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Resumo Direito Internacional - Sujeitos de DIP

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Capítulo IV 
SujeitoS de direito 
internacional Público: introdução
SUMÁRIO • 1. Personalidade internacional – 2. O Estado – 3. Organizações internacionais – 4. Santa Sé e 
Estado da Cidade do Vaticano. – 5. O indivíduo – 6. As organizações não-governamentais (ONG’s) – 7. As 
empresas – 8. Beligerantes, insurgentes e nações em luta pela soberania – 9. Os blocos regionais – 10. 
Quadros sinóticos – 11. Questões – Gabarito.
1. Personalidade internacional
O tema da personalidade internacional é objeto de polêmica na doutrina, den-
tro da qual se opõem dois entendimentos. O primeiro mantém a concepção do 
Direito Internacional clássico, de caráter interestatal, pela qual apenas os Estados 
e as organizações internacionais seriam sujeitos de Direito Internacional. O se-
gundo baseia-se na evidência de que a sociedade internacional já não tem mais 
nos entes estatais seus únicos atores relevantes e inclui indivíduos, empresas e 
organizações não-governamentais, por exemplo, dentre os detentores de perso-
nalidade internacional.
A personalidade refere-se à aptidão para a titularidade de direitos e de obri-
gações. Associa-se à capacidade, que é a possibilidade efetiva de que uma pes-
soa, natural ou jurídica, exerça direitos e cumpra obrigações.
Na doutrina internacionalista, o exame da personalidade internacional alude, em 
regra, à faculdade de atuar diretamente na sociedade internacional, que comporta-
ria o poder de criar as normas internacionais, a aquisição e o exercício de direitos e 
obrigações fundamentadas nessas normas e a faculdade de recorrer a mecanismos 
internacionais de solução de controvérsias. Aqueles que possuem a capacidade de 
praticar os atos acima citados seriam os sujeitos de Direito Internacional.
Como afirmamos anteriormente, apenas os Estados e as organizações interna-
cionais eram considerados detentores de personalidade internacional, por conta-
rem com amplas possibilidades de atuação no cenário jurídico externo, incluindo a 
capacidade de elaborar as normas internacionais e a circunstância de serem seus 
destinatários imediatos. Ainda hoje, o entendimento unânime da doutrina atribui-
-lhes o caráter de sujeitos de Direito das Gentes.
Entretanto, a evolução recente das relações internacionais tem feito com que a 
ordem jurídica internacional passe a regular situações que envolvem outros entes, 
que vêm exercendo papel mais ativo na sociedade internacional e que passaram a 
ter direitos e obrigações estabelecidos diretamente pelas normas internacionais. 
154 Paulo Henrique GonçalveS Portela
Com isso, a doutrina vem admitindo a existência de novos sujeitos de Di-
reito Internacional, que são o indivíduo, as empresas e as organizações não-
-governamentais (ONG’s), que podem invocar normas internacionais e devem 
cumpri-las e que, ademais, já dispõem da faculdade de recorrer a certos foros 
internacionais.
Entretanto, cabe destacar que nenhuma das novas pessoas internacionais 
detém todas as prerrogativas dos Estados e organismos internacionais, como a 
capacidade de celebrar tratados. Por conta dessas limitações, parte da doutrina 
classifica os indivíduos, empresas e ONG’s como “sujeitos fragmentários”1 do Di-
reito das Gentes e, pelos mesmos motivos, há quem não reconheça sua persona-
lidade internacional.
ATENÇÃO! em qualquer caso, os sujeitos de Direito Internacional não se con-
fundem com seus órgãos, unidades dos respectivos arcabouços institucionais 
internos encarregadas de manifestar a vontade das entidades que represen-
tam. Exemplos de órgãos: Ministério das Relações Exteriores, Conselho de Se-
gurança da ONU etc.
Entendemos que a polêmica relativa aos sujeitos de Direito Internacional 
tem pouco impacto prático e não afeta a evidência de que as normas interna-
cionais podem efetivamente vincular condutas de vários atores sociais, os quais 
também já contam com crescentes possibilidades de atuação direta em foros 
internacionais. 
