Buscar

CONTRATOS CARLOS ROBERTO DIREITO CIVIL 3

Prévia do material em texto

TEORIA DOS CONTRATOS
CARLOS ROBERTO GONCALVES
CAPÍTULO 1 - NOÇÃO GERAL DOS CONTRATOS
É importante lembrar as fontes das obrigações:
as declarações unilaterais de vontade
os atos ilícitos, dolosos e culposos
os contratos
CONCEITO
O contrato é uma espécie de negócio jurídico que depende de pelo menos 2 partes para a sua formação, ou seja, é um negócio jurídico bilateral que resulta da composição de interesses. Sempre que o negócio jurídico resultar de um mútuo interesse entre as partes, estaremos diante de um contrato. 
Logo, podemos dizer que o contrato é uma espécie do gênero negócio jurídico. 
Contrato é um "acordo de vontade para adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos"
É importante destacar que, para a doutrina, o contrato não fica restrito ao direito das obrigações, indo de encontro ao direito de família (casamento) e também ao direito público (licitações que o Estado realiza). Porém, em sentido estrito, o contrato restringe-se aos pactos que criam, modificam ou extinguem relações patrimoniais.
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
O código civil de 2002 procurou afastar-se de uma visão predominantemente individualista presente no código anterior, adotando orientações e princípios em prol do coletivo, havendo então uma prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, mas sem perder o valor fundamental da pessoa humana. (Princípio da socialidade).
O sentido social do código civil de 2002 está presente no art 421 do código civil e subordina a liberdade contratual a função social, prevalecendo os princípios de ordem pública. Na própria CF há um dispositivo legal que prevê que o direito de propriedade deve ser exercido conforme sua função social. Ora, o direito de propriedade só é viabilizado por meio dos contratos. Logo, o contrato está submetido a função social também. 
Art 421, CC. "A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato"
A concepção social do contrato tem como finalidade reconhecer as desigualdades substanciais entre os contraentes. 
O contrato possui alguns princípios tradicionais, como o princípio da autonomia da vontade e da obrigatoriedade. Porém, a função social do contrato faz com que estes princípios não prevaleçam. Segundo Caio Mário, a função social do contrato serve para limitar a autonomia da vontade quando essa autonomia está em confronto com o interesse social e, portanto, a coletividade deve prevalecer. Isso permite com que terceiros possam interferir em contratos que diretamente ou indiretamente possam lhe atingir. 
Há 2 aspectos que devem ser levado em consideração ao aplicar a função social:
Individual = Relativo aos contratantes que fazem o contrato para satisfazer seus próprios interesses. 
Público = é o interesse da coletividade perante o contrato. Esse aspecto só será cumprido quando o contrato for uma fonte de equilíbrio social. 
 Cláusulas gerais 
A função social do contrato é uma cláusula geral.
Mas, o que são cláusulas gerais?
São normas de caráter abstrato e genérico que orientam, sob forma de diretrizes, vinculando o juiz ao mesmo tempo que lhe dá liberdade para decidir. 
Cláusulas gerais são normas com diretrizes indeterminadas, que não trazem expressamente uma solução jurídica (consequência). A norma é inteiramente aberta. Uma cláusula geral, noutras palavras, é um texto normativo que não estabelece "a priori" o significado do termo (pressuposto), tampouco as conseqüências jurídicas da norma (conseqüente). Sua idéia, de acordo com Fredie Didier Jr., é "estabelecer uma pauta de valores a ser preenchida historicamente de acordo com as contingências históricas".
CONDIÇÕES DE VALIDADE DO CONTRATO
Para que o negócio jurídico tenha efeito - possibilitando a modificação, extinção ou aquisição de direitos- , é necessário cumprir com alguns requisitos de validade. Caso não tenha esses requisitos, o negócio jurídico é nulo ou anulável, não produzindo efeitos. 
Os requisitos de validade são divididos em duas espécies. De ordem geral, comum a todos os negócios jurídicos e ordem especial, válidos apenas para os contratos. 
