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Resumo Penal I

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DIREITO PENAL I 
RESUMO P2 
Teoria do Crime 
O QUE É 
 Parte da dogmática jurídico-penal que estudo o crime como fato punível, do ponto 
de vista jurídico, para estabelecer e analisar suas características gerais, bem como suas formas 
especiais de aparecimento. 
 Nossa matriz teórica deriva do sistema penal romano-germânico, que é 
extremamente dogmático e tem um viés mais formalista – “sistema de caixinhas”. Surgiu na 
unificação da Alemanha e Itália, para unificar os sistemas penais dos territórios. 
O ILÍCITO PENAL 
 Há uma separação bipartidária das espécies de ilícitos penais, que foi criada pelo art. 
1º da antiga lei de introdução ao CP, que estabeleceu um critério que continua em vigor: 
a) Crime ou delito – são os fatos puníveis mais graves; “pena de reclusão ou de 
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena 
de multa. ” 
b) Contravenção – são os fatos puníveis menos graves; “pena de prisão simples, ou 
de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. “ 
Ilícito penal se difere do civil por conta de sua consequência jurídica, que é a pena, 
mais grave que a consequência do direito civil. 
CONCEITO DE CRIME 
 A elaboração do conceito de crime compete à doutrina. Não existe, no CP vigente, 
definição de crime – isso aconteceu para que se evitasse que pudessem gerar dificuldade à 
aplicação geral da lei. Os conceitos existentes são: 
a) Conceito material – pode ser chamado, também, de criminológico. Suposto crime 
não deve ser criminoso somente para o legislador, mas sim a partir da realidade 
material. Ou seja, deve ter reprovabilidade social máxima, contrastando 
violentamente com os valores da sociedade. 
CRÍTICA: Seria difícil mensurar e determinar o consenso de que algo é reprovável 
em sociedade. Por conta disso, é possível afirmar que não existe tal conceito 
independente da previsão legal; crime é, necessariamente, um conceito 
normativo. 
b) Conceito formal – crime seria a conduta humana que viola a norma penal. Ou 
seja, crime é o que a lei determinar. 
CRÍTICA: Por não haver uma análise de valor, pode haver uma concepção acrítica 
de crime. Além disso, quem cria normas penais é o Congresso Nacional, que não 
possui nenhuma tecnicidade de matéria penal. 
c) Conceito analítico – crime seria ação ou omissão típica, ilícita e culpável, nessa 
ordem. É o modelo por nós utilizado e previsto no CP. 
TEORIAS DO CRIME 
1) Clássica/Naturalista 
Sua criação foi no contexto monárquico, em que existiram tentativas dogmáticas para 
criar conceitos objetivos de ação, para fugir do autoritarismo. Proveniente do século 
XVIII/XIX, é chamada de clássica por ter sido a primeira a buscar um conceito científico e 
racional de crime. É chamada também de naturalista por ter buscado um conceito natural 
e meramente objetivo de crime, do qual qualquer “inteligência medíocre” pudesse 
compreender o conteúdo da norma. Houve uma tentativa de descrever tudo por parte do 
legislador para que não fosse feito nenhum tipo de interpretação pelo juiz, que deveria 
apenas aplicar a norma abstrata ao caso concreto. Uma das críticas é que é impossível 
descrever todas as condutas humanas. 
O conceito de ação era o causalista, e típica era a conduta meramente objetiva-
descritiva – ou seja, não havia nenhuma verificação da vontade do agente, somente a 
adequação do resultado da ação ao tipo descrito. A antijuricidade era também objetiva, não 
havendo análise subjetiva do fato, e normativa porque derivava de situações autorizadas em 
lei. Já a culpabilidade era a relação psicológica entre o autor e o fato – era aqui que estava 
inserido genericamente o dolo e a culpa. Assim, a culpabilidade era subjetiva-descritiva. 
Assim, além das críticas ao causalismo, também existiam as seguintes problemáticas: 
i) Impossibilidade de fazer análise valorativa do tipo 
ii) O fato da ilicitude meramente normativa não apresentar causas legais de 
justificação, além de ser preciso fazer uma análise subjetiva da antijuridicidade. 
 
2) Neokantista (ou neoclássica) 
Compartilhava o conceito de ação com a teoria clássica, mas mudou o 
direcionamento do crime para a perseguição de fins de justiça do Direito, ou seja, 
apresentando uma incorporação valorativa ao conceito puramente dogmático. 
Essa teoria é do século XX – marcado pelas Guerras Mundiais, em que os conceitos 
de justiça ficaram mais vagos – e foi profundamente criticada pela vagueza do que seriam 
os fins de justiça perseguidos pelo Direito. 
OBS: Escola de Kiel – foi a escola desenvolvida pelos nazistas e “morreu” com eles. 
3) Finalista 
Teoria utilizada por nós, mas não a mais recente. A teoria finalista transportou o dolo 
(dolo e culpa) para o tipo, que na teoria clássica era meramente objetivo-descritiva, fazendo 
com que a partir daquele momento exista uma análise subjetiva de uma determinada 
conduta. Antes, culpa e dolo eram genericamente incluídos em culpabilidade, sem uma 
clara distinção entre eles. Agora, o dolo e a culpa estão inseridos na tipicidade, o que faz 
com que tenha que ser analisada a tipicidade objetiva e subjetiva de cada conduta. 
4) Funcionalistas 
i) Racional-teleológica – Roxin 
Sua teoria traz, assim como a corrente neokantista, uma acepção valorativa, 
mas sem ser tão vaga, ao incorporar à teoria do crime a acepção de política criminal 
e a teoria da finalidade da pena a partir da lógica de prevenção, tanto geral quanto 
específica. 
Roxin desenvolve a ideia da imputação objetiva, em que há a ideia de riscos. 
Neste momento, basta saber que é incorporada à teoria do crime a ideia de risco não 
permitido e risco não tolerado (melhor explicado em teorias da imputação objetiva). 
Com relação à prevenção geral e específica, ela é feita a partir de um 
alargamento da acepção de culpabilidade – que é a reprovabilidade do indivíduo. 
Ou seja, além dessa reprovabilidade, teria de ser verificada a necessidade e finalidade 
na aplicação de uma pena – tanto para efeito geral da norma, genérica para todos 
em sociedade, quanto especial, para o indivíduo para o qual a sanção será aplicada. 
ii) Sistêmica – Jakobs 
Jakobs adota a chamada teoria dos sistemas, ou seja, que a teoria do delito só 
pode ser verdadeiramente compreendida a partir da função que tem a desempenhar 
em um sistema. Dessa forma, inverte a lógica de definir crime e depois a pena. Ele 
conceitua o crime a partir de sua pena. 
Com a teoria dos papeis, desenvolvida a partir da teoria dos sistemas, os 
indivíduos têm papeis na sociedade e, quanto o ferem, há uma violação a norma 
(melhor explicado nas teorias da imputação objetiva). 
Nesse sentido, defende a tese de que crime seria a violação de expectativas 
sociais desempenhadas pelo indivíduo e geraria a necessidade de reafirmação da 
vigência da norma penal por meio da punição. Baseia-se numa noção de prevenção 
geral positiva, na qual incentiva comportamentos conforme a lei. 
Assim, Jakobs desconsidera a proteção de bens jurídicos como função do 
sistema penal, que pode até ocorrer indiretamente, mas não é fundamental. 