Em todo caso, defendemos que indivíduos, empresas e ONG’s possuem perso-
nalidade jurídica internacional, não obstante não reúnam todas as prerrogativas 
dos Estados e organismos internacionais. Com efeito, como afirma Jean Touscoz, 
“a qualidade de sujeito de Direito não depende da quantidade de direitos e obri-
gações de que uma entidade é titular”2. Admitir que essa circunstância elimine a 
personalidade internacional implicaria reconhecer que o próprio Estado, também 
limitado em suas competências nas relações internacionais, não seria sujeito de 
Direito das Gentes. 
A dinâmica da sociedade internacional conta também com a participação de 
coletividades não-estatais peculiares, como a Santa Sé, os beligerantes, os insur-
gentes e as nações em luta pela soberania. 
Por fim, o final do século XX marcou a consolidação dos blocos regionais como 
importantes atores internacionais, que foram paulatinamente adquirindo, em di-
versas partes do mundo, a personalidade jurídica de Direito das Gentes.
1. SEITENFUS, Ricardo. Introdução ao direito internacional público, p. 60.
2. TOUSCOZ, Jean. Direito internacional. Apud DELL´ OLMO, Florisbal de Souza. Curso de direito internacional 
público, p. 65.
 155
ATENÇÃO! há questões de concursos que partem do entendimento clássico, exi-
gindo que os candidatos reconheçam a personalidade de Direito Internacional 
apenas nos Estados, nas organizações internacionais e na Santa Sé e negando 
qualquer capacidade jurídica no âmbito externo a indivíduos, empresas e ONG’s.
2. o estado
O Estado é o ente composto por um território onde vive uma comunidade 
humana governada por um poder soberano e cujo aparecimento, cabe desde 
logo destacar, não depende da anuência de outros membros da sociedade in-
ternacional.
Parte da doutrina defende que o surgimento da sociedade internacional e do 
Direito das Gentes estão estreitamente vinculados à consolidação do Estado, ente 
que criou parte expressiva das normas internacionais, especialmente por meio 
dos tratados, e formou as organizações internacionais, cujo funcionamento requer 
o aporte decisivo dos Estados. Com isso, atribui-se ao Estado personalidade inter-
nacional originária.
O Estado continua a exercer papel importante dentro do Direito Internacional, 
dando ensejo a uma série de desdobramentos no campo jurídico, que serão estu-
dados em capítulo específico deste livro (Parte I – Capítulo V). 
3. organizações internacionais 
A percepção da existência de interesses comuns levou os Estados a estrutura-
rem esquemas de cooperação, alguns dos quais exigiram a criação de entidades ca-
pazes de articular os esforços dos entes estatais, dirigidos a atingir certos objetivos. 
Com isso, foram concebidas as organizações (ou organismos) internacionais, que, 
com a multiplicação das necessidades de cooperação da sociedade internacional, se 
tornaram um traço característico da convivência internacional a partir do século XX.
As organizações internacionais são entidades criadas e compostas por Estados 
por meio de tratado, com arcabouço institucional permanente e personalidade 
jurídica própria, com vistas a alcançar propósitos comuns. Contam com ampla ca-
pacidade de ação no cenário internacional e, por isso, são reconhecidas como su-
jeitos de Direito Internacional, podendo, por exemplo, celebrar tratados e recorrer 
a mecanismos internacionais de solução de controvérsias. Como são estabelecidas 
pelos Estados, sujeitos que têm personalidade internacional originária, a doutrina 
entende que sua personalidade internacional é derivada.
Os primeiros organismos internacionais surgiram no século XIX. Entretanto, a 
noção de que tais entidades seriam sujeitos de Direito das Gentes remonta apenas 
a meados do século XX e teve como marco o parecer da Corte Internacional de 
Justiça (CIJ) relativo à reparação, devida à Organização das Nações Unidas (ONU), 
SujeitoS de direito internacional Público: introdução156 Paulo Henrique GonçalveS Portela
pela morte de seu mediador para o Oriente Médio, Folke Bernadotte, em Jerusa-
lém, em 1948.3
ATENÇÃO! a soberania é atributo exclusivo dos Estados. Nesse sentido, a cir-
cunstância de os entes estatais estabelecerem organizações internacionais 
não conferem a estas o caráter de entidades soberanas.
As múltiplas funções que as organizações internacionais cumprem nas relações 
internacionais também serão objeto de capítulo específico (Parte I – Capítulo VII).
