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CCJ0012-WL-B-LC-Direito Ambiental - Danielle Moreira - 2005

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2005 
1
DIREITO AMBIENTAL 
Professora: Daniele Moreira (Professora de Direito 
Ambiental da Graduação e da Pós- Graduação da PUC e 
está fazendo Doutorado na UERJ) 
Bibliografia: A professora sugeriu, o livro – Direito Ambiental 
Brasileiro – do Paulo Afonso Leme Machado, editora: 
Malheiros; foi o primeiro manual de Direito Ambiental 
Brasileiro a ser escrito e o mais completo atualmente; e, o 
livro – Direito do Ambiente – do Edis Mirale, editora: RT, 3ª 
edição, é um livro mais didático, entra em questões 
polêmicas, porém, os dois livros se completam. 
AULA 01 – 04.04.2005 
Cabe ressaltar que, a professora deixou na pasta de 
Direito Ambiental, na Xerox, que se encontra perto da 
Cantina, muita jurisprudência e vários artigos importantes 
referentes a matéria, como: o da Roxana Cardoso Borges, 
onde ela fala sobre toda a criação do direito ambiental 
moderno e seus paradigmas, trata dos direitos de terceira 
geração, da ótica de comportamento do meio ambiente, 
princípios fundamentais do direito ambiental e estado de 
direito. 
Outro artigo que está na pasta é do Álvaro Mirra, 
saiu na Revista de Direito Ambiental nº 02, e, fala sobre os 
princípios do Direito Ambiental, traz doutrina, jurisprudência, 
legislação e direito comparado. 
Também tem mais três artigos sobre 
responsabilidade civil, sendo que um deles é sobre a 
responsabilidade civil e o principio da precaução, chamado 
Direito Ambiental e o Principio da Precaução Judicial, é sobre 
a lei ambiental nº 21 e, traz a importância da aplicação do 
principio da precaução na responsabilidade civil ambiental, 
autor: Álvaro Mirra; este artigo foi retirado do livro do mesmo 
autor, chamado Ação Civil Pública e Reparação de Danos ao 
Meio Ambiente, edição de 2004, o qual é recomendado para 
a prova do Ministério Público. 
O outro artigo intitula-se responsabilidade Civil pelo 
Dano Ambiental, que se encontra na Revista de Direito 
Ambiental nº 09. 
E, o último artigo, também é sobre responsabilidade 
civil, sendo, anterior a lei de responsabilidade civil objetiva 
pelo dano ambiental de 1979, chama-se Responsabilidade 
Civil pelo Dano Ecológico publicado na revista de Direito 
Publico nº 49/ 79, do Sergio Ferraz, este artigo continua 
sendo atual porque trata de todas as alterações que a 
responsabilidade civil tem que sofrer para ser um instrumento 
adequado para resolver a questão dos danos ambientais, 
dessa forma, estudando o artigo perceberemos que algumas 
questões foram incorporadas à legislação ambiental e, outras 
ainda são polêmicas. 
Obs: Devemos nos acostumar com as siglas, uma 
vez que, as utilizaremos constantemente no Direito 
Ambiental. 
Noções Gerais 
Nota-se que o objetivo do curso é fazer uma análise 
dos pontos fundamentais da matéria e, não esgotá-la. 
 Observa-se que o Direito Ambiental é considerado 
um direito novo, pois possui como um de seus marcos a Lei 
6938/81, sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, a qual 
foi editada antes da Constituição da República de 1988, e 
sofreu grandes alterações em 1989, mas, ainda está sendo 
amadurecida. 
Outro marco histórico fundamental para o inicio 
e desenvolvimento do Direito Ambiental Moderno foi a 
Conferência de Estocolmo da ONU sobre Meio Ambiente, 
que o correu em 1972, na medida que, foi nesta que a 
humanidade começou a concretizar a sua preocupação 
com o meio ambiente; dando esta, ensejo a Declaração 
de Princípios de Estocolmo sobre Meio Ambiente 
Humano que trouxe novas idéias e novos conceitos, 
todos incorporados pela legislação ambiental brasileira. 
 A Conferência de Estocolmo de 1972 caracterizou-
se por um aumento em qualidade e quantidade nas normas 
ambientais brasileiras; apesar do abismo da legislação 
brasileira com a realidade fática, já que muito pouco da 
legislação é aplicado; a idéia aqui é de produção doutrinária, 
a forma de tratamento que é dado ao assunto foi o que se 
ampliou. 
O direito ambiental é polêmico, uma vez que, 
confronta o tempo todo, a estrutura tradicional do direito; 
trazendo à questão ambiental, muitas peculiaridades, com as 
quais o direito deve se adequar, ou seja, se quisermos falar 
em aplicação do direito como instrumento de proteção ao 
meio ambiente, mudanças estruturais, alterações nas 
construções tradicionais do direito devem ser feitas. 
Observa-se que o Direito Ambiental Brasileiro 
tem como principais referências legislativas: 
a) Coletânea da Legislação Ambiental da RT, a qual já vem 
com a legislação ambiental brasileira completa; 
b) Constituição da República de 1988; 
c) Lei 6938/81 que instituiu a política nacional do meio 
ambiente; 
d) Lei 9605/98 que versa sobre os crimes ambientais, 
tratando também da responsabilidade administrativa 
ambiental, define na sua parte final o quê são infrações 
administrativas ambientais, tendo sido, sua parte final, 
regulamentada pelo Decreto nº 3179/99; 
e) Lei 9985/00 que regula o SNUC - Sistema Nacional de 
Unidades de Conservação; 
f) Lei 4771/65 que é o Código Florestal; 
Estas duas últimas leis tratam de espaços territoriais 
especialmente protegidos: o Código Florestal fala das áreas 
de preservação permanentes, as APPS e das reservas 
florestais legais, tal como a vegetação presente no topo dos 
morros, nas encostas, as matas auxiliares, os cursos de 
água, as características topográficas, e de relevo, sendo o 
respaldo aqui, o foro florestal. 
E, a lei do SNUC - Sistema Nacional de Unidades 
de Conservação, trata das reservas ecológicas, biológicas, 
das áreas de proteção ambiental, as APAS, as quais não se 
confundem com áreas de preservação permanente, das 
reservas de desenvolvimento sustentável, das reservas 
extrativistas, que se encontram em parques nacionais, 
 
2005 
2
estaduais ou municipais; sendo estes exemplos de categoria 
de unidades de conservação, as quais são um tipo de espaço 
territorial especialmente protegido. 
A lei de política nacional do meio ambiente, mesmo 
sendo anterior a CF/88, é a primeira lei brasileira que dá 
tratamento sistêmico ao meio ambiente, ao falar de macro-
bem quando se refere ao meio ambiente. Ou seja, trata o 
meio ambiente como um sistema que processa uma relação 
de interdependência entre os seres vivos, deixando de vê-lo 
de forma dividida e separada, considerando apenas, os 
micro-bens do meio ambiente, e os elementos que o compõe. 
Por exemplo, os recursos hídricos não são mais preservados 
apenas em relação à fauna, já que têm relação com o meio 
ambiente como um todo, assim, hoje, procura-se o equilíbrio 
do sistema como um todo e não apenas de um pedaço deste. 
Nota-se ainda, que a lei de política nacional do meio 
ambiente traz em seu bojo conceitos importantes, tais como: 
o conceito de meio ambiente, conceito de degradação da 
qualidade ambiental, de poluição, de dano ambiental. 
Caracterizando-se, este último, por ser um conceito 
doutrinário que se fundamenta na legislação constitucional, 
art. 225 CF, e, principalmente, nas definições dadas pela 
política nacional à degradação da qualidade ambiental e 
poluição. 
Além disso, a lei supracitada, traz uma lista de 
instrumentos que compõem a política nacional do meio 
ambiente, como, por exemplo, o seu art. 9º que versa sobre 
licenciamento ambiental, avaliação dos impactos ambientais, 
zoneamento ambiental, estabelecimento de padrões 
ambientais, criação de espaços territoriais especialmente 
protegidos, penalidades administrativas e penais aplicadas às 
condutas consideradas nocivas ao meio ambiente. Assim, 
esta lei é importante, porque organiza e estabelece uma série 
de instrumentos que colocados em prática são capazes de 
garantir uma proteção adequada do meio ambiente. 
Outro ponto fundamental na lei de política 
nacional do meio ambiente é a organização do SISNAMA 
- Sistema Nacional de Meio Ambiente, trazendo os 
órgãos einstitutos que o compõe e suas funções, 
definindo a composição e atribuição do Conselho 
Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, que tem entre 
outras finalidades, a de editar normas sobre os padrões 
ambientais e normas sobre o licenciamento ambiental. 
Sobre o licenciamento ambiental, a lei em questão, 
no seu art. 10, traz seu respaldo e detalhamento, além desta, 
vamos analisar as resoluções do CONAMA nº 001/86 que 
trata sobre o estudo prévio de impacto ambiental e, o 
relatório de impacto do meio ambiente que sempre 
acompanha este, o EIA/ RIMA; a resolução nº 237/97 que 
trata sobre licenciamento ambiental e, a nº 009/87 que trata 
das audiências públicas, garantindo a participação popular 
nos procedimentos de licenciamento ambiental, de que forma 
devem ser controladas as atividades potencialmente 
poluidoras. Vamos estudar também, a Lei 9483, de Política 
Nacional dos Recursos Hídricos, a recente Lei 11105/05 que 
é a lei de Bio-Segurança que revogou a Lei 9874/95, a Lei de 
Ação Civil Publica, Lei 7347/85, a Lei de Ação Popular, lei 
4787/85. 
Ainda, em relação à Lei 6938/81, em seu art.14, 
parágrafo primeiro, fala da adoção da responsabilidade civil 
objetiva pelos danos ambientais, portanto, independendo da 
existência de culpa, ou seja, só a dispensa da culpa não é 
suficiente para a reparação de danos ambientais, este tipo de 
responsabilidade civil na solução de crimes ambientais, só foi 
adotada pela Constituição em 1988. 
Cabe ressaltar que, a legislação ambiental brasileira 
é composta por leis feitas em épocas diferentes sobre ideais 
diversos, incidindo nela diversos princípios fundamentais, tal 
como: o principio da prevenção. Observa-se que, é através 
deste estudo que veremos de que forma esses princípios são 
utilizados na proteção do meio ambiente e, de que forma se 
dá a sua composição morfo-genética influenciando na 
elaboração de normas legais, da mesma forma, estudaremos 
a composição axiológica desses princípios, os quais são 
normas imediatamente finalísticas, isto é, eles não trazem 
uma solução especifica para um caso, mas, influenciam na 
elaboração dos comandos legais do Direito Ambiental. 
Destaca-se também, a função teleológica destes 
princípios na medida que saberemos o que se busca com 
aquele comando legal, qual o seu objetivo e finalidade. 
Notaremos com o estudo que, a função sistêmica 
chama a atenção por ser a que melhor se encaixa na análise 
do Direito Ambiental, já que por termos um grande conjunto 
de normas editadas em épocas diferentes, em níveis 
hierárquicos diferentes, porém, veremos que a questão dos 
princípios não tem uma uniformidade de tratamento pela 
doutrina, já que, os princípios considerados pelos 
doutrinadores não são os mesmos. 
Outro ponto a ser visto, é que o direito ambiental 
deve ser visto como um sistema, ou seja, de acordo com 
José Afonso da Silva, o direito ambiental refere-se ao meio 
ambiente natural, composto de fauna, flora, recursos hídricos, 
atmosfera; ao meio ambiente artificial, que é o construído 
pelo homem, é o meio ambiente urbano, de desenvolvimento 
sustentável; ao meio ambiente cultural, bem material ou 
imaterial que compõe o patrimônio cultural brasileiro, valores 
que fazem parte da cultura de determinado grupo social 
brasileiro; e ao meio ambiente do trabalho, onde verifica-se 
as condições de segurança, de salubridade, dentre outras, 
este último está previsto no art.200, VIII CF, o qual lista as 
atribuições de sistema único de saúde, citando a colaboração 
deste sistema de saúde perante o ambiente de trabalho. 
Observa-se que a questão ambiental é trabalhada 
especificamente no art.225 da CF, no capítulo do meio 
ambiente, mas, também, implícita ou explicitamente é tratada 
ao longo de todo o texto constitucional, como, por exemplo, 
no próprio art.5º da CF, quando este fala sobre direito de 
propriedade, a questão ambiental é tratada como elemento 
intrínseco da sua função social, o que alguns autores 
chamam de função social ambiental da propriedade. 
Outro exemplo é o art.5°, XXXIII CF, que fala sobre 
o acesso de informações, estando aqui embutido o acesso de 
informações ambientais, o qual tem que ter uma 
instrumentalização para garanti-lo, tal como: a publicação do 
estudo prévio ambiental, a disponibilizarão para consulta 
pública do relatório sobre impacto do meio ambiente, a 
disponibilização de informações de audiências públicas, para 
levar ao conhecimento de todos os titulares do meio 
ambiente ecologicamente equilibrado, que somos todos nós. 
 
