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A TERCEIRIZACAO

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ 
 
EDUARDO TANCREDO ARCIE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A TERCEIRIZAÇÃO, O PROJETO DE LEI 4330/04 E A PRECARIZAÇÃO 
DA RELAÇÃO DE TRABALHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2016 
 
 
EDUARDO TANCREDO ARCIE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A TERCEIRIZAÇÃO, O PROJETO DE LEI 4330/04 E A PRECARIZAÇÃO 
DA RELAÇÃO DE TRABALHO 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Direito da Universidade Tuiuti Paraná, para 
obtenção de Graduação em Direito. 
 
Orientadora: Prof. Mariana G. Krieger. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2016 
 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
 
EDUARDO TANCREDO ARCIE 
 
 
 
 
 
A TERCEIRIZAÇÃO, O PROJETO DE LEI 4330/04 E A PRECARIZAÇÃO 
DA RELAÇÃO DE TRABALHO 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do 
grau de graduaçãoao Curso de Direito da Universidade Tuiuti Paraná, pela seguinte 
banca examinadora: 
 
 
Orientador: Prof /Ms. Mariana G. Krieger 
 Direito - Universidade Tuiuti Paraná 
 
 
 
Membros: _________________________________________ 
 
 
 
 _________________________________________ 
 
 
 
 
Curitiba, ____de ___________ de 2016 
 
 
RESUMO 
 
Esta pesquisa almeja demonstrar a evolução da terceirização no Brasil, seus atuais 
delineamentos, as hipóteses permitidas atualmente e as que são ilícitas, mas 
principalmente como a terceirização pode precarizar a relação de emprego, piorando as 
condições gerais de trabalho, uma vez que o empregado, presumidamente considerado 
a parte mais fraca da relação de emprego, pode ter uma redução significativa de seus 
direitos e garantias. Além disso, a pesquisa pretende demonstrar a grande regressão 
que o Direito do Trabalho poderia sofrer caso o projeto de lei 4330/04 entre em vigor. 
Buscou-se identificar os aspectos conceituais da terceirização e ao regramento atual 
para sua utilização entre aspectos positivos e consequências danosas para os 
empregados e sociedade em geral. O debate em estudo é de suma importância para 
que haja normatização assertiva do instituto da terceirização. Ademais, o presente 
trabalho busca traçar um comparativo e esclarecer os danos que devem ocorrer com a 
aprovação do Projeto de Lei 4.330/2004, que atualmente tramita no Congresso, bem 
como mostrar as consequências que devem surgir com o advento da Lei, com uma 
enorme regressão de conquistas auferidas ao longo do tempo pela classe operária. 
Espera-se ainda que este projeto sirva de consulta para os estudantes de Direito, 
especialmente no ramo do Direito do Trabalho, a fim de que possa ser ferramenta para 
aprofundar o conhecimento sobre a terceirização do emprego no cenário brasileiro. A 
metodologia da pesquisa foi bibliográfica por meio da consulta em obras que estejam 
relacionadas ao tema trabalhado, analisando também sites que tragam textos, artigos e 
teses acerca do tema, além de doutrinas, jurisprudências e demais fontes necessárias 
para o desenvolvimento adequado da pesquisa. 
 
Palavras-chave: Terceirização. Precarização. Direito do Trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 5
2 DIREITO DO TRABALHO..................................................................... 7
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA TERCEIRIZAÇÃO................................... 10
2.2 A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL........................................................... 11
2.3 NATUREZA JURÍDICA DA TERCEIRIZAÇÃO....................................... 12
3 DELINEAMENTOS ATUAL DA TERCEIRIZAÇÃO PELA SÚMULA 
331 TST.................................................................................................. 15
3.1 HIPÓTESES PERMITIDAS PELA SÚMULA 331 DO TRIBUNAL 
SUPERIOR DO TRABALHO.................................................................. 18
3.2 TERCEIRIZAÇÃO LICITA X ILÍCITA...................................................... 20
3.3 ATIVIDADE MEIO X ATIVIDADE FIM.................................................... 23
3.4 A TERCEIRIZAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.......................... 25
4 PRECARIZAÇÃO DA RELAÇÃO DE TRABALHO.............................. 29
4.1 PROJETO DE LEI 4330/04 DA RELAÇÃO DE TRABALHO DO 
ENTÃO DEPUTADO FEDERAL SANDRO MABEL (PL/GO) E 
APENSOS E SEU PREJUÍZO AOS TRABALHADORES...................... 34
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 38
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................... 40
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O objetivo da pesquisa em tela é analisar a terceirização à luz do Projeto de Lei 
4330/04 e a possível precarização da relação de trabalho. A terceirização apresenta um 
crescimento considerável nos últimos anos, pois facilita aspectos como a redução de 
custos e alinhamento da competividade em um mundo empresarial globalizado. 
Um mercado dinâmico e competitivo exige das empresas modernas 
especialização, capacitação contínua, oferta de produtos, serviços e tecnologias de 
forma cada vez mais célere. A associação de diversas empresas em parceria para 
atender este mercado é também cada vez mais comum. 
Embora não exista legislação vigente sobre terceirização, a matéria é regulada 
pela súmula 331, editada pelo TST. A terceirização é um instituto que possibilita a 
contratação por intermédio de empresa interposta entre o tomador do serviço e a mão-
de-obra, mediante contrato de prestação de serviços, de modo que a relação de 
emprego se faz entre a empresa prestadora de serviços e o prestador de serviços e não 
diretamente com o tomador do serviço. 
A Súmula 331 do TST traz ainda um adendo, no qual consta que nas hipóteses 
de vigilância, conservação e limpeza e atividades-meio da empresa não pode haver 
subordinação e pessoalidade em relação ao tomador do serviço, sob pena da 
terceirização ser anulada e ser caracterizada a relação de emprego entre tomador e 
prestador de serviços. A subordinação e pessoalidade deve ser para com o contratante 
– empresa interposta. 
 Entretanto, o Projeto de Lei que 4330/04, que tramita no congresso 
nacional, veio com a intenção aparente de preencher uma lacuna da Lei, tendo em vista 
que nosso ordenamento jurídico não possui regulamentação sobre o assunto. O Projeto 
dispõe sobre o contrato de prestação de serviço a terceiros e as relações de trabalho 
dele decorrentes, além de outras medidas. À ideia que norteia o Projeto de Lei é 
estender a terceirização de serviços para quaisquer atividades, inclusive para as 
atividades-fim da empresa, ou seja, a tomadora do serviço entregaria à empresa que 
terceiriza o serviço o cumprimento da atividade que justifica a razão de sua existência, o 
6 
 
que ocasionaria sua própria terceirização às custas é claro do sacrifício de muitos 
direitos trabalhistas conquistados ao longo do tempo. 
Diante de um cenário globalizado e competitivo, a terceirização deve ser 
regularizada e amparada por Lei e Projetos evitando a precarização de direitos 
trabalhistas. 
A impropriedade dos requisitos previstos na Súmula fez com que a discussão 
avançasse ao Supremo Tribunal Federal, com reconhecimento da repercussão geral da 
matéria e a perspectiva de nova solução advinda do ativismo do Poder Judiciário, 
aguardada com expectativa pelos atores do processo produtivo, esperançosos em 
redirecionar os recursos hoje represados em discussões trabalhistas para o 
investimento em suas plantas e consequente desenvolvimento econômico e social do 
país. 
O Projeto de Lei 4330/04é o objeto de análise deste estudo como principal 
iniciativa da regulação brasileira e processo legislativo ordinário e seus principais 
aspectos como as dificuldades na evolução pelo Poder Legislativo para regramento 
definitivo, ou seja, a consagração da terceirização ou a sua vedação definitiva, 
justificando a escolha do tema em tela. 
O primeiro capítulo apresenta os aspectos do direito do trabalho, sua evolução 
histórica bem como a terceirização no Brasil e sua natureza jurídica. 
O segundo capítulo versa sobre os delineamentos da atual terceirização pela 
Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho, hipóteses permitidas pela Súmula e a 
diferenciação da terceirização lícita e ilícita e a atividade meio e fim. 
O terceiro capítulo apresentou os aspectos da precarização do trabalho e o 
projeto de Lei 4330/04 da relação do trabalho ressaltando os apensos do Deputado 
Federal Sandro Mabel (PL/GO) como forma de comprovar a realidade do tema proposto 
nesta pesquisa. 
A metodologia da pesquisa foi bibliográfica por meio de livros, artigos 
disponibilizados na internet, doutrina e jurisprudências. 
 
 
 
7 
 
2 DIREITO DO TRABALHO 
 
O Trabalho tem várias origens e participações nas sociedades antigas, todavia, 
para não se ater a fatos históricos, mas sim no tema principal desta pesquisa, tem-se 
que o Direito do Trabalho, como entendido na atualidade especificadamente com o 
aparecimento do capitalismo diante da Revolução Industrial (BIRNIE, 1964, p.17). 
Conforme destaca Gerson Lacerda Pistori (2007, p. 72), importante escolher o 
período da história para que se possam relatar os fatos: 
 
A concepção de vida e seu reflexo no dia-a-dia influíram e influem no direito de 
forma direta. Há, portanto, uma relação direta entre a forma de pensar e agir 
com o direito, sendo fundamental uma visão, ainda que sumária, sobre o 
pensamento em geral no período escolhido, para que possamos melhor 
observar o pensamento jurídico, [...]. 
 