4. santa sé e estado da cidade do Vaticano
Inicialmente, cabe advertir que a Santa Sé e o Vaticano são dois entes distin-
tos, que têm em comum, fundamentalmente, o vínculo com a Igreja Católica Apos-
tólica Romana e a controvérsia em relação à personalidade jurídica internacional 
de ambos. 
A Santa Sé é a entidade que comanda a Igreja Católica Apostólica Romana. É 
chefiada pelo Papa e é composta pela Cúria Romana, conjunto de órgãos que as-
sessora o Sumo Pontífice em sua missão de dirigir o conjunto de fiéis católicos na 
busca de seus fins espirituais. É sediada no Estado da Cidade do Vaticano, e seu 
poder não é limitado por nenhum outro Estado.
A Santa Sé é um sujeito de Direito Internacional, status adquirido ao longo de 
séculos de influência na vida mundial, que remontam à época em que o poder 
temporal do Papado era amplo e abrangia a capacidade de estabelecer regras de 
conduta social válidas para o mundo inteiro, de resolver conflitos internacionais e 
de governar os Estados Pontifícios.
Na atualidade, o Santo Padre ainda goza de status e prerrogativas de Chefe de 
Estado e continua a ter certa ascendência na sociedade internacional, como pro-
vam suas reiteradas manifestações em assuntos de interesse internacional. Além 
disso, a Santa Sé pode celebrar tratados, participar de organizações internacionais 
e exercer o direito de legação (direito de enviar e receber agentes diplomáticos), 
abrindo missões diplomáticas (chamadas de “nunciaturas apostólicas”) chefiadas 
por “Núncios Apostólicos” e compostas por funcionários de nível diplomático, be-
neficiários de privilégios e imunidades diplomáticas. 
A personalidade internacional da Santa Sé passou a ser contestada com a incor-
poração dos Estados Pontifícios à Itália. Entretanto, a polêmica a respeito diminuiu a 
partir do Tratado de Latrão, celebrado entre a Itália e a Santa Sé em 1929, que cedeu 
a esta um espaço em Roma onde foi criado o Estado da Cidade do Vaticano, dentro 
do qual a autoridade suprema da Igreja Católica se encontra instalada.
3. Parecer a respeito do Caso Bernadotte em: CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA. Reparation for Injuries 
Suffered in the Service of the United Nations. Disponível em: < http://www.icj-cij.org/docket/index.ph
p?p1=3&p2=4&code=isun&case=4&k=41>. Acesso em: 06/01/2011. Em inglês. Tradução: Reparação de 
danos sofridos a serviço das Nações Unidas.
 157
O Vaticano é um ente estatal e, portanto, tem personalidade jurídica de Di-
reito Internacional. Conta com um território de 0,44 km², com nacionais e com um 
governo soberano, cuja maior autoridade também é o Papa. O principal papel 
do Vaticano é conferir o suporte material necessário para que a Santa Sé possa 
exercer suas funções. 
Parte da doutrina não considera o Vaticano como Estado, apoiada fundamen-
talmente na suposta incompatibilidade de seus fins com os típicos propósitos 
temporais de um ente estatal. De nossa parte, não concordamos com esse en-
tendimento, visto que o Estado da Cidade do Vaticano possui os três elementos 
clássicos que configuram os entes estatais (território, povo e governo soberano). 
Outrossim, não é o porte do território, a quantidade de nacionais ou o rol de po-
deres enfeixados por um Estado que o define como tal. 
Em todo caso, o Vaticano reúne capacidade de atuação internacional, podendo 
celebrar tratados e participar de organismos internacionais. Tem ainda direito de 
legação, o qual no entanto, é exercido pela Santa Sé, que age em nome do Estado 
da Cidade do Vaticano, ocupando-se, na prática, da diplomacia vaticana. Aliás, 
pela estreita vinculação entre ambos, é certo que os compromissos internacionais 
assumidos pelo Vaticano influenciam os destinos da Santa Sé, e vice-versa.
5. o indiVíduo
Durante muito tempo, a doutrina não conferia ao indivíduo o caráter de sujeito 
de Direito Internacional. Partia-se da premissa de que a sociedade internacional 
era meramente interestatal, e que apenas os Estados podiam criar normas, as 
quais só se referiam diretamente a estes. A pessoa natural, por sua vez, era mero 
objeto das normas internacionais e da ação estatal no cenário externo e, quando 
pudesse atuar no cenário internacional, o faria estritamente dentro do marco es-
tabelecido pelos Estados.
