Prévia do material em texto
8/10/2017 1 Leguminosas UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CAMPUS GOVERNADOR VALADARES DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO NUT040 – COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS 1. DEFINIÇÃO 2. CLASSIFICAÇÃO DAS LEGUMINOSAS 3. ESTRUTURA DO GRÃO DE LEGUMINOSA 4. COMPOSIÇÃO QUÍMICA DAS LEGUMINOSAS 5. TIPOS DE LEGUMINOSAS Profa. Maria Cristina de A. Barbosa02/08/2017 Definição São grãos contidos em vagens ricas em tecido fibroso (PHILIPPI, 2006). 8/10/2017 2 Classificação das Leguminosas Feijão Grão-de-bico Ervilha Fava Lentilha Tremoço Alfarroba Amendoim Soja GRÃOS OLEAGINOSAS Estrutura do Grão 8/10/2017 3 Estrutura do Grão Casca: constituída de celulose, hemicelulose, lignina e substâncias pécticas (2% a 5% do grão). Semente: apresenta um pequeno embrião que dá origem a uma raiz, a um talo e um par de folhas. Cotilédone: endosperma que armazena o material alimentício da semente e constitui a maior parte da mesma ( 50% de CHO e 23% de PTN) Composição Química Assemelham-se aos alimentos de origem animal pela sua riqueza em proteínas e minerais. Diferem-se pelo reduzido teor de água e riqueza em carboidratos e celulose. 8/10/2017 4 Carboidratos Contêm cerca de 50% de Carboidratos. Os principais presentes nas leguminosas, são: celulose hemicelulose pectina sacarose rafinose estaquiose glicose amido Lipídios O conteúdo de lipídios é muito variável, dependendo da espécie da leguminosa. Podem representar de cerca de 2%, no caso de feijões e ervilhas a até aproximadamente, 20% no caso da soja e 50%, no caso do amendoim. Soja e amendoim são classificados como sementes oleaginosas, devido ao seu alto teor lipídico. O teor de lipídios é, em geral, inversamente proporcional ao teor de carboidratos do grão. 8/10/2017 5 Vitaminas Leguminosas são boas fontes de vitaminas do complexo B, Vitamina E e ácido fólico. A vitamina C está ausente e o conteúdo de vitamina A é insignificante. Minerais As leguminosas são boas fontes de ferro, chegando a conter, em média, de 7 a 12 mg. Contêm também cálcio e fósforo, mas em quantidades inferiores. 8/10/2017 6 Fibras São ricas em fibras solúveis e insolúveis como: celulose, hemiceluloses e substâncias pécticas, podendo chegar a 5%. Proteínas Leguminosas são melhores que cereais como fonte dos aminoácidos essenciais isoleucina, leucina, fenilalanina, treonina e valina e, especialmente, são uma excelente fonte de lisina. Em contrapartida, as leguminosas são pobres nos aminoácidos sulfurados metionina e cistina e os cereais são ricos nos mesmos. 8/10/2017 7 Proteínas ARROZ COM FEIJÃO A combinação de 100g de feijão e 300g de arroz corrige o aminograma, fornecendo a quota diária de proteínas e metade do consumo energético para o adulto. 25g de feijão cru (+/-50g cozido) e 75g de arroz cru (+/-150g cozido) por refeição. Composição Aproximada de 100g de Leguminosa Leguminosa Kcal CHO (g) PTN (g) LIP (g) Ferro (mg) Amendoim cru 581 14 23,7 47,8 2,04 Feijão preto 343,6 62,37 20,74 1,27 4,23 Soja crua 395 10,4 39,4 21,8 6,73 Ervilha seca 336,3 58,4 22,75 1,3 6 Grão-de-bico 364 61,1 18,2 6,2 7,3 Lentilha 340 60,7 23,7 1,3 7 Tremoço 407 28,2 44,3 16,5 6,3 8/10/2017 8 Tipos de Leguminosas Feijões Equiparam-se aos cereais em relação à concentração de carboidratos (cerca de 60%), são ricos em proteínas (mais de 20%) e são pobres em gorduras (menos de 2%). São revestidos por uma película rica em substâncias fenólicas que vão endurecendo com o tempo. Por isso, os feijões recém-colhidos são de fácil cozimento, enquanto os mais velhos demoram mais para cozinhar. Feijões Feijão Preto Feijão Pintado 8/10/2017 9 Feijões Feijão Roxinho Feijão Carioquinha Feijões Feijão Fradinho Feijão Jalo 8/10/2017 10 Feijões Feijão Vagem Feijão Branco Fava Originária da região do mar Cáspio (Ásia) e do norte da África. No Brasil é cultivada na região sul. Produz vagens grandes, dentro das quais formam-se grãos grossos, ovalados, de cor verde-esbranquiçada. Quando verde é considerada uma hortaliça, depois de seca, é uma leguminosa como o feijão. 