DE ORDEM GERAL 
Capacidade do Agente
Lícito, possível, determinado ou determinável
Forma prescrita ou não defesa em lei
consentimento recíprovou ou acordo de vontades
De ordem especial
consentimento recíproco ou acordo de vontades
Com isso, os requisitos de validade dos contratos podem ser divididos em 3 grandes grupos:
Subjetivos;
Objetivos;
Formais;
Requisitos Subjetivos
deve-se ter a manifestação de vontade de duas ou mais partes e elas terem uma capacidade genérica;
na aptidão específica para contratar;
no consentimento;
Capacidade Genérica: É o primeiro elemento da capacidade subjetiva de ordem geral e nada mais é a capacidade de agir em geral, que pode ser reduzida por conta da menoridade ou por conta de doença mental, por exemplo. Serão nulos (ART 166, I, CC) ou anuláveis (Art 171,I, CC) se a incapacidade absoluta ou relativa não for suprida por representação ou assistência. No tocante a pessoa jurídica, quem possui a capacidade é quem está indicada no estatuto. 
Aptidão específica para contratar: Algumas vezes, para celebrar um contrato, é necessário que a pessoa tenha uma certa capacidade especial, mais intensa que a capacidade genérica. Ex: para doar algo, a pessoa precisa ter a capacidade de disposição sobre essa coisa; em casos de bens reais, é necessário haver a anuência do esposo/esposa para alienar um imóvel. Essa capacidade deve existir no momento da declaração de vontade e está atrelada a legitimação para fazer um determinado contrato. 
Consentimento: é um requisito de ordem especial, ou seja, é próprio dos contratos. Se trata do consentimento recíproco ou acordo de vontades, que deve ser livre e espontâneo, sob pena de validade. Deve-se ter os seus três aspectos: 1) acordo sobre a existência e a natureza do contrato; 2) acordo sobre o objeto do contrato; 3) acordo sobre as cláusulas que o contrato possui. 
	A manifestação de vontade pode ser tácita, quando a lei não exigir que seja expressa (art 111, cc), quando estiver previamente previsto em um pré contrato ou quando for autorizado, como é o caso da doação pura (art 539), venda e contento (art 512) e praxe comercial (art 432). Pode ser também expressa, quando é exteriorizada verbalmente, por escrito, gesto ou mímica. Algumas vezes a própria lei exige que para um certo contrato ter validade, é necessário que haja a manifestação expressa. Ex: nas doações puras, a pessoa que fica em silêncio e tem a posse do imóvel que foi doado, é visto com uma manifestação de vontade tácita. 
	Obs: como o contrato é uma manifestação de vontade, e, em regra, não se admite contrato consigo mesmo ou o autocontrato. (ART 117,CC). Porém, o parágrafo único admite a possibilidade da celebração do contrato consigo mesmo, desde que a lei autorize ou o representado autorizem sua realização. Se não houver isso, é um negócio jurídico ANULÁVEL. 
Requisitos Objetivos
Os requisitos objetivos dizem respeito ao objeto do contrato, que deve ser:
lícito;
possível;
determinado ou determinável;
 (Segundo o Art 104, II, CC)
Licitude do Objeto = o objeto é lícito quando não afronta a lei, a moral ou os bons costumes. Art 883 CC. 
Possibilidade física ou jurídica do objeto= o objeto deve ser possível. Quando impossível, o contrato é nulo. Essa possibilidade é física ou jurídica. O negócio impossível é nulo, Art 166, II. Ex: Herança de pessoa viva. Art 426, CC
Determinação do objeto = O objeto deve ser determinado ou determinável. Deve-se haver, pelo menos, a determinação do gênero e da quantidade. rt 243 e 252 CC. 
obs: apesar de não mencionado em lei, a doutrina exige que o contrato tenha algum valor econômico. 
Requisitos Formais
Art. 104, III, CC. 
O terceiro requisito de validade do contrato é a sua forma, que é o meio de revelação da vontade.Deve ser prescrita ou não defesa em lei. 
Há dois sistemas que trazem a forma como requisito de validade:
Consensualismo, que é o da liberdade de forma
Formalismo, que é a forma obrigatória. 
No direito brasileiro, em regra, a forma é livre. As partes podem celebrar o contrato por escrito - particular ou público- ou verbalmente, a não ser os casos expressos em que a lei exija uma maneira especial. O consensualismo é a regra e o formalismo é a exceção.
