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Espaço Pessoal : Um Estudo da observação de comportamentos em uma Biblioteca Universitária

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Espaço Pessoal: Um Estudo em uma Biblioteca Universitária 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Espaço Pessoal: Um Estudo da observação de comportamentos em uma Biblioteca 
Universitária 
 
Espaço Pessoal: Um Estudo em uma Biblioteca Universitária 
 
Diego Fonseca Gois 
Lindsay Dharana Assis 
Rayza da Silva Cabral 
Winiston de Jesus Santos 
 
Relatório Final Disciplina Princípios de Psicologia Experimental professora Zenith 
Delabrida semestre 2017.2 
Universidade Federal de Sergipe 
Departamento de Psicologia 
 
 
 
 
 
 
Pesquisa sem financiamento, e-mail para contato diego.f.goes@hotmail.com 
 
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Resumo 
Espaço pessoal consiste em uma área ao redor do corpo uma pessoa que define o quanto 
toleramos a proximidade de outra pessoa. Quando esse espaço é invadido, diversos 
comportamentos não verbais de desconforto podem ser expressos. Esta pesquisa 
objetivou analisar os comportamentos produzidos por homens mediante a invasão do seu 
espaço pessoal por ambos os sexos. Participaram deste estudo 20 homens frequentadores 
da Biblioteca Central da Universidade Federal de Sergipe, estranhos aos invasores e 
observadores. Os invasores se sentaram ao lado do participante, em silêncio. A 
observação foi realizada por três observadores em pontos distintos do ambiente e durante 
12 minutos. A análise dos resultados mostrou que nos cinco minutos finais de invasão, 
homens se mostraram mais desconfortáveis quando seu espaço era invadido por uma 
mulher. 
Palavras-chave: espaço pessoal, invasão, comportamento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Introdução 
Espaço pessoal pode ser definido como uma área imediatamente ao redor do corpo 
do indivíduo, sentida por ele como algo que é seu e lhe serve de proteção (DOSEY e 
MEISELS, 1969). Sommer (1959) distingue espaço pessoal de território afirmando que 
enquanto o primeiro é relativamente fixo e apresenta demarcações visíveis aos outros, o 
segundo permite que o indivíduo o carregue para onde for e ninguém é capaz de enxergar 
seus limites. Ele acrescenta ainda que a invasão dessas fronteiras resulta em um 
comportamento defensivo exibido por gestos e posturas (Sommer, 1959). Esse espaço 
traduz o quanto toleramos a proximidade de outra pessoa e varia entre indivíduos, além 
de ser influenciado pela relação que se mantém entre ambos. (Prochet& Silva, 2008). Sua 
função seria delimitar e manter um espaço adequado entre os indivíduos. (Dean et al., 
1976) 
 Para Argyle e Trower (1981), o espaço pessoal é também um meio de 
comunicação entre as pessoas. Devido às diferentes formas de cada pessoa agir diante de 
uma situação, a linguagem verbal expressa menos as atitudes e sentimentos do que a 
linguagem corporal. Outro fator relevante que pode interferir no comportamento é a 
disposição ambiental, que considera o número de pessoas e a distância entre elas em um 
determinado local. (Argyle&Trower, 1981 apud Gliber&Chippari, 2007). 
 Uma vez que o espaço pessoal é invadido, vários comportamentos não verbais 
podem ser expressos como, por exemplo, expressões faciais, mudanças na postura 
corporal, afastamento e contato visual. Além disso, alguns fatores também podem gerar 
um impacto nessa invasão como gênero, idade e cultura (Sardaret al, 2012). 
Gliber e Chippari (2007) realizaram uma pesquisa na biblioteca da Universidade 
Metodista de São Paulo com o intuito de observar o comportamento de 22 universitárias 
quando tinham seu espaço pessoal invadido por outra mulher. Para a realização do 
experimento, a biblioteca deveria estar com 70% das mesas vazias e a pessoa a ser 
invadida deveria estar sentada sozinha. O pesquisador, então, sentava à mesa da pessoa 
escolhida, enquanto dois observadores em pontos distintos do ambiente registravam seu 
comportamento. A invasão durava dez minutos e a observação iniciava um minuto antes 
da invasão e terminava um minuto depois. Como resultado, obteve-se um maior número 
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de comportamentos nos primeiros cinco minutos da invasão e as reações mais frequentes 
foram: olhar em direção ao material didático, folhear o material didático, manusear 
objetos e coçar alguma parte do corpo. Enquanto os comportamentos menos freqüentes 
foram bocejar e tilintar os dedos na mesa (Gliber&Chippari, 2007). 
 A presente pesquisa baseou-se no estudo de Gliber e Chippari (2007) e tem como 
objetivo analisar se os homens produzem comportamentos de desconforto quando têm 
seu espaço pessoal invadido e caso produzam, quais são esses comportamentos. Se há 
diferenças nos comportamentos realizados quando um homem é invadido por outro 
homem ou quando a invasão é feita por uma mulher. E se o tempo exerce alguma 
influência na frequência de comportamentos. 
 