8/10/2017 11 Grão-de-Bico Originário do Oriente Médio, atualmente é cultivado na América, África do Sul e Austrália. É importante na cozinha espanhola, árabe e das Américas Central e do Sul. Sua semente é muito dura, necessitando ficar de molho antes do cozimento. Seu derivado mais conhecido no Brasil é o humus, um purê de grão de bico temperado com óleo de gergelim consumido com pão. Nos países em que o grão-de-bico é consumido, como Grécia e Espanha, a planta inteira é aproveitada (raiz e semente) Lentilha É originária do Oriente Médio, mas foi trazida para o Brasil pelos europeus e passou a ser cultivada nos estados do Sul. O nome “lentilha” indica o formato das sementes, que se parecem com uma lente côncava. Faz parte também de alguns pratos de origem árabe introduzidos no Brasil, como arroz com lentilha. É consumida também na forma de sopa. 8/10/2017 12 Amendoim São leguminosas de vagens rígidas e crescem debaixo da terra, originárias da América do Sul. Possuem mais gordura e menos amido, sendo ricas em proteínas e vitaminas do complexo B, cálcio e fósforo. O seu teor de tiamina é alto quando cru, mas, quando torrado, grande parte dessa vitamina é destruída. Amendoim amendoim contém de 45 a 50% de óleo, 25 a 30% de proteínas e um grande conteúdo de vitaminas do complexo B. 8/10/2017 13 Ervilha Ervilhas Originária da região mediterrânea, é o grão da vagem de mesmo nome. Pode ser consumida seca ou verde. Quando verde, a vagem é alongada, fibrosa, de cor verde claro e mede aproximadamente 10cm de comprimento. Duas variedades de ervilha fresca podem ser consumidas: a ervilha torta ( da qual são usados os grãos e as vagem) e a ervilha-de-debulhar (da qual apenas o grão pode ser consumido). 8/10/2017 14 Tremoço Tremoço Tremoço é uma leguminosa da mesma família da ervilha e da fava e bastante rico nutricionalmente: possui três vezes mais proteínas e duas vezes mais fósforo do que o leite de vaca, uma quantidade elevada de cálcio, vitaminas E e do complexo B, fósforo, potássio, ácidos gordos insaturados (omega 3 e 6), ferro e fibras. Em regra, a composição nutricional é a seguinte: 36 a 52% de proteína, 5 a 20% de gordura, 30 a 40% de fibra alimentar. 8/10/2017 15 Alfarroba Da semente é extraída a goma, constituída por hidratos de carbono complexos (galactomananos), que têm uma elevada qualidade como espessante, estabilizante e múltiplas utilizações na indústria alimentar, farmacêutica, têxtil e cosmética. Soja 8/10/2017 16 Soja A soja é originária do norte da China. Seu consumo é estimulado pelo budismo, cuja abstenção de carne criou a necessidade de uma boa fonte de proteína vegetal. Até o Século XVII, a soja foi ignorada na Europa e nas Américas, até que o interesse comercial pelo seu óleo (20%) e seu alto conteúdo protéico (cerca de 40%) atraiu a atenção de todos. Soja A soja contém 35 a 40% de proteína, 18 a 22% de lipídios, vitaminas A, C, E e do complexo B, magnésio, enxofre, cloro, potássio. O açúcar presente na soja é pouco aproveitado pelo organismo humano, o que a torna um alimento possível de ser utilizado por diabéticos, desde que não esteja associada a açúcares ou a produtos à base de amido. A quantidade de gordura presente na soja é superior à de outros grãos. 