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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Apostila da disciplina ART6114 Consciência Corporal 1 Membros Inferiores Florianópolis 2018.1 Essa apostila é um guia para o estudo da consciência corporal, baseado no método Ivaldo Bertazzo de reeducação do movimento. As imagens e textos reproduzidos são de diversas fontes. O uso desse material é somente para estudo junto à disciplina. Lembre-se, esse é apenas um ponto de vista sobre o trabalho com a educação do movimento. Existem outros métodos, também eficazes, com diferentes abordagens. DISCIPLINA ART6114 – MEMBROS INFERIORES Ministrante: Prof.ª Dr.ª Débora Zamarioli Conteúdo INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 1 LINHAS HORIZONTAIS ................................................................................................................................................ 2 LINHAS LATERAIS ...................................................................................................................................................... 2 MEMBROS INFERIORES ............................................................................................................................................. 3 O PÉ ....................................................................................................................................................................... 4 A BACIA .................................................................................................................................................................. 5 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................................ 6 1 INTRODUÇÃO Um corpo harmonioso possui um eixo e uma forma garantidos pelo arcabouço ósseo, cujas formas são esféricas. O esqueleto é moldado pela ação dos músculos que, idealmente, agem em força sem perder comprimento. No ser humano, os músculos trabalham de maneira particular. Além de um padrão específico de funcionamento, sua atuação é fundamentalmente o resultado da expressão do universo interior de cada indivíduo. A coordenação motora, o equilíbrio do corpo no espaço, seus deslocamentos em diferentes níveis e a modificação do ritmo dos movimentos demandam o encantamento da força muscular. O movimento é, em essência, o deslocamento entre as unidades motoras (braços, pernas, tronco, face), ato que solicita constantemente a alternância da tensão muscular. A força dos músculos desloca-se frequentemente utilizando os ossos como alavancas. Os músculos que revestem a parte anterior de seu esqueleto (rosto, peito, abdômen, coxas, pernas, dorso dos pés e palmas das mãos) o direcionam para o alcance dos objetos ou das coisas de que necessita, enquanto a musculatura que reveste a parede posterior do corpo (nuca, costas, glúteos, parte de trás das coxas, batata das pernas, sola dos pés e dorso das mãos) lhe proporciona a manutenção da postura ereta, sustentando-o em sua vertical. A reeducação do movimento apoia-se no conceito da “fraternidade dos músculos”, compreendendo que eles agem em conjunto. No sistema motor, em seu funcionamento ideal, um músculo equilibra e dá suporte à ação do outro. Distribuindo e equilibrando as forças, alcança-se a meta da coordenação motora. Se um músculo fica enfraquecido por longo período, os músculos vizinhos modificam seu modo de funcionamento para suprir o trabalho daquele que está enfraquecido, substituindo o movimento correto por um “não natural”. Isso pode ser positivo, no caso de adaptações pela sobrevivência, se o quadro clínico for irreversível. Por outro lado, corre-se o risco da exclusão definitiva da ação do músculo fragilizado, pois ele não mais lutará por sua identidade. Para iniciar um exercício, ponha-se primeiramente em uma atitude de alerta: nenhum dos movimentos será benéfico se iniciado com o corpo relaxado. Um organismo vivo dispõe de uma quantidade de energia ou força muscular que está sempre presente, denominada “tônus de base”. O tônus de base contido nos músculos é um estado preparatório para o movimento. Preserve-o, alimente-o. Para cada exercício, organize-se em uma postura específica, definindo o ponto de partida para a execução do movimento. Cotovelos e joelhos nunca devem atingir a posição máxima de extensão; a sutil flexão dessas articulações coloca os músculos flexores e extensores em alerta, permitindo a passagem da força muscular das extremidades para o centro do corpo. A pressão da sola dos pés ou das palmas das mãos sobre uma superfície, ou mesmo a simulação dessa resistência contra o ar, transmitirá força e estabilidade a todo o corpo. Por isso, não solte as mãos ou estique os pés em ponta. Ensine o corpo a lutar contra a gravidade. Trabalhar a flexibilidade através da reeducação do movimento é uma forma de estruturar a força e direção muscular lentamente, ajustar a articulação com precisão, interiorizar a sensação provocada, raciocinar sobre a direção e impulso projetado. Isso dá ao praticante consciência de sua unidade corporal, diminuindo