Buscar

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA I

Prévia do material em texto

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA I
→ O mundo contemporâneo
• O início:
A História Contemporânea tem seu inicio em 1789, com a Revolução Francesa e perdura até os dias de hoje.
Essa periodização clássica, que pode nos parecer longa, acaba se mostrado que, categorizar uma era que já dura pouco mais de 3 séculos não é um período tão duradouro, se levarmos em consideração que a Idade Média durou mais de 1000 anos.
ATENÇÃO:
Mas as generalizações são perigosas e os marcos históricos podem e devem ser utilizados como referência, mas sempre criticamente e com bastante rigor.
O que faz da Idade Contemporânea um momento tão “breve” e ao mesmo tempo, tão intenso?
O historiador Eric Hobsbawm se referia ao século XX como um século breve.
Essa definição se deve as intensas transformações vividas após a Primeira Guerra Mundial. Embora estejamos vivendo a Era Contemporânea, em nada lembramos os homens e as mulheres que fizeram parte da Revolução Francesa.
Em pouco mais de 3 séculos, as transformações na geopolítica, nos costumes, na cultura e na tecnologia foram intensas e avassaladoras. Isso provocou o uso de outras categorias para a idade contemporânea, como a expressão pós-modernidade.
O que faz da Idade Contemporânea um momento tão “breve” e ao mesmo tempo, tão intenso?
É provável que analisar os fenômenos contemporâneos seja uma tarefa tão ou mais árdua que compreender as estruturas do império romano ou do feudalismo.
O mesmo Hobsbawm relutou ao escrever uma de suas mais famosas obras, a Era dos Extremos, que se dedica ao século XX por temer falar sobre um tempo no qual viveu.
Este temor reacende uma velha discussão sobre a objetividade e a subjetividade no estudo da História. Embora seja virtualmente impossível o homem do historiador ou do professor, é fundamental que um profissional crítico estimule o debate dos mais diversos temas, independendo de suas convicções pessoais.
O esforço de compreensão pode ser facilitado ao entendermos os processos históricos interligados entre si e na era contemporânea, essa necessidade se torna ainda mais evidente.
Como explicar que a Era Contemporânea emerge das revoluções burguesas?
Qual seu legado para o nosso tempo?
Vamos voltar um pouquinho mais e verificar as mudanças políticas e culturais da Era Moderna e seu impacto para o mundo contemporâneo.
Quando a Igreja Católica era hegemônica, antes da reforma protestante, ela ocupava um lugar de poder único em todos os reinos europeus.
Sua influencia chegou a América através da expansão marítima. Não é a toa que a América é atualmente, um dos continentes com o maior número de católicos do mundo, fator decisivo na escolha do novo papa, o argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco.
Mas a reforma possuía outras características, bem menos ressaltadas que a intensa perseguição que os protestantes sofreram dos católicos: a necessidade de tolerância religiosa. Quando a Igreja Católica era única, essa não era uma questão importante, mas o surgimento de outras religiões e, principalmente, a adoção delas por reinos importantes, como a Inglaterra, fez com que a tolerância religiosa se tornasse uma das principais questões e um dos principais problemas do mundo contemporâneo.
Mas, espere um momento, você vai dizer:
E as cruzadas? E a perseguição aos judeus na Idade Média?
Bem lembrado!
Veja, estas perseguições eram às religiões não cristãs. O que a reforma faz é multiplicar o cristianismo, ou seja, o rompimento ocorre dentro de uma mesma religião e por isso afetou tanto os países europeus.
EXEMPLO:
Como exemplo, podemos citar o caso da Irlanda, cujas disputas entre católicos e protestantes é um dos fatores da divisão do país e deu origem a diversos atentados terroristas.
Hoje, o numero de adeptos das religiões protestantes aumenta dia a dia.
Já pensou se houvesse uma perseguição destas denominações?
Provavelmente seria o maior conflito da história da humanidade, pois envolveria o mundo inteiro. Por isso, a tolerância religiosa é uma questão importante, que surge na Idade Moderna e que faz parte do mundo contemporâneo.
Não menos importante é a questão do Estado. Nas revoluções burguesas ocorridas na Inglaterra e na França, é estabelecido o chamado Estado de direito, com base em uma Constituição.
Esse modelo é hoje adotado por todos os países do mundo. E é também uma de nossas maiores dificuldades em analisar como processo histórico.
Nós vivemos em um Estado de direito. No Brasil, a primeira constituição foi feita em 1824. Qual nossa primeira impressão? Ora, temos uma constituição porque temos que ter, porque sempre foi assim.
Viu como estudar historia contemporânea não é assim tão fácil?
Nossa tendência é olhar o mundo que conhecemos como normal, como se sempre tivesse sido assim, tendo dificuldade em compreender que certas “normalidades” são fruto de conquistas ocorridas há séculos.
A existência de uma constituição foi uma dessas conquistas. Se formos traçar sua genealogia, vamos ver que suas ideias são defendidas pelos iluministas, passaram pelos Estados absolutistas até serem aplicadas na Revolução Francesa e então, chegarem até nós.
Na economia, a expansão mercantil e a consolidação da burguesia, impulsionadas na Era Moderna ditaram os contornos do mundo contemporâneo.
Expansão mercantil: O capitalismo se consolida e o mercado internacional passa a ser um dos fundamentos básicos das mais diversas economias espalhadas pelo mundo. Mas seria na Inglaterra que o sistema produtivo, baseado na manufatura, daria um salto, no século XVIII, com a Revolução industrial, tema de nossa próxima aula.
Como visto nas aulas anteriores, sabemos que, em 1789, ocorreu a Revolução Francesa.
Dez anos depois, em 1799, sobe ao poder Napoleão Bonaparte.
Após assumir a sua derrota, em 1815, Napoleão empreendeu uma longa expansão territorial através das guerras, invadindo e anexando territórios, como fez com Portugal, provocando a vinda da família real para o Brasil em 1808.
Sabemos o que isso significou para o Brasil, não é? Mas e para os outros países invadidos?
O saldo da Era Napoleônica foi uma Europa desorganizada, cujas monarquias haviam sido depostas. Quando Napoleão foi exilado em Elba, tiveram início as negociações de paz entre a França e os países que haviam sido invadidos durante os anos de guerra.
O objetivo era restaurar a harmonia – e principalmente, decidir as questões territoriais – que foram desestabilizadas durante as guerras napoleônicas.
LEITURA:
Exílio de Napoleão em Elba 
As negociações de paz entre a França e os outros países foram interrompidas com a fuga de Napoleão de Elba e o início do governo dos 100 dias. Mas sua derrota, em Waterloo, tornou necessária a convocação de um congresso, que pusesse um fim definitivo às hostilidades e reconfigurasse o mapa da Europa. Esse congresso ocorreu, em Viena, em 1815. 
 A escolha não foi aleatória. Viena foi uma das poucas cidades importante das Europa que não sofreu com a revolução e cuja casa dinástica, os Habsburgo, havia permanecido no poder.
Alguns dos principais países participantes do Congresso foram a Áustria, a Prússia, o Reino Unidos, Portugal, Espanha, Dinamarca, Suécia, Suíça, Rússia e, é claro, a França. Mesmo derrotada, ela ainda era um importante fator a ser considerado, tanto política quanto economicamente. A palavra de ordem do Congresso foi restauração. A fim de levar ao equilíbrio geopolítico, a principal proposta de Viena era reconduzir as monarquias depostas ao poder, legitimando um Estado semelhante ao do Antigo Regime. 
As guerras napoleônicas evidenciaram a fragilidade dos reinos, especialmente no tocante a defesa militar. A partir de Viena foi criada a santa Aliança, que reunia Rússia, Áustria e Prússia firmando uma cooperação militar entre estes reinos. Dentre os diversos arranjos, coube a Viena a devolução dos chamados Estados pontifícios, ou seja, que pertenciam à Igreja. 
Durante a Idade Média, sabemos que a Igreja era uma poderosa senhora feudal, dona de muitas terras. Com a reforma protestante e acentralização dos Estados nacionais, muitas terras eclesiásticas foram confiscadas, a exemplo do que ocorreu na Inglaterra, mas a Igreja manteve, na Itália, onde o catolicismo ainda era sólido, algumas regiões nas quais o papa era o chefe de Estado.
Esses Estados foram alvo de muita disputa enquanto existiram e essas controvérsias só foram resolvidas na década de 1930, com o tratado de Latrão, que reconhecia o Estado do Vaticano, sob o governo do papado. Por isso, embora o Vaticano se encontre no coração da Itália, é um pais independente, com suas próprias leis e seu próprio governante, o que faz com que o papa, além de líder espiritual, seja também um chefe de Estado. 
Viena acabou por manter a divisão da Itália e da Alemanha em vários reinos. Por essa razão, a centralização das monarquias nacionais, que no resto da Europa aconteceu na Idade Moderna, nestes países ela ocorreria somente no século XIX. 
De acordo com Viena, caberia a Áustria, a posse dos Balcãs. Essa é uma região que sempre aparece nos diversos conflitos que estudamos, como a Primeira e a Segunda Guerra mundiais. Viena levou em consideração as chamadas fronteiras geográficas, mas existe outro tipo de fronteira, a ideológica, que é um pouco mais complicada de ser definida. 
Durante sua história, os Balcãs foram habitados por inúmeros povos, cuja cultura deu origem a várias diferenças tanto étnicas quanto religiosas. Dessa maneira, esta região acabou sendo, ao longo do tempo, reivindicada e invadida pelos mais diversos países, como a Alemanha. 
A ambição dos monarcas europeus representados por seus ministros, em Viena, era reimplantar o absolutismo e exterminar com a influência revolucionária e liberal propagada pela Revolução Francesa.
Seria este um objetivo possível? 