Há 3 espécies de formas:
Livre
Especial ou Solene
Contratual
Forma Livre = Presente no art 107 do CC e é a predominante no direito brasileiro. Qualquer meio de manifestação de vontade é válido (escrito, verbal, gestos ou mímica), desde que a lei não peca uma forma especial. 
Forma Especial ou Solene= É a exigida pela lei como requisito de validade para determinados negócios jurídicos. 
Forma Contratual = É a forma convencionada pelas partes. Art 109. 
CAPÍTULO 2 - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CONTRATUAL
2.1 Princípio da Autonomia das Vontades
O princípio da autonomia das vontades teve seu apogeu após a Revolução Francesa, onde idéias liberais e iluministas foram difundidas. Aqui, pensamentos como o individualismo e a liberdade são extremamente importantes. 
A liberdade difundida em todos os campos também é chegada aos contratos, onde as pessoas podem contratar quando quiserem, com quem quiser e sobre o que quiser. 
O princípio da autonomia de vontade se baseia na ampla liberdade contratual, ou seja, no poder conferido aos contratantes de disciplinar os seus interesses mediante um acordo de vontades que vão produzir efeitos tutelados pela ordem jurídica, pois a avença faz lei entre as partes, ou seja, assegura a qualquer uma das partes a possibilidade de pedir que seja cumprido. O Estado não interfere. 
Obs: os contratos atípicos (não previstos em lei, mas gerado por conta da necessidade das partes) tem seu fundamento justamente nesse princípio da autonomia da vontade.
O princípio da autonomia da vontade no Código Civil: Art 421 e 425
	Porém, esse princípio não é absoluto, havendo 3 limites:
A faculdade de contratar e de não contratar: essa faculdade, na prática, se torna relativa, pois, nas sociedades complexas em que vivemos, as pessoas, para sobreviver, precisam fazer contratos diariamente;
Liberdade de escolha de outro contratante: Também, na prática, há algumas restrições, pois alguns serviços públicos que contém um monopólio de empresas não confere-se a liberdade para a parte contratante de escolha e também nos contratos submetidos ao CDC;
Poder de estabelecer o conteúdo do contrato: o poder sob o objeto do contrato também sofre limitação, mas, nesse caso, decorrente das cláusulas gerais (função social do contrato e da boa fé objetiva, e também da supremacia da ordem pública, por exemplo).
2.2 Princípio da Supremacia da Ordem Pública
	Por conta do princípio da autonomia das vontades, foi-se constatado, durante a industrialização, que uma liberdade contratual absoluta leva a desequilíbrios sociais e a exploração do economicamente mais fraco. 
	Por conta disso, o Princípio da Supremacia da Ordem Pública limita a liberdade contratual, pois entende que o interesse da sociedade deve prevalecer quando há uma colisão com o interesse privado. 
	Por conta dessa problemática, foi-se criado leis destinada a garantir a supremacia da ordem público, da moral e dos bons costumes -normas de convivência segundo um padrão de conduta social de um lugar e de uma determinada época-. (Art 2035, CC)
	A ordem pública é também uma cláusula geral, encontrado no Art 17 do LINDB. 
	
2.3 Princípio do Consensualismo
	No direito brasileiro, a regra é que a forma do contrato seja livre. Com isso, as partes podem celebrar o contrato por escrito, público ou particular, verbalmente, a não ser que a lei exija a forma escrita, pública ou particular. Art 107, CC. Portanto, o consensualismo é a regra e o formalismo a exceção. 
	Para o consensualismo, o contrato decorre do acordo de vontades, do consenso, independente da entrega da coisa. Por exemplo, no contrato de compra e venda, torna-se perfeito e obrigatório, desde que as partes acordem sobre o objeto e o preço (Art 482,CC). Ou seja, o contrato estará perfeito e acabado não quando entregar a coisa, mas quando o comprador acordou com o preço e o objeto. A entrega da coisa é uma outra fase, o de cumprimento do contrato. Art 481,CC;
	O formalismo entrou no direito civil brasileiro, pois, para o legislador, existem alguns negócios jurídicos que necessitam de uma maior segurança. Ou seja, em determinados casos, é necessário haver uma forma específica para que o contrato seja válido. Por exemplo: imóvel acima de 30 salários mínimos deve ser feito utilizando uma escritura pública, instrumento escrito para a venda de automóveis, etc
	Em regra são consensuais. Alguns, no entanto, são reais, pois só irão satisfazer com a entrega da coisa. Logo, o mero acordo das vontades não basta Ex: contrato de depósito, comodato, mútuo.