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Método 
Delineamento 
Para a realização do presente trabalho, foi realizada uma pesquisa empírica com 
delineamento experimental intersujeito. Antes do início da coleta de dados, realizou-se 
um pré-teste com a finalidade de análise e padronização dos comportamentos entre os 
observadores. 
A variável dependente do estudo foi o comportamento dos participantes quando 
invadidos e as variáveis independentes foram a invasão e o sexo do invasor. A variável 
controle foi a observação de um minuto realizada antes e depois da invasão sem a 
presença do invasor. 
Participantes 
Participaram do experimento 20 homens com idades aparentes entre 18 e 50 anos. 
Esses eram frequentadores da biblioteca central da Universidade Federal de Sergipe. 
Local 
 O local escolhido para a realização do experimento foi a biblioteca central da 
Universidade Federal de Sergipe (Bicen), localizada na Avenida Marechal Rondon, S/N 
- Rosa Elze, São Cristóvão. 
 A biblioteca conta com dois andares e três espaços de estudo com mesas quadradas 
e redondas com capacidade para, no mínimo, quatro pessoas em cada mesa. O espaço 
maior encontrava-se no lado direito da parte inferior da biblioteca e era composto de 
mesas quadradas e redondas. Já o espaço acima dele dispunha apenas de mesas redondas. 
O terceiro espaço também ficava na parte superior, mas do lado esquerdo e acima do 
acervo da biblioteca e possuía mesas redondas. A observação foi realizada nos três 
espaços e nos períodos da tarde e da noite durante duas semanas do mês de fevereiro de 
2018. 
 
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Instrumentos e Materiais 
Para a realização do experimento fez-se uso de uma ficha de registros de eventos 
dos comportamentos observados, três revistas de culinária e o cronômetro do celular. 
Procedimentos 
 Devido ao tamanho da biblioteca da UFS e a quantidade de usuários, padronizou-
se que, para a coleta de dados, seria necessário que ao menos duas mesas próximas ao 
participante estivessem vazias. 
 O indivíduo a ter seu espaço pessoal invadido deveria ser do sexo masculino, estar 
sentado sozinho e não poderia estar na biblioteca no momento em que a pessoa invadida 
anteriormente estivesse participando do experimento. 
 A invasão do espaço pessoalocorreu da seguinte maneira: um observador entrava 
no espaço da biblioteca a ser realizado o experimento, procurava um possível participante 
e avisava por meio de rede social ao invasor e aos outros observadores que logo entravam 
no espaço e se posicionavam em mesas próximas a pessoa que teria seu espaço invadido. 
Durante um minuto o invadido era observado sem a presença do invasor e seu 
comportamento era anotado na ficha de registros de eventos. Em seguida, o invasor se 
aproximava da mesa do participante e sentava ao seu lado sem falar ou olhar para ele, 
sempre a uma distância de mais ou menos 50 centímetros do invadido (ver anexo III). 
Neste momento, então, iniciava a segunda parte da observação. Durante dez minutos 
(divididos em cinco minutos iniciais e cinco finais) o invadido tinha seus comportamentos 
registrados pelos observadores na ficha de registro de eventos. Durante esse período, o 
invasor permanecia ao lado do participante lendo revistas de receitas culinárias e sem 
interagir de qualquer forma com o invadido. Após os dez minutos de observação, o 
invasor se levantava e saía da biblioteca enquanto os três observadores registravam por 
mais um minuto o comportamento do indivíduo invadido. Ao fim desse minuto, o invasor 
voltava à mesa do participante para a entrevista de esclarecimento. 
 O tempo de todo procedimento era cronometrado pelo invasor e começava a ser 
contado assim que o ele se posicionava em um determinado local previamente 
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combinado. A mudança dos cinco minutos iniciais para os cinco minutos finais da invasão 
era sinalizada pelo invasor através de um olhar pelo ambiente ou passando a mão na 
nunca. Ambos também previamente combinados entre invasores e observadores. O 
minuto final da observação, sem o invasor, iniciava somente quando ele já não estava 
mais presente no local. 
 Para cada indivíduo invadido fez-se uso de três observadores para a coleta de 
dados. Ao escolherem seus lugares, eles se posicionavam de modo que um pudesse 
observar o participante de frente e os outros de lado. O critério de fidedignidade escolhido 
foi o máximo de comportamentos observados por pelo menos dois observadores. Durante 
as duas semanas de procedimento, algumas variáveis foram mantidas constantes: o 
invasor do sexo masculino foi o mesmo, bem como o do sexo feminino e a vestimenta e 
a aparência de ambos foram controladas de modo que nenhum deles fez uso de roupas ou 
acessórios que pudessem chamar a atenção. 
 A 19 participantes foi realizada a entrevista de esclarecimento em que, além de 
explicar o procedimento, era pedida aos participantes a autorização para o uso dos dados 
coletados e o sigilo acerca do experimento, visto que qualquer informação disseminada 
sobre a pesquisa poderia comprometer o experimento. Apenas um participante levantou 
no minuto final de observação sem a presença do invasor e não foi possível fazer a 
entrevista com ele. 
Análise de Dados 
Os dados foram submetidos a tratamento quantitativo. Para a realização das 
análises, foi utilizado o Statistical Package for Social Sciences (SPSS for Windows, 
versão 21.0). Foram realizadas análises estatísticas descritivas (levantamento de 
frequências, médias e desvios-padrão), assim como testes de inferência para as variáveis 
de interesse no estudo: a intensidade do incômodo gerado em homens ao terem seu espaço 
pessoal invadido por outro homem ou por uma mulher (Teste t de amostras 
independentes) e a diferença de comportamentos de comportamentos dentro dos próprios 
grupos dos cinco primeiros minutos com relação aos cinco últimos minuto (Teste T de 
amostras pareadas). 
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Para a análise da intensidade do incômodo gerado nos participantes e futuras 
comparações entre os sexos dos invasores, foi somada a frequência de cada um dos 19 
comportamentos analisados no registro de eventos, dividindo-os em duas categorias: 
cinco primeiros minutos da invasão e cinco minutos finais da invasão. 
 
