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GABARITO LISTA 6

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Monitoria de Teorias da Dinâmica Capitalista / 2016.1
Monitor: Marcos Monteiro
Professor: Ana Cristina Reif de Paula
Lista Nº 6 – Keynes (Caps. 6 à 10)
1) Explique como se dá a relação entre Poupança e Investimento para Keynes.
Como a Renda (Y) é a soma de Consumo (C) mais Investimento (I), isto é: Y = C + I, porém a Poupança (S) é toda a diferença entre a Renda e o que se gasta com consumo, necessariamente a Poupança é igual ao Investimento. Na teoria clássica, a relação entre poupança e investimento determinava a taxa de juros da economia, na chamada Teoria dos Fundos Emprestáveis, onde além da consequente igualdade entre Poupança e Investimento, para determinar a taxa de juros “i”, a causalidade se dá como sendo S I, isto é, a Poupança é que determina o Investimento da Economia. O gráfico abaixo mostra essa relação, onde caso haja um desequilíbrio entre poupança e investimento, isso vai ser reajustado por mudanças na taxa de juros, e temos a relação inversamente proporcional entre taxa de juros e investimento:
Como contraponto à esta teoria, e considerando algumas hipóteses distintas, Keynes determina a taxa de juros da economia de outra forma. Para Keynes, a taxa de juros é determinada pela oferta e demanda por moeda da economia, levando em consideração a importância da Preferência pela Liquidez (prêmio pela liquidez), onde a moeda ganha um caráter ativo, e o agente receberia um “prêmio” (taxa de juros) por abrir mão do consumo no momento atual, já que a moeda age como um importante aliado contra a incerteza do sistema. Assim, temos:
Y = C + I (consumo induzido pela renda)
Y – C = I (nível de consumo é endógeno)
S = I (investimento determina poupança, e não o contrário)
Nesse caso, com o Investimento determinando a Poupança da economia, a Poupança se torna residual (é o que sobra do consumo, torna-se resíduo, onde o consumo e o investimento decidem quando produzir, e como consequência o investimento é a causalidade para a poupança). Por exemplo, se tivermos um aumento da propensão (média) à poupar da economia, e o consumo cair, dado o investimento, o que ocorre é a redução da renda, em função da queda do multiplicador, permanecendo a poupança igual e determinada pelo investimento, resultado da diferença de uma renda menor e um consumo menor. Desta forma, a Teoria dos Fundos Emprestáveis é falsa, em que, de fato, na economia decide-se por consumir, mas não se pode decidir por poupar, e além disso, a igualdade entre S = I é sempre válida, e independe da taxa de juros.
Graficamente, a taxa de juros para Keynes é determinada da seguinte maneira:
2) Apresente e caracterize os fatores objetivos da propensão a consumir. Aponte também quais são os fatores de maior relevância, de acordo com Keynes. 
Os determinantes do Consumo, de acordo com Keynes são: Renda, Fatores Objetivos e Fatores Subjetivos. Vale ressaltar que, em relação aos fatores objetivos, cabe destacar os seis fatores:
i)Variação na unidade de salário (consumo é função da renda real)
O Consumo depende mais da renda real do que da renda nominal.
ii)Variação na diferença entre renda e renda líquida
Keynes aponta que o Consumo é um elemento que apresenta maior dependência em relação à renda líquida, sendo assim, variações na diferença entre renda líquida e renda podem impactar na propensão a consumir, em que quanto menor a diferença (e consequentemente maior for a renda líquida), maior será o consumo. Entretanto, acaba por ser importante ressaltar que o autor não aponta este fator objetivo como relevante (sendo somente em casos especiais, em que há formação de provisão financeira superior aos gastos, fato que pode levar em redução do nível de consumo sem elevação suficiente do nível de investimento).
iii)Variações imprevistas nos valores de capital não considerados no cálculo da renda líquida;
A valorização ou desvalorização de títulos e/ou ações apresentarão impacto na propensão a consumir, no curto prazo (e logicamente podem afetar o nível de consumo devido ao efeito riqueza). Apontado por Keynes como um dos fatores objetivos mais relevantes para modificar a propensão a consumir.