A primeira crítica é a de que essa teoria dificulta a aplicação do princípio da 
insignificância ou da bagatela, justamente por não dar relevo a bens jurídicos. A 
segunda é que, pretendendo dessa forma a vigência da norma penal, desconsidera-
se o indivíduo, transformando-o em meio para proteger a função do direito penal. 
Portanto, tal teoria violaria o princípio da dignidade humana. Isso resultaria no que o 
próprio Jakobs chama de “direito penal do inimigo”, no qual haveria extrema 
desconsideração do indivíduo. 
 
Teoria da conduta 
 A Parte Geral do CP se filia ao pensamento finalista, ou seja, ao conceito final de ação. 
Tal conceitodetermina que a conduta é um comportamento humano finalisticamente 
orientado, ou seja, é dirigido a um fim. Então o que caracteriza a ação é o fim, não a atividade 
corporal por si só, que pode não ter finalidade alguma. 
 OBS: o fato de não ter a intenção não exclui sua ação ou finalidade; pode existir 
finalidade distinta. 
 Para excluir a ação, comportamento não pode ter finalidade. Omissão não é 
sinônimo de inatividade corporal; é a noção jurídica de possibilidade ou dever de agir. As 
razões excludentes da ação são: 
a) Coação física irresistível – não há como expressar vontade, alguém está usando 
seu corpo de alguma maneira diversa a que você quer para cometer um crime. 
b) Atos reflexos – movimentações corporais não controladas. 
OBS: reação a um susto normalmente não é considerada atos reflexos, pois ainda 
que a pessoa possa reagir de forma irrefletida, usualmente ela tem uma finalidade. 
c) Estado de absoluta inconsciência – cobre normalmente os casos relacionados ao 
sono; quando esse é agitado ou a pessoa é sonâmbula. 
OBS: a hipnose não é normalmente tratada como análoga ao sono, pois ainda 
há alguma consciência. 
 Não deixa de ser ação, no entanto, os movimentos impulsivos ou instintivos, das 
chamadas ações em curto circuito, e os movimentos habituais ou mecânicos (resultantes de 
prolongada repetição dos mesmos movimentos), pois são suscetíveis de dominação 
finalística, integrando-se em atividade dirigida a um fim. 
Não basta, para causar a ação, a simples voluntariedade, ou seja, somente o 
conteúdo psicológico. Ninguém pratica crime enquanto se limita a idealizar ou desejar a 
realização de uma conduta punível. 
TEORIAS DA AÇÃO 
1) Causalismo - Beling 
É proveniente do século XVIII, dentro do movimento clássico. O causalismo defende 
que ação é comportamento de um indivíduo que gera resultado. Ou seja, não há valoração 
subjetiva, não fazendo, dessa forma, menção à intenção. 
2) Neokantismo 
Apresentou críticas à proposta causalista, mostrando seus problemas, mas não 
apresentou uma solução ou um novo conceito de ação: 
a) Se a ação necessita de resultado, não se pune a tentativa. 
b) Não há punição da omissão, pois omissão não gera resultado, mas sim 
deixa de impedir sua realização. 
c) Um conceito extremamente objetivo como esse exclui qualquer 
subjetividade do indivíduo, o que faz com que não haja o reconhecimento 
de elementos subjetivos do tipo, ou seja, aqueles que dependem de 
valoração. 
. 
3) Teoria Social 
Momento histórico do advento do socialismo. Nessa teoria, é admitido o conceito de 
ação finalista, mas pretende-se adicionar a verificação da adequação social da conduta para 
pensar em tipicidade, por acreditar que os componentes externo e interno causam 
distorções. 
Dessa forma, se uma lei se tornou anacrônica, ela não é mais típica, pois apesar de 
externa e internamente adequada, socialmente ela não cabe mais. Pode-se dizer que o 
princípio da adaptação social ganharia uma superimportância, pois se tornaria requisito 
direto na caracterização e delimitação de uma conduta criminosa. 
 A crítica a essa corrente é a falta de clareza do conceito de relevância social, pois 
nunca se esclareceu satisfatoriamente o seu significado e abrangência. 
4) Funcionalismo 
São um compilado de doutrinas que trazem para a dogmática um aspecto próprio 
da política criminal ou sistêmica. São elas: 
i) Funcionalismo racional-teleológico – Roxin 
Defende que a ideia de que o Direito Penal tem o objetivo de proteger bem 
jurídico e que a função da pena deverá também apresentar um caráter de prevenção 
especial, ou seja, de evitar que o indivíduo volte a delinquir. 
Roxin adota o conceito pessoal de ação, em que ação seria toda conduta 
positiva ou negativa (ação ou omissão) que expresse a personalidade do sujeito. A 
partir daí, pode-se estabelecer se o sujeito vai ou não voltar a delinquir. Dessa maneira, 
uma pena jamais será aplicada se houver certeza de que não ocorrerá reincidência. 
Só haveria necessidade de pena quando houvesse a necessidade de prevenção 
especial de evitar a reincidência. 
Assim, é dada à ação função preventiva-geral, pois ao tipificar aquela conduta, 
o que se pretende é evitar a realização da mesma de uma maneira geral, visando as 
pessoas em sociedade e não um sujeito determinado. 
ii) Funcionalismo sistêmico – Jakobs 
Seu conceito de ação é a chamada teoria da evitabilidade, na qual a conduta 
deverá ser penalmente relevante senão se evitou o que era evitável e permitiu que 
decorresse um resultado reprovável. Ou seja, é um conceito negativo de ação, 
classificando não pelo que foi feito, mas pelo que não foi feito para evitar algo. 
Tipo 
 Tipo = modelo legal do comportamento proibido, compreendendo as características 
subjetivas e objetivas do fato punível. 
 Tipicidade = adequação do fato ao tipo. Deve ser uma perfeita e dupla adequação 
ao modelo tipificado. 
 Com o tipo realiza-se uma valoração jurídica do comportamento (atividade ou 
inatividade corpórea) por meio da criação de condutas típicas. Existem casos excepcionais 
em que a conduta típica estará de acordo com o direito, como por exemplo quando há 
causas de exclusão da ilicitude. 
Os crimes podem ser: 
a) Materiais – refere-se a um certo resultado exterior que à ação se ligue por relação 
de causalidade ou de imputação entre conduta e resultado. Prática do crime 
consuma-se com a superveniência do resultado. 
b) Formais – aquele em que o tipo descreve conduta e resultado, mas não exige 
superveniência deste último para ser tido como consumado. Ou seja, para o 
processo de imputação, basta a comprovação da realização da conduta. 
c) De mera conduta – é uma subclassificação de crimes formais, ou seja, são tipos 
penais que descrevem somente a conduta, sem a descrição do resultado, ou seja, 
está expressamente tipificado no dispositivo o comportamento penal desvalioso. 
O tipo é composto por dois aspectos, que devem ser plenamente satisfeitos (dupla 
adequação ao tipo): 
a) Objetivo – o que se exterioriza do delito, o que efetivamente acontece 
externamente. 
b) Subjetivo – vontade por trás da conduta 
 O tipo desempenha duas funções: 
1) A primeira é de garantia/segurança, que resulta do princípio da legalidade, pois 
ele contém a descrição da conduta incriminada, a que o fato deve 
necessariamente ajustar-se. 
2) A segunda é a de função indiciária da ilicitude, pois a fundamenta, uma vez que 
o tipo é a valoração jurídica da conduta, mas não implica necessariamente em 
antijuridicidade, mas serve, em regra, como indício dessa. 
