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CULTURA ORGANIZACIONAL E O TERCEIRO SETOR Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005: 34 - 55 CULTURA ORGANIZACIONAL E TERCEIRO SETOR 1 Ademar Orsi, Eduardo Marino, Luiz Rossi, Natacha Bertoia, e Roberto Shiniashiki 2 RESUMO O trabalho analisa padrões culturais que permeiam as Organizações de Sociedade Civil (OSCs). A cultura organizacional é estudada com base em várias perspectivas teóricas e metodológicas. Algumas abordagens são de natureza antropológica, sociológica ou psicossociológica. Quanto aos procedimentos metodológicos, o artigo mostra que há grande diversidade: técnica de diagnóstico organizacional, análise documental, observação participativa, entrevistas e questionários aplicados e método de pesquisa-ação. Cabe salientar, no entanto, que apesar de existirem alguns métodos mais utilizados do que outros pelos pesquisadores, a escolha por uma técnica em detrimento de outras deverá estar intimamente relacionada ao referencial teórico abordado. Procede-se inicialmente a um levantamento bibliográfico visando a elaboração do referencial teórico, bem como, a identificar algumas características especiais das culturas organizacionais. Conclui-se que as OSCs atuam de diferentes formas e poucos estudos procuram definir com clareza critérios para definir uma tipologia para essas instituições. Palavras-chave: cultura organizacional; procedimentos metodológicos; terceiro setor. ABSTRACT In the present work, the author analyses some cultural patterns from the point of view of some organizations of the civil society OSCs. The organizational culture is here based upon several theoretic and methodological perspectives. Some of these approaches are anthropological, sociological or psycho-sociological. Concerning to the methodological proceedings, this paper shows various points: organizational diagnosis technique, documentary analysis, participating observation and instruments applied to action research. In spite of the existence of different methods, the choice of a technique depends on theoretic aspects. At first, a bibliographic survey is made aiming the elaboration of a theoretic basis as well as the identification of special traits of organizational cultures. The conclusion points to 1 Pesquisa realizada em 2001, sob a supervisão da Profª. Drª. Rosa Maria Fischer - FEA/USP. 2 Autores: Ademar Orsi, Administrador, Mestre em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, professor da Universidade Anhembi Morumbi e da Fundação Dom Cabral. e-mail: orsiademar@ig.com.br; Eduardo Marino, Zootecnista, Mestre em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, e-mail: eduardo.marino@uol.com.br; Luiz Rossi, Administrador, Mestrando em Administração pela Escola de Administração da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, e-mail: luizrossi@aol.com; Natacha Bertoia, Administradora, Mestre em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, e-mail: natacha@uol.com.br; Roberto Shiniashiki. Psiquiatra, Doutorando em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, e-mail: rshinyashiki@uol.com.br. Orsi, Ademar; Marino, Eduardo; Rossi, Luiz; Bertoia, Natacha; e Shiniashiki, Roberto the following: different ways of OCSs work and the lack of criterion that could define these institutions. Key words: organizational culture; methodological proceedings; third sector. HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL A idéia de que o conjunto das organizações da sociedade civil como componentes de um “terceiro setor”, que interage com o Estado (primeiro setor) e com o Mercado ganhou força nos Estados Unidos no final da década de 80 em um movimento do grupo de organizações que congregam organizações sem fins lucrativos nos Estados Unidos. A aceitação deste grupo de organizações como um “setor” bem como o interesse acadêmico só ocorreram em meados dos anos 90 (Falconer, 1999). Em 1992, Salamon e Anheir, autores do livro America’s Nonprofit Sector - A Preimer, definiram as organizações que compõe o terceiro setor segundo seis características: 1. Organizações formalmente constituídas; 2. Localizadas fora do aparato formal do Estado; 3. Não distribuidoras de lucros entre seus sócios; 4. Autogovernadas; 5. Possuem em seu quadro um corpo de voluntários e 6. Atuação voltada para o benefício público. A publicação de Salamon e Anheir apresentou os resultados de uma grande pesquisa realizada em doze países, dentre eles o Brasil, que demonstrou o tamanho e o escopo de atuação dessas organizações. Em sete dos doze países, onde foi possível estimar a população economicamente ativa que atua no setor, constatou-se que haviam 11.8 milhões funcionários remunerados e 4,7 milhões de voluntários atuando nessas organizações. Constatou-se também, que