Os reis acreditavam que sim e se baseavam no princípio da legitimidade já que as casas reais eram as legítimas herdeiras dos tronos da Europa. Mas, embora Viena tenha garantido um período de paz relativa, no plano internacional, no plano interno, não se podia dizer o mesmo. O liberalismo já se impunha como ideologia, especialmente entre os burgueses. As revoluções eclodiriam por vários lugares, como a Revolução Liberal do Porto, de 1820, em Portugal.
A importância do tratado de Navegação e Comércio:
Sabemos que a família real veio para o Brasil, em 1808, com o apoio da Inglaterra. Mas esse apoio teve um preço. Em 1808, foi proclamada a abertura dos portos às nações amigas e, em 1810, Dom João VI firmou com os britânicos uma série de acordos, dentre os quais o tratado de Navegação e Comércio.
Segundo este tratado, a taxa de importação dos produtos ingleses seria de 15% e dos produtos estrangeiros de 24%.
Este poderia ser um acordo vantajoso, se não fosse uma enorme distorção: os produtos vindos de Portugal eram taxados a 16%. 
Ou seja, era mais barato comprar produtos ingleses do que os produtos portugueses. Tudo isso sancionado pelo rei de Portugal.
Essas medidas levaram a economia portuguesa à ruína. Portugal havia sido invadido pela França, posto sob proteção britânica, não tinha um rei ocupando o trono e ainda vendia seus produtos mais caros para os próprios súditos portugueses. Era de se esperar que houvesse um enorme descontentamento culminando com a Revolução do Porto, que exigia o retorno imediato do rei a Portugal.
Mas a volta de Dom João VI não se daria nos mesmos moldes de quando a família real deixou o país:
As cortes portuguesas exigiam uma nova constituição, de inspiração liberal, que limitava os poderes reais. 
 Além disso, as cortes exigiam o retorno do Brasil a sua condição de colônia e a retomada do pacto colonial, uma das razões para a separação política que ocorreria logo depois em 1822.
É interessante perceber que a Inglaterra apoiava as monarquias enquanto ela própria já havia passado por um processo revolucionário que impedia a instalação do absolutismo no Reino Unido e seu governo possuía, notadamente, influencias liberais.
Uma década depois, a Europa seria sacudida por uma série de revoltas, e uma enorme onda liberal. 
A França foi um dos primeiros lugares onde ocorreram os conflitos. 
O Congresso de Viena declarou a restauração das monarquias e do Rei Luís XVIII da dinastia Bourbon.
Pela nova constituição, a autoridade máxima do executivo seria o rei e o legislativo seria composto por duas câmaras:
- A Câmara dos pares, onde os representantes eram escolhidos diretamente pelo Monarca.
- A câmara dos deputados, eleito pelo voto.
• Revolução Industrial:
Introdução:
Quando pensamos no termo “revolução”, imediatamente nos vêm à mente imagens de batalhas, soldados e conflitos. 
No entanto, embora essa seja nossa associação imediata, revolução não é sinônimo de guerra ou conflito, mas sim de transformação. 
Esse é o sentido da expressão “revolução industrial”, surgida no século XIX para designar o conjunto de transformações no sistema produtivo pelo qual passara a Inglaterra no século anterior.
A expressão utilizada por intelectuais como Arnold Toynbee e Friedrich Engels popularizou-se a partir de então para descrever não só esse momento específico da história, mas também outros surtos industriais que envolveram mudanças políticas, econômicas e desenvolvimento tecnológico.
• As Revoluções:
- A primeira revolução:
De modo geral, podemos dizer que a Primeira Revolução Industrial se caracterizou pela mudança no modo de produção ― de artesanal para manufaturado ― e pela progressiva alteração da energia utilizada, que deixou de ser somente humana ou animal para ser substituída pelo carvão e, mais tarde, pela eletricidade.
- A segunda revolução:
Embora a Inglaterra tenha sido pioneira, durante o século XIX, outros países ― não apenas na Europa ― também viveram suas revoluções industriais. Foi o caso da França, da Alemanha, do Japão e dos Estados Unidos. 
Esse desenvolvimento industrial foi chamado de Segunda Revolução Industrial, a qual foi um aprimoramento das tecnologias da Primeira.
- A terceira revolução:
Atualmente, o desenvolvimento tecnológico, a mecanização da produção e a utilização da robótica, originaram a Terceira Revolução Industrial, que designaria o momento de desenvolvimento produtivo em que vivemos.
Por que Revolução?
Vamos agora entender melhor por que chamamos o conjunto de transformações, vistos anteriormente, de revolução.
Durante a Idade Média, a mão de obra era servil e o centro da vida econômica estava no feudo, já que a economia era marcadamente agrária. Na Idade Moderna, temos uma ruptura com o modelo feudal: há o renascimento das cidades, a mão de obra livre e a produção artesanal, que alimentava o comércio.
Na produção artesanal, o artesão era dono de sua força de trabalho e dos meios de produção. O que isso quer dizer? Quer dizer que o artesão moderno não tinha um patrão. Podia pertencer ou não a uma corporação de ofício, em que os preços e as negociações pelo produto seriam feitos coletivamente, mas ele era, sobretudo, independente.
Também não havia divisão do trabalho. Um mesmo artesão estava presente em todas as etapas de confecção de um produto. Se estivermos falando de um alfaiate, então temos que esse trabalhador é dono de tudo aquilo de que necessita para fazer seu produto: linhas, agulhas, botões. Ele também fará a peça de roupa completa: mangas, gola e assim por diante.
Vamos agora entender melhor por que chamamos o conjunto de transformações, vistos anteriormente, de revolução.
Durante a Idade Média, a mão de obra era servil e o centro da vida econômica estava no feudo, já que a economia era marcadamente agrária. Na Idade Moderna, temos uma ruptura com o modelo feudal: há o renascimento das cidades, a mão de obra livre e a produção artesanal, que alimentava o comércio.
Como funciona hoje na chamada linha de montagem de uma fábrica?
O trabalhador é responsável por uma única etapa da produção. Se ele for um trabalhador ― como era aquele artesão da era moderna ―, fará apenas uma parte do produto.
Se considerarmos uma camisa, ele fará apenas a mangaou somente a gola e assim por diante. Cada trabalhador faz um pedaço, que é montado no final da linha de produção.
Pioneirismo inglês:
Mas que razões explicariam o pioneirismo inglês nesse processo?
- Destaque político da classe burguesa, que ocupava cadeiras no Parlamento inglês;
- Acumulação primitiva de capital;
- Existência de um exército de mão de obra;
- Processo de cercamento dos campos;
- Jazidas de carvão mineral, o que possibilitava o desenvolvimento de fábricas movidas a esse combustível.
Essas condições, encontradas em seu conjunto unicamente na Inglaterra, permitiram seu pioneirismo no processo industrial.
LEITURA:
Para entendermos mais a fundo o pioneirismo inglês, no processo da Revolução Industrial, devemos nos remeter a um conjunto de fatores. 
Como já estudamos em Idade Moderna, sabemos que a formação dos estados nacionais foi fundamental para a expansão comercial europeia, certo? Havia, porém, um empecilho ao pleno desenvolvimento do comércio e, consequentemente, da burguesia. Nos estados nacionais, desenvolveu-se o absolutismo. Se, em um primeiro momento, a aliança entre o rei e a burguesia foi necessária para que o Estado deixasse de ser fragmentado e se centralizasse, logo a interferência do rei em todos os aspectos da sociedade passou a se tornar um obstáculo. Vamos entender isso como uma troca de favores: a burguesia apoiou o rei para que o poder real fosse centralizado e, em troca, o rei desenvolveu o comércio. No entanto, quando esse poder se tornou excessivo, não havia mais interesse nessa aliança e ocorreram as revoluções burguesas, que foram, basicamente, manifestações contra o poder absolutista. Ainda que a Revolução Francesa seja a que acabou se consagrando como a revolução burguesa por excelência, ela ocorre depois das Revoluções Inglesas, cujo saldo, para a Inglaterra, seriam a deposição da monarquia absolutista e a consolidação da burguesia no poder pelo sistema de monarquia parlamentar. 
Como a burguesia inglesa estava diretamente ligada ao poder, já que ocupava cadeiras no Parlamento, o reino aprovava e investia maciçamente no comércio, enriquecendo essa classe e tornando a Inglaterra uma potência mercantil. Isso permitiu um acúmulo de capitais como não existia em nenhum outro reino. 
No século XIX, Karl Marx chamou esse processo de “acumulação primitiva de capitais”. Em sua análise sobre a gênese do capitalismo, Marx estuda, sobretudo a Inglaterra. Logo, acumulação primitiva de capital será um conceito importante para entendermos o pensamento marxista, a origem do capitalismo e a Revolução Industrial inglesa. 
Entre os séculos XVI e XVIII, ocorre, na Inglaterra, um processo de acumulação de riquezas. Como riquezas estamos nos referindo não só ao dinheiro em espécie mas também a metais preciosos e terras. 
De onde vinham esses metais preciosos se as colônias inglesas não eram ricas em minério? A Inglaterra tinha sólidas relações econômicas com Portugal, lembram? 
Assim, boa parte do que era produzido no Brasil e em outras colônias ibéricas acabava nos cofres ingleses. 
Portanto, temos um acúmulo de riquezas nas mãos de uma pequena classe de proprietários e comerciantes. Se poucos têm muito, muitos não têm nada. A concentração de riquezas provocou o crescimento do número de trabalhadores pobres que vendiam sua força de trabalho e compunham a mão de obra necessária para o trabalho na indústria nascente. Esses dois princípios ― concentração de riquezas e força de trabalho disponível ― constituíram os fundamentos da Revolução Industrial.