Os elementos do tipo são: 
a) Descritivos – aqueles cujo conhecimento se opera por meio da simples verificação 
sensorial, ou seja, elementos para quais a identificação dispensa valorações. 
b) Normativos – aqueles cuja determinação só pode ser realizada mediante especial 
valoração jurídica (quando se inserem no meio da natureza jurídica) ou cultural 
(quando demanda recurso a valores éticos e culturais). 
Existe uma terceira espécie que entrelaça essas duas, que se determinam por meio 
de um juízo cognitivo que deriva da experiência e dos elementos que essa proporciona. 
Os elementos normativos enfraquecem a função de garantia do tipo, introduzindo 
certa indeterminação no conteúdo da conduta punível. 
TIPO OBJETIVO – DA CAUSALIDADE E DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA 
 O aspecto objetivo do tipo é aquele que, em regra, se materializa. Ou seja, o que se 
exterioriza da conduta tipificada. Seu núcleo fundamental, para crimes comissivos dolosos, é 
a ação em que há vontade dirigida ao fato que consuma o delito. 
 Nos crimes materiais, é indispensável estabelecer a relação de causalidade entre a 
ação e o resultado,que nesses casos normalmente integra a descrição da conduta proibida. 
A questão do nexo causal somente surge nos crimes materiais, não existindo para crimes 
omissivos puros ou de simples atividades (formais). A questão da causalidade é relevante pois 
limita a responsabilidade penal: não pode o crime ser atribuído a quem não for causa dele. 
 A causalidade já foi mais importante que hoje, principalmente após parar de explicar 
todos os acontecimentos da ciência. É uma característica do Direito Penal Liberal punir 
quando há clara delimitação de ação causando resultado, que contrasta com o Direito Penal 
Contemporâneo, que não pune somente relacionado ao resultado externo, como em crimes 
de lavagem de dinheiro, em que a relação de causalidade não é tão clara assim. 
 Existem teorias que tentam cobrir esse assunto: 
1) Teoria da equivalência dos antecedentes ou conditio sine qua non (art. 13, caput, CP) 
Essa teoria afirma a equivalência de todos os antecedentes necessários ao surgimento 
do resultado concreto, qualquer que tenha sido a categoria ou o grau de contribuição para 
o evento: tudo o que concorre para o resultado é causa dele. 
Existe, assim, uma fórmula para identificar se determinado antecedente é causa, 
segundo tal teoria, que é a eliminação hipotética do antecedente em análise: caso tal 
exercício culmine na eliminação do resultado, tal antecedente é, portanto, causa daquele 
resultado. Porém, tal teoria e critério de avaliação pode cair em uma causalidade ao infinito, 
em que se atribui muito valor a um antecedente de mínima importância se comparado ao 
resultado obtido, muitas vezes imprevisível. 
Porém, os partidários dessa teoria afirmam que ela é, sim, limitada, mas pela 
culpabilidade: ninguém é punido porque causou, mas porque o fez culpavelmente. E 
mesmo para os casos de responsabilidade objetiva, que permanecem em muitas legislações, 
é possível estabelecer limites à teoria, por meio do rompimento do nexo causal. 
2) Teoria da causalidade adequada 
Surgiu como forma de criticar e limitar a teoria da equivalência dos antecedentes: 
introduziu a noção de previsibilidade para limitar essa possível relação de causalidade ao 
infinito. Ou seja, causa é o antecedente adequado para produzir o resultado, e isso se 
constata por meio de um juízo de probabilidade, razoabilidade ou possibilidade, 
distinguindo as consequências normais das consequências anormais ou extraordinárias, 
excluindo-se o nexo de causalidade nessas últimas. O decisivo, assim, não é a causalidade 
natural, mas, sim o juízo do que é ou não é adequado imputar ao agente, à causa que é 
relevante juridicamente. 
Porém, no caso concreto, nem sempre seria razoável excluir a causalidade em casos 
extraordinários ou anormais, pois é possível que o criminoso pratique o crime nessas 
circunstâncias. 
2.1) Superveniência causal 
O mundo não é tão simples e, às vezes, diversas causas ocasionarão um resultado. 
Aqui entra, também, a questão da superveniência das causas, ou seja, quando há a 
existência de concausas – em outras palavras, quando mais de uma causa concorre para 
a realização de um resultado criminoso. 
O próprio CP reconheceu, de certa forma, as limitações da teoria da equivalência, no 
§1º do art. 13, em que trata da exclusão do nexo causal quando sobrevém concausa 
que se situe fora da linha normal de desdobramento do curso causal, como se por si só 
tivesse causado o evento. 
A partir do critério cronológico, podem ser: 
a) Preexistente – é aquela que existia antes da conduta do agente, ou seja, 
cronologicamente antecedente. 
b) Concomitante – aquela que acontece ao mesmo tempo que a conduta 
do agente. É uma hipótese mais teórica que concreta, pois são situações 
que muito dificilmente acontecem e extremamente complexas de provar. 
c) Superveniente – aquela que acontece depois da conduta do agente. 
Quanto à sua relação com a conduta do agente, à sua origem: 
i) Concausas absolutamente independentes 
Nesse caso, nenhuma das modalidades cronológicas pode ser 
imputada ao agente uma vez que sua conduta não está relacionada 
ao resultado – ou seja, qualquer concausa absolutamente 
independente rompe com o nexo causal. 
ii) Concausas relativamente independentes 
Nessa hipótese, não é possível romper o nexo causal pois, ainda que 
por um lado ela seja relativamente independente, por outro é 
relativamente dependente da causa originária, aquela realizada pelo 
agente. Por isso, entende-se que para as concausas relativamente 
independentes preexistentes e concomitantes, não há rompimento do 
nexo causal. Porém, de acordo com o §1º do art. 13, CP, na concausa 
relativamente independente superveniente, caso tenha por si só 
causado o resultado criminoso, rompe o nexo causal, não admitindo 
imputação ao agente da causa originária. 
 
3) Teorias de imputação objetiva – Honig 
Pretendem reduzir o alcance considerado, por vezes, excessivo da equivalência das 
condições a partir de critérios jurídicos. Rompe, de certa forma, com a causalidade natural, 
mas tem o ponto em comum da ideia de responsabilidade. 
OBS: se cair na prova uma questão sobre a responsabilidade de um agente sobre um 
caso concreto ou mencionar as teorias que tratam da causalidade, tenham em mente que 
devem ser citadas também as teorias da imputação objetiva. 
As principais teorias são: 
a) Teoria do Risco – Roxin 
Após a verificação da causalidade, devem ser verificados alguns critérios de 
imputação objetiva, para assim determinar se o resultado pode ser atribuído a 
alguém. Os requisitos seriam: 
i) Diminuição do risco – para haver crime tem que haver aumento do 
risco; se há diminuição, não deverá haver imputação de resultado; 
ii) Criação de risco juridicamente relevante – risco a ser criado deve ter 
alguma importância e o resultado atingido deve depender 
exclusivamente de sua vontade 
iii) Aumento do risco permitido – ainda que não haja diminuição do risco, 
deve ser demonstrado que houve efetivo incremento do risco; 
iv) Esfera de proteção da norma – o incremento do risco mencionado 
deve se encontrar dentro do alcance protetivo da norma. 
