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AULA Nº 14 NEGOCIAÇÕES COLETIVAS OBJETIVOS A Convenção nº 154 da OIT esclarece que a negociação coletiva compreende todas as negociações que tenham lugar entre, de uma parte, um empregador, um grupo de empregadores ou uma organização ou várias organizações de empregadores e, de outra parte, uma ou várias organizações de trabalhadores, visando: a) fixar as condições de trabalho e emprego; b) regular relações entre empregadores e trabalhadores; c) disciplinar as relações entre empregadores ou suas organizações e ou várias organizações de trabalhadores ou alcançar todos esses objetivos de uma só vez. A negociação coletiva é uma forma de ajuste de interesses entre as partes, que acertam os diferentes entendimentos existentes, visando encontrar uma solução capaz de compor suas posições. A negociação coletiva envolve um processo que objetiva a realização da convenção ou do acordo coletivo de trabalho. Qualifica- se, assim, pelo resultado. As partes acabam conciliando seus interesses, de modo a resolver o conflito.1 A negociação coletiva possui os seguintes objetivos: 1) jurídico; 2) político; 3) econômico; 4) ordenador; 5) social. 1) Jurídico: os objetivos jurídicos subdividem-se: a) Normativo, de criar normas aplicáveis às relações individuais de trabalho, até mesmo para pior, como nas crises econômicas. São estabelecidas regras diversas das previstas em lei. Atua a negociação coletiva no espaço em branco deixado pela lei. É a criação de normas que serão aplicadas às relações individuais de trabalho desenvolvidas no âmbito da sua esfera de aplicação. b) Obrigacional, de determinar obrigações e direitos para as partes, como, por exemplo, penalidades pelo descumprimento de suas cláusulas. Neste caso a negociação coletiva serve para criar obrigações e direitos entre os próprios sujeitos estipulantes, sem nenhum reflexo sobre as relações individuais de trabalho. A negociação é usada apenas para estabelecer deveres e faculdades que se restringem às organizações pactuantes, de caráter nitidamente obrigacional entre elas, sem qualquer projeção fora da esfera dos sujeitos, não atingindo os empregados e empregadores do setor. c) Compositiva, como forma de superação dos conflitos entre as partes, em virtude dos interesses antagônicos delas, visando ao equilíbrio e à paz social entre o capital e o trabalho, mediante um instrumento negociado. É que os interesses dos trabalhadores e os dos empregadores são antagônicos e necessitam de composições; se eles recorressem sempre ao órgão jurisdicional, não encontrariam solução célere, daí a finalidade compositiva da negociação, nesse sentido um verdadeiro equivalente jurisdicional, tomada a expressão num sentido amplo.2 2) Político: incentivar o diálogo, devendo as partes resolver suas divergências entre si. Trata-se de uma forma de diálogo entre grupos sociais numa sociedade democrática, visando superar suas divergências. 1 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho, 17ª ed., 2003, Atlas, p. 757. 2 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho, 17ª ed., 2003, Atlas, p. 758. 1 3) Econômico: distribuição de riquezas numa economia em prosperidade. 4) Ordenador: quando ocorrem crises econômicas, ou de recomposição de salários. (Para Amauri Mascaro Nascimento) o objetivo ordenador situa-se junto ao objetivo econômico. 