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Pró-reitoria de EaD e CCDD 1 Análise de Cenários Econômicos Aula 6 Prof. Joaquim Israel Ribas Pereira Pró-reitoria de EaD e CCDD 2 Conversa Inicial Chegamos à etapa final da disciplina de Análise de Cenários Econômicos. Vamos agora aglutinar os conhecimentos já adquiridos e percorrer os últimos passos para ajustar nossa análise. Essencialmente, como já mencionamos em aula anterior, esta é uma disciplina que exige ampla gama de conhecimentos. Além disso, cabe ao analista manter-se o mais atento possível aos acontecimentos. Esperamos que esta disciplina, bem como toda a literatura apresentada nestas aulas, seja apenas o primeiro passo para o aprofundamento dos seus estudos sobre o tema. Contextualizando Nesta aula, os últimos cinco temas da nossa disciplina irão enfocar a montagem no planejamento por cenários. Veremos como montar uma análise de cenários em cinco passos: primeiramente, definiremos nosso propósito; depois, passaremos pela identificação das variáveis; efetuaremos, então, a análise dessas variáveis; e, por fim, procederemos à apresentação dos cenários e suas consequências. Posteriormente, teremos que calibrar as análises a partir dos riscos encontrados. Para tanto, eles deverão ser qualificados, listados e medidos com base na exposição da empresa. No Tema 3, listaremos as principais fontes de dados para pesquisa em economia, enfocando o lado prático. O conhecimento dessas bases é bastante útil para quem segue a carreira de gestor. Passaremos, então, no Tema 4, para uma análise de cenários. Consideraremos as influências do entorno, mostrando a importância de não ignorar as interferências advindas de outros municípios, estados etc. Por fim, no Tema 5, apresentaremos um exemplo prático simplificado de como é feita a análise por um grande banco investidor. Pró-reitoria de EaD e CCDD 3 Pesquise Pesquise sobre os relatórios anuais do Banco Central, enumere todos os grupos de variáveis apresentadas no relatório e, por fim, reflita sobre como esse relatório pode ser útil para análises econômicas. Tema 1 – Montagem de um Cenário Econômico Passo a Passo Nesta aula, vamos montar passo a passo uma análise de cenários, seguindo as recomendações de Aswath Damodaran (2009). Para tanto, vamos usar um esquema dividido em cinco partes: 1) identificação do objetivo; 2) identificação dos fatores-chaves; 3) análise dos fatores; 4) geração dos cenários; 5) levantamento das consequências. O primeiro passo em qualquer análise de cenário consiste em definir precisamente o propósito com o qual os cenários serão desenvolvidos. Perguntas tais como “de qual setor da economia estamos tratando?”, “a empresa está preocupada com o setor externo?”, “como é a relação da empresa com o setor público?”, “a análise está calibrada com a realidade?” auxiliam-nos a iniciar o processo de construção de cenários. No começo dos estudos, será natural definir os limites da análise, considerando qual será o objeto de que ela se ocupará. Por exemplo, a abertura de uma empresa de importação de produtos eletrônicos não pode deixar de lado considerações sobre fatores relacionados ao setor externo, como câmbio, regulação do governo, tarifas de importação, acordos comerciais. Outra faceta importante, que diz respeito às delimitações que devem ser Pró-reitoria de EaD e CCDD 4 feitas: se estivermos tratando de uma empresa que está inserida num setor muito dinâmico, devemos trabalhar com períodos mais curtos. Por exemplo, se estivermos produzindo cenários econômicos para o mercado de software, estes devem conter previsões para 6 meses, 1 ano ou, no máximo, 5 anos. O mesmo não acontecerá se estivermos tratando do mercado de petróleo, muito mais estável e tradicional do ponto de vista econômico. O segundo passo é a identificação das variáveis-chave, que são fatores importantes, capazes de influenciar os resultados de uma empresa. Ao longo do curso, apresentamos os principais fatores da economia, como a taxa Selic, a inflação, o desemprego, a oferta agregada, a demanda agregada, o câmbio etc. Serão estes os fatores que integrarão a análise, a qual requer conhecimento da sua natureza e de como eles interagem. Claramente, para escolher as variáveis a serem analisadas, é necessária uma base teórica. Entretanto, podemos afirmar que parte dessa escolha irá depender de intuição. Recorrendo à sua experiência e à sua capacidade de observação, você pode ir além do usual e incluir uma variável diferente. Um exemplo importante a ser citado foi o caso da petroleira Shell, nos anos 1970, que