Para tanto, no Direito do Trabalho, cabe salientar que a relação de trabalho 
subordinado surgiu principalmente com a situação desfavorável das relações servis e a 
colocação do trabalhador no sistema de produção industrial nas cidades. 
Somente para ilustrar que o início das relações trabalhistas ocorreu muito antes 
do período ora abordado, traz-se citação de Segadas Vianna (1993, p. 27): 
 
[...] o homem sempre trabalhou; primeiro para obter seus alimentos. Depois, 
iniciou-se na fabricação de armas e instrumentos de defesa. Posteriormente, 
passou a lascar pedras para fabricar lanças e machados, criando sua primeira 
atividade industrial. 
 
Nas palavras de Maurício Godinho Delgado (2005, p.1471), o Direito do 
Trabalho quanto ao seu surgimento por meio do capitalismo era uma forma de amenizar 
também o tratamento ao trabalhador menos favorecido em meio ao advento e 
evoluções no sentido capitalista da sociedade e do trabalho como civilidade e contra 
algumas forças de trabalho consideradas perversas. 
A origem do Direito do Trabalho ora destacada foi um tanto atribulada, eis que 
com a observância em especial da Revolução Industrial, a população migrou do campo 
para as cidades de forma que passaram de camponeses a trabalhadores das 
indústrias, conforme Delgado (2005, p.71). 
8 
 
Cumpre salientar nas palavras de Arthur Birnie (1964, p. 22) que: 
 
Além da tendência no sentido da produção em grande escala, o industrialismo 
moderno distingue-se por três características: a) concentração da população 
nas cidades; b) o crescimento das regiões industriais; c) a expansão do 
comercio exterior. 
 
O surgimento do Direito do Trabalho assegurou particularidades ao trabalhador 
no decorrer da história como forma de garantir ao trabalhador seus direitos 
fundamentais. Observa-se que a Revolução Industrial foi o marco desencadeante 
quanto ao Direito do Trabalho, protegendo o trabalhador para aos seus direitos jurídicos 
e econômicos. 
Pelo pensamento de Arthur Birnie (1964, p. 67) tem-se que a Revolução 
Industrial na realidade: 
 
Foi um movimento que se difundiu por um período de cento e cinquenta anos, e 
suas origens podem ser claramente discernidas em forças ativamente em ação 
desde o fim da Idade Média. Mas o termo, de certo modo, não deixa de ser 
adequado. As modificações por ele descritas foram tão amplas e profundas, tão 
trágicas na sua estranha mescla do bem e do mal, tão dramáticas na sua 
combinação de progresso material e sofrimento social, que poderão muito bem 
ser classificadas como revolucionarias. Seja como fôr, denominá-las dessa 
forma ajuda a lembrar-nos que a rapidez da modificação econômica durante os 
séculos XVIII e XIX foi maior do que em qualquer época anterior e que o preço 
exigido sob a forma de sofrimento social foi mais do que geralmente pesado. 
 
A Revolução Industrial foi um marco para desvalorização do trabalho manual, 
pois muitos foram substituídos por máquinas, e os que trabalhavam na fábrica, só 
participavam de determinada fase da produção. O trabalho se tornava algo contínuo, 
repetitivo, mecanizado, por exemplo, se a função era bater um prego em determinado 
local do produto, era só isso que se fazia o dia inteiro, na mesma velocidade e ritmo. 
Muitos não sabiam nem qual era o produto final, e essa função muitas vezes não 
correspondia ao valor do que ele era capaz de produzir (NASCIMENTO, 2009, p.57). 
Atualmente, pode-se dizer que com as mudanças e ocorrências históricas o 
trabalho é considerado o meio de dignificação da pessoa humana onde esta se insere 
no seu meio social de forma a permitir sua sobrevivência. Dejours (1992, p.11) propõe 
uma compreensão da relação entre trabalho e saúde mental, pondo fundamentalmente 
9 
 
na história primária dos indivíduos a principal razão do modo de expressão do 
sofrimento psíquico. O trabalho, nesse caso, define o momento da expressão do 
sofrimento, mas não sua forma, que, por sua vez, resulta da estrutura psíquica 
característica do indivíduo. 
Pode-se observar do texto do Autor Daniel Gustavo Mocelin (1998, p. 308) que: 
 
O desenvolvimento tecnológico da Era da Pré Industrialização foi crescente até 
a Era das Tecnologias de Comunicação e Informação Micro-Eletrônica. Ainda, 
observa-se que a jornada de trabalho foi ascendente no período da Pré 
Industrialização até o período da Industrialização Mecânica, depois tendo 
rebaixo dos períodos do Taylorismo, Fordismo,eletromecânica, até o período 
que dispõe da das Tecnologias de Comunicação e Informação Micro-Eletrônica. 
A demanda por trabalho qualificado foi uma curva também ascendente a qual 
sofreu diminuição no período da Industrialização Mecânica e posteriormente 
aumento nos períodos sucessivos. 
 
O sistema jurídico constitui segundo Arnaldo Sussekind (2003, p.144) a 
necessidade de proteção social aos trabalhadores bem como demais direitos previstos 
constituindo assim a sua raiz sociológica e de princípios fundamentais aos 
trabalhadores. 
O objetivo do direito do trabalho quanto à proteção, na visão de Carlos 
Henrique Bezerra Leite (2000, p.39) constitui o objetivo de estabelecer, entre o 
empregado e o empregador, a igualdade jurídica. 
O Direito do Trabalho vem sendo abordado diante de situações desfavoráveis 
ao trabalhador, mas pode-se continuar relatando que este se encontra em constante 
mudança, eis que a era em que se vive atualmente também está requerendo 
modificações e implementações na lei, como é a questão de trabalho virtual, 
desemprego, dentre outros. 
A Declaração de Direitos Humanos reconhece a dignidade e direitos dos seres 
humanos sendo todos livres, com direitos iguais e com fundamentos na liberdade, 
justiça e paz no mundo. Declara ainda, em aspecto trabalhista, que todos têm direito ao 
trabalho, à livre escolha do emprego, à condições justas e favoráveis de trabalho e 
proteçãocontra o desemprego. Com a globalização surgiu, então, uma nova 
modalidade de trabalho: a terceirização. 
 
10 
 
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA TERCEIRIZAÇÃO 
 
Ao retomar ao passado, compreende-se melhor o desenvolvimento desse 
instituto, que promoveu profundas modificações nas clássicas relações de trabalho, 
tanto no âmbito das relações privadas como também nas relações de trabalho regidas 
por normas de Direito público, como as contratações feitas pela Administração Pública, 
conforme dispõe Leite (2000, p. 57). 
Para Castro (2000, p. 75): 
 
É certo que a terceirização encontra sua origem durante a II Guerra Mundial, 
quando os Estados Unidos aliaram-se aos países europeus para combater as 
forças nazistas e também o Japão. As indústrias de armamento não 
conseguiram abastecer o mercado, necessitando suprir o aumento excessivo 
da demanda e aprimorar o produto e as técnicas de produção. Essa 
necessidade demonstrou que a concentração industrial deveria voltar-se para a 
produção, e as atividades de suporte deveriam ser transferidas para terceiros, o 
que, sem dúvida, gerou um maior número de empregados na época. 
Retomando a história, poder-se-ia comparar com o modelo de produção 
toyotista. Ao estudar o fenômeno da terceirização e seu surgimento, o autor 
Rubens Ferreira de Castro destaca que: Antes da II Guerra Mundial existiam 
atividades prestadas por terceiros, porém não poderíamos conceituá-las como 
terceirização, pois somente a partir deste marco histórico é que temos a 
terceirização interferindo na sociedade e na economia, autorizando seu estudo 
pelo Direito Social, valendo lembrar que mesmo este também sofre grande 
aprimoramento a partir de então. 
 
No Brasil, a noção de terceirização foi trazida por multinacionais por volta de 
1950, pelo interesse que tinham em se preocupar apenas com a essência do seu 
negócio. As empresas que têm por atividade limpeza e conservação também são 
consideradas pioneiras na terceirização de serviços no Brasil, pois existem desde, 
aproximadamente, 1967. O objetivo dessas empresas era conseguir mão-de-obra com 
menores custos, sem se furtar às disposições tutelares da legislação trabalhista, a qual 
visa a proteger o hipossuficiente da relação de trabalho, de acordo com Pamplona 
(2006, p. 35). 
Pode-se definir a terceirização como estratégia empresarial, com objetivo de 
potencializar ou especializar determinada atividade na empresa. Como bem define 
Sergio Pinto Martins (2012, p. 11): 
 
11 
 
[...] o objetivo principal da terceirização não é apenas a redução de custo, mas 
também trazer agilidade, flexibilidade, competitividade à empresa e também 
para vencer no mercado. Esta pretende, com a terceirização, a transformação 
de seus custos fixos em variáveis, possiibilitando o melhor aproveitamento do 
processo produtivo, com a transferência do numerário para aplicação em 
tecnologia ou no seu desenvolvimento e também em novos produtos. 
 
Em linhas gerais, significa afirmar que a terceirização pode contribuir para a 
especialização no processo produtivo, trazendo ao mercado produtos e serviços de 
melhor qualidade; a medida que são executados em parceria com aqueles que detêm o 
melhor know how a contribuir na produção. 
Segundo Mauricio Godinho Delgado (2002, p. 417): 
 
A expressão terceirização resulta de neologismo oriundo da palavra terceiro, 
compreendido como intermediário, interveniente. Não se trata seguramente, de 
terceiro, no sentido jurídico, como aquele que é estranho a certa relação jurídica 
entre duas ou mais partes. O neologismo foi construído pela área da 
administração de empresas, fora da cultura do Direito, visando enfatizar a 
descentralização empresarial de atividades para outrem, um terceiro a empresa. 
 
Para Amauri Mascaro Nascimento (2007, p. 376) o chamado progresso do 
maquinismo gerou problemas como acidentes de trabalho ao passo que a 
regulamentação de leis com relação a proteção e dignidade do trabalhador, 
configurando, em meio a tais transformações o surgimento da terceirização a partir do 
momento que o desemprego era crescente em muitos países. Portanto, a terceirização 
surgiu como forma de amenizar tal crise, ofertando aos desempregados uma 
possibilidade de prestação de serviços. 
 