5) Social: garantir aos trabalhadores participação no processo de decisão empresarial, em proveito da normalidade das relações coletivas e de harmonia no ambiente de trabalho.3 ÉPOCAS E FASES DA NEGOCIAÇÃO A conclusão de uma convenção ou acordo coletivo sempre é precedida de entendimentos entre os interessados, de diálogo, pelo qual as pretensões dos sindicatos são apresentadas aos representantes dos empregadores para que estes, desde logo, as aceitem, o que é mais freqüente, as estudem, apresentem contrapropostas, reúnam-se com os porta-vozes dos trabalhadores, até que a negociação possa levar ao acordo ou ao impasse. Esses atos em conjunto constituem o procedimento da negociação que, como se vê, é a fase que antecede a conclusão do acordo, ou a caracterização do impasse. Por meio desses atos são fixadas as regras do jogo, para que seja possível chegar a um entendimento. O procedimento da negociação coletiva deve ser acertado entre os próprios interessados. Há leis em nosso País, mas este não é o melhor sistema. A negociação coletiva é constituída de um conjunto de atos praticados progressivamente sob a forma de procedimentos previstos na CLT e que podem ser assumidos na seguinte enumeração: a) discussões entre os dirigentes dos sindicatos de empregados e de empregadores no caso de convenção, e entre aqueles e os diretores da empresa no caso de acordo coletivo (art. 612 da CLT); b) discussões entre os dirigentes dos sindicatos de empregados e de empregadores no caso de convenção, entre aqueles e os diretores da empresa no caso de acordo coletivo (art. 616 da CLT); c) possibilidade de mediação do Delegado Regional do Trabalho visando à aproximação entre as partes e com poderes de convocação compulsória destas para o diálogo, ato que tem o nome de mesa-redonda na DRT (art. 616, § 1º, da CLT); d) havendo o ajuste de vontades, segue-se a redação do documento com as cláusulas objeto da negociação, e que é feita pelos advogados das partes, segundo a praxe (art. 613 da CLT); e) aprovação do ajuste pelas assembléias dos dois sindicatos convenentes; f) depósito do documento redigido na DRT no prazo de 08 dias da sua assinatura pelos representantes dos sindicatos ou empresas (art. 614, § 1°, da CLT); g) publicidade da convenção ou acordo com afixação, de modo visível, nas sedes dos sindicatos ou empresas, dentre de 05 dias da data do depósito; h) início da vigência após 03 dias do depósito na DRT; i) duração máxima de 02 anos, podendo ser prorrogada, revista ou denunciada, significando prorrogação o ato pelo qual as partes, antes do término da duração da convenção ou acordo, resolvem reapreciar as suas cláusulas; e denuncia o ato pelo qual uma das partes comunica à outra a sua intenção de pôr fim antecipadamente à convenção, o que 3 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho, 36ª ed., 2011, LTr, p. 485-486. 2 só ocorrerá também bilateralmente, isto é, com o consentimento da outra parte.4 CAPACIDADE JURÍDICA PARA NEGOCIAR Os sindicatos de categoria profissionais são os sujeitos legitimados, pela ordem jurídica, a celebrar negociação coletiva trabalhista no Brasil, sob o ponto de vista dos empregados. Sob o ponto de vista dos empregadores, a legitimação pode ser própria, direta, ao menos no caso de acordo coletivo de trabalho. É o que dimana do art. 8º, VI, da CF. No caso de categorias inorganizadas em sindicatos, a federação assume a correspondente legitimidade para discutir e celebrar convenções coletivas de trabalho. Inexistindo também federação, assume a legitimidade a correspondente confederação (art. 611, § 2°, da CLT). Essa regra relativa a categorias inorganizadas, embora expressa na lei, já derivaria, naturalmente, da diretriz da liberdade sindical. É que tal princípio assegura a empregados o direito de terem sua entidade sindical representativa, e de participarem, por meio dela, do processo negocial coletivo. Em se tratando de acordo coletivo de trabalho, aplica-se o mesmo critério aqui exposto: inorganizada a categoria, os trabalhadores de certa empresa podem pleitear à respectiva federação ou, em sua falta, confederarão, que assuma a legitimidade para a discussão assemblear e celebração de acordo coletivo de trabalho.Não é eficaz, contudo, o critério previsto no art. 617, § 1º, da CLT, por não recebido pelo Texto Magno. A CLT, como já debatido, fala da transferência de legitimação para a federação ou, em falta desta, confederação, no caso de recusa sindical à negociação; muito menos é