Buscar

solidariedade_divisao_do_trabalho_e_suicidio_na_sociologia_de_Emile_Durkheim

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

Universidade Federal de Lavras
Departamento de Ciências Humanas
Disciplina de Sociologia
Professor Marcelo Sevaybricker Moreira
Tema da aula: Indivíduo e sociedade: solidariedade, divisão do trabalho e suicídio na Sociologia de Émile Durkheim.
Bibliografia:
ARON, Raymond. (2008), As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes.
Ideias principais: 
# A polêmica de Durkheim com a perspectiva individualista (que reduz os fatos sociais a epifenômenos das consciências e dos comportamentos individuais) na realidade é decorrente de seu assentimento com a ideia de que nas primeiras sociedades de seres humanos (ainda existentes em alguns lugares e ditas “primitivas”, “arcaicas”, ou “sem escrita”) não haviam grandes diferenças entre os indivíduos; num clã, por exemplo, os sentimentos, os valores e as crenças são basicamente os mesmos entre os seus membros. Por isso, Durkheim afirma que, nesse tipo de organização social, a “consciência coletiva” é muito forte, constrangendo os indivíduos a viverem de modo semelhante, ou ainda, dando pouco espaço à emergência de uma “consciência individual”. Nas sociedades modernas ou industriais, por outro lado, constata-se precisamente o contrário: os indivíduos são muito diferentes entre si; nela, a consciência individual é muito desenvolvida. Isso, no entanto, não significa que eles não sejam coagidos pela consciência coletiva, mas simplesmente que isso ocorre de modo diverso e menos evidente e intensamente do que no primeiro caso. Embora a consciência coletiva só se realiza nas consciências dos indivíduos, ela independe delas, possui uma dinâmica própria, não muda a cada geração, mas, ao contrário, une cada uma delas.
# Nas sociedades de solidariedade mecânica, as regras, imperativos e proibições sociais são precisas, variadas e, com frequência, bastantes severas (direito repressivo). Quanto mais forte a consciência coletiva, maior a indignação geral em relação a crimes e aos transgressores das normas sociais. Por dedução, nas sociedades com solidariedade de tipo orgânica, as imposições e interdições sociais são menos claras e rígidas (direito restitutivo [comercial, por ex.] cooperativo [constitucional, por ex.]). Para esse autor, a função da punição não é, como se pensa, dissuadir novos crimes, mas satisfazer a consciência coletiva, ferida pelo ato transgressor.
# Durkheim ainda se interroga por que as sociedades não se dissolvem, mantendo-se relativamente estáveis e coesas ao longo do tempo. Nas sociedades tradicionais ou primitivas, os indivíduos estabelecem laços de solidariedade por semelhança. A unidade da comunidade procede por um processo de indiferenciação entre os indivíduos, o que ele denomina de “solidariedade mecânica”. No caso das sociedades modernas, como há muita diversidade entre os seus membros, ocorre coesão social por um processo de “solidariedade orgânica”. O que Durkheim está querendo nos dizer é que a noção de indivíduo e o culto à individualidade, próprio `as sociedades ocidentais modernas é uma invenção social relativamente recente. Primado da sociedade sobre o indivíduo: é a sociedade que cria o indivíduo, e não o contrário. Por quê? 1) prioridade histórica (as primeiras sociedades eram coletivistas); 2) prioridade lógica: se a solidariedade mecânica precedeu a orgânica não se pode explicar a diferenciação social (individuação) por meio da consciência dos indivíduos).
# Mas o que faz com que uma sociedade de tipo mecânica transforme-se em uma de tipo orgânica? A resposta de Durkheim está no processo de “divisão social do trabalho”. Mais do que uma mera especialização das funções do trabalho (profissões), esse processo cria novos papéis sociais, tornando-o os indivíduos mais diferenciados entre si. O primeiro tipo de divisão social do trabalho ocorre pelo critério do por gênero, na qual as mulheres desempenham certas funções e os homens, outras. Mas, poder-se-ia perguntar, o que leva então ao processo de crescente divisão social do trabalho? Muitos autores identificaram na busca da felicidade a transformação das sociedade primitivas em modernas. Durkheim discorda dessa resposta, pois a busca pela felicidade é antes um produto da divisão do trabalho do que a sua causa. E quem pode assegurar que os povos modernos são mais felizes do que os primitivos? Ele identifica duas causas sociais para a elevação da divisão social do trabalho: 1) aumento no número de indivíduos (volume); 2) aumento da densidade material (número de indivíduos pelo território) e moral (comunicação e interação entre os indivíduos).