2.2 A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL 
 
Na década de 1940, época da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), a 
terceirização não era constituída como um fator abrangente aos termos do trabalho o 
que contribuiu para que a CLT regulamentasse apenas duas normas para a chamada 
subcontratação (utilização de serviços de empresas constituídas ou de profissionais 
autônomos, mediante remuneração). 
A primeira, a empreitada (uma das partes se sujeita à execução de uma obra, 
mediante remuneração a ser paga pelo outro contratante) e segundo, a subempreitada 
12 
 
(contratação de terceiros, feita pelo empreiteiro, para que uma empreitada, tarefa ou 
obra, previamente combinada seja finalizada dentro do prazo estipulado)., conforme art. 
455 da CLT e pequena empreitada pelo artigo 652 regulamentada pelo Código Civil 
Brasileiro de 2002 em dispositivos legais nas primeiras décadas da evolução no ramo 
jus trabalhista no Brasil, conforme Queiroz (1992, p. 25). 
Sobre a falta de norma regulamentadora, explica Maurício Godinho Delgado 
(2005, p. 274). 
 
Isto ocorre pela circunstancia de o fato social da terceirização não ter tido, 
efetivamente, grande significado socioeconômico nos impulsos de 
industrialização experimentados pelo país nas distintas décadas que se 
seguiram a acentuação industrializante iniciada nos anos de 1930/40. A 
terceirização instalou-se em nossa legislação sobre a forma do trabalho 
temporário. Trazendo consigo as rudimentares concepções dos serviços 
prestados por terceiros, nas chamadas atividade-meio das empresas tomadoras 
de serviços, sendo estes serviços nas áreas de limpeza e segurança 
regulamentados pelas leis 6.019/74 e 7.102/83, respectivamente. 
 
Hipótese de contratação permanente de serviço é a regulada pela Lei 7.102, de 
20 de junho de 1983. Primeiramente, apenas permitia a contratação de segurança para 
os estabelecimentos financeiros, fixando normas para constituição e funcionamento das 
empresas particulares especializadas na exploração de serviços de vigilância, 
segurança e transporte de valores. É regulamentada pelo Decreto nº 89.056, de 24 de 
novembro de 1983. As modificações introduzidas pela Lei 8.863, de 28.03.94 
autorizaram essas empresas especializadas a prestarem serviços também a 
estabelecimentos não financeiros, conforme leciona Delgado (2005, p. 81). 
 
2.3 NATUREZA JURÍDICA DA TERCEIRIZAÇÃO 
 
O acordo contratual realizado entre as partes denomina a natureza jurídica da 
terceirização, onde de uma parte se encontra a empresa contratante denominada de 
“tomadora” e por outro lado a empresa prestadora de serviços, “prestadora. 
Segundo Sérgio Pinto Martins (2005, p. 26), “Dependendo da hipótese em que 
a terceirização for utilizada, haverá elementos de vários contratos, sejam eles 
nominados ou inominados”. 
13 
 
Ainda sobre a natureza jurídica da terceirização, ensina Evaristo de Moraes 
(2010, p. 316): 
 
A terceirização, portanto, enquadra-se em uma das espécies contidas no 
gênero denominado “contratos de atividade”, entendidos como “aqueles em que 
alguém se compromete a colocar sua atividade em proveito de outrem mediante 
remuneração. 
 
Importante enfatizar que a terceirização não pode ser confundida com 
subcontratação, pois em diversas situações em que a empresa passa a ter 
necessidades maiores na demanda de produção, o interesse maior é a contratação de 
pessoal. Por outro lado, o contrato com o terceirizado é considerado permanente e não 
ocasional como na subcontratação. 
Esclarece Maurício Godinho Delgado (2003, p. 430) neste sentido:Para o direito do trabalho terceirização é o fenômeno pelo qual se dissocia a 
relação econômica de trabalho da relação justrabalhista que lhe seria 
correspondente. Por tal fenômeno insere-se o trabalhador no processo 
produtivo do tomador de serviços sem que se estendam a este os laços 
justrabalhistas, que se preservam fixados com uma entidade interveniente. (...) 
O modelo trilateral de relação socioeconômica e jurídica que surge com o 
processo de terceirizante é francamente distinto do modelo clássico, modelo 
empregatício, que se funda em relação de caráter essencialmente bilateral. 
Essa dissociação entre relação econômica de trabalho (firmada com a empresa 
tomadora) e relação jurídica empregatícia (firmada com a empresa terceirizante) 
traz grandes desajustes em contraponto aos clássicos objetivos tutelares e 
redistributivos que sempre caracterizam o direito do trabalho ao longo de sua 
história. 
 
Para Maurício Godinho Delgado (2001, p. 47), a proteção do trabalhador 
hipossuficiente deve estar direcionado aos princípios do Direito do Trabalho com 
relação a tais implicações no modelo de contratação da força de trabalho, ou seja, a 
terceirização. 
 
O modelo trilateral de relação jurídica oriundo da terceirização é efetivamente 
diverso daquele modelo bilateral clássico que se funda a relação celetista de 
emprego. Assim, exceto nas hipóteses expressamente previstas ou permitidas 
pelo Direito pátrio, doutrina e jurisprudência tendem a rejeitar a hipótese 
terceirizante, porque modalidade excetuativa de contratação de força de 
trabalho. 
 
14 
 
Rubens Ferreira de Castro (2000, p. 83) cita que a terceirização “enquadra-se 
em uma das espécies contidas no gênero denominado 'contratos de atividade', 
entendidos como aqueles em que alguém se compromete a colocar a sua atividade em 
proveito de outrem mediante remuneração”. 
Sergio Pinto Martins (2005, p. 38) entende que é difícil definir a natureza 
jurídica da terceirização, pois, “dependendo da hipótese em que a terceirização for 
utilizada, haverá elementos de vários contratos distintos.” E o autor segue 
exemplificando alguns deles, como “de fornecimento de bens ou serviços”; “de 
empreitada”; “de franquia”; “de locação de serviços”, e, conclui dizendo que “a natureza 
jurídica será do contrato utilizado ou da combinação de vários deles”. 
O ordenamento jurídico brasileiro, especialmente em matéria trabalhista, possui 
uma série de normas pendentes de regulação definitiva, e uma outra série de 
regramentos cuja necessidade de adaptação não tem sido acompanhada pela atividade 
legislativa no Congresso Nacional e aos delineamentos da atual terceirização pela 
Súmula 331 TST. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
3 DELINEAMENTOS ATUAL DA TERCEIRIZAÇÃO PELA SÚMULA 331 TST 
 
A morosidade do Poder Legislativo vêm sido suprida pelo Poder Judiciário em 
corrente denominada jus ativismo, que em resumido conceito pode ser definida como a 
supressão das lacunas legais – ou adaptação de seus conceitos – por parte da 
jurisprudência (CASTRO, 2000, p.101). 
O Ministro Luiz Roberto Barrozo (2004, p. 21) define tal fenômeno como 
“Judicialização da Vida”, assim conceituando: 
 
Judicialização significa que algumas questões de larga repercussão política ou 
social estão sendo decididas por órgãos do Poder Judiciário, e não pelas 
instâncias tradicionais: o Congresso Nacional e o Poder Executivo – em cujo 
âmbito se encontra o Presidente da República, seus ministérios e administração 
pública em geral. Como intuitivo, a judicialização envolve uma transferência de 
poder para juízes e tribunais, com alterações significativas nas linguagem, na 
argumentação e no modo de participação da sociedade. 
 
Trava-se intenso debate acerca dos pensadores do direito acerca da 
legitimidade do jus ativismo num sistema positivista, de base civil law tal qual é o 
ordenamento jurídico brasileiro. A discussão, por certo, poderia ser tema de extensas 
considerações. 
Contudo, em sendo o foco principal de nossa análise a terceirização, sob os 
efeitos da Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho, exemplo de tal modalidade de 
atuação do Poder Judiciário; o intento deste arrazoado neste tópico é delimitar e 
demonstrar a forte presença do ativismo judicial, através de suas decisões, e sua 
interferência nos demais poderes da Federação. 
Eduardo Brol Sitta (2011, p. 54), em artigo denominado “O ativismo judicial, 
legitimidade democrática e a jurisdição constitucional” relaciona a ideia de ativismo 
judicial a uma “participação mais ampla e intensa por parte do Poder Judiciário na 
concretização de valores e fins constitucionais, implicando uma maior interferência nas 
esferas de atuação dos demais poderes da federação”. 
O artigo de Sitta (2011, p. 27) destaca passagem do discurso do Ministro Celso 
de Mello, na ocasião da posse do Ministro Gilmar Mendes como Presidente do 
16 
 
Supremo Tribunal Federal, a ilustrar o pensamento dominante naquela Corte acerca do 
jus ativismo: 
 
[...] Práticas de ativismo judicial, Senhor Presidente, embora moderadamente 
desempenhadas por esta corte em momentos excepcionais, tornam-se uma 
necessidade institucional, quando os órgãos do Poder Público se omitem ou 
retardam, excessivamente, o cumprimento de obrigações a que estão sujeitos 
por expressa determinação do próprio estatuto constitucional, ainda mais se 
tiver presente que o Poder Judiciário, tratando-se de comportamentos estatais 
ofensivos à Constituição, não se pode reduzir a uma posição de pura 
passividade. 
 