Entretanto, a doutrina vem paulatinamente rendendo-se à evidência de que 
o indivíduo age na sociedade internacional, muitas vezes independentemente 
do Estado, começando a reconhecer na pessoa natural o caráter de sujeito in-
ternacional. 
A personalidade internacional do ser humano ainda é contestada. Em todo 
caso, não é mais possível negar que há um rol significativo de normas interna-
cionais que aludem diretamente a direitos e obrigações dos indivíduos, como 
evidenciado, por exemplo, pelos tratados de direitos humanos, que visam a pro-
teger a dignidade humana, e de Direito Internacional do Trabalho, que tutelam 
as relações laborais.
Além disso, existe a possibilidade de que os indivíduos exijam em foros inter-
nacionais a observância de certos direitos que lhes foram conferidos pela ordem 
jurídica internacional, de forma direta e independentemente da anuência do Esta-
do onde se encontrem ou do qual sejam nacionais. A título de exemplo, um brasi-
leiro pode reclamar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos pela violação 
SujeitoS de direito internacional Público: introdução
158 Paulo Henrique GonçalveS Portela
de um direito previsto na Convenção Americana de Direitos Humanos, e o Brasil 
poderá ser responsabilizado internacionalmente pelo fato. 
Por outro lado, uma pessoa natural também está obrigada a observar as 
normas internacionais e, caso não o faça, pode responder pelo ato em foros in-
ternacionais, como o Tribunal Penal Internacional (TPI), órgão competente para 
processar e julgar indivíduos por determinados crimes definidos em preceitos de 
Direito Internacional.
Recorde-se que o ser humano não pode celebrar tratados e, nesse sentido, 
as normas internacionais que lhe dizem respeito continuam sendo criadas pelos 
Estados e organizações internacionais. Ao mesmo tempo, suas possibilidades de 
acesso direto aos foros internacionais são ainda mais restritas que as dos Estados.
6. as organizações não-goVernamentais (ong’s)
As organizações não-governamentais (ONG’s) são entidades privadas sem fins 
lucrativos que atuam em áreas de interesse público, inclusive em típicas funções 
estatais. Embora existam há muitos anos, as ONG’s adquiriram maior notoriedade, 
inclusive na sociedade internacional, apenas a partir da década de 90 do século XX.
As ONG’s cumprem o papel de promover a aplicação de normas internacionais 
em vários campos, como os direitos humanos e o meio ambiente. Ao mesmo tem-
po, suas apreciações sobre os acontecimentos na sociedade internacional podem 
contribuir para a expansão ou cumprimento do arcabouço normativo internacio-
nal. Algumas ONG’s participam de organizações internacionais como observadoras. 
Por fim, podem recorrer a determinados foros internacionais em defesa de direi-
tos ou interesses vinculados a suas respectivas áreas de atuação. Entretanto, não 
podem celebrar tratados.
Exemplos da ONG’s notórias na sociedade internacional são a Anistia Interna-
cional, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), o Comitê Olímpico Interna-
cional (COI), o Greenpeace e os Médicos sem Fronteiras.
7. as emPresas 
Énotório o papel empresarial no atual cenário internacional, gerando flu-
xos expressivos de comércio, de investimentos e de capitais. Com isso, começa 
a admitir-se a personalidade internacional das empresas, mormente as multi- e 
transnacionais.
As empresas, também referidas frequentemente como “pessoas jurídicas”, 
beneficiam-se diretamente de normas internacionais, a exemplo daquelas que 
facilitam o comércio internacional e os fluxos de investimentos. Ao mesmo tempo, 
têm obrigações fixadas pelo Direito das Gentes, como os padrões internacionais 
mínimos, estabelecidos em tratados, em matérias como trabalho e meio ambiente. 
Em alguns casos, as empresas têm acesso a mecanismos internacionais de solução 
de controvérsias, como no Mercosul. Por fim, suas demandas podem contribuir 
para o desenvolvimento do Direito Internacional. 
 159
Em todo caso, as empresas também são sujeitos fragmentários de Direito In-
ternacional, fundamentalmente porque não podem concluir tratados. 