Resultados 
Inicialmente é possível observar que houve uma grande quantidade de 
comportamentos que sinalizam desconforto durante os 10 minutos da invasão, tanto 
quando o invasor era do sexo feminino (ver figura 1) como quando era do sexo masculino 
(ver figura 2). 
Figura 1. Média de comportamentos em relação ao tempo quando a invasão era realizada por uma mulher 
 
 
 
 
 
 
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Figura 2.Média de comportamentos em relação ao tempo quando a invasão era realizada por um homem 
 
Com relação à frequência dos comportamentos emitidos, o comportamento que se 
destaca é o de coçar a perna com quase o dobro do segundo colocado, a saber, balançar a 
perna ou pé. A tabela 1 mostra a frequência total dos comportamentos de desconforto 
quando a invasão era feita por um homem ou por uma mulher. 
Tabela 1.Frequência de comportamentos durante a invasão 
 Sexo do invasor 
Feminino Masculino Total 
Coçar 
cabeça/testa/olho/nariz/braço/buço/perna 
60,00 72,00 132,00 
Balançar Perna/Pé 38,00 32,00 70,00 
Colocar a mão no queixo/testa/nuca 35,00 31,00 66,00 
Escrever 32,00 13,00 45,00 
Mudança de postura na cadeira 25,00 19,00 44,00 
Manusear o celular 24,00 14,00 38,00 
Folhear o material didático 20,00 17,00 37,00 
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Manusear objetos 20,00 4,00 24,00 
Olhar em direção ao invasor diretamente 7,00 6,00 13,00 
Passar a mão no cabelo 6,00 7,00 13,00 
Olhar em direção ao invasor indiretamente 5,00 8,00 13,00 
Mudança de semblante (Franzir a testa...) 4,00 8,00 12,00 
Folhear o material didático 4,00 6,00 10,00 
Bocejar 4,00 3,00 7,00 
Tilintar os dedos sobre a mesa 4,00 1,00 5,00 
Inspirar e expirar de maneira audível 3,00 0,00 3,00 
Balançar o tronco p/ frente e p/ trás 1,00 2,00 3,00 
 