A burguesia, porém, não investia somente em comércio. A compra de propriedades agrícolas era uma das mais importantes formas de lucro e aboliu completamente os resquícios de feudalismo que ainda permaneciam. Vamos relembrar: sabemos que, na sociedade medieval, o centro da produção era o feudo. No feudo, trabalhavam os servos, que aravam uma parcela de terra e entregavam parte de suas colheitas ao senhor feudal. Quando chegamos à Idade Moderna, embora já não exista feudalismo, essa estrutura ainda persiste, com camponeses que arrendam suas terras dos proprietários. Quando os burgueses passam a se interessar pela compra dessas terras, os novos proprietários e a nobreza latifundiária percebem que o lucro não está na produção agrícola, mas nas atividades pastoris, especialmente na criação de ovelhas para a produção de lã. O pastoreio necessita de menos mão de obra, e seu custo/benefício acaba sendo mais atraente do que a agricultura. O resultado disso é o processo que ficou conhecido como enclosures, ou cercamento dos campos. A terra, antes utilizada para cultivo, passa a ser cercada para servir de pasto para as ovelhas. Os camponeses são expulsos de suas terras e, sem opção, migram para as cidades. Esse enorme êxodo rural fornece a mão de obra necessária para as fábricas que começam a existir no início da Revolução Industrial. 
A Inglaterra era metrópole das treze colônias americanas que deram origem aos Estados Unidos. Um dos produtos de exportação mais importantes dessas colônias americanas era o algodão. Como estavam submetidas ao pacto colonial, as colônias só poderiam vender sua produção para a metrópole inglesa, que, por sua vez, comprava esse algodão por um preço muito baixo ― isso explica a razão pela qual um dos símbolos da Revolução Industrial foi o tear mecânico. 
Uma das principais características dessa revolução foi a inovação tecnológica. No entanto, embora tenha o tear como símbolo, ele não foi a única invenção nem a primeira. Sua importância se deve ao fato de otimizar a produção de tecidos, que acabou por se tornar uma das principais indústrias britânicas. Além disso, a Inglaterra possuía enormes reservas de carvão, que acabou se tornando o combustível das mudanças econômicas do século XVIII.
• Modo de produção:
Com a Revolução Industrial, o capitalismo se consolida como o modo de produção predominante no século XX. 
Se fizéssemos uma linha do tempo, ela seria assim:
Feudalismo → Mercantilismo → Capitalismo Modo de produção
 ↓ ↓ ↓
Idade Média Idade Moderna Id Contemporânea Era histórica
Dessa forma, a partir do século XVIII, a indústria substitui o comércio como principal fonte de riqueza. A burguesia permanece, mas surge uma nova classe, o proletariado. Então, se na Idade Moderna havia uma burguesia comercial, na Idade Contemporânea nasce a burguesia industrial. 
Na definição de Karl Marx, o burguês seria o dono dos meios de produção, e o operário aquele que vende sua força de trabalho.
• Mudanças:
O que muda? Absolutamente tudo!
As cidades crescem como nunca.
Esse crescimento desordenado, provocado pelo intenso e constante êxodo rural, não é acompanhado de obras de infraestrutura na mesma proporção.
Assim, as cidades industriais são caóticas: há problemas de habitação, transporte, saúde e educação.
Essa realidade foi retratada em diversas obras, pinturas, livros, filmes.
A Londres do século XIX é sombria e cinzenta. Não é à toa que obras como as que foram escritas por Charles Dickens retratem essa atmosfera.
Entre os anos de 1750 e 1801, a população urbana inglesa mais do que quadruplicou, conforme vemos na tabela a seguir:
Esse crescimento populacional se reflete não somente nos problemas estruturais que ele causa, mas também no esgarçamento das relações sociais. 
Nas palavras de Dickens:
“Parar para apertar a mão de um conhecido ou tocar em seu braço está fora de questão ― eles acreditam que isso não está incluído em seus salários e que não têm o direito de fazê-lo.” 
DICKENS, Charles. Retratos londrinos. Trad. Marcello Rollemberg. Rio de Janeiro: Record, 2003. Citado por: PONTES, Gustavo Tiengo. O olhar crítico de Charles Dickens sobre Londres do século XIX.
• Operariado:
Por que é importante entendermos as precárias condições de vida do operariado?
Antes de seguirmos, vejamos as palavras de um operário do século XIX:
“Nosso período regular de trabalhoia das cinco da manhã até as nove ou dez da noite. No sábado, até as onze, às vezes meia-noite, e então éramos mandados para a limpeza das máquinas no domingo. Não havia tempo disponível para o café da manhã e não se podia sentar para o jantar ou qualquer tempo disponível para o chá da tarde. Nós íamos para o moinho às cinco da manhã e trabalhávamos até as oito ou nove horas, quando vinha o nosso café, que consistia de flocos de aveia com água, acompanhado de cebolas e bolo de aveia, tudo amontoado em duas vasilhas. Acompanhando o bolo de aveia, vinha o leite. Bebíamos e comíamos com as mãos e depois voltávamos para o trabalho sem que pudéssemos nem ao menos nos sentar para a refeição” 
Depoimento de John Birley ao jornal Ashton Chronicle, datado de maio de 1849. Citado por: FONTES, Ana Cristina Magalhães. Mercado e trabalho: limites ao poder econômico.
Em primeiro lugar, é fundamental compreendermos que os direitos trabalhistas que usufruímos hoje são o resultado de uma longa trajetória de luta operária.
Em segundo lugar, as duas principais correntes do pensamento econômico dos séculos XIX e XX foram gestadas por meio do entendimento das relações entre o trabalho e os meios de produção.
Conhecer as condições de vida do operariado e situar seu nascimento na Revolução Industrial significa compreender o mundo do trabalho contemporâneo.
Se a ideia de Revolução Industrial nos remete de imediato à questão da produção e, portanto, à economia, perceber o surgimento da classe operária e a mudança nos hábitos sociais, mostra que o alcance dessa revolução transcende em muito o aspecto meramente econômico.
• Produtividade:
Buscando aumentar a produtividade nas fábricas, o trabalho passa a ser dividido em etapas.
Essa divisão daria origem à linha de montagem, da qual Henry Ford foi o pioneiro ao aplicá-la à indústria automobilística.
Cada trabalhador é responsável apenas por uma etapa da produção, ou seja, é encarregado de um único processo. Dessa forma, o trabalhador perde a dimensão de seu trabalho como um todo, já que não participa da confecção de um produto, mas sim de uma pequena fração dele.
Além disso, esse tipo de divisão gera uma especialização da mão de obra, característica que pode ser percebida até nas linhas de montagem das fábricas atuais.
A estrutura das linhas de montagem dará origem ao que chamamos de produção em série.
Quanto maior o número de produtos, mais barato ele custa. Logo, maiores serão sua capacidade de venda e sua procura.
Vamos pensar nisso como uma economia circular:
→ Mais produtos → Menor preço → Mais consumidores → Maior demanda → Mais produtos →
Do ponto de vista econômico, podemos dizer que o preço varia conforme a quantidade. Quanto mais mercadoria, menor será seu preço. 
Se analisarmos todas as crises de superprodução, como a que ocorreu em 1929, ou a queima do café no Brasil no período da República Velha, partiremos sempre desta premissa: quanto maior o número de mercadorias no mercado, menos custarão.
• O que isso quer dizer quando falamos sobre Revolução Industrial? 
Quer dizer que, quando a mão de obra era artesanal, o consumidor pagava por um sapato levando em consideração o trabalho do artesão, o material e o tempo que o indivíduo havia levado para confeccioná-lo. Agora o preço desse sapato, produzido junto a milhares de outros, cairá radicalmente. Isso provoca a criação de um mercado consumidor em larga escala, o que não podemos dizer que tenha existido durante a Idade Moderna. 
Todas essas mudanças promoveram também um amplo desenvolvimento tecnológico, percebido na utilização de diferentes formas de energia, como o carvão, e no investimento em transportes e em comunicação. Os transportes, como as ferrovias, tinham como objetivo sobretudo o escoamento das mercadorias, agora produzidas em grande quantidade e destinadas ao mercado externo, o que acabou por tornar a Inglaterra uma das maiores economias exportadoras de seu tempo.
• Resultados da Revolução Industrial:
De acordo com o que vimos como resultados do processo de Revolução Industrial inglesa, temos então:
- a urbanização;
- a transformação do mundo do trabalho; 
- a produção em larga escala;
- o desenvolvimento da infraestrutura.
Essas características ― que tiveram início na Inglaterra ― se espalhariam pela Europa no século seguinte e configurariam a Segunda Revolução Industrial.
→ Os modos de produção: capitalismo e socialismo
•Introdução:
Na aula passada, estudamos a Revolução Industrial e as mudanças que ocasionou no modo de produção.
Seguindo a linha dessas mudanças, veremos, nesta aula, os fundamentos dos dois modos de produção fundamentais para o entendimento da Idade Contemporânea: o capitalismo e o socialismo.
Modelo produtivo e suas transformações
Desde a Idade Média, o modelo produtivo passou por diversas transformações.
O feudalismo baseou-se na mão de obra servil e seu centro de vida econômica era o feudo. 
Com a centralização dos estados nacionais e o renascimento comercial e urbano, o feudalismo é progressivamente substituído pelo mercantilismo.
Em sentido restrito, embora não seja um sistema econômico, o mercantilismo pode ser definido como um conjunto de práticas econômicas que daria origem ao capitalismo. 
Podemos afirmar essa origem, pois um dos objetivos do mercantilismo é o lucro, diferente do feudalismo, que se caracteriza mais como uma economia de subsistência que de acúmulo de capital.
• Entendendo o contexto:
Vamos entender o contexto. Sabemos que, durante a Idade Média, a religião dominante era o catolicismo. A Igreja católica condenava o lucro como prática religiosa. 
Entretanto, com a decadência do sistema feudal e a formação de uma classe burguesa cujos interesses mercantis existiam exatamente para gerar lucro, passou a haver uma incompatibilidade entre o que a Igreja católica pregava e as necessidades burguesas.