 
2005 
3
Cabe ressaltar ainda que, a ação popular 
ambiental é um instrumento importante de proteção ao 
meio ambiente, onde qualquer cidadão pode propô-la 
com o objetivo de anular ato lesivo ao meio ambiente, 
independente deste ato ser ilícito. Por exemplo, o ponto 
final de ônibus em frente à Faculdade PUC – RJ, foi objeto de 
uma ação popular, em 1996, pois não respeitou a legislação 
ambiental em vigor, na medida em que havia ali uma área de 
proteção permanente em relação à vegetação ao longo do rio 
Rainha, mas devido a demora dos tribunais não chegou-se a 
uma conclusão até hoje e, já vão fazer 10 anos de 
propositura da ação. 
A Ação Civil Pública também é um instrumento 
importante de proteção ambiental, que ampliou o grupo 
de legitimados, conferindo esta legitimidade ao 
Ministério Publico, Estados, Municípios e Entidades da 
Sociedade Civil voltadas para a proteção do bem jurídico 
publico e, tem como objetivo a reparação de danos 
morais e materiais pautados em interesses públicos, 
sendo assim, o meio ambiente um deles. 
Nota-se que, a Lei 6938/81, já reconhecia a 
legitimidade do Ministério Publico para a propositura de 
ações de reparação de danos ao meio ambiente, a lei de 
Ação Civil Publica de 1985, só fez ampliar essa legitimação 
para outros entes, tais como, as ONGS, que são entidades 
da sociedade civil. 
Destaca-se aqui, o aspecto horizontal do Direito 
Ambiental, ou seja, ele tem uma transversalidade, isto é, ele 
passa por todos os outros ramos do direito, porém, é um 
direito reconhecidamente autônomo, de natureza preventiva 
que provoca mudanças na estrutura tradicional dos diversos 
ramos do direito, tal como, ocorre, no caso do processo civil 
lembrando que este último foi construído para resolver litígios 
de conotação essencialmente patrimonial entre indivíduos, ou 
seja, mudanças tiveram que ser proporcionadas para que o 
direito processual civil pudesse dar contas das ações 
ambientais, como, por exemplo, se observa na própria lei de 
ação civil pública, na medida em que os legitimados para 
propor esta, têm que ter interesse pelo bem jurídico 
atingindo. 
 A dificuldade antes da lei de ação civil pública 
estava no fato de se determinar quem seria legitimado para 
propor ação na defesa de interesses coletivos difusos, assim, 
o direito ambiental foi um dos motivadores desta lei, uma vez 
que se trata de interesse coletivo difuso. 
Veremos ao longo das aulas também, que podemos 
falar em responsabilidade penal da pessoa jurídica, sendo 
esta prevista na Constituição Federal em seu art.125, 
parágrafo terceiro, que reconhece que as condutas lesivas ao 
meio ambiente sujeitarão seus infratores, pessoas físicas ou 
jurídicas, às sanções penais e administrativas 
independentemente da obrigação de reparar os danos 
causados, dessa forma, temos três esferas de 
responsabilização: civil, administrativa e penal; este trecho da 
CF está regulamentado pela lei de crimes ambientais, Lei 
9605/98. 
 Porém, grande maioria dos penalistas tem 
resistência à esta responsabilidade, essa inovação também é 
fruto da pressão do Direito Ambiental, já que neste, o 
principio da dignidade humana é muito forte. 
O próprio Direito Administrativo através do 
licenciamento ambiental, o qual é uma das formas de 
expressão do poder de policiaambiental, ou seja, é a 
prerrogativa que o poder público tem de interferir no livre 
exercício dos direitos individuais; e, com base no art.170, VI 
CF, mostra que, a defesa do meio ambiente não pode mais 
ser ignorada com base no argumento de que precisamos 
crescer, com isso a idéia de desenvolvimento sustentável foi 
incorporada ao direito ambiental. 
Dessa forma, o desenvolvimento de determinadas 
atividades, estão ligados à uma licença ambiental, a qual é 
um ato temporário do órgão ambiental, que vai verificar tão 
somente se aquela atividade possui requisitos legais para ser 
desenvolvida, se caracterizando por não ser nem licença, 
nem autorização, tendo que o direito tradicional se adequar à 
sua aplicação, através da criação de uma licença sui generis. 
Além, da função social da propriedade, das 
mudanças da responsabilidade civil ambiental, a atuação no 
Direito Ambiental requer a ajuda de profissionais de diversas 
áreas, mostrando com isso, a sua multidisciplinariedade, o 
que é mais uma característica da adequação que o direito 
tradicional tem que fazer perante o Direito Ambiental. 
Portanto, diante de todo o exposto, todo o processo 
de evolução do direito ambiental brasileiro começou a ganhar 
fundamento a partir do momento que o ser humano sentiu na 
pele as conseqüências negativas das suas interferências no 
meio ambiente, como disse um autor português, precisamos 
fazer um contrato natural com a natureza. 
Aula 2 05/04/05 
CAPÍTULO – VI DO MEIO AMBIENTE 
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e 
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder 
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo 
para as presentes e futuras gerações.” 
 Esse artigo traz muita informação 
importante para nós. Apesar da Constituição ter dedicado ao 
meio ambiente um só artigo, é um capítulo próprio. Esse 
artigo com todos os seus desdobramentos traz uma proteção 
bastante positiva do meio ambiente; e é bastante completo, 
tanto que é considerado um dos melhores textos 
constitucionais, no que diz respeito à proteção ambiental. 
Há referências importantes para a questão 
ambiental, tais como o art. 5°, quando trata da função social 
da propriedade, do acesso à informação, da ação popular. É 
importante lembrar, também, dos artigos 182 e 186 da 
CR/88. O primeiro, em seu parágrafo 2°, reconhece que a 
propriedade urbana tem como uma das suas condições 
para atendimento à sua função social que ela respeite as 
regras estabelecidas no plano diretor, o que se 
fundamenta no reconhecimento de que todos têm direito 
às cidades sustentáveis e, aí, estamos falando em meio 
ambiente urbano. Quando se fala em cidades sustentáveis, 
qualidade de vida nas cidades, quando se reconhece que a 
propriedade urbana deve atender ao plano diretor como 
condição de observância da sua função social, nós 
percebemos que as questões ambientais estão embutidas 
nessa referência, sem dúvida alguma. 
 