As análises descritivas para os índices dos comportamentos de incômodo são 
apresentadas na Tabela 2. Apenas o índice de comportamentos nos últimos cinco minutos 
demonstrou uma diferença significativa entre participantes invadidos por um homem ou 
uma mulher (t(18) = -2,120; p = 0,048). Pode-se observar na tabela 1 que os participantes 
cujo espaço pessoal foi invadido por uma mulher apresentaram maiores médias no 
momento final da invasão. 
Tabela 2. Índices de comportamentos 
 
 
Assim sendo, a incidência de comportamentos de incômodo nos cinco primeiros 
minutos para ambos os sexos não apresentou diferenças significativas. No entanto, nos 
últimos cinco minutos da invasão houve uma queda nos comportamentos do participante 
Índice Categoria Média (DP) 
Comportamentos nos 5 primeiros minutos 
Feminino 
Masculino 
14,9 (4,35) 
13,9 (6,53) 
Comportamentos nos 5 últimos minutos 
Feminino 
Masculino 
14,3 (4,27) 
10,4 (3,94) 
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quando a invasão era feita por um homem (de M=13,9; DP=6,53 para M=10,4; DP=3,94), 
e quando a invasão era feita por uma mulher, esses comportamentos permaneceram com 
frequência similar aos cinco primeiros minutos (de M=14,9; DP=4,35 para M=14,3; 
DP=4,27), como pode ser observado na figura 3. 
Figura 3. Frequência de comportamentos durante a invasão (homem x mulher)Essa queda na média de comportamentos dos participantes nos cinco últimos 
minutos (M=10,4; DP=3,94) com relação aos cinco primeiros minutos (M=13,9; 
DP=6,53) quando o invasor era do sexo masculino também foi significativa 
(t(9)=3,103;p=0,013), o que pode ser melhor observado na figura 2. 
Figura 4.Frequência de comportamentos durante a invasão realizada por um homem 
 
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Discussão 
Os dados mostram que após os primeiros cinco minutos do experimento, os 
comportamentos que indicavam incômodo nos participantes invadidos pela 
experimentadora foram constantes, enquanto os participantes invadidos pelo 
experimentador tiveram uma queda significativa em seus comportamentos. Diante disso, 
pode-se afirmar que na amostra, os homens tiveram uma adaptação após os primeiros 
cinco minutos, quando invadidos pelo experimentador de sexo masculino, enquanto com 
o invasor de sexo feminino, os participantes mantiveram constância de comportamentos 
indicativos de desconforto. Essa diferença pode ter uma possível explicação cultural, 
visto que de acordo com as normas culturais, as mulheres são reservadas ao interagir com 
estranhos do sexo masculino (DORSEY & MEISELS, 1969). Portanto, quando um 
indivíduo do sexo feminino — geralmente associado ao comportamento “passivo”, e 
caracterizado por permitir maior invasão do seu espaço pessoal do que indivíduos do sexo 
masculino (HARTNETT et al, 1970) — invade o espaço pessoal de um homem, o 
invadido possivelmente sentirá um maior desconforto do que sentiria ao ser invadido por 
uma pessoa do mesmo sexo. 
 Alunos que sentam sozinhos costumam usar objetos como livros e casacos para 
marcar território e erguer barreiras contra intrusões interpessoais (FISHER &BYRNE, 
1975). A partir dessa modificação de território no ambiente que identifica um limite, as 
pessoas costumam respeitar esse limite. Isso ocorre quando se têm um número reduzido 
de pessoas no ambiente. Quando o número se eleva, o território demarcado pode vir a ser 
utilizado por outro sujeito, com maior probabilidade de compreensão de quem o 
demarcou (HEIMSTRA,MC FARLING, 1978 & SOMMER, 1973). Porém, quando há 
um número reduzido de pessoas no ambiente e alguém invade o seu espaço pessoal, o 
invadido não será tão compreensivo. Os homens são ensinados durante o processo de 
socialização, a serem mais competitivos e as mulheres a serem relativamente afiliadas 
(MACCOBY, 1966), e também são mais propensos a manter o território, reafirmando a 
legitimidade da sua reivindicação (POLIT & LAFRANCE, 1977). As informações 
expostas podem explicar o motivo de nenhum dos participantes terem deixado o local 
durante o período experimental. Ocorreu um caso interessante em que o participante 16, 
invadido pelo experimentador do sexo feminino, levantou e se retirou segundos após a 
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sua saída, aparentando ter somente esperado a invasora sair para também se retirar. O 
ocorrido possivelmente estaria reforçando a teoria de reivindicação legítima do território. 
 Após a saída do experimentador do sexo feminino, no primeiro minuto já se nota 
uma queda significante nos comportamentos que indicam desconforto. Enquanto com 
experimentadores do sexo masculino, a frequência de comportamentos começa a diminuir 
gradativamente já aos os cinco minutos finais do experimento, ainda na presença do 
experimentador. Tal informação ajuda a reforçar a hipótese de que os homens se sentem 
mais incomodados quando invadidos por um indivíduo do sexo oposto. 
 De acordo com Sommer (1973) o espaço pessoal é carregado de conteúdos 
emocionais e tidos como pessoais, representando uma margem de segurança. Quando um 
sujeito não íntimo invade esse espaço, gera de imediato uma reação de escape. Os 
resultados mostraram que o comportamento que apresentou maior frequência foi o de 
Coçar cabeça/ testa/ olho/ nariz/ braço/ buço/ perna em ambas as invasões dos dois sexos, 
somando 132 respostas. Seguido de balançar perna/pé, somando 70 respostas. De acordo 
com Gliber e Chippari (2007), o comportamento de coçar parece demonstrar a presença 
de uma reação típica de tensão. Baseando-se nessa afirmação, considera-se que o 
comportamento de balançar perna/pé, também indiquem presença de reação típica de 
tensão. Ainda considerando a fala de Gliber e Chippari (2007) de que olhar em direção 
ao material didático indica a tentativa de manter-se aparentemente estudando, considera-
se que o comportamento de escrever, que ficou em 4ª posição, também tenha relação com 
tal afirmação. 
 Em vista dos resultados e discussão, conclui-se que ao terem o seu espaço pessoal 
invadido, os homens expressam comportamentos que indicam desconforto. Dentre os 
quais, os principais foram coçar cabeça/ testa/ olho/ nariz/ braço/ buço/ perna e balançar 
perna/pé. Não houve diferença significativa nos comportamentos realizados com 
invasores do sexo masculino e feminino, mas houve diferença significativa em sua 
frequência, mostrando que os homens se adaptam ao invasor do mesmo sexo após os 
primeiros cinco minutos, e sentem-se constantemente incomodados durante o período 
experimental (10min) ao serem invadidos por indivíduos do sexo oposto. 
 