Esse é o pano de fundo para as reformas protestantes, que, mais do que um fenômeno social e de questionamento do modelo católico, são uma resposta aos anseios burgueses, que abraçam o movimento reformista.
O que podemos concluir?
Mesmo que nosso foco seja discutir modelos econômicos, não podemos pensá-los isoladamente, descolados do contexto em que passam a existir. 
Como sabemos, a história é um processo no qual todos os aspectos ― político, cultural, social e econômico ― estão interligados. 
Por essa razão, ainda que estejamos estudando as teorias econômicas, temos de estar atentos ao momento em que essas teorias são produzidas.
• Mercantilismo:
Apoio aos negócios da burguesia ← Estado Absolutista → O Estado sustenta a nobreza
 ↓
 Mercantilismo
Objetivos:
Metalismo: acúmulo de metais preciosos
Fortalecimento do poder real.
Meios:
Protecionismo
Colonialismo
Pirataria
Balança comercial favorável
• Mercantilismo:
O mercantilismo como prática econômica própria dos estados nacionais possuía alguns princípios fundamentais:
- Metalismo; 
- Balança comercial favorável;
- Pacto colonial;
- Protecionismo.
De modo geral, podemos dizer que o sentido de riqueza para o mercantilismo eram as reservas de metal preciosos; no feudalismo, a riqueza era medida pela posse da terra.
SAIBA MAIS:
Metalismo 
Sobre o metalismo, Adam Smith afirma que: 
A dupla função que cumpre o Dinheiro, como instrumento de comércio e como medida dos valores, fez com que se produza de jeito natural essa ideia popular de que o Dinheiro faz a riqueza, ou que a riqueza consiste na abundância de ouro e prata [...]. 
Razoa-se do mesmo jeito com referência a um país. Um país rico é aquele no que abunda o dinheiro, e o meio mais simples de enriquecer o seu é amassar o ouro e a prata [...]. Devido ao crescente sucesso destas ideias, as diferentes nações da Europa dedicaram-se, embora sem sucesso suficiente, a buscar e acumular ouro e prata de todas as maneiras possíveis. Espanha e Portugal, possuidorasdas principais minas que provêm a Europa desses metais, proibiram a sua exportação ameaçando com graves represálias, ou submeteram-na a enormes taxas. Esta mesma proibição fez parte da política da maioria das nações da Europa. É encontrada mesmo onde menos se aguardaria, em algumas antigas atas do parlamento da Escócia, que proíbem, sob fortes penas, transportar ouro e prata fora do reino. A mesma política pôs-se em prática na França e na Inglaterra (SMITH, Adam. Riqueza das nações. Livro IV, cap. I). 
Protecionismo do Estado → - Taxas alfandegárias elevadas;- Pragmáticas. → Balança Comercial favorável
Desenvolvimento das Manufaturas → - Apoio/incentivo do Estado → Balança Comercial favorável
Companhias de comércio monopolistas → - Exclusivo do comércio numa zona- Exclusivo do comércio de um produto → Balança Comercial favorável
Maiores Exportações/Maiores Importações → Aumento de METAIS PRECIOSOS no país
Metalismo:
Por que o acúmulo de metal era importante?
Porque o metal precioso ― ouro, prata, cobre ― era utilizado para cunhar moedas, então isso fortalecia a economia monetária e, consequentemente, o comércio. 
Além disso, se analisarmos os princípios de colonialismo e exclusivismo comercial, veremos que o eixo econômico do mercantilismo está no mercado, tanto interno quanto externo. 
O protecionismo marca a formação dos monopólios, ou seja, a necessária intervenção do Estado em todos os aspectos da economia.
Essas práticas estiveram em vigor, aproximadamente, entre os séculos XV e XVIII. Como era necessária a interferência do Estado para regular a economia, é compreensível que ela tenha se desenvolvido durante o período absolutista, no qual o rei tinha ingerência em todos os aspectos políticos e econômicos da vida nacional.
 No entanto, conforme a burguesia se desenvolve e se afirma como classe, essa interferência real, que já foi necessária, torna-se um fardo, pois impede o livre desenvolvimento do comércio. Surgem então novas teorias econômicas, que vão compor o quadro que chamaremos de modo capitalista de produção. 
• Correntes de pensamento:
A partir do metalismo, surgiram teorias que começam a questionar a validade do protecionismo e do controle do rei na economia e, ao mesmo tempo, buscam entender o mecanismo de formação e o funcionamento do sistema capitalista à medida que este vai se desenvolvendo.
Duas correntes de pensamento se destacam a partir do século XVIII: a fisiocracia e o liberalismo. 
Tanto fisiocratas quanto liberais se opunham à ingerência do Estado na economia e defendiam que esta possuía uma dinâmica própria, que funcionaria melhor quanto menor fosse a intervenção estatal. 
Entretanto, os fisiocratas defendem que a fonte de toda a riqueza está na terra, enquanto os liberais defendem a preponderância das relações comerciais.
• Fisiocracia:
Um dos principais nomes da fisiocracia foi o francês François Quesnay.
François Quesnay (4 de Junho de 1694 — Paris, 16 de Dezembro de 1774) foi um economista francês que se destacou como principal figura da escola dos fisiocratas.
Quesnay era filho de agricultores e, devido à situação em que viveu, sendo fruto de sua época, era adepto da Fisiocracia, ou seja, destaca a agricultura como sendo a fonte de riquezas da nação, conceito contrário ao Mercantilismo inglês que primava pelo desenvolvimento da indústria e do comércio exterior. Quesnay acreditava que somente a agricultura era criadora de riqueza, já que a indústria limitava-se a transformar a matéria.
Trata-se pois de uma visão defensora da liberdade económica. O melhor Estado era aquele que menos governava e este só se deveria interessar com a manutenção da ordem, da propriedade e da liberdade individual. As suas teorias seriam desenvolvidas pelos seus discípulos (Turgot, Gournay) e viriam a influenciar o pensamento de Adam Smith.
Criou a ideia de “oferta-procura”, isto é, quanto maior a procura do produto, maior seu preço. Contrariamente, quanto menor a procura, menor o preço. Se existir liberdade, produz-se e consome-se o necessário, logo, há estabilidade do preço e equilíbrio.
Embora defendam a posse de terra como medida da riqueza, os princípios da fisiocracia são bem diferentes da economia que vimos na Idade Média, em que a posse da terra também era importante.
Por que então os fisiocratas defendem a propriedade e a agricultura como as bases sólidas da economia?
Devemos considerar que estamos falando de uma sociedade ainda pré–industrial, em que, a não ser pela Inglaterra, que fez a Revolução Industrial no século XVIII, a maior parte das economias ainda é agrária e está desenvolvendo, progressivamente, seu comércio.
Portanto, a agricultura permite que seja gerado o excedente. Excedente é tudo aquilo que não é necessário à subsistência e, logo, pode ser comercializado. Dessa maneira, a fisiocracia não se posiciona contra o comércio, mas o entende como atividade acessória para o desenvolvimento agrário.
• Os excedentes:
A ideia de excedente é apropriada por aquela que ficaria conhecida como Escola Clássica de economia, da qual Adam Smith é um dos principais nomes.
Smith defende a não intervenção do Estado em uma teoria que ficaria conhecida como liberalismo. Para Smith, a economia se autorregularia tendo como principal ferramenta a fixação de preços.
Ele defendia que os negociantes, comerciantes e prestadores de serviço, ao ambicionarem seu próprio lucro, acabariam, ainda que não propositalmente, cobrando um preço justo. Se cobrassem caro demais, não conseguiriam vender suas mercadorias; se muito barato, não teriam lucro.
Dessa forma, ao encontrarem o preço médio ― com o qual é possível vender de forma acessível sem ter prejuízo ―, a economia encontraria seu próprio processo de regulação.
Adam Smith (5 de junho de 1723 — Edimburgo, 17 de Julho de 1790) foi um filósofo e economista escocês. Teve como cenário para a sua vida o atribulado século das Luzes, o século XVIII.
É o pai da economia moderna, e é considerado o mais importante teórico do liberalismo econômico. 
Acreditava que a iniciativa privada deveria agir livremente, com pouca ou nenhuma intervenção governamental. A competição livre entre os diversos fornecedores levaria não só à queda do preço das mercadorias, mas também a constantes inovações tecnológicas, no afã de baratear o custo de produção e vencer os competidores.
Ele analisou a divisão do trabalho como um fator evolucionário poderoso a propulsionar a economia. Uma frase de Adam Smith se tornou famosa: "Assim, o mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta, é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do interesse dele: o bem-estar da sociedade." 
Como resultado da atuação dessa "mão invisível", o preço das mercadorias deveria descer e os salários deveriam subir. As doutrinas de Adam Smith exerceram uma rápida e intensa influência na burguesia, pois queriam acabar com os direitos feudais e com o mercantilismo.
• As teorias liberais:
As teorias liberais iam diretamente ao encontro dos interesses burgueses, que viam na liberdade de comércio e na livre concorrência o futuro do mercado. 
 Além de Smith, a chamada Escola Clássica de economia tem dois outros nomes importantes: David Ricardo e Thomas Malthus.  
Das teorias clássicas, podemos inferir que o capitalismo é sustentado pelo seguinte tripé:
- Lucro; Propriedade privada; Trabalho assalariado.
Se Adam Smith desenvolve suas teorias pensando no funcionamento da economia interna, David Ricardo expande essas teorias aplicando-as sobretudo ao mercado externo. 
Propõe assim a teoria das vantagens comparativas, na qual a relação econômica entre dois países, ainda que não seja igualitária, trará benefícios para ambas as partes.
Thomas Malthus, foi um economista inglês considerado o pai da demografia. Malthus estudou a relação entre demografia e capitalismo preocupando-se, especialmente, com a escassez de recursos decorrente do crescimento demográfico.