2005 
4
De uma maneira mais específica e explícita, o 
art. 186, CR/88, que trata da propriedade rural, reconhece 
como um dos requisitos para que a propriedade rural 
atenda a sua função social, que ela promova a utilização 
racional dos recursos ambientais e a proteção do meio 
ambiente. Aqui, também, de uma maneira mais específica e 
explícita, a questão ambiental também está embutida. 
Por outro lado, os arts. 215 e 216, CR/88, que 
tratam da proteção à cultura, eles reconhecem como dever 
do Estado a proteção e a promoção dos direitos culturais. 
Eles reconhecem que bens de natureza material e imaterial, 
que sejam portadores de referência da cultura, da identidade, 
da memória de determinados grupos formadores da 
sociedade brasileira, integram o patrimônio cultural brasileiro. 
Estamos, nesse caso, falando de meio ambiente cultural. 
Há, muitas vezes, conflitos entre reconhecimento de 
direitos culturais, proteção desses direitos culturais, 
promoção de manifestações culturais, garantia que o Estado 
promove ao exercício dessas manifestações culturais, 
quando, por determinados momentos, essas manifestações 
caracterizam violação de um outro dispositivo constitucional, 
que está no art. 225, parágrafo 1°, VII, o qual proíbe, 
expressamente, práticas cruéis contra animais. Nós vamos 
ver, mais à frente, como é que o STF vem tratando da 
questão da briga de galo, dentre outras práticas tidas como 
manifestações culturais, umas sim, outras nem tanto, que 
traduzem práticas cruéis contra animais. Existem duas 
decisões judiciais do STF sobre isso, os quais se encontram 
na pasta da professora. 
Além dessas referências, temos, antes mesmo dos 
arts. 215 e 216, as dos arts. 23 e 24 da CR/88, os quais 
prevêem, respectivamente, a competência comum de União, 
Estados e Municípios, e a competência legislativa 
concorrente da União e dos Estados. 
 “Art. 23. É competência comum da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: 
 III - proteger os documentos, as obras e outros bens 
de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as 
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
 
 VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição 
em qualquer de suas formas; 
 VII - preservar as florestas, a fauna e a flora” 
Nesse artigo supra, inc. VI, é reconhecida a questão 
ambiental de uma maneira geral tratada. Além disso, outros 
incisos também tratam de questões ambientais, como os 
incs. III e VII. Nós percebemos que, pela referência do art. 
23, cuidar e atuar em defesa do meio ambiente é de 
competência de todos os entes da Federação. 
O art. 24 também fala do combate e controle da 
poluição, mas trata da competência legislativa concorrente da 
União, dos Estados para legislarem sobre o inc.VI.: 
“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal 
legislar concorrentemente sobre: 
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, 
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio 
ambiente e controle da poluição” 
 Se na competência comum, essa atuação é 
indistinta, principalmente, até seja editada a lei complementar 
prevista no seu parágrafo único (do art. 23), a qual tratará 
sobre a cooperação entre todos os entes da Federação no 
exercício de sua competência comum. E, quando se fala em 
competência legislativa concorrente, cabe à União legislar 
sobre normas gerais e, aos Estados, suplementar essas 
normas gerais e, caso não existam normas gerais, cabe aos 
Estados a competência plena. E,se conjugarmos o art. 24 
com o art. 30, que enumera as competências dos Municípios, 
verificaremos que eles também têm competência para 
legislar sobre meio ambiente, na medida em que podem 
legislar sobre assuntos de interesse local. 
“Art. 30. Compete aos Municípios: 
I - legislar sobre assuntos de interesse local” 
A solução encontrada para saber quem tem 
competência para atuar ou legislar diante de determinado 
concreto, principalmente na competência comum, é a de que, 
diante de atividades que tenham um impacto de âmbito 
nacional, por preponderar o interesse da União, cabe a esta 
atuar; atividades de impacto de âmbito regional, cabe aos 
Estados atuar e; atividades de impacto de âmbito local, aos 
Municípios. Na verdade isso não é tão simples, pois como 
identificar quando a atividade é de interesse nacional, 
estadual, ou local? 
Essa é a grande dificuldade. Nós veremos isso, 
quando tratarmos de licenciamento ambiental, como é que a 
Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – L. 6938/81 trata 
desse assunto, como ela trata do licenciamento, como ela 
reconhece a atribuição dos órgãos estaduais ou do órgão 
federal, que é o IBAMA, para condução de procedimentos de 
licenciamento ambiental, isso tudo interpretado à luz da 
Constituição e detalhado numa resolução do CONAMA – 
ConselhoNacional do Meio Ambiente – Res. n° 237, a qual 
veremos em detalhes. 
Quando ela define o que seriam atividades de 
impacto nacional, estadual, ou local, e reconhece, também, 
competência do Município a condução de determinados 
procedimentos de licenciamento ambiental. Nós veremos que 
a questão da repartição de competências é considerada uma 
das mais complicadas do direito ambiental. Boa parte das 
questões que são levadas aos tribunais, certamente, tratam 
sobre repartição de competência e discussões a respeito 
desse assunto. Principalmente, quando se fala em 
competência legislativa, fala-se muito em padrões de 
qualidade; o que são normas gerais? Quais é o limite de 
atuação da União? Padrões são normas gerais? 
Quando a União entra num determinado nível de 
detalhes sobre algum assunto, será que ela estaria 
extrapolando a sua competência? A doutrina se divide, bem 
como a jurisprudência, no que diz respeito a essa discussão. 
Mas, nós vamos ver como isso tem sido tratado no caso 
concreto. 
A conclusão a que chegamos, hoje, é a de que é o 
caso concreto que vai indicar se cabe à União, aos Estados, 
ou aos Municípios a atuação. Inclusive, há decisão polêmica 
do STJ sobre licenciamento, a qual está na pasta da 
professora, reconhecendo a possibilidade de atuação dupla 
em determinados casos, o que pode acarretar uma confusão 
enorme, além de uma insegurança muito grande, apesar de 
 
2005 
5
Paulo Affonso Leme Machado, considerado o pai do direito 
ambiental, defender a idéia do duplo licenciamento e, mais 
para frente, nós veremos o porquê desse entendimento. 
CAPÍTULO – VIII - DOS ÍNDIOS 
 
“Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização 
social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos 
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, 
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar 
todos os seus bens.” 
 Esse artigo trata dos índios, especificamente; não é 
uma questão ambiental geral, mas reconhece o valor da sua 
organização social, dos seus costumes, línguas, crenças e 
tradições, então, estamos falando de memória de identidade 
de grupos formadores da sociedade brasileira, e reconhece 
que os índios têm a posse originária dessas terras, as quais 
são de propriedade da União, mas a posse originária é deles 
e eles têm direito a permanecerem nessas áreas que ele 
ocupam tradicionalmente, em caráter permanente. É muito 
importante observar o que dispõe o parágrafo 1º do art. 231: 
“§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as 
por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para 
suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação 
dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as 
necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus 
usos, costumes e tradições.” 
 A gente vê que há uma proteção cultural, uma 
preocupação com a manutenção da cultura indígena. O 
mesmo ocorre em relação às populações tradicionais. 
Quando se fala em direito de acesso a patrimônio genético, 
em proteção à contenção de diversidade biológica, há o 
reconhecimento do valor intrínseco dessa biodiversidade, um 
valor que não é estritamente econômico, o valor é intrínseco, 
que independe de qualquer valor que se tenha, ou qualquer 
gosto que se tenha por aquele ramo, é um valor pela sua 
própria existência. Além disso, há previsão de que o acesso à 
biodiversidade seja protegido, devendo ser garantida uma 
repartição justa e eqüitativa dos benefícios auferidos a partir 
do acesso à biodiversidade. 
 Daí, nós vemos quão ampla é a questão ambiental, 
mas uma atenção especial deve ser dada ao art. 225 e, sobre 
ele, vale a pena uma análise mais detalhada. 
 Então, diz o caput do art. 225: 
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e 
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder 
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo 
para as presentes e futuras gerações.” 
 1ª referência: Todos têm direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado – daí, nós percebemos que se 
trata de um interesse essencialmente difuso, reconhecido 
à toda coletividade, independentemente de qualquer vínculo 
que se estabeleça entre determinado grupo, ou qualquer 
característica que se verifique em determinada coletividade, 
não importando, mas é um direito que cabe a todos. É um 
direito indivisível; é reconhecido a um número indeterminado 
e indeterminável de pessoas. Trata-se de um direito de 
titularidade essencialmente difusa, abarcando, também, as 
gerações futuras. E a gente vê desde já, a chamada: 
preocupação com a equidade intergeracional, preocupação 
com a responsabilidade intergeracional. 
Nós podemos perceber embutida a idéia do 
desenvolvimento sustentável, que é aquele que garante às 
gerações presentes o acesso aos recursos ambientais para a 
satisfação das suas necessidades, mas desenvolvimento 
este que deve garantir que as gerações futuras tenham 
condições, acesso, também, a recursos ambientais na 
mesma quantidade e qualidade que as gerações presentes. 
É um desenvolvimento pautado pela preocupação ambiental. 
A idéia não é impedir o desenvolvimento, mas sim, 
garantir o desenvolvimento cauteloso, cuidadoso. Há muitas 
críticas à idéia de desenvolvimento sustentável, ainda mais 
em uma sociedade capitalista, alegando que seria 
absolutamente utópico pensar em um desenvolvimento 
sustentável numa sociedade que visa ao tempo todo o lucro 
imediato, e que seria contrária à própria definição do 
capitalismo. Isso acarreta várias definições sobre 
desenvolvimento sustentável. 
E a definição oficial de desenvolvimento sustentável 
está em um relatório publicado em 1987. No ano de 1987, a 
Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e 
Desenvolvimento (UNCED), presidida por Gro Harlem 
Brundtland e Mansour Khalid, apresentou um documento 
chamado Our Common Future, mais conhecido por relatório 
Brundtland. O relatório diz que: “Desenvolvimento 
sustentável é desenvolvimento que satisfaz as 
necessidades do presente sem comprometer a 
capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas 
próprias necessidades”. 
 A semente do conceito de desenvolvimento 
sustentável está na Declaração de Estocolmo de 1972, mas o 
conceito em si está nesse relatório supra. Houve grandes 
discussões, sendo que várias outras pessoas começaram a 
interpretar o conceito de desenvolvimento sustentável, em 
que uns ligando mais à questão da pobreza, outros, mais à 
questão estritamente ecológica e outros, ligando às duas 
questões. Na verdade, o que se argumenta é que uma 
expressão que tenha vários significados não significa nada. 
 A busca pelo desenvolvimento sustentável deve ser 
encarada como uma questão de sobrevivência da vida 
humana. Ninguém quer parar as atividades, mas a idéia é a 
de garantir o desenvolvimento sustentável, garantir a 
conservação e a utilização sustentável dos recursos 
ambientais. 
A busca pelo desenvolvimento sustentável é a idéia 
do direito ambiental brasileiro e interenacional. Deve haver 
um equilíbrio. Essa é a idéia do art. 225, quando reconhece a 
todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
E esse meio ambiente deve ser entendido como meio 
ambiente macrobem, o que não se confunde com os 
microbens ambientais. 
E o primeiro ponto interessante de se ver meio 
ambiente como macrobem é o seu reconhecimento como um 
bem jurídico autônomo. Quando se fala em macrobem, ele é 
entendido como um conjunto, um sistema onde se processa 
uma relação de interdependência entre os microbens 
ambientais. 
 