2.4 Princípio da Relatividade dos Efeitos do Contrato
Para esse princípio, o contrato só vai produzir efeitos para aqueles que manifestaram a sua vontade nele. Ou seja, os efeitos não são produzidos para terceiros que não participam do negócio jurídico. 
Para o modelo clássico, do código civil de 1916, o contrato era visto como uma manifestação de vontade individual, não vinculando terceiros, apenas as partes dos contratos e os seus sucessores (com exceção das obrigações personalíssimas)
Porém, com o surgimento do código civil de 2002, o contrato passou a ter uma função social e, com isso, terceiros que são atingidos por um contrato direto ou indiretamente, podem influir nele. Há, então, um abrandamento do princípio da relatividade dos efeitos do contrato. 
“A função social do contrato, prevista no art 421 do código civil, constitui cláusula geral, a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito” - Jornada de Direito Civil. 
2.5 Princípio da Obrigatoriedade dos Contratos (OU Princípio da Intangibilidade OU Princípio da Força Vinculante dos Contratos)
Segundo o Princípio da Autonomia da Vontade, cada pessoa escolhe ou não fazer o contrato. Ninguém é obrigado, pois há uma certa liberdade indivudual. Porém, para aqueles que escolhe fazê-lo (de forma válida e eficaz), tem que cumprir com as cláusulas do acordo, só podendo se esquivar com anuência do outro contratante. 
Neste princípio, o que as partes acordarem é o que é válido (claro, observando os outros princípios). Significa então a irreversibilidade da palavra empenhada. 
Fundamentos:
Necessidade da segurança dos negócios = que deixaria de existir se os contratantes escolhessem, quando bem entender, se cumpriria ou não com o contrato;
A intangibilidade ou imutabilidade do contrato= decorrente de que o que foi acordado entre as partes é lei (pacta sunt servanda), não podendo ser alterado pelo juiz
Limitação
Caso Fortuito ou Força Maior (Art 393, CC)
2.6 Princípio da Revisão dos Contratos ou da Onerosidade Excessiva
Esse princípio se opõe ao princípio visto anteriormente. Aqui, a pessoa poderá recorrer ao judiciário para se esquivar parcialmente ou totalmente de um contrato, pois, por conta de uma situação adversa, não poderá cumprí-lo. 
Decorre da Teoria da Imprevisão (Cláusula Rebus Sic Stantibus), no qual afirma que nos contratos comutativos, aqueles que para cumprí-lo pressupõe a inalterabilidade do fato. Porém, se por uma situação extraordinária (guerra) esse fato foi alterado, causando uma onerosidade excessiva para o devedor, então ele poderá recorrer ao devedor para se isentar parcialmente ou totalmente da obrigação. 
2.7 Princípio da Boa Fé e da Probidade
Aqui, a regra da boa fé, uma cláusula geral, exige que as partes se comportem de forma correta durante as tentativas, a formação e o cumprimento do contrato. Ouseja, agir com um padrão de conduta, o de agir com retidão, ou seja, com probidade, honestidade, lealdade, atendidas as peculiaridades dos usos e costumes do local. 
Obviamente o juiz deverá sempre presumir a boa fé, devendo ter que provar aquele que acusar outrem de má fé. Então pode-se dizer que as cláusulas gerais que o juiz está atrelado são: a boa fé objetiva, o fim social e a ordem pública. 
É válido ressaltar que a probidade, Art 422, é um aspecto objetivo do princípio da boa fé. Nada mais é que agir com honestidade e proceder com o contrato, cumprindo com os deveres acordados.
Boa Fé Subjetiva:
Esteve presente no Código Civil de 1916. É quando a pessoa tem plena convicção que está agindo conforme a lei, mas está na verdade a violando. É subjetiva porque deve o magistrado analisar a intenção/seu estado psicológico/convicção do sujeito da relação jurídica. 