viável, constitucionalmente, a negociação direta, pelos próprios empregados, referida pelo preceito celetista.5 CONVENÇÕES E ACORDOS PARA NEGOCIAR Convenções coletivas: o art. 7º, XXVI, da CF reconhece as convenções coletivas, e, o art. 8°, VI, igualmente da CF, considera obrigatória a participação dos sindicatos nelas. O art. 611 da CLT define e indica os seus efeitos. Este artigo da CLT define convenção coletiva de trabalho como o “acordo de caráter normativo pelo qual dois ou mais sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho.” Referido dispositivo legal permite a compreensão do conceito e da natureza das convenções coletivas. Trata-se de um acordo entre sindicato de empregados e sindicato de empregadores. Nasce da autonomia da vontade de ambas as entidades. Surge como um ajuste bilateral e só se perfaz caso os dois contratantes combinem suas vontades. É uma importante manifestação da autonomia privada coletiva. O sindicato profissional é legítimo para negociar do lado dos empregados, enquanto que o sindicato profissional, do lado dos empregadores. Os sindicatos são os da categoria e base territorial. Não pode um sindicato negociar fora da sua base territorial. A convenção coletiva é instrumento 4 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho, 36ª ed., 2011, LTr, p. 487. 5 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho, 3ª ed., 2004, LTr, p. 1382-1383. 3 normativo em nível de categoria, modo que alcançam os seus efeitos todas as empresas representadas pelo sindicato patronal. A legitimidade do sindicato exclui e prefere a das federações. Estas somente podem negociar nas categorias inorganizadas em sindicato. O mesmo ocorre com as confederações sindicais quanto às federações e sindicatos. Acordos coletivos: de acordo com o art. 611 da CLT, os acordos coletivos de trabalho são ajustes entre o sindicato dos empregados e uma ou mais empresas. Não se aplica a toda a categoria, mas só à(s) empresa(s) estipulante(s). A diferença em relação às convenções coletivas ocorre em relação aos sujeitos, pelo nível de negociação e pelo âmbito de aplicação das cláusulas instituídas. Os entendimentos são feitos diretamente com um empregador ou com dois ou mais empregadores. O acordo coletivo não é um ajuste intersindical, porque num dos lados, o patronal, não atua o sindicato. Em consequência, o âmbito de aplicação das convenções coletivas é maior que o dos acordos coletivos, uma vez que refletem sobre todos os membros da categoria, enquanto os acordos coletivos envolvem apenas o pessoal da empresa que o fez com o sindicato dos empregados, A convenção é destinada à matéria mais geral; o acordo, a matéria mais especifica. O acordo coletivo destina-se a resolver problemas na empresa, enquanto que a convenção coletiva, na categoria. As convenções e os acordos coletivos de trabalho deverão conter obrigatoriamente: a) designação dos sindicatos convenentes ou dos sindicatos e empresas acordantes; b) prazo de vigência; c) especificação das categorias ou classes abrangidas pelos respectivos dispositivos; d) condições ajustadas para reger as relações individuais de trabalho durante sua vigência; e) normas para a conciliação das divergências sugeridas entre os convenentes por motivos da aplicação de seus dispositivos; f) disposições sobre o processo de sua prorrogação e de revisão total ou parcial de seus dispositivos; g) direitos e deveres dos empregados e empresas; h) penalidades para os sindicatos convenentes, os empregados e as empresas em caso de violação de seus dispositivos. As cláusulas e condições pactuadas através de acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de trabalho, bem como as oriundas das sentenças normativas, têm eficácia transitória e limitada à vigência da norma coletiva que as instituiu. Neste sentido a súmula 277 do TST (nova redação: as cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação coletivas de trabalho). Os