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DIREITO PENAL I 1 INTRODUÇÃO 1. Conceito de Direito Penal: é o conjunto de normas que tem por objeto a cominação de infrações penais e suas respectivas sanções. 2. Classificação doutrinária: a. Direito Penal Objetivo e Subjetivo i. Objetivo: são as próprias normas penais em vigor no país. Exemplo: Código Penal e Leis Penais Extravagantes ii. Subjetivo: é o direito de punir incumbido ao Estado. 1. Positivo: o Estado possui a capacidade de criar e executar as normas penais. 2. Negativo: o STF, através da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), tem a competência de interpretar e restringir alguns preceitos legais. b. Direito Penal Comum e Especial i. Comum: a Justiça Comum tem a competência de aplicar as Leis Penais Extravagantes e o Código Penal. ii. Especial: cabe a Justiça Militar julgar as infrações penais previstas no Código Penal Militar, atuando como Juizado Especial. c. Direito Penal Substantivo e Adjetivo i. Substantivo: são as normas legislativas em sentido material. ii. Adjetivo: normas em sentido formal (Processo Penal). d. Direito Penal “do Autor” e “do Fato” i. do Autor: autor (pessoa) que cometeu o ato ilícito. ii. do Fato: considera o fato em si mesmo. 3. Caracteres do Direito Penal a. Finalidade preventiva: prevenção geral ≠ ato previsto em lei. É mais específica quanto à prevenção. b. Ciência normativa: estuda a norma. c. Valorativo: para cada conduta ilícita, há uma valoração (ou sanção). d. Finalista: tem por finalidade proteger o bem jurídico. e. Sancionador: aplica sanções aos atos ilícitos praticados. 4. Missões do Direito Penal a. Missão mediata: controle social e limitação do poder punitivo do Estado. b. Missão imediata: DIREITO PENAL I 2 1ª corrente (prevalece): proteger os bens jurídicos. 2ª corrente: fazer cumprir e assegurar a vigência da norma. 5. Movimentos Penais a. Abolicionismo: é a não aplicação do Direito Penal e aplicação de outros meios de controle social. b. Garantismo Penal: está relacionado ao Estado que possui poder punitivo, mas respeitando as garantias previstas nas normas. c. Funcionalismo: trata-se da função do Direito Penal no que concerne a corrente da missão imediata. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL 1. Princípios Relacionados com a Missão Fundamental do Direito Penal a. Exclusiva proteção dos bens jurídicos: bens difusos e coletivos. b. Princípio da intervenção mínima: o Direito Penal deve ser utilizado como ultima ratio, ou seja, como último recurso. Quando todas as outras formas de controle social falharem, recorre-se ao Direito Penal. c. Princípio da fragmentariedade: seleciona os bens que realmente são importantes para o Direito Penal. Exemplo: a vida. d. Princípio da insignificância: i. Tipicidade formal: é quando a conduta se encaixa perfeitamente à norma. Exemplo: João mata José. ii. Tipicidade conglobante (analogia global) 1. Tipicidade material: bem material destruído ou deteriorado. Exemplo: João incendeia a casa de José. 2. Antinormatividade: a conduta deve estar prevista em lei. Logo: O princípio da insignificância existirá quando não houver a tipicidade formal e a tipicidade conglobante. e. Princípio da adequação social: i. Para o legislador: quais bens e condutas são relevantes ou não, levando em consideração a evolução social. Exemplo: o antigo crime de adultério. ii. Para o magistrado: restringir a adequação da norma. 2. Princípios Relacionados ao Fato do Agente DIREITO PENAL I 3 a. Princípio da exteriorização (ou materialização) do fato: é o ato praticado em si mesmo. Em outras palavras, é quando o agente pratica ato motivado por sua vontade. b. Princípio da legalidade ou da reserva legal (art. 1º, do CP): não há crime ou contravenção, nem pena ou medida de segurança sem: i. Lei complementar ou ordinária (apenas essas duas formas normativas); ii. Lei anterior: a lei deve existir antes da prática do ato. iii. Lei escrita: exclui-se o direito consuetudinário para fundamentação ou agravação da pena. iv. Lei certa (princípio da taxatividade ou da determinação): se exige dos tipos penais mais clareza, não devendo deixar margens a dúvidas, permitindo o pleno entendimento do tipo penal. v. Lei estrita e certa: é proibida o uso de analogia para criar tipo incriminador, fundamentar ou agravar a pena. vi. Lei necessária: desdobramento lógico do princípio da intervenção mínima. Observação: Princípio da legalidade vs. Tipo aberto e norma penal em branco. Lei completa: não precisa de nenhuma norma que a complemente. Lei incompleta (preceito primário): o Tipo aberto: é a valoração da conduta dependendo das circunstâncias em que a conduta fora praticada. o Norma penal em branco Própria (ou heterogênea): em sentido estrito, precisa do complemento de uma portaria ou de um regulamento. Jamais será completada por uma lei ou parte dela. Exemplo: a Lei de Drogas necessita da portaria da ANVISA que elenca as substâncias consideradas entorpecentes. Imprópria (ou homogênea): em sentido amplo, a norma é complementada por outra lei. Homovitelina: norma que está dentro da mesma lei. Exemplo: art. 312, do CP. Heterovitelina: o complemento se encontra em outra lei. Exemplo: art. 236, do CP = os impedimentos para a celebração do casamento estão dentro do CC. DIREITO PENAL I 4 o Norma penal em branco ao revés: preceito secundário que remete a outra norma que complete a sua sanção (ou consequência jurídica) e não a conduta. Exemplo: Lei de Genocídio (Lei 2889/1956). NORMA PENAL EM BRANCO PRÓPRIAS IMPRÓPRIAS O complemento é dado pela mesma espécie normativa. Ex.: lei complementada por outra lei. HOMOVITELINA HERETOVITELINA O complemento é dado por outra espécie de norma. Ex.: portaria. O complemento se encontra na mesma norma. Ex.: no crime de peculato (art. 312 do CP), a elementar “funcionário público” está descrita no art. 327 do CP. O complemento se contra em outra norma. Ex.: impedimento de casamento no art. 236, do CP; as hipóteses impeditivas estão dentro do CC. c. Princípio da ofensividade: trata do perigo concreto ao bem jurídico em conjunto com o princípio da insignificância e da fragmentariedade. 3. Princípios relacionados com o agente do fato a. Princípio da responsabilidade pessoal: proíbe a responsabilidade pelo fato de outra pessoa em conjunto com o princípio da individualização da pena. Assim, o coautor e o partícipe não podem receber o mesmo tratamento do autor da conduta. b. Princípio da culpabilidade: dolo e culpa. c. Princípio da responsabilidade subjetiva: cada agente responde exatamente pelo que praticou. (vide princípio da responsabilidade pessoal e princípio da individualização da pena) d. Princípio da presunção de inocência: ninguém será culpado até que se prove o contrário. Também chamado de “princípio da não culpabilidade”. 4. Princípios relacionados com a pena a. Princípio da dignidade da pessoa humana: art. 5º, XLVII da CF/88. b. Princípio da individualização da pena: cada pessoa responde pelo ato praticado. c. Princípio da proporcionalidade: caráter valorativo do ato praticado. d. Princípio da pessoalidade: a pena não se estende a afins ou próximos do acusado. FONTES DO DIREITO PENAL 1. Fonte material: fonte de produção da norma Art. 22, I, CF/88 Art. 22, Parágrafo único, CF/88. 