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Os microbens ambientais não existem, não vivem de 
forma independente. Nós não vivemos de forma 
independente. Nós, por exemplo, precisamos dos recursos 
ambientais, nós precisamos dos microbens ambientais.Chega-se à conclusão de que o sistema em que se processa 
a relação entre os microbens ambientais (macrobem) é um 
bem de natureza extrapatrimonial. 
 É com base nessa idéia de macrobem, que vai se 
construir a idéia de dano moral ambiental, o que não é a 
expressão mais adequada, visto que a expressão mais 
adequada é a de dano ambiental extrapatrimonial. Meio 
ambiente aqui é de valor difuso. Esse bem jurídico autônomo 
de natureza extrapatrimonial é reconhecido como de valor 
imaterial. Da mesma forma, quando se fala em proteção da 
criança e do adolescente, como o caso interessante ocorrido 
em SP, em que foi proposta uma ação civil pública em face 
de uma empresa de cigarro, a qual usou o desenho de um 
camelinho, que era o Joe Cameron, todo bonitinho, 
coloridinho, em uma propaganda, e argumentou-se que essa 
propaganda estava induzindo crianças e adolescentes a 
começarem a fumar, era atentatória aos valores infusos das 
crianças e adolescentes. 
Nesse caso, vemos com muita clareza a proteção da 
dignidade da pessoa humana. As propagandas racistas são 
consideradas atentatórias, quando abusivas, como ocorreu 
nos EUA, quando de uma propaganda em que uma criança 
negra se apresentava com um cabelo inadequado, 
denegrindo a sua imagem. Essa propaganda foi tirada de 
circulação. 
A gente vê que determinados valores imateriais 
difusos, os quais, quando violados, resultam em danos 
morais coletivos. O próprio fenômeno de consumo de 
propaganda enganosa; muitas vezes, um sujeito pode não ter 
sofrido uma perda econômica, não ter comprado o produto 
anunciado, mas o fato de se veicular propagandas 
enganosas pode ser que se configure como uma violação de 
um direito difuso relacionado a relações de consumo. 
 Quando falamos de valores imateriais coletivos, 
quando a professora fala em coletivos, ela quer dizer difusos, 
é assim que tem que ser entendido o meio ambiente, 
também. Quando reconhecemos o meio ambiente como um 
macrobem, nós estamos falando desse direito difuso. A 
proteção conferida pela Constituição ao meio ambiente é de 
garantia que esse direito é a um meio ambiente equilibrado, 
que esse bem jurídico autônomo é considerado como bem de 
uso comum do povo. Lembremo-nos que os bens se dividem 
em bens públicos e privados. 
Os bens públicos são os que integram o patrimônio 
de pessoa jurídica de direito interno e são classificados em 
bens de uso especial, bens de uso comum do povo e bens 
dominiais ou dominicais. Será que quando a Constituição fala 
que o meio ambiente é um bem de uso comum do povo, ela 
está querendo dizer que é um bem público de uso comum do 
povo, nos termos dessa definição? Integraria o patrimônio da 
União, dos Estados, ou de qualquer ente federado? Não. 
O que se entende como bem de uso comum do 
povo, aqui, é como bem que interessa a toda coletividade e 
que não integra o patrimônio da União, Estados e Municípios. 
É um bem de titularidade difusa. 
 Obs.: Em regra, as praias são bens de uso 
comum do povo – art. 10, Lei 7661/88 – que instituiu a 
política nacional de gerenciamento costeiro. Ela trata do 
zoneamento costeiro, o qual é um tipo de zoneamento 
ambiental, o qual, por sua vez, é um dos instrumentos da 
política nacional do meio ambiente. 
“Art. 10. As praias são bens públicos de uso comum do povo, 
sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao 
mar, em qualquer direção e sentido, ressalvados os trechos 
considerados de interesse de segurança nacional ou 
incluídos em áreas protegidas por legislação específica. 
§ 1º. Não será permitida a urbanização ou qualquer forma de 
utilização do solo na Zona Costeira que impeça ou dificulte o 
acesso assegurado no caput deste artigo.” 
 O acesso a praias não pode ser impedido. Uma 
questão interessante são os prédios que projetam sombra na 
praia, ou construções, como o galpão que há na praia da 
Barra, no Pepe, que guarda equipamentos de Windsurf; a 
existência desse galpão naquela área foi questionada pelo 
Ministério Público Estadual. Ele também questionou a 
existência de um galpão subterrâneo que guarda 
equipamentos. E, há uns quatro anos atrás, foram enviados 
dois ofícios, um pelo MPE e outro pelo MPF à FEEMA e esta 
elaborou um parecer técnico, por um biólogo, entendendo 
que a existência daquele galpão ali trazia impactos 
ecológicos propriamente ditos, pois impedia que o sol 
batesse naquele local, acarretando destruição da vegetação 
rasteira existente ali. Além disso, por ocupar uma extensão 
grande da areia, acabava por dificultar o acesso à praia. Há 
uns 4 anos atrás, houve uma discussão enorme sobre isso e 
o Município editou uma lei que proibia construções que 
projetassem sombra na praia. A praia é o lazer da população, 
e deve ser preservado. 
 A definição de poluição está no art. 3°, III, da L. 
6938/81: 
“Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: 
 I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, 
influências e interações de ordem física, química e biológica, 
que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; 
 II - degradação da qualidade ambiental, a alteração 
adversa das características do meio ambiente; 
 III - poluição, a degradação da qualidade ambiental 
resultante de atividades que direta ou indiretamente: 
 a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da 
população; 
 b) criem condições adversas às atividades sociais e 
econômicas; 
 c) afetem desfavoravelmente a biota; 
 d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio 
ambiente; 
 e) lançem matérias ou energia em desacordo com os 
padrões ambientais estabelecidos; 
 IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito 
público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por 
atividade causadora de degradação ambiental; 
 
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 V - recursos ambientais, a atmosfera, as águas 
interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar 
territorial, o solo, o subsolo e os elementos da biosfera.” 
 É importante observar que a degradação da 
qualidade ambiental consiste na alteração adversa das 
características do meio ambiente, conforme se depreende do 
inc. II. A questão da qualidade de vida, de bem-estar social 
fazem parte do conceito de poluição. Poluição visual é 
poluição. 
 Hoje em dia, o entendimento de dano moral não gira 
mais em torno de dor, padecimento, sofrimento, tanto é, que 
uma pessoa jurídica pode ser indenizada por dano moral. É 
uma lesão a um interesse imaterial, juridicamente protegido. 
E, a violação de um bem de natureza extrapatrimonial, como 
é o caso do meio ambiente, importará, além das perdas 
materiais, dos custos para recomposição das áreas 
depredadas, o direito difuso ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado foi violado. 
Há um livro muito interessante da profª Maria Celina 
Bodin de Moraes, da UERJ e da PUC, o qual cuida muito das 
questões ligadas à constitucionalização do Direito Civil, 
valores existenciais, ligados à dignidade da pessoa humana, 
o qual deve ser entendido como o único bem de valor 
absoluto. Diante da dignidade da pessoa humana, todos os 
demais valores devem ser tidos como relativos. Ela diz que 
se, de um lado da moeda, tem-se a proteção constitucional 
da dignidade da pessoa humana, do outro lado, tem-se o 
dano moral, entendido como a violação à dignidade da 
pessoa humana. 
Há, inclusive uma decisão do TJ-RJ, que faz 
referência a danos morais, reconhecendo a perda de 
qualidade de vida da coletividade em usar e fruir do meio 
ambiente ecologicamente equilibrado. Houve uma perda de 
natureza extrapatrimonial, tem-se um dano moral indenizável. 
A Constituição tomou o cuidado de prever, no caput do art. 
225, que esse direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado é essencial à sadia qualidade de vida.E, aqui, há uma relação dessa expressão com o art. 
1º , III, CR/88, o qual reconhece como um dos fundamentos 
da nossa República a dignidade da pessoa humana. Direito 
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado diz respeito a 
direito à vida digna, essencial à sadia qualidade de vida. A 
Declaração de Estocolmo foi o primeiro documento a 
reconhecer o direito fundamental ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado. É um direito humano 
fundamental, diretamente ligado à dignidade da pessoa 
humana. 
 Em seguida, no caput do art. 225, CR/88, temos a 
referência de que cabe ao Poder Público defender e 
preservar o meio ambiente às futuras gerações, observando-
se aí que, em relação ao Poder Público, há um poder-dever. 
O Poder Público não é o dono do meio ambiente. Ele é 
gestor do meio ambiente ecologicamente equilibrado. O 
parágrafo 1° traz uma série de atribuições ao Poder Público. 
O grande fundamento constitucional para 
responsabilização do Poder Público quando ele deixa de agir, 
ou quando ele age indevidamente, é esse caput do art. 225, 
CR/88. 
 Em relação à coletividade, esta não só tem o direito 
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, como tem o 
dever de agir em defesa do meio ambiente, preservando-o e 
conservando-o para as futuras gerações, logo ela tem o 
direito-dever. Essa idéia está muito ligada ao princípio da 
solidariedade. Estamos todos no mesmo barco, vivendo na 
mesma situação. É um direito de todos. O caput do art. 225, 
bem como o seu parágrafo primeiro, que elenca as 
atribuições do Poder Público, tem conotação preventiva. 
 