A primeira manifestação do ativismo judicial seria, portanto, a mais evidente: a 
da interpretação da norma, especialmente sobre o viés constitucional, tutelando, 
mantendo e controlando a supremacia da Constituição; para ao texto frio da lei conferir 
disposição que atenda, de fato, o intuito protetivo e o resguardo dos direitos 
fundamentais, especialmente em se tratando de minorias e vulneráveis – condição que 
se adequa com perfeição aos princípios basilares do Direito do Trabalho, conforme 
Martins (2004, p. 78). 
Como Barrozo (2004, p. 27) bem define, “[...] o Judiciário deixou de ser um 
departamento técnico especializado e se transformou em verdadeiro poder político, 
capaz e fazer valer a Constituição e as leis, inclusive em confronto com outros 
poderes”. Classifica que a postura ativista se manifesta por meio de diferentes 
condutas, que incluem (i) a aplicação direta da Constituição a situações não 
expressamente contempladas em seu texto e independente de manifestação do 
legislador ordinário; (ii) a declaração de inconstitucionalidade de atos normativos 
emanados pelo legislador, com base em critérios menos rígidos que os de patente e 
ostensiva violação à Constituição; e (iii) a imposição de condutas ou abstenções ao 
Poder Público, notadamente em matéria de políticas públicas. 
A ausência de regramento adequado – ou sequer de um regramento – para o 
trabalho terceirizado foi solucionada, em parte, pela edição da Súmula 331 do Tribunal 
Superior do Trabalho; única fonte de interpretação no Direito Brasileiro para se aferição 
da legalidade de contratações nesta modalidade. 
17 
 
O jus ativismo, ou a criação de normativa através de orientação dos Tribunais 
Superiores, é fenômeno cada vez mais comum no Brasil, reflexo de um Poder 
Legislativo letárgico e pouco atuante em face aos interesses e necessidades da nação. 
A referida Súmula, conforme Miessa (2013, p. 57) tem a seguinte redação: 
 
CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE (nova redação 
do item IV e inseridos os itens V e VI à redação) - Res. 174/2011, DEJT 
divulgado em 27, 30 e 31.05.2011 
I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se 
o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo nocaso de trabalho 
temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974). 
II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não 
gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública direta, 
indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988). 
III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de 
vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como 
a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que 
inexistente a pessoalidade e a subordinação direta. 
IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, 
implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas 
obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também 
do título executivo judicial. 
V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem 
subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua 
conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de 
21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações 
contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida 
responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações 
trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada. 
VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as 
verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral. 
 
Das disposições do Enunciado, merecem destaque neste estudo especialmente 
os incisos II e III da Súmula, que esclarecem quais modalidades de contratação que, 
sob a ótica do Tribunal Superior do Trabalho, seriam válidas para a terceirização. 
A disposição do inciso I é exclusiva, visto que conceitua como ilegal a 
contratação por empresa interposta, salvo no contrato de trabalho temporário. 
Basicamente, o fundamento deste inciso é a Lei 6.019/1974. 
Em sequência, o inciso III exclui da formação de vínculo de emprego a 
contratação de serviços de vigilância, conservação e limpeza – cujo embasamento é 
a Lei 7.102/1983, também já analisada. Passa, então, à autorização para a 
terceirização de “serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde 
18 
 
que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta”, consoante esclarece Miesse 
(2013, p. 59). 
 
3.1 HIPÓTESES PERMITIDAS PELA SÚMULA 331 DO TRIBUNAL SUPERIOR DO 
TRABALHO 
 
Além das hipóteses de terceirização previstas anteriormente pelas Leis nº 
6.019/1974 e 7.102/1983, a Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho incluiu 
outras duas: (i) serviços de conservação e limpeza; e (ii) serviços especializados 
ligados à atividade-meio do tomador, ambas no item III, conforme Silva (2013, p. 78). 
Os “serviços de conservação e limpeza” são serviços expressamente 
determinados (definidos) pela Súmula. Foram incluídos no rol do artigo 3º, parágrafo 
único, da Lei nº 5.645/1970, já transcrito, e, após essa previsão legal, a terceirização 
dessas atividades passou a ocorrer também no setor privado, mesmo com o posterior 
advento da Súmula nº 256, de acordo com Martins (2015, p.153). 
Já os “serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador”não são 
serviços determinados, uma vez que a “atividade-meio” varia de empresa para empresa 
(critério genérico-finalístico). Assim, apesar da Súmula nº 331 ter permitido a 
terceirização de “atividade-meio”, coube a doutrina tentar definir o que seria “atividade-
meio”ou diferenciá-la da “atividade-fim”, visto que a Súmula não definiu, nem qualquer 
outra regulamentação posterior, conforme Martins (2015, p.155). 
Define Mauricio Godinho Delgado (2005, p. 462): 
 
Atividades-fim podem ser conceituadas como as funções e tarefas empresariais 
e laborais que se ajustam ao núcleo da dinâmica empresarial do tomador de 
serviços, compondo a essência dessa dinâmica e contribuindo inclusive para a 
definição de seu posicionamento e classificação no contexto empresarial e 
econômico. São, portanto, atividades nucleares e definitórias da essência da 
dinâmica empresarial do tomador de serviços. Por outro lado, atividades-
meio são aquelas funções e tarefas empresariais e laborais que não se ajustam 
ao núcleo da dinâmica empresarial do tomador de serviços, nem compõem a 
essência dessa dinâmica ou contribuem para a definição de seu 
posicionamento no contexto empresarial e econômico mais amplo. São, 
portanto, atividades periféricas à essência da dinâmica empresarial do tomador 
de serviços. 
 
Conceitua Amauri Mascaro Nascimento (2007, p. 636): 
19 
 
Pode-se, no entanto, conceituar, de modo simples, atividades-meio como 
aquelas que não coincidem com os fins da empresa contratante, e atividades-
fim como aquelas que coincidem. Se um estabelecimento bancário contrata 
empresa de serviços de vigilância, trata-se de contratação de atividades-meio, 
mas, se contrata empresa de serviços de caixa, trata-se de atividade-fim. Se um 
colégio se vale de empresa de limpeza, a atividade contratada é meio, mas, se 
contrata empresa de professores, a situação caracteriza-se como contratação 
de atividade-fim, porque as aulas são a finalidade do colégio. 
 
Entende Gustavo Filipe Barbosa Garcia (2014, p. 357) que “atividade-meio” é 
aquela de mero suporte, que não integra o núcleo, ou seja, a essência, das atividades 
empresariais do tomador, sendo atividade-fim, portanto, aquela que a compõe”. 
Sobre “pessoalidade” e “subordinação”, ensina Gustavo Filipe Barbosa Garcia 
(2014, p. 358): 
 
Quanto à pessoalidade (requisito da relação de emprego mencionada no art. 
2.º, caput, da CLT), significa a prestação dos serviços pelo próprio trabalhador 
(pessoa física, conforme art. 3.º da CLT), sem que seja substituído 
constantemente por terceiros, aspecto este relevante ao empregador, que o 
contratou tendo em vista a sua pessoa. Como se nota, o contrato de trabalho 
caracteriza-se por ser intuito personae. A subordinação (ou “dependência”, na 
redação do art. 3.º da CLT) significa que a prestação dos serviços é feita de 
forma dirigida pelo empregador, o qual exerce o poder de direção. O 
empregador é quem corre os riscos da atividade exercida e o empregado, 
justamente por não ser trabalhador autônomo, exerce sua atividade não por 
conta própria, mas sim alheia (ou seja, com subordinação jurídica ao 
empregador). 
 
A imprescindibilidade da distinção entre atividades “fim” e “meio” é ponto crucial 
do Direito do Trabalho, uma vez que a licitude da terceirização e a responsabilidade do 
tomador de serviços estão diretamente ligadas a essas definições, de acordo com a 
interpretação da Súmula 331 do TST. Conforme o inciso I da súmula, em caso de 
terceirização ilícita, é reconhecido o vínculo de emprego diretamente com o tomador de 
serviços, ficando este responsável por todos os encargos trabalhistas decorrentes da 
contratação ilegal do trabalhador terceirizado. Ocorre que, “na realidade, tais conceitos 
de atividade-fim e atividade- meio não são jurídico-trabalhistas”, conforme Castro (2003, 
p. 5/9), não surgiram do Direito do Trabalho. 
Com essa condição, observou o Tribunal Superior do Trabalho, como não 
poderia deixar de fazer, os artigos 2º e 3º da Consolidação das Leis do Trabalho, os 
quais dispõem que existe o vínculo de emprego entre o trabalhador (pessoa física) e a 
20 
 
empresa caso haja a existência de onerosidade, pessoalidade, não eventualidade e 
subordinação, conforme Cavalcanti (2007, p. 67). 
As hipóteses de terceirização não elencadas pela Súmula nº 331 devem ser 
consideradas ilícitas, conforme ensina Mauricio Godinho Delgado (2005, p. 105): 
 
Excluídas as quatro situações-tipo acima examinadas, que ensejam a 
terceirização lícita no Direito brasileiro, não há na ordem jurídica do país 
preceito legal a dar validade trabalhista a contratos medianteos quais uma 
pessoa física preste serviços não eventuais, onerosos, pessoais e subordinados 
a outrem (arts. 2º, caput, e 3º, caput, CLT), sem que esse tomador responda, 
juridicamente, pela relação laboral estabelecida. 
 
Na terceirização lícita, quem deve fiscalizar, controlar e organizar as atividades 
do empregado (do serviço terceirizado) não é o ente tomador, mas, sim, o empregador, 
que é a empresa prestadora de serviços. Se, com o fim de terceirizar certa atividade, for 
contratada empresa prestadora, mas o tomador exercer o poder diretivo perante o 
trabalhador, este passa a ter sua relação jurídica de emprego com o próprio tomador. 
Trata-se da consequência da terceirização ser considerada ilícita, de acordo com 
Delgado (2012, p. 67). 
 