2. Fonte formal: exposição da norma. a. Classificação tradicional DIREITO PENAL I 5 i. Imediata: lei ii. Mediata: costumes e princípios gerais do Direito b. Classificação moderna (Rogério Sanches) i. Imediatas Lei ConstituiçãoFederal de 1988 Tratados e Convenções Internacionais Jurisprudência Princípios Complementos da norma penal em branco ii. Mediata: doutrina. iii. Fonte informal do Direito Penal: costumes. 3. Características da Lei Penal a. Exclusividade: apenas a lei, em sentido estrito, pode criar um tipo penal e suas sanções. b. Imperatividade: norma coagente; imposta a todos. c. Generalidade: todos têm que obedecer. d. Impessoalidade: dirige-se absolutamente aos fatos e não às pessoas que praticaram o ato. 4. Classificação da Lei Penal a. Lei Penal Incriminadora: define os tipos penais e suas sanções. Usa dos preceitos primário e secundário. b. Lei Penal não Incriminadora: i. Permissiva 1. Justificante: excludente de ilicitude. Exemplo: arts. 24 e 25, CP. 2. Exculpante: exclui a culpabilidade. Exemplos: ECA; art. 28, § 1º, CP. ii. Explicativa ou interrogativa: explica uma expressão ou palavra. Exemplo: art. 327, CP. iii. Complementar: delimita a aplicação da lei penal. Exemplo: arts. 5º e 6º, CP. iv. Interrogativa ou de extensão: a sua inexistência implica a inexistência de tipo penal. Exemplo: art. 121 + art. 1º, ambos do CP. (vide princípio da legalidade). 5. Interpretação da Lei Penal a. Formas de interpretação i. Quanto ao sujeito ou à origem: é a pessoa que interpretará a lei penal. 1. Autêntica ou legislativa: é fornecida pela própria lei. É a interpretação da letra da lei. DIREITO PENAL I 6 a. Contextual: quando o corpo da lei interpreta. b. Posterior: quando outra lei interpreta. 2. Doutrinária: é realizada pelos jurisconsultos (ou doutrinadores) a exposição de motivos existentes no Código Penal é doutrinária e não autêntica. 3. Jurisprudencial: é a interpretação dos tribunais. Exemplo: Súmulas Vinculantes. ii. Quanto ao modo 1. Gramatical ou literal: o que está expressamente escrito na lei (letra da lei). 2. Teleológica: é a vontade do legislador buscando conhecer a finalidade e o objetivo. 3. Histórica: está relacionada ao momento histórico na sociedade em que a lei foi criada. 4. Sistemática: o artigo é interpretado em conjunto com outra norma. Exemplo: ECA + CP. 5. Logica: métodos indutivos e dedutivos. 6. Progressiva ou evolutiva: é o significativo do termo de acordo com a evolução da sociedade. Exemplo: crime de adultério. iii. Quanto ao resultado 1. Declarativa: exatamente o que o legislador quis dizer. 2. Restritiva: restringe a interpretação declarativa. 3. Extensiva: amplia a interpretação declarativa. iv. Interpretação analógica: art. 121, § 2º, III = são as qualificadoras do crime de homicídio. 6. Integração da Lei Penal Interpretação Extensiva (sentido amplo) Interpretação Analógica Interpretação Extensiva (sentido estrito) DIREITO PENAL I 7 a. Ubi eadem ratio idem jus: onde houver o mesmo fundamento, haverá o mesmo direito. b. Ubi eadem legis ratio ibi eadem dispositio: onde impera a mesma razão, deve ser a mesma decisão. LEI PENAL NO TEMPO 1. Tempo do crime a. Teorias (art. 4º, CP) i. Atividade: o momento do ato será o momento da ação ou omissão. Essa teoria é a adotada pelo Direito brasileiro. ii. Resultado: o momento do ato é o momento do resultado da ação ou omissão. iii. Mista: considera o momento do ato tanto a ação como a omissão juntos. 2. Sucessão das Leis Penais no Tempo a. Extra atividade da Lei Penal: é a capacidade que tem a lei penal de se movimentar no tempo regulando fatos ocorridos durante a sua vigência, mesmo depois de ter sido revogada, ou de retroagir no tempo, a fim de regular situações ocorridas anteriormente à sua vigência, desde que benéficas ao agente. i. O princípio da irretroatividade vige somente em relação à lei mais severa, sendo admitida a aplicação retroativa da lei mais benigna. ii. Ultra atividade: é a aplicação da lei mesmo cessada a sua vigência. Ou seja, é a aplicação de uma lei temporária e/ou intermediária. b. Regra geral: art. 5º, XL, CF/88. c. Lei mais benéfica: prevalece sobre a mais severa, prolongando-se além do instante de sua revogação ou retroagindo ao tempo em que não tinha vigência. É ultra-ativa e retroativa. d. Lei mais severa: não retroage, nem possui eficácia além do momento de sua revogação. Não é retroativa, nem ultra-ativa. ação resultado ação resultado DIREITO PENAL I 8 e. Novatio legis incriminadora: uma nova lei cria um novo crime. Neste caso, a lei é irretroativa por prejudicar o agente. f. Novatio legis in pejus (Súmula711, STF): é a modificação de uma lei que já existe. É irretroativa quando não tratar de crimes continuados (seriais killers, por exemplo) e crimes permanentes (sequestro, por exemplo). i. A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. g. Abolitio criminis ou novatio legis (art. 2º, CP): revoga todos os efeitos penais com exceção dos extrapenais (multas, por exemplo), sendo ela retroativa. i. Conduz a chamada descriminalização, ou seja, o fato que anteriormente era considerado como uma infração penal passa a ser considerado como um indiferente penal. Data do julgamento Conduta “A” é lícita 2000 Nova lei prevê a conduta “A” como ilícita 2003 2005 Irretroativa Vigência da lei penal incriminadora Data do julgamento Conduta “A” é ilícita 2000 Nova lei torna conduta “A” mais grave 2003 2005 Irretroativa = Ultratividade Vigência da lei penal incriminadora Lei revoga conduta “A” Data do julgamento Conduta “A” é ilícita 2000 2003 2005 Retroativa DIREITO PENAL I 9 h. Novatio legis in mellius: a lei é modificada de forma a beneficiar sem excluir o crime ou a contravenção, sendo ela retroativa. i. Princípio da continuidade normativo típica: é quando um tipo penal é revogado, mas o seu conteúdo de qualificação passa a incorporar outro tipo penal. i. A abolitio criminis pressupõe a revogação da lei anterior (ou parte dela) que tornava determinada conduta típica. Porém, essa revogação nem sempre culmina na "abolitio criminis". Isso porque a conduta descrita na norma revogada pode continuar tipificada em outro diploma legal. E esse fenômeno é denominado pela doutrina como princípio da continuidade normativo-típica. 3. Lei Temporária e Lei Excepcional a. Lei temporária (art. 3º, CP): possui validade temporária tendo em seu texto data prefixada do tempo de vigência. b. Lei excepcional: é aquela que atende às necessidades transitórias do Estado em casos de calamidade pública, guerras, revoluções, etc.. c. Autorrevogação: o termino da vigência das leis excepcionais e temporárias não depende de revogação por lei posterior, fugindo à regra geral. Cessadas as circunstâncias determinadoras das excepcionais, cessa a sua vigência. d. Ultra-atividade: as leis temporais e excepcionais serão aplicadas ao fato típico mesmo que sua vigência cesse. 4. Lei Intermediária a. Efeitos: retroatividade e ultra-atividade. LEI PENAL NO ESPAÇO Vigência da lei penal mais grave Nova lei torna conduta “A” mais benéfica Data do julgamento Conduta “A” é ilícita 2000 2003 2005 Retroativa DIREITO PENAL I 10 A lei penal de um país está diretamente ligada à sua soberania, daí porque sua validade aparece limitada no espaço dentro do qual se reconhece dentro dacomunidade internacional, o exercício da soberania. Há situações de fato, porém, em que se mostra possível a aplicação da lei penal de dois ou mais Estados. A lei penal brasileira só tem aplicação nos limites do território nacional, independente da nacionalidade do agente, da vítima ou do objeto jurídico. 