Princípio da Prevenção 
Os princípios são o alicerce do ordenamento jurídico, são o 
mandamento nuclear, normas imediatamente finalísticas. São 
normas hierarquicamente superiores. Eles são 
importantíssimos na elaboração, na interpretação e na 
aplicação de toda legislação ambiental brasileira. O referido 
princípio se resume na idéia de que é sempre melhor evitar 
o dano a ter que repará-lo. Por que é tão importante, assim, 
evitar a ocorrência de danos? Porque, está-se falando de um 
direito humano fundamental, de um bem que está 
diretamente ligado à dignidade da pessoa humana, de um 
bem que, quando prejudicado, traz grandes conseqüências, 
ou seja, os danos ambientais trazem graves conseqüências, 
são irreparáveis. Todo o dano ambiental tem como uma de 
suas facetas, que é sempre a perda extrapatrimonial. 
 Se nós reconhecemos que as conseqüências de 
um dano ambiental serão uma parcela de perda material, a 
qual será reparada, quando possível, pela restauração, 
recuperação daquele bem, volta ao status quo antes. A perda 
extrapatrimonial será compensada em pecúnia ao fundo de 
que trata o art. 13, Lei da Ação Civil Pública – defesa dos 
direitos difusos na esfera federal. E, no caso do Rio de 
Janeiro, vai para o fundo de que trata a Lei da Ação Civil 
Pública, não vai haver uma repartição desses valores para 
cada um indivíduo afetado, até porque todos foram afetados. 
Considerando que essa idéia, até para ganhar mais 
adeptos, chegamos à conclusão de que o dano ambiental é 
sempre irreparado. Ele pode ter uma parcela reparada, no 
seu aspecto ecológico puro, mas a perda extrapatrimonial 
coletiva vai ter que ser compensada. Por essa razão, é que 
se busca a não ocorrência desses danos. E, mesmo quando 
se fala de danos ecológicos puros, muitas vezes não terá 
como identificar quais foram as perdas no caso concreto, por 
não conhecer totalmente a biodiversidade. 
A poluição hídrica produzida pelo vazamento de 
alguns produtos no rio, há uns dois anos atrás, em 
Cataguases, MG, por exemplo, não só a poluição ocorrida no 
rio, mas até a destruição da faixa marginal de proteção desse 
rio. Será que os estudiosos têm como dizer, com certeza, 
qual o tamanho do dano, o que foi afetado, a perda da 
biodiversidade, quais espécies foram atingidas? Eles não 
conhecem. Quais as medidas necessárias para que o espaço 
degradado retorne ao estado anterior? Quanto tempo 
demora? Essa dificuldade já existe no plano ecológico 
puro,hoje, daí a necessidade de se evitar a ocorrência do 
dano. 
Apesar desse ideal preventivo, o nosso sistema 
jurídico ambiental deve prever instrumentos reparatórios e 
repreensivos, também. Mas as medidas preventivas se 
justificam, são mais privilegiadas pelo sistema, pelas razões 
 
2005 
8
que acabamos de ver. A idéia de que é melhor prevenir do 
que remediar está expressa em diversos instrumentos da 
Política Nacional do Meio Ambiente. Vale a pena ver o art. 9° 
da Lei 6938/81, que lista os instrumentos: 
DOS INSTRUMENTOS DA POLíTICA NACIONAL DO MEIO 
AMBIENTE 
 “Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio 
Ambiente: 
 I - o estabelecimento de padrões de qualidade 
ambiental; 
 II - o zoneamento ambiental; 
 III - a avaliação de impactos ambientais; 
 IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou 
potencialmente poluidoras; 
 V - os incentivos à produção e instalação de 
equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, 
voltados para a melhoria da qualidade ambiental; 
 VI - a criação de reservas e estações ecológicas, áreas 
de proteção ambiental e as de relevante interesse ecológico, 
pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal; 
 VII - o sistema nacional de informações sobre o meio 
ambiente; 
 VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e 
Instrumentos de Defesa Ambiental; 
 IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao 
não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou 
correção da degradação ambiental. “ 
 Então, quando o estabelecimento de 
padrões tem o cunho de evitar a degradação da qualidade 
ambiental. Padrões de qualidade da água, de ruídos, enfim, 
há uma série de padrões ambientais que são estabelecidos 
pelo CONAMA, que são esses, como, por exemplo: água, ar 
e ruídos. A idéia é evitar a emissão acima desses padrões. 
O zoneamento costeiro é um tipo de zoneamento 
ambiental. Quando se fala do zoneamento industrial, a 
L.6803/80, que trata do zoneamento industrial, objetiva a 
organização do território, a fim de que se evite a 
concentração de poluição perto de zonas residenciais, ou 
colocar em risco essas zonas residenciais. Logo, as 
indústrias devem ficar em áreas estritamente industrial. Outro 
exemplo interessante é o da criação de espaços territoriais 
especialmente protegidos. 
O parágrafo 1°, no inc. III, do art. 225, prevê que o 
Poder Público, quando se deparar com uma dada área que 
tenha uma relevância ambiental grande, que esteja sob 
ameaça de ocupação inadequada e que mereça uma 
proteção específica, ele pode criar uma unidade de 
conservação, um parque nacional, mas para isso, ele tem 
que ter os instrumentos criados. Esse inc. III foi 
regulamentado pela L. 9985/2000, que instituiu o SNUC – 
Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Unidades de 
Conservação são uma espécie de espaços territoriais 
especialmente protegidos, o que vem atender o que dispõe 
esse inciso III, parágrafo 1°, art. 225. E um tipo de espaço 
territorial especialmente protegido é a unidade de 
conservação da natureza. Nós já tínhamos unidade de 
conservação antes mesmo da lei do SNUC, porém, essa lei 
teve o intuito de organizar as categorias de unidades de 
conservação. 
 Antes, tudo dependia do que o ato de criação da 
unidade dizia, o nome que ele dava àquela determinada 
unidade, as restrições e objetivos que ele previa... havia uma 
série de nomes, cada nome uma dada unidade – reservas 
ecológicas, reservas biológicas, estações ecológicas, 
estações biológicas – e nomes iguais de unidades não 
significava que seus objetivos eram iguais. Então, havia uma 
grande confusão. 
A Lei do SNUC veio organizar as categorias de 
unidades de conservação. E a primeiragrande divisão que foi 
feita por essa lei foi a divisão em dois grandes grupos: 
unidades de conservação de proteção integral e unidades de 
conservação de uso sustentável. Estas pressupõem a 
utilização sustentável dos recursos ambientais. Por outro 
lado, naquelas, as restrições são muito maiores, não se 
admitindo o acesso direto aos recursos ambientais, mas 
somente o indireto. Um exemplo seria Fernando de Noronha, 
em que o IBAMA (da União) um Parque Nacional, em que as 
atividades nessa região são muito mais controladas, não 
sendo possível pescar, por exemplo, nessa região. 
O plano de manejo vai determinar as áreas que 
podem e que não podem ser visitadas e com que restrições, 
então, o órgão gestor vai determinar os horários em que é 
possível a visitação pública. Há uma praia em que não é 
possível passar proteção solar, sendo que há fiscalização 
intensiva por um fiscal do IBAMA, e o horário de visitação é 
controlado. 
É um exemplo de unidade conservação coerente, 
pois se criou uma unidade mais restritiva, que é o Parque 
Nacional, mas em outra região, criou-se uma APA, que é 
uma área de preservação ambiental; é uma outra área de 
unidade de conservação, mas está inserida no grupo de 
unidades de conservação de uso sustentável. É onde fica a 
vila, onde é possível a pesca controlada. É possível o acesso 
ao uso sustentável dos recursos ambientais. 
 Antes da Lei do SNUC, via-se muito a criação pela 
União de Parques Nacionais, todavia, não havia a 
desapropriação prévia das áreas e, quando se fala de 
unidades de conservação, na maior parte delas, de proteção 
integral, como os parques nacionais, as reservas biológicas ( 
que têm o uso mais restrito que os parques nacionais) e, 
também, das estações ecológicas (que, também, têm o uso 
mais restrito que os parques nacionais), para a criação 
dessas áreas, é necessária a prévia desapropriação, eis que 
incompatível com o direito de propriedade. 
As áreas de proteção ambiental, não. Dependendo 
do zoneamento que se faça em uma área de proteção 
ambiental, pode ser que, no caso concreto, verifique-se a 
necessidade de desapropriação de uma área inserida, por 
exemplo, zona de preservação da vida silvestre, mas aí, é no 
caso concreto. Mas, muitos parques nacionais, na Amazônia, 
foram criados com sobreposição de terra indígena, e os 
índios têm a posse originária daquelas terras. Na verdade, 
deve-se observar o caso concreto e, por suas característica, 
é que se deve avaliar o que será melhor criar, se áreas de 
proteção ambiental, uma reserva de desenvolvimento 
 