ATENÇÃO! as empresas podem celebrar instrumentos jurídicos com Estados 
e organizações internacionais, que não serão, porém, tratados, mas apenas 
contratos, como aqueles concluídos internamente entre entes privados e o 
Estado, ou instrumentos não vinculantes, como protocolos de intenções.
8. Beligerantes, insurgentes e nações em luta Pela soBerania
Os beligerantes são movimentos contrários ao governo de um Estado, que 
visam a conquistar o poder ou a criar um novo ente estatal, e cujo estado de beli-
gerância é reconhecido por outros membros da sociedade internacional. 
Celso de Albuquerque Mello afirma que o “reconhecimento como beligerante é 
aplicado às revoluções de grande envergadura, em que os revoltosos formam tro-
pas regulares e que têm sob o seu controle uma parte do território estatal”4, como 
nas guerras civis, fundamentando o instituto no princípio da autodeterminação 
dos povos e nos valores humanitários que perpassam as relações internacionais. 
Exemplo histórico de beligerantes foram os Confederados da Guerra de Secessão 
dos EUA (1861-1865). 
O reconhecimento de beligerância é normalmente feito por uma declaração de 
neutralidade e é ato discricionário. Com as sensibilidades existentes nas relações 
internacionais, é normal que o primeiro Estado a fazê-lo seja aquele onde atue o be-
ligerante. A prática do ato, porém, não obriga outros entes estatais a fazer o mesmo.
As principais conseqüências do reconhecimento de beligerância incluem a 
obrigação dos beligerantes de observar as normas aplicáveis aos conflitos arma-
dos e a possibilidade de que firmem tratados com Estados neutros. O ente estatal 
onde atue o beligerante fica isento de eventual responsabilização internacional 
pelos atos deste, e terceiros Estados ficam obrigados a observar os deveres ine-
rentes à neutralidade. 
Os insurgentes também são grupos que se revoltam contra governos, mas 
cujas ações não assumem a proporção da beligerância, como no caso de ações 
localizadas e de revoltas de guarnições militares, e cujo status de insurgência é 
reconhecido por outros Estados. Exemplo de movimento insurgente foi a Revolta 
da Armada (1893).
O reconhecimento de insurgência é ato discricionário, dentro do qual são 
estabelecidos seus efeitos, que normalmente não estão pré-definidos no Direito 
Internacional e que, portanto, dependem do ente estatal que a reconhece. Em 
regra, o reconhecimento do caráter de insurgente exime o Estado onde ocorre o 
4. MELLO, Celso D. de Albuquerque: Curso de direito internacional público, v. 1, p. 557.
SujeitoS de direito internacional Público: introdução
160 Paulo Henrique GonçalveS Portela
movimento de responder internacionalmente pelos atos dos revoltosos e impõe, 
a todos os lados envolvidos em uma revolta, a obrigação de respeitar as normas 
internacionais de caráter humanitário. 
Há uma clara semelhança entre a beligerância e a insurgência. Entretanto, 
aquela reveste-se de maior amplitude do que esta. Em suma, segundo Alfred Ver-
dross, os insurgentes são “beligerantes com direitos limitados”5. 
As nações em luta pela soberania são movimentos de independência nacio-
nal, que acabam adquirindo notoriedade tamanha que fica impossível ignorá-los 
nas relações internacionais. É o caso, por exemplo, da antiga Organização para a 
Libertação da Palestina (OLP), atual Autoridade Palestina, que, sem contar com a 
soberania estatal, exercia e ainda exerce certas prerrogativas típicas dos Estados, 
como a de celebrar tratados e o direito de legação (direito de enviar e receber re-
presentantes diplomáticos). Podem ter origem na beligerância ou na insurgência. 
Em todo caso, independentemente do reconhecimento de beligerância ou de 
insurgência, ninguém pode eximir-se de respeitar as normas internacionais de 
Direitos Humanos, de Direito Humanitário e de outros ramos do Direito aplicáveis 
a qualquer conflito armado ou situação instável. Afirmar o contrário seria negar a 
universalidade dessas normas, que visam a proteger todas as pessoas em qual-
quer circunstância.
9. os Blocos regionais
Os blocos regionais são, sucintamente, esquemas criados por Estados localizados 
em uma mesma região do mundo, com o intuito de promover a maior integração en-
tre as respectivas economias e, eventualmente, entre as suas sociedades nacionais. 