1. Princípios aplicáveis a. Princípio da territorialidade: não leva em consideração a nacionalidade do agente, da vítima ou do bem (objeto), mas sim o local (território) do crime. Prevalecerá a lei do local do crime. b. Princípio da nacionalidade ou personalidade ativa: leva em consideração a personalidade do agente e não da vítima ou do bem. Aqui prevalecerá a lei do país de origem do agente. c. Princípio da nacionalidade ou personalidade passiva: leva em consideração a nacionalidade da vítima e não do agente ou bem. Neste caso, prevalecerá a lei do país de origem da vítima. d. Princípio da defesa: é levada em consideração a nacionalidade dos bens tutelados. Prevalecerá a lei do país de origem dos bens. e. Princípio da justiça penal universal ou da justiça cosmopolita: tutela um bem de acordo com a sua nacionalidade, independente da nacionalidade do agente e/ou da vítima. Exemplo: crime de genocídio. f. Princípios da representação ou do pavilhão ou da bandeira: são as infrações penais ocorridas no interior de embarcações ou aeronaves, levando em consideração a nacionalidade destes. 2. Regra a. Art. 5º, caput, CP: territorialidade temperada – não há prejuízos dos Tratados Internacionais. PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE PRINCÍPIO DA EXTRATERRITORIALIDADE PRINCÍPIO DA INTRATERRITORIALIDADE LOCAL DO CRIME Brasil País estrangeiro Brasil LEI APLICADA Brasileira Brasileira Lei estrangeira DIREITO PENAL I 11 3. Território nacional: espaço físico + espaço jurídico (art. 5º, §§ 1º e 2º, CP). Observações: Embaixada Direito de passagem inocente (Lei 8.617/1993) 4. Lugar do crime a. Teorias (art. 6º, CP) i. Atividade: o lugar do crime é onde foi cometida a ação. ii. Resultado: o lugar do crime é o lugar do resultado. iii. Ubiquidade (teoria mista): atividade + resultado. É a teoria adotada no Brasil. 5. Extraterritorialidade a. Incondicionada (art. 7º, I, CP): não necessita de não nenhuma condição para aplicação da norma. b. Condicionada (art. 7º, II, §2º, CP): necessita das condições expressas no §2º para aplicação da norma. c. Hiperincondicionada (art. 7º, II, §3º, CP): necessita das condições expressas nos §§ 2º e 3º para aplicação da norma. Art. 7º, I, a, b, c Princípio da defesa Incondicionada Art. 7º, I, d Princípio da justiça universal Incondicionada Art. 7º, II, a Princípio da justiça universal Condicionada Art. 7º, II, b Princípio da nacionalidade ativa Condicionada Art. 7º, II, c Princípio da representação Condicionada Art. 7º, §3º Princípio da nacionalidade Hiperincondicionada EFICÁCIA DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS 1. São prerrogativas funcionais e não de privilégios, ou seja, são prerrogativas relacionadas à função exercida. 2. Imunidades diplomáticas a. Convenção de Viena em 1961 = Decreto 56.435/1965 b. Chefes de Estado ou de Governo estrangeiro e sua família e membros da sua comitiva. c. Embaixador e sua família. d. Funcionários do corpo diplomático e sua família. e. Funcionários das organizações internacionais quando em exercício i. Intraterritorialidade: prevalecerá à lei do país de origem dos funcionários, mesmo no caso de infrações penais previstas pela legislação brasileira e não pela estrangeira. DIREITO PENAL I 12 Observações: Diplomata vs. Obediência ao ordenamento jurídico brasileiro. Natureza jurídica da imunidade diplomática: para a maioria da doutrina é causa pessoal de isenção de pena, abrangendo qualquer crime, sem exceção dos crimes praticados em razão da função exercida. 3. Imunidades parlamentares: previstas na CF/88. a. Imunidade parlamentar absoluta (ou material, ou substancial, ou indenidade). i. Art. 53, caput, CF/88. ii. Natureza jurídica (para o STF): fato atípico. Exemplo: Embargos infringentes no Mensalão. iii. Limites da imunidade parlamentar material: palavras, opiniões e votos. 1. Exclusivamente dentro das dependências do parlamento: presunção em razão da função. 2. Fora das dependências do parlamento: apresentação de prova. b. Imunidade parlamentar relativa (art. 53, §§ 1º ao 8º, CF/88): i. Relativa ao foro (art. 53, §1º, CF/88). 1. Foro por prerrogativa de função. 2. Pelo princípio da simetria, aplica-se também aos Deputados Estaduais e Vereadores. ii. Relativa à prisão (art. 53, §2º, CF/88): apenas em flagrante delito e em crimes inafiançáveis. 1. Prisão civil contra congressista devedor de alimentos 1ª corrente: é cabível. 2ª corrente: não é cabível. 3ª corrente: é cabível para os alimentos definitivos e não é cabível para os alimentos provisórios. iii. Relativa ao processo (art. 53, §§ 3º ao 5º, CF/88): após a diplomação. iv. Relativa à condição de testemunha (art. 53, §6º, CF/88). Observações: Estado de sítio: haverá imunidades parlamentares, salvo por votação das duas casas (arts. 137 a 139, CF/88). Parlamentar licenciado: não há imunidades. 4. Imunidades dos Deputados Estaduais (art. 27, §1º, CF/88). a. Princípio da simetria DIREITO PENAL I 13 5. Imunidades dos Vereadores (art. 29, VIII, CF/88). 6. Foro por prerrogativa de função: será mais forte, se determinado pela CF/88. a. Tribunal do júri. DISPOSIÇÕES FINAIS 1. Eficácia da sentença estrangeira (art. 9º, CP). a. Órgão permanente: STJ; art. 105, I, i, CF/88. b. Obrigação de reparar o dano, restrições e outros efeitos civis: pedido da parte interessada. c. Medida de segurança: tratado de extradição por requisição do Ministro da Justiça. Observação: Na extraterritorialidade incondicionada – integridade física do Presidente da República. 2. Contagem do prazo a. Prazos processuais penais (art. 798, §1º, CPP): i. Caráter formal; ii. Exclui o dia do início e inclui o dai do fim; iii. Não se incluem os finais de semana e feriados oficiais (locais ou nacionais), apenas os dias úteis. 3. Frações não compatíveis da pena (art. 11, CP): frações diárias e monetárias não sendo incluídos os minutos, os segundos e os centavos de reais. 4. Conflito aparente de normas a. Pressupostos i. Unidade do fato ii. Pluralidade de normas simultaneamente vigentes. b. Princípio da especialidade (art. 12, do CP): afasta-se a lei geral para a aplicação da lei especial. Lei especial é aquela que contém todos os elementos da norma geral, acrescida de outros que a tornam distinta. O tipo especial preenche integralmente o tipo geral, com a adição de elementos particulares. c. Princípio da subsidiariedade: uma lei tem caráter subsidiário relativamente a outra (a principal) quando o fato por ela incriminado é também incriminado por outra, tendo um âmbito de aplicação comum, mas abrangência diversa. A relação entre as normas (subsidiária e principal) é de maior ou menor gravidade (e não de espécie e gênero). A norma subsidiária atua apenas quando o fato não se subsuma a crime mais grave. Podem ser: DIREITO PENAL I 14 i. Expressa: quando a lei prevê a subsidiariedade explicitamente, anunciando a não aplicação da norma menos grave quando presente a mais grave. Exemplo: arts. 132 e 307 do CP. ii. Tácita: quando a um delito de menor gravidade cede diante da presença de um delito de maior gravidade, integrando aquele a descrição típica deste. Exemplo: arts. 311 e 302 do CTB. d. Princípio da consunção ouprincípio da absorção: o crime previsto por uma norma (consumida) não passa de uma fase de realização do crime previsto por outra (consuntiva) ou é uma forma normal de transição para o último (crime progressivo). Hipóteses: i. Progressão criminosa: há dois fatos e o agente primeiro quer o menor e depois decide praticar o maior (no âmbito de proteção do mesmo bem jurídico), havendo, portanto substituição do dolo. Exemplo: o agente quer ferir. Depois de ofender a integridade corporal da vítima decide mata-la. ii. Crime progressivo: ocorre quando o agente para alcançar um resultado/crime mais grave passa, necessariamente, por um crime menos grave. O agente só responde pelo resultado mais grave, ficando absorvidas as lesões anteriores ao bem jurídico. Exemplo: para matar o agente, necessariamente, deve ofender a integridade corporal da vítima. 