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1 
 
 
 
 
 
APOSTILA 
 
 
Curso: Políticas Sociais Integradas 
 
Disciplina: Moradia e Meio Ambiente 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fevereiro 2016 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 Aula 1 
A URBANIZAÇÃO NO BRASIL 
 
1- Breve retrospectiva histórica 
Para compreendermos o processo de urbanização brasileira é 
necessário relembrarmos alguns marcos históricos. 
Durante muitos anos o Brasil foi um país essencialmente agrícola, foi no 
campo que se formou a história da nossa civilização. De modo geral, a 
urbanização se desenvolve a partir do século XVIII, mas foi necessário um 
século para que a urbanização atingisse sua maturidade, no século XIX e ainda 
mais um século para adquirir as características de hoje. Nesse sentido, 
podemos dizer que a urbanização é um fenômeno da modernidade, pois foi 
apenas nos ano de 1980 que o Brasil se tornou um país essencialmente 
urbano, na medida em que a maior parte da população habitava nas cidades. 
Os primeiros centros urbanos surgiram no período colonial, devido à 
expansão da agricultura comercial, da produção do açúcar e da exploração 
mineral que foram a base do povoamento e criação de riqueza no litoral e 
interior do Brasil. Todavia é no final do século XIX e início do século XX, que se 
conhece o aumento da urbanização, e mais especificamente a partir dos anos 
de 1940 que vivenciamos a aceleração deste fenômeno, devido principalmente 
a industrialização e ao processo de implantação de máquinas nas atividades do 
meio agrário, que substituíram a mão de obra assalariada, levando ao processo 
de migração de trabalhadores do campo para cidade, também chamado de 
êxodo rural. 
A partir dos anos 1940 quando a industrialização se afirma como modelo 
de produção econômica e o Brasil deixa de ser um país agrário-exportador 
para se tornar industrial, ocorre uma aceleração da urbanização da sociedade 
brasileira que foi marcado pelo fortalecimento da economia interna, grande 
desenvolvimento das forças produtivas e modernização da sociedade. Esses 
fatores permitiram o nascimento, crescimento e desenvolvimento de muitas 
cidades. 
É a partir deste período que o Estado passa a investir de fato nas 
cidades, dotando-as de uma melhor infraestrutura urbana como energia 
 
 
3 
 
elétrica, água e esgotos, pavimentação, estradas, equipamentos transmissores 
de informação, transportes coletivos, escolas, hospitais, comércio e de 
melhores condições físicas para o desenvolvimento industrial. 
Soma-se a esses fatores uma política de atração de migrantes europeus 
que por estarem acostumados à disciplina da indústria, poderiam adaptar-se 
mais facilmente ao trabalho industrial no país. 
Embora tenha ocorrido uma aceleração da urbanização, até 1960 o 
Brasil ainda era um país de população predominantemente rural com uma taxa 
de urbanização de 44,7%. Porém, o processo de integração do território 
brasileiro a partir da interligação das estradas de ferro e o surgimento das 
rodovias, facilitou a migração do campo para as grandes cidades, além disso, a 
difusão dos valores urbanos através dos meios de comunicação, como o rádio 
e televisão, seduziam a população rural a migrar para a cidade. 
A aceleração do movimento de urbanização é acompanhada de um forte 
crescimento demográfico nas cidades brasileiras, sobretudo, as cidades da 
região sudeste. Esse crescimento é resultado de uma taxa de natalidade 
elevada e uma retração da mortalidade, devido aos progressos sanitários, a 
melhoria das condições de vida da população e o próprio processo de 
urbanização (Santos, 1993). 
A partir de 1980, mais da metade dos brasileiros, 67,6%, já se 
encontrava em áreas urbanas, cuja oferta de emprego e de serviços, como 
saúde, educação e transporte, eram maiores. Entre 1991 e 1996, houve um 
acréscimo de 12,1 milhões de habitantes urbanos, o que se reflete na elevada 
taxa de urbanização (78,4%). Atualmente, mais de 80% da população brasileira 
vive em áreas urbanas. 
A tabela a seguir ajuda na compreensão da evolução da taxa de 
urbanização no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 TAXA DE URBANIZAÇÃO 
Região 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2007 2010 
Brasil 
31,2
4 36,16 
44,6
7 
55,9
2 
67,5
9 
75,5
9 
81,2
3 
83,4
8 
84,3
6 
Norte 
27,7
5 31,49 
37,3
8 
45,1
3 
51,6
5 
59,0
5 
69,8
3 
76,4
3 
73,5
3 
Nordeste 
23,4
2 26,4 
33,8
9 
41,8
1 
50,4
6 
60,6
5 
69,0
4 
71,7
6 
73,1
3 
Sudeste 
39,4
2 47,55 57 
72,6
8 
82,8
1 
88,0
2 
90,5
2 
92,0
3 
92,9
5 
Sul 
27,7
3 29,5 37,1 
44,2
7 
62,4
1 
74,1
2 
80,9
4 82,9 
84,9
3 
Centro Oeste 
21,5
2 24,38 
34,2
2 
48,0
4 
67,7
9 
81,2
8 
86,7
3 
86,8
1 88,8 
Fonte: IBGE, Censo demográfico 1940-2010. Até 1970 dados extraídos de: 
Estatísticas do século XX. Rio de Janeiro: IBGE, 2007 no Anuário Estatístico do Brasil, 1981, 
vol. 42,1979. 
 
Ressalta-se, contudo, que esse fenômeno não se dá de forma 
homogêneo, uma vez que são diferentes os graus de desenvolvimento e de 
ocupação prévia das diversas regiões brasileiras. 
 
2 - Desigualdades regionais 
As desigualdades econômicas, políticas e sociais das regiões brasileiras, 
possibilitaram processos diferenciados de urbanização em cada região. No 
Sudeste, onde se concentra a maior parte das indústrias do país, foi a que 
recebeu grandes fluxos migratórios vindos da área rural, principalmente da 
região nordeste, por isso apresentou as maiores taxas de urbanização e foi a 
primeira a registrar maior número de habitantes vivendo na área urbana em 
relação à população rural. 
Na região Centro-Oeste, o processo de urbanização teve como principal 
fator a construção da capital nacional em 1960. Este fato atraiu milhares de 
trabalhadores, sendo a maior parte deles vindos das regiões Norte e Nordeste. 
Assim, no início da década de 1970, o Centro-Oeste tornou-se a segunda 
região mais urbanizada do país de acordo com os dados do Instituto Brasileiro 
de Geografia e Estatística/ IBGE. 
Já na região Sul até a década de 1970 a urbanização foi mais lenta que 
em outras regiões, isso pode ser entendido pelo fato de suas características 
 
 
5 
 
econômicas, cuja predominância era a agricultura familiar, por isso verificava-
se o maior número de trabalhadores em áreas rurais e não nas cidades. 
A região Nordeste apresentava a menor taxa de urbanização no Brasil, 
pois o desenvolvimento econômico das cidades nordestinas não foi capaz de 
atrair a sua própria população rural e, além disso, grande parte da população 
migrou para o restante do país, especialmente para região sudeste. 
Até a década de 1960 o Norte do país era a segunda região mais 
urbanizada do país, porém a concentração da economia no Sudeste gerou um 
fluxo de migração de trabalhadores para outras partes do país, diminuindo o 
crescimento relativo da população urbana. 
 
 
3 – Impactos sociais e ambientais 
O intenso processo migratório após a industrialização, o rápido 
crescimento demográfico aliado a um deficitário planejamento urbano trouxe 
uma série de consequências no que se refere à moradia, ao meio ambiente, à 
mobilidade, à educação, à saúde, ao lazer entre outros. 
Em relação à moradia e ao meio ambiente, até os anos de 1930 não 
havia políticas habitacionais, as alternativas encontradas historicamente no 
Brasil foram ocupações em áreas de cortiços ou áreas em terrenos públicos ou 
privados na cidade que muitas vezes foram inadequadas a produção de 
moradia por estarem próximo a encostas íngremes e áreasalagadiças para 
moradia, como as favelas que é uma das principais evidências territoriais do 
Brasil da segunda metade do século XX. 
Além disso, a ilegalidade em relação à propriedade da terra tem rebatido 
diretamente no meio ambiente. Como valor de solo é elevado, muitas vezes os 
segmentos mais pobres estabelecem moradia em áreas de proteção ambiental. 
A população que aí se instala não compromete apenas os recursos naturais 
que são fundamentais a todos os moradores da cidade, como é o caso dos 
mananciais de água, mas a própria vida, especialmente pelas condições de 
risco estrutural. Grande parte das áreas urbanas de proteção ambiental está 
ameaçada pela ocupação desordenada, considerando-se que as 
consequências de tal processo atingem toda a cidade, pois altera a qualidade 
ambiental para as presentes e as futuras gerações. 
 
 
6 
 
Pode-se dizer que a urbanização brasileira é desigual e excludente 
porque não foi acompanhada de investimentos em infraestrutura básica (água, 
esgoto, luz, pavimentação) e em serviços e equipamentos urbanos (transporte, 
hospitais, escolas, etc.) públicos e privados; em todas as áreas das cidades. 
Isso gerou áreas dentro das cidades mais bem estruturas e desenvolvidas e 
áreas mais pobres e marginalizadas, que são chamadas de periferias e 
subúrbios. Claro que essas áreas menos valorizadas foram e são até hoje 
ocupadas pelas populações de baixa renda, pois a distância de utilização de 
serviços e equipamentos, aliado ao preço do solo e a especulação imobiliária 
nas áreas de maior infraestrutura urbana não permite que os pobres se 
instalem por isso se afirma que essa urbanização reflete uma organização do 
espaço que produz e acentua desigualdades econômicas e sociais e espaciais. 
Assim, cabe a reflexão: como se dá a produção do espaço urbano? 
Como é definido o uso do espaço urbano? Quem são os agentes dessa 
produção? 
 