o setor movimentava recursos na ordem de 4,3% do PIB desses países. O percurso histórico das organizações sem fins lucrativos no Brasil inicia-se no período colonial sob forte influência da estrutura de produção agrícola instituída pelos colonizadores Portugueses, aliada ao papel desenvolvido pela Igreja Católica neste período. O sistema de plantação de cana de açúcar era formado pela “casa grande”, pela senzala, pela capela e pelos campos de plantio. Neste sistema, a posição social dos homens livres era fortemente dependente das relações estabelecidas por ele com os proprietários da terra. Esta dependência criou vínculos baseados no clientelismo no qual favores, proteção e fidelidade eram os princípios que orientavam as relações. (Landin, 1993). Este sistema não provia um solo fértil para a emergência de instituições de caráter autônomo e voluntário, como aquelas que surgiam no mesmo período nas colônias Norte Americanas. (Gurin and Van Til, 1990, apud Landin, 1993). O estreito relacionamento da Igreja Católica com o Estado, iniciada no período colonial e que se prolongou após a proclamação da república aliada aos sucessivos períodos ditatoriais nas décadas de 50, 60 e 70, contribuiu para moldar as ações sociais ditas filantrópicas. “As instituições filantrópicas existentes no passado, especialmente até o século XIX, quando tratar os pobres era um problema da sociedade, possuíam origens e fins diversos: instituições religiosas primeiramente, instituições de saúde (hospitais, asilos, hospícios) e educandários; instituições criadas para assistir imigrantes já no final do século XIX” (Shindler, 1996). No final da década de 50, começam surgem movimentos de fomento a organização de grupos e comunidades com uma nova proposta para lidar com as questões relacionadas a Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 35 CULTURA ORGANIZACIONAL E O TERCEIRO SETOR pobreza. A UNE cria os Centros Populares de Cultura, que se engajam em levar as camadas populares programas culturais (teatro, literatura, cinema etc.). Paralelamente a essas ações, surgem iniciativas de instituições progressistas ligadas a Igreja Católica que passam a oferecer treinamentos em desenvolvimento comunitário e liderança influenciados pela ideologia Marxista. (Landin, 1993). No final da década de 60 e durante a de 70, surgem os movimentos estudantis, populares urbanos e rurais que se constituem em uma força revolucionária invisível que luta pela democracia. Esses movimentos recebem o apoio das alas mais radicais da Igreja Católica ligas a Teoria da Libertação. Esses grupos recebem apoio financeiro de entidades de cooperação Européias. O trabalho de apoio aos pobres é mais uma vez assumido em boa parte pela Igreja Católica, mais agora não mais na ótica caritativa e sim progressista. Landin (1993) estimaque no final da década de 70 haviam de 80.000 a 100.000 Comunidades Eclesiais de Base formando lideranças e fortalecendo movimentos sociais. Após o final do regime militar observou-se uma explosão no número de organizações sem fins lucrativos denominadas organizações não governamentais- ONGs, marcando uma clara identidade de negação ao governo. A mobilização pelas diretas e posteriormente o engajamento dessas instituições junto as parlamentares na fase da elaboração asseguraram importantes vitórias no campo dos direitos civis. O Estatuto da Criança e do Adolescente constitui-se em um marco no retorno da participação da sociedade civil junto ao Estado. As mobilizações em torno das questões ligadas a crianças e adolescentes com de instituições como o UNICEF, a campanha de mobilização contra a fome conduzida por Betinho e a ECO 92, alavancaram uma grande mobilização da sociedade civil. Concomitante as ações sociais de indivíduos e grupos para lidar com os diferentes problemas sociais, o setor empresarial também inicia ações sistemáticas de apoio a projetos sociais. A Câmara Americana de Comércio de São Paulo desempenhou um importante papel na mobilização do empresariado para o investimento em projetos e programas sociais com o lançamento em 1982 do Prêmio Eco (Prêmio de Contribuição Empresarial) que objetivava estimular e premiar projetos de ação social e relações comunitárias, em benefício de do bem-estar social, desenvolvidas pela iniciativa privada. Em 1995 a Câmara Americana divulgou um balanço dos 13 anos do prêmio. Neste período, foram investidos pelas empresas brasileiras 800 mil dólares em 906 projetos sociais. (Rohden, 1996). Neste período, a filantropia empresarial ganhou força e criou-se o GIFE – Grupo de Instituições e Empresas, que congrega organizações privadas que destinam recursos privados para fins públicos. As profundas mudanças nas áreas econômica e social devido a globalização da economia revisão por parte do Estado sobre