iv)Variação na taxa intertemporal de desconto;
Se uma pessoa se beneficia de um aumento inesperado do valor de seu capital, seus motivos para gastar no período corrente são afetados. Do mesmo modo que uma perda de capital leva ao menor gasto. Mas este efeito já foi capturado no item anterior. Por outro lado, pequenas variações na taxa de juros não têm no modelo de Keynes, o mesmo papel que no modelo neoclássico. O aumento da taxa de juros não leva a uma menor disposição ao consumo presente buscando maior consumo futuro. Keynes difere dos clássicos, afirmando que alterações no curto prazo na taxa de juros, desde que não sejam muito significativas, vão ter pouco impacto sobre os gastos em consumo. 
v)Variações na política Fiscal
Variações da tributação sobre lucros e sobre heranças podem alterar o nível de consumo em relação à renda. Por exemplo, a elevação dos impostos sobre lucros diminui a renda disponível do empresário, reduzindo seu consumo em relação a sua renda total. Já uma tributação sobre heranças desestimula a poupança, elevando a propensão a consumir. Além disso, vale apontar que políticas de redistribuição de renda também geram impactos sobre a propensão a consumir (no caso, a busca por maior igualdade entre rendas pode levar a aumento na propensão a consumir).
Outro ponto importante a ser abordado envolve a austeridade fiscal, em que um governo pode se comportar como uma empresa, optando por reter recursos com o objetivo de pagar despesas futuras, levando a um aumento nos fundos de amortização e promovendo queda na propensão a consumir média da economia.
vi)Modificações das expectativas acerca da relação entre níveis presentes e futuros da renda
Essas expectativas (sendo positivas ou não) apresentam uma tendência para anulação, se compensando na economia como um todo. Nesse sentido, Keynes aponta que seus efeitos não apresentaram impactos, em relação a propensão a consumir.
Por fim, acaba por ser fundamental comentar que a propensão a consumir é uma função relativamente estável, eliminando-se assim as variações salariais, sofrendo modificações somente em casos de flutuações imprevistas nos valores de capital e variações consideráveis em relação a política fiscal e a taxa intertemporal de desconto. Sendo assim, o Consumo depende principalmente de variações no nível de renda. 
3) Apresente e caracterize os fatores subjetivos da propensão a consumir: 
São 8 (oito) os motivos ou fins de caráter subjetivos em virtude dos quais os indivíduos se abstêm de gastar sua renda. Esses motivos podem ser chamados de Precaução, Previdência, Cálculo, Melhoria, Independência, Iniciativa, Orgulho e Avareza.
Os fatores subjetivos são, portanto, aqueles que estão relacionados a necessidades subjetivas, elementos de caráter psicológico que sofrem variações apenas no longo prazo. Inclui-se aqui características psicológicas da natureza humana, além de costumes sociais, mesmo que não mutáveis, com pouca mudança ao longo de um curto período de tempo. São eles:
-Precaução: Constituir reserva para fazer face à contingência;
-Previdência: Programar-se para uma relação futura prevista entre renda e necessidades do indivíduo e família (velhice, educação dos filhos e sustento de pessoas dependentes);
-Cálculo: Beneficiar-se de juro e valorização (optar por um consumo real maior no futuro, em relação a um consumo atual inferior);
-Melhoria: Desfrutar de um gasto progressivamente crescente;
-Independência: Desfrutar de uma sensação de independência;
-Iniciativa: Garantir disponibilidade para realizar projetos especulativos ou econômicos;
-Orgulho: Legar uma fortuna;
-Avareza: Satisfazer a pura avareza;
Variações de curto prazo no nível de consumo dependem, em grande parte, de alteração no ritmo com que se ganha a renda (medida em unidades de salário) e não de variações na propensão a consumir uma parte de determinada renda. Visto queos fatores subjetivos mudam de forma muito lenta e que a própria propensão é relativamente estável. A propensão a consumir média em cada país é mais ou menos igual ao longo de um (curto) período de tempo, mudando entre países, dependendo também do montante de renda.