acordos e convenções coletivas de trabalho vigorarão pelo prazo máximo de 02 anos, se não lhes for convencionado menor prazo de eficácia (art. 614, § 3º, da CLT). No caso da sentença normativa, vigorará pelo prazo estipulado pelo TRT, salvo quando se modificarem as condições que a ditaram, após um ano, admitido o limite máximo de quatro anos (art. 873 e 868, parágrafo único, da CLT).6 Problemas jurídicos: a) primeiro, quanto à matéria objeto das convenções ou dos acordos coletivos, uma vez que os temas de uma convenção coletiva são mais amplos que os de 6 SCHWARZ, Rodrigo Garcia. Direito do Trabalho, Elsevier, 2007, p. 229-230. 4 acordos coletivos menos amplos; b) segundo, o efeito das cláusulas sobre a lei, havendo duas propostas: a da substitutividade (substituem, afastam a lei) e a da cumulatividade (somam às leis); c) terceiro, a questão da hierarquia entre os instrumentos normativos negociados. Aplica-se o princípio da norma mais favorável (art. 620 da CLT), porém, não de maneira absoluta, ante as exceções autorizadas pela CF (art. 7º, VI); d) quarto, a questão do contrato coletivo in pejus, com disposições menos favoráveis ao empregado, correlato ao anterior; e) quinto, o direito adquirido, pode o contrato coletivo retirar direito adquirido, ou seja, é lícito, desde que a redução seja prevista. INSTAURAÇÃO DE DISSÍDIOS COLETIVOS Distingui-se a negociação coletiva da convenção e do acordo coletivo. A negociação é um procedimento que visa superar as divergências entre as partes. O resultado desse procedimento é a convenção ou o acordo coletivo. Caso a negociação coletiva resulte frustrada, não haverá a produção da norma coletiva. A negociação coletiva é obrigatória no sistema brasileiro. A convenção e o acordo coletivo são facultativos. Frustrada a negociação coletiva ou a arbitragem, é facultado ao sindicato ajuizar o dissídio coletivo (art. 114, § 2°, da CF).7 A negociação visa a um procedimento de discussões sobre divergências entre as partes, procurando um resultado. A convenção e o acordo coletivo são o resultado desse procedimento. Se a negociação for frustrada, não haverá a norma coletiva. A negociação é, atualmente, obrigatória; já a convenção e o acordo coletivo são facultativos. A negociação é o meio que vai conduzir à norma coletiva, sendo uma das fases necessárias para a instauração do dissídio coletivo (art. 114 da CF), em que, se ela restar frustrada, as partes poderão eleger árbitros (art. 114, § 1º, da CF). Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado aos sindicatos (art. 114, § 2º, da CF) ou empresas (art. 616, § 2º, da CLT) ajuizar o dissídio coletivo. A tentativa de mediação da DRT não é obrigatória, o que é obrigatório é a negociação coletiva. Caso essa reste frustrada é que as partes poderão ajuizar dissídio coletivo. Declara, ainda, o art. 616, § 4º, da CLT que nenhum processo de dissídio coletivo de natureza econômica será admitida sem antes se esgotarem as medidas tendentes à formalização de acordo ou convenção coletiva.8 O dissídio coletivo, naforma do art. 114, § 2º, da CF, deve ser ajuizado de comum acordo pelas partes. Doutrinariamente, acredita-se que a intenção do legislador ao inserir em referido dispositivo legal a expressão “de comum acordo” foi de condicionar o exercício do poder normativo pela Justiça do Trabalho à aceitação de ambos os litigantes, não obstante seja possível o ajuizamento do dissídio coletivo por qualquer das partes, com a ratificação em audiência pela parte contrária. Contudo, se parte contrária discordar não será possível cogitar-se em sentença normativa válida, por ausência de legitimação ativa processual de uma só das partes.9 O ajuizamento do dissídio coletivo de comum acordo faz das Cortes trabalhistas verdadeiras Cortes de Arbitragem, pois a característica própria da arbitragem é a livre eleição das partes, mas uma vez 7 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho, 17ª ed., 2003, Atlas, p. 757-758. 