1. Elementos: a. Unidade de elemento subjetivo; b. Unidade de fato; c. Pluralidade de atos; d. Progressividade na lesão ao bem jurídico. iii. Antefato impunível: são fatos anteriores, não obrigatórios, mas que estão na linha de desdobramento da ofensa mais grave, numa relação de fatos meios para fatos fins. Exemplo: violação de domicílio para furtar. iv. Pós-fato impunível: o agente, depois de já ofender o bem jurídico, incrementa a lesão. Pode ser considerado um exaurimento do crime principal. Exemplo: danificar o produto do furto. a. Princípio da alternatividade: ocorre quando a norma descreve várias formas de realização da figura típica, em que a realização de uma ou de todas configura um único crime. São os chamados tipos mistos alternativos, os quais descrevem crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado. Exemplo: o art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006 (Lei de DIREITO PENAL I 15 Drogas), que descreve dezoito formas de prática do tráfico ilícito de drogas, mas tanto a realização de uma quanto a de várias modalidades configurará sempre um único crime. TEORIA GERAL DO DELITO (OU CRIME) 1. Conceito de Infração Penal a. Enfoque formal: é o que está escrito na lei como infração penal com sua respectiva sanção. Em outras palavras, é o comportamento previsto em uma norma penal incriminadora (ou o tipo penal incriminador) sob a ameaça de sanção penal. b. Enfoque material: são comportamentos humanos indesejados que causam irrelevante lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico penalmente tutelado (protegido) e, portanto, passível de sanção penal. c. Enfoque analítico: leva em conta os elementos do crime. Dependerá da teoria adotada: causalista, neokantista ou finalista. 2. Diferenças entre crime e contravenção penal CARACTERÍTICAS CRIME/DELITO CONTRAVENÇÃO PENAL Tipo de pena privativa de liberdade Reclusão e/ou multa; Detenção e/ou multa. Prisão simples; Prisão simples e/ou multa; Multa. Espécie de ação penal Ação Penal Pública Incondicionada; Ação Penal Pública Condicionada; Ação penal Privada. Ação Penal Pública Incondicionada (art. 17 da LCP). Tentativa É admitida e é punível pelo Código Penal. Não é admitida e, portanto, não punível (art. 4º da LCP). Extraterritorialidade (infrações praticadas fora do Brasil) Há extraterritorialidade (art. 7º do CP). Não há extraterritorialidade (art. 2º da LCP). Limite de cumprimento da pena ou tempo máximo da condenação (Súmula 715 do STF) 3 anos (art. 75 do CP). 5 anos (art. 10 da LCP). Julgamento Justiça Estadual e Justiça Federal. Justiça Estadual, ainda que atinjam bens ou interesses da União (art. 109, IV da CF/88). Observações: O Brasil adota o sistema dualista Crime – Código Penal e Leis Penais Extravagantes Contravenção Penal – Lei de Contravenções Penais Infração Penal DIREITO PENAL I 16 Os benefícios da execução penal, como a progressão do regime mais grave para a mais branda, do regime fechado para o semiaberto, para o aberto e livramento condicional, são calculados sobre o total da pena da condenação e não sobre os 30 ou 5 anos. Exemplo: Réu é condenado a 300 anos, ao prazo de de pena cumprida, para a progressão de regime será calculado sobre os 300 anos e não sobre os 30 anos do art. 75 do CP, de acordo com a Súmula 715 do STF. Há uma única exceção em que a Justiça Federal julga uma contravenção penal: por foro de prerrogativa de função. Exemplo: Juiz Federal é julgado no TRF. 3. Sujeitos do crime a. Sujeito ativo i. Em regra, é aquele que pratica a infração podendo ser qualquer pessoa física capaz e maior de 18 anos. ii. A infração pode ser praticada isoladamente ou em concurso com outras pessoas (autor, coautores, partícipe). iii. Exceção: pessoa jurídica 1. Art. 225, § 3º da CF/88, regulamentado pela Lei nº 9.605/1998: pessoa jurídica que comete crime ambiental – responsabilidade penal da pessoa jurídica. a. De acordo com o STF, a pessoa jurídica só pode ser responsabilizada (ou processada) por crime ambiental juntamente com a pessoa física responsável pela prática, ou seja, o STF não admite apenas ação contra a pessoa jurídica. b. Para uma parte minoritária da doutrina, pessoa jurídica não pode ser sujeito ativo de crime ambiental, pode apenas sofrer responsabilidade penal pelo crime ambiental cometido pela pessoa física. 2. Art. 173, § 5º da CF/88, ainda não regulamentado: também prevê a responsabilidade da pessoa jurídica por crimes econômicos e financeiros, porém esse dispositivos constitucional até hoje não foi regulamentado por lei infraconstitucional. Atualmente a pessoa jurídica não pode ser processada criminalmente por crimes econômicos e financeiros. iv. Classificação do crime quanto ao sujeito ativo ou capacidade especial do sujeito ativo 1. Comum (de regra): pode ser praticado por qualquer pessoa, não exigindo condição especial. DIREITO PENAL I 17 a. Qualquer pessoa como co-autoria e/ou participação. b. Exemplo: art. 121 do CP 2. Próprio: não pode ser cometido por qualquer pessoa. a. Exige condição especial como co-autoria e/ou participação. b. Exemplo: crimes funcionais – funcionário público contra a administração pública. c. Admite tanto a co-autoria quanto a participação de terceiros. 3. Mão própria: não pode ser cometido por qualquer pessoa, ou seja, a lei exige uma condição especial do sujeito ativo. a. Também chamado de crime de atuação pessoal ou crime de conduta infudível. b. Exige condição especial apenas como participação não aceitando a co-autoria. c. Exemplo: falso testemunho (art. 342 do CP). No falso testemunho, somente a testemunha pode mentir diante do juiz, mas ela pode ser induzida pelo advogado que será partícipe. d. Admite participação de terceiros, mas não admite a co-autoria. b. Sujeito passivo i. É a pessoa física ou jurídica que sofre (é vítima) das consequências diretas da infração penal. ii. Pessoa jurídica pode sofrer calúnia por crime ambiental e difamação, mas não pode sofrer injuria. iii. Não confundir vítima com prejudicado, que são as pessoas atingidas reflexivamente. Exemplo: a esposa do homem que sustenta a casa sozinha sofre as consequências se o marido for morto. iv. Constante ou formal: 1. Estado, porque é vítima de todo crime. 2. O crime é sempre uma violação penal criada pelo Estado. 3. Atinge a segurança pública que é dever do Estado. v. Eventual ou material: 1. Pessoa física ou jurídica que sofre a conduta criminosa. 2. Pode ser o Estado quando pessoa jurídica de direito público. Exemplo: dano ao patrimônio público – neste caso, o Estado é sujeito material e formal. vi. Classificação DIREITO PENALI 18 1. Comum: qualquer pessoa. 