desenvolveu cenários para a empresa caso acontecesse o fim da União Soviética, um evento que afetaria a oferta total de petróleo. O risco do fim da União Soviética partiu de uma observação diferenciada de um analista da Shell. O terceiro passo é a análise das variáveis escolhidas. Será nessa fase que, após definidas as variáveis, serão traçadas hipóteses fundamentadas nos riscos e incertezas. Para deixar mais claro, vamos recorrer a um exemplo: você quer descrever os possíveis cenários do crescimento do PIB. O mais provável é um crescimento de 2%; entretanto, existem riscos que podem deslocar esse crescimento para cima ou para baixo. Portanto, será o risco de causar um crescimento do PIB abaixo ou acima do previsto o determinante para a criação dos cenários. Deverá ser levada em consideração ainda, a incerteza que permeia os Pró-reitoria de EaD e CCDD 5 choques externos, como as decorrentes de mudanças bruscas no governo, impactos ambientais, guerras etc. Nessa etapa do processo, o analista deverá ter um bom conhecimento de fontes estatísticas. Há centenas de dados espalhadas por diferentes fontes de informação. Um bom analista deve conhecer mais do que somente o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) O quarto passo é a própria geração de cenário. Não existem regras que determinem como ele deve ser apresentado, o que confere liberdade ao analista para procurar o meio mais intuitivo de apresentar cenários. O que vamos fazer aqui é apresentar uma maneira básica, mas ainda assim de qualidade, que permita condensar formalmente os cenários apresentados. Uma dúvida natural que irá surgir é qual a quantidade ideal de cenários? Facilmente, podemos mencionar três (mais provável, riscos positivos, riscos negativos). Entretanto, uma análise que se ampara em somente três cenários pode se revelar demasiadamente simples. Por outro lado, um número excessivo de cenários pode levar a erros e dificuldades de entendimento. Recomenda-se a utilização de seis cenários, ou seja, um cenário mais provável, dois cenários para hipóteses positivas na economia, dois para hipóteses negativas, e um que leve em consideração um choque externo, que possa causar grandes danos. Por fim, o quinto passo é a apresentação das consequências para a empresa. Uma vez que estabelecemos que há uma possibilidade de crescimento acima do esperado, devemos apresentar qual é a consequência disso para a empresa. Nessa fase, estamos percorrendo o caminho do ambiente macroeconômico para dentro da empresa. Por exemplo, se uma empresa trabalha com a venda de móveis, provavelmente um crescimento econômico irá induzir maior demanda para os seus produtos. Devemos lembrar que a análise de cenários econômicos não prescreve qual deve ser a tomada de decisão da empresa, mas sim quais são os possíveis futuros pelos qual a empresa poderá passar. Caberá aos gestores Pró-reitoriade EaD e CCDD 6 utilizar as informações fornecidas na análise para suas tomadas de decisão. Vejamos o Quadro 1, que indica um formato base para a apresentação de cenários econômicos. Quadro 1 – Modelo base para apresentação de cenários Expansão robusta da economia Melhor que o esperado Cenário- base – mais provável Pior que o esperado Queda brusca da economia Choque externo PIB Muito acima Acima de 2% 2% Abaixo de 2% Muito Abaixo Choque negativo imprevisto Consequências Após entender, passo a passo, a construção da análise de cenários, teremos que calibrar essa análise para as hipóteses ou riscos. Veremos, no próximo tema, como analisar os riscos. Tema 2 – Analisando os Riscos Além de identificar o comportamento das variáveis que apresentamos ao longo das aulas, devemos sempre calibrar a análise de cenários para os riscos a que a empresa estará exposta. O processo de desenvolver uma qualificação dos riscos necessita de um exame dos riscos imediatos, gerados pela competição entre os concorrentes, e daqueles determinados pelas alterações macroeconômicos. Devemos ter cuidado metodológico para não misturar as consequências de cada risco. Vamos apresentar três passos para qualificar os riscos que podem ser encontrados no caminho de uma empresa, seguindo a metodologia de Damodaran (2009). Liste os riscos: vamos considerar que você trabalhe em uma empresa de importação de café colombiano de alta qualidade, que embala e Pró-reitoria de EaD e CCDD 7 vende o café para diferentes franquias em todo o Brasil. Esse tipo de processo expõe a uma diversidade de riscos. Há o risco de instabilidade política na Colômbia, ou o risco ambiental na produção. Há o risco da volatilidade