3.2 TERCEIRIZAÇÃO LICITA X ILÍCITA 
 
A terceirização lícita é aquela que observa os preceitos legais e não tem o 
objetivo de fraudar direitos trabalhistas, ou seja, a terceirização lícita está perfeitamente 
delineada na Súmula 331 do TST. Já a terceirização ilícita é aquela que caracteriza a 
locação permanente de mão de obra lesando os trabalhadores, conforme Nascimento 
(1999, p. 57). 
A terceirização ilícita ocorre quando o tomador de serviços contrata na 
atividade-fim, ou seja, gera-se vínculo empregatício direto entre o trabalhador e o 
tomador e, logicamente, responsabilidade pelos débitos trabalhistas. 
O entendimento doutrinário e jurisprudencial predominante admite que a 
empresa contrate empresas prestadoras de serviços à terceiros para a realização das 
suas atividades-meio, ou seja, aquelas atividades que não são voltadas diretamente 
para a atividade principal da empresa contratante. Contudo, tal entendimento exige que 
21 
 
não haja na prestação dos serviços à terceiros, a pessoalidade e a subordinação direta. 
Daí depreende-se que a empresa contratada dirigirá a prestação dos serviços dos seus 
respectivos empregados na empresa contratante, e não haverá vinculação pessoal do 
empregado ao serviço a ser realizado, o que significa que o trabalho pode ser realizado 
por diferentes trabalhadores determinando os aspectos de subordinação e 
personalidade no âmbito jurídico, nos moldes delimitados por Delgado (2012, p. 61). 
Diferentemente da forma ilegal de terceirização, a responsabilidade do tomador 
de serviços, quando a modalidade de terceirização for lícita, será apenas subsidiária. 
Retornando à questão da terceirização ilícita, que basicamente conceituada se traduz 
em contratar trabalhadores por interposta pessoa, temos a previsão legal para este fato, 
conforme esclarece Cassar (2009, p. 97). 
Segundo Sérgio Pinto Martins (2009, p. 158): 
 
[...] a terceirização, para que seja válida, exige que não estejam presentes os 
requisitos pertinentes à relação de emprego, senão vejamos: Para que a 
terceirização seja plenamente válida no âmbito empresarial, não podem existir 
elementos pertinentes a relação de emprego no trabalho do terceirizado, 
principalmente o elemento subordinação. O terceirizante não poderá ser 
considerado como superior hierárquico do terceirizado, não poderá haver 
controle de horário e o trabalho não poderá ser pessoal, do próprio terceirizado, 
mas realizado por intermédio de outras pessoas. Deve haver total autonomia do 
terceirizado, ou seja, independência, inclusive quanto a seus empregados. 
 
No elemento subordinação, que deve estar ausente, como já sabido, devemos 
fazer a distinção entre subordinação jurídica e subordinação técnica, pois a 
subordinação jurídica vai ser verificada com a prestadora de serviços, que irá admitir, 
dar ordens, e a técnica será verificada com o tomador, que dará comandos técnicos de 
como deseja a realização do serviço, principalmente quando prestado em suas 
dependências, conforme Manus (2001, p. 87). 
Ainda conforme a lição de Sérgio Pinto Martins (2009, p. 159): 
 
[...] algumas regras devem ser observadas, sob pena de tornar ilícito o contrato: 
[...] (a) idoneidade econômica da terceirizada; (b) assunção de riscos pela 
terceirizada; (c) especialização nos serviços a serem prestados; (d) direção dos 
serviços pela própria empresa terceirizada; (e) utilização do serviço, 
principalmente em relação à atividade-meio da empresa que terceiriza serviços, 
evitando-se a terceirização da atividade-fim; (f) necessidade extraordinária e 
temporária de serviços. 
22 
 
Caso quaisquer dessas regras enumeradas sejam quebradas e esteja também 
presente o elemento subordinação, a jurisprudência tem entendido pela configuração 
da relação de emprego: 
 
Trabalhador demitido que adquire a ferramenta de trabalho anteriormente 
fornecida pelo empregador e continua na mesma atividade exercendo os 
mesmos serviços, para a mesma empresa, através de outra, pertencente ao 
mesmo grupo com subordinação, dependência econômica e pessoalidade, 
configura o vinculo empregatício” (TRT 6ª Região, RO 788/86, Ac. 3ª T., j.6- 7-
87, Rel. Juiz Adalberto Guerra Filho, Ltr 52-7/838). Irrelevante ter o empregado 
constituído pessoa jurídica para continuar prestando os mesmos serviços ao 
empregador, no mesmo local, na mesma condição, com móveis, telefone e 
empregados pagos pela reclamada, porque a situação caracteriza a 
continuidade do vínculo empregatício” (TRT 9ª Região, RO 871/82, Ac. 
1.606/83, j. 12-7-83, Rel. Juiz George Christofis, Ltr 48-7/860). 
 
Pode-se dizer que a terceirização ilícita vai implicar na locação permanente de 
serviços, em fornecimento de mão-de-obra barata e em desrespeito aos direitos 
trabalhistas. Nem sempre será fácil distinguir entre a terceirização legal da ilegal, razão 
pela qual esta tarefa muitas vezes é repassada ao Poder Judiciário, através dos Juízes 
trabalhistas, especialmente no que se refere a distinção entre atividade meio-fim. 
Manus (2001, p. 81) expõe que: 
 
Assim, o item IV da Súmula 331 do TST, dispõe que o inadimplemento das 
obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implicará em 
responsabilidade subsidiária quanto ao tomador, nos seguintes termos: IV - O 
inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a 
responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas 
obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das 
autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades 
de economia mista, desde que hajam participado da relação processual e 
constem também do título executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de 
21.06.1993). 
 
Ademais, ao contrário do que afirma a Prof.ª Vólia Cassar, o vocábulo 
“irregular” não é o mais correto, pois abrange apenas os casos que contrariam a lei ou o 
regulamento. Assim define De Plácido e Silva: “Irregular. Contrário a regular. Que sai da 
regra jurídica ou que contravém à lei ou ao regulamento. Equivalente a ilegal”, conforme 
Silva (2001, p. 452). 
23 
 
Isto posto, a partir de agora serão analisados os tipos de atividades exercidas 
pela empresa, tendo em vista que a licitude ou ilicitude da terceirização também está 
intrinsicamente ligada com a atividade para a qual ela é contratada. 
 
3.3 ATIVIDADE MEIO X ATIVIDADE FIM 
 
A impropriedade da definição acerca da legalidade ou não das modalidades de 
terceirização por meio da edição de Súmula por si só se constitui falha, mas traria o 
mesmo problema se fosse replicada para o processo legislativo ordinário. Delgado 
(2011, p. 438) explica que: 
 
Atividades-fim podem ser conceituadas como as funções e tarefas empresariais 
e laborais que se ajustam ao núcleo da dinâmica empresarial do tomador dos 
serviços, compondo a essência dessa dinâmica e contribuindo inclusive para a 
definição de seu posicionamento e classificação no contexto empresarial e 
econômico. São, portanto, atividades nucleares e definitórias da essência da 
dinâmica empresarial do tomador dos serviços.Por outro lado, atividades-meio 
são aquelas funções e tarefas empresariais e laborais que não se ajustam ao 
núcleo da dinâmica empresarial do tomador dos serviços, nem compõem a 
essência dessa dinâmica ou contribuem para a definição de seu 
posicionamento no contexto empresarial e econômico mais amplo. São, 
portanto, atividades periféricas à essência da dinâmica empresarial do tomador 
dos serviços. 
 
Tal afirmação justifica-se dada à grande dificuldade, na prática empresarial e 
até mesmo na defesa em processos judiciais da definição concreta e restrita dos 
conceitos de atividade meio e atividade fim. 
Almir Pazzianotto (2005, p. 17), em interessante raciocínio a demonstrar quão 
falha é a concepção de atividade fim, mostra que o Banco do Brasil, a TV Bandeirantes, 
o Shopping Iguatemi ou mesmo a pequena Confecções Santa Terezinha possuem 
similitudes entre si, mesmo organizadas em ramos de negócio distintos. Todas foram 
organizadas tendo como atividade fim o lucro. Capital social, número de sócios, ramo 
de atividade, nunca são os mesmos; o objetivo final, contudo, se resume na estimulante 
ideia de gerar lucro. 
Ensina que, segundo a inteligência do artigo 981 do Código Civil, celebram 
contrato de sociedade as pessoas que se obrigam a contribuir com bens ou serviços 
para o exercício da atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. 
24 
 
Segundo se conclui pela ciência econômica, pessoas físicas ou jurídicas não 
empenham tais contribuições para produzir bens de consumo no intuito de satisfazer as 
necessidades da população. Seja fabricando medicamentos ou automóveis, vendendo 
espaço publicitário nos jornais, rádio e televisão, a finalidade precípua é a realização do 
lucro. Mannrich (2010, p. 186): 
 
Pouco importa se a terceirização se dá na atividade-fim ou na atividade-meio, 
sendo fundamental, como já referido, a transferência completa de uma atividade 
ou fase autônoma do processo produtivo, como se se (sic) tratasse de uma 
empreitada. 
 