Suas teorias serviram como base para as mais diversasáreas de pensamento, como a biologia. Além disso, a ideia de que se deveria produzir a partir de uma demanda inspiraram outros teóricos do capitalismo.
• O capitalismo e a escravidão:
Dos princípios apresentados surgiu uma importante discussão para a historiografia.
Nas sociedades escravistas, como a brasileira no período entre a Colônia e o Império, a existência do capitalismo é possível?
Eric Williams, um dos estudiosos sobre o tema, em sua obra Capitalismo e escravidão, recorre a Smith  para pontuar a questão do trabalho escravo:
O trabalho feito por escravos, embora pareça custar apenas o sustento deles, no final é o mais caro de todos. Uma pessoa que não pode adquirir bens não terá outro interesse senão comer o máximo e trabalhar o mínimo possível (Williams, 2012, p. 32).
Se considerarmos o caso brasileiro, a riqueza gerada pelo comércio escravo foi maior do que a gerada pelo trabalho produzido por esses mesmos escravos.
O escravo não recebia salário; não era, portanto, consumidor. Logo, não demandava mercadorias, impedindo o pleno desenvolvimento do comércio.
Entretanto, se olharmos com mais cuidado, veremos que a sociedade brasileira desse momento, embora pautada no trabalho escravo, também se utilizava do trabalho assalariado e, após a vinda da família real, em 1808, desenvolveu a manufatura.
Dessa forma, não há um consenso acerca dessa questão de o Brasil, antes da abolição da escravatura, poder ser considerado uma economia capitalista.
• Capital:
Como podemos definir capital?
Dinheiro, riqueza e capital não são sinônimos.
“O capital é a parte da riqueza de um país empregada na produção e consiste em alimentos, roupas, ferramentas, matérias-primas, maquinaria etc., necessários à realização do trabalho” (Ricardo, 1996, p. 68).
Logo, capital é aquilo que pode ser investido para gerar riqueza e lucro. Pode se referir tanto ao dinheiro em si quanto a maquinário, trabalho, ferramentas, entre outros meios.
Também seguindo a definição de Ricardo, podemos dividir o capital em fixo e circulante:
Dependendo da rapidez com que pereça e a frequência com que precise ser reproduzido, ou segundo a lentidão com que se consome, o capital é classificado como capital fixo ou circulante.
Um fabricante de cerveja, cujas edificações e maquinaria têm grande valor e são duráveis, emprega uma grande parcela de capital fixo.
Ao, contrário, um sapateiro, cujo capital é principalmente empregado no pagamento de salários, que são gastos em alimentos e em roupas, mercadorias mais perecíveis que edifícios e maquinaria, utiliza uma grande proporção de seu capital como capital circulante (Ricardo, 1996, p. 36).
Nesse caso, o sapateiro necessitará de mais investimentos para que seu negócio gere lucro ― por isso, capital circulante ―, ao passo que a cervejaria possui um valor intrínseco, ditado por sua estrutura ― edifícios e maquinário.
• Capitalismo:
O capitalismo é fruto das transformações políticas e sociais que ocorreram ao longo da Era Moderna. Seus teóricos se dedicaram a entendê-lo e aperfeiçoá-lo.
É bem diferente das teorias socialistas, que se basearam na construção de um modelo ideal de modo de produção. Como sistema, o capitalismo está sujeito a crises cíclicas que podem ter causas diversas: escassez de matéria-prima, de energia, de mão de obra, superprodução, guerra, processo inflacionário, especulação.
Além disso, a partir do momento em que determinamos que o capitalismo necessita do trabalho assalariado, estamos vinculando-o a uma sociedade de classes: há os que trabalham e os que são donos dos meios de produção.
Essa configuração social provocaria a desigualdade entre as classes sociais e, à medida que o capitalismo se desenvolvia, em especial no início da industrialização, o abismo entre pobres e ricos só aumentava.
• Socialismo:
Observar o inchaço das cidades, a miséria do operariado e o enriquecimento da burguesia, com o apoio do Estado, motivou o surgimento de novas teorias, que se oporiam ao capitalismo, as teorias socialistas.
Embora Karl Marx seja o mais famoso de seus teóricos, ele não foi o único, tampouco o primeiro.
Desde o século XVIII, essas teorias socialistas têm sido gestadas, no que foi chamado por Marx e por seus contemporâneos de socialismo utópico.
Logo, devemos dividir as teorias socialistas em duas correntes:
- Socialismo utópico;
- Socialismo científico.
• Os representantes do socialismo utópico:
Como representantes do socialismo utópico destacam-se Robert Owen, Saint-Simon, Louis Blanc, Charles Fourier e Pierre-Joseph Proudhon.
Suas teorias foram produzidas entre os séculos XVIII e XIX e criticavam, de modo geral, as condições de vida às quais era submetida a classe trabalhadora, além da desigualdade social provocada pelo capitalismo.
De modo geral, podemos dizer que os socialistas utópicos têm como ponto em comum, além da crítica ao capitalismo, a valorização da racionalidade e o repúdio à religião, que viam como um mecanismo de controle social da população.
Suas teorias são baseadas em uma nova visão do papel do Estado, atuante e coletivo, e, portanto, oposto ao liberalismo.
Robert Owen:
Robert Owen, inglês, preocupava-se, sobretudo, com as condições do trabalho operário. Owen gerenciou uma tecelagem e procurou, durante sua gerência, melhorar as condições de vida dos trabalhadores que chefiava. 
Defendia a existência de pequenas comunidades nas quais a desigualdade social fosse mínima ou inexistente. Além disso, defendia a educação e a racionalidade, repudiando a religião como forma de controle social do homem inculto.
Saint-Simon:
Ao contrário de Owen, um trabalhador, Saint-Simon pertencia à nobreza e portava o título de conde.
Embora de família aristocrática, defendia que o Estado deveria interferir na economia e distribuir recursos de acordo com a capacidade dos indivíduos, permitindo que cada um desenvolvesse suas potencialidades em harmonia. 
Foi um dos precursores do socialismo, acreditando que a sociedade deveria ser baseada na racionalidade e no progresso científico.
Charles Fourier: 
Charles Fourier viveu na França no final do século XVIII, foi um dos mais ferrenhos críticos do capitalismo como sistema e das teorias liberais. 
Elaborou a teoria das comunidades-modelo, formada por pequenas unidades produtivas e cooperativas, sendo por isso conhecido como um dos pais do cooperativismo.
Louis Blanc:
Seguindo a mesma linha de pensamento de Fourier, o francês Louis Blanc, que tomaria parte nas manifestações de 1848, desenvolveu a ideia de que o Estado deveria incentivar as associações profissionais, semelhantes às corporações de ofício, em que os lucros seriam divididos igualmente entre Estado e trabalhadores que fizessem parte dessa associação.
Pierre-Joseph Proudhon:
Pierre-Joseph Proudhon  foi um filósofo político e econômico francês, foi membro do Parlamento Francês. 
É considerado um dos mais influentes teóricos e escritores do anarquismo, sendo também o primeiro a se autoproclamar anarquista, até então um termo considerado pejorativo entre os revolucionários. 
Foi ainda em vida chamado de socialista utópico por Marx e seus seguidores, rótulo sobre o qual jamais se reconheceu. 
Após a revolução de 1848 passou a se denominar federalista.
Pierre-Joseph Proudhon e as teorias anarquistas:
Pierre-Joseph Proudhon  recusava o título de socialista utópico e entendia suas teorias como anarquistas, tendo sido um dos primeiros a usar essa expressão.
Ao contrário dos demais socialistas utópicos, que acreditavam na necessidade de um Estado que conduzisse a política e a economia, Proudhon defendia a sociedade sem Estado, uma das bases ideológicas do anarquismo.
Contemporâneo de Marx e de Engels, Proudhon criticava as relações de trabalho capitalista e defendia, a exemplo de seus antecessores, o corporativismo e as associações coletivas. Em sua obra Sistema das contradições econômicas ou filosofia da miséria, discorre sobre essa questão.
Enquanto que, pelo progresso da indústria coletiva, cada jornada detrabalho individual obtém um produto cada vez maior, e consequentemente necessário, e enquanto o trabalhador com o mesmo salário deveria tornar-se a cada dia mais rico, existem na sociedade estados que aproveitam e outros que se enfraquecem; existem trabalhadores com salário duplo, triplo ou cêntuplo e outros em déficit; por toda a parte, enfim, há pessoas que gozam e outras que sofrem e, por uma divisão monstruosa das faculdades industriais, há ainda indivíduos que consomem e que nada produzem (2003, p. 169).
Proudhon foi fortemente criticado por Marx, assim como os demais socialistas utópicos.
Tal expressão, utilizada para definir essa corrente do socialismo, foi cunhada por Marx, que dizia que, embora esses teóricos apontassem os problemas sociais, não propunham meios efetivos de combater o que acreditavam serem mazelas do sistema.
Como resposta à filosofia da miséria, Marx escreveu a Miséria da filosofia, cujo título já é, por si só, uma provocação à obra de Proudhon, a quem acusava de apontar problemas para os quais faltavam os fundamentos básicos para elaborar uma solução.
• Socialismo científico:
Apesar da crítica de Marx, não restam dúvidas acerca da contribuição dos chamados utópicos, pois foram os precursores da crítica ao capitalismo.
Tanto Marx quanto Engels, que elaboram suas teorias também no século XIX, passam a ser conhecidos como socialismo científico, já que suas teses propõem, de fato, uma modificação do Estado e a abolição de princípios capitalistas, em especial, da propriedade privada.
O alemão Karl Marx foi, antes de tudo, um estudioso do sistema capitalista. Foi com base na compreensão do funcionamento desse modelo produtivo que elaborou suas críticas e, mais tarde, o modelo econômico que ficaria conhecido como socialismo.