 
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Considerações finais 
Quanto ao uso do engodo na pesquisa concluímos que se fez necessário, pois sem 
ele não seria possível a realização do experimento. Se comparados custos e benefícios do 
seu uso, podemos dizer que a investigação do espaço pessoal e o seu melhor 
conhecimento podem trazer mais benefícios futuros para as pessoas do que o incômodo 
gerado ao ser invadido, visto que essa situação é algo muito habitual no nosso cotidiano: 
muitos invadem os nossos espaços e sequer temos ciência de que aquele desconforto ou 
incomodo que possamos estar sentindo é pelo fato da simples presença desse estranho 
dentro do nosso espaço pessoal. Os dados obtidos na pesquisa também podem ser usados 
pelas pessoas de forma benéfica, pois essas ao terem conhecimento de que sua 
aproximação pode gerar desconforto nas pessoas, saberão como se posicionar em 
determinadas situações como em uma entrevista de emprego, por exemplo, dosando a sua 
distância do entrevistador para que não cause e nem seja prejudicado por isso, dentre 
outras contribuições. 
Houve muitas limitações na pesquisa. Dentre elas, o tempo disponível para a sua 
concretização, visto que esse estudo requer tempo de análise e espera para que o ambiente 
se adeque às nossas exigências para a realização, isto é, o ambiente não poderia ser 
manipulado pelos pesquisadores, de modo que seria necessário um maior tempo 
disponível. Um tempo maior permitiria também uma amostra maior de participantes. 
Além disso, o espaço foi outra limitação, pois na maioria das vezes a biblioteca estava 
lotada. 
Para a realização de novos estudos a respeito do espaço pessoal na biblioteca, 
sugeriria que fosse considerada outra variável independente, a saber, o local onde o 
invasor se sentaria. Há duas posições que o invasor poderia se sentar: em frente ao 
participante e ao lado dele. Essas posições podem produzir diferenças de 
comportamentos. Também acreditamos que seria necessário que a observação de um 
minuto realizada antes e depois da invasão fosse prolongada, pois em apenas um minuto 
é difícil analisar o comportamento de uma pessoa. 
 