2. Próprio: pessoa específica. vii. Dupla subjetividade passiva: crime que, obrigatoriamente, tem dois ou mais sujeitos passivos, ou seja, o tipo penal descreve dois sujeitos passivos (vítimas plurais). 1. Exemplo: art. 151 do CP – violação de correspondência. Observação: Homicídio com duas vítimas não é crime de subjetividade passiva. São dois crimes de homicídio e duas vítimas. viii. Animal e pessoa morta: não podem ser sujeitos passivos. c. Crime bipróprio: é aquele em que tanto o sujeito ativo quanto o passivo possuem capacidade de condição especial. Exemplo: art. 123 do CP – infanticídio. Observações: Crime de estupro não é crime bipróprio. Podem ser sujeitos passivos do crime: o os incapazes: menores e portadores de deficiência psico-motora; o o recém-nascido: art. 123 do CP - infanticídio; o a pessoa ainda não nascida: arts. 124 à 127 do CP; o os entes despersonalizados: sem personalidade jurídica. Exemplo: família, coletividade, parte da empresa em falência; o crime vago: não há vítima determinada, sendo ela uma vítima vaga. Exemplo: porte ilegal de arma, porte de drogas. Não podem ser sujeitos passivos de crimes: o Os mortos: art. 138, § 2º do CP: As vítimas são os íntimos e parentes do morto. Art. 212 do CP: a vítima é o morto ou a coletividade. o Animais: não são sujeitos de direitos, são objetos de direito. Uma pessoa não pode ser sujeito ativo e passivo no mesmo crime. o Exemplo: autoflagelo (art. 171, § 2º, V do CP) e crime de fraude contra seguros. o A tentativa de suicídio não é punível pelo CP. Ele punirá o terceiro que instiga, induz ou auxilia o suicida (art. 122 do CP). o Crime de richa (art. 137 do CP): é sujeito ativo da participação da rixa e sujeito passivo dos crimes que ele eventualmente sofrer durante a rixa. Para a minoria doutrinária, a pessoa poder ser, cumulativamente, sujeito ativo e passivo na rixa. DIREITO PENAL I 19 4. Objetos a. Material: mais de um bem jurídico. Todos os crimes possuem um objeto jurídico tutelado. i. É a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. Exemplo: homicídio = pessoa morta; furto de carteira = carteira; porte de drogas = não há. ii. Todo crime tem objeto jurídico, mas nem todo crime possui um objeto material. iii. Em alguns casos, o sujeito passivo e o objeto material se confundem, embora não seja necessário. b. Jurídico: nem todos os crimes possuem um objeto material tutelado. i. Crimes pluriofensivos ou dupla objetividade jurídica: protegem dois ou mais bens jurídicos. Exemplo: roubo (art. 157 do CP) – integridade física + patrimônio. 5. Substratos do crime (conceito analítico) a. Fato típico: conduta i. Teorias 1. Teoria Causalista (causal natural, clássica ou mecanista) a. Von Liszt e Beling b. Século XIX c. Conceito analítico d. Conduta: ação humana voluntária causadora de modificação no mundo exterior. e. O tipo penal só deve ser elementos objetivos (tipo normal). f. Críticas: i. Não abrange os crimes omissivos. ii. A conduta é cega porque o dolo e a culpa estão na culpabilidade. iii. Não é como negar elementos não objetivos nos tipos penais. FATO TÍPICO ANTIJURIDICIDADE / ILICITUDE CULPABILIDADE Conduta sem finalidade Formal: presença ou não de causa excludente de ilicitude Imputabilidade Resultado Nexo causal Dolo ou culpa (finalidade) Tipicidade Fato típico + Ilicitude + Culpabilidade Teoria tripartite: crime = fato típico + ilicitude + culpabilidade DIREITO PENAL I 20 2. Teoria Neokantista (causal-valorativa) a. Início do século XX. b. Preconizado por Mezger. c. Conceito analítico d. Possui base causalista. e. Conduta: comportamento humano voluntário causador de modificação no mundo exterior. i. A expressão “comportamento” abrange os crimes omissivos. f. Dolo e culpa na culpabilidade. g. Admite valoração da conduta, reconhecendo não só os objetivos do tipo. h. Críticas: i. Dolo e culpa na culpabilidade. ii. Partindo de conceitos causalistas, ficou contraditório quando reconheceu elementos normativos e subjetivos do tipo. Tudo que é subjetivo se analisa na culpabilidade, não traz para o fato típico. FATO TÍPICO ANTIJURIDICIDADE / ILICITUDE CULPABILIDADE Conduta Aspecto material: danosidade social. Imputabilidade Resultado Exigibilidade de conduta diversa Nexo causal Dolo e culpa Tipicidade 3. Finalista (Welzel) a. Meados do século XX. b. Conduta: comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim. c. Conceito analítico. d. O dolo e a culpa migram da culpabilidade para o fato típico. e. O causalismo “é cego”, o finalista “é evidente”. f. Criticas: Teoria tripartite: crime = fato típico + ilicitude + culpabilidade DIREITO PENAL I 21 i. A finalidade não explica os crimes culposos, sendo também frágil nos crimes omissivos. ii. Centralizou a teoria no desvalor da conduta, menos prezando o desvalor do resultado. Há a valoração apenas da conduta, esquecendo o resultado. FATO TÍPICO ANTIJURIDICIDADE / ILICITUDE CULPABILIDADE Conduta: dolo e culpa Causas de excludentes de ilicitude. Imputabilidade Resultado Exigibilidade de conduta diversa Nexo causal Potencial consciência da ilicitude Tipicidade 4. Teoria Finalista Dissidente a. Fato típico i. Conduta: comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim. ii. Dolo e culpa migram da culpabilidade para o fato típico. iii. O causalismo “é cego”; o finalista “é evidente”. b. Culpabilidade: é mero pressuposto da aplicação da pena. 5. Teoria Social da Ação a. Século XX b. Wessels c. Jescueck d. Conceito analítico de crime e. Conduta: comportamento humano voluntário, psiquicamente dirigido a um fim e socialmente relevante. f. Dolo e culpa permanecem integrando o fato típico, mas voltam a serem analisados na culpabilidade no momento da aplicação da pena. g. Crítica: não há clareza no que significa fato socialmente relevante. Teoria tripartite: crime = fato típico + ilicitude + culpabilidade Teoria bipartite: crime = fato típico + ilicitude DIREITO PENAL I 22 Observação: As teorias causalista, neokantista, finalista, finalista dissidente e social da ação são teorias que analisam o que é crime. 6. Teoria do Funcionalismo Teleológico (Roxin) a. Fato típico i. Conduta: comportamento humano voluntário, orientado pelo princípio da intervenção mínima, causadora de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. ii. Dolo e culpa permanecem no fato típico. iii. A missão do Direito Penal é proteger bens jurídicos indispensáveis ao convívio social harmônico. b. Culpabilidade = limite da pena. c. Reprovabilidade = imputabilidade + potencial consciência da ilicitude + exigibilidade de conduta diversa + necessidade da pena. d. Críticas: a reprovabilidade como elemento integrante do crime. 7. Teoria Funcionalismo Sistêmico ou Radical (Jacobs) a. Fato típico i. Conduta: comportamento humano voluntário causador de um resultado evitável, violando o sistema, frustrando as expectativas normativas. ii. Dolo e culpa permanecem no fato típico. iii. A missão do Direito Penal é proteger o sistema (respeito ao sistema normativo). O violador do sistema é o inimigo; é aqui que nasce o Direito Penal do inimigo. b. Direito Penal do Inimigo (características) i. Antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios; ii. Antecipação da punibilidadecom a criação de tipos de mera conduta; iii. Antecipação da punibilidade com a criação de tipos de perigo abstrato (perigo presumido); iv. Desproporcionalidade das penas; v. Surgimento das chamadas “leis de luta ou de combate”. Exemplo: Lei de Crimes Hediondos. DIREITO PENAL I 23 vi. Restrição de garantias penais e processuais. c. Críticas: serve a Estados totalitários. Exemplo: nazismo e facismo. ii. Elementos da conduta 1. Comportamento humano: ação ou omissão 2. Exteriorização da vontade: não há punição dos pensamentos humanos. iii. Causas de exclusão da conduta 1. Caso fortuito ou força maior a. Independe da vontade b. Fatos imprevisíveis 2. Involuntariedade a. Estado de inconsciência completa b. Movimentos reflexos i. Movimentos reflexos = movimentos involuntários. ii. Ações em curto circuito = impulso; ação voluntária sob influência da emoção. 