Essa tese é mais comum para nós pois é compatível com nosso CP, que adota 
o critério de causalidade. 
b) Teoria dos papéis – Jakobs 
Jakobs acredita que o comportamento humano está vinculado a determinados 
papéis sociais e adota uma tese que desconsidera a relação de causalidade, 
adotando quatro critérios para determinar se cabe ou não imputação a alguém: 
i) Risco permitido – cada indivíduo se comporta conforme o seu papel em 
sociedade e, se o fizer, mesmo que crie algum risco, não poderá ser 
incriminado. 
ii) Princípio da confiança – as pessoas, em sociedade, devem confiar que as 
outras cumprirão seus papéis sociais e quem agir considerando que os 
demais agirão conforme seus papéis, não poderá haver imputação. 
iii) Proibição de regresso – se cada indivíduo agir conforme o seu papel, não 
poderá haver imputação; 
iv) Competência ou capacidade da vítima – deve ser levado em conta o 
consentimento do ofendido e as ações a próprio risco. 
TIPO OMISSIVO 
 Omissão = agente deixa de agir quando podia e deveria agir (art. 13, §2º, CP); não é 
sinônimo de inatividade corporal – essa só se torna omissão a partir de uma valoração 
jurídica. Ou seja, crimes omissivos são aqueles em que se viola norma que impõe 
comportamento ativo, com abstenção de atividade devida. Consistem em não fazer o que a 
lei manda. 
 O poder de fato de atuar abrange a necessidade de: a) conhecimento da situação 
típica da qual deflui o dever; b) possibilidade física real de realizar a ação ordenada. A lei 
brasileira prevê apenas crimes omissivos próprios dolosos. 
 Nãose pode pensar em causalidade na omissão, uma vez que ela deixa de impedir, 
mas não gera o resultado, que já está acontecendo, ainda que o caput do art. 13, CP, 
considere causa inclusive a omissão sem a qual resultado não teria ocorrido. 
 Porque omissão é punível? Por conta da lógica de solidariedade. O Direito Penal ao 
tipificar condutas omissivas exige um comportamento solidário em sociedade. Dessa forma, 
em situações extremas, a conduta omissiva não é tolerável – não importa se a omissão é 
profissional ou não. 
 A omissão pode ser reprovável por si só? Sim. Se alguém deixar de ajudar outra 
pessoa quando poderia/deveria, mesmo que isso não resulte em situação lesiva, ainda assim 
a conduta é incriminável. 
 RESSALVA: indivíduos tem que agir, não impedir resultado; em algumas situações, 
nem todos podem agir. 
 Para que seja configurada a omissão, deve-se observar se há a possibilidade de agir, 
que não é geral e só pode ser verificada no caso concreto – ou seja, deve levar em conta a 
capacidade do indivíduo, não podendo ser verificada em teoria – e/ou se há o dever de agir, 
que é um critério jurídico, em que há uma regra que exige determinada conduta. 
 O Estado não pode exigir heroísmo – se age no limite de suas possibilidades, o que 
se exige de cada é um diferente. Porém, algumas profissões tem o dever de enfrentar perigo, 
se necessário. 
 Os crimes omissivos podem ser: 
a) Próprios ou puros – pode ser cometido por qualquer um, pois é quando o agente 
não agiu quando poderia e deveria, independente do resultado. Ou seja, é um 
crime de mera conduta/desobediência, o que não admite tentativa – por isso, 
também, de nada vale a demonstração de que não mudaria o resultado a ação 
do agente, pois não importa o resultado para esse tipo. São crimes previstos em 
tipos penais autônomos, na Parte Especial do CP. 
b) Impróprios – só pode ser cometido por agentes garantidores, que responderão 
por crimes comissivos por omissão – ou seja, responde por um crime que, em 
regra, é comissivo, mas por omissão. Admite-se tentativa – seria tentativa de 
homicídio por omissão, por ex. Nesses casos, agente viola norma implícita 
existente junto à norma proibitiva (do crime comissivo), que lhe impõe o dever 
jurídico de ativar-se, impedindo o resultado. Porém, o que o obriga a impedir o 
resultado deve ser um dever jurídico, nunca um mero dever moral. É previsto na 
Parte Geral do CP. 
 
AGENTES GARANTIDORES 
São aqueles que tem obrigação de agir e impedir resultado, são pessoas 
determinadas pelo Estado que, por seu dever, recebem tratamento mais severo pela 
responsabilidade de sua conduta. Sua consequência jurídica é a de responder por resultado 
não evitado. 
Hipóteses para ser agente garantidor (dispostas nas alíneas do §2º do art. 13): 
a) Obrigações legais – normalmente são obrigações do direito de família, 
bombeiros, policiais, salva-vidas, etc. 
b) Obrigações contratuais – quando o agente assume a responsabilidade de evitar 
resultado. Isso pode acontecer por um simples contrato verbal, ao se oferecer para 
ajudar alguém, porém respeitando o limite da responsabilidade. 
c) Aquele que cria a situação de perigo deve fazer o que está ao seu alcance para 
impedir danos recorrentes dessa situação. 
 
TIPO SUBJETIVO 
O Código Penal faz referências ao tipo dolo e ao tipo culposo. Em regra, todo crime 
é doloso; para ser culposo, deve ser nos casos expressos na lei. PORQUÊ? Excepcionalmente 
se pune crime culposo quando a conduta é tão grave que deve ser punida. 
O aspecto subjetivo compõe-se necessariamente do dolo e, eventualmente, de 
outros elementos subjetivos especiais da conduta, chamados elementos subjetivos do tipo 
(injusto). A concepção clássica desconhecia o conceito do tipo subjetivo, surgindo o dolo 
como elemento ou forma da culpabilidade. 
TIPO SUBJETIVO DOLOSO (art. 18, inciso I, CP) 
O CP define o que se deve entender por dolo, ao estabelecer que o crime é doloso 
“quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. 
Dolo = consciência e vontade na realização da conduta típica. Compreende um 
elemento cognitivo (conhecimento do fato que constitui a ação típica) e um elemento 
volitivo (vontade de realiza-la). 
O dolo pode ser: 
a) Direto 
i) De 1º grau 
Quando o agente quis produzir o resultado. 
ii) De 2º grau 
Quando o agente quer produzir um resultado e, para conseguir esse ou 
na tentativa de alcançá-lo, produz outro resultado danoso evitável – ou 
seja, escolheu causar tal conduta danosa, mesmo que o lamente, para 
alcançar outro resultado. 
b) Eventual 
Quando o agente assume o risco de produzir o resultado. Assumir o risco significa 
prever o resultado como possível ou provável e aceita ou consentir com sua 
superveniência. 
 Nossa lei equipara dolo direto ao dolo eventual. Porém, na aplicação de pena, a lei 
manda que o juiz atenda à culpabilidade do agente, ou seja, a ou maior ou menor 
reprovabilidade da conduta delituosa. O elemento essencial do juízo de reprovação é o 
conteúdo psicológico da ação ou da omissão. O dolo direito revela maior determinação e 
perversidade e é, pois, modalidade mais grave da conduta típica que o dolo eventual. 
OBS: Crime Preterdoloso – quando há dolo e culpa na mesma conduta. Tem um 
dolo, mas o resultado é outro. Melhor exemplo: lesão corporal seguida de morte. 