 
Referências bibliográficas 
 
MARICATO, Ermínia. Urbanismo na periferia do mundo globalizado: 
metrópoles brasileiras. São Paulo em perspectiva, São Paulo, v.14, n.4, p. 21-
33, 2000. 
 
MATOS, Ralfo. Migração e urbanização no Brasil. Revista GEOgrafias, Belo 
Horizonte, vol 8, numero 1, p. 07-23, janeiro-junho de 2012. 
FRANCISCO DE OLIVEIRA, Adão; CORIOLANO, Germana Pires. 
Urbanização, metropolização e gestão territorial no Brasil. Arquitextos, São 
Paulo, ano 14, n. 164.03, Vitruvius, p. jan. 2014. 
 
SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993. 
 
VASCONCELOS, Lia. Urbanização: Metrópoles em movimento. Desafios do 
Desenvolvimento, Brasília, ano 3, edição 22, p24-30. maio de 2006. 
 
 
 
7 
 
AULA 2 
A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO 
 
1 – O que é produção do espaço 
A cidade é considerada um espaço urbano e deve ser analisada a partir 
de suas dimensões físicas e humana, pois além de ser um território geográfico 
ele é produzido através da ação de diferentes grupos sociais que existem nas 
sociedades. Neste sentido, o conceito de produção do espaço urbano significa 
um conjunto de usos da terra urbana e a ação de modifica-la determinado e 
dotá-la de infraestrutura urbana (moradia, vias urbanas, saneamento, áreas de 
lazer, etc.) para que uma determinada população possa viver. 
A produção do espaço não é indiferente do sistema socioeconômico no 
qual esta inserido, ela está relacionada a organização da sociedade e suas 
relações econômicas, sociais, politicas e culturais. Assim, Em uma sociedade 
capitalista, a riqueza natural e material é, quase sempre, apropriada 
desigualmente. Isso se deve à lógica do próprio sistema econômico que rege a 
forma de produção e uso do espaço urbano voltada aos interesses econômicos 
e ao lucro a ser gerado em detrimento dos interesses ambientais e sociais. 
A moradia teve o processo de inversão de um valor de uso essencial 
para a reprodução da vida humana para um valor de troca, um valor de 
mercadoria a partir do século XVIII na Europa, quando começaram as 
construções de casas para a especulação. 
O solo urbano e a moradia são vendidos no mercado com o objetivo de 
acumulação de lucros. Portanto, a produção, comercialização e até a posse de 
moradia se tornaram forma de obter ganhos através da especulação, fazendo 
da moradia um investimento. Assim, a moradia nas sociedades capitalistas 
exclui uma parcela cada vez maior da população ao acesso à moradia formal. 
 
2 – Os produtores do espaço urbano 
Mas se o espaço urbano é produzido por uma variedade de agentes 
sociais, quem são os agentes que produzem o espaço urbano? Como eles 
atuam no processo de produção da cidade? Que estratégias desempenham 
no processo de produção da cidade? 
 
 
8 
 
De acordo com Correa, 2011, esses agentes são: 
a) proprietários dos meios de produção (grandes empresas industriais); 
b) proprietários fundiários (proprietários da terra); 
c) promotores imobiliários (construtoras, incorporadoras); 
d) Estado; 
e) grupos sociais excluídos. 
 
Proprietários dos meios de produção 
Os grandes proprietários industriais e das grandes empresas comerciais 
são grandes consumidores de espaço em razão da dimensão de suas 
atividades. Esses agentes precisam de terrenos amplos e baratos que 
acomodem às atividades de suas empresas, especialmente próximo de 
estruturas urbanas que facilitem as atividades industriais e empresariais, tais 
como portos, vias férreas, rodovias etc. 
Suas raízes estão na propriedade fundiária, resquícios da história colonial do 
nosso país. São também originários dos descendentes de imigrantes, 
vinculados ao comércio de exportação-importação. Estes agentes comandam a 
vida econômica e política do país. 
 
 Os proprietários de terras 
 
Por possuírem a propriedade das terras, esses agentes têm interesse na 
valorização de seus terrenos. Para que haja valorização é preciso investimento 
na expansão das cidades, dotando suas terras de áreas comerciais ou 
residenciais. Muitas esses agentes pressionam o poder público a investirem em 
infraestrutura e modificar leis de uso do solo e do zoneamento urbano para que 
suas terras possam valorizar. É possível aos proprietários tornar-se também 
promotores imobiliários; loteiam, vendem e constroem casas. 
 
 Os especuladores imobiliários 
 
 Eles compram o terreno do proprietário fundiário e decidem o tipo de 
construção mais rentável para ele, que pode ser residencial, comercial, lazer, 
etc. e depois faz a comercialização acrescida do seu lucro. 
Os promotores imobiliários se utilizam da propaganda para vender seus 
produtos e utilizam de elementos do imaginário da elite econômica e da classe 
 
 
9 
 
média para fazer seus negócios. Assim, é comum se encontrar na propaganda 
de construtoras e agentes imobiliários a venda do tipo de estrutura que a região 
oferece, por exemplo, estar próximo a um shopping center, a praças ou ter 
acesso rápido a meios de transporte (metrô, trem, ônibus). Os aspectos da 
natureza também são elementos que entram como valorização do seu negócio, 
como estar próximo às praias, parques, florestas. 
Verifica-se uma variedade de promotores imobiliários. Há desde o 
proprietário fundiário que se transformou em construtor e incorporador, ao 
comerciante próspero que diversifica suas atividades criando uma 
incorporadora, passando pela empresa industrial, que em momentos de crise 
ou ampliação de seus negócios cria uma subsidiária ligada à promoção 
imobiliária, além disso, grandes bancos e o Estado atuam também como 
promotores imobiliários (CORRÊA, 20012). 
Quase sempre a atuação dos promotores imobiliários é realizada de 
modo desigual, criando e reforçando a segregação residencialque caracteriza 
a cidade capitalista, pois exclusão as camadas populares na possibilidade de 
adquirir uma moradia próxima de áreas valorizadas na cidade. Quando 
produzem moradias para camada popular em geral fazem em áreas da cidade 
onde a terra é mais barata e não possui infraestrutura urbana e com materiais 
de menor qualidade, o que ratifica segregação. Outra forma de produção para 
classe popular é quando há subsídios do Estado, de modo a permitir tornar 
viável a construção de residenciais através dos créditos para os promotores 
imobiliários, e para os futuros moradores, além das facilidades para 
desapropriação de terras. 
Por outro lado, a produção de imóveis para as camadas de alta renda, 
constitui o mercado dos promotores imobiliários, pois os financiamentos não 
são difíceis. O que nos temos observado nas cidades brasileiras, é a produção 
de imóveis de luxo, condomínios fechados, que atende as demandas daqueles 
que dispõem de recursos. 
 
 O Estado como produtor de espaço 
 
O Estado não é uma estrutura isolada do sistema econômico que 
predomina na sociedade. Assim, reflete as contradições existentes nas 
 
 
10 
 
sociedades capitalistas. Assim, ele tem múltiplos papeis na produção do 
espaço urbano. 
Ele pode ser um regulador do solo urbano através da elaboração de 
políticas públicas voltadas aos espaços mais pobres da cidade e também 
através da execução leis e normas de uso e ocupação do solo que podem 
minimizar os impactos do uso capitalista do espaço urbano e promover o uso 
mais democrático da cidade, minimizando os impactos da segregação 
socioespacial. Dentre as normas e leis, destacam-se as seguintes: 
 
 direito de desapropriação e precedência na compra de terras; 
 controle de limitação dos preços das terras; 
 limitação da superfície da terra de que cada um pode possuir; 
 impostos fundiários e imobiliários que podem variar segundo a dimensão do 
imóvel, uso da terra e localização; 
 taxação de terrenos livres, levando a uma utilização mais completa do espaço 
urbano; 
 mobilização de reservas fundiárias públicas, afetando o preço da terra e 
orientando espacialmente a ocupação do espaço; 
 organização de mecanismos de créditos à habitação; 
 
 Porém também pode ser um agente de exclusão social, quando 
direciona investimentos públicos para áreas da cidade com objetivo de gerar 
valorização atendendo aos interesses dos promotores/especuladores 
imobiliários e os proprietários das terras. 
 
 
Os grupos sociais excluídos 
 
Na sociedade capitalista verificam-se grandes diferenças sociais no que 
se refere ao acesso aos bens e serviços produzidos socialmente. Em relação à 
moradia, os grupos sociais excluídos são aqueles que não possuem renda para 
comprar um imóvel para morar ou pagar aluguel. 
Como resistência e sobrevivência às adversidades impostas ao mercado 
imobiliário restrito e excludente surgem as ocupações de áreas irregulares. É 
na produção da favela, que os grupos sociais excluídos tornam-se, produtores 
 
 
11 
 
de seu próprio espaço. Há também a possibilidade da casa produzida pelo 
sistema de autoconstrução em loteamentos periféricos que na sua maioria 
encontra-se em áreas totalmente desprovidas de serviços básicos como: 
saneamento básico, postos de saúde, segurança pública, escolas, e distância 
dos locais de trabalho, apresentam-se como um grande obstáculo às 
oportunidades de emprego. 
Isso fez com que o Brasil atingisse um déficit habitacional em 2012 
estimado em 5,430 milhões de domicílios, sendo a maior parte em área urbana 
(Fundação João Pinheiro, 2013). 
Neste sentido cabe a reflexão: quais as políticas públicas foram 
desenvolvidas com intuito de responder aos problemas habitacionais 
brasileiros? Como a sociedade se organizou frente aos desafios de acesso à 
habitação nas suas cidades? 
 