Para tanto, valem-se de informações, marcas, instalações, matérias primas, 
parque de máquinas e demais equipamentos, publicidade, material humano 
consubstanciado em dirigentes e empregados. Tudo de que se servem é meio de 
acordo com Mannrich (2010). 
Pazzianotto, que participou da discussão que culminou na edição da Súmula 
331 quando Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, admite que o Enunciado 
funciona como fonte provocadora de conflitos, haja vista a impossibilidade de se traçar 
linha divisória nítida e objetiva capaz de diferenciar atividade meio de atividade fim. 
Martins (2012, p. 130) explica que: 
 
Atividade-fim é a que diz respeito aos objetivos da empresa, incluindo a 
produção de bens ou serviços, a comercialização etc. É a atividade central da 
empresa, direta, de seu objeto social. É a atividade principal da empresa, a 
nuclear ou essencial para que possa desenvolver seu mister. A atividade-fim da 
empresa não é o lucro. Este é o seu objetivo. Para o Direito Comercial, 
atividade-fim é a que consta do objeto do contrato social. É a atividade principal. 
[...] A atividade-meio pode ser entendida como a atividade desempenhada pela 
empresa que não coincide com seus fins principais. É a atividade não essencial 
da empresa, secundária, que não é seu objeto central. É uma atividade de 
apoio a determinados setores da empresa ou complementar. [...]. Já a 
atividade-fim é a atividade em que a empresa concentra seu mister, isto é, na 
qual é especializada. 
 
Alguns dispositivos nos socorrem nesta tentativa de definição, ainda que por 
analogia. A citar o artigo 580 da CLT, em seu parágrafo 2º, que entende por atividade 
preponderante (ou fim) “a que caracterizar a unidade de produto, operação ou objetivo 
25 
 
final, para cuja obtenção todas as demais atividades convirjam, exclusivamente em 
regime de conexão funcional”. 
Não existem parâmetros bem definidos do que sejam Atividade-Fim e Atividade-
Meio, muitas vezes quando levadas a juízo ambas confundem-se, ficando a cargo do 
juiz defini-las, consoante esclarece Abdala (1996, p. 128). 
Carolina Pereira Marcante (2004, p. 67) esclarece uma mudança no conceito 
mais antigo de Atividade-fim, para o dos dias atuais: 
 
Concorda-se que a terceirização na atividade-fim está muito próxima da 
ilicitude, uma vez que, nesses casos, é dificílimo se provar a ausência da 
subordinação direta. Há de se ponderar, todavia, que o conceito de atividade-
fim está relativizando. As empresas estão cada vez mais especializadas. Hoje, 
é possível se afirmar que existem fabricantes das mais variadas peças de 
automóveis, bem como existem companhias voltadas apenas para a montagem 
de tais peças. Logo, ao se julgar sobre a licitude da terceirização na atividade-
fim, é primordial ter-se em mente a especialização do mercado e investigar se 
estão presentes ou não os requisitos de relação de emprego. 
 
Valle, Ejnisman e Gômara (2007) ressaltam que independentemente da 
terceirização da atividade-meio ou fim, caso seja verificado que o profissional alocado 
na prestação de serviços estiver, de fato, exercendo suas funções de forma pessoal e 
com habitualidade, bem como subordinado às ordens e mandamentos da empresa 
tomadora de serviços, fatalmente será considerado empregado desta empresa, 
reconhecendo-se a fraude na terceirização da atividade. 
 
3.4 A TERCEIRIZAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
Diante das proporções que da terceirização vinha tomando e da sua 
generalização no mercado laborativo do país, a jurisprudência trabalhista viu-se forçada 
a encarar o fenômeno com mais atenção, com o intuito de viabilizar a sua prática. 
A principal diferença quando se fala de terceirização no setor público e no setor 
privado reside no fato de que a Administração Pública deve observar os princípios que 
se aplicam a ela, fundamentada na supremacia e indisponibilidade do interesse público, 
a qual sempre deve ser considerada para verificar se é possível utilizar a terceirização 
no setor público. 
26 
 
A normatização atual que possibilita que a Administração Pública terceirize 
serviços são a Lei 8.666/1993 e a Lei 8,987/1995. Nestes diplomas legais, a 
terceirização em relação à Administração Pública pode ser classificada em dois tipos, 
que são a terceirização dos próprios serviços públicos e a terceirização de atividades 
ligadas aos serviços públicos, isto é, é possível ocorrer a terceirização junto à 
Administração Pública mediante contrato de prestação de serviços (terceirização de 
atividades ligadas aos serviços públicos), regulada pela Lei 8.666/93, ou a terceirização 
como contrato de concessão ou permissão (terceirização de serviços públicos), que é a 
terceirização do próprio serviço público, cuja base legal é a Lei 8.987/95, art. 37, XXI e 
a Lei 11.079/2044, art. 1753, caput. 
Além disso, ao lado da multiplicidade de interpretações jurisprudenciais 
lançadas nas decisões das últimas décadas, o Tribunal Superior do Trabalho editou 
duas súmulas de jurisprudência uniforme, a de nº 256, de 1986, e a de nº 331, de 
dezembro de 1993 (esta última revisando a anterior), além de duas orientações 
jurisprudenciais (ambas da Seção de Dissídios Individuais 1 – SDI-1 –, do TST). 
Uma das orientações jurisprudenciais serve para casos específicos de 
terceirização de mão de obra por ente público, que prevê a ilicitude da contratação de 
mão de obra por empresa interposta e a formação de vínculo trabalhista diretamente 
com o tomador de serviços, enquanto a outra reforça a ideia de inexistência de vínculo 
empregatício com a Administração Pública, em face da necessidade de prévia 
aprovação em concurso público para tanto, conforme prevê a Constituição Federal, art. 
37, II e § 2º, ratificada pelo inciso I da Súmula 331 do TST. Passando-se à análise dos 
verbetes supramencionados, temos que o textooriginal da Súmula 256 vedava 
qualquer prática de terceirização, com exceção daquelas já previstas em lei, ou seja, 
nos casos de trabalho temporário e de serviços de vigilância. 
Com efeito, a Justiça Trabalhista não deixou de imputar responsabilidade à 
Administração Pública por débitos trabalhistas de suas contratadas, mesmo após o 
julgamento da ADC nº 16, porém, já é possível verificar que essa imputação está em 
consonância a referida ADC, ou seja, verificação, no conjunto fático-probatório, da 
culpa in vigilando da Administração Pública, conforme se depreende da ementa de 
alguns julgados colacionados abaixo: 
27 
 
AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE 
SUBSIDIÁRIA. ADC 16. CULPA IN VIGILANDO. OMISSÃO DO ENTE 
PÚBLICO NA FISCALIZAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO. 
DESPROVIMENTO. Confirma-se a decisão que, por meio de despacho 
monocrático, negou provimento ao agravo de instrumento, por estar a decisão 
recorrida em consonância com a Súmula 331, IV, do c. TST. Nos termos do 
entendimento manifestado pelo E. STF, no julgamento da ADC- 16, em 
24/11/2010, é constitucional o art. 71 da Lei 8666/93, sendo dever do judiciário 
trabalhista apreciar, caso a caso, a conduta do ente público que contrata pela 
terceirização de atividade-meio. Necessário, assim, verificar se ocorreu a 
fiscalização do contrato realizado com o prestador de serviços. No caso em 
exame, o ente público não cumpriu o dever legal de vigilância, registrada a 
omissão culposa do ente público, ante a constatada inadimplência do 
contratado no pagamento das verbas trabalhistas, em ofensa ao princípio 
constitucional que protege o trabalho como direito social indisponível, a 
determinar a sua responsabilidade subsidiária, em face da culpa in vigilando. 
Agravo de instrumento desprovido”. (TST, Ag-AIRR- 153040-
61.2007.5.15.0083, Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de 
Julgamento: 15/12/2010, 6ª Turma, Data de Publicação: 28/01/2011) 
“RECURSO DE REVISTA - ENTE PÚBLICO - RESPONSABILIDADE 
SUBSIDIÁRIA - ADC Nº 16 - JULGAMENTO PELO STF - CULPA IN 
VIGILANDO - OCORRÊNCIA NA HIPÓTESE DOS AUTOS - ARTS. 58, III, E 
67, CAPUT E § 1º, DA LEI Nº 8.666/93 - INCIDÊNCIA. O STF, ao julgar a ADC 
nº 16, considerou o art. 71 da Lei nº 8.666/93 constitucional, de forma a vedar a 
responsabilização da Administração Pública pelos encargos trabalhistas 
devidos pela prestadora dos serviços, nos casos de mero inadimplemento das 
obrigações trabalhistas por parte do vencedor de certame licitatório. Entretanto, 
ao examinar a referida ação, firmou o STF o entendimento de que, nos casos 
em que restar demonstrada a culpa in vigilando do ente público, viável se torna 
a sua responsabilização pelos encargos devidos ao trabalhador, já que, nesta 
situação, a administração pública responderá pela sua própria incúria. Nessa 
senda, os arts. 58, III, e 67, caput e § 1º, da Lei nº 8.666/93 impõem à 
administração pública o ônus de fiscalizar o cumprimento de todas as 
obrigações assumidas pelo vencedor da licitação (dentre elas, por óbvio, as 
decorrentes da legislação laboral), razão pela qual à entidade estatal caberá, 
em juízo, trazer os elementos necessários à formação do convencimento do 
magistrado (arts. 333, II, do CPC e 818 da CLT). Na hipótese dos autos, além 
de fraudulenta a contratação do autor, não houve a fiscalização, por parte do 
Estadorecorrente, acerca do cumprimento das ditas obrigações, conforme 
assinalado pelo Tribunal de origem, razão pela qual deve ser mantida a decisão 
que o responsabilizou subsidiariamente pelos encargos devidos ao autor. 
Recurso de revista não conhecido”. (TST, RR-67400- 67.2006.5.15.0102, Rel. 
Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Data de julgamento: 07/12/2010, 1ª 
Turma, Data de Publicação: 17/12/2010). 
 
No ano de 2011 houve uma alteração fundamental na Súmula 331 do TST, que 
editou o inciso IV, bem como acrescentou os incisos V e VI, o quais delimitaram a 
aplicação desta norma, especialmente no que diz respeito à Administração Pública, a 
saber: 
 
28 
 
V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem 
subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua 
conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de 
21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações 
contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida 
responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações 
trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada. 
 VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as 
verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral. 
 