8 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho, 17ª ed., 2003, Atlas, p. 759. 9 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do trabalho, 14ª ed., 2012, Atlas, p. 318. 5 eleito o árbitro, o procedimento para a composição do litígio é o judicial e legalmente já estabelecido, devendo sua decisão ser respeitada pelas partes. Os únicos dissídios coletivos genuínos serão aqueles propostos pelo Ministério Público, nos casos de greve em sérvios essenciais, que comprometam o interesse público. A alteração constitucional parece salutar, na medida em que se promove dentro do contexto de valorização da composição dos conflitos coletivos, de preferência diretamente pelas partes envolvidas, que são as que melhor conhecem as condições de trabalho e a situação por que passa o setor produtivo em questão. Por outro lado, os impasses na solução desses conflitos, levando a manutenção de movimentos paredistas que comprometam a prestação de serviços essenciais, têm a válvula de escape da intervenção do Ministério público, em defesa da sociedade prejudicada, ajuizando o dissídio coletivo típico, tanto de natureza jurídica (pela declaração ou não da abusividade da grave) quando econômica (compondo os interesses em conflito, mediante o estabelecimento das condições de trabalho que façam cessar os problemas decorrentes da prestação de serviços nas condições atuais).10 Os dissídios coletivos podem ser de natureza econômica ou jurídica. Os de natureza econômica criam normas que regulamentam os contratos individuais de trabalho; os dissídios de natureza jurídica visam a interpretação de uma norma legal preexistente que, na maioria das vezes, é costumeira ou resultante de acordo, convenção ou dissídio coletivo.11 O dissídio coletivo de natureza econômica terá sentença de efeito constitutivo. O dissídio de natureza econômica subdivide-se em originário (quando inexiste norma coletiva anterior, art. 867, parágrafo único, “a”, da CLT), revisional (pretende a revisão da norma coletiva anterior, arts. 873 a 875 da CLT) e de extensão (objetiva a extensão a toda a categoria das normas acordadas ou impostas apenas a parte dela, arts. 868 a 871 da CLT). O dissídio coletivo de natureza jurídica, aquele que busca interpretação de lei ou norma coletiva particular da categoria, terá sentença de efeito declaratório. É inadmitido para interpretar norma legal de caráter geral para toda a classe trabalhadora. Existe ainda, o dissídio coletivo de greve. É de espécie mista. Quando há paralisação do trabalho; pode ser instaurado pelo Ministério Público (art. 856 da CLT); adota procedimento mais célere (art. 860, parágrafo único, da CLT); supõe apreciação prévia do caráter abusivo do movimento (Lei n° 7.783/89), o que lhe dá natureza jurídica, mas pode discutir as condições de trabalho, o que confere natureza econômica.12 Declara o art. 114, § 2°, da CF, que “recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente”. Ressalta-se, do texto, que antes de propor dissídio coletivo as partes devem esgotar a possibilidade de solução do conflito por negociação coletiva ou arbitragem. O impulso processual do dissídio coletivo econômico, que era unilateral, agora é bilateral, dependendo, pela lei, do 10 FILHO, Ives Grandra da Silva. Manual Esquemático de Direito e Processo do Trabalho. 17ª ed., 2008, Saraiva, p. 257-258. 11 SCHWARZ, Rodrigo Garcia. Direito do Trabalho, Elsevier, 2007, p. 230. 12 FILHO, Ives Grandra da Silva. Manual Esquemático de Direito e Processo do Trabalho. 17ª ed., 2008, Saraiva, p. 248. 