 
 
Referências bibliográficas 
 
CANETTIERI, Thiago. Ocupações, remoções e luta no espaço urbano: a 
questão da moradia. Revista e-metropolis, nº 17, ano 5, junho de 2014. 
CORREA, Roberto Lobato, Sobre agentes sociais, escala e produção do 
espaço: um texto para discussão in CARLOS, Ana Fani Alessandri; SOUZA, 
Marcelo Lopes de; SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão (Org.) A produção do 
espaço urbano São Paulo: Contexto, 2011. 
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Déficit habitacional municipal no Brasil 
2010. Fundação João Pinheiro. Centro de Estatística e Informações, Belo 
Horizonte, 2013. 78 p. Disponível em http://www.fjp.mg.gov.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
Aula 3 
O direito à moradia adequada 
 
 
1 – O direito à moradia e a legislação internacional 
 
Desde 1948 o direito à moradia digna foi reconhecido e implantado como 
pressuposto para a dignidade da pessoa humana com a Declaração Universal 
dos Direitos Humanos. Já em 1966 o Pacto Internacional de Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais adotado pela Organização das Nações Unidas 
– ONU reconheceu a moradia adequada como um direito humano universal, 
aceito e aplicável em todas as partes do mundo como um dos direitos 
fundamentais para a vida das pessoas. 
Vários tratados internacionais reafirmaram que os Estados têm a obrigação 
de promover e proteger o direito à moradia digna, apesar disso, a 
implementação deste direito ainda é um grande desafio. 
Mas é importante ressaltar que o direito a moradia adequada não é 
somente o direito a uma casa, ele pressupõe, tanto no meio urbano quanto no 
meio rural, os seguintes critérios: 
 Segurança da posse: Todas as pessoas têm o direito de moradia sem 
sofrer remoção, ameaças indevidas ou inesperadas. 
 Disponibilidade de serviços, infraestrutura e equipamentos 
públicos: A moradia deve conter redes de água, saneamento básico, 
gás e energia elétrica, além disso, em suas proximidades deve haver 
escolas, creches, postos de saúde, áreas de esporte e lazer, serviços de 
transporte público, entre outros. 
 Custo acessível: O custo para a aquisição ou aluguel da moradia deve 
ser acessível, para não comprometa o orçamento familiar. 
 Habitabilidade: A moradia tem que apresentar boas condições de 
proteção contra frio, calor, chuva, vento, umidade e, também, contra 
ameaças de incêndio, desmoronamento, inundação e qualquer outro 
fator que ponha em risco a saúde e a vida das pessoas. A quantidade de 
 
 
13 
 
cômodos (quartos e banheiros, principalmente) devem ser condizentes 
com o número de moradores. 
 Não discriminação e priorização de grupos vulneráveis: A moradia 
adequada deve ser acessível a grupos vulneráveis da sociedade, como 
idosos, mulheres, crianças, pessoas com deficiência e refugiados. As 
leis e políticas habitacionais devem priorizar o atendimento a esses 
grupos e levar em consideração suas necessidades especiais. 
 Localização adequada: a moradia deve estar em local que ofereça 
oportunidades de desenvolvimento econômico, cultural e social, assim, 
nas proximidades deve haver oferta de empregos e fontes de renda, 
rede de transporte público e outras fontes de abastecimento básicas. A 
localização da moradia também deve permitir o acesso a bens 
ambientais, como terra e água, e a um meio ambiente equilibrado. 
 Adequação cultural: A forma de construir a moradia e os materiais 
utilizados na construção devem expressar tanto a identidade quanto a 
diversidade cultural dos moradores e moradoras. 
 
 
2 - O Brasil e a moradia adequada 
Por meio do Decreto 591 de 1992, o Brasil aderiu ao Pacto Internacional 
de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU e o direito á moradia 
adequada foi recepcionado e propagado na Constituição Federal de 1988, em 
seu artigo6º onde aponta a moradia como um direito social. 
Porém, de acordo com os dados do censo 2010 do IBGE apenas 52,5% 
dos domicílios brasileiros têm abastecimento de água, esgoto sanitário, coleta 
de lixo e até dois moradores por dormitório. Segundo os dados do Censo 
Demográfico de 2010 são 30 milhões de domicílios brasileiros que possuem 
essas características, de um total de 57,3 milhões. 
Entre as regiões do país, o Norte apresentou o pior quadro, com apenas 
16,3% de domicílios considerados adequados. Enquanto isso, no Sul (68,9%) e 
no Sudeste (59,35%) mais da metade das casas está ligada a redes de 
saneamento básico. 
 
 
 
 
14 
 
 No âmbito do Sistema ONU, o direito à moradia também está previsto 
em várias Convenções Internacionais de Direitos Humanos para tratar de 
grupos vulneráveis como mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiência, 
refugiados, etc. 
Veremos abaixo alguns desses grupos vulneráveis 
 
 Mulheres 
 
As mulheres constituem um pouco mais da metade da população 
mundial e se encontram mais vulneráveis ao estado de pobreza e são 
consideradas uma proporção importante dos que estão inadequadamente 
alojados, pois em muitos países enfrentam discriminação que pode afetar 
seriamente o seu direito à moradia adequada. Essa discriminação muitas vezes 
é consagrada nas leis escritas, mas também nas práticas costumeiras que não 
reconhecem a igualdade de direitos das mulheres e dos homens. 
Alguns tratados internacionais preveem a superação deste 
vulnerabilidade. A Declaração de Vancouver Sobre Assentamentos Humanos, 
resultado da Conferência das Nações Unidas, ocorrida 1976, reconhece que a 
mulher possui necessidades especiais, e prevê, particularmente entre os 
países ditos em desenvolvimento, o dever em criar condições que possibilitem 
a plena integração da mulher na vida política, econômica e nas atividades 
sociais. 
E a Declaração de Istambul, fruto da Conferência das Nações Unidas 
sobre Assentamentos Humanos em 1996. O referido documento também 
reconhece necessidades específicas das mulheres no processo de erradicação 
da pobreza mundial e da discriminação social. 
No Brasil, a Constituição de 1988 reconhece a igualdade de direitos e 
deveres entre homens e mulheres, inclusive com relação aos direitos de 
propriedade e herança, porém ainda há muita prática discriminatória. 
Em sintonia com os dispositivos legais, a legislação ordinária que trata 
do Programa Minha Casa Minha Vida apresenta um rol de sujeitos que devem, 
preferencialmente, serem contemplados por esta política habitacional, dentre 
eles estão as famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar, as que 
moram em áreas de risco ou insalubres e as que estejam desabrigadas. 
 
 
15 
 
 Além disso, A Medida Provisória nº. 561 de 8 de março de 2012 
concede à mulher o título da propriedade do imóvel adquirido, no âmbito do 
programa, nos casos de dissolução de união estável, separação ou divórcio. 
Essa medida visa, justamente, proteger o direito das mulheres, vítimas 
principais dos danos materiais e pessoais decorrentes do fim de um 
relacionamento. 
 
 
 Pessoas com deficiência 
 
As pessoas com deficiência geralmente vivenciam algumas dificuldades no 
que se refere ao direito à moradia adequada, incluindo a falta de acessibilidade 
física, discriminação e estigmatização, a falta de acesso ao mercado de 
trabalho, estruturas habitacionais não desenvolvidas as suas necessidades 
especiais. 
No Brasil o Estatuto da Pessoa com Deficiência, sancionado em julho de 
2015 garante a proteção do direito à moradia, especial destaque para os 
condomínios oriundos de programas habitacionais, públicos ou subsidiados 
com recursos públicos que devem estar equipados para atender as 
necessidades especiais. Nestes casos, a construção deverá garantir 
Acessibilidade nas áreas comuns e nas unidades autônomas situadas no 
térreo. Os demais pisos deverão ser dotados de Acessibilidade ou adaptação 
razoável. Além deste aspecto, o projeto de construção deverá permitir a 
construção de elevadores. 
Novos critérios e procedimentos para a seleção dos beneficiários do 
Programa Minha Casa, Minha Vida estabelecidos na Portaria nº 610, traz 
modificações como a reserva de, no mínimo, 3% das unidades habitacionais 
para atender pessoas com deficiência ou suas famílias, desde que não haja 
percentual superior fixado em legislação municipal ou estadual. 
 
