente aos planos de anisotropia. 
 
O aspecto geral dessas formas, cuja correspondência com aspectos naturais é flagrante, 
está representado na Fig.4.61.158
 
 
 
 
 Fig.4.61- Representação diagramática de formas de expressão da instabilidade interna, consoante o grau de 
 anisotropia e a orientação (θ) da compressão máxima, relativamente aos planos de anisotropia (Cosgrove, 
 1976) 
 
 
 Estes estudos foram alargados a materiais viscosos não-lineares (Latham, 1983-85). 
Enquanto que nos materiais newtonianos pode existir uma anisotropia original, que se mantém 
invariável (em grau) durante a deformação, nos materiais viscosos não-lineares, além dessa 
possível anisotropia original (dita intrínseca), gera-se e intensifica-se durante a deformação uma 
nova anisotropia, dita induzida. A ocorrência desta não pressupõe, sequer, uma anisotropia 
intrínseca: por exemplo, num granito ou num gabro, a deformação pode gerar uma anisotropia, 
como a observada em zonas de cisalhamento dúcteis. 
 
 As estruturas resultantes dependerão, como a Fig.4.62 esquematiza, da relação de 
intensidade entre as duas possíveis componentes de anisotropia, intrínseca e induzida. 
 
GRAU DE ANISOTROPIA crescente 
 159
 
 
 
Fig.4.62- Diagrama ilustrativo da produção de estruturas associadas a instabilidade interna, consoante o grau relativo das 
anisotropias, intrínseca e induzida. As secções quadrangulares representam estádios iniciais e as rectangulares, estádios 
resultantes da compressão (cisalhamento puro), de acordo com modelação experimental e matemática. 
 160
 
4.8.2.3. Estruturas em corpos irregularmente multiestratificados 
 Um factor adicional da imperfeita adaptação dos modelos teóricos às estruturas naturais 
reside na grande irregularidade dos corpos geológicos afectados pelo dobramento. Em particular, 
ocorrem variações marcadas da possança dos “estratos”, nos corpos multiestratificados. Dado que 
a resistência ao dobramento aumenta com o cubo da espessura do “estrato” dobrado, é de prever 
a enorme influência de tal variação. Essa influência tem sido, claramente, observada em muitos 
afloramentos. 
 Um “estrato” significativamente mais possante, ocorrente no meio de uma série regular de 
“estratos”, tenderá a impor o seu dobramento próprio ao dos restantes “estratos”, funcionando 
como uma unidade de controlo do dobramento. 
 Pelo contrário, num “estrato” bastante menos possante, no meio de uma sequência 
regular, formar-se-ão dobras de 2ª ordem ou dobras parasíticas 11 (Fig.4.63). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig.4.63- Dobras parasíticas formadas num estrato pouco possante (Cf. Fig.4.56) 
 
 
 Quando, numa série “estratificada”, ocorre alguma variação de possança, mas sem 
acentuados contrastes, observam-se estruturas particulares, ditas de acomodação. Como o nome 
indica, correspondem a ajustamentos locais da deformação nas diferentes unidades dobradas. 
Essa acomodação pode ser conseguida por mecanismos de fluência dúcteis (espessamento de 
charneiras, por exemplo), ou cataclásticos (fracturação), ou por escorregamentos ao longo de 
planos de contacto das unidades dobradas. Ocorrem, frequentemente, aberturas entre zonas de 
charneira, cujo preenchimento pelos minerais depositados pelos fluidos circulantes dá lugar a veios 
de forma especial (saddle reefs), por vezes com grande interesse económico (quartzo aurífero, por 
exemplo). 
 161
 Na Fig.4.64 ilustram-se exemplos comuns de estruturas de acomodação. 
 
 
 
Fig.4.64- Estruturas de acomodação. a) Dobra carinada (com zona de charneira em carena) b) Acomodação por falha 
inversa c) Combinação de fracturação e fluência dúctil d) Boudinage de estrato menos possante (Price & Cosgrove, 
1990) 
 
 
 
Fig.4.65- Estruturas de acomodação numa dobra: acomodação por falha inversa e por fluência dúctil 
 (Bude, N. Cornualha) 
 
11 Também designadas, mas impropriamente, por dobras de arraste (drag folds) 
a. b. c. d.
 162
4.8.3. Dobramento de superfícies de contacto ou de superfícies livres 
 Uma superfície livre ou uma superfície de contacto entre dois meios semi-infinitos de 
viscosidades diferentes, quando comprimida paralelamente a si própria, dá lugar a uma sequência 
alternante de dobras amplas (lobos) e de dobras muito apertadas (cúspides), resultantes da 
amplificação cinemática (passiva) de irregularidades iniciais (Fig.4.66).12 
 
 
 
 
 Fig.4.66- Cúspides formadas pela forte compressão da superfície de contacto entre dois meios de diferente 
 viscosidade. O material mais escuro é o mais competente (in. Ramsay, 1967) 
 
 
 
 Julga-se que, pelo menos inicialmente, não lhes corresponderá qualquer comprimento de 
onda dominante, isto é, determinado pelo contraste de ductilidade dos materiais em contacto. 
 A formação destas estruturas com cúspides representa uma grande amplificação das 
irregularidades iniciais, exigindo uma enorme deformação compressiva (λ<0,01). Essa 
amplificação seria, segundo alguns autores, facilitada no caso de materiais viscosos não-lineares. 
 Nestas estruturas, as cúspides apontam para o material de maior viscosidade (mais 
competente). 
 Estas estruturas são uma das formas particulares de estruturas colunares (mullion 
structures). 
 
 
 
12 O aspecto é análogo ao de certas estruturas sedimentares (figuras de carga), com as quais não devem ser confundidas.

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