TIPO SUBJETIVO CULPOSO (art. 18, inciso II, CP) 
 A concepção clássica da doutrina do Direito Penal reduzia o crime culposo a uma 
forma de culpabilidade, representada pela negligência, imprudência ou imperícia da 
causação do resultado, que constituiria, como nos seus correspondentes dolosos, a conduta 
típica. O dolo e a culpa stricto sensu são, no entanto, inteiramente diversos. Dolo é um 
fenômeno psicológico, ao passo que culpa stricto sensu só tem existência no plano 
normativo. 
A definição de crime culposo do CP é insatisfatória. Para um crime culposo ocorrer, 
ele deve preencher alguns requisitos: indivíduo deve dar causa a resultado criminoso 
previsível a partir de um comportamento lícito, tendo-o previsto ou não, por ter agido sem o 
cuidado previsto em lei. Ou seja, não é o mesmo que “sem intenção”. Seu elemento decisivo 
de ilicitude do fato culposo reside no desvalor da ação, e não do resultado. 
 A conduta que o agente está realizando é lícita, mas por realiza-la em inobservância 
das normas de atenção, cuidado ou diligência, acaba dando origem a um resultado ilícito. 
Além disso, tal resultado deve ser previsível para uma pessoa razoável e prudente (ainda que 
o agente não o tenha previsto). A isso é dado o nome de previsibilidade objetiva, que 
estabelece a antijuridicidade. Porém, para estabelecer culpa, ou seja, reprovabilidade pessoal, 
é necessária a previsibilidade para o agente, nas circunstâncias concretas em que atuou e 
tendo-se em vista suas condições pessoais – e isso em a ser a previsibilidade subjetiva. Ao fim, 
a previsibilidade subjetiva é o limite mínimo da ilicitude nos crimes culposos. 
Não existe tentativa de crime culposo; crime culposo tem que ter resultado. Se você 
pratica uma conduta lícita de forma descuidada, mas não há resultado danoso, não há 
punição. 
 Mesmo em caso de concorrência de culpa da vítima, não há compensação de culpa 
no Direito Penal. Ela não elimina – ainda que atenue – a culpa do agente, que deve 
responder pelo fato. A culpa da vítima deve, no entanto, ser considerada na medida da pena. 
Somente a culpa exclusiva da vítima isenta o agente de responsabilidade penal. Se os dois 
tem conduta culposa, os dois respondem pelo que tiverem feito. 
OBS: Não se mensura culpa pela gravidade do resultado! 
 A inobservância do dever de cuidado pode se apresentar em três modalidadesde 
culpa: 
a) Imprudência – comportamento comissivo; falta de prudência, de precaução, ou 
seja, a conduta arriscada. 
b) Negligência – comportamento omissivo de falta de cuidado; desatenção, 
desleixo, descuido. 
c) Imperícia – falta de aptidão técnica, de habilidade ou destreza, no exercício de 
qualquer atividade; quando há a exigência de conhecimento. 
Existem três modalidades de culpa: 
a) Consciente – indivíduo prevê possibilidade do resultado criminoso, ainda que não 
o deseje, não aceitando o risco de produzi-lo. 
b) Inconsciente – indivíduo não prevê resultado criminoso. 
c) Imprópria – é uma conduta dolosa à qual a lei reserva pena de um crime culposo, 
por sua pena ser mais branda. É o que ocorre com as descriminantes putativas, 
que decorrem de um erro sobre a legitimidade da ação realizada, em que o 
agente supõe agir de forma lícita, por erro, acreditando existir situação que 
tornaria conduta lícita. 
DOLO EVENTUAL x CULPA CONSCIENTE 
A diferença entre os dois é muito sensível. Na culpa, o agente prevê o 
resultado como possível ou provável, mas não o aceita ou consente. A teoria positiva 
do consentimento procura estabelecer um critério para notar se é ou não dolo 
eventual: “seja assim ou de outra maneira, suceda isto ou aquilo, em qualquer caso 
agirei”. Revela-se, assim, a indiferença do agente em relação ao resultado. Na culpa 
consciente, o agente é tolo e não acreditou no resultado; no dolo eventual, o agente 
é vil e não se importa com o resultado. 
Nos tribunais brasileiros, já existe o critério de probabilidade de dano, em que 
a maior probabilidade corresponde a dolo eventual, e a menor, a culpa consciente. 
Existe também a jurisprudência, que em alguns casos já consolidou qual seria a 
imputação penal adequada (como pega de carros, por exemplo, que é considerada 
dolo eventual). Além disso, cabe ao julgador interpretar os fatos no caso concreto. 
Ilicitude ou antijuridicidade 
 É uma característica negativa, um juízo negativo de valor, que denota contrariedade 
entre a conduta do indivíduo e o que o Direito/ordenamento quer proteger. Ilícita é a 
conduta contrária ao direito. Em regra, normalmente uma conduta típica é ilícita, a menos 
que esteja coberta por uma causa de exclusão de ilicitude. 
 Distingue-se ilicitude do injusto. O injusto é a conduta ilícita em si mesma considerada, 
sendo a antijuridicidade uma qualidade do injusto – ou seja, uniria em um elemento só do 
crime tanto a tipicidade quanto a ilicitude. (injusto = tipicidade + ilicitude = reprovabilidade 
da conduta) 
A antijuridicidade é unitária, para todo o ordenamento jurídico, e não pode ser maior 
ou menor. O injusto pode ser penal, civil, etc e é suscetível de ser mais ou menos grave. 
Aquela conduta que é ilícita para um direito será para os demais (e se é permitida, também 
vale essa regra), o que diferencia são as consequências jurídicas. 
 Existem os aspectos: 
a) Formal – é a contrariedade da conduta com o que está disposto na norma ou 
em um conjunto de normas. 
b) Material – se constitui pela lesão produzida pelo comportamento humano que 
fere o interesse jurídico (ou bem jurídico) protegido pelo ordenamento, além da 
condição da conta com a previsão da norma. Em outras palavras, seria a 
contrariedade da conduta com o que o Estado quer proteger, com todo o 
ordenamento jurídico. Relaciona-se com o princípio da bagatela e da adequação 
social. 
CAUSAS DE EXCLUSÃO OU JUSTIFICAÇÃO DA ILICITUDE (art. 23, caput, 
CP) 
 Como o ordenamento jurídico não tem somente normas proibitivas, é necessário 
verificar se a conduta não está coberta por uma norma permissiva. São as circunstâncias que 
excluirão a ilicitude da conduta, podendo ser de ordem legal ou supralegal. Todas as causas 
de exclusão têm dispositivos contra os excessos cometidos por quem as utilize (§único do 
art. 23, CP). São elas: 
1) Estado de necessidade (art. 24, CP) 
Quando, por conta de situações extraordinárias, há a condição de perigo em que 
existem dois ou mais bens jurídicos em conflito, que demanda o sopesamento entre eles, em 
que um acaba sendo sacrificado. 
Quando um indivíduo abre mão de um bem jurídico de menor valor em prol de um 
bem jurídico de maior valor ou quando os dois tem o mesmo valor, tem-se o estado de 
necessidade justificante, que exclui a ilicitude. Porém, o contrário não vale dessa forma: o 
sacrifício de um bem de maior valor para proteger um de menor valor é considerado 
exculpante, que de acordo com o CP, não exclui a ilicitude, mas pode vir a excluir a 
culpabilidade (pela inexibilidade de conduta diversa) ou atenuar a pena – ou seja, nesse 
último caso, haveria crime. 