8/10/2017 17 Proteínas da Soja Do ponto de vista nutricional, a proteínada soja é quase completa, contendo os dez aminoácidos essenciais em quantidades adequadas, com exceção da metionina. Padrões de Aminoácidos de Referência (FAO 1973) Aminoácido Padrão FAO/73 Soja Ovo inteiro Leite de vaca Isoleucina 40 42 54 47 Leucina 70 74 86 95 Lisina 55 64 70 78 Sulfurados 35 21 57 33 Fenilalanina +Tirosina 60 79 93 102 Treonina 40 36 47 44 Triptofano 10 17 17 14 Valina 50 43 66 64 8/10/2017 18 Produtos de Soja Fermentada: para a confecção de vários tipos de molhos; Prensada: o que resulta no óleo de soja como "subproduto"; Germinada: servida verde, assemelha-se à ervilha; Moída seca: dá origem à farinha, que pode ser adicionada a outras farinhas, como a de trigo, melhorando seu valor nutricional; Produtos de Soja Moída úmida: empregada para fazer o extrato hidrossolúvel (leite) de soja, substituto do leite de vaca; Coalhada: produz vários tipos de queijo; Extrusada: dá origem aos substitutos da carne. 8/10/2017 19 PTS Proteína Texturizada de Soja Fatores Antinutricionais da Soja A soja contém alguns compostos em pequenas quantidades que são, no seu aspecto nutricional e/ou toxicológico, indesejáveis, portanto, têm que ser desnaturados pelo calor ou eliminados por extração. 8/10/2017 20 Fatores Antinutricionais da Soja Inibidores de proteases: tripsina, protease indispensável à digestão protéica. A sua presença no trato intestinal inibe a ação da tripsina, que é responsável pela digestão das proteínas, levando a um aumento da produção enzimática pelo pâncreas e à hipertrofia deste órgão. O tratamento térmico inativa mais de 90% da atividade dos inibidores de tripsina após 60 minutos a 100°C. Fatores Antinutricionais da Soja Lipoxigenases: oxidam rapidamente os ácidos graxos poliinsaturados, gerando peróxidos de ácidos graxos, que se degradam em compostos voláteis. Estes compostos ligam-se a proteínas e a outros componentes do grão de soja, dando origem ao aroma de capim. A inativação térmica rápida e eficiente destas enzimas, que ocorre a temperaturas superiores a 85°C, previne a formação destes compostos. Cinco minutos em água fervente são suficientes para inativar as lipoxigenases. 8/10/2017 21 Desenvolvimento do sabor ruim pela ação das lipoxigenases Apresenta as enzimas lipoxigenases oxidam rapidamente ácidos graxos poliinsaturados peróxidos de ácidos graxos que se degradam em compostos voláteis, que ligam-se a proteínas e outros componentes do grão de soja dando origem ao aroma de capim. Fatores Antinutricionais da Soja Polissacarídeos causadores de flatulência: rafinose e estaquiose. Esses oligossacarídeos não são digeridos devido à incapacidade das enzimas da mucosa intestinal em hidrolizar as ligações α-1,6, entre os resíduos de galactose característicos destes compostos. Como não são absorvidos intactos, atingem o cólon onde são fermentados pela microflora intestinal , o que leva à produção de hidrogênio, metano e dióxido de carbono, causando a flatulência (COSTA e ROSA, 2008). 8/10/2017 22 Formada por FRU – GLI – GAL; Formada por FRU – GLI – GAL – GAL. 8/10/2017 23 Fatores Antinutricionais da Soja Polissacarídeos causadores de flatulência: rafinose e estaquiose. Quando os grãos secos das leguminosas são deixados de molho , com posterior descarte dessa água, há uma redução significativa no conteúdo de oligossacarídeos e, consequentemente, da flatulência após a ingestão desses grãos assim tratados. No caso da soja, antes de colocar os grãos de molho, é necessário fazer o “choque térmico”, que consiste em ferver os grãos de soja por 5 minutos, descartar a água de fervura e, em seguida enxaguá- los em água fria corrente (COSTA e ROSA, 2008). Fatores Antinutricionais da Soja Esse procedimento prévio ao molho inativa as enzimas lipoxigenases, que são as responsáveis pela formação dos sabores indesejáveis na soja. Os oligossacarídeos são estáveis ao processamento térmico, entretanto o processo de cozimento causa a difusão desses açúcares para a água o que implica no seu descarte (COSTA e ROSA, 2008). 