Karl Marx:
A principal obra de Karl Marx  é O capital, mas também podemos destacar O manifesto comunista, escrito em colaboração com Friedrich Engels.
Para Marx, a história da humanidade é a história da luta de classes, e o trabalho é a atividade fundadora das sociedades.
Em suas teorias, ele funda o conceito de mais-valia, que seria a base do lucro do capitalista, ou burguês, que é definido como o dono dos meios de produção.
Ao trabalhador resta vender sua força de trabalho, já que não possui os meios de produção.
• As teorias marxistas:
As teorias marxistas foram incorporadas por Lenin, que as aplicou na Rússia após 1917, quando uma revolução derrubou o sistema monárquico e instaurou o regime socialista. Dessa forma, o socialismo russo é conhecido como marxista-leninista.
O socialismo do século XIX chegará ao século seguinte como alternativa política e econômica ao capitalismo.
De sua aplicação na Rússia revolucionária surgiria a consolidação de um modelo de Estado autoritário, cujo principal representante seria Stálin.
• Leninismo:
O termo leninismo é utilizado para designar a corrente política surgida pelo rompimento político com o economicismo da socialdemocracia europeia no começo do século XX. 
Apesar de levar o nome de seu principal fundador, o leninismo também carrega contribuições de revolucionários como Grigory Zinoviev - por formular junto com Lenin a teoria do desenvolvimento desigual - e Lev Kamenev.
Lenin procurou adaptar a teoria marxista do século XIX à realidade do século XX e foi um dos principais teóricos marxistas e o principal líder da Revolução Bolchevique de 1917, na Rússia.
O autoritarismo socialista se espalharia, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, quando tem início o período de Guerra Fria, uma disputa ideológica por zonas de influência liderada pela União Soviética, socialista, e pelos Estados Unidos, capitalista.
Essa ordem mundial, denominada bipolaridade, seria uma das principais características da segunda metade do século XX, pondo o mundo em alerta com a possibilidade de um conflito nuclear entre as duas potências.
→ A formação da classe trabalhadora: primavera dos povos
• A onda liberal:
O grande marco do século XVIII na Europa foi, certamente, a Revolução Francesa, que consolidou um século de conquistas burguesas.
As revoluções burguesas  sacramentaram de forma definitiva as demandas políticas da burguesia europeia. Um dos principais saldos dos processos revolucionários foi o fim do sistema absolutista.
O Antigo Regime, porém, deixou resquícios nos estados europeus, que seriam responsáveis pela nova onda revolucionária que eclodiria durante o século XIX.
O século XIX é a época do triunfo do liberalismo.
ATENÇÃO:
Não foi à toa que os diversos movimentos que percorreram o mundo ficaram conhecidos como onda liberal. Seus efeitos foram sentidos não só na Europa, palco privilegiado desses eventos, mas em todo o mundo. Como exemplo podemos citar a Revolução Liberal do Porto, de 1820.
• Família real no Brasil:
Quando a família real veio para o Brasil, em 1808, Portugal foi deixado à própria sorte, com um imenso vazio de poder.  
Com a abertura dos portos às nações amigas, todo o comércio ultramarino português passou a se dar por meio dos portos brasileiros, levando a burguesia mercantil portuguesa a uma grave crise financeira.
Em agosto de 1820, os militares estabeleceram a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino e rapidamente conseguiram a adesão não só da população, mas também do clero.
A Vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil foi um acontecimento inédito na história mundial, já que nunca antes uma corte completa havia deixado seu reino para se alojar em uma colônia, especialmente em terras tão distantes quanto o Brasil. Partiram do porto de Lisboa em 29 de novembro de 1807 a rainha Maria I, o príncipe regente D. João, sua esposa, a princesa Carlota Joaquina, e outras centenas de nobres e funcionários reais.
A partida foi feita com urgência, quase uma fuga, já que a família real estava sob ameaças do imperador da França, Napoleão Bonaparte, que prometera invadir Portugal, aprisionar a corte e destituir o príncipe regente. Eles embarcaram em mais de 50 navios que tinham como destino a maior colônia portuguesa, o Brasil.
Os revoltosos reivindicavam a volta imediata da corte a Portugal, uma nova Constituição baseada em princípios liberais e a recolonização do Brasil, que havia sido elevado a Reino Unido de Portugal e Algarves.
Diante das pressões da sociedade portuguesa, não restou outra saída a Dom João VI a não ser o retorno imediato a Portugal, deixando seu filho Dom Pedro I como regente do Brasil.
ATENÇÃO:
A demanda revolucionária pela recolonização, por sua vez, precipitou a independência, proclamada em 7 de setembro de 1822.
• Liberalismo:
Como podemos ver, a onda liberal de fato se alastrou pelo planeta.
Quando falamos em liberalismo, pensamos imediatamente em Adam Smith e no estabelecimento de um sistema econômico baseado sobretudo na autorregulação do mercado.
Esquecemos, no entanto, que o liberalismo é, acima de tudo, uma filosofia política cuja premissa fundamental é a defesa da liberdade.
Segundo René Rémond:
Trata-se também de uma filosofia social individualista, na medida em que coloca o indivíduo à frente da razão do Estado, dos interesses de grupo, das exigências da coletividade; o liberalismo não conhece nem sequer os grupos sociais, e basta lembrar a hostilidade da Revolução no que dizia respeito às organizações, às ordens, à desconfiança que lhe inspirava o fenômeno da associação, sua repugnância para reconhecer a liberdade de associação, de medo que o indivíduo fosse absorvido, escravizado pelo grupo (1974, p. 26).
• Era Napoleônica:
Na França, após a revolução de 1789, tem início a Era Napoleônica, que tem como um dos saldos mais importantes a redefinição do mapa geopolítico europeu.
Napoleão havia invadido e conquistado diversos reinos. Quando deixa o poder, é necessária uma nova definição das fronteiras desses reinos, bem como a reorganização interna desses estados.
Esse novo arranjo foi feito pelo Congresso de Viena, entre 1814 e 1815, que reconduziu diversos monarcas ao trono.
Após a derrota de Napoleão, amonarquia na França foi restaurada pela dinastia Bourbon, assumindo o trono o rei Luís XVIII. Havia, porém, muitos desafios nesse processo de restauração monárquica para o Estado dar conta.
Era necessário conciliar os interesses da aristocracia e da burguesia, as mais influentes classes políticas desse período. Isso implicou uma disputa pelo poder entre essas classes.
Com a progressiva industrialização da França, outra classe social surge no cenário político também para reivindicar direitos: o proletariado.
ATENÇÃO:
Devemos lembrar que, embora a Revolução Industrial tenha ocorrido primeiramente na Inglaterra no século XVIII, no século seguinte ela se espalha por diversos países, sendo esse momento chamado de Segunda Revolução Industrial.
• A nova Constituição:
Luís XVIII outorgou uma nova Constituição, que aliava conquistas obtidas na Revolução Francesa, como a liberdade de pensamento e a igualdade jurídica, com princípios remanescentes do Antigo Regime.
Ainda que tenha mantido a divisão dos três poderes, exercendo apenas o Poder Executivo, a Constituição real estabeleceu o voto censitário, o que fez cair radicalmente o número de eleitores na França.
Nesse contexto, podemos destacar a atuação de três grupos:
- Ultrarrealistas: Grupo constituído pela nobreza e liderado por Carlos de Bourbon, o Conde de Artois.
- Liberais: Liderados por La Fayette, que defendiam as conquistas da Revolução Francesa.
- Constitucionalistas: Desejavam a obediência irrestrita à Constituição, liderados por Guizot.
Luís XVIII morre em 1824, e seu irmão, líder dos ultrarrealistas, sobe ao trono com o título de Carlos X. O rei contava com grande apoio dos nobres, ao qual retribuía estabelecendo leis que os favorecessem.
Quando ocorreu a Revolução Francesa, muitos nobres foram perseguidos e alguns deles fugiram para outros reinos. Seus bens foram confiscados e incorporados ao patrimônio do Estado.
Com a restauração, esses nobres puderam retornar à França fazendo parte dos ultrarrealistas.
A lei das indenizações previa que a nobreza deveria receber pagamento pelos bens que os revolucionários haviam confiscado.
• A Revolução de 1830:
Apesar do apoio dos nobres, não podemos esquecer que havia eleições para as câmaras. Em 1830, essas eleições garantiram a vitória aos liberais, que, com isso, passaram a fazer oposição aos privilégios da nobreza.
O rei suprimiu a oposição com vigor: determinou o fim da liberdade de imprensa, dissolveu a Câmara e convocou novas eleições.
O que o Carlos X parecia não compreender é que as revoluções burguesas deram um fim ao absolutismo monárquico e as tentativas de restaurá-lo implicariam conflito.
Diante das medidas autoritárias do Estado, o povo se revoltou. A imprensa recusou-se a seguir as leis e continuou exercendo a liberdade de expressão que havia sido tão duramente conquistada.
As ruas de Paris foram tomadas pelas barricadas, reprimidas com violência pelas forças repressivas.
Entre 27 e 29 de julho, houve uma intensa luta na capital francesa, que ficou conhecida como os três dias gloriosos. Ao final, o rei foi deposto e obrigado a fugir.
Segundo George Rudé:
Depois de três dias de luta ― les Trois Glorieuses ― o pretendente orleanista, Luís Felipe, foi elevado ao trono por um acordo político de banqueiros e jornalistas, e aclamado pelo povo na Municipalidade. Esse é o resumo da narrativa tradicional da revolução. Mas é claro que ela encerra outros aspectos, como os historiadores modernos ― muitos dos quais norte-americanos ― bem mostraram. Em primeiro lugar, o resultado não agradou a todos: dos dois aliados, la blouse et le redingote, como os chamou Edgar Newman, a blouse (trabalhadores) foram enganados, e a vitória explorada no interesse exclusivo do redingote (os empregadores). Mas os trabalhadores se recusaram a tirar al  castanhas do fogo para a burguesia e, tendo desempenhado seu papel, começaram a apresentar reivindicações próprias. Foram os tipógrafos, cujos empregos dependiam da sobrevivência dos jornais de Paris, que deram o exemplo: ficaram tão alarmados com as antiliberais Ordenanças de Saint-Cloud de Carlos X quanto os jornalistas e políticos burgueses. Por isso, foram os primeiros a sair às ruas, liderando os outros trabalhadores de Paris (...) (1982, p. 108).