Pressupostos para o estado de necessidade (art. 24, caput, CP): que seja um perigo 
atual; que não tenha sido provocado por sua vontade; nem podia de outro modo evitar (se 
havia outra forma de proteger o bem jurídico senão atacando o outro, esta forma deveria 
ser priorizada), para proteger direito próprio ou alheio (se se trata de bem pertencente a 
terceiro, é indiferente se esse tinha ou não consciência do perigo) cujo sacrifício, nas 
circunstâncias, não era razoável exigir-se. Esses seriam os elementos objetivos para 
reconhecer esse estado. 
Existe uma discussão doutrinária acerca da possibilidade do uso do estado de 
necessidade caso a pessoa tenha provocado a situação em questão. Quando for dolosa, o 
próprio CP veda a utilização dessa forma de justificação. Porém, quando for culposa, há os 
doutrinadores que acreditam que também é vedada sua utilização, mas há os que acreditam 
que a pessoa em questão poderia, sim, se valer do estado de necessidade – e essa é a opinião 
do Japiassu. 
Já o elemento subjetivo causa divergência doutrinária, uma vez que o código não 
faz menção à subjetividade em relação ao estado de necessidade. Dessa forma, uns 
acreditam que seja necessário somente satisfazer os elementos objetivos, mas outros 
acreditam que é imprescindível a vontade de salvar os bens jurídicos (animus defendendi) – 
tanto quanto a consciência da situação de perigo – para que seja configurada essa causa 
de exclusão – e essa é a opinião do Japiassu. 
Além disso, também de acordo com o CP, não se pode alegar estado de necessidade 
caso a pessoa tenha o dever legal de enfrentar o perigo (§1º do art. 24, CP) – isso respeitando 
o limite do razoável, pois, não demanda heroísmo. Ademais, a pessoa atingida pela ação 
praticada no estado de necessidade não reage em legítima defesa, mas também em estado 
de necessidade. 
2) Legítima defesa (art. 25, CP) 
Situação em que existe uma reação a uma ação – e só humanos podem realizar ação. 
Ou seja, caso alguém se defenda contra um animal feroz, não se trata de legítima defesa, 
mas sim de estado de necessidade. Caso seja um humano que esteja instigando um animal 
para te atacar, aí se trata de legítima defesa. 
Seus pressupostos são: 
a) Usar moderadamente os meios necessários – ou seja, devem ser usados 
os meios estritamente necessários para repelir a ação, uma vez que o CP 
prevê punição para excessos. Os excessos podem ser dolosos (quando 
alguém se aproveita da legítima defesa para ir além) ou culposos (quando 
se causa lesão além da necessidade sem a intenção). 
b) Para repelir injusta agressão – a agressão justa acontece em face de uma 
injusta. É injusta a agressão que o direito não autoriza nem permite e que 
o agredido não está obrigado a suportar; também é injusta a agressão 
praticada por inimputáveis ou por quem age sem culpabilidade, sendo 
cabível nesses casos a legítima defesa. 
c) Atual ou eminente – a primeira é a que está se desenvolvendo, a segunda 
é a que está em via de efetivação imediata. Não é atual a agressão que já 
terminou,salvo se esse se protrai (como nos crimes permanentes). 
d) A direito seu ou de outrem. 
Além do CP, alguns autores acreditam que devem haver a intenção de defender bem 
jurídico (animus defendendi) – e um desses autores é o Japiassú. 
Tipos de legítima defesa: 
a) Real ou própria – reúne todos os elementos, conforme o código. 
b) Putativa – indivíduo imagina estar em uma situação que admite legítima 
defesa, mas na verdade se engana e não está; tem todos os motivos para 
acreditar estar repelindo uma agressão, mas não está. Caso seja provada 
sua sinceridade ao acreditar estar repelindo uma agressão, haverá a causa 
de justificação. 
c) Sucessiva – do excesso. Papéis são invertidos e vítima inicial se torna 
agressora, por conta de sua desproporcional reação. Dessa forma, cabe a 
legítima defesa do inicial agressor, que se tornou vítima, realizando assim 
a legítima defesa sucessiva. 
d) Recíproca – é a legítima defesa da legítima defesa. Ou seja, agressor 
responde a reação de sua vítima – logicamente, tal legítima defesa não 
exclui ilicitude. 
e) Preordenada – situação em que a agressão é futura, mas praticamente 
certa, e a pessoa já defende. Em geral não exclui a ilicitude, mas isso pode 
vir a ser relativizado de acordo com o contexto. 
OBS: A injustiça da agressão não se exclui pela provocação – porém, se por meio da 
provocação o agente pretende gerar o pretexto da legítima defesa para poder agredir o 
provocado, não existe legítima defesa. Também não é verificada caso a provocação constitua 
verdadeira agressão. 
3) Exercício regular de direito (art. 23, inciso III, CP) 
Se o exercício de um direito acarretar conduta típica, tal conduta é lícita, pois é 
inconcebível que o ordenamento jurídico, por um lado, conceda um direito, e por outro 
torne ilícita a ação que corresponde ao seu exercício. A ilicitude só poderia surgir em caso 
de abuso, em que a pessoa excede os limites estabelecidos por lei. Além disso, o sujeito deve 
ter consciência que atua no exercício de um direito. 
Com esse tema vem a questão dos ofendículos, que são mecanismos de defesa pré-
dispostos. Existe um grande debate quanto a sua natureza jurídica. Os autores 
contemporâneos separam tais mecanismos em dois: aqueles facilmente percebidos e com 
menor potencial lesivo (como cacos de vidro no topo de muros, por exemplo) e aqueles 
discretos ou ocultos, que possuem maior potencial lesivo (como cercas eletrificadas ou armas 
pré-dispostas). No primeiro caso, é considerado que tem natureza jurídica de exercício 
regular de direito de propriedade; no segundo, trataria-se de legítima defesa preordenada. 
O limite, entretanto, colocado para a possível lesão a bem jurídico realizada pelos ofendículos 
seria a proporcionalidade entre a possibilidade do dano e o que tais mecanismos são capazes 
de fazer. 
4) Estrito cumprimento do dever legal (art. 23, inciso III, CP) 
Indivíduo que faz algo ordenado pela lei não pode realizar conduta ilícita – aqui não 
se trata de uma faculdade, como no caso anterior, mas sim de um dever legal de que o 
agente deve ter consciência. Novamente, aqui também há ressalvas quanto ao excesso. 
5) Consentimento do ofendido 
Trata-se da única causa supralegal. Vítima consentindo pode excluir tanto a ilicitude 
quanto a tipicidade (em normas que demandam consentimento, mesmo que não esteja 
escrito explicitando tal demanda). 
Seus requisitos são: capacidade de consentimento da vítima, que inclui tanto 
maioridade quanto sanidade; liberdade de consentimento, que deve ser válido, idôneo e 
não coagido; disponibilidade do bem jurídico penal, pois, se o for, dele as pessoas podem 
dispor como bem quiserem – vida, por exemplo, é um bem indisponível, mas existem bens 
que são disponíveis dependendo da lesão a ele, como por exemplo a integridade física, no 
caso de tatuagens e; consentimento deve ocorrer antes ou durante a conduta – caso seja 
posterior, pode resultar em exclusão do crime ou atenuação de pena, mas nunca excluindo 
a ilicitude. 