6 consentimento das duas partes – o que sugere a alguns doutrinadores tratar-se de um tipo de arbitragem das duas partes – o que sugere a alguns doutrinadores tratar-se de um tipo de arbitragem pública -, advertindo-se, contudo, que há decisões de Tribunais Regionais que admitem o dissídio coletivo econômico movido por uma das partes em o consentimento da outra, com base no princípio da inafastabilidade da jurisdição. Os dissídios coletivos são de competência originária dos TRTs (art. 678, I, “a”, da CLT). O procedimento dos dissídios coletivos é precedido de uma fase administrativa e outra judicial. A fase administrativa: a) assembléia sindical autorizando a diretoria a abrir o dissídio (art. 859 da CLT); b) nos dissídios econômicos, a tentativa de convenção coletiva ou acordo coletivo entre as partes (art. 616, § 4º, da CLT). A fase judicial é composta pelos seguintes atos: a) petição inicial; b) designação de audiência de conciliação; c) havendo acordo na audiência de conciliação terminando o conflito, será formalizado o acordo e submetido à homologação do TRT; d) não havendo acordo, será designada sessão de julgamento, na qual as partes podem fazer sustentação oral em dez minutos, e serão colhidos os votos dos juízes em relação a cada item da reivindicação (art. 856 a 859 da CLT).13 Havendo convenção ou acordo coletivo de trabalho, ou ainda sentença normativa em vigor, a instauração do dissídio coletivo deverá ocorrer dentro dos 60 dias anteriores ao respectivo termo final, para que o novo instrumento possa ter vigência no dia imediato a esse termo.14 SENTENÇA NORMATIVA Na sessão de julgamento nos dissídios coletivos será proferida decisão que tem o nome de sentença normativa. Seus efeitos são amplos, fixando as condições de trabalho que serão observadas nos contratos individuais das empresas da categoria e durante um prazo, que é normalmente de um ano. Assim, quando o conflito coletivo é resolvido pelo acordo das partes, as normas serão previstas em convenções coletivas, e, quando não há acordo, resultarão da sentença normativa do dissídio coletivo. Cabe recurso ordinário da sentença normativa, caso em que o dissídio coletivo será apreciado pelo TST (art. 895, “b”, da CLT). Conforme se verifica do artigo 114, § 2°, da CF e súmula 190 do TST, a ideia é de substituir o poder normativo pela função arbitral e quando de interesse de ambas as partes, caso em que o TRT funcionaria como órgão não para criar normas e condições de trabalho, mas para arbitrar os pontos controvertidos e que fossem colocados à sua apreciação de comum acordo.15 ARBITRAGEM Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão, nos termos do artigo 114, § 1°, da CF, eleger árbitros. Assim, sendo inviável a negociação direta, poderão as partes buscarem a solução heterônoma do conflito, isto é, a solução com o concurso de um terceiro estranho ao litígio. Trata-se de arbitragem facultativa, 13 NASCIMENTO, Amauri Mascaro.Iniciação ao Direito do Trabalho, 36ª ed., 2011, LTr., p. 535-536. 14 SCHWARZ, Rodrigo Garcia. Direito do Trabalho, Elsevier, 2007, p. 230. 15 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho, 36ª ed., 2011, LTr., p. 535-536. 7 pois as partes deverão concordar com a instituição de um árbitro, de escolha de ambos, que terá a missão de solucionar o conflito, obrigando-se ambos os litigantes a acatar a decisão arbitral. A possibilidade de assim agirem e de escolher o árbitro é que caracteriza a hipótese como arbitragem facultativa. Frustrada esta, podem as partes submeter o conflito à decisão judicial, termos do § 2° do art. 114 da CF. O dissídio, neste caso, necessariamente deverá ser ajuizado de comum acordo pelas partes, do mesmo modo que na hipótese de frustração da negociação coletiva entre as partes.16 Vale destacar que nos termos da Lei n° 9.307/96, somente são passíveis de arbitragem os direitos patrimoniais disponíveis, sendo que em matéria trabalhista o entendimento dominante, por força do art. 444 da CLT, é de que a maioria dos direitos não comportam renúncia, nem transação.17 16 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do trabalho, 14ª ed., 2012, Atlas, p. 317-318. 17 CUNHA, Maria Inês Moura S. A. da. Direito do trabalho, 6ª ed., 2010, Saraiva, p. 303. 8
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