 Idosos e crianças 
 
Com maior expectativa de vida da população no mundo o número de idosos 
vem aumentando e nesse sentido este grupo também se tornou um alvo a 
 
 
16 
 
garantias de moradia adequada. Organização das Nações Unidas, na 
assembleia de Viena, em 1982, e de Madrid, em 2002, estabeleceu que, no 
que se refere à moradia e condições de vida do idoso, os Estados devem 
promover o envelhecimento na comunidade em que se viveu, levando 
devidamente em conta as preferências pessoais e as possibilidades no tocante 
à moradia acessível para idosos; Melhoria do projeto ambiental e da moradia 
para promovendo a independência de idosos considerando suas necessidades. 
Do ponto de vista da legislação brasileira, o Estatuto do Idoso de 2003, em 
seus artigos 37 e 38 estabelece que o idoso tem direito à moradia digna junto à 
sua família de origem, ou só, quando desejar, ou ainda em entidade pública ou 
privada e que nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com 
recursos públicos, o idoso goza de prioridade na aquisição de imóvel para 
moradia própria, com reserva de 3% das unidades residenciais; implantação de 
equipamentos urbanos comunitários voltados ao idoso; eliminação de barreiras 
arquitetônicas e urbanísticas, para garantia de acessibilidade ao idoso; critérios 
de financiamento compatíveis com os rendimentos de aposentadoria e pensão. 
Seguindo essas legislações o Programa Minha Casa Minha Vida prevê a 
reserva de no mínimo, 3% das unidades habitacionais para atender os idosos. 
Em relação às crianças, a convenção direitos da criança aponta que 
nenhuma criança será objeto de interferências arbitrárias ou ilegais em sua 
vida particular, sua família, seu domicílio ou sua correspondência e os Estados 
adotarão medidas apropriadas a fim de ajudar os pais e outras pessoas 
responsáveis pela criança a tornar efetivo esse direito e, caso necessário, 
proporcionarão assistência material e programas de apoio, especialmente no 
que diz respeito à nutrição, ao vestuário e à habitação. 
Embora a existência de crianças em situação de rua frequentemente seja o 
sinal mais visível da deficiência na habitação pra crianças, outras situações 
também têm implicações específicas, tai como Habitações com numero de 
cômodos incompatível com número de habitantes, sem ventilação, implicando 
no desenvolvimento e na saúde das crianças. A localização da moradia 
também é fundamental para garantir o acesso das crianças às creches, 
escolas, serviços de saúde, entre outros. 
O Estatuto da Criança e Adolescente contém normas que dão garantias a 
crianças e aos adolescentes a questões consideradas essenciais à formação 
 
 
17 
 
dos cidadãos, como acesso à moradia adequada e convivência familiar e 
comunitária. Porém, infelizmente o estatuto não estabelece explicitamente 
diretrizes para o atendimento e a garantia dos direitos, especialmente à 
moradia. 
É importante observar que para resolver o problema habitacional, não basta 
apenas financiamento e subsídios, é fundamental tratar adequadamente o 
acesso à terra e o controle sobre os processos de valorização fundiária, além 
de melhorar as condições de infraestrutura urbana. 
Neste sentido, cabe avaliarquais políticas públicas foram pensadas no 
Brasil para enfrentar essas questões e garantir a moradia adequada à 
população. 
 
Referencias bibliográficas 
 
BRASIL. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República Direito à 
moradia adequada. – Brasília: Coordenação Geral de Educação em SDH/PR, 
Direitos Humanos, Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos 
Humanos, 2013. 
______. Lei n. 8.069 - 1990. Estatuto da criança e do adolescente. 2. Ed. 
Brasília: Senado Federal, 1985. 171 p. 
______. Estatuto do idoso: lei federal nº 10.741. Brasília, DF: Secretaria 
Especial dos Direitos Humanos, 2004. 
______. Estatuto da Pessoa com Deficiência: LEI Nº 13.146. Brasília: 
Senado Federal, 2015. 
OSORIO, Rafael Guerreiro; de SOUZA, Pedro.; SOARES, Sergei; de 
OLIVEIRA, Luis Felipe Batista. Perfil da pobreza no Brasil e sua evolução no 
período 2004-2009, Brasília, 2011. 
 
 
 
18 
 
 
AULA 4 
POLÍTICA HABITACIONAL NO BRASIL 
 
A trajetória da política habitacional no Brasil foi marcada por mudanças 
na concepção e no modelo de intervenção do poder público no que se refere à 
promoção de moradia para a população de baixa renda. 
O problema habitacional no Brasil remonta do período da colonização e 
deve ser analisado a partir da questão do acesso à propriedade da terra. Até 
meados do século XIX, a terra no Brasil era concedida pela Coroa portuguesa 
através das sesmarias, ou quando não era concedida, simplesmente era 
ocupada. 
Neste período a terra não tinha valor comercial. Porém, a promulgação 
da Lei de Terras, em setembro de 1850, mudou esse cenário, ao instituir a 
propriedade fundiária no país, tanto rural quanto urbana. Com esta lei foi 
legitimada a propriedade de quem já detinha as “cartas de sesmaria” ou provas 
de ocupação “pacífica e sem contestação”. O resto, de propriedade da Coroa 
portuguesa, passou a ser leiloado. 
A partir deste momento para ter acesso a terra era necessário pagar por 
ela, iniciando, assim, a comercialização das terras brasileiras. 
Nota-se que a lei de Terras teve como objetivo bloquear o acesso à 
propriedade por parte dos trabalhadores livres, ex-escravos e imigrantes, 
tornando assim a questão da regularização complexa, tornando a posse ilegal 
um procedimento de apropriação da terra pelos que possuíam mais poder 
político e econômico. 
No início do século XX, devido ao processo de industrialização e 
urbanização das cidades as demandas sociais por habitação e infraestrutura 
urbana já eram significativas, porém não havia políticas de habitação para 
prover moradia a população, deixando a população mais pobre, especialmente 
imigrantes, ex-escravos e seus descendentes abandonados à própria sorte em 
casas precárias de aluguel, nos cortiços e nas favelas que já começavam a 
aparecer, especialmente no rio de Janeiro e São Paulo. 
 
 
 
19 
 
 
1) A produção privada de habitação 
 
Até os anos 30 do século XX, a produção de moradia no Brasil cabia à 
iniciativa privada, tais como a produção de vilas operárias ou de moradias de 
aluguel, que podiam ir de casas com alguma qualidade até moradias de baixo 
padrão e coletivas, 
A produção das vilas foi incentivada pelo poder público por meio de 
isenções fiscais, pois eram consideradas uma solução de disciplinamento e 
higienização das massas. Mas essas moradias de melhor qualidade, embora 
populares, só eram acessíveis para segmentos da baixa classe média, como 
operários qualificados, funcionários públicos e comerciantes, não sendo viáveis 
para a população mais pobre. 
Nesse sentido, as soluções habitacionais para classe trabalhadora eram 
cortiços - habitação coletiva formada por uma série de cômodos distribuídos ao 
longo de um corredor ou em volta de um pátio – no centro da cidade. Como 
não havia regulação estatal dessa produção de moradia, além do alto valor 
cobrado, os investidores aproveitavam ao máximo o terreno com a construção 
de pequenos cômodos com banheiro coletivo, economizavam no material e 
produziam edificação de péssima qualidade. Além disso, não realizavam 
manutenção das edificações ao longo do tempo, fazendo com que fossem 
fortemente combatidas em nome da saúde pública. 
Outra forma de moradia popular eram as casas de cômodos, sobrados 
ou casas antigas, cujos proprietários faziam várias subdivisões internas para 
alugar para um maior número de famílias. 
De acordo com Bonduki (1998), na primeira república existiram inúmeros 
investidores interessados em aplicar capitais na produção de moradias de 
aluguel, pois o investimento nas casas de aluguel era seguro e lucrativo, os 
riscos eram baixos e a valorização imobiliária era certa, principalmente nas 
cidades com maior dinamismo e crescimento econômico do Brasil. Essas 
modalidades de produção de moradia eram chamadas de produção rentista de 
moradias (Bonduki, 1998), pois gerava rendimentos mensais aos proprietários 
de terra e aos especuladores imobiliários. 
 
 
 
20 
 
2 – A era Vargas e o início da política habitacional no Brasil 
A política pública habitacional começa a ser desenvolvida no Brasil nos 
anos 1930, especialmente a partir de 1937, no governo Vargas. A primeira 
política criada foram os Institutos de Aposentadorias e Pensões – IAPs, mas 
essa política se destinava apenas a algumas categorias profissionais, dentre 
elas, os trabalhadores das indústrias, comércios e serviços bancários. Entre 
1933 e 1938 foram criados seis IAPs e juntamente a esses institutos foram 
instituídos fundos que eram alimentados pela contribuição dos trabalhadores 
de cada categoria profissional, da empresa e do Estado. Os recursos dos 
fundos eram utilizados para a prestação de serviços sociais, mas os 
investimentos tornaram possível o desenvolvimento de uma política 
habitacional no Brasil, devido à criação das carteiras prediais nos IAPs, através 
do financiamento aos associados e também por meio de empréstimos de 
fundos ao mercado imobiliário. 
Em 1946, ainda no governo Vargas, foi criada a Fundação Casa Popular 
- FCP, órgão que teve como objetivo criar meios de acesso ao crédito 
habitacional pela população que não era atendida pelos IAPs. Parte desses 
créditos imobiliários eram destinados aos setores excluídos do mercado formal 
de trabalho e suas associações profissionais. 
A FCP se propunha a juntar os recursos habitacionais das diversas 
carteiras dos IAPs e a promover o atendimento fora do sistema das categorias 
profissionais associadas a cada instituto. 
De acordo com Azevedo (1998) a FCP não conseguiu produzir 
resultados expressivos, pois uma série de fatores dificultaram a implementação 
de suas propostas, por exemplo, o fato dos IAPs não aceitarem unificar suas 
carteiras. Além disso, ocorreram problemas de direcionamento do imposto 
estadual de transmissão de bens imóveis – ITBI, que seria uma fonte de 
recursos para a FCP, para o governo federal. Apesar de algumas tentativas de 
reformas, a FCP teve seu fim no governo militar. 
Com a precariedade dessas políticas, os morros, encostas, mangues, 
áreas alagáveis e loteamentos periféricos, constituíram-se como alternativa dos 
segmentos mais empobrecidos principalmente nas grandes cidades brasileiras. 
Cabe registrar que essas ocupações se davam, através de processos informais 
 
 
21 
 
e em terrenos não reconhecidos legalmente. As moradias eram desenvolvidas 
com base na autoconstrução. 
De outra forma, proliferava-se a produção de lotes distantes dos centros 
em terrenos sem ou com precária infraestrutura urbana. Estes processos 
expandem os perímetros urbanos das cidades, surgindo as periferias no Brasil. 
 