• A importância da Revolução de 1830:
A Revolução de 1830 na França é importante para entendermos a consolidação do poder burguês.
Esse evento inspirou diversas obras. Entre as mais importantes está Os miseráveis, de Victor Hugo, que em 2012 ganhou uma nova adaptação ― a terceira ― para o cinema, recebendo diversos prêmios. Sua história destaca a resistência dos rebeldes e a repressão feroz do exército.
A deposição do rei permitiria a instalação de um regime republicano na França, a exemplo do que ocorrera em 1792, quando o país viveu sua Primeira República, mas não foi o que se deu.
Apesar das simpatias pela república, a burguesia apoiou a monarquia constitucional e teve início a monarquia de julho, cujo governo foi entregue ao Duque de Orléans, que assumiu o trono com o título de Luís Felipe I.
Os miseráveis é uma das principais obras escritas pelo escritor francês Victor Hugo, publicada em 3 de abril de 1862 simultaneamente em Leipzig, Bruxelas, Budapeste, Milão, Roterdã, Varsóvia, Rio de Janeiro e Paris.
A história passa-se na França do século XIX entre duas grandes batalhas: a Batalha de Waterloo (1815) e os motins de junho de 1832.
Victor Hugo é também autor de Os trabalhadores do mar e O corcunda de Notre-Dame, entre outras obras.
• A importância da leitura:
O governo de Luís Felipe I foi uma monarquia constitucional, como desejavam os burgueses. Não à toa, seu reinado pode ser considerado a era de ouro da burguesia. 
O regime adotado tinha claras inspirações liberais, o que foi fundamental para o desenvolvimento da revolução industrial francesa.
Segundo Eric Hobsbawm:
Teoricamente, a França de Luís Felipe devia ter partilhado da flexibilidade política da Grã-Bretanha, da Bélgica, da Holanda e dos países escandinavos. 
Na prática, isto não aconteceu, pois, embora fosse claro que a classe governante da França ― os banqueiros, financistas e um ou dois grandes industriais ― representava somente uma parcela dos interesses da classe média e, além disso, uma parcela cuja política econômica não era apreciada pelos elementos industriais mais dinâmicos, bem como pelos diversos velhos resíduos feudais, a lembrança da Revolução de 1789 se constituía em um obstáculo para a reforma. 
A oposição consistia não só de uma burguesia descontente, mas também de uma classe média inferior politicamente decisiva, especialmente em Paris (1982, p. 330).
Apesar do estabelecimento de uma monarquia constitucional, os ideais republicanos não esmoreceram e, embora de início esse reinado tenha assumido uma aparência democrática, aos poucos, à medida que surgiam novos conflitos de interesses ― entre burgueses e operários, por exemplo ― e cresciam os movimentos republicanos, a política repressiva do Estado endureceu, causando grande descontentamento entre a população, o que levou à sua deposição em 1848 e à instauração da Segunda República francesa. 
• O Congresso de Viena:
No rastro da Revolução de 1830 na França, outros movimentos eclodiram na Europa. 
O Congresso de Viena havia reunido Holanda e Bélgica em um único reino denominado Países Baixos. Entretanto, as diferenças entre eles eram visíveis e, aparentemente, irreconciliáveis. 
Como obstáculos podemos destacar não só o idioma e a religião, mas também a marcada diferença acerca do papel do Estado no tocante à economia. 
• A eclosão da Revolução Belga:
Enquanto os holandeses já detinham um sistema mercantil organizado e, por isso, eram adeptos do liberalismo, os belgas ainda necessitavam do controle e do protecionismo estatal para desenvolver sua indústria nacional. Além disso, o rei Guilherme I favorecia claramente os holandeses em detrimento dos belgas.
Em 1830, eclodiu a Revolução Belga, que desejava a independênciado reino.
Em 1831, os belgas empossaram Leopoldo I como rei, aderindo ao regime de monarquia constitucional. O conflito com os holandeses se arrastou até 1839, quando a independência belga foi finalmente reconhecida.
• A Primavera dos Povos:
As revoluções de 1830 foram o ponto de partida para a Primavera dos Povos, ocorrida em 1848, que podemos definir como uma onda revolucionária em diversos reinos europeus. Se, no caso das revoluções de 1830, podemos destacar o conflito de interesses entre os burgueses e a aristocracia, nas revoluções de 1848, podemos apontar a disputa entre projetos de Estado: liberal, nacionalista e socialista.
Como em qualquer movimento, não é possível apontar uma única causa para sua ocorrência. Ele é fruto da conjuntura e das mudanças, incluindo as formas de pensamento, que percorriam a Europa no século XIX.
Embora haja a tendência de olhar a Primavera dos Povos do ponto de vista político ou econômico, esse movimento demanda outros olhares, tendo sido importante para a formação da sociedade europeia contemporânea.
Ainda que a Revolução Industrial tenha ocorrido no século XIX, a agricultura se mantinha como um dos pilares econômicos. Entre 1846 e 1848, o continente sofreu uma severa crise agrária, resultando em parcas colheitas. 
A escassez de alimento fez com que este tivesse seu preço aumentado, causando uma enorme fome entre a população mais pobre.
Temos de encarar essa questão como um ciclo:
↓ alimento ↑ preço ↓ poder de compra = FOME
Se a população não conseguia comprar os gêneros básicos para sua sobrevivência, tampouco poderia arcar com o custo de gêneros que não são indispensáveis, como tecidos e manufaturados. 
Como um castelo de cartas, a crise agrária afetou toda a economia, já que implicou a diminuição da produção industrial, que encalharia por falta de compradores.
Segue-se então outro ciclo: se as fábricas produzem menos, precisam de menos trabalhadores, gerando o desemprego. Sem salário, a população comprava cada vez menos, o que, por sua vez, gerava ainda mais desemprego, pois provocava o fechamento das fábricas.
↓ Produção das fábricas ↓ Trabalhadores = DESEMPREGO
Podemos entender a economia como o mecanismo de um relógio. Se uma peça para de funcionar, toda a máquina entra em colapso, pois todos os aspectos estão interligados.
Segundo Eric Hobsbawm:
A terceira maior das ondas revolucionárias, a de 1848, foi o produto desta crise. Quase que simultaneamente, a revolução explodiu e venceu, temporariamente, na França, em toda a Itália, nos Estados alemães, na maior parte do império dos Habsburgo e na Suíça (1847). 
De forma menos aguda, a intranquilidade também afetou a Espanha, a Dinamarca e a Romênia; de forma esporádica, a Irlanda, a Grécia e a Grã-Bretanha. Nunca houve nada tão próximo da revolução mundial com que sonhavam os insurretos do que esta conflagração espontânea e geral, que conclui a era analisada neste livro. O que em 1789 fora o levante de uma só nação era agora, assim parecia, “a primavera dos povos” de todo um continente (Hobsbawm, 1982). 
• Analisando os impactos na Itália, França e Alemanha:
- ITÁLIA: O movimento de 1848 teve início na Itália, que ainda não havia se unificado. 
A partir de 1846, tanto o papa Pio IX quanto o rei Carlos Alberto, do Piemonte-Sardenha, estabeleceram reformas liberais. 
A partir de então, diversos movimentos, procurando instaurar a República e estabelecer o liberalismo, espalharam-se pelos estados italianos. 
As revoltas só puderam ser contidas com o apoio de outras potências, como a França e a Áustria, que restauraram a ordem anterior.
- FRANÇA: Na França, o movimento de 1848 culminou com a deposição do rei e a instauração da República. 
Três correntes principais se opunham ao rei Luís Felipe: 
↔ Legitimistas -  que defendiam a volta de um Bourbon ao trono ― o rei era da casa Real de Orléans;
↔ Republicanos e os bonapartistas - que apoiavam Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão. 
A crescente crise política e econômica de que já falamos acabou por levar Luís Bonaparte ao poder, em um regime republicano.
Seguindo os passos de seu tio Napoleão Bonaparte, Luís deu um golpe de estado em 1851 e restaurou novamente a monarquia, sagrando-se imperador.
- ALEMANHA: A Alemanha, a exemplo da Itália, também não havia se unificado, mas vigorava, desde 1834, o Zollverein.
As monarquias alemãs possuíam forte influência absolutista, e as reformas liberais eram poucas ou insuficientes para suprir as necessidades de um mercado em constante expansão. Tanto no caso da Itália quanto no da Alemanha, o nacionalismo foi uma nota em comum. 
Mais do que o liberalismo, os anseios nacionalistas estiveram na base dos movimentos que afetaram não só a Prússia mas também a Áustria, a Hungria e outros estados.  
• A participação da classe trabalhadora:
Em comum, todos esses movimentos possuem a participação ativa da classe trabalhadora. Dessa forma, seu caráter é diferente daquele percebido nas revoluções burguesas.
Os trabalhadores reivindicam melhores condições de vida e, mais tarde, direitos trabalhistas.
Essas demandas ganham força especialmente após a Revolução Industrial, pois o desenvolvimento econômico não implicou a melhoria das condições de vida dessa classe.
ATENÇÃO:
É importante ressaltar que o desenvolvimento do capitalismo evidenciou as contradições sociais. Por um lado, uma burguesia que enriquecia; por outro, uma classe operária ― que gerava a riqueza ― cada vez mais empobrecida.