Segundo Judith Martins Costa, é quando a pessoa tem consciência de agir conforme o direito, mas, por ignorância escusável, não o faz. PODE SER aplicado, em regra, sob os direitos reais (matérias possessórias).
Boa Fé Objetiva:
Aqui, há uma grande mudança no Código Civil de 2002, ao contrário da Boa Fé Subjetiva. É uma norma de comportamento fundada em um princípio geral do direito que afirma que todos devem comportar-se de boa fé nas suas relações recíprocas, ou seja, na honestidade, na retidão, na lealdade e na consideração para com os interesses do outro contraente, no sentido de não sonegar informações relevantes a respeito do objeto e conteúdo do negócio. É vista, então, como uma regra de conduta e é uma cláusula geral, sendo fonte do direito e das obrigações. 
obs: a boa fé objetiva é uma cláusula aberta, logo, ela não é uma norma que tem seu conteúdo fixado, dependendo sempre do caso concreto que o juiz irá analisar. 
Logo, pode-se concluir que a Boa Fé pode ser:
Forma de conduta = subjetiva
norma de comportamento = objetiva
Fundamentos no CC:
Art 422
Art 113
Art 187
Art 422. É uma norma legal aberta, cabendo ao juiz analisar o caso concreto e estabelecer quais condutas os contratantes deveriam ter tomado, levando em consideração os usos e costumes locais. Estabelecido o modelo e a expectativa, ele deverá confrontar com a realidade e o caso. Se houver contrariedade, a conduta é ilícita, pois violou a cláusula da boa fé objetiva. 
	
	obs: esse princípio é tão importante que, segundo Ruy Rosado Júnior, durante a fase de tratativas preliminares em estado avançado, caso um contratante desapareça, a outra parte poderá pleitear indenização com base nesse artigo, isto porque o princípio da boa fé contra deveres de esclarecimento, surgindo deveres de lealdade decorrentes do simples interesse de fazer um contrato. 
	Assim, também pode usar a boa fé não apenas para reclamar do contratante, mas também para exonerar. 
	Usando-se da boa fé objetiva, uma pessoa pode ficar como inadimplente, mesmo quando não haja mora ou inadimplemento absoluto do contrato. É a chamada violação positiva do contrato ou da obrigação. É quando o contratante deixa de cumprir com deveres anexos e, decorrente da boa fé objetiva, isso caracteriza como inadimplemento do contrato.
Mas o que são esses deveres secundários?
São deveres que excedem a mera prestação e são derivados diretamente do princípio da boa fé objetiva. Ex: dever de esclarecimento do objeto, de proteção, de conservação, de lealdade e de cooperação.
Uma das principais funções desse princípio é de vedar ou punir o exercício de direito subjetivo quando se caracteriza abuso da posição jurídica. É o chamado venire contra factum propium, ou seja, protege uma parte contra a outra parte que pretende exercer uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido anteriormente. 
É quando ocorre a celebração de um contrato e, a partir disso, se espera de que uma das partes tenha um certo tipo de comportamento futuramente. Porém, inesperadamente, a parte começa a agir de uma matéria oposta, gerando prejuízo, quebrando o princípio de lealdade e de confiança. Ou seja, o princípio da boa fé protege a parte contra outra parte que venha ter uma conduta incoerente com seus próprios atos anteriores. 
“A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos artigos a87 e 422 do CC” - Enunciado 352 da Jornada de Direito Civil. 
Suppressio, surrectio e tu quoque são conceitos que estão atrelados à boa fé objetiva e devem ser utilizados quando há lacunas no contrato, trazendo deveres implícitos ás partes:
Suppressio: um direito não exercido durante um determinado lapso de tempo não poderá ser exigido posteriormente, pois contraria a boa fé. Ex: contrato de prestação duradoura que nunca foi cobrado pelo credor e, por isso, o devedor pensa q está extinto e planeja outras coisas para a sua vida. 
Surrectio: É o nascimento de um direito decorrente de atos praticados continuamente. Ex: sociedade que distribui lucros diferente do estatuto. Pode nascer um direito do sócio
Tu quoque: quem descumpre uma cláusula ou uma regra, não pode exigir do outro que siga o preceito que ele descumpriu.

Continue navegando