Ensina Sérgio Pinto Martins (2014, p. 28) que “A finalidade da decisão foi 
deliberar a responsabilidade pelo inadimplemento das obrigações trabalhistas e 
previdenciárias do contrato de trabalho. 
Entretanto, se o Projeto de Lei 4.330/2004 obtiver êxito em sua tramitação no 
Congresso, alguns fatores podem ser seriamente alterados, vez que o Estado poderá 
terceirizar quaisquer serviços, inclusive os mais essenciais como ensino e educação. 
Além do mais, outra fragilização ao trabalhador pode ocorrer, pois a proposta admite 
que a Administração Pública invoque a Lei 8.666/1993 para se exonerar da 
responsabilidade subsidiária nos contratos de que é parte e com a qual a empresa 
interposta não cumpriu com suas obrigações, tornando sem efeito as limitações 
dispostas na Súmula 331 e desta forma esvaziando a possibilidade do trabalhador de 
pleitear seus direitos em juízo, em razão do pedido não ser juridicamente possível, uma 
vez que não terá base legal alguma na qual possa se apoiar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
4 PRECARIZAÇÃO DA RELAÇÃO DE TRABALHO 
 
Ao longo das últimas décadas do século XX o Estado tornou válida a 
flexibilização do trabalho pleiteada pelas empresas, resultando num enorme processo 
de precarização do trabalho cujas evidências estão intimamente ligadas a um cenário 
político conturbado e instável e sob a composição de uma estrutura econômica ainda 
incipiente, que faz com que Mello (1998, p. 24) a denomine de “capitalismo tardio”. Tais 
evidências se materializaram, dentre outras formas, na flexibilização dos vínculos da 
relação empregatícia com o surgimento de novas modalidades como os contratos 
temporários, os contratos voluntários e a terceirização, que trouxeram também outras 
consequências danosas à relação de trabalho, especialmente no que tange à distinção 
de salários, recebimento de benefícios, segurança no trabalho, dentre outras inúmeras 
hipóteses que diminuem o vínculo de emprego. Os empregados terceirizados, por 
exemplo, não têm os mesmos direitos de um empregado com vínculo formal, tampouco 
têm seus direitos devidamente protegidos por alguma legislação específica, que faz 
com que aumentem as irregularidades cometidas contra a categoria destes 
profissionais. Já os empregados que têm vínculo formal possuem todos seus direitos 
pautados em normas legais, ACT e/ou CCT que sua categoria conquistou ao longo do 
tempo. A fim de ratificar esse posicionamento, pode-se tomar como exemplo o Estudo 
elaborado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), em abril de 2015, no qual 
afirmou que os trabalhadores terceirizados recebem 25% menos em salários, trabalham 
7,5% (3 horas) a mais que outros empregados e ainda ficam menos de metade de 
tempo no emprego (http://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/) 
Ao longo do período compreendido entre 1888 a 1933 são constituídas as 
bases necessárias para a efetivação do capital industrial no país, caracterizado nesta 
época por pequenas indústrias de aço, cimento e uma forte participação da agricultura 
no que se refere ao fornecimento de matérias-primas. Todo o processo ocorrido ao 
longo deste período tevecomo financiador as exportações cafeeiras. 
Para Ricardo Antunes (2006, p. 89), diante de todo esse processo de 
precarização a expressão classe-que vive-do-trabalho engloba toda e qualquer forma 
de trabalho desde o trabalho produtivo (gerador de mais-valia) até os trabalhos 
30 
 
improdutivos inseridos no setor de serviços, bancos, comércio, turismo, serviços 
públicos, trabalho domiciliar, trabalhadores terceirizados, os “assalariados” da economia 
informal e até mesmo os desempregados que foram excluídos do processo produtivo 
frente ao novo sistema de acumulação do capital. No entanto, o fenômeno da 
precarização do trabalho se manifesta de maneira diferenciada. 
No âmbito das relações de trabalho, Annie Thébaud-Mony e Graça Druck 
(2007, p. 38) abordam a precarização da seguinte maneira: 
 
O debate acerca da precarização do trabalho no Brasil refere-se 
fundamentalmente aos resultados e impactos da flexibilização, cujas noções 
que marcam as análises são a fragmentação, a segmentação dos 
trabalhadores, a heterogeneidade, a individualização, a fragilização dos 
coletivos, a informalização do trabalho, a fragilização e crise dos sindicatos e, a 
mais importante delas, a idéia de perda – de direitos de todo tipo – e da 
degradação das condições de saúde e de trabalho. Noções que dão conteúdo à 
idéia de precarização, considerada como a implicação mais forte da 
flexibilização. 
 
No Brasil, a terceirização resulta em precarização porque há um desvirtuamento 
desse instrumento. A terceirização foi desenvolvida no campo da Administração de 
Empresas como uma alternativa para melhorar a qualidade do produto ou serviço 
vendido, por meio da especialização das atividades produtivas. Nesse processo, uma 
empresa transfere parte de suas atividades para outra empresa, concentrando seus 
esforços nas suas atividades principais. 
A despeito dessas finalidades, a terceirização em nosso país tem sido utilizada 
unicamente para redução de custos, sem preocupação com a melhora da produtividade 
ou da qualidade do produto ou serviço. As empresas contratam as prestadoras de 
serviços que apresentam os menores preços, geralmente inidôneas, e não as 
prestadoras mais especializadas ou que oferecem os melhores serviços. As empresas 
brasileiras, da mesma forma, normalmente não conferem as condições de trabalho a 
que os terceirizados são submetidos e não fiscalizam se as empresas contratadas 
estão pagando seus empregados em dia. 
Por consequência, o trabalho terceirizado é precarizado, pois há redução de 
salários e benefícios, aumento no número de acidentes no trabalho, agravamento dos 
problemas de saúde e diminuição da vitalidade da ação sindical. Tais consequências 
31 
 
são ratificadas em pesquisas e estudos publicados e validados, como a pesquisa da 
CUT (Central Única dos Trabalhadoras), realizada em abril de 2015, que afirma que os 
terceirizados recebem menos, trabalham mais e permanecem mais tempo em seus 
empregos, a qual já fora mencionada e está detalhada no início deste capítulo, além da 
realizada pelo DIEESE (2010, p. 9/12), a qual constatou que os acidentes de trabalho 
no setor elétrico ocorrem, em maior número, com os trabalhadores terceirizados. O 
DIEESE constatou ainda uma grande redução nos quadros de trabalhadores daquele 
setor e concluiu que isso tem clara relação com a intensa terceirização por ele 
suportada. 
Outros dados do DIEESE mostram que os riscos de um empregado terceirizado 
morrer de acidente de trabalho é 5,5 vezes maior que nos demais segmentos 
produtivos. Entre outras razões para o elevado número de acidentes, destaca-se o 
compromisso da empresa contratada em cumprir prazos pelo menor preço, com a 
intensificação da jornada de trabalho com mais horas de atividade e imposição de 
condições perigosas e penosas, revelando assim a precarização social. 
Como salienta Márcio Pochmann (2008), a expansão da terceirização no Brasil 
instituiu um padrão asiático de emprego da mão de obra, isto é, ocupações com contida 
remuneração, intensa rotatividade e elevada jornada de trabalho 
(http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/). 
A isonomia se justifica pelo princípio da não discriminação remuneratória (arts. 
7º, XXXII da CF e 3º, parágrafo único da CLT) e pelo princípio da igualdade (art. 5º, 
caput e I da CF). Acrescente-se, ainda, a justificação de Mauricio Godinho Delgado 
(2012, p. 201): 
 
Insista-se que a fórmula terceirizante, caso não acompanhada do remédio 
jurídico da comunicação remuneratória, transforma-se em mero veículo de 
discriminação e aviltamento do valor da força de trabalho, rebaixando 
drasticamente o já modesto padrão civilizatório alcançado no mercado de 
trabalho do país. Enxergar na terceirização um mero instrumento de 
tangenciamento da aplicação da legislação trabalhista é suprimir o que pode 
haver de tecnologicamente válido em tal fórmula de gestão trabalhista, 
colocando-a contra a essência do Direito do Trabalho, enquanto ramo jurídico 
finalisticamente dirigido ao aperfeiçoamento das relações de trabalho na 
sociedade contemporânea. 
 