• As ideias socialistas:
Foi nesse contexto apresentado que as ideias socialistas ganharam força; embora o socialismo científico tenha sido sistematizado sobretudo por Karl Marx, as ideias socialistas podem ser encontradas em obras que remontam ao século XVI.
Diferentemente dos chamados socialistas utópicos, Marx propõe, em O capital, o socialismo científico, ou seja, estabelece propostas e mudanças sociais que implicam a substituição do capitalismo pelo socialismo.
Em 1848, o ano da Primavera dos Povos, é publicada uma de suas obras mais conhecidas, O manifesto comunista, escrita em parceria com Friedrich Engels. Nela, Marx chama o operariado à união pela luta de seus direitos e pela transformação social em busca de melhores condições de vida e de trabalho.
Em O manifesto comunista, Marx e Engels afirmam que:
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não fez senão substituir velhas classes, velhas condições de opressão, velhas formas de luta por outras novas.
Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado (Marx; Engels, 2012).
• Por que o socialismo foi tão importante e alcançou rapidamente a classe trabalhadora?
Porque falava diretamente acerca das condições de vida e de trabalho às quais esses indivíduos eram submetidos.
Se o iluminismo vinha ao encontro dos anseios burgueses, o socialismo era a resposta ideológica às necessidades do proletariado que surgia.
A Primavera dos Povos foi rapidamente suprimida pelos estados europeus, mas ficou para a história como um levante que demonstrava não a insatisfação de uma classe burguesa, que desejava mais poder político, mas de uma classe trabalhadora que se havia mantido calada até então e cujos movimentos eram suprimidos com violência.
Foi por seu caráter popular e de insatisfação com a ordem estabelecida que os movimentos ocorridos nos países árabes recentemente ficaram conhecidos como Primavera Árabe, em uma clara alusão à Primavera dos Povos. 
Tanto aquele movimento do século XIX quanto esse do século XXI exigem a mudança de um regime que ficou estagnado no poder e não acompanhou as mudanças sociais que ocorreram a seu redor.
→ Resistência operária: Luddismo e Cartismo
• Introdução:
Nas aulas anteriores, vimos a Revolução Industrial e as principaiscorrentes de pensamento que nortearam o século XIX. 
Vamos discutir agora a questão do proletariado e sua consolidação como classe social.
• A formação da classe operária:
A formação da classe operária é tema de diversos trabalhos historiográficos ao redor do mundo. Entre os mais diversos fatores, sua constituição e trajetória despertam interesse por estarem diretamente relacionadas à Revolução Industrial inglesa do século XVIII. 
Se Marx defendia, de modo amplo, que a história do homem é a história da luta de classes, poucos momentos corroboram mais essa visão que a relação entre operários e burgueses, especialmente durante o século XIX.
Ao se referir à formação da classe operária, Eric Hobsbawm afirma que: 
O fazer-se da classe operária não é porque eu pretenda sugerir que a formação desta ou de qualquer outra classe seja um processo com início, meio e fim, como a construção de uma casa.
As classes nunca estão prontas, no sentido de acabado, ou de terem adquirido sua feição definitiva. Elas continuam a mudar. 
Entretanto, como a classe operária foi historicamente uma classe nova ― não reconhecida como um coletivo social ou institucional, interna ou externamente, até um período específico ―, faz sentido delinear sua emergência enquanto grupo social durante certo período (2008, p. 279).
O pensamento de Hobsbawm é afim ao de um dos mais importantes estudiosos do tema, o historiador E. P. Thompson. Em uma de suas principais obras, A formação da classe operária inglesa, Thompson procura estabelecer o que é, de fato, uma classe social, definindo-a da seguinte maneira: 
A classe acontece quando alguns homens, como resultado de experiências comuns, sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si, e contra outros homens cujos interesses diferem dos seus (2011, p. 10).
• A classe operária:
Por que é importante definirmos classe? 
Muitas vezes esquecemos que essa palavra remete não somente a um termo, mas a um conceito que possui sentido próprio e que se altera em função do contexto ao qual se aplica. Há diversas definições possíveis para classe, sendo a de Thompson a mais utilizada. 
O que faz da nobreza? 
O título, as terras, a influência política, as relações sociais, o modo de vestir, os costumes, enfim, uma série de experiências compartilhadas entre seus indivíduos. Essa definição pode, portanto, ser aplicada para compreendermos qualquer classe social.
Quais são as experiências compartilhadas pela classe operária? 
Pensadores como Marx, Engels e Proudhon chamaram a atenção para a exploração do proletariado. Era notório que os operários produziam a riqueza industrial, mas não a usufruíam. 
De modo geral, os operários viviam mal, cumpriam jornadas exaustivas de trabalho, não tinham direito a folgas ou férias, o trabalho infantil era comum, não havia um salário mínimo determinado, ou seja, tudo o que hoje consideramos direitos básicos é, na verdade, fruto das intensas lutas da classe trabalhadora.
• Resistência operária:
Quando as máquinas começaram a ser usadas em larga escala no século XVIII, provocaram, de imediato, um enorme desemprego. 
Os camponeses foram expulsos de suas terras, porque essas terras passaram a ser dedicadas à criação de animais, que forneceriam a matéria-prima para a indústria têxtil ― foi o processo de enclosure.
Sem terras, os camponeses foram para a cidade buscar emprego nas fábricas. No entanto, com a mecanização, as fábricas necessitavam cada vez menos de mão de obra, já que as máquinas otimizavam o trabalho. 
Resultado: aumento do desemprego.
Um dos primeiros movimentos de resistência à Revolução Industrial foi o luddismo, no início do século XIX. 
Seu nome deriva de um de seus líderes, Ned Ludd, que praticava a quebra das máquinas, pois atribuía a elas o aumento do desemprego.
A discussão da máquina substituindo o homem é antiga, não é?
Também no século XIX, teve lugar outro movimento, o cartismo. 
Diferentemente do luddismo, o cartismo defendia a mudança das condições sociais do operariado pela via política. 
Feargus O’Connor e William Lovett lideraram o movimento e escreveram a Carta do Povo, documento no qual reivindicavam participação política e ampliação de direitos, como o voto universal e secreto, e a melhoria nas condições de trabalho.  
SAIBA MAIS:
A Carta do Povo foi encaminhada ao Parlamento inglês, que recusou suas demandas, mas o cartismo, ainda que não tenha obtido o sucesso esperado, acabou se tornando um importante movimento para a aquisição dos direitos trabalhistas.
O cartismo caracteriza-se como um movimento social inglês que se iniciou na década de 30 do século XIX . Inicialmente fundou-se na luta pela inclusão política da classe operária, representada pela Associação Geral dos Operários de Londres.
Teve como principal base a carta  intitulada Carta do Povo que foi enviada ao Parlamento Inglês.
Naquele documento percebem-se as seguintes exigências:
• Sufrágio universal masculino  - o direito de todos os homens ao voto;
• Voto secreto através da cédula;
• Eleição anual;
• Igualdade entre os direitos eleitorais;
• Participação de representantes da classe operária no parlamento;
• E que os parlamentos fossem remunerados.
• Histórico das demandas operárias:
Podemos perceber uma “evolução” nas demandas operárias. Do luddismo, ao cartismo, até as trade unions.
As associações de ofício não eram uma novidade do mundo do trabalho. Contudo, se as corporações de ofício tinham como objetivo, sobretudo, organizar a produção artesanal da época, os sindicatos surgiram com outra proposta.
O inglês William Cobbett visitou uma fábrica em 1824 e assim a descreveu: 
Os primeiros dias de setembro foram muito quentes. Os jornais noticiavam que homens e cavalos caíam mortos nos campos de produção agrícola. Ainda assim a temperatura nunca passava de 29 °C durante a parte mais quente do dia. 
Qual era então a situação das pobres crianças que estavam condenadas a trabalhar quatorze horas por dia, em uma temperatura média de 28 °C? 
Pode algum homem, com um coração em seu peito, e uma língua em sua boca, não se habilitar a amaldiçoar um sistema que produz tamanha escravidão e crueldade? 
Citado por LAGO, Celso F. Técnicas administrativas: a evolução do conceito.
Inicialmente, essas associações que acabamos de estudar foram perseguidas, mas, aproximadamente na década de 1820, o Parlamento inglês permitiu sua existência. A partir de então, o sindicato foi pouco a pouco ganhando força, e esse modelo de organização se espalhou à medida que os demais países se industrializavam.
Uma das principais táticas de luta era a greve, que paralisava a produção, causando prejuízos aos industriais; até hoje, é uma das táticas mais utilizadas de negociação trabalhista.
O fortalecimento do operariado motivou a criação da Primeira Associação Internacional dos Trabalhadores, em 1864, na cidade de Londres. As lideranças trabalhistas, porém, recebiam diversas influências e, na maior parte das vezes, discordavam entre si.
• A Comuna de Paris e as unificações italiana e alemã:
A constituição do proletariado como classe seria definitiva para os contornos do movimento de 1871, a Comuna de Paris. 
No campo da política internacional, o século XIX tem como uma de suas principais características a busca pela hegemonia e pelo equilíbrio nas relações externas dos países europeus. 
Após as revoluções burguesas, os estados nacionais procuraram se manter sólidos buscando uma relação harmônica e diplomática. 
Essa estratégia foi bem-sucedida por algum tempo, mas não evitou completamente a eclosão dos conflitos, como foi o caso da Guerra Franco-Prussiana, ocorrida entre 1870 e 1871.
• O início do processo de unificação alemã:
Assim como a Itália, a Alemanha se unificou em torno de seu Estado mais forte econômica e politicamente; nesse caso, a Prússia. 
Depois do Congresso de Viena, o território alemão encontrava-se dividido em 39 estados, denominados Confederação Germânica.
Embora fossem autônomos, a Áustria, por ser um

Continue navegando