o seu papel, no sentido de abandonar o modelo do welfare state no Brasil e em outros países da América Latina. As atualmente denominadas Organizações da Sociedade Civil - OSCs encontram-se diante de novos desafios. “As organizações da sociedade civil – OSCs – atuantes nas mais diferentes áreas (meio ambiente, educação, desenvolvimento comunitário, defesa de direitos da criança e outras) também passam por profundo processo de mudança na sua relação com seus patrocinadores privados e públicos alvo, sendo impelidas a melhorar a qualidade dos serviços, expandir a capacidade de atendimento, aprimorar a eficácia no uso dos recursos e prestar contas quanto ao seu uso. Todas essas demandas estão agrupadas em artigos, Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 36 Orsi, Ademar; Marino, Eduardo; Rossi, Luiz; Bertoia, Natacha; e Shiniashiki, Roberto entrevistas e discursos de lideranças do setor, apontando para a necessidade de profissionalização. Com o intuito de profissionalizar as OSCs, inúmeras iniciativas vêm sendo implementadas. Universidades criam centros de estudos e capacitação, fundações financiadoras disponibilizam consultores para “capacitar” seus beneficiários, organizações especializadas em qualificar profissionais para o mercado de trabalho formulam também seus programas. Todas elas, sem dúvida, têm oferecido importantes elementos para as organizações da sociedade civil fortalecendo assim o chamado terceiro setor.” (Chianca e Marino, 2000) METODOLOGIA O objetivo geral deste trabalho é a análise de alguns padrões culturais que permeiam as Organizações de Sociedade Civil. A cultura organizacional pode ser estudada com base em várias perspectivas teóricas e metodológicas. Algumas abordagens são de natureza antropológica, outras sociológicas ou psicossociológicas. Quanto aos procedimentos metodológicos, também há grande diversidade: técnica de diagnóstico organizacional, análise documental, observação participativa, entrevistas e questionários aplicados e método de pesquisa-ação. Cabe salientar, no entanto, que apesar de existirem alguns métodos mais utilizados do que outros pelos pesquisadores, a escolha por uma técnica em detrimento de outras deverá estar intimamente relacionada ao referencial teórico abordado. Em termos de metodologia adotada, procuramos neste trabalho proceder inicialmente a um levantamento bibliográfico existente sobre o assunto visando a elaboração do referencial teórico conceitual, bem como, identificando algumas características especiais das culturas organizacionais das Organizações da Sociedade Civil. As OSCs atuam de diferentes formas e poucos estudos procuram definir com clareza critérios para definir uma tipologia para essas instituições. Segundo Miguel Darcy (1996), essas organizações podem ser dividas da seguinte forma: - caritativas: aquelas voltadas para a assistência a áreas específicas, como menor, mulher e idosos; - desenvolvimentistas: aquelas que surgiram e cresceram, com mais ênfase, a partir da ECO 92, cujo o foco é o meio ambiente; - cidadãs: aquelas voltadas para a reivindicação dos direitos de cidadania, criando redes de solidariedade ou atuando junto a minorias discriminadas; - ambientalistas: são as ecológicas, que possuem mais visibilidade junto à opinião pública. Percebe-se, no entanto, que essa tipologia não resolve o problema básico da delimitação desse universo de organizações. Desta maneira, Salamon e Anheir (1996) sugerem uma nova proposta para caracterização das OSC denominada Classificação Internacional de Organizações sem Fins Lucrativos (ICNPO), que apresenta os seguintes grupos: Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 37 CULTURA ORGANIZACIONAL E O TERCEIRO SETOR Grupo 1 Cultura e Recreação cultura e artes, recreação, clubes de serviço Grupo 2 Educação e Pesquisa educação primária e secundária, educação superior, outra educação, pesquisa Grupo 3 Saúde hospitais e reabilitação; asilos; saúde mental e intervenção crítica; outros serviços de saúde Grupo 4 Serviços Sociais assistência social; apoios emergenciais; apoios econômicos Grupo 5 Meio Ambiente meio ambiente; proteção de animais Grupo 6 Desenvolvimento e Habitação desenvolvimento econômico, social e comunitário; habitação; emprego e formação Grupo 7 Direitos Civis, Defesa de Direitos, Política organizações de defesa de direitos civis; lei e serviços legais; partidos políticos Grupo 8 Intermediários Filantrópicos e Promoção de Voluntários Grupo 9 Internacional Grupo 10 Business, Associações Profissionais, Sindicatos Grupo 11 Religião Grupo 12 Outros Para o presente trabalho, visando analisar algumas características da cultura organizacional das OSC, escolhemos duas organizações: “Doutores da Alegria” e “Viva e deixe viver” para realizarmos um estudo de casos. Ambas