3. Coação física irresistível (via absoluta): utilizada força física humana. Difere da coação moral irresistível porque aqui, embora haja a ameaça, há a liberdade de escolha. iv. Formas de conduta 1. Quanto à voluntariedade a. Crime doloso: (art. 18, I, do CP): é quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. É a vontade consciente de realizar a conduta prevista no tipo penal. i. Elementos 1. Volitivo a. Aceitou o risco b. Consciência de aceitar ou querer o resultado 2. Intelectivo: Assume o risco ii. Teorias 1. Da vontade: quando o agente quis o resultado. Movimentos reflexos ≠ Ações de curto circuito DIREITO PENAL I 24 2. Da representação: quando o agente prevê o resultado como possível e prossegue com a conduta. 3. Do consentimento (ou assentimento): além de prevê o resultado, o agente assume o risco de produzir. iii. Espécies 1. Natural ou neutro: pressupõe apenas a consciência e vontade. 2. Normativo ou híbrido: integra a culpabilidade, trazendo os elementos consciência, vontade e consciência atual da ilicitude. 3. Direto ou determinado ou intencional ou imediato ou incondicionado: dirige a conduta para determinado fim. 4. Indireto ou indeterminado a. Alternativo: quando o agente prevê a pluralidade de resultados, dirigindo sua conduta para perfazer qualquer deles com a mesma intensidade e vontade. b. Eventual: o agente prevê a pluralidade de resultados, dirigindo sua conduta para realizar um determinado evento, mas assumindo o risco de provocar outro. 5. Cumulativo (progressão criminosa): o agente pretende alcançar dois resultados, em sequencia. 6. De dano: a vontade do agente é causar efetiva lesão ao bem jurídico tutelado. 7. De perigo: o agente atua com a intenção de expor a risco o bem tutelado. 8. Genérico: o agente tem vontade de realizar a conduta descrita no tipo penal, sem um fim específico. DIREITO PENAL I 25 9. Específico: o agente tem vontade de realizar a conduta, visando um fim específico. 10. Geral (erro sucessivo): ocorre quando o agente, supondo já ter alcançado um resultado por ele visado, pratica nova ação que efetivamente o provoca. 11. De 1º grau: quando o agente persegue determinado resultado. O resultado paralelo é certo e necessário. 12. De 2º grau (ou de consequências necessárias): a vontade do agente se dirige aos meios utilizados para alcançar determinado resultado. O resultado paralelo é incerto, eventual, possível, desnecessário. 13. Antecedente: é o dolo anterior à conduta. 14. Concomitante: é o dolo existente no momento da ação ou omissão. 15. Subsequente: é o dolo posterior à conduta. 16. De propósito: é a vontade e consciência refletida, pensada, premeditada. 17. De ímpeto: caracterizado por ser repentino, sem intervalo entre a fase de cogitação e de execução do crime. b. Culpa (art. 18, II do CP) i. Elementos 1. Conduta humana voluntária 2. Violação de um dever de cuidado objetivo a. Imprudência: conduta positiva praticada pelo agente que, por não observar o seu dever de cuidado, cause o resultado lesivo que lhe era previsível. b. Negligência: deixar de fazer aquilo que a diligência normal impunha. c. Imperícia: é quando ocorre uma inaptidão, momentânea ou não, do agente para o exercício de arte, profissão ou ofício. 3. Resultado naturalístico involuntário DIREITO PENAL I 26 4. Nexo entre conduta e resultado 5. Resultado (involuntário) previsível 6. Tipicidade ii. Espécies 1. Culpa consciente: o agente prevê o resultado, mas espera que ele não ocorra, supondo poder evita-lo com a sua habilidade. 2. Culpa inconsciente: o agente não prevê o resultado, que, entretanto, era previsível. 3. Culpa própria: o agente não que e não assume o risco de produzir o resultado, mas acaba lhe dando causa por negligência, imprudência e imperícia. 4. Culpa imprópria (art. 20, § 1º do CP): o agente, por erro evitável, imagina certa situação de fato que, se presente, excluiria a ilicitude do seu comportamento. Provoca intencionalmente determinado resultado típico, mas responde por culpa por razões de política criminal. c. Crime preterdoloso: o agente pratica delito distinto do que havia projetado cometer, advindo da conduta dolosa resultado culposo mais grave do que o projetado. O comportamento é doloso, mas o resultado (mais grave) é involuntário. 2. Resultado a. Naturalismo: não está em todos os tipos penais a partir da conduta haverá modificação no mundo exterior. i. Material: é aquele cuja consumação só ocorre com a produção de resultado naturalístico. Exemplo: o homicídio se consuma com a morte. ii. Formal ou tipos incongruentes: é aquele em que o resultado naturalístico é até possível, mas irrelevante, uma vez que a consumação se opera antes e independentemente de sua produção. Exemplo: extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP) – se consuma no momento do sequestro. DIREITO PENAL I 27 iii. Mera conduta: é aquele que não admite em hipótese alguma resultado naturalístico. Exemplo: desobediência – não produz nenhuma alteração no mundo concreto. b. Normativo (jurídico): resultado é toda lesão ou perigo de lesão a interesse penalmente relevante. i. Crime de dano: existe quando a sua consumação exige efetiva lesão ao bem jurídico tutelado. Exemplo: homicídio (art. 121 do CP). ii. Crime de perigo: quando a consumação se contenta com a exposição do bem jurídico a uma situação de perigo. 1. Abstrato: advém da conduta que é absolutamente presumida em lei. Exemplo: tráfico de entorpecentes. 2. Concreto: quando o legislador exige prova do risco ameaçando bem jurídico de alguém. 3. Nexo causal (art. 13 do CP): é o elo concreto, físico, material e natural que se estabelece entre a conduta do agente e o resultado naturalístico, por meio do qual é possível dizer se aquela deu ou não causa a este. 4. Concausas a. Absolutamente independentes: a causa efetiva do resultado não se origina, direta ou indiretamente, do comportamento concorrente, paralelo, podendo ser preexistente, concomitante e superveniente. i. Preexistente: a causa efetiva (elemento propulsor do resultado) antecede o comportamento concorrente. ii. Concomitante: a causa efetiva (elemento propulsor do resultado) é simultânea ao comportamento concorrente. iii. Superveniente: a causa efetiva (elemento propulsor do resultado) é posterior ao comportamento concorrente. Teoria dos antecedentes causais (conditio sine quanon) Teoria da eliminação hipotética dos antecedentes causais (Teoria de Thyrén) DIREITO PENAL I28 b. Relativamente independentes: a causa efetiva do resultado se origina, ainda que indiretamente, do comportamento concorrente. Em outras palavras, as causas se conjugam para produzir o evento final. i. Preexistente: a causa efetiva (elemento propulsor que se conjuga para produzir o resultado) é anterior a causa concorrente. ii. Concomitante: a causa efetiva (elemento propulsor que se conjuga para produzir o resultado) ocorre simultaneamente à outra causa. iii. Superveniente (art. 13, § 1º do CP): a causa efetiva (elemento propulsor que se conjuga para produzir o resultado) acontece após a causa concorrente. 