da taxa de câmbio. Dependendo da quantidade e dos tipos de trabalhadores contratados, estaremos expostos a questões trabalhistas. Como vamos trabalhar com distribuição de produtos para diferentes estados brasileiros, teremos problemas de variações tributárias, como alterações na regra do ICMS, por exemplo. Por fim e não menos importante, temos de considerar as possíveis oscilações na demanda do produto. Você deve ter notado que quanto maior o tamanho do negócio, maiores serão os riscos que a empresa enfrentará. Classifique os riscos: como existe uma ampla gama de riscos, o próximo passo é separá-los em categorias. A tendência é que a resposta aos riscos dentro da mesma categoria seja similar, tornando-os mais administráveis. Há quatro formas de classificar os riscos: a) Risco de mercado versus risco específico: devemos diferenciar os riscos que afetam somente a empresa e os riscos que afetam uma parcela ou a totalidade do mercado. No primeiro caso, a empresa pode optar por alterações no capital, permitindo minorar os riscos. Entretanto, um risco que assole o mercado afetará o investimento como um todo, diminuindo os retornos. b) Risco operacional versus risco financeiro: há diferenças entre os riscos derivados das escolhas financeiras. Por exemplo, os decorrentes de uma opção incorreta por linha de financiamento ou de operações fracassadas no mercado financeiro são diferentes dos riscos relacionados às operações da empresa, como o atraso no recebimento da matéria-prima. c) Riscos contínuos versus riscos de evento: riscos contínuos são aqueles que apresentam um histórico de ocorrência mais Pró-reitoria de EaD e CCDD 8 frequente, e diferem bastante de riscos como terremotos, guerras, epidemias, que afetam os negócios de maneira sazonal. d) Riscos catastróficos versus riscos menores: Alguns riscos são pequenos e afetam de maneira diminuta o lucro; outros exercem impacto muito maior. Exemplo: uma companhia de distribuição de energia sofre com riscos constantes de famílias lançarem mão de roubo de energia. Trata-se, portanto, de um risco diferente do de ocorrer uma explosão numa subestação, por falta de manutenção. Meça a exposição ao risco: Uma vez identificados e classificados os riscos, a sequência lógica será a mensuração da exposição aos riscos. A pergunta natural que se apresentará aqui é o que será afetado pelo risco? Basicamente, podemos medir as consequências dos riscos sobre os lucros da empresa, ou a própria receita. Podem-se discutir também os efeitos sobre o patrimônio de uma empresa. Para encontrar a sensibilidade do lucro ou o valor da empresa para cada variável econômica é necessário que a empresa tenha registros históricos de sua contabilidade. Por meio desses registros é possível, utilizando métodos estatísticos, mensurar a sensibilidade do lucro sobre as variáveis. Naturalmente, em empresas de maior porte e de capital aberto, será mais fácil capturar essas informações. Após seguir esses passos, caberá a você transformar os resultados encontrados em um relatório conciso. Competirá ao tomador de decisão da empresa encontrar alternativas para protegê-la contra os riscos identificados, e calcular os custos dessa proteção, analisando sempre a relação custos- benefícios. Tema 3 – Obtendo os Dados para a Análise Veremos neste tema uma fase importante para qualquer análise: a obtenção de dados. Esta etapa será mais exaustiva, considerando a Pró-reitoria de EaD e CCDD 9 quantidade de fontes, mas deve servir como um apanhado bibliográfico, que certamente será útil na sua carreira. Vamos enumerar a seguir diversas fontes para diferentes dados socioeconômicos. 1) Banco Central do Brasil (Bacen): será a principal fonte de dados para tudo que se relacione com Balanço de Pagamentos, moeda, câmbio, dados sobre dívida externa e dívida interna, dados sobre emissão de títulos públicos, dados sobre taxas de juros e poupança e operações de crédito. 2) Banco Mundial/World Development Indicators (WDI): o site do Banco Mundial fornece dados sobre economia internacional, PIB e outros indicadores de diferentes países. 3) Confederação Nacional da Indústria (CNI): além de fornecer dados sobre comércio internacional, emprego e produção, a CNI calcula dados também sobre percepção e as expectativas da indústria e do governo. 4) Fundação Getúlio Vargas (FGV)/Conjuntura Econômica: calcula alguns índices de inflação e da capacidade instalada da indústria. 5) Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese): acompanha dados sobre o índice de preços da cesta básica de consumo da população. 6) Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): certamente umas das mais completas bases de dados em economia, fornece informações sobre emprego, câmbio, comércio exterior, contas nacionais, indicadores sociais, renda, segurança pública e investimentos. 7) Agências reguladoras (Anac, Antaq, Anatel, ANP): compilam dados sobre transporte (aéreo e aquaviário), produção de petróleo, e informam a quantidade de telefones fixos e móveis no Brasil. 8) Datasus (site do Sistema Único de Saúde, SUS): fornece dados sobre segurança pública, número de homicídios, atendimento hospitalar, número de UTIs. Pró-reitoria de EaD e CCDD 10 9) Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio): calcula o Índice Firjan de Desenvolvimento de Municipal (IFDM), que acompanha anualmente o desenvolvimento socioeconômico dos municípios brasileiros. É importante como uma proxy para a qualidade institucional. 10) Fundação Instituto de Pesquisa Econômicas (Fipe): calcula o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e fornece um dos principais índices de preços de imóveis no País, o Índice Fipezap para imóveis alugados evendidos. 11) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): sem dúvida, a principal fonte de dados no Brasil. Fornece informações sobre agropecuária; consumo e vendas; contas (PIB), tanto nacionais quanto estaduais; mercado de trabalho; inflação (IPCA); dados populacionais; produção industrial; dados sobre o setor de serviços e comércio; e disponibiliza projeções para as taxas de população, fecundidade e mortalidade. Há uma dezena de fontes de dados econômicos, como as assembleias estaduais, o Ipardes, as demais federações estaduais da indústria etc. Entretanto, cabe nesse primeiro momento fazer uma apresentação das mais importantes. Essencialmente, a gestão e o conhecimento dessas bases de dados são passos importantes para obter informações estratégicas, permitindo uma gestão eficiente da empresa. A partir da filtragem das informações importantes para a sua análise, é possível extrair inferências mais precisas. Por outro lado, assim como precisamos selecionar as melhores informações sobre o ambiente econômico, é necessário que as informações internas da empresa estejam disponíveis e corretas, apresentadas da melhor maneira possível. Por exemplo, sabemos que a inflação tende a diminuir o consumo, mas com informações sobre a demanda dos produtos da empresa, é possível estimar de forma mais precisa os seus efeitos. A ciência evoluiu de forma razoável para possibilitar uma análise sólida Pró-reitoria de EaD e CCDD 11 dos efeitos do ambiente sobre a empresa. Esses efeitos podem ser calculados por meio de instrumentos contábeis e/ou estatísticos, estimando-se os seus impactos sobre o resultado financeiro ou os coeficientes de correlação. Tema 4 – Análise de Cenários Regionais Até o momento, fizemos descrições metodológicas gerais que podem, em princípio, ser aplicadas a macrossistemas — mundo, país — cujo futuro se deseja antecipar como apoio à tomada de decisão dos gestores. Entretanto, devemos apresentar algumas orientações enquanto estivermos tratando de cenários regionais, estes entendidos como cortes territoriais de algum país. É claro que toda região tem uma relação de dependência com o seu entorno, da mesma forma que um país apresenta dependência, em maior ou menor grau, do exterior. De maneira geral, a região — município, estado — deve ser observada como um subsistema do nacional e do internacional. Convém lembrar, também, que a relação de influência entre grupos ocorre sempre do maior para o menor, ou seja, o ambiente internacional influencia a nação, que, por sua vez, influencia a região. Deve ter ficado claro que estamos partindo da hipótese de que existe uma hierarquia linear, na qual as macrorregiões exercem impacto sobre as microrregiões. Trata-se, obviamente, de uma simplificação bastante consistente com a realidade, quando se trata de regiões sem alguma forma de articulação. Pró-reitoria de EaD e CCDD 12 Figura 1 – Representação da estrutura de cenário internacionais e nacionais para regionais Fonte: Adaptado de Buarque, 2016. Você deve ter notado que, se quisermos uma análise com maiores detalhes, podemos construir alguns cenários internacionais e outros nacionais, para, aí sim, montar os cenários regionais. Entretanto, isso acaba por abrir excessivamente o leque de alternativas. Para solucionar isso de certa maneira, entendendo que as combinações têm diferentes graus de consistência e de sustentabilidade, devem-se utilizar três critérios, conforme recomendação