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Faculdade Nacional de Direito – Universidade Federal do Rio de Janeiro Resenha: O Quarto de Jack (2015) Professora: Carolina Duarte Zambonato – Filosofia Geral Ingrid Caroline Grandini Rodrigues O Quarto de Jack Antes de iniciar a resenha do filme, a qual é a finalidade desse trabalho, façamos uma síntese sobre o Mito, ou Alegoria, da Caverna de Platão. O mito em questão é uma passagem do livro “A Republica” do filósofo grego, Platão. Por muitos é considerada muito mais uma alegoria do que um mito, pelo fato de poder representar metaforicamente diversas situações do nosso dia-a-dia de descobertas. É através dessa metáfora que é possível conhecer uma das mais importantes teorias platônicas: Como é possível, através do conhecimento, captar a existência do mundo sensível (conhecimento adquirido através dos sentidos) e o mundo inteligível (conhecimento adquirido unicamente pela razão). O Mito é sobre prisioneiros que estão nessa situação desde o momento do nascimento. Essas pessoas estão presas por correntes dentro de uma caverna voltada para o fundo da mesma que é iluminado pela luz gerada por uma fogueira. Com isso, nessa parede, são projetadas sombras representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando aos prisioneiros cenas corriqueiras do dia-a-dia. Resta aos prisioneiros que deem nomes às imagens vistas, analise e julgue as situações. Supondo que um dos prisioneiros fosse forçado a sair das correntes para explorar o interior da caverna e ir além atingindo o mundo externo. Ao entrar em contato com a realidade, tomaria conta de que a vida toda passou analisando apenas projeções . Ao entrar em contato com o mundo real ficaria encantado com os seres em seu estado natural, sem distorções ou penumbras. Ao retornar a caverna e contar a experiência para os demais prisioneiros seria ridicularizado, pois as pessoas do interior da caverna só são capazes de crer naquilo que vêm. É exatamente isso que acontece no filme “O Quarto de Jack”, drama canadense –irlandês de 2015, dirigido por Lenny Abrahamson e com roteiro de Emma Donoghue, baseado no livro homônimo . Devido sua genialidade o filme foi indicado a diversos prêmios de diversos festivais, entre eles o Oscar 2016. O filme inicia com duas pessoas em um quarto, mãe e filho, Joy e Jack. Durante o começo do filme nada passa de uma mostra de cotidiano de mãe e filho em um quarto. A data em que a história começa a ser passada para o espectador é o dia do aniversário de cinco anos do jovem Jack. Após alguns minutos podemos perceber que aquilo não é simplesmente um quarto de uma casa qualquer, é um galpão, um cativeiro, sem janelas (apenas com uma claraboia no telhado voltada para o céu) e com apenas uma porta, a qual é necessário uma senha para o destrave (obviamente apenas o sequestrador possui tal senha). A verdade é que o livro, no qual o filme foi inspirado, também tem certa inspiração, porém em uma história real conhecida como “O monstro de Amstetten”. Sucintamente, a austríaca Elizabeth Fritzl viveu presa em um porão durante 24 anos. O seu sequestrador foi seu próprio pai, que a estuprava frequentemente e com quem teve 7 filhos. Diferente de Elizabeth, Joy não foi sequestrada por seu pai, e sim por um qualquer que, quando a garota tinha 17 anos, simulou que estava com um cachorro doente e pediu ajuda da moça. Voltando ao dia do aniversário de Jack, no fim daquela noite, Joy o coloca para dormir dentre de um armário. Nesse momento do filme, o sequestrador, denominado pela mãe e pelo filho de “velho Nick” (ninguém sabe o nome verdadeiro do rapaz), adentra o galpão e conversa sobre algumas coisas com a mãe de Jack. Em seguida ele se despe, e fica nítido o motivo pelo qual Joy coloca o menino para dormir no armário, ela não quer que ele veja Nick a estuprando. Nesse momento do filme já é perceptível que Jack é fruto de um dos estupros que Joy sofreu durante todos esses anos de sequestro. Já havia se passado sete anos do sequestro de Joy, e ela priva o filho de todas as formas possível a ter um contato com o sequestrador. Jack não conhece o mundo real, ele vive desde o nascimento preso naquele galpão que podemos relacionar com a caverna da Alegoria de Platão. O menino não acredita que existam coisas fora daquele espaço. Para ele é simples pensar que o mar não pode existir, não pode ser real, porque ele simplesmente não cabe naquele espaço que ele vive. As árvores não cabem naquele espaço. O menino crê que tudo aquilo que ele vê na televisão é inventado. Inclusive as pessoas. O que existe de verdade são apenas ele, a mãe e o velho Nick. No momento em que a mãe de Jack começa a contar para ele que ela nem sempre morou naquele quarto, e que existiam coisas do outro lado da parede o menino se revolta pois não consegue acreditar que tudo que ele acreditou que era imaginação poderia ser real, não conseguia crer na existência de um mundo fora daquele quarto, como se qualquer coisa que tivesse fora do quarto estivesse perdido diretamente no espaço sideral. Ela explica para o menino que as coisas que passam na televisão realmente existem, e que a comida que eles comem não aparece por pura e simples mágica, com exceção de “Dora, a aventureira” – desenho preferido do menino – que realmente não existe, e é apenas um desenho. “Você ‘tá’ me enganando! Mentirosa da língua cor-de-rosa! (...) Essa história é chata! O quarto não é fedido! Eu não acredito no seu mundo fedido” – diz Jack com raiva. Joy, então começa a criar meios de sair daquele lugar e apresentar ao Jack o mundo fora do quarto. Uma das tentativas foi fingir que o menino estava doente para , dessa forma, tirá-lo do quarto. Sem sucesso, ela opta por enrolar o garoto em um tapete e fingir a morte dele, pedindo para que Nick levasse o “defunto” para longe daquele lugar. Ao som de “Ficar. Rolar. Pular. Correr. Alguém.” Jack sai do quarto, atrás de ajuda. Ao se desenrolar do tapete, encontra o céu e as nuvens, e fica hipnotizado com o que vê. O menino então consegue escapar da caminhonete de Nick e pedir ajuda para um rapaz que passeia com um cachorro. Nesse instante a polícia é acionada e começam a ajudar o menino a falar. Ele sente muita dificuldade na comunicação com outra pessoa, pois para ele, até aquele momento, só existiam ele, a mãe e o Nick, o resto era tudo criação da televisão. Com apenas algumas informações os oficiais conseguem localizar o cativeiro onde está Joy, e a libertam. Desse momento em diante, Jack começa a descobrir o mundo que não conhecia. Cada objeto observado é único, é sua primeira experiência com o mundo real. Ao mesmo tempo que “O quarto de Jack” conta a história de cativeiro e liberdade, destaca o triunfante poder do amor familiar apesar das piores circunstâncias.É impressionante como Lenny Abrahamson conseguiu trabalhar o assunto. As lagrimas do espectador vem naturalmente cena pós cena, principalmente na cena de reencontro dos dois após Jack ter saído do cativeiro.
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