5. Causalidade nos crimes omissivos: não se fala em nexo de causalidade em crime omissivo, mas somente em crimes comissivos dos quais resultem modificação no mundo exterior (resultado naturalístico). O que determina a ligação entre a conduta omissiva do agente e o resultado lesivo é o nexo estabelecido pela lei (normativo). a. Omissão própria: a lei prevê e pune a inação (conduta omissiva), na qual estará incurso o agente pelo simples fato de não ter atuado na forma determinada. Exemplo: omissão de socorro. b. Omissão imprópria: a lei não tipifica a conduta omissiva, mas estabelece regras para que se possa punir o agente por ter praticado crime comissivo por omissão. É um crime de resultado material, exigindo, consequentemente, um nexo entre a ação omitida e o resultado. Esse nexo, no entanto, não é naturalístico (a omissão não causou o resultado). O agente não causa diretamente o resultado, mas permite que ele ocorra abstendo-se de agir quando deveria e poderia fazê-lo para evitar a sua ocorrência. 6. Tipicidade e tipo penal a. Conceito de tipo: é o modelo descritivo das condutas humanas criminosas, criado pela lei penal, com a função de garantia do direito de liberdade. DIREITO PENAL I 29 b. Conceito de tipicidade: é a subsunção, justaposição, enquadramento, amoldamento ou integral correspondência de uma conduta praticada no mundo real ao modelo descritivo constante da lei (tipo penal). c. Doutrina tradicional: compreendia a tipicidade sob o aspecto meramente formal. Assim, conceituava-se a tipicidade como a subsunção do fato à norma. d. Doutrina moderna: a tipicidade penal deixou de ser mera subsunção do fato à norma, abrigando também juízo de valor, consistente na relevância da lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. É somente sob essa ótica que se passa a admitir o princípio da insignificância como hipótese de atipicidade (material) da conduta. i. Tipicidade formal ii. Tipicidade material e. Tipicidade conglobante (Zaffaroni): a tipicidade penal é a soma entre tipicidade formal e tipicidade conglobante, esta composta pela tipicidade material e antinormatividade do ato (ato não determinado ou não incentivado por lei). f. Espécies de tipicidade formal i. Adequação típica imediata, direta: se opera um ajuste entre o fato e a norma penal sem depender de dispositivo complementar. Através de um único dispositivo se alcança a subsunção entre a conduta e o tipo penal. Tipicidade formal Tipicidade conglobante Antinormatividade Tipicidade material DIREITO PENAL I 30 ii. Adequação típica mediata, indireta: o ajuste entre o fato e o tipo somente se realiza através da conjugação do tipo penal com uma norma de extensão. 1. Norma de extensão temporal: art. 14, II + art. 121 ambos do CP. 2. Norma de tipo pessoal e espacial: art. 29 + art. 121 ambos do CP. 3. Norma de extensão causal: art. 13, § 2º do CP. g. Elementos do tipo penal i. Objetivos: relacionados aos aspectos materiais e normativos do delito. 1. Descritivos: descrevem os aspectos materiais da conduta. São elementos que não dependem de valoração para a inteligência do seu significado. 2. Normativos: são caracterizados como elementos cuja compreensão passa pela realização de um juízo de valor. 3. Científicos: caracterizados por transcenderem o mero elemento normativo, cuja apreensão exige conhecimento do seu significado estampado na ciência natural. ii. Subjetivos: relacionados à finalidade especial que anima o agente. 1. Positivos: finalidade que deve animar o agente para que o fato seja típico. 2. Negativos: finalidade que não deve animar o agente para gerar a tipicidade. iii. Exemplo: art. 33, § 3º da Lei de Drogas. h. Modalidades do tipo penal i. Tipo básico ou fundamental: modelo mais simples da descrição da conduta proibida ou imposta pela lei penal. DIREITO PENAL I 31 ii. Tipo derivado: em virtude de determinadas circunstâncias, podem aumentar ou diminuir a reprimenda prevista no tipo básico. iii. Tipo fechado: é o tipo que possui uma descrição completa, perfeita do comportamento que se quer proibir ou impor. Exemplo: art. 155, caput, do CP. iv. Tipo aberto: é aquele que a lei penal não descreve detalhadamente a conduta que se quer proibir ou impor, ficando esse trabalho de acomodação entregue ao julgador. Exemplo: delitos culposos. v. Tipo congruente ou simétrico: apresenta simetria entre os elementos objetivos e subjetivos. vi. Tipo incongruente ou assimétrico: quando não houver a simetria entre os elementos. Hipóteses: crime formal, crime tentado e crime preterdoloso. vii. Tipo simples: é aquele em que o tipo penal prevê uma única forma de conduta, expressa pelo verbo núcleo do tipo. Exemplo: homicídio (art. 121, do CP) → verbo = “matar”. viii. Tipo misto: é aquele em que o tipo penal prevê várias condutas possíveis. 1. Cumulativo: caso o agente pratique mais de uma conduta abrangida pelo tipo será aplicada a regra de concurso de crimes (concurso material) não havendo fungibilidade entre as condutas. Exemplo: arts 242 e 244, do CP. 2. Alternativo: é aquele onde existe uma variedade de condutas previstas no tipo ou mais de uma, responderá por um único crime. Exemplo: tráfico de drogas. ix. Elementares: componente básico configurando todos os dados fundamentais para a existência da figura típica, sem os quais ela desaparece (atipicidade absoluta) ou se transforma em outra (atipicidade relativa). DIREITO PENAL I 32 ITER CRIMINIS 1. Fases 1ª Fase: Cogitação – pensamento do agente. Não é punível. 2ª Fase: Preparação – quando o agente externa o seu pensamento. Não é punível. Exceção da punição: associação criminosa (antiga “formação de quadrilha”). 3ª Fase: Execução – ato punível. 4ª Fase: Consumação – quando há a presença de todos os elementos do fato típico (conduta, resultado, nexo causal e tipicidade). Crimes materiais: resultado material e naturalístico. Crimes formais: descreve a conduta e o resultado, mas apenas a conduta é considerada na consumação. Crimes de mera conduta: descreve apenas a conduta e a considera para a consumação. 2. Forma tentada (art. 14, II, do CP): é o início da execução e, por circunstâncias alheias, o crime não é consumado. a. Formas i. Imperfeita ou incompleta: é o início da execução, mas, por circunstâncias alheias à vontade do agente, o crime não é consumado. ii. Perfeita: quando o agente usa todos os meios possíveis na execução do crime, mas ele não é consumado. iii. Cruenta ou vermelha: quando a vítima sofre algum tipo de lesão. iv. Incruenta: quando a vítima não sofre nenhum tipo de lesão. b. Teorias i. Subjetiva: mesmo que o crime não tenha sido consumado, o agente responde como se tivesse sido. Esta teoria não é adotada no Brasil. ii. Objetiva: leva em consideração o grau de perigo à que a vítima foiexposta. c. Crimes que não admitem a tentativa i. Crimes culposos: o agente não tem dolo de consumação. ii. Crimes habituais: são caracterizados pela reiteração de atos. Assim, ou ocorre a reiteração de atos e o crime se consuma ou não há reiteração e então o fato será atípico. DIREITO PENAL I 33 iii. Crimes condicionados ao implemento de um resultado: somente são puníveis se o evento descrito na norma ocorrer efetivamente. Exemplo: participação em suicídio (art. 122, do CP). iv. Crimes omissivos próprios: mera conduta. v. Contravenção penal: art. 4º, da LCP. vi. Crimes unissubsistentes: se consumam com apenas um único ato. vii. Crimes preterdolosos: o agente não quer o resultado agravador, que lhe é imputado a título de culpa. viii. Crime de atentado ou de empreendimento: embora possível a tentativa, por opção legislativa, a sua punição é a mesma de delito consumado, não se aplicando a redução da pena prevista no art. 14, parágrafo único do CP. Exemplo: evasão mediante violência contra a pessoa (art. 352, do CP). 