3 - Períodomilitar e a política habitacional 
Após o golpe de 1964, o governo militar criou o Banco Nacional de 
Habitação - BNH que teve como proposta original o desenvolvimento de uma 
política nacional habitacional que possibilitasse o acesso das famílias pobres à 
casa própria. De acordo com Azevedo (1988) a motivação para criação do BNH 
foi política, ou seja, intencionava-se a adesão da população de baixa renda ao 
regime militar. Nesse projeto estava implícita a ideia de que a casa própria 
poderia desempenhar um papel ideológico, transformando o trabalhador um 
aliado da ordem e do regime militar (AZEVEDO, 1988). 
O BHN atuava com as características de um banco. Seu papel era 
definir as diretrizes da política habitacional e as linhas de financiamento, 
trabalhando de modo articulado com uma rede descentralizada de agências 
estaduais promotoras da política, as chamadas Companhias Estaduais de 
Habitação - COHABs. Essas agências se replicaram pela maioria dos Estados 
como agente operador, na medida em que desenvolvia os projetos, recebia os 
financiamentos e realizava as obras. 
Além da política de habitação popular, o BNH atuou com financiamentos 
habitacionais para as classes médias, o que terminou por constituir, na prática, 
a principal forma de atuação do banco, pois era a fatia mais lucrativa do 
mercado imobiliário e com garantias de retorno. 
Uma das questões que levou o BNH a entrar em crise foi uma conjuntura 
desfavorável de um período de recessão econômica, que implicou em restrição 
de crédito. Além disso, os instrumentos de captação de recursos criados 
inicialmente não tiveram eficiência, levando a um processo de inadimplência 
dos mutuários. 
A partir de 1967, o BNH passa a contar com duas fontes de recurso, o 
FGTS e a Caderneta de Poupança, o que somado à criação de novos 
mecanismos para reduzir a inadimplência, permitiu aos poucos que o banco se 
 
 
22 
 
recuperasse. A caderneta de poupança financiava os empreendimentos para 
os setores médios, e o FGTS financiava os empreendimentos para os setores 
populares através das COHABs. Havia taxas de juros diferenciadas por faixas 
de renda: maior renda, taxas maiores; menor renda, taxas menores fazendo 
com que a camada média-baixa sustentasse o sistema, porém a população 
com renda inferior a três salários mínimos não suportava a contrapartida 
exigida dos mutuários. 
A última fase do banco, a partir da metade da década de 1970, foi 
marcada pela tentativa de retomar os financiamentos para as camadas 
populares. Tal iniciativa exigiu uma reestruturação do sistema, a fim de buscar 
a redução dos riscos de inadimplência, porém com inúmeros problemas e 
dificuldades acumuladas, o BNH foi extinto, 1986. 
As atribuições do BNH foram transferidas para a Caixa Econômica 
Federal, permanecendo a área de habitação, no entanto, vinculada ao 
Ministério do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (MDU), cuja 
competência abrangia as políticas habitacional, de saneamento básico, de 
desenvolvimento urbano e do meio ambiente, enquanto que a Caixa estava 
vinculada ao Ministério da Fazenda. 
 
4 - A política habitacional nos anos de 1990 
A política habitacional após a extinção do BNH passou por longo período 
sem dispor de aparato institucional e de recursos consolidados que 
possibilitassem ações contínuas e integradas. 
No início dos anos de 1990, logo após a redemocratização do país os 
programas habitacionais passaram por uma transição, na qual, se verificou um 
esvaziamento, nas estratégias e formulações, da política urbana e habitacional 
em âmbito nacional, embora houvesse uma ocupação fragmentada e criativa, 
de municípios e Estados, na tentativa de solucionar a crise habitacional 
existente no país. 
Após um período de centralização das políticas urbanas e habitacionais, 
surge um período marcado pela diversidade e heterogeneidade, mas pouco 
produtiva por falta de uma politica nacional. 
Entre 1992 e 1994 foi implantado o Programa Habitar Brasil e Morar 
Município com a finalidade de financiar a construção de habitação para 
 
 
23 
 
população de baixa renda, mas devido à existência de uma regulamentação os 
municípios não conseguiam os recursos necessários para implementação do 
programa. 
A partir de 1995, foram elaborados alguns programas com financiamento 
do setor publico, como a Carta de Crédito (individual e associativa), o Pró-
Moradia, cuja finalidade, seria a urbanização de áreas precárias. 
A partir de 1998, o financiamento público praticamente foi extinto 
buscou-se uma nova forma de financiamento, o chamado Programa de 
Arrendamento Residencial (PAR), constituído por recursos de ordem fiscal e 
pelo FGTS. 
Embora nos anos de 1990 os governos estaduais e municipais tomaram 
iniciativas no desenvolvimento de ações locais, com elevado grau de 
autofinanciamento, e baseadas em modelos alternativos em programas de 
urbanização de favelas e regularização fundiária não possibilitou solucionar o 
problema urbano e habitacional enfrentado por boa parte da sua população, em 
particular, a de baixa renda. 
 
 
Referências bibliográficas 
 
AZEVEDO, Sérgio de. Vinte e dois anos de política habitacional (1964-86): 
criação, trajetória e extinção do BNH. Revista de Administração Pública, vol. 
22, no 4. Rio de Janeiro, p. 107-120, out./dez. 1988. 
BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação Social do Brasil: arquitetura 
moderna, lei de inquilinato e difusão da casa própria. São Paulo: Estação 
Liberdade, FAPESP, 1998 
DUMONT, Tiago Vieira Rodrigues. Uma Análise da Política Urbana e 
habitacional no Brasil – A construção de uma ilusão. Áskesis, v. 3, n. 1, p. 23 – 
44, janeiro/junho – 2014. 
DUTRA, Walkiria Zambrzycki. Entre a produção habitacional estatal e as 
moradias precárias: uma análise da popularização da casa própria no Brasil, 
Configurações, 10, p. 151-164, 2012. 
 
 
24 
 
AULA 5 
A Reforma Urbana e o Direito à Moradia no Brasil 
 
1 – O Movimento Nacional de Reforma Urbana 
 Em resposta ao acirramento dos problemas urbanos decorrentes do 
crescimento das cidades não ser acompanhado do acesso a bens e serviços 
necessários à reprodução social nas cidades, isto é, não foi acompanhado do 
direito à cidade para todos, surgiram mobilizações e discussão sobre a política 
urbana na sociedade questionando o modelo de desenvolvimento urbano 
adotado. Neste contexto emergiu, a partir da década de 1980, durante o 
processo de redemocratização do país, o Movimento Nacional pela Reforma 
Urbana. 
Articulado em torno dos movimentos sociais de luta por moradia e 
reforçado pela Comissão Pastoral da Terra, Comunidades Eclesiais de Base, 
sindicatos e universidades, o Movimento pela Reforma Urbana foi responsável 
pela elaboração de uma plataforma política em torno do tema, que culminou na 
formulação do capítulo da Política Urbana na Constituição Federal de 1988 e 
no Estatuto da Cidade em 2001. 
As primeiras discussões sobre o ideário da reforma urbana iniciaram nos 
anos de 1960, através de Movimentos populares, associações profissionais e 
instituições religiosas que passaram a se articular em torno do objetivo de 
promover a democratização do acesso ao solo urbano nas cidades brasileiras. 
O propósito era diagnosticar e elaborar soluções para os problemas urbanos 
tendo como principais bandeiras a questão habitacional e agrária. Em 1964, 
após o golpe militar instaurou-se o estado autoritário impedindo o avanço 
desse debate. 
Nos anos 1970 e 1980 ressurgiu o debate sobre o tema da reforma 
urbana, através da articulação dos movimentos sociais que neste período de 
abertura política ganhavam força e relevância política. Como expressãodesta 
retomada em meados de 1970 formulou-se a primeira versão do Projeto de Lei 
de Desenvolvimento Urbano, liderado pelo Movimento Nacional pela Reforma 
Urbana - MNRU. Este projeto tinha o objetivo de dotar o poder público de 
instrumentos adequados para combater os processos especulativos 
 
 
25 
 
prevalecente nos grandes centros urbanos na medida em que definia normas 
de ocupação do solo urbano, fixava as diretrizes, instrumentos, equipamentos 
urbanos, e ditava normas para a regularização fundiária de áreas urbanas. 
(CARDOSO, 2003). 
Este projeto de lei tramitou por alguns anos no Congresso Nacional, mas 
o acabou sendo arquivado, porém os debates suscitados a partir dessa 
proposta permitiu que o MNRU elaborasse uma proposta de emenda popular 
para um capítulo na constituição federal referente à política urbana. 
Essa emenda defendia entre outras coisas o Direito à cidade e à 
cidadania: universalização dos equipamentos e serviços urbanos e a Função 
social da propriedade, ou seja, os limites ao direito de propriedade privada do 
solo urbano, priorizando o interesse comum sobre o individual de propriedade 
tendo um uso justo e social do espaço urbano. Assim, os imóveis vazios 
situados cidade que geralmente se beneficiam de infraestrutura urbana 
(esgoto, água, luz, asfalto etc.) custeados pelo poder público e, portanto, por 
toda a sociedade, representam um alto custo social e, por isso, o proprietário 
deve dar uso para cumprir a função social da propriedade. 
A Constituição Federal de 1988 absorveu essa demanda em seus artigos 
182 e 183 no capítulo da Política Urbana. Esses dois artigos estabeleceram 
que a política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder público 
municipal, teria por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções 
sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes, sendo o Plano 
Diretor o instrumento básico desta política de desenvolvimento urbano. 
Pode-se dizer então que a constituinte passou a regular as desigualdades 
criadas pela política de urbanização brasileira adotada até então, na qual os 
interesses patrimoniais estavam protegidos. 
Além disso, a Constituição Federal definiu que é competência comum da 
União, Estados e Municípios a “promoção e implementação de programas para 
construções de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de 
saneamento básico” Portanto, todos os programas habitacionais passam a ser 
desenvolvidos pelos entes federados em conjunto, ou pela adesão a um 
programa nacional. 
 