riscos de lesão e aumentando sua autonomia corporal. É normal, no início do aprendizado, realizar o exercício com mais força do que o corpo necessita. Tranquilize-se. A diminuição do esforço virá progressivamente, conforme outros exercícios forem realizados, pois a força muscular se distribuirá por todos os músculos gradativamente. Por menor que seja o percurso de um movimento, o esforço e a queima de energia são bastante intensos. Observe com atenção: a posição de partida, por si só, exige muito do corpo. Da mesma forma, é importante aprender como desacelerar a força desencadeada pelo movimento. Entre a ação de dirigir-se a um ponto e retornar à posição de origem, diferentes grupos musculares alternam-se e mudam suas funções. Concentre-se bastante para perceber essas mudanças. Aceleração dos batimentos cardíacos, calor, respiração mais pronunciada e transpiração são resultados esperados, desde que os movimentos aconteçam com intensidade e controle. DISCIPLINA ART6114 – MEMBROS INFERIORES Ministrante: Prof.ª Dr.ª Débora Zamarioli LINHAS HORIZONTAIS A percepção da linha do horizonte em nossos sentidos inicia-se através do contato da sola dos pés com a superfície terrestre, e do olhar sobre a linha do infinito. O nosso sistema nervoso central adaptará o olhar e as pernas rapidamente se algum desvio ocorrer nesse plano. Linhas paralelas ao solo e olhar se estabelecerão por todo o edifício corporal, formando vários andares no estabelecimento. Contudo, se houver algum desvio na horizontalidade das linhas que cruzam as articulações coxofemoral e glenoumeral, processos de desorganizações estruturais se iniciarão muito rapidamente, desmanchando o equilíbrio ósseo articular do corpo todo, pois destas articulações brotam nossos movimentos de locomoção e manipulação. Os desvios estruturais na cintura escapular e pélvica devem ser imediatamente corrigidos, antes de iniciarmos as trajetórias corretivas do movimento propriamente dito. LINHAS LATERAIS À medida que o peso do corpo se distribui de forma uniforme sobre os pés, estes realizam uma pressão equilibrada sobre o solo; a partir dessa pressão estruturam-se pilares ósteo musculares laterais, que colaboram na sustentação do corpo. Estes pilares são pontos de referências capitais para a manutenção da postura durante a locomoção e manipulação. A situação bípede privilegia um dos braços e mãos para a manipulação, e igualmente em pé ou sentado acentua-se o apoioem um dos lados do corpo. Portanto, a figura geométrica retangular se tornará uma referência sensorial capital para a organização postural e equilíbrio das forças musculares entre os lados do corpo. Tanto o cuidados como o indivíduo que executa os exercícios se apropriarão destas referências para o controle da postura e dos movimentos. Os pés apoiados no globo terrestre exigem que as pernas ajam como alavancas, de modo a ajustarem o apoio do volume da bacia sobre os pés. A bacia, por sua vez, confia à coluna lombar a função de alavanca para que a caixa torácica propriamente dita se apoie sobre ela. E, finalmente, para que o crânio se apoie no topo dessas massas, o pescoço exerce o papel de regulador. Resta saber como cada indivíduo administrará o equilíbrio de suas massas corporais, como constituirá estrutura muscular, ligamentar, óssea e nervosa para manter a cabeça firme sobre o tronco, este íntegro sobre os quadris, a bacia em cima dos pés e estes firmes no solo. Quando ficamos em pé, os músculos das costas e da nuca contraem-se automaticamente para manter a verticalidade do tronco e da cabeça. No entanto, precisamos acionar também os músculos da parede do peito e do abdômen. Caso contrário, o tronco é lançado para trás, a região lombar se fecha, as asas das escápulas aproximam-se, o queixo e o olhar elevam-se e os braços ficam projetados para trás, com cotovelos em flexão. Em consequência, o corpo apoia-se sobre os calcanhares, e os dedos dos pés perdem o contato com o solo. Já a ausência de força dos músculos das costas faz o tronco fechar-se para frente, desenhando uma expressão de envelhecimento. Na posição coordenada existe uma constante transmissão de força de um músculo para o outro, colocando o corpo em prontidão para o movimento. Os músculos extensores apoiam-se nos músculos flexores e vice versa. DISCIPLINA ART6114 – MEMBROS INFERIORES Ministrante: Prof.ª Dr.