3. Crime impossível ou quase crime ou crime oco ou tentativa inidônea (art. 17 do CP): o comportamento do agente é inapto à consumação do crime, quer em razão dos meios empregados, quer por falta do objeto material. a. Formas de crime impossível i. Por ineficácia absoluta do meio: se verifica quando falta potencialidade causal, pois os instrumentos postos a serviço da conduta não são eficazes, em hipótese alguma, para a produção do resultado. ii. Por improbidade absoluta do objeto: quando a pessoa ou a coisa que representa o ponto de incidência da ação delituosa (objeto material) não serve à consumação do delito. A inidoneidade do objeto se verifica tanto em razão das circunstâncias em que se encontra (objeto impróprio) quanto em razão da sua inexistência (objeto inexistente). 4. Desistência voluntária (art. 15 do CP): o agente, por manifestação exclusiva do seu querer, desiste de prosseguir na execução da conduta criminosa. Trata-se da situação em que os atos executórios ainda não se esgotaram, entretanto, o agente, voluntariamente, abandona o seu dolo inicial. 5. Arrependimento eficaz (art. 15, 2ª parte, do CP): ocorre quando os atos executórios já foram todos praticados, porém, o agente, decidindo recuar na atividade delituosa corrida, desenvolve nova conduta com o objetivo de impedir a produção do resultado (consumação). 6. Arrependimento posterior (art. 16 do CP): o agente, depois de ter consumado o crime, por ato voluntário, repara o dano ou restitui a coisa com o fim de restaurar a ordem perturbada. Nesses casos a lei recompensa o criminoso arrependido com a diminuição da sua pena. DIREITO PENAL I 34 ANTIJURIDICIDADE (ILICITUDE) Causas excludentes de ilicitude (descriminantes ou justificantes) 1. Estado de necessidade (art. 24 do CP) a. Requisitos i. Perigo atual ii. Que a situação de perigo não tenha sido causada voluntariamente pelo agente. iii. Salvar direito próprio ou alheio. iv. Inexistência de dever legal de enfrentar o perigo (art. 24, § 1º, do CP). v. Inevitabilidade do comportamento lesivo. vi. Inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado. vii. Conhecimento da situação de fato justificante. 2. Legítima defesa (art. 25 do CP) a. Requisitos i. Agressão injusta: comportamento humano. ii. Agressão anual ou iminente iii. Uso moderado dos meios necessários iv. Proteção do direito próprio ou alheio v. Conhecimento da situação de fato justificante Observação: Legítima defesa recíproca – não admitida. 3. Estrito cumprimento do dever legal (art. 23, III, 2ª parte, do CP) 4. Exercício regular do direito Observação: Ofendículo – representa aparato preordenado para defesa do patrimônio. Exemplo: cacos de vidro no muro, cerca elétrica, etc. 5. Excesso nas justificantes (art. 23, parágrafo único do CP) 6. Descriminante putativa a. Natureza: erro de tipo i. Evitável: cuida-se do erro previsível, só excluindo o dolo (por não existir coincidência), mas punindo a culpa (se prevista como crime), pois havia possibilidade de o agente conhecer o perigo. ii. Inevitável: configura o erro imprevisível, excluindo o dolo (por não haver coincidência) e culpa (pois o ausente a previsibilidade). DIREITO PENAL I 35 CULPABILIDADE 1. Elementos da culpabilidade a. Imputabilidade: é a capacidade de imputação, ou seja, possibilidade de se atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de uma infração penal. i. Hipóteses de imputabilidade 1. Critério biológico: leva em conta apenas o desenvolvimento mental do agente, independentemente se tinha, no tempo da conduta, capacidade de entendimento e autodeterminação. 2. Critério psicológico: considera apenas se o agente, ao tempo da conduta, tinha a capacidade de entendimento e autodeterminação, independente de sua condição mental ou idade. 3. Critério biopsicológico: considera-se inimputável aquele que, em razão de sua condição mental (por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado), era, ao tempo da conduta, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se. b. Possibilidade de conhecimento da ilicitude do fato: representa a possibilidade que tem o agente imputável de compreender a reprovabilidade da sua conduta. c. Exigibilidade de obediência ao Direito 2. Excludente de culpabilidade a. Inimputabilidade e culpabilidade diminuída i. Inimputabilidade 1. Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica; 2. Inimputabilidade em razão da idade; 3. Inimputabilidade em razão da embriaguez. ii. Culpabilidade diminuída ou semi-imputabilidade (art. 26, parágrafo único do CP) iii. Consequências jurídicas b. Coação moral irreversível: ameaça, promessa de realizar um mal. c. Obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte do CP) d. Emoção e paixão: emoção é o estado súbito e passageiro, enquanto a paixão é o sentimento crônico e duradouro. Pode a emoção servir de circunstância atenuante, nos moldes do art. 65, III, c, ou como causa de diminuição de pena, como prescrevem os arts. DIREITO PENAL I 36 121, §1º, e 129, §4º, ambos do CP. Já a paixão, dependendo do grau e da capacidade de entendimento do agente, pode ser encarada como doença mental (paixão psicológica – art. 26, caput, CP). e. Embriaguez e substâncias de efeitos análogos i. Formas ou modalidades 1. Não acidental a. Voluntária: quando o agente ingere a substância alcoólica com a intenção de embriagar-se. b. Culposa: quando o agente, por negligência ou imprudência, acaba por embriagar-se. 2. Acidental a. Caso fortuito: o sujeito desconhece o efeito inebriante da substância que ingere. b. Força maior: o sujeito é obrigado a ingerir a substância inebriante. 3. Preordenada (actio libera in causa): o agente ingere bebida alcoólica ou consome substância de efeitos análogos com a finalidade de cometer um crime. 4. Habitual ou patológica: é a embriaguez doentia que pode ser tratada como anomalia psíquica, gerando inimputabilidade do agente ou redução de sua pena, nos moldes do art. 26 do CP. f. Erro de proibição (art. 21 do CP): é a potencial consciência da ilicitude do fato, já que uma vez publicada no D.O.U. a lei se presume conhecida por todos. Logo, não nos é dado desconhecer a lei. g. Coculpabilidade: imputa ao Estado parcela da responsabilidade social pelos atos criminosos dos agentes em razão das desigualdades sociais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anotações das aulas. PINHEIRO, Bruno. Teoria Geral do Delito. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal,volume 1, parte geral: (arts. 1º a 120). 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. 2. ed. Niterói: Impetus, 2009. SANCHES, Rogério. Manual de Direito Penal: parte geral. 2. ed. Salvador: Juspodivm, 2014.
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