 
26 
 
 Assim, foram estabelecido, pela primeira vez, as diretrizes para política 
urbana, além da garantia da função social da propriedade e a gestão 
participativa da política urbana. 
Através da descentralização político-administrativa, as políticas públicas 
passam a ser pensadas na singularidade de cada município, ampliando-se as 
possibilidades de intervenções mais próximas das necessidades locais e 
possibilitando que novos atores sociais ganhassem visibilidade, principalmente 
os tradicionalmente excluídos do acesso às decisões do poder político, 
remodelando assim a arena política decisória (SOUZA, 2001). 
Porém, para colocar em prática os preceitos do capítulo da Política Urbana 
da Constituição Federal, foi necessária a criação de uma lei federal. Assim, 
foram necessários 13 anos de espera para que o capítulo da Política Urbana 
da nossa Constituição fosse definitivamente aprovado através da lei federal 
10.257/2001, mais conhecida como Estatuto das Cidades. 
 
2. O Estatuto da cidade 
 
O Estatuto das Cidades tem como um dos princípios básicos a função 
social da propriedade, assim define as ferramentas que o Poder Público, 
especialmente o Município, deve utilizar para enfrentar os problemas 
habitacionais. 
As inovações do Estatuto da Cidade estão em regulamentar uma série 
de instrumentos de natureza jurídica e urbanística voltados a induzir as formas 
de uso e ocupação do solo, possibilitando a regularização de posses urbanas 
de áreas ocupadas para fins de moradia não formalizadas da cidade. 
Como exemplo destes instrumentos destacamos o são instrumentos de 
política urbana criado pelo Estatuto da cidade 
A importância do Estatuto da Cidade também se relaciona com a adoção 
de espaços e canais de participação popular, através dos conselhos de política 
urbana, das conferências de desenvolvimento urbano, de debates, fóruns, e 
audiências, visando à gestão democrática da política urbana. O Estatuto 
mantém a divisão de competências entre os três níveis de governo, 
concentrando na esfera municipal as atribuições de legislar sobre a política 
 
 
27 
 
urbana de modo a ordenar o desenvolvimento da função social da cidade e 
desenvolver o bem estar de seus habitantes. 
O instrumento de política urbana para regulamentar a função social da 
propriedade é o Plano Diretor e ele deve ser desenvolvido em todos os 
municípios, sejam na área urbana ou rural, acima de 20 mil habitantes. De 
acordo com o Estatuto da Cidade, o Plano Diretor, por exemplo, deve 
estabelecer mecanismos para ampliar a oferta de terra urbanizada, inibir a 
retenção de solo urbano, incidir sobre a formação do preço da terra e reservar 
áreas que estejam vazias ou já ocupadas para habitação social. 
Outro instrumento importante do estatuto é a delimitação de zonas 
especiais de interesse social – ZEIS. O município pode delimitar zonas urbanas 
específicas, que podem conter áreas públicas ou particulares ocupadas por 
população de baixa renda, onde há interesse público de promover a 
urbanização e/ou a regularização jurídica da posse da terra, para salvaguardar 
o direito à moradia. O Plano Diretor pode delimitar e regular as ZEIS ou pode 
indicar a necessidade de elaboração de uma lei específica com essa finalidade. 
 Recomenda-se que os assentamentos precários do tipo favelas, 
loteamentos irregulares e cortiços, sejam delimitados como ZEIS para 
promover sua regularização fundiária. A delimitação destes assentamentos 
como ZEIS permite contribuir para o reconhecimento da posse de seus 
ocupantes. Como zonas urbanas específicas, as Zeis são criadas no sentido de 
incorporar territórios que até então estavam fora das normas estabelecidas. 
Outro instrumento que pode ser combinado com as ZEIS e com a 
produção de habitação de interesse social é a outorga onerosa do direito de 
construir e de alteração de uso que, quando empregado pelo município, deve 
dirigir os recursos auferidos para a execução de programas habitacionais, 
constituição de reserva fundiária, regularização fundiária ou, ainda, para dotar 
áreas periféricas com infraestrutura e equipamentos. É importante garantir o 
controle social desses recursos, destinando-os ao fundo municipal de 
habitação ou ao fundo de desenvolvimento urbano, geridos por conselhos 
democráticos. 
Nessa perspectiva, as definições dos planos diretores municipais 
deveriam ser resultado de um amplo processo de leitura da realidade local, 
envolvendo os mais variados setores da sociedade: prefeitura, câmara de 
 
 
28 
 
vereadores, poder judiciário, ministério público, sociedade civil organizada, 
movimentos sociais, entre outras. 
É importante assinalar a importância do Plano Diretor no sentido da 
definição de instrumentos e estratégias que contribuam para o acesso à terra 
urbanizada e à moradia. 
Descrever esses instrumentos no corpo do Plano Diretor, por si só não 
garante sua aplicação. A aplicação desses instrumentos requer vontade 
política, depende da construção coletiva de um pacto social e também da 
capacidade administrativa do governo municipal. 
 
 
3 – Ministério Das Cidades 
 
O Ministériodas Cidades foi criado em 2003 para tratar da política de 
desenvolvimento urbano. Através da Caixa Econômica Federal, operadora dos 
recursos, o Ministério trabalha de forma articulada com os estados e 
municípios, além dos movimentos sociais, organizações não governamentais, 
setores privados e demais segmentos da sociedade. Neste sentido, o ministério 
tornou-se o órgão coordenador, gestor e formulador da Política Nacional de 
Desenvolvimento Urbano e da Política Nacional de Habitação (PNH). 
Assim, pode-se dizer que somente a partir do Estatuto da cidade e da 
criação do Ministério das Cidades, o estado brasileiro passa a inserir a questão 
da moradia na esfera de prioridades. 
 
 
Referência Bibliográficas 
ASSIS, Carolina Tavares; GRANADO, Emerson de Morais. A função social da 
propriedade urbana. Revista Eletrônica de Iniciação Científica, Itajaí, v. 4, n.1, 
p. 382-393, 1º Trimestre de 2013. 
MARICATO, Ermínia. O Ministério das Cidades e a política urbana no Brasil: 
quais as ações do Ministério desde sua criação, os problemas e desafios 
enfrentados. Revista AU - Arquitetura e Urbanismo, nº 156, março de 2007. 
 
 
 
29 
 
AULA 6 
POLÍTICA NACIONAL DE HABITAÇÃO E O TRABALHO SOCIAL EM 
PROGRAMAS DE INTERESSE SOCIAL 
 
 
1 – A nova política nacional de habitação 
Entre 1986 e 2003, a política habitacional em nível federal mostrou 
descontinuidade administrativa, com baixo grau de planejamento e baixa 
integração às outras políticas urbanas. A sequência de programas desconexos 
e com ações pontuais que muitas vezes não dialogavam com outras políticas 
de desenvolvimento urbano foram majoritárias. 
Com vistas a enfrentar esse problema e o aumento do déficit 
habitacional, o governo federal decidiu retomar o processo de planejamento do 
setor habitacional, traçando assim, uma Política Nacional de Habitação. 
Essa política foi instituída pelo Ministério das Cidades em 2004 e 
obedeceu a princípios e diretrizes que têm como principal meta garantir à 
população, especialmente a de baixa renda, o acesso à habitação digna. Um 
dos principais objetivos desta politica é a mobilização de recursos de forma a 
viabilizar a cooperação entre União, Estados e Municípios para o 
enfrentamento do déficit habitacional brasileiro. A Política Nacional da 
Habitação tem como componentes principais a integração urbana de 
assentamentos precários, a urbanização, regularização fundiária e inserção de 
assentamentos precários, a provisão da habitação e a integração da política de 
habitação à política de desenvolvimento urbano, que definem as linhas mestras 
de sua atuação. 
Essa politica se inscreve dentro da concepção de desenvolvimento 
urbano integrado, no qual a habitação não se restringe a casa, incorpora o 
direito à infraestrutura, saneamento ambiental, mobilidade e transporte coletivo, 
equipamentos e serviços urbanos e sociais, buscando garantir direito à cidade. 
Assim, criou-se uma série de instrumentos para viabilizar sua 
implantação e possibilitar a retomada do financiamento habitacional, dentre 
esses instrumentos, destaca-se o Plano Nacional de Habitação e o Sistema 
Nacional de Habitação. 
 