8/10/2017 24 Fatores Antinutricionais da Soja Fitatos O ácido fítico ou seus sais (fitatos) são ambundantes nas leguminosas e representam reservas de fosfato para a planta. A molécula de ácido fítico apresenta alta capacidade de ligação com cátions divalentes (Cu>Zn>Fe>Ca). Os sais formados possuem baixa solubilidade, o que determina sua baixa absorção no trato grastrointestinal. Assim sendo , o principal efeito antinutricional do ácido fítico é a diminuição da biodisponibilidade de minerais. Fatores Antinutricionais da Soja Fitatos Embora em animais experimentais tenha sido confirmada uma menor biodisponibilidade de minerais com a presença de ácido fítico na dieta, os resultados em seres humanos indicam pouco ou nenhum efeito nas quantidades normalmente presentes na dieta. 8/10/2017 25 Soja como alimento funcional O consumo diário da soja tem sido associado à prevenção e ao tratamento de algumas doenças, como a osteoporose, doenças cardiovasculares e algumas formas de câncer. A presença de certas substâncias na soja principalmente das denominadas isoflavonas, com ação preventiva no organismo, faz dela um excelente alimento funcional. As isoflavonas são componentes fitoquímicos naturalmente presentes na soja, integrando uma classe de compostos denominados “fitoestrógenos” por possuírem estruturas químicas semelhantes aos estrógenos naturais e sintéticos. A soja possui três tipos de isoflavonas: daidzeína, genisteína, gliciteína. Soja como alimento funcional Reduz o risco de doenças cardíacas. As isoflavonas podem atuar no organismo inibindo o desenvolvimento da arterosclerose e, consequentemente, o aparecimento de doenças cardiovasculares, diminuindo o LDL- colesterol (“mau”colesterol) e aumentando os níveis de HDL-colesterol (“bom” colesterol); Controla o crescimento e a regulação celular, que atua na inibição de crescimento tumoral; Têm efeito antioxidante, inibindo a produção de oxigênio reativo, que está envolvido na formação de radicais livres. 8/10/2017 26 Soja como alimento funcional Atenua a perda de massa óssea devido à sua ação estrogênica, prevenindo a osteoporose em mulheres na menopausa; É alternativa terapêutica ao tratamento de reposição hormonal tradicional, proporcionando alívio aos sintomas da menopausa (sensação intensa de calor, palpitações, insônia e alteração do humor) Soja como alimento funcional Polissacarídeos causadores de flatulência: rafinose e estaquiose. Quanto aos benefícios para a saúde humana, os oligossacarídeos promovem o desenvolvimento de Bacillus Bifidus no lúmen intestinal, os quais inibem o desenvolvimento de bactérias que produzem material putrefativo, reduzindo os riscos de câncer de cólon. Também diminuem os efeitos danosos de agentes carcinogênicos, como o nitrito. Aumentam a motilidade intestinal, prevenindo a constipação intestinal. 8/10/2017 27 Soja como alimento funcional Saponinas: são glicosídeos que têm a capacidade de hemolisar hemácias e de produzir espuma, quando em solução. A soja é a principal fonte de saponina da dieta. Embora capazes de inibir enzimas digestivas in vitro, este efeito é anulado na presença de outras proteínas. Atualmente, os estudos sobre as saponinas concentram- se mais nos seus possíveis efeitos benéficos para a saúde humana, do que nos seus aspectos antinutricionais: efeitos hipocolesterolemiante, e também demonstram efeito sobre a inibição do desenvolvimento de tumores ( câncer de cólon). REFERÊNCIAS CRAWFORD, A.M. Alimentos, seleção e preparo. 2a edição.Rio de Janeiro: Editora Record, 1985. 375 p. ORNELLAS, L.H. Técnica Dietética: seleção e preparo de alimentos. 8a edição, São Paulo: Atheneu, 2007. 276 p. COSTA, N.M.B; ROSA, C.O.B. Alimentos Funcionais: benefícios para a saúde. Editoras: Neuza Maria Brunoro Costa e Carla Oliveira Barbosa Rosa- Viçosa: 2008. 298p. Costa, N.M.B; Borém A. Biotecnologia e Nutrição. 1ª edição. São Pulo: Nobel, 2003. 214p. BOBBIO, F.O; BOBBIO, P.A. Introdução à Química dos Alimentos. 3ªedição. São Paulo: Varela, 2003. 238p.