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sustentável, ou uma reserva extrativista, ou se tem que se 
criar uma estação ecológica. 
 Além do parágrafo 1°, inc. 3°, art. 225, CR/88, que 
prevê a criação de espaços protegidos, a Política Nacional do 
Meio Ambiente, já se prevê, no art. 9°, com redação dada por 
lei de 1989, prevê, no art. 9°, VI, o seguinte: 
“Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do 
Meio Ambiente: 
 VI - a criação de reservas e estações ecológicas, 
áreas de proteção ambiental e as de relevante interesse 
ecológico, pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal. 
“ 
 A criação dessas áreas é um mecanismo 
preventivo. Antes da criação da lei do SNUC, eram criadas 
unidades de conservação sem qualquer estudo prévio, sem 
qualquer consulta pública, para saber a opinião da população 
sobre essa criação. Depois dessa lei, para cumprimento de 
dispositivos da lei de Sistema Nacional de Unidades de 
Conservação, deve haver a prévia consulta pública e estudos 
técnicos. Vide a Lei 9985/2000, art. 22, parágrafo 2°: 
 “Art. 22. As unidades de conservação são criadas 
por ato do Poder Público. 
§ 1o (VETADO) 
 § 2o A criação de uma unidade de conservação deve 
ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública 
que permitam identificar a localização, a dimensão e os 
limites mais adequados para a unidade, conforme se 
dispuser em regulamento.” 
 Também, é importante a observação da disposição 
de informação adequada e inteligível pelo Poder Público à 
população local, conforme se depreende da leitura do 
parágrafo 3°: 
 “3o No processo de consulta de que trata o § 2o, o 
Poder Público é obrigado a fornecer informações adequadas 
e inteligíveis à população local e a outras partes 
interessadas.” 
 São vários os instrumentos, então, que têm a 
conotação preventiva. Existem dois outros instrumentos da 
Política Nacional do Meio Ambiente, que têm conotação 
preventiva, também, mas que se encaixa no Princípio da 
Avaliação Prévia dos Impactos Ambientais. 
 
 Princípio da Avaliação Prévia dos Impactos Ambientais. 
 Ele não deixa de ser uma forma qualificada do 
princípio da prevenção. Mas isso não deve ser mencionado 
em concurso público, mas, apenas para compreendermos 
melhor, o princípio da prevenção seria um princípio gênero e 
o da avaliação prévia, espécie. Mas, essa definição não 
existe. O objetivo desse princípio é preventivo, também. E, a 
Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, L.6.938/81, no 
art.9°, incs. III e IV, ela prevê a avaliação prévia dos impactos 
ambientais como um dos instrumentos da política nacional do 
meio ambiente e prevê o licenciamento ambiental e a revisão 
de atividades potencialmente poluidoras. 
Quando uma determinada atividade for capaz de 
causar degradação ambiental, pelo fato de ela ser 
potencialmente poluidora, ela deve se submeter ao prévio 
licenciamento ambiental, à prévia avaliação dos impactos 
ambientais, a fim de evitar o dano; não para impedir o 
desempenho da atividade, mas para que ela se desenvolva 
com os cuidados ambientais necessários, como, por 
exemplo, verificar se os equipamentos a serem adquiridos e 
implantados são capazes de garantir que as emissões 
produzidas por aquela determinada atividade vão respeitar os 
padrões ambientais previstos, se para aquela atividade, 
vegetação deverá ser suprimida, dentre outros 
procedimentos. 
Esses instrumentos específicos da política nacional 
do meio ambiente são considerados essencialmente 
preventivos, portanto, incorporam essa orientação do 
princípio da prevenção e do princípio da avaliação prévia dos 
impactos ambientais. Se não houver essa avaliação prévia e 
a atividade for desenvolvida, pode ser que não se consiga, 
depois, reparar os impactos ambientais e é isso o que se 
quer evitar. 
Aula 03- 11.04.2005 
No nosso encontro semana passada nós vimos dois 
princípios. O Princípio da Prevenção e um princípio que 
também tem conotação preventiva, o Princípio da Avaliação 
Prévia de Impactos Ambientais. 
E aí agente entendeu um pouquinho como a 
legislação ambiental brasileira elaborou um instrumento que 
coloca em prática essas orientações do Princípio da 
Prevenção e da Avaliação Prévia dos Impactos Ambientais. 
Vimos alguns exemplos de licenciamento, de 
estabelecimento de padrões, zoneamento ambiental, do 
instrumento mesmo da Avaliação prévia de Impactos 
Ambientais, atividades potencialmente poluidoras, criação de 
espaços territoriais especialmente protegidos e aí dei uma 
pincelada muito rápida no Sistema Nacional de Unidades de 
Conservação, na intervenção do Poder Público de criar 
espaços especialmente protegidos e vimos que todos estes 
instrumentos seguem a orientação preventiva, só que ficou 
faltando ainda o Princípio. 
Aliás, todos os princípios têm uma ligação um com o 
outro, mas este princípio muitas vezes traz algumas 
conclusões em relação à Prevenção, é um princípio que está 
sendo muito comentado em função da questão dos 
transgênicos, da poluição eletromagnética, é um princípio 
que é muito polêmico, ele promove uma reformulação de 
uma orientação muito tradicional no desenvolvimento de 
tecnologias, no desenvolvimento da ciência, então talvez seja 
o Princípio mais polêmico do Direito Ambiental. Vocês sabem 
qual é este princípio?Ele traduz a idéia de cautela e atua muito no que chamamos 
de “sociedade de risco”, nessas situações onde existe 
incerteza científica. É o Princípio da Precaução. 
Até um aluno daqui me perguntou na semana 
passada a diferença entre o Princípio da Prevenção e o da 
Precaução. Vamos entender exatamente o que é. Na 
verdade, como eu disse no início, como não existe uma 
uniformidade sobre este Princípio, entre os autores, 
principalmente aqueles textos mais antigos sobre os 
princípios, eles tendem a tratá-los de uma maneira muito 
igual, como sinônimos – Prevenção e Precaução – e isto foi 
 
2005 
10
mudando ao longo do tempo, hoje isso vem tratado de uma 
maneira bem diferenciada. 
Princípio da Precaução. 
Este princípio está lá expresso, não só neste, mas a grande 
referência ao Princípio da Precaução está na Declaração do 
Rio de 92, assim como uma declaração de princípios foi o 
resultado da Conferência de Estocolmo sobre o Meio 
Ambiente no ano de 72, da reunião aqui do Rio de Janeiro, 
realizada em 92 – Conferência das Nações Unidas sobre o 
Meio Ambiente e Desenvolvimento – dessa conferência 
resultou uma declaração de princípios que é a Declaração do 
Rio. Quem não é do Rio chama de ECO 92, mas os cariocas 
costumam dar preferência para a expressão Rio 92. 
Essa Declaração do Rio de 92, no Princípio 15, diz 
que a incerteza científica acerca das conseqüências de 
determinadas atividades ao meio ambiente ou à saúde 
humana, que essa incerteza não deve servir como 
fundamento para que medidas preventivas e para que 
cuidados de cautela antecipada deixem de ser adotadas. 
Então a incerteza não pode servir de fundamento 
para que a prevenção ou para que o cuidado antecipado 
deixe de ser tomado. 
Isso na verdade é uma reformulação de uma 
orientação tradicional que ainda de certa forma paira sobre 
nós e é ela idéia de que: se eu não tenho prova de que há 
dano, ou seja, se existe incerteza de quais serão as 
conseqüências não há razão para impedir o desenvolvimento 
de determinada atividade. Somente nas situações de prova 
de existência de um potencial danoso efetivo, se a ciência é 
capaz de dizer se esta atividade desenvolvida dessa forma 
vai causar um dano, somente nessas situações é que impede 
e tradicionalmente se justificaria a adoção de medidas de 
cautela. 
Então, restrições ao exercício de determinadas 
atividades só se justificariam por essa orientação tradicional 
nos casos em que houvesse certeza do dano. 
O Princípio da Precaução ele vai reformular essa 
orientação tradicional para dizer o contrário, para dizer que: 
se há incerteza, essa incerteza não pode servir de 
fundamento para que medidas preventivas deixem de ser 
adotadas. 
Se há dúvida, eu tenho que decidir como? Optando 
pela alternativa mais segura possível para o meio ambiente e 
para a saúde humana. 
Então é por isso que se fala muito que o Princípio da 
Precaução traduz a idéia do IN DUBIO PRO NATURA. 
O que é interessante perceber é que este princípio 
ele cai como uma luva na nossa realidade atual. Quando se 
construiu a idéia da sociedade de risco, um sociólogo Alemão 
chamado “Russef” (???) que criou a descrição dessa 
“sociedade de risco”, é exatamente o que agente vive hoje, a 
sociedade chegou a um ponto, num nível tecnológico e 
científico tal que ela se tornou incapaz de controlar o que ela 
mesma inventa. 
Essa sensação de imprevisibilidade, uma sensação 
de impotência em relação às conseqüências futuras de uma 
nova tecnologia que é lançada e cada vez o desenvolvimento 
é mais acelerado e agente vê mudanças muito rápidas e 
muito profundas. E essas situações trazem uma sensação de 
insegurança por conta dessa imprevisibilidade do dano. 
Essa situação de impossibilidade de controlar 
resultados. Não que em algum momento agente vá ter 
certeza absoluta de que os resultados podem ser 
controlados, mas as mudanças eram mais lentas, então as 
pesquisas eram mais lentas, se esperava mais tempo para 
analisar a potencialidade do dano, para que um determinado 
medicamento que está sendo estudado, está sendo criado, 
até que o ritmo de desenvolvimento se acelerou num nível 
tal, não só em velocidade, mas em mudanças tão profundas 
que gerou uma situação de incerteza, por isso que a 
Sociedade de Risco também é chamada de “Era da 
Incerteza”, “Era da Insegurança”, por conta dessa sensação 
generalizada e o que é interessante é que esta 
imprevisibilidade, essa situação de incerteza, ela traz, 
quando levada ao conhecimento de todos uma situação de 
medo generalizado. 
Um dos principais argumentos utilizado contra os 
transgênicos é o fato de não existir certeza sobre os danos 
que eles podem trazer ao meio ambiente e à saúde humana. 
Mesma coisa com relação ao uso dos aparelhos celulares. 
Na verdade nos organismos geneticamente modificados 
agente vê, e esse é um ponto lamentável, mas é a 
característica de muitas situações que geram muita 
discussão política e que têm muito interesse econômico 
envolvido, e político obviamente também, é que a discussão 
se enfraquece com os pólos radicais. 
Na questão do organismo geneticamente modificado 
aqueles que são contra, são contra não querem admitir, não 
querem consumir transgêncios e querem impedir a liberação 
do meio ambiente para os organismos geneticamente 
modificados – porque são “verdes”, são “ambientalistas”, quer 
dizer, muitas vezes são tachados de eco-chatos. 
Por outro lado, aqueles que são a favor dos 
organismos geneticamente modificados também não entram 
na questão dos estudos, falam muito mais em função de que 
os transgênicos vão resolver o problema da fome no mundo, 
tentando maquiar uma situação que não é verdadeira, dizem 
que o Brasil precisa se desenvolver para chegar cada vez 
mais perto dos países já desenvolvidos, países de primeiro 
mundo e tudo o mais: “precisamos adotar sim os 
transgênicos e aceitar os transgênicos para o final 
desenvolvimento do país”, sem analisar muito, isto é, sem 
enfrentar a questão da dependência econômica dos 
pagamentos de royalties e principalmente quando se fala da 
questão dos estudos ambientais que seriam necessários para 
avaliar a cada caso, a cada liberação de organismos 
geneticamente modificados no meio ambiente, quando fala 
nesse assunto, na necessidade de Estudo Prévio de Impacto 
Ambiental, na necessidade do respeito ao princípio da 
necessidade de Avaliação Prévia dos Impactos Ambientais, o 
que se diz é que muitas vezes os estudos já foram feitos nos 
Estados Unidos. 
 Na verdade os estudos foram feitos com base em 
outra legislação, tendo em vista outro ecossistema, outra 
realidade, não é muito difícil chegar à conclusão de que este 
argumento é fraco. 
 