Os blocos regionais são também conhecidos como “mecanismos de integração 
regional”. Surgem a partir de tratados, celebrados entre os Estados que os criaram, 
e funcionam não apenas no âmbito do marco dos atos internacionais que os cons-
tituíram, como também de acordo com regras, fixadas por outros tratados e por 
modalidades normativas peculiares, concebidas no bojo de suas atividades, como 
as diretrizes do Mercosul e os regulamentos, diretivas e decisões da União Européia.
Exemplos notórios de blocos regionais são a União Européia, o Mercosul e a 
Área de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA).
Dependendo do nível de aproximação entre seus Estados-membros, os blo-
cos regionais organizam-se de modo a agirem autonomamente nas relações in-
ternacionais, ganhando personalidade jurídica própria. Com efeito, alguns blocos 
regionais acabam recebendo poderes típicos de sujeitos de Direito das Gentes, 
como celebrar tratados, comparecer a mecanismos de solução de controvérsias 
internacionais e exercer o direito de legação. 
5. VERDROSS, Alfred. Derecho internacional público, p. 151. Apud DELL´ OLMO, Florisbal de Souza. Curso de 
direito internacional público, p. 62.
 161
ATENÇÃO! nesse sentido, é possível que nem todos os blocos regionais tenham 
personalidade jurídica de Direito das Gentes, o que dependerá, fundamental-
mente, do interesse de seus integrantes.
Exemplo de bloco regional que tem personalidade jurídica de Direito Interna-
cional é o Mercosul, nos termos dos artigos 34 a 36 do Protocolo Adicional ao Tra-
tado de Assunção sobre a Estrutura Institucional do Mercosul (Protocolo de Ouro 
Preto), de 1994. (Decreto 1.901, de 19/03/1996)6. Esse é também o caso da União 
Européia e, futuramente, da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL).
10. Quadros sinóticos
Quadro 1. Lista de sujeitos de Direito Internacional Público
TRADICIONAIS NOVOS (FRAGMENTÁRIOS)
OUTROS ENTES QUE PODEM 
ATUAR NA SOCIEDADE 
INTERNACIONAL
• Estados
• Organizações internacionais
• Santa Sé 
• Indivíduo
• Organizações não-gover-
namentais (ONG’s) 
• Empresas
• Beligerantes
• Insurgentes 
• Nações em luta pela sobe-
rania
• Blocos regionais
Quadro 2. Funções e limites dos sujeitos de Direito Internacional
TRADICIONAIS NOVOS (FRAGMENTÁRIOS)
OUTROS ENTES QUE PODEM 
ATUAR NA SOCIEDADE 
INTERNACIONAL
• Ampla capacidade de ação 
na sociedade internacional, 
incluindo o poder de ce-
lebrar tratados e maiores 
possibilidades de acesso a 
mecanismos internacionais 
de solução de controvérsias
• Não podemcelebrar tra-
tados
• Têm possibilidades de 
acesso a mecanismos in-
ternacionais de solução 
de controvérsias, embora 
mais restritas que as dos 
sujeitos tradicionais
• Normas internacionais lhes 
conferem direitos e esta-
belecem obrigações dire-
tamente
• Beligerantes: podem cele-
brar tratados
• Insurgentes: podem ou 
não celebrar tratados, nos 
termos do ato de reconhe-
cimento de insurgência
• Nações em luta pela sobe-
rania: depende de cada 
caso concreto 
• Normas internacionais lhes 
conferem direitos e esta-
belecem obrigações dire-
tamente.
6. O artigo 34 do Protocolo de Ouro Preto é explícito ao fixar que “O Mercosul terá personalidade jurí-
dica de Direito Internacional”.
SujeitoS de direito internacional Público: introdução
162 Paulo Henrique GonçalveS Portela
11. Questões
 ► Julgue os seguintes itens, marcando “certo” ou “errado”:
1. (TRT 1ª Região – Juiz – 2010 – ADAPTADA) O reconhecimento da personalidade jurídica das 
organizações internacionais não decorre de tratados, mas da jurisprudência internacional, 
mais especificamente do Caso Bernadotte, julgado pela Corte Internacional de Justiça.