organizações, apesar de utilizarem estratégias diferentes, apresentam como foco principal de atuação a atenção às pessoas hospitalizadas. Como já foi evidenciado, a tipologia proposta por Miguel Darcy não é muito profunda, traçando apenas linhas gerais com relação à atuação das OSC. Assim, percebe-se a inexistência de uma tipologia adequada para as Organizações aqui estudadas. Por outro lado, segundo a Classificação Internacional de Organizações sem Fins Lucrativos já apresentada anteriormente, acreditamos que as duas Organizações estudadas Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 38 Orsi, Ademar; Marino, Eduardo; Rossi, Luiz; Bertoia, Natacha; e Shiniashiki, Roberto enquadram-se na categoria do serviço social, prestando assistência social às crianças nos hospitais. Cabe salientar, no entanto, que esta assistência social difere do assistencialismo (caridade) praticadopor muitas organizações sem fins lucrativos. O discurso, neste contexto, sofre mutação: de “tirar a criança da rua” passa-se a pensar em termos de “educar para a cidadania”, “formar o indivíduo para a vida em sociedade”. Muda, inclusive, a forma de encarar a criança – de carente e objeto de caridade, ela passa a ser vista como indivíduo com capacidades, que precisa apenas de informações para se desenvolver, ou seja, um olhar mais positivo. Com relação à coleta de dados, optamos pela abordagem qualitativa, utilizando como técnica a entrevista em profundidade com os fundadores das organizações, além da análise de documentos internos e externos (dados secundários) das Organizações pesquisadas, tais como: folders, jornais e o site institucional. Para a realização das entrevistas, utilizamos um roteiro de entrevista sugerido por Ruckle (1993), efetuando algumas alterações conforme a realidade das organizações brasileiras, alinhando este instrumento ao enfoque do presente trabalho: a análise de alguns padrões culturais das OSC; contemplando todos os temas propostos na metodologia de pesquisa da cultura organizacional desenvolvido por Fleury (1989): histórico da organização, organização e gestão do trabalho, políticas organizacionais, políticas de recursos humanos, processos de socialização, processos decisórios e processos de comunicação. A partir dos dados levantados nas entrevistas com os fundadores, foi possível evidenciar aspectos culturais distintos ou similares das duas Organizações, dentro da proposta das três dimensões apresentadas e discutidas no referencial teórico. CULTURA ORGANIZACIONAL Segundo Schein (1989), “cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir, em relação a esses problemas”. Para Schein, a cultura de uma organização pode ser analisada em três aspectos principais: - Produtos visíveis: corresponde ao ambiente construído da organização, layout, comportamentos visíveis das pessoas; - Valores: são difíceis de serem observados diretamente, mas segundo o autor, geralmente expressam o que as pessoas reportam ser a razão do seu comportamento, o que na maioria das vezes são idealizações ou racionalizações; - Pressupostos básicos: normalmente são inconscientes, mas determinam como os membros de um grupo percebem, pensam e sentem. Para Fleury (1989), a definição de Schein é válida, mas acredita que a dimensão política deva ser inserida no conceito de cultura organizacional. Assim, Fleury propõe que “a cultura organizacional é concebida como um conjunto de valores e pressupostos básicos expresso em elementos simbólicos, que em sua capacidade de ordenar, atribuir Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 39 CULTURA ORGANIZACIONAL E O TERCEIRO SETOR Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 40 significações, construir a identidade organizacional, tanto agem como elemento de comunicação e consenso, como ocultam e instrumentalizam as relações de dominação”. Para Schein (1989), os fundadores da organização apresentam papel fundamental no processo de “estabelecimento” dos padrões culturais. A partir do momento que os fundadores desenvolvem formas próprias de resolução de problemas, transmitem aos demais integrantes a sua visão de mundo, bem como os valores que sustentam a razão da existência da própria organização. Para compreender melhor o conceito de cultura organizacional no ambiente das OSC, deve-se examinar suas principais características: - a cultura organizacional é aprendida: resulta tanto das experiências das pessoas antes de entrarem para a organização, como das influências da organização em si; - a cultura organizacional é determinada pela história da organização: é definida pelas decisões que os indivíduos tomaram no passado, particularmente por pessoas importantes, como o fundador; - a cultura organizacional é parcialmente subconsciente: com o tempo, as idéias e as crenças se desenvolvem e