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Na verdade aqui agente tem uma previsão 
constitucional, agente viu quando agente estava falando de 
Avaliação Prévia de Impactos Ambientais e agente vai ver 
isto bem detalhadamente depois, o art. 225, § 1º, VI da 
Constituição estabelece que cabe ao Poder Público exigir o 
Estudo Prévio de Impacto Ambiental como condição de 
licenciamento de atividades que sejam capazes de causar 
significativa degradação do meio ambiente. 
Nós vamos ver este “significativa degradação do 
meio ambiente”, essa expressão significativa é um plano 
jurídico indeterminado, mas ele não é indeterminável, já 
temos na legislação uma lista identificativa de atividades que 
são consideradas capazes de causar “significativa 
degradação do meio ambiente”. 
É uma lista que pode ser o tempo todo 
complementada, desde que justificadamente, não pode 
aleatoriamente falar isso aqui é, o órgão ambiental não pode 
determinar sem qualquer razão administrativa motivada, o 
órgão tem que justificar quando uma determinada atividade, 
apesar de ela não estar nesta lista de atividades sobre as 
quais recai a presunção que são atividades capazes de 
causarsignificativa degradação do meio ambiente elas 
justifiquem esse estudo ambiental específico. 
E o IBAMA, agente está falando de uma atividade 
que interessa, que se reconhece como de preponderante 
interesse de toda nação, quando se fala da competência 
legislativa concorrente para legislar sobre o meio ambiente, a 
competência da União e quando fala sobre competência 
comum para agir em defesa do meio ambiente, em algumas 
decisões, muito poucas sobre os organismos geneticamente 
modificados, agente vai ver que o que se entende é que 
predomina o interesse da União, portanto nessas situações 
deve atuar o órgão ambiental federal, o IBAMA. 
E o IBAMA como órgão integrante do Sistema 
Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), O SISNAMA é o 
organismo, são os órgãos e entidades que têm atribuição 
com relação à proteção do meio ambiente. A organização do 
SISNAMA está na lei 6938/81, que é a Lei da Política 
Nacional do Meio Ambiente que é a que fala de 
Licenciamento Ambiental também. 
Nessa organização, o IBAMA como órgão de 
atuação na defesa do meio ambiente, ele tem uma atribuição 
de executar a Política Nacional do Meio Ambiente no plano 
Federal, e aí quando se tem uma atividade em que se 
considera que a União tem interesse preponderante o IBAMA 
deve atuar quando se fala em organismo geneticamente 
modificado. 
Vemos que tecnicamente esses órgãos reconhecem 
que essa atividade, o IBAMA especificamente e o próprio 
Ministério do Meio Ambiente também ao qual o IBAMA está 
vinculado, reconhecem que esta é uma atividade capaz de 
causar uma significativa degradação do meio ambiente e a 
liberação dos OGMs (organismos geneticamente 
modificados) no meio ambiente, você teria de ter não só o 
Licenciamento Ambiental, mas o Estudo Prévio de Impacto 
Ambiental, coisa que não teve. 
Isso gera uma discussão enorme, a Comissão 
Técnica Nacional de Bio-segurança que antes era regida pela 
Lei 9874/85 que era a antiga lei de bio-segurança, ela dava 
pareceres técnicos, no caso de soja, dava pareceres técnicos 
favorável à liberação da soja trangênica no meio ambiente e 
na verdade esta liberação não dispensaria o Estudo Prévio 
de Impacto Ambiental, isso foi levado à juízo e nesse meio 
tempo decisões reiteradas foram reconhecendo que, na 
verdade, além da opinião da CTN-BIO (Comissão Técnica 
Nacional de Bio-segurança) essa opinião favorável não 
dispensaria o Estudo de Impacto Ambiental, o Estudo Prévio 
de Impacto Ambiental porque a legislação ambiental 
brasileira, o sistema da legislação ambiental brasileira adotou 
o Princípio da Precaução e o Princípio da Precaução traz a 
orientação de que quando houver uma pequena dúvida sobre 
o resultado da atividade, se deve decidir a favor do meio 
ambiente – In Dúbio Pro Meio Ambiente. 
O que quer dizer “decidir a favor do meio ambiente”? 
É impedir o exercício da atividade de cara? De plano? Não é 
essa a idéia do Princípio da Precaução, essa seria uma 
interpretação ultrapassada do Princípio da Precaução e aí 
sim impediria o desenvolvimento. 
Na verdade quando se fala In Dúbio Pro Ambiente, a 
idéia é que medidas preventivas não deixem de ser tomadas, 
que haja, no mínimo, um controle o mais rigoroso possível 
dessas atividades e não impedir que elas sejam 
desenvolvidas. É claro que em determinados casos a lei 
exige o licenciamento ambiental e o licenciamento ambiental 
e o estudo completo e detalhado que é o EIA-RIMA – Estudo 
De Impacto Ambiental que vem acompanhado Do Relatório 
De Impacto sobre o Meio Ambiente, esse estudo é que é 
capaz de avaliar, de identificar qual o nível de incerteza, qual 
o grau de incerteza que paira sobre uma determinada 
atividade. 
Se houver uma incerteza gigantesca, nenhum 
estudo que tiver sido feito, nenhuma pesquisa que tiver sido 
desenvolvida, poderá ser utilizada como argumento para que 
aquela atividade seja liberada naquele momento, mas 
dependendo do estudo elaborado, se o grau de incerteza, se 
estudos já tiverem sido desenvolvidos, se aquela análise feita 
no EIA-RIMA for capaz de conseguir determinar quais são as 
medidas de controle necessárias e forem vendo aos 
pouquinhos e determinando que vão pesquisar por mais 5 
anos e depois : “ah agente libera para comercialização, para 
plantio em larga escala” ou: “agente já estudou muito, já 
podemos liberar em doses pequenas o plantio do organismo 
geneticamente modificado”, tudo com fundamento técnico. O 
grau de incerteza é que deverá determinar o nível de 
controle que deverá ser exigido naquela atividade. 
Fato é, que a incerteza em si, ao contrário do que se 
dizia anteriormente, a incerteza não pode, a existência dessa 
incerteza não pode justificar a não adoção de medidas 
preventivas. 
E o que se vê na questão dos Organismos 
geneticamente modificados é que, na verdade a força 
econômica e política, como acontece em muitos casos, nesse 
caso do organismo geneticamente modificado conseguiu 
aprovação de uma lei, a Lei 11.105 que eu mencionei aqui já 
também, essa Lei revogou a Lei 8974/95 que era a antiga lei 
de Bio-segurança, entre outros diplomas que também 
tratavam do assunto, mas especificamente a Lei de Bio-
segurança de 95 foi revogada e aí a grande crítica que é 
feita, fora as questões das pesquisas na utilização de células 
tronco embrionárias, que é uma questão de bio-ética, uma 
questão não especificamente relacionada ao meio ambiente, 
 