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Referências 
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Vivenciadas Pelo Idoso Hospitalizado Com A Invasão Do Espaço Pessoal E 
Territorial. Escola Anna Nery, v.12, n.2, p.310-315, 2008. 
 
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Anexos 
Anexo I – Tabela de Comportamentos utilizada no estudo 
CATEGORIAS INDICAÇÕES REGISTRO DE EVENTOS 
REAÇÕES FÍSICAS 
SEM MUDANÇA 
DE LUGAR 
 ANTES DURANTE APÓS 
 1 MIN 
1º AO 5º 
MIN 
5º AO 10º 
MIN. 
1 MIN 
BALANÇAR PERNA/PÉ 
BALANÇAR TRONCO PARA 
FRENTE E PARA TRÁS 
 
PASSAR A MÃO NO 
CABELO 
 
COÇAR CABEÇA 
/TESTA/OLHO 
/NARIZ/BRAÇO/BUÇO 
 
MANUSEAR OBJETOS 
TILINTAR OS DEDOS 
SOBRE A MESA 
 
INSPIRAR E EXPIRAR DE 
MANEIRA AUDÍVEL 
 
BOCEJAR 
OLHAR EM DIREÇÃO AO 
INVASOR DIRETAMENTE 
 
OLHAR EM DIREÇÃO AO 
INVASOR INDIRETAMENTE 
 
MUDANÇA DE 
SEMBLANTE (FRANZIR A 
TESTA ...) 
 
MÃO NO QUEIXO / TESTA 
/ NUCA 
 
MUDANÇA DE POSTURA 
NA CADEIRA 
 
ESCREVER 
OLHAR EM DIREÇÃO AO 
MATERIAL DIDÁTICO 
 
FOLHEAR O MATERIAL 
DIDÁTICO 
 
REAÇÕES FÍSICAS 
COM MUDANÇA 
DE LUGAR 
LEVANTAR-SE 
LEVANTAR-SE E 
RETORNAR A MESA 
 
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Anexo II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
Prezado participante, 
Agradecemos a sua participação voluntária nessa pesquisa que objetiva estudar 
o espaço pessoal dos homens. Este trabalho é feito por Diego Gois, Lindsay 
Assis, Rayza da Silva e Winiston Santos, e orientado pela professora Drª Zenith 
Delabrida, Discentes e docente, respectivamente, do Departamento de 
Psicologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Essa pesquisa é sigilosa 
e a sua privacidade será mantida. 
 
É importante que você saiba que: 
 A sua autorização para utilizar os dados coletados não é obrigatória; 
 O nível de desconforto que pode ter sido gerado gerado pelo estudo será 
recompensado diante da descoberta que podemos fazer, inclusive, 
levando ao seu conhecimento os resultados do estudo; 
 Você não será identificado; 
 Essa pesquisa não trará nenhum benefício financeiro ou privilégios 
particulares por estar participando; 
 Somente os pesquisadores terão acesso aos dados coletados na 
observação; 
 São fornecidos os e-mails (diego.f.goes@hotmail.com e 
diegogoes.2010@hotmail.com) para que você possa entrar em contato 
conosco; 
 
Concordância em participar: 
Recebi os esclarecimentos necessários sobre os possíveis desconfortos e riscos 
decorrentes do estudo, levando-se em conta que é uma pesquisa, e os 
resultados somente poderão ser utilizados mediante a minha autorização. Assim, 
caso eu deseje saber os resultados do estudo ou tenha qualquer dúvida 
posterior, sei a qual e-mail devo referir-me para esclarecimentos. Além disso, 
ficou claro para mim que o nível de desconforto que posso ter passado na 
pesquisa, será recompensado diante do que se pode ser descoberto e terei 
acesso a qualquer momento aos resultados e esclarecimentos que possa 
precisar. 
Enfim, tendo sido orientado quanto ao teor de todo o aqui mencionado e 
compreendido a natureza e o objetivo do já referido estudo, manifesto meu livre 
consentimento para a utilização dos dados coletados, estando totalmente ciente 
que não há nenhum valor econômico a receber, pela minha participação. 
 
São Cristóvão, SE. _____ de _____________ de 2018. 
______________________________________ 
Pesquisador 
______________________________________ 
Participante 
Assis, Cabral, Gois & Santos, 2017.2 
Espaço Pessoal: Um Estudo em uma Biblioteca Universitária 
Relatório Final PPE 
18 
 
 
Anexo III – Imagens ilustrativas de como era feita a invasão vista pelo ângulo 
dos observadores.

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