ª Débora Zamarioli MEMBROS INFERIORES Na posição coordenada existe uma constante transmissão de força de um músculo para o outro, colocando o corpo em prontidão para o movimento. Os músculos extensores apoiam-se nos músculos flexores e vice-versa. Posicionar- se em pé, apoiando-se sobre os calcanhares, anula a transmissão de força muscular, que se inicia na parte anterior dos pés e dirige-se em direção à cabeça, para garantir a postura vertical. A manutenção dessa atividade ocorre por meio de sucessivas micro-oscilações que obrigam o organismo a ajustar-se constantemente. Recrutar conscientemente múltiplas ações no ato de ficar em pé significa preservar uma conquista da espécie humana, elaborada durante milênios. O membro inferior é formado por três unidades de coordenação: pé, bacia e perna. O movimento parte do pé para estender o membro inferior e endireitar o tronco até a cabeça. Como? Primeiro, ocorre um deslocamento do peso para a parte da frente dos pés, onde a pressão dos dedos sobre o solo aumenta para dar início à propulsão de um passo. Esse movimento acontece a partir da articulação do tornozelo, acionada pelos músculos da frente da tíbia (canela), que deslocam esse osso para frente. A bacia, por sua vez, acompanha esse movimento, acionando os glúteos, os músculos rotadores externos da articulação coxofemoral, que desencadeiam um movimento para fora e para baixo. Já o tronco, subordinado a esse conjunto de ações que se iniciaram a partir da relação dos pés contra o solo, suspende-se no espaço por meio do estímulo dos músculos do pescoço, que finalmente sustentam a posição vertical do tronco. Passagem de tensão dos músculos condutores: interósseos plantares, tibial anterior, sartório, iliopsoas. Na passagem de extensão para a flexão da coxa, o fêmur se mantém em rotação externa pela ação coordenada dos músculos. Os músculos que cruzam a articulação coxofemoral e unem as pernas à bacia agem tanto na manutenção da verticalidade quanto na movimentação das pernas. Quando caminhamos, um lado do corpo atua de forma estável, em decorrência da pressão do pé contra o solo, enquanto o outro se torna elástico para alcançar mais um passo, oscilando pendularmente no espaço. Se as articulações coxofemorais não cumprem essas duas funções com propriedade, a coluna fatalmente perde o comprimento a cada passo. A essência da mobilidade da articulação coxofemoral reside no encaixe da cabeça do fêmur em uma cavidade existente no osso da bacia. Essa relação permite inúmeras possibilidades de movimento e adaptações do corpo no espaço. O alinhamento correto da perna propõe uma oposição entre o fêmur que roda para fora, e a tíbia que roda para dentro. A rotação interna da tíbia traz o pé à linha média. DISCIPLINA ART6114 – MEMBROS INFERIORES Ministrante: Prof.ª Dr.ª Débora Zamarioli O PÉ Na psicomotricidade humana, o pé possui várias funções: pressionar o chão, amortecer o impacto do peso do corpo, dar propulsão necessária à locomoção, sinalizar para o cérebro as irregularidades do solo e, vez por outra, momentaneamente, sustentar o peso do corpo. Portanto, quando usamos para ceder à ação da gravidade, anulamos suas funções essenciais. É fundamental manter os pés estruturados, tanto para diminuir a compreensão gerada pela gravidade como pra impulsionar todo o corpo durante o deslocamento. Os principais pontos de pressão dos pés encontram-se no centro do calcanhar, na base do dedão e na base do dedinho, formando o desenho de um triângulo. Entre esses pontos, há ossos que, sustentados por diferentes músculos, formam dois arcos. O arco longitudinal pronuncia-se quando andamos, amortece o peso do corpo e o distribui do calcanhar até os dedos. Ali, o arco transverso o distribui entre o dedão e o dedinho, provocando a propulsão. Quando nos apoiamos no chão, os músculos da sola e do peito do pé contraem-se simultaneamente, equilibrando suas forças. Essa reação imprime ao pé um desenho levemente abobadado, que permite a transmissão da força muscular, de músculo para músculo, até o pescoço. Enquanto caminhamos, a pressão que o pé realiza contra o solo faz com que um lado do abdômen se contraia, induzindo a flexão da perna, enquanto o outro se estende. Essa alternância no tronco dá ao andar um aspecto de flutuação no espaço. DISCIPLINA ART6114 – MEMBROS INFERIORES Ministrante: Prof.ª Dr.ª Débora Zamarioli A BACIA A união entre dois ossos ilíacos e o osso sacro define a linha inominada, formando um anel pélvico. Os ligamentos unem solidariamente os três ossos da bacia. Analisando a estrutura da bacia, medindo e comparando sua largura, altura e espessura, podemos inscrevê-la na figura do quadrado. A percepção desta forma assegura estabilidade à coluna vertebral, oferecendo estrutura para a correção de eixo. O hábito de muitas pessoas de manterem as pernas cruzadas revela a fragilidade da bacia, deixando de atuar como base. Os ligamentos sacro ilíacos, sacro isquiáticos e púbicos consolidam esses três ossos (ilíaco, ísqueo e púbis), transformando a bacia numa âncora, transmitindo e recebendo as cargas das ações das pernas e do tronco agindo como um verdadeiro amortecedor. DISCIPLINA ART6114 – MEMBROS INFERIORES Ministrante: Prof.ª Dr.ª Débora Zamarioli REFERÊNCIAS BERTAZZO, Ivaldo. Corpo Vivo: reeducação do movimento. São Paulo: Edições Sesc, 2010. _______________. Cérebro Ativo: reeducação do movimento.São Paulo: Edições Sesc, 2012. _______________. Gesto Orientado: reeducação do movimento. São Paulo: Edições Sesc, 2014. _______________. Apostila de estudo do Curso de Formação da Escola Ivaldo Bertazzo. São Paulo: Instituto Ivaldo Bertazzo, 2015. http://www.metodobertazzo.com/ https://www.facebook.com/metodoivaldobertazzo
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