32 
 
A verdade, o princípio da igualdade por vezes supõe e até mesmo reclama 
tratamento legal desigual, para que, compensadas as desigualdades reais, caminhe-se 
para maior igualdade efetiva, como já reconheceu inclusive o Supremo Tribunal 
Federal: "Princípio isonômico: a sua realização está no tratar iguais com igualdade e 
desiguais com desigualdade." O princípio da isonomia enseja e exige a equivalência 
real, caso a caso, in concreto, para não se correr o risco de tratar com desigualdade os 
iguais, ou os desiguais com igualdade, o que seria desigualdade flagrante, e não 
igualdade substancial, conforme Martins (2009, p.212). 
No direito do trabalho o princípio da isonomia surgiu como conseqüências de 
que a liberdade de contrato entre pessoas com poder e capacidade econômica 
desiguais conduzias a diferentes formas de exploração, inclusive mais abusivas e 
iníquas. Para tanto, o legislador, através do princípio da isonomia, na tentativa de 
buscar medidas para garantir uma igualdade jurídica que desaparecia diante da 
desigualdade econômica no direito do trabalho, busca-se uma justiça real, concreta ou 
material. O nível de capacidade legal de agir, de contratar, em que se defrontavam 
operário e patrão, ambos iguais porque ambos soberanos no seu direito, cedia e se 
tornava ficção com a evidente inferioridade econômica do primeiro em face do segundo. 
Se a categoria de cidadão colocava os dois no mesmo plano de igualdade, não 
impediria essa igualdade, como alguém observou, que o cidadão proletário, 
politicamente soberano no Estado, acabasse, economicamente, escravo na fábrica. 
Assim, se traçaram normas publicas reguladoras das relações jurídicas impondo-se 
direitos e obrigações. Desta forma, foram criadas restrições ao poder econômico, 
estabelecendo regras mínimas quanto à jornada, ao salário, à forma de contratação, ao 
trabalho do menor e da mulher, nos moldes lecionados por Delgado (2012, p. 89). 
A responsabilidade solidária é uma forma de dar garantia e segurança para o 
direito do trabalhador, que tem caráter alimentar. Sem essa imputação, a empresa 
procurará a prestadora menos custosa, não se importando em verificar a idoneidade ou 
fiscalizar o cumprimento dos deveres trabalhistas. A atual forma de responsabilização 
incentiva condutas irresponsáveis e negligentes, resultando na concentração de renda 
de poucos e na precarização das relações de trabalho, de acordo com Martins (2009, p. 
37). 
33 
 
Entende-se por terceirização ilícita, portanto, aquela realizada fora das 
hipóteses expressamente previstas em lei, e desde que atendidos os requisitos 
insculpidos nesses diplomas normativos, como no caso de trabalho temporário limitado 
a três meses, de forma que qualquer outra modalidade de contratação que sevalha de 
um intermediário recebendo parte do salário que seria devido integralmente ao 
trabalhador deve ser rechaçada. É o que deixa claro Martins Filho (1993, p. 128) ao 
destacar que: 
 
A distinção que se faz entre terceirização legal e terceirização ilegal refere-se, 
pois, à distinção entre prestação de serviços e locação permanente de mão de 
obra. Se, na prestação do serviço, o componente primordial é a mão de obra e 
não o equipamento (como no caso de mero fornecimento de digitadores), e 
essa mão de obra é utilizada quase que exclusivamente pela mesma empresa 
tomadora de serviço, por vários anos, o que se verifica não é uma verdadeira 
prestação de serviço, mas o fornecimento de mão de obra mais barata. 
 
A responsabilidade subsidiária não se harmoniza com um dos princípios 
basilares do Direito do Trabalho, que é a proteção ao trabalhador. Nesse sentido, critica 
Jorge Luiz Souto Maior (2008, p. 164): 
 
Como se estabeleceu, no Direito do Trabalho, pela Súmula n. 331, do TST, uma 
espécie de responsabilidade secundária do “tomador” dos serviços, sem que 
este para exercê-la sequer precise indicar bens livres e desembaraçados do 
devedor principal suficientes para a satisfação do crédito, acabou-se criando no 
Direito do Trabalho um ilógico sistema de proteção do devedor, que, vale 
lembrar, é um devedor de crédito trabalhista e que possui uma condição 
econômica pressupostamente superior a do credor e mesmo daquele a quem a 
Súmula conferiu a responsabilidade primária, o tal “prestador” de serviços. 
Nada, nada mesmo, nas ordens jurídica, moral e ética, justifica esta situação, 
que precisa, portanto, ser alterada, urgentemente. 
 
Da mesma maneira, é imprescindível o estabelecimento de igualdade de 
condições de trabalho. É necessário que os trabalhadores cumpram a mesma jornada, 
tenham acesso aos mesmos serviços de transporte e alimentação e, principalmente, 
tenham as mesmas condições de saúde e segurança do trabalho. Essa igualdade de 
condições é de suma importância para a autoestima do trabalhador, além de evitar a 
discriminação entre os empregados, conforme Antunes (2007, p. 17). 
A aprovação do Projeto de Lei nº 4330/04, que trata da terceirização de mão de 
obra, significará evidente retrocesso social e ofensa aos Direitos Fundamentais 
34 
 
mínimos dos trabalhadores insculpidos na Constituição Brasileira conforme abordado 
no tópico seguinte. 
4.1 PROJETO DE LEI 4330/04 DA RELAÇÃO DE TRABALHO DO ENTÃO DEPUTADO 
FEDERAL SANDRO MABEL (PL/GO) E APENSOS E SEU PREJUÍZO AOS 
TRABALHADORES. 
 
Iniciativa concreta tramitando no Congresso Nacional, o Projeto de Lei 
4.330/2004 se caracteriza como única expectativa de evolução do ordenamento a 
respeito da matéria, de acordo com Antunes (2007, p.17). 
A partir da análise da motivação da propositura do Projeto de Lei 4.330/2004 
percebe-se o elevado grau do viés empresarial oculto na proposta, a fim de resguardar 
seus interesses, em detrimento à abordagem de uma melhoria aos trabalhadores 
envolvidos. Isso é facilmente identificado ao analisar um trecho da justificativa da 
proposta, que tem o seguinte teor: 
 
[...] a terceirização é uma das técnicas de administração do trabalho que têm 
maior crescimento, tendo em vista a necessidade que a empresa moderna tem 
de concentrar-se em seu negócio principal e na melhoria da qualidade do 
produto ou da prestação de serviço. 
 
Tendo por objetivo tal propósito que o artigo 2º. do Projeto de Lei 4.330/2004 
prevê o seguinte: 
 
Art. 2º: [...] 
§ 2º Não se configura vínculo empregatício entre a empresa contratante e os 
trabalhadores ou sócios das empresas prestadoras de serviços, qualquer que 
seja o seu ramo. 
 
Diante da aprovação do Projeto, que se tornaria Lei, passaria a viger a 
terceirização irrestrita, tendo em vista a ausência de vínculo, independentemente do 
ramo de prestação de serviços. Deste modo, haveria uma autorização à empresa e/ ou 
administração pública para a terceirizarem quaisquer atividades, como uma espécie de 
manobra ilícita, com o intuito de intermediar a contratação de mão-de-obra para as 
atividades-fim desenvolvidas pela empresa e ou administração pública, o que está em 
absoluta desconsonância com a Súmula 331 do TST - que atualmente rege a matéria e 
35 
 
já foi objeto de apreciação detalhada em capítulo anterior – a qual limita a terceirização 
apenas para as atividades-meio. 
O dispositivo é polêmico também por ser omisso sobre a hipótese que configura 
a relação de emprego entre o trabalhador e a empresa que toma seus serviços, como a 
subordinação, a pessoalidade, a não-eventualidade e a onerosidade. Neste sentido, 
Felipe Santa Cruz aponta a dificuldade existente para se implementar a terceirização 
em atividades-fim, ainda mais em setores que firmam elo de pessoalidade entre 
profissional e público alvo. 
 
Elos de confiança como os encontrados, por exemplo, entre médico e paciente 
ou professor e aluno, são construídos através do tempo e do convívio. Como se 
dará a evolução interpessoal, prioritária, seja no tratamento de doentes, seja na 
alfabetização de estudantes, diante da impossibilidade da estabilizar estes 
postos? Pelo mesmo princípio, como manter a expertise de técnicos de uma 
empresa? 
 
As principais precarizações resultantes da aprovação do Projeto de Lei 
4.330/2004 estão dispostas a seguir: 
A pior alteração, já amplamente debatido neste trabalho, será a de que 
qualquer serviço poderá ser terceirizado pela empresa ou administração pública 
(inclusive os mais importantes como ensino e educação). Atualmente, na legislação 
brasileira, o trabalho precário (terceirização) é tratada como exceção, contudo, com as 
alterações propostas, passará a ser regra; 
Haverá a possibilidade de redução salarial, pois com a mudança de 
empregador, a empresa terceirizada não tem obrigação de pagar o mesmo valor que 
anteriormente o funcionário recebia na empresa em que trabalhava, mesmo exercendo 
as mesmas funções na nova empregadora; 
Fim da equiparação salarial, isto é, trabalhos idênticos e que estejam cumprindo 
as condições exigidas para haver a equiparação, poderão ser remunerados de maneira 
desigual, em havendo distinção de empregadores; 
Os benefícios concedidos por intermédio de acordos e convenções coletivas de 
trabalho não serão passíveis de cumprimentos pela nova empregadora, uma vez que 
ela não pactuou e de cujas negociações sindicais não participou; 
36 
 
Haverá enfraquecimento dos sindicatos com a desintegração em massa dos 
trabalhadores em diversas empresas, que terão datas-bases diferentes, acarretando na 
fragmentação das negociações coletivas, frustrando as reivindicações legítimas das 
categorias; 
Dificuldade ainda maior de inserção da pessoa com deficiência no mercado de 
trabalho, tendo em vista que apenas empresas com mais de 100 funcionários são 
obrigadas a empregar 2% de pessoas com deficiência. Assim, as empresas poderão 
ser segmentadas em múltiplas empregadoras, não sendo necessário que observem tais 
cotas; 
Prejuízo à saúde e segurança do trabalhador devido à alta rotatividade de mão-
de-obra em relação às terceirizadas, ficarão prejudicados os treinamentos e a 
capacidade, gerando um ambiente propício a acidentes de trabalho, que se deve 
também ao baixo investimento em segurança pelas contratantes, visando o baixo custo. 
Neste sentido, olhando pelo âmbito do trabalhador, concluem Druck e Borges: 
 
 [...] além da perda de direitos – por poucos que sejam os direitos de um 
contrato formalizado no Brasil – e da perda material-financeira, há uma perda 
moral, à medida que eles reconhecem, na condição de terceirizado, a ‘perda de 
respeito’, ‘perda de auto-estima’, e ‘é muito sofrimento. 
 
Também na mesma linha de pensamento o procurador do Trabalho, Bruno 
Gomes Borges da Fonseca

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