# A divisão social do trabalho envolve a crescente diferenciação dos indivíduos (gostos, crenças, profissões), bem como a regressão da autoridade da tradição, o domínio crescente da razão, etc., e é um processo histórico não só irreversível, como salutar. Todavia, Durkheim julgava que o enfraquecimento da consciência coletiva produz também resultados negativos, tais como a anomia, isto é, a desintegração das normas sociais que, por sua vez, pode ocasionar, por exemplo, aumento nos conflitos entre trabalhadores e patrões, das crises econômicas, no número dos suicídios, etc. (patologias sociais). Nas sociedades tradicionais há um conformismo do indivíduo com seu lugar social; nas modernas, com o individualismo crescente, “os homens são e se sentem diferentes uns dos outros, e cada um quer obter tudo aquilo a que julga ter direito”. Logo, “as sociedades modernas só podem ser estáveis se respeitarem a justiça” (Aron, 2008: 475). Mesmo a justiça, entretanto, depende do compartilhamento de certas crenças e valores entre os indivíduos (consciência coletiva); se essas estão muito fragilizadas, a sociedade corre o risco de desintegração. É preciso encontrar uma solução de equilíbrio entre individualismo e coesão social.
# O suicídio é um objeto da sociologia que tem um interesse peculiar, pois usualmente nada parece mais individual do que a decisão de se matar. Se Durkheim comprovar que o suicídio é um fato social, terá, desta feita, comprovado a verdade de sua tese acerca do primado da sociedade sobre o indivíduo. As etapas da pesquisa cientifica: 1) definição do conceito: “suicídio é todo caso de morte provocado direta ou indiretamente por um ato positivo ou negativo realizado pela própria vítima e que ela sabia que devia provocar esse resultado”( Durkheim apud Aron, 2008: 476). Como se considera os casos de atos positivos (arma de fogo, etc.) e os negativos (greve de fome), os atos tidos como “heroicos” são agrupados ao lado dos suicídios “comuns”. A segunda etapa, a da observação empírica, releva que as taxas de suicídios (expressão social do fenômeno) mantém-se, em geral, constantes; cabe ao sociólogo identificar o porquê das suas variações. Terceira etapa – análise das hipóteses já existentes: ainda que admita a predisposição psicológica de alguns seres humanos, nega a validade da explicação psicopatológica para esse fenômeno. O que determina o aumento ou diminuição das taxas suicidógenas é um fator social. Neuropatas tem mais predisposição do que os “normais”, mas não se verifica associação entre frequência de estados psicopatológicos e frequência de suicídios. Nega também a validade da hipótese de determinação hereditária, pois verifica que o número de suicídios cresce com o passar da idade. Refuta também, com base nas estatísticas, a tese da “imitação” .Quarta etapa: tipologia dos suicídios (variação: idade, gênero, militar/civil): 1) egoísta – em contextos sociais de baixa integração (religião, família e prole), o indivíduo tem desejos insaciáveis (hiato entre expectativas e realizações). Sozinhos, pensam essencialmente em si mesmo, tornando-os mais suscetíveis ao suicídio; quando integrados em sociedade, os indivíduos, aprendem a moderação; 2) altruísta – se no primeiro caso é o individualismo que leva ao suicídio, no segundo, é a total imersão e submissão do indivíduo na sociedade (ex.: esposas indianas enterradas com seus maridos, haraquiri, etc.). Comum em sociedades tradicionais, o indivíduos sacrifica-se emnome da norma moral interiorizada (fidelidade, honra, etc.); 3) anômico – associação entre frequência dos suicídios e ciclos econômicos e políticos (crise [recessão, instabilidade, etc.], prosperidade, guerras). Anomia: expressão da crise da sociedade moderna, da debilidade dos laços sociais, numa situação de “frouxidão” dos costumes e de acirrada competição entre os indivíduos. Há, portanto, “correntes suicidógenas”, tendências sociais que explicam o comportamento de alguns indivíduos. Taxas de suicídios (assim como de crime) são “normais” e socialmente funcionais. Mas como controlar essas correntes, quando elas se acentuam? Estado (muito distante), família e religião (igualmente frágeis no mundo secular e industrial). Corporações profissionais: centralidade da atividade econômica e do trabalho na vida moderna, “escolas de disciplina”.

Outros materiais