 
30 
 
O Plano Nacional de Habitação (PlanHab) é um dos instrumentos 
previstos para a implantação da atual Política Nacional de Habitação. O 
principal objetivo do PlanHab é planejar as ações públicas e privadas, no médio 
e longo prazo, com o propósito de formular uma estratégia do governo federal 
para enfrentar as necessidades habitacionais do país, considerando o perfil do 
déficit habitacional, a demanda futura por moradia e a diversidade do território 
nacional. 
A elaboração do PlanHab foi finalizada em dezembro de 2008 e se 
caracterizou simultaneamente como um plano estratégico de longo prazo e 
como um plano de ação, ou seja, uma ferramenta de planejamento com 
propostas que são operacionais e que devem ser implementadas no curto, 
médio e longo prazo. O Plano contou com um intenso processo participativo 
envolvendo todos os segmentos da sociedade civil - movimentos populares, 
empresários, entidades técnicas e acadêmicas, organizações não 
governamentais (ONGs) e poder público - buscando pactuar visões sobre o 
cenário habitacional brasileiro. 
O Sistema Nacional de Habitação (SNH) está subdividido em dois: o de 
interesse social que se compõe de fundos públicos para atender à demanda da 
população de baixa renda e o outro é o Subsistema de Habitação de Mercado 
(SHM), com o objetivo de atender e reduzir a demanda da população de classe 
média. 
 
2 - Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS) 
 
O SNHIS foi instituído em 2005 pela Lei Federal nº 11.124, e é fruto do 
da iniciativa do movimento pela reforma urbana. Seu princípio é promover o 
acesso à moradia adequada à população de baixa renda, especialmente a que 
se encontra limitada a rendimentos de até três salários mínimos e que compõe 
a quase totalidade do déficit habitacional do País, e a construção de cidades 
justas, humanas, democráticas e sustentáveis. 
O principal objetivo do Sistema é articular as políticas de habitação 
social em um sistema federativo de forma descentralizada e democrática na 
produção de habitação para a população de baixa renda 
 
 
31 
 
 O SNHIS é organizado a partir da montagem de uma estrutura 
institucional, composta por uma instância central de coordenação, gestão e 
controle, representada pelo Ministério das Cidades, além do Conselho Gestor, 
por agentes financeiros e por órgãos e gentes descentralizados. 
A partir dessa estrutura central é prevista a criação de Fundos Estaduais 
e Municipais, e seus respectivos conselhos são responsáveis por gerir os 
recursos. É necessário que os Estados e Municípios possam aderir ao sistema 
para operacionalizar os recursos do Fundo Nacional de Habitação de Interesse 
Social – FNHIS. 
Os Fundos de HIS seriam os mecanismos que permitiriam aos 
Municípios alavancar recursos próprios e potencializar os recursos federais ou 
estaduais que lhes fossem repassados. 
Para aderir ao sistema e receber o financiamento do Fundo, os estados 
e municípios deveriam se comprometer com a criação de um fundo de 
habitação, a ser gerido por um conselho com participação popular, além da 
elaboração de um Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) que 
deveria estabelecer as diretrizes e prioridades da política em nível local. 
A criação do FNHIS marca um momento inovador na política 
habitacional, em que se manifesta um claro compromisso do governo federal 
em subsidiar a produção de moradias para as camadas de mais baixa renda. 
 
3 - O Programa Minha Casa Minha Vida 
Com o objetivo de criar condições de ampliação do mercado habitacional 
e impactar a economia, através dos efeitos do setor da construção civil, o 
governo federal criou no ano de 2009 o Programa Minha Casa Minha Vida – 
MCMV. 
O programa se restringe a pessoas que tenha renda familiar (que inclui 
todas as pessoas que moram na mesma casa), de no máximo R$ 5000 reais, 
mas o governo subsidia uma parte dos imóveis, além disso, as taxas de juros e 
prestações são diferenciadas para cada faixa salarial. 
Na faixa salarial 1 (quem possui renda de até R$ 1600 reais por mês) as 
prestações limitadas a 5% da renda familiar mensal, com valor mínimo de R$ 
25 mensais. Já as faixas 2 e 3 (quem recebe entre R$ 1600 e R$ 5000) têm 
 
 
32 
 
taxa de juros de 5% a 7,16% ao ano, reais tem 30 anos e Prestações limitadas 
a 30% da renda familiar mensal. 
 Passados cerca de 6 anos do lançamento do Programa Minha Casa 
Minha Vida, os números oficiais apontam para mais de 4 milhões de unidades 
beneficioumais de 9,6 milhões de pessoas em todo o país. 
O Minha Casa Minha Vida foi inspirado na experiência chilena que como 
o modelo mais adequado para dinamizar a produção habitacional, 
resguardando um papel protagonista para o setor empresarial. De acordo com 
Cardoso, Amorim e Souza, 2011 o desenho adotado para o programa, foi 
ancorado na participação do setor privado, entrando, assim, em choque com os 
princípios do SNHIS que é pautado no setor público e em premissas e debates 
acumulados em torno do Plano Nacional de Habitação de Interesse Social. 
A implementação de uma política habitacional regida por uma lógica 
empresarial trouxe reflexos diferenciados para a construção do espaço urbano, 
assim como para a eficácia da política de habitação como mecanismo de 
redução das desigualdades socioespaciais, tais como as construções das 
moradias são convencionais e se repetem no Brasil inteiro, sem uma 
adaptação às necessidades regionais da população, além disso, a localização 
dos empreendimentos, em geral, é em áreas periféricas, muito distantes e com 
pouca ou nenhuma infraestrutura urbana. 
 
4 – O trabalho social em projetos de habitação de interesse social 
 
Em 2003, o trabalho social passou a ser componente básico da Política 
Nacional de Habitação. Esta exigência foi estendida aos programas em que o 
Ministério da Cidade concedesse recursos. Assim, essa determinação 
generalizou a inclusão do Trabalho Social Integrado nos programas 
habitacionais de interesse social. 
O trabalho social compreende um conjunto de estratégias, processos e 
ações, realizado a partir de estudos diagnósticos integrados e participativos do 
território, compreendendo as dimensões: social, econômica, produtiva, 
ambiental e além das características da intervenção, visando promover o 
exercício da participação e a inserção social dessas famílias, em articulação 
com as demais políticas públicas, contribuindo para a melhoria da sua 
 
 
33 
 
qualidade de vida e para a sustentabilidade dos bens, equipamentos e serviços 
implantados. Essas diretrizes estão embasadas na Portaria nº 21 (BRASIL, 
2014). 
 Assim, as intervenções públicas na área de habitação devem ser 
acompanhadas por um trabalho social promova a inclusão social, o acesso à 
cidade e aos serviços públicos, e que estimule a participação cidadã. 
O Trabalho tem como objetivos : 1. Mobilização, organização e 
fortalecimento social – prevê processos de informação, mobilização, 
organização e capacitação da população benef iciária visando a promover a 
autonomia e o protagonismo social, bem como o fortalecimento das 
organizações existentes no território, à constituição e a formalização de novas 
representações e novos canais de participação e controle social. 2. 
Acompanhamento e gestão social da intervenção – visa a promover a gestão 
das ações sociais necessárias para a consecução da intervenção, incluindo o 
acompanhamento, a negociação ao longo da sua execução, bem como, 
preparar e acompanhar a comunidade para compreensão desta, de modo a 
minimizar os aspectos negativos vivenciados pelos beneficiários e evidenciar 
os ganhos ocasionados ao longo do processo, contribuindo para sua 
implementação. 3. Educação ambiental e patrimonial – visa a promover 
mudanças de atitude em relação ao meio ambiente, ao patrimônio e à vida 
saudável, fortalecendo a percepção crítica da população sobre os aspectos que 
inf luenciam sua qualidade de vida, além de refletir sobre os fatores sociais, 
políticos, culturais e econômicos que determinam sua realidade, tornando 
possível alcançar a sustentabilidade ambiental e social da intervenção. 4. 
Desenvolvimento socioeconômico – objetiva a articulação de políticas públicas, 
o apoio e a implementação de iniciativas de geração de trabalho e renda, 
visando à inclusão produtiva, econômica e social, de forma a promover o 
incremento da renda familiar e a melhoria da qualidade de vida da população, 
fomentando condições para um processo de desenvolvimento socioterritorial de 
médio e longo prazo. (BRASIL, 2014, p.11) 
 
Referências Bibliográficas 
 
CARDOSO, Adauto; AMORIAM, Thêmis, ARAUJO, Flavia. Habitação de 
 
 
34 
 
interesse social: política ou mercado? Reflexos sobre a Construção do 
espaço metropolitano in XIV Encontro Nacional da ANPUR, Rio de Janeiro, 
Maio de 2011. 
 
NASCIMENTO NETO, Paulo; MOREIRA, Tomás.; SCHUSSEL, Zulma.. 
Conceitos divergentes para políticas convergentes: descompassos entre a 
Política Nacional de Habitação e o Programa Minha Casa, Minha Vida. Revista 
Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, mar. 2013. 
 
Sistema nacional de habitação de interesse social à luz do novo marco legal 
urbanístico: subsídios para implementação nos estados e municípios : lei 
federal nº 11.124/05. Desenvolvido pelo Instituto Polis a publicação visa 
contribuir com a implementação do Sistema Nacional de Habitação de 
Interesse Social (SNHIS). 
 