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na questão dos transgênicos a grande crítica que é feita é 
que um poder extremo foi reconhecido à Comissão Técnica 
Nacional de Bio-Segurança – CTN-BIO, porque à CTN-BIO 
agora cabe decidir em última instância, sem qualquer 
interferência do Ministério do Meio Ambiente do Ministério da 
Agricultura, do IBAMA, decidir quando que a liberação no 
meio ambiente de um organismo geneticamente modificado 
deverá ser precedida de licenciamento ambiental. 
A análise que é feita por esta CTN-BIO não 
corresponde à análise que é feita em um procedimento de 
um licenciamento ambiental. A análise é feita muita mais com 
relação a questão de Bio-segurança, outras questões mais 
genéricas e mais profundas e mais detalhados que são 
realmente realizadas num estudo de licenciamento ambiental 
que conta com a participação popular também, para 
identificar o interesse de como que a coletividade, o que é 
que a coletividade que é titular de um direito a um meio 
ambiente ecologicamente equilibrado, o que ela pensa sobre 
o assunto, levar ao conhecimento da população detalhes 
sobre a liberação de determinado OGM no meio ambiente, 
isso tudo pode ser deixado de lado em função da edição da 
nova lei. 
Então está tendo uma discussão muito grande, 
ainda mais que a CTN-BIO é composta por representante de 
diversos Ministérios e sem um grande número, não me 
lembro o número agora, de pesquisadores indicados pelo 
Governo Federal. Na verdade ela é chamada de Comissão 
Técnica, mas ela não é lá tão técnica assim, é uma comissão 
muito mais vulnerável a influências políticas do que em tese 
pelo menos um órgão ambiental é. 
Então esse é um exemplo de retrocesso da nossa 
legislação ambiental brasileira, né, essa dispensa de 
licenciamento, não só de EIA-RIMA, dispensa de 
licenciamento mesmo, se partiu do princípio que muitas 
vezes a liberação dos organismos no meio ambiente nem 
uma atividade potencialmente poluidora pode ser 
considerada, coisa que já era pacífica pelo menos desde 97, 
quando se tinha o reconhecimento técnico do potencial 
poluidor dessa atividade, então é um retrocesso significativo 
e é um exemplo da não aplicação do Princípio da Precaução, 
na prática. 
Um outro exemplo, um outro assunto que é 
interessante, que é atual sobre o Princípio da Precaução é a 
questão da emissão eletromagnética, o uso de aparelhos 
celulares e principalmente a instalação de antenas de 
telefonia celular, daquelas chamadas estações rádio-basedo 
exército, por essas empresas de telefonia celular. 
A discussão é: aonde existe a incerteza? O que se 
conhece o que não se conhece sobre as consequências da 
poluição eletromagnética dessas ondas não ionizantes. 
O que se fala é: os efeitos térmicos são conhecidos, 
já são estudados, identificados, tanto que se fala que a partir 
de 6 minutos, não sei nem se vocês sabiam disso, que você 
está falando no celular, a cada 6 minutos a temperatura do 
cérebro aumenta em 1 grau. Eu me lembro numa época que 
foram propostas duas ações civis públicas aqui no Estado do 
Rio de Janeiro sobre a questão da poluição eletromagnética, 
quando eu estava na Feema, eu me lembro dos técnicos 
falando. Montaram um grupo de trabalho multidisciplinar para 
que fossem estudadas e estabelecidas as regras específicas 
para o licenciamento ambiental dessas atividades de 
instalação de antenas de telefonia celular. 
Então, no Rio de Janeiro eles falaram que os efeitos 
térmicos são conhecidos sim, então a produção de energia 
pelo cérebro dessas ondas, desses raios não ionizantes, que 
são os efeitos térmicos dessa poluição eletromagnética são 
conhecidos, tanto que não se deve falar mais do que 6 
minutos no celular. 
Eu lembro que na época eu li isso no jornal também, 
então era uma coisa que estava sendo muito discutida e é 
pacífica e eu lembro que até diziam que a tendência era que 
o design do aparelho tivesse antena para garantir uma maior 
distância do aparelho. As antenas estão cada vez menores 
né, mas essa seria uma tendência para minimizar esses 
impactos dos efeitos térmicos da poluição eletromagnética. 
Por outro lado se esses efeitos eram conhecidos 
não se sabe, não se sabia e ainda não se sabe, não se tem 
certeza é com relação aos efeitos não térmicos do que a 
poluição eletromagnética pode passar para o metabolismo, 
para o sistema imunológico, não se sabe quais são os 
efeitos, não se tem certeza, não se estudou o suficiente para 
determinar quais são as conseqüências e, portanto, quais 
são as medidas de uma maneira específica e pontual que 
devem ser adotadas para que esses impactos sejam 
evitados. 
Essa é a grande problemática. Tanto que esse 
grupo, no caso os engenheiros que fizeram pesquisas, 
quando buscaram profissionais com conhecimento específico 
nesse assunto, fizeram levantamento na legislação de outros 
países e aí viram que não existe parâmetro. Enquanto um 
país determinava uma distância mínima de 150m da 
instalação da antena das zonas residenciais, outros países 
diziam que 10 era suficiente, outros 200, outros 150, outros 
100, outros 30, não existia um parâmetro porque esses 
efeitos não térmicos não são conhecidos. 
É uma salada né, cada país tratava dessa questão 
de uma forma. Qual o parâmetro que o Brasil deveria utilizar? 
No caso qual o parâmetro que o órgão ambiental estadual 
deveria utilizar na condução dos procedimentos de 
licenciamento ambiental para instalação das estações rádio-
base? 
Nessa época e foi por isso que o grupo de trabalho 
foi montado foram propostas duas ações pelo MP estadual, 
uma aqui no Rio outra em Niterói em face dessas empresas 
de telefonia celular que agente conhece, curioso notar que a 
FEEMA era ré nas duas ações porque deixou de exercer o 
seu poder e agir em defesa do meio ambiente, exigindo como 
condição de instalação para essas antenas que elas se 
submetessem previamente ao licenciamento ambiental, e aí 
uma coisa é a licença que é dada pelo Município com relação 
à localização para instalação das antenas e outra coisa é a 
licença ambiental que vai analisar outros detalhes do projeto, 
vai analisar o potencial poluidor dessa atividade. 
Uma licença não dispensa a outra. Assim como 
agente vê atividade de extração mineral, por exemplo, além 
da licença lato sensu dadas pelo DNPM – Departamento 
Nacional de Produção Mineral, que também vê questões 
ambientais, mas não é uma análise ambiental perfeita, é uma 
autorização e que vai depender do tipo de autorização que é 
dada, as concessões de lavra e tudo o mais, o que agente 
 
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está falando neste caso é de uma atividade que está sendo 
autorizada, o desempenho de uma atividade está sendo 
autorizada de acordo com determinadas regras, a extração 
de recursos minerais, os recursos minerais são bens da 
União, ta lá no art. 20, então tenham cuidado porque o DNPM 
vai analisar como, em que quantidade, em que condição 
pode ser desenvolvida aquela atividade de exploração 
mineral. 
 Essa atuação do DNPM não dispensa aquela 
atividade de obter a licença ambiental também para ser 
desenvolvida, porque uma coisa é o interesse da União com 
relação a situação de um bem seu, outra coisa é o interesse 
da coletividade em relação à manutenção do meio ambiente 
ecologicamente equilibrado e, portanto, daí a exigência do 
licenciamento ambiental para o desenvolvimento daquela 
atividade. 
A mesma coisa pode ser trazida para a questão da 
poluição eletromagnética. Teve uma orientação da ANATEL 
sobre a questão das atividades desempenhadas pelas 
operadoras de telefonia celular, isso não impede, não 
dispensa o licenciamento ambiental porque essa atividade é 
uma atividade potencialmente poluidora. 
O que agente vai perceber é que numa dessas 
ações propostas nessa época, o que é curioso perceber é 
que o MP pediu uma liminar para que novas instalações, 
novas antenas de telefonia celular não fossem instaladas, 
deixassem de ser instaladas até que se submetessem a 
prévio licenciamento ambiental. Não era nem para desligar as 
antenas, desinstalar, nada disso, era só para que novas 
antenas não fossem instaladas antes do licenciamento 
ambiental. 
Uma das questões levantadas na época é que o 
órgão ambiental estadual que seria o competente para a 
condução do procedimento de licenciamento ambiental, ele 
não tinha conhecimento técnico sobre o assunto e nem 
equipamento para fazer a análise necessária. E não tinha 
mesmo. Não tinha recursos humanos e não tinha recursos 
técnicos. Os técnicos da FEEMA eles não conheciam 
mesmo, tanto que um grupo de trabalho foi montado para 
isso, para estudar este assunto e para haver uma 
capacitação e tudo o mais. Um dos fundamentos para que a 
liminar fosse indeferida foi principalmente o fato da 
impossibilidade de que o licenciamento fosse bem 
desempenhado. 
Apesar de se reconhecer que em regra cabe ao 
órgão estadual do meio ambiente a condução do 
procedimento de licenciamento ambiental, ao IBAMA cabe, o 
IBAMA é competente supletivamente nos casos em que o 
órgão estadual é omisso, quando ele deixa de cumprir, deixa 
de se manifestar no prazo previsto no pedido de licença que 
ele recebeu, seja negando a licença, seja outorgando a 
licença, ele passa a ser considerado como omisso e aí cabe 
ao IBAMA, o sujeito pode submeter seu pedido de licença 
ambiental ao IBAMA. Da mesma forma quando o órgão 
ambiental estadual é inerte, quando ele não tem condições 
técnicas para avaliar em função da natureza da atividade. É 
claro que o IBAMA vai ser competente para continuar o 
procedimento de licenciamento ambiental também, e aí o 
IBAMA mesmo e não de maneira supletiva, quando a 
atividade que está sendo licenciada, ela for considerada de 
impacto, quando seu impacto for considerado de âmbito 
nacional. 
Mas mesmo nos casos corriqueiros, nos casos que 
cabem ao órgão estadual do meio ambiente o IBAMA pode 
atuar supletivamente numa situação como essa, quando o 
órgão não tem condição técnica de conduzir cabe ao IBAMA, 
mas enfim essa foi uma das justificativas para o requerimento 
da liminar e até que não deixa de ser razoável. 
O pior, o que deve chamar a atenção aqui e tem 
aplicação no caso concreto, o que deve chamar a atenção 
aqui foi o fundamento que a juiza deu mais ênfase para 
deferir a liminar e aí agente vê como os nossos magistrados 
não conhecem nada

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