Bens disponíveis ou bens de interesse exclusivamente privado são aqueles que a lei 
protege somente se é atingido contra a vontade do interessado, e existem os bens 
indisponíveis, ou seja, aqueles em que há interesse coletivo em sua preservação, sendo assim 
irrenunciáveis. 
OBS: antes de praticada a ação, consentimento pode ser revogado. Além disso, é 
indispensável que o agente tenha consciência do consentimento e atue em função dele. 
Culpabilidade 
 Culpabilidade = é a reprovabilidade do indivíduo. É a possibilidade dele responder 
por conduta criminosa, ou seja, se ele é culpável por tal conduta. Sujeito precisa ser culpável 
e estar culpável no momento da conduta, tendo a realizado com liberdade. 
 Culpa = reprovabilidade da conduta ilícita típica de quem tem capacidade genérica 
de entender e querer (imputabilidade) e podia, nas circunstâncias em que o fato ocorreu, 
conhecer a sua licitude, sendo-lhe exigível comportamento que se ajuste ao direito. 
 Entendia-se, antigamente, que a culpa era o nexo psicológico que liga o agente ao 
evento, apresentando o dolo e a culpa stricto sensu como espécies da culpabilidade (teoria 
psicológica da culpabilidade). Porém, não há qualquer vínculo psicológico entre o agente e 
o resultado nos casos de culpa inconsciente. Por outro lado, se a culpa se esgota no nexo 
psicológico, conclui-se que o inimputável também age culpavelmente, pois o menor e o 
insano são capazes de agir com vontade – o mesmo é afirmado para ações praticada sob 
coação moral irresistível. 
 Alguns autores defendem que, por a culpabilidade ser um juízo de reprovabilidade, 
ele não é um elemento do conceito de crime, mas sim um pressuposto para a aplicação da 
pena. Porém, essa teoria é minoritária. 
 Para alguém ser culpável, ou seja, para que a culpabilidade seja verificada, é preciso 
que os seguintes critérios sejam respeitados: 
a) Imputabilidade – é a condição pessoal da capacidade de entender o caráter ilícito 
do fato ou de se determinar segundo esse entendimento. São esses os requisitos: 
i) Maturidade (art. 27, CP) – pura verificação de idade; indivíduo deve ser 
maior de 18 anos. Critério objetivo, onde única contestação pode ser a 
veracidade da certidão de nascimento – se não puder ser constatada a 
idade do agente, será realizado um teste dentário para aferir quesito de 
imputabilidade. Menores de 18 anos estão sujeitos à legislação especial. 
São crianças indivíduos de até 12 anos e adolescentes de 12 a 18 anos. 
OBS: Emancipados - Menor que é autorizado precocemente a realizar atos 
perante a sociedade – não tem efeitos penais! Continua inimputável, pois 
só produz efeitos civis. 
ii) Sanidade (art. 26, CP) – sobre a capacidade mental do indivíduo. Deve-se 
verificar a existência de doença mental que vá influenciar no momento do 
crime – ou seja, que influencie na capacidade de entender e querer agir 
de forma lesiva. É utilizado o critério biopsicológico normativo: não terá 
sanidade aquele que tem desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado que lhe retire a capacidade de entender e querer, e tal condição 
o estava acometendo no momento da conduta (art. 26, caput, CP). É um 
médico que atesta tanto a doença quanto o estado mental – não há uma 
lista de doenças ou deficiências pré-determinadas. 
OBS: Além dos inimputáveis, expressos nos casos acima, existem também 
os semi-imputáveis (ou casos fronteiriços), aqueles que não são 
perfeitamente capazes de entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse entendimento – nesse caso, a pena é 
diminuída e ele não é julgado como um total incapaz; ele possui sanidade, 
mas estava comprometida (§único do art. 26, CP). 
OBS²: A doutrinae a jurisprudência incluem os deficientes surdos-mudos 
e os silvícolas (índios) inadaptados na mesma categoria que pessoas com 
desenvolvimento mental retardado ou incompleto, por não se acreditar 
não serem totalmente adaptados à sociedade e, assim, não podendo 
discernir o certo do errado quanto ao ordenamento jurídico brasileiro. 
b) Potencial conhecimento da ilicitude – significa se o indivíduo tem meios a sua 
disposição para supor que aquilo é crime; o que é completamente diferente de 
conhecimento da lei (inescusável, de acordo com o artigo 3º do LINDB, ainda 
que possa atenuar pena, consoante inciso II do art. 65, CP). Sujeito pode até alegar 
que não sabia que era crime, mas se tinha meios para saber disso, é culpável. 
c) Exigibilidade de conduta diversa – o indivíduo somente terá culpabilidade se for 
possível exigir dele conduta diversa; ou seja, só é culpável se ele teve opção de 
realizar ou não conduta criminosa. Não deve ter, assim, vontade viciada ou 
coagida. Entram aqui os casos de: 
i) Coação moral irresistível (art. 22, CP) – resulta da ameaça ou intimidação, 
expressa ou tácita, da revelação do propósito de causar um mal futuro, 
cuja superveniência dependerá da vontade do agente. A gravidade da 
ameaça relaciona-se com o mal, que deve ser relevante e considerável, 
tendo-se em vista as condições da pessoa ameaçada. Há o dolo e vontade, 
mas não há liberdade de escolha. Agente que coagiu responde pela 
prática do crime. 
ii) Obediência hierárquica de ordem pública (art. 22, CP) – se a ordem de 
um superior em uma relação profissional hierárquica de natureza pública 
for uma conduta criminosa, isso pode excluir a culpa do subordinado (que 
deve ser servidor público civil ou militar) se a ordem não for 
manifestadamente ilegal; superior é punível! Porém, isso só vale se o 
subordinado não souber da ilegalidade da ação requerida. 
OBS: manifestadamente ilegal – isso deve ser entendido de acordo com 
as circunstâncias concretas e as condições do subordinado. 
iii) Estado de necessidade exculpante (art. 24, §2º, CP) – é minorante de pena 
e pode excluir a culpabilidade se, naquele caso concreto, ele não teve 
opção e teve que realizar a conduta, implicando na falta de ECD. 
PAIXÃO E EMOÇÃO (art. 28, inciso I, CP) 
 Emoção = forte abalo psicológico passageiro, que acomete e passa. 
 Paixão = sentimento que dura. 
Não é porque indivíduo estava tomado por emoção e/ou paixão que ele se torna 
sem sanidade para realizar conduta, tais indivíduos continuam imputáveis – não existe crime 
passional. O que existe, porém, é que dependendo do crime, pode atenuar a pena em caso 
esteja previsto no CP a expressão “sob violenta emoção”, que normalmente vem 
acompanhada de “injusta provocação da vítima”. Nesse caso, não é a emoção que justifica 
o abrandamento penal, mas o motivo em que ela se origina (atenuante do art. 65, inciso III, 
alínea “c”, CP). 
EMBRIAGUEZ (art. 28, inciso II, CP) 
 Embriaguez = intoxicação aguda causada pelo álcool ou substância de efeito 
análogo – lei penal não distingue substância. 
 Seus estágios são: 
1) Excitação 
2) Depressão 
3) Sono 
No primeiro, a embriaguez é incompleta; nos outros dois, já é considerada completa. 