de Buarque (2016): Análise de consistência: descartar os cenários que não conversam de maneira lógica entre si. Exemplo: se os cenários internacionais e nacionais estão trabalhando, em sua maioria, com queda na arrecadação do governo, certamente isso irá influenciar as regiões, tanto estados quanto municípios. Agrupamento das combinações com alto grau de semelhança qualitativa final, ou seja, cenários com consequências semelhantes podem ser agrupados em um só. Por exemplo, se o Congresso Nacional altera as regras do ICMS, isso afeta individualmente cada estado, mas de maneira muito similar. Pró-reitoria de EaD e CCDD 13 Seleção das combinações que apresentam maior grau de sustentação política por parte dos atores sociais, isto é, podemos eliminar cenários que considerem um governo privatizando bancos públicos, caso não haja nenhum apoio político para tanto. Tema 5 – Um Exemplo Prático de Cenários Econômicos Prezado aluno, chegamos ao último tema desta disciplina. Você deve ter entendido as linhas mestras do planejamento com cenários, apesar de este envolver uma ampla gama de outras disciplinas. Esperamos que você esteja se sentindo estimulado a continuar explorando o planejamento com cenários, aprofundando-se ainda mais nas referências apresentadas durantes as aulas. Apesar de nos concentrarmos principalmente na análise econômica, podemos usar a mesma base de análise para outras interfaces, como marketing, gestão de projetos, demografia etc. O planejamento por cenários é uma disciplina que tem uma forte base teórica, dada a necessidade de entender as relações de efeito e causa na economia, mas com caráter essencialmente prático. Pensando nisso, vamos apresentar um resumo dos principais pontos da análise de cenários do banco Morgan Stanley, um dos maiores bancos de investimento do mundo. Vejamos, no Quadro 2, as projeções do Morgan Stanley, feitas em março de 2014, para ano de 2015. O banco projetou seis cenários, sendo um deles para choque externo, e considerou cinco variáveis econômicas para sua análise: crescimento econômico, ganhos da bolsa de valores, inflação, taxa de juros dos títulos americanos e crescimento médio do mundo. Pró-reitoria de EaD e CCDD 14 Quadro 2 – Resumo da análise de cenários do banco Morgan Stanley Fonte: Adaptado de Darst, 2016. O banco projetou uma análise considerando toda a economia americana, com o objetivo de fornecer projeções para seus clientes, não sendo, portanto, uma análise específica de determinado setor industrial ou comercial. O banco fornece ainda, na mesma análise, um quadro informado as consequências de cada cenário. Os analistas do banco recomendam que esta análise seja tomada como conjunto de estimativas que podem ou não ocorrer, dada a incerteza no futuro, e que, portanto, caberá ao cliente adotar todas as precauções necessárias. Além desta, o banco faz outras quatro ressalvas: O retorno dos investimentos será diferente para cada cenário, e irá depender fundamentalmente da forma como eles sejam alocados; Apesar de o relatório apresentar somente seis cenários, os clientes devem considerar que há diversos pontos intermediários entre cada um Cresciment o econômico robusto Cresciment o acima do esperado Crescendo, mas abaixo do desejado Crescendo , mas lentamente Possível recessã o Choque externo Probabilidade de ocorrência 10% 15% 50% 10% 10% 5% PIB +3,2% +2,9% +2,7% +2,3% +1,9% +1,0% Inflação +2,1% +1,8% +1,6% 1,5% +1,2% +1,0% Bolsa de Valores +11% +9,0% +5,9% +5,0% +3,0% 0% Taxa de juros dos títulos +4,25% +3,85% +3,45% +3,10% +2,50% +2,00% Crescimento médio do mundo +4,0% +3,9% +3,7% +3,5% +3,0% +2,5% Pró-reitoria de EaD e CCDD 15 deles. É possível que somente parte da projeção se realize, isto é, pode ser que somente quatro dos cinco fatores analisados fiquem dentro do estimado. O cenário de choque externo é o de maior dificuldade de acerto, ou seja, a probabilidadeestimada de 5% também é a que requer mais atenção, visto que as incertezas inerentes aos choques não apresentam probabilidade direta de ocorrência. Por fim, as análises podem ser ajustadas ao longo do tempo para que se encontrem cenários mais prováveis. Trocando ideias Discuta no fórum quais as perspectivas para a economia no próximo ano, qual será o crescimento do PIB? Como ficará o câmbio? Como você baseou sua análise? Você recomendaria investimento em Bolsa de Valores? Quais as perspectivas? Na Prática Prezado aluno, sabemos que a tarefa de fazer previsão é algo relativamente difícil. Por isso, uma dica é tabular as previsões do relatório Focus. Lembramos que esse relatório é uma compilação das previsões das principais consultorias do país. Portanto, a partir do último relatório, apresente as principais previsões para o próximo ano. Por fim, faça uma explicação breve dessas previsões. Protocolo de resolução da situação proposta Basicamente, este exercício testa a sua capacidade de entendimento e Pró-reitoria de EaD e CCDD 16 explicação. Para isso, podemos resumir em três passos o que será necessário para esse trabalho: 1) Encontrar o último relatório Focus, disponível no site do Banco Central. 