2. (TRT 1ª Região – Juiz – 2010 – ADAPTADA) O Vaticano, embora seja estado anômalo, por não 
possuir território, possui representantes diplomáticos, os quais se denominam núncios 
apostólicos.
3. (TRT 16ª Região – Juiz – 2005) As organizações internacionais contemporâneas,
a) são sujeitos soberanos de Direito Internacional.
b) são sujeitos de Direito Internacional em decorrência das normas da Carta da ONU.
c) são sujeitos de Direito Internacional por terem capacidade jurídica própria.
d) não são sujeitos de Direito Internacional.
e) só adquirem personalidade jurídica depois de homologadas pela Corte Internacio-
nal de Justiça.
4. (TRT 7ª Região – Juiz – 2005) A propósito da personalidade jurídica do Estado e das orga-
nizações internacionais, na percepção da doutrina, especialmente em Francisco Rezek, 
pode-se afirmar que,
a) a personalidade jurídica do Estado é originária e a personalidade jurídica das orga-
nizações internacionais é derivada.
b) porque o Estado tem precedência histórica, sua personalidade jurídica é derivada; e 
porque as organizações resultam de uma elaboração jurídica resultante da vontade 
de alguns Estados, sua personalidade jurídica é originária.
c) a personalidade jurídica do Estado fundamenta-se em concepções clássicas de Direito 
Público, formatando-se como realidade jurídica e política; a personalidade jurídica 
das organizações internacionais centra-se na atuação de indivíduos e de empresas, 
que lhes conferem personalidade normativa, assumindo feições públicas e privadas.
d) a personalidade jurídica do Estado é definida por seus elementos normativos in-
ternos, aceitos na ordem internacional por tratados constitutivos de relações nas 
esferas públicas e privadas; a personalidade jurídica das organizações internacionais 
decorre da fragmentação conceitual do Estado contemporâneo, decorrência direta 
de crises de ingovemabilidade sistêmica e de legitimidade ameaçada pelo movimento 
de globalização; não se lhes aplicam referenciais convencionais, e conseqüentemente 
não se vislumbram personalidades jurídicas distintas.
e) o direito das gentes não identifica a personalidade jurídica das organizações interna-
cionais, dado que aplicado, especialmente, aos Estados, que detém natureza jurídica 
definida por elementos de Direito Público.
gaBarito
QUESTÃO
GAbARITO 
OFICIAL
FUNDAMENTAÇÃO 
TóPICOS DO 
CAPíTULO
EVENTUAL ObSERVAÇÃO 
ELUCIDATIVA
1 C Jurisprudência 3 O caso Bernadotte foi objeto de 
parecer da CIJ
 163
QUESTÃO
GAbARITO 
OFICIAL
FUNDAMENTAÇÃO 
TóPICOS DO 
CAPíTULO
EVENTUAL ObSERVAÇÃO 
ELUCIDATIVA
2 E Doutrina 4 O Vaticano possui território. En-
tretanto, os núncios apostólicos 
são vinculados à Santa Sé (que 
não possui território), e a diplo-
macia vaticana também é exerci-
da pela Santa Sé.
3 C a) Doutrina 2 e 3 A soberania é atributo dos Esta-
dos.
b) Doutrina 3 A afirmação dos organismos inter-
nacionais como sujeitos de Direito 
Internacional decorre da evolu-
ção das relações internacionais, 
não da Carta da ONU.
c) Doutrina 3 -
d) Doutrina 3 No início de sua existência, as 
organizações internacionais não 
eram consideradas sujeitos de Di-
reito Internacional.
e) Doutrina 3 A existência das organizações in-
ternacionais depende exclusiva-
mente dos Estados que as criam, 
não da homologação de nenhum 
outro ente.
4 A a) Doutrina 2 e 3 -
b) Doutrina 2 e 3 Como o Estado apareceu primeiro, 
sua personalidade é originária.
c) Doutrina 1, 2 e 3 A personalidade das organiza-
ções internacionais nasce da ação 
dos Estados, não de outros entes.
d) Doutrina 3 A personalidade do Estado não 
depende de tratados. Já a perso-
nalidade das organizações inter-
nacionais é distinta da dos entes 
estatais, mas se fundamenta em 
tratados feitos pelos próprios Es-
tados. 
e) Doutrina 3 -
SujeitoS de direito internacional Público: introdução

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