Suas espécies são: 
a) Culposa – é a espécie mais cotidiana; bebe não para se embriagar, mas isso acaba 
acontecendo. 
b) Voluntária – vontade e intenção de se embriagar; seja para comemorar ou 
lamentar. 
c) Fortuita – embriaga-se por força maior (não pode resistir à embriaguez) ou caso 
fortuito (sem saber que está se embriagando). 
d) Preordenada – cotidiana na criminalidade urbana; indivíduo se embriaga para 
perder limites sociais e poder delinquir. 
e) Patológica – casos de dependentes que não conseguem permanecer sóbrios ou 
aqueles que tem intolerância a álcool – são tratados como inimputáveis. 
A teoria que tenta solucionar o problema da culpabilidade na embriaguez é a actio 
libera in causa, que determina que ação deve ser livre na origem (de se embriagar); 
verificação se sujeito sabe o que faz acontece antecipadamente – ou seja, se o início da 
embriaguez foi voluntário, sujeito responde pelo crime, pois ele deve saber que pessoas 
embriagadas tem mais probabilidade de cometer conduta típica. 
Dessa forma, somente a espécie patológica e fortuita tem sua culpabilidade excluída 
– essa última, somente se embriaguez for completa; caso seja incompleta, sua pena é 
atenuada. Nos casos de embriaguez preordenada, sua pena é aumentada (artigo 61 – inciso 
I, alínea “l”, CP). 
A actio libera in causa pode ser rompida? Dificilmente, pois deveria ser provado que 
o desdobramento foi imprevisível no momento do início da ação (quando começa a beber). 
Não se aplica essa teoria se o agente se deixou arrastar ao estado de absoluta inconsciência. 
Portanto, de forma geral, o estágio e a espécie de embriaguez vão determinar a resposta 
penal. 
Teoria do erro 
 Deve-se diferenciar erro de ignorância. O primeiro é a falsa representação da 
realidade, e pode ser alegado no Direito Penal. Já a ignorância é a ausência de 
representação da realidade, não podendo ser alegada no Direito Penal – ou seja, 
desconhecimento da lei é inescusável. 
ERRO VENCÍVEL E INVENCÍVEL (§único, art. 21, CP) 
 Erro vencível ou evitável – aquele inescusável, na medida em que poderia ser 
contornado por uma pessoa diligente que estivesse no lugar do agente, ou seja, com mais 
atenção, a pessoa não teria errado. Esse tipo de erro pode excluir o dolo, mas ser punido a 
título de culpa para os casos de erro de tipo ou diminuir a culpabilidade em casos de erro 
de proibição. 
 Erro invencível ou inevitável – aquele escusável, do qual qualquer pessoa teria agido 
da mesma maneira que o agente. Caso demande algum tipo de conhecimento especial 
além de suas habilidades e a pura atenção não teria evitado, também entra nesse caso. Exclui 
o dolo e, por consequência, a prática do crime. 
 Essa é uma classificação concreta, que só pode ser feita caso a caso. 
ERRO ESSENCIAL E ACIDENTAL 
 O erro essencial – aquele que se refere ao injusto; ou seja, quanto a tipicidade e a 
ilicitude, tratando-se de um elemento essencial do crime, como no exemplo em que um 
homem mata outro acreditando ser uma onça. 
 O erro acidental – aquele em que não se erra um elemento essencial do crime, mas 
um elemento acessório, ou seja, há um erro de execução, como no exemplo em que alguém 
pretende matar uma pessoa, mas mata por engano outra. Tem tratamento penal especial. 
ERRO DE TIPO (art. 20, CP) 
 É aquele que incide sobre os elementos que compõem um determinado tipo. No 
erro de tipo, o agente conhece a norma proibitiva, mas desconhece a própria conduta, 
acreditando que não está realizando conduta típica. O erro pode ser de natureza factual 
(como pegar caneta acreditando que é sua, por exemplo) ou jurídica (trazer algo de fora 
sem saber que tal produto é considerado como contrabando). Se o erro foi invencível, 
excluirá o dolo e a culpa, mas se for vencível houver modalidade culposa, o agente será 
punido a título de culpa. Pode ser tanto essencial (conhecendo conduta tipificada mas não 
reconhecendo sua conduta como típica) quanto acidental (conhecendo conduta tipificada 
e desejando realiza-la, mas errando na execução do crime). Nesse último caso, não há a 
exclusão de dolo. 
ERRO DE PROIBIÇÃO (art. 21, CP) 
 É aquele que versa sobre a ilicitude. Quando o agente desconhece a lei, e age 
acreditando que sua conduta está de acordo com ordenamento jurídico. Deve ser verificada 
que não havia meios para que o agente soubesse da ilicitude da conduta – ou seja, não 
pode haver o potencial conhecimento da ilicitude. Caso menos frequente, pois é difícil deprovar. 
 O erro de proibição exclui a culpabilidade, se inevitável. Se for considerado evitável, 
há uma diminuição de pena. 
 Existem três espécies: 
i) Erro de proibição direto – modalidade acima. 
ii) Erro mandamental – espécie de erro que recai em crimes omissivos 
próprios ou impróprios. É um deixar de fazer quando se devia fazer. 
iii) Erro de proibição indireto – aquele em que o agente: erra sobre os 
pressupostos fáticos de uma causa de justificação; erra a causa de 
justificação; ou erra sobre os limites de uma causa de justificação. 
ERRO SOBRE A PESSOA (§3º do art. 20, CP) 
 Quando uma pessoa deseja cometer um crime contra uma pessoa, mas acaba 
errando, lesando outra acreditando ser aquela que queria inicialmente lesar – há um erro 
de representação mental. Diferente da hipótese análoga do artigo 73, de erro de execução, 
em que a pessoa deseja cometer crime contra uma pessoa específica e reconhece a pessoa 
na situação em questão, mas erra na execução, acertando outra sem querer. Nos dois casos, 
responde como se tivesse lesado a pessoa que queria lesar. 
ERRO DETERMINADO POR TERCEIRO (§2º do art. 20, CP) 
 Hipótese em que o agente se utiliza de um terceiro para praticar uma conduta típica. 
Caso o erro provocado seja invencível, o terceiro não terá dolo e, portanto, não responderá 
pelo crime. Se for vencível, o terceiro poderá responder a título de culpa, o que não impede 
a punição daquele que determinou o erro. 
DESCRIMINANTES PUTATIVAS (§1º do art. 20, CP) 
 Hipóteses em que o sujeito realiza conduta típica imaginando estar sob alguma causa 
de justificação, sem que esteja. Se o erro for justificado pelas circunstâncias do caso concreto, 
ou seja, se for um erro invencível, não há crime. Porém, se for erro vencível, pode responder 
por crime culposo. 
 Existe o debate doutrinário que delibera se as descriminantes putativas são erros de 
tipo ou de proibição. Existem os que acreditam que, caso o erro seja quanto a situação fática 
(se há ou não causa de justificação), o erro é de tipo. Porém, caso o erro seja quanto a 
permissão da extensão da causa de justificação, se trataria de um erro de proibição. Outros 
autores – e acredito que essa seja a opinião do Japiassu – acreditam que já é firmado que, 
nesse caso, o erro é de proibição. O CP não soluciona essa dúvida, uma vez que primeiro 
isenta de pena, dando natureza de erro de proibição, e depois permite a punição a título 
culposo, o que daria as descriminantes putativas natureza de erro de tipo 
 
*”isento de pena”, no CP, normalmente quer indicar exclusão da culpabilidade. 
*”não há crime”, no CP, normalmente quer indicar exclusão da ilicitude.

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