2) Compilar os dados de previsão para o próximo ano, apresentando-os, se possível, por meio de tabelas e quadros. 3) Por fim, discutir as previsões. Não existe uma regra para esse ponto: aqui, vale o talento do analista. Resolução do caso Quadro 3 - Resumo do relatório Focus Variável Atual Previsão final de 2017 Tendência IPCA 9,38 5,72 Queda Taxa de câmbio 3,54 3,91 Alta Taxa Selic 14,25 11,75 Queda PIB -3,89 0,40 Alta Crescimento da produção industrial -5,8% 0,54 Alta Fonte: Brasil, 2016. Numa primeira observação, todos os fatores apresentam perspectivas de melhora para o ano de 2017. Observando os gráficos do histórico de inflação (Figura 2), podemos ver que após o pico da inflação, em dezembro de 2015, os valores mostraram uma tendência de queda. Pró-reitoria de EaD e CCDD 17 Figura 2 – Principais índices de inflação Fonte: Brasil, 2016. O cenário mais esperando para a inflação ao final de 2017 é de 5,72, portanto, dentro do estabelecido pelo Regime de Metas de inflação. Note que o índice IPC-Fipe é o que apresenta a maior resistência à queda. Como o índice é medido somente na capital paulista, o esperado é que as famílias paulistas notem uma diminuição muito amena. Uma queda na inflação irá permitir uma redução na taxa Selic: a previsão é de uma diminuição de 2,5%. Espera-se, portanto, uma melhora no setor de crédito e bancário para 2017. O desempenho da indústria é o que mostra a maior fragilidade no nível de atividade. Ele exibe uma forte retração no ano de 2016, caminhando, apesar da melhora, para um baixo resultado também em 2017. O câmbio apresentou valorização em 2016, devido aos acontecimentos políticos que deram alento ao mercado. Entretanto, as expectativas do mercado são de que o câmbio permaneça acima dos R$ 3,90, favorecendo os setores exportadores e prejudicando os setores que precisam de insumos importados. Pró-reitoria de EaD e CCDD 18 Por fim, o PIB, que apresentou resultados negativos para 2015 e 2016, terá um pequeno resultado positivo, mostrando que a economia continua em marcha lenta. Síntese Vimos, inicialmente, como montar uma análise de cenários por meio de cinco passos, definindo primeiramente o propósito e o destinatário da nossa apresentação. O passo seguinte foi a identificação das variáveis importantes, procedendo, então, à análise e, por fim, à apresentação dos cenários e suas consequências. Mostramos, em seguida, como calibrar as análises com base nos riscos encontrados. Para isso, é necessário que os riscos sejam qualificados e listados. Posteriormente, é preciso medir qual será a exposição da empresa aos mesmos. No Tema 3, foram listadas as principais fontes de dados para pesquisa em economia, como o Banco Central, o IBGE, o Ipea, a CNI etc. O conhecimento dessas bases será essencial para uma análise mais precisa. Discutimos, no Tema 4, as influências do entorno, mostrando a importância de levar em consideração mudanças regulatórias ou tributários do município ou do estado. Por fim, no Tema 5, apresentamos um exemplo prático: a análise produzida pelo banco Morgan Stanley. Verificamos como se efetua uma análise que considera seis cenários e as variáveis econômicas selecionadas. Referências BRASIL. Banco Central do Brasil. Focus – relatório de mercado, abr. 2016. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?FOCUSRELMERC> Acesso em: 6 set. 2016. Pró-reitoria de EaD e CCDD 19 BUARQUE, S. C. Metodologia e técnicas de construção de cenários globais e regionais. Texto para discussão n. 939. Brasília: Ipea, fev. 2003. Disponível em: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/2865/1/TD_939.pdf> Acesso em: 6 set. 2016. DAMODARAN, A. Gestão estratégica do risco. Porto Alegre: Bookman, 2009. DARST, D. M. Hypothetical Economic and Financial Scenario Analysis for 2014. Análise de cenários para o banco Morgan Stanley, mar. 2014. Disponível em: <http://www.morganstanleypwa.com/public/projectfiles/ad4a2de3-11f0-4b9f- b7f0-d696174c34ab.pdf>. Acesso em: 6 set. 2016.
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