AMORE, Caio Santo; SHIMBO, Lúcia Zanin; RUFINO, Maria Beatriz Cruz (Org.) 
Minha Casa... E a Cidade? Avaliação do Programa Minha Casa Minha 
Vida em seis estados brasileiros que faz um balanço dos primeiros cinco 
anos do maior programa de habitação do país. Rio de Janeiro : Letra Capital, 
2015. 
BRASIL. Ministério das Cidades. Portaria nº 21, de 22 de janeiro de 2014. 
Aprova o Manual de Instruções do Trabalho Social nos Programas e Ações do 
Ministério das Cidades. Brasília, DF, 2014. 
CARVALHO, MARIA do CARMO BRANT . Metodologias de Trabalho Social. São 
Paulo: IEE/PUC, 2008. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
Aula 7 
 
A QUESTÃO AMBIENTAL E O CONCEITO DE JUSTIÇA 
AMBIENTAL 
 
1- As abordagens da questão ambiental 
 
A preocupação com a degradação ambiental até meados do século XX 
foram dispersas e pontuais. A questão ambiental só viria a ser formulada mais 
sistematicamente a partir da década de 1950, quando aumentou a 
preocupação com a dimensão das alterações ocasionadas pelo progresso 
urbano e industrial. Diversos desastres internacionais ocorridos na segunda 
metade do século XX contribuíram para esta mudança de percepção. Assim, 
na segunda metade do século XX, diversas conferências internacionais vão 
problematizar a questão ambiental e influenciar na forma como ela é hoje 
enunciada. Vale destacar também a emergência dos problemas considerados 
“globais”, ou seja, aqueles em que os impactos não se restringem a um país ou 
à região onde são gerados inserindo na discussão acerca do meio ambiente 
aspectos vinculados à soberania nacional. A partir da reelaboração da 
problemática ambiental decorrente dos problemas globais, as florestas, a água 
e outros recursos passam a ser definidos como bens comuns da humanidade. 
No Brasil, as preocupações ambientais vinculadas à sustentabilidade também 
vão ser progressivamente incorporadas tanto nas práticas do poder público e 
dos diversos agentes sociais, como nos discursos que fundamentam tais 
práticas, por vezes com sentidos diferenciados. 
Quando a preocupação com o meio ambiente emerge como questão 
central a partir da percepção da degradação ambiental, decorrente do modelo 
hegemônico de desenvolvimento urbano e industrial, é possível identificar 
formas distintas de abordagem da questão ambiental. A abordagem do risco foi 
impulsionada, entre outras coisas, pela percepção do risco inerente às novas 
tecnologias, pela constatação das alterações climáticas globais e pela 
constatação da escassez crescente de recursos naturais (como a água, por 
exemplo), e percebe os riscos ambientais produzidos pelo homem como 
 
 
36 
 
problemas que impactam a todos os indivíduos indiferenciadamente.Ou seja, 
as mudanças climáticas, a poluição industrial, ocupação de moradias em áreas 
de preservação ambiental. 
Em contraposição a esta abordagem, surge, na década de 1980, nos 
Estados Unidos, o movimento por Justiça Ambiental, na qual os impactos 
ambientais indesejáveis são distribuídos de maneira desigual na sociedade. 
 Neste período, diversos estudos científicos vieram a confirmar esta 
percepção crescente no movimento social, ao constatarem que os acidentes 
ambientais eram mais comuns nas localidades onde residiam pessoas de baixa 
renda. Constataram, igualmente, que a legislação ambiental não era aplicada 
pelos governos da mesma forma em todas as áreas, havendo maior 
flexibilidade com empresas que violavam a legislação nos bairros onde 
residiam grupos marginalizados. No lugar do termo risco, alguns dos 
defensores desta concepção preferem usar o termo vulnerabilidade, por 
expressar mais claramente que existem alguns grupos mais susceptíveis a 
sofrer os impactos de um modelo de desenvolvimento considerado socialmente 
injusto e predatório dos recursos naturais. 
O reconhecimento de que grupos marginalizados estavam mais 
expostos aos acidentes e à poluição ambiental permitiu a associação das lutas 
por direitos civis com as lutas ambientalistas. Foi desta aliança que surgiu o 
movimento por Justiça Ambiental. 
O conceito de Justiça Ambiental pretende articular as preocupações 
ambientalistas e as lutas sociais, a partir do reconhecimento de que a 
degradação ambiental, a poluição e outros impactos indesejáveis do progresso 
urbano e industrial não atingem a todos os grupos da mesma forma. 
Neste sentido, o tratamento justo e o envolvimento digno de todas as 
pessoas, independentemente de sua raça, cor ou renda no que diz respeito à 
elaboração, desenvolvimento, implementação e aplicação de políticas, leis e 
regulações ambientais. Nenhum grupo de pessoas deva suportar as 
consequências ambientais negativas resultantes da operação de 
empreendimentos industriais, comerciais e municipais, da execução de 
políticas e programas federais, estaduais, ou municipais, bem como das 
consequências resultantes da ausência ou omissão destas políticas, 
 
 
37 
 
assegurando, assim o acesso justo e equitativo, direto e indireto, aos recursos 
ambientais do país (Acselrad et al., 2009). 
Assim, a garantia da Justiça Ambiental diz respeito também à garantia 
do acesso de todas as pessoas aos recursos naturais necessários a sua 
existência e reprodução social. Por exemplo, no meio rural, o acesso à terra é 
elemento essencial para a garantia da justiça ambiental no campo; o acesso à 
água, ao território e à mata é fundamental para a reprodução de grupos 
indígenas. 
Outro elemento essencial da Justiça Ambiental se refere ao acesso à 
informação e à participação democrática dos grupos envolvidos nos processo 
decisórios relativos a empreendimentos, políticas e projetos que possam ter 
impactos sobre seus territórios, bem como na proposição de alterativas a tais 
projetos, caso estes sejam considerados indesejáveis. 
 
2 – A vulnerabilidade e injustiça ambiental 
 
No meio urbano, a questão ambiental assume características 
específicas. Na medida em que a garantia da Justiça Ambiental depende do 
funcionamento de serviços de saneamento ambiental; moradia segura e 
saudável; o controle da poluição industrial, tratamento de esgoto e coleta de 
lixo, facilitando o escoamento da água da chuva e evitando a poluição dos 
corpos hídricos e enchentes. 
No Brasil, os serviços de saneamento devem ser prestados pelo poder 
público e o direito a estes serviços é garantido a todos os cidadãos pela 
legislação federal nº 11.445/2007, que estabelece as diretrizes nacionais para 
o saneamento básico, além do abastecimento de água e do esgotamento 
sanitário, a limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos e a drenagem e 
manejo de águas pluviais urbanas. 
Apesar dos avanços na legislação, ainda é um desafio a universalização 
dos serviços de saneamento, sendo possível perceber que os locais com os 
piores indicadores coincidem, via de regra, com as áreas da cidade onde vive 
população de baixa renda, conformando uma clara situação de injustiça 
ambiental no meio urbano. 
 
 
38 
 
 Assim, a ocupação de encostas e de áreas sujeitas a inundações 
frequentes, resulta em uma maior exposição desta população a deslizamentos, 
inundações, contaminação por doenças comuns após as cheias e o 
desenvolvimento de programas habitacionais voltados para a produção de 
moradia em local ambientalmente adequado, que não exponha os moradores 
ao risco, é elemento central para a garantia da justiça ambiental nas cidades. 
Por esse motivo, no Brasil, a vulnerabilidade social é, muitas vezes, 
sinônimo de vulnerabilidade ambiental. Segundo dados do Ministério das 
Cidades, os deslizamentos e processos correlatos são os que atingem maior 
número de vítimas fatais nas grandes metrópoles do mundo. No entanto, são 
as inundações que causam, além das mortes por afogamento, as maiores 
perdas materiais e patrimoniais para a população e para o poder público, além 
de grandes impactos à saúde pública devido às doenças transmitidas por meio 
da água contaminada. 
 
 
 
Referências bibliográficas 
ACSELRAD, H. A Desigualdade Ambiental na conjuntura atual: uma análise 
sobre a Rio +20 e seus possíveis desdobramentos (Entrevista com o Professor 
Henri Acselrad). Revista IDeAS, v.6, n.2, p.216-226, 2012. 
CIDADE, Lúcia Cony Faria. Urbanização, ambiente, risco e vulnerabilidade: em 
busca de uma construção interdisciplinar. Cad. Metrop., São Paulo, v. 15, n. 29, 
pp. 171-191, jan/jun 2013. 
Copetti, Camila; Lottermann, Osmar Em Busca da Justiça Ambiental e do 
Desenvolvimento Sustentável na Sociedade de Risco. São Paulo, ano 8, n. 15, 
jan./jun., p. 133-152, 2010. 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
AULA 8 
Conflitos entre o direito à moradia e a preservação ambiental 
 
Assim como o direto à morada, o direito ao meio ambiente equilibrado 
encontra respaldo na constituição federal, através dos artigos 23, 170 e 225. O 
artigo 2 do Estatuto da cidade aponta o direito à moradia e o direito ao meio 
ambiente como integrante da concepção de cidade sustentável. Com essas 
legislações, o Brasil se coloca como um país protetor e garantidor do meio 
ambiente, porém verifica-se muitos conflitos urbanos em curso que envolvem 
os temas da habitação e do meio ambiente. Como sabemos, isto decorre da 
expansão urbana das cidades se deu, em grande parte, em áreas 
ambientalmente frágeis, como pântanos, manguezais, margens de rios e 
encostas íngremes. 
A ocupação irregular destas áreas resultou em uma grande 
irregularidade urbanística na cidade, além de ocasionar diversos problemas 
aos moradores de tais áreas que, via de regra, convivem com um meio 
ambiente degradado e insalubre devido à ausência de uma série de serviços 
urbanos, como os serviços de saneamento. 
Nos últimos anos, é possível constatar o acirramento dos conflitos em 
relação a essas áreas e os argumentos que buscam legitimar as políticas para 
essas áreas informais estão bastante identificados com a questão da 
segurança e a questão ambiental. 
Entretanto, esta posição não é uma unanimidade dentro do poder 
público, existindo diversos atores que defendem o acesso aos serviços 
públicos em áreas de ocupações irregulares, integrando-as à cidade formal 
numa perspectiva de garantia do direito à cidade. Neste contexto, as propostas 
políticas atuais para essas áreas variam desde a urbanização até a remoção. 
De fato, tais conflitos são permeados por interesses objetivos dos 
diferentes agentes