4) Descreva a Lei Psicológica fundamental que envolve a propensão a consumir e sua implicação para diferentes níveis de renda:
A Lei Psicológica Fundamental apresenta que aumentos no nível de renda geram aumentos no nível de consumo, mas em proporção inferior, uma vez que os agentes ajustam de maneira imperfeita e com alguma defasagem seus padrões de consumo frente a variações da renda. 
Além disso, acaba por ser fundamental ressaltar que: baixos níveis de renda apresentam maior propensão a consumir, até pela necessidade de satisfação das necessidades básicas, havendo pouca margem para poupança. Para níveis de renda mais altos, a propensão a consumir é menor, pois é maior margem entre a renda e as necessidades básicas, o que permite aos agentes satisfazer os motivos que os levam a poupar. Ou seja, a propensão média a consumir cai com o aumento da renda. 
5) Explique a importância do multiplicador para Keynes, ressaltando a diferença entre sua teoria lógica e o efeito progressivo do Investimento (ao longo do tempo) sobre o emprego e qual sua relação com a propensão marginal a consumir:
A primeira consideração a ser feita sobre o multiplicador é que leva tempo – e não se sabe quanto – para que ele opere completamente. Portanto, o efeito prático do multiplicador é apenas potencial, ou seja, suas relações não são inteiramente previsíveis, porque há incerteza e podem haver mudanças no meio do caminho. A função consumo de Keynes é determinada por:
C = Co + c1 Yd, onde (0 < c1 < 1)
C = consumo;
C = consumo autônomo;
c1 = propensão marginal a consumir média da economia;
Yd = renda disponível (Yd = Y – T , sendo T as tributações e Y a renda total);
Supondo uma situação onde, dada a equação da Demanda Agregada: 
Y = C’ + I + G’ + X’ – M’ , e se tem uma variação de “100” em I, isso gera variação de “100” em Y, dado o efeito multiplicador, sendo necessário para tal, haver um consumo induzido pela renda (↑∆100I ↑∆100Y). Uma questão é que a queda do consumo, devido à redução da propensão marginal a consumir, reduz os gastos agregados e provoca desemprego e queda na renda futura, em termos agregados. 
Dito isso, o multiplicador é um elemento fundamental para a compreensão da relação existente entre níveis de renda e o investimento, dada a propensão a consumir (relativamente estável). O multiplicador existe porque há gastos induzidos pela renda. Ou seja, no modelo de Keynes, o consumo induzido pela renda faz com que o aumento de algum dos gastos autônomos, como o investimento, ao aumentar a renda, aumente o consumo de acordo com a propensão a consumir, levando a novas rodadas de aumento na renda e do consumo. Desse modo, a propensão acaba por determinar o incremento do consumo em função do incremento da renda e acaba também permitindo a determinação do multiplicador (que reflete o aumento da renda em relação ao aumento do investimento ou algum dos componentes dos gastos autônomos, como o gasto do governo).
A teoria lógica do multiplicador é sempre válida, mas vale ressaltar que existe um lapso temporal para que seus efeitos práticos ocorram. Por exemplo, não necessariamente as variações nos níveis de investimento podem ser previstas, podendo impactar no setor de bens de consumo, que terá de se adaptar, apenas com alguma defasagem.
A propensão a consumir tem influência no multiplicador, sendo que ambos apresentam uma relação diretamente proporcional, em que uma variação no montante do investimento apresenta maior efeito multiplicador sobre a renda quanto maior for a propensão a consumir. 
Ou seja, quanto maior a PMgC e, portanto, o multiplicador, uma pequena variação no nível de investimento vai gerar grande variação no nível de renda. E quanto menor a PMgC e, portanto, o multiplicador, uma pequena variação no investimento vai gerar pequena variação na renda (e consequentemente no nível de emprego). Vale ressaltar que o multiplicador é SEMPRE válido, mesmo que ocorra alguma mudança (um choque de oferta, por exemplo) no cenário econômico vigente.

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