se tornam influências claras no comportamento das pessoas; - a cultura organizacional é heterogênea: partes distintas da organização têm culturas diferentes. No caso das OSC, uma diferença comum é aquela entre a equipe técnica do escritório central da organização, preocupada com o perfil público, captação de recursos, lobby e as políticas de grandes organizações e as pessoas nas filiais locais, mais preocupadas com a entrega dos serviços e a valorização de voluntários. A cultura organizacional das organizações sem fins lucrativos resulta e é reforçada e/ou modificada por cinco fatores: história da organização; estrutura organizacional e relações internas; práticas gerenciais ou maneira de conduzir os negócios no dia-a-dia; sistema de comunicação existente entre voluntários, administrativo e corpo diretivo; sistemas de recompensas. Desta maneira, pode-se perceber que não existem grandes divergências com relação aos fatores que influenciam a cultura organizacional, tanto das organizações com fins lucrativos, como as sem fins lucrativos. A cultura é particularmente importante nas organizações do terceiro setor porque as pessoas geralmente acreditam na causa pela qual trabalham. A firmeza dos valores e Histórico da Organização Estrutura da Organização Práticas administrativas Sistema de comunicação Sistema de recompensas INFLUÊNCIAS NA CULTURA ORGANIZACIONAL - crenças - linguagem - valores - motivação - expectativas - normas Orsi, Ademar; Marino, Eduardo; Rossi, Luiz; Bertoia, Natacha; e Shiniashiki, Roberto crenças mantidos pelos membros principais da organização é um pré-requisito essencial para ação. Isto explica por que pequenos grupos de pessoas altamente motivadas podem realizar tanto. Quando há acordos claros entre as pessoas sobre a finalidade principal da organização, os esforços de todos podem ser dedicados às providências necessárias “para que as coisas aconteçam”. Quando esses acordos não estão bem estabelecidos, uma grande parcela de tempo precisa ser destinada à discussão e ao debate para se conseguir maior firmeza nas crenças e compreensão. CARACTERÍSTICAS EVIDENTES DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL Ruckle (1993), ao analisar as organizações da sociedade civil, sugeriu que as mesmas devam ser estudadas sob o enfoque de três dimensões principais: dimensão da formação, dimensão contextual e dimensão do gerenciamento de recursos. DIMENSÃO DA FORMAÇÃO A dimensão da formação caracteriza-se pelas concepções relativas à filosofia e missão da organização, além da sua estrutura organizacional. Filosofia Organizacional e Missão Sem dúvida nenhuma, a missão e a filosofia da organização reflete os motivos e os objetivos de seu fundador. Os valores prioritariamente acordados no momento da constituição da organização, poderão ser encontrados em muitos aspectos da estrutura organizacional, atividades e no seu desenvolvimento. A missão da organização, tais como originalmente definida e periodicamente reconsiderada, estabelece o foco dos esforços totais da organização. O estudo realizado por Ruckle (1993), sugere que o terceiro setor fornece meios organizacionais para a expressão de valores que independem da preocupação com o lucro, fundamental para as organizações empresariais, e das prioridades políticas do governo. As organizações sociais pesquisadas se distinguem das do setor empresarial e do governo pelo caráter do envolvimento dos membros. Nelas o envolvimento dos membros inclui um componente moral e pessoal significativo. Etzioni (1974) propôs uma teoria na qual diferenciavaas organizações conforme os tipos de utilização do poder e autoridade ou conforme o tipo de envolvimento existente dos membros nas organizações. Com relação ao envolvimento, Etzioni (1974) classificou três tipos: - Alienativo: o indivíduo é forçado a continuar como membro. - Calculativo: o envolvimento ocorre em troca de compensações financeiras. - Moral: identificação com os valores e objetivos. Etzioni (1974) afirma que o tipo de envolvimento do membro está correlacionado com o tipo de poder ou autoridade usada pela organização. A característica dos membros envolvidos nas organizações do terceiro setor incluem uma componente notavelmente pessoal ou moral. Os membros estão envolvidos com a organização porque eles se identificam com sua filosofia e missão. Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 41 CULTURA ORGANIZACIONAL E O TERCEIRO SETOR Estrutura Organizacional Uma particularidade das organizações do terceiro setor é que o conselho diretor é formado por voluntários. O conselho é o responsável último pelo bem-estar e prosperidade da organização. Por esta razão é que deve tomar todas as decisões estratégicas e assegurar que a organização desenvolva seu potencial e que sejam consideradas as necessidades de todos os membros e envolvidos. Os membros do conselho proporcionam um vínculo essencial com o ambiente externo à instituição. Trazem informações sobre o mundo exterior e promovem programas e serviços institucionais. Desta maneira, os conselheiros servem como catalisadores de mudanças, assegurando que a instituição esteja sensível às forças externas. Quase todas as organizações têm um responsável executivo designado, denominado presidente ou diretor executivo, cuja responsabilidade é trabalhar lado a lado com o conselho na articulação da visão para o futuro e junto à equipe técnica, na realização dessa visão. Modelo gerencial Existem dois tipos divergentes de modelos gerenciais. Nenhum deles é utilizado conscientemente como um instrumento de política gerencial mas identificamos uma clara divisão entre os que aderem há um ou outro modelo. O modelo burocrático, ou mecanicista, aparenta ser apropriado à organização que opera em ambiente com condições relativamente estáveis. O outro, orgânico, para ser adequado em ambientes instáveis. Os modelos que encontramos nas diversas organizações variam de um extremo puramente burocrático ao orgânico, conforme quadro a seguir: MODELO CARACTERÍSTICAS Burocracia rígida • Pressupõe estabilidade ambiental • poder decisório é individualizado e centralizado • operações e tarefas são bem identificadas Burocracia conduzida por comitê • pressupõe ambiente estável com eventuais imprevistos • poder decisório é exercido por comitê • existe variedade na condução das divisões ou áreas Burocracia com times multi- departamentais e grupos-tarefa • pressupõe necessidade de perspectiva interdepartamental • nível de comunicação é maior que nos formatos anteriores • lealdade aos grupos é condicionada aos interesses dos departamentos Organização matricial • pressupõe balanceamento de poder entre funções/departamentos e processos • busca garantir a convergência de esforços Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 42 Orsi, Ademar; Marino, Eduardo; Rossi, Luiz; Bertoia, Natacha; e Shiniashiki, Roberto Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 43 MODELO CARACTERÍSTICAS e otimizar a utilização de recursos • exige maturidade dos líderes e liderados para contornar os conflitos de interesse Organização baseada em projetos • pressupõe a busca de flexibilidade, agilidade, criatividade e capacidade de inovação • todas as tarefas mais importantes são administradas ou realizadas por grupos • coordenação é informal e fundamentalmente ditada por visões compartilhadas Organização tipo rede orgânica • pressupõe existência de um grupo estratégico central • utiliza terceirização em larga escala • não possui identidade clara, distinta e duradoura Nos sistemas mecanicistas as tarefas e os problemas são divididos em especialistas. Cada indivíduo tem a sua tarefa independentemente da tarefa do todo. Alguém do topo hierárquico é responsável de observara a relevância de cada tarefa. Os métodos, as obrigações e os poderes atrelados a cada papel funcional são definidos com precisão. A interação administrativa tende a ser vertical, entre superior e subordinado. As operações e o comportamento no trabalho são dirigidos pelas instruções e decisões vindas dos superiores. Esta implícito que todo o conhecimento sobre a situação da organização e suas tarefas está, ou deveria estar, somente com a chefia da organização. A administração opera com um sistema de controle simples, com a informação ascendendo através de um sucessório de filtros, e as instruções e decisões descendo através de um sucessório de amplificadores. Os sistemas orgânicos estão adaptados a situações instáveis, aonde os problemas e as exigências às ações nascem e não podem ser divididas em tarefas especializadas dentro de uma hierarquia claramente definida. Os indivíduos devem desempenhar suas tarefas de acordo com seus próprios conhecimentos a respeito das tarefas da organização como um todo. As tarefas perdem muito de suas definições formais em termos de métodos, obrigações e poderes, que devem ser redefinidos continuamente por meio da interação entre os participantes de uma tarefa. A interação acontece tanto paralelamente quanto verticalmente. As comunicações entre as pessoas tendem a ser de consulta lateral mais que comando vertical. A onisciência não pode ser imputada ao topo da organização. Poder Encontramos referências ao terceiro setor na teoria das organizações apenas em Etzioni (1974). Ele está entre que os primeiros a qualificar o setor das organizações da sociedade civil sem fins lucrativos como pertencentes a um terceiro setor. CULTURA ORGANIZACIONAL E O TERCEIRO SETOR Etzioni (1974) considera em seus estudos três tipos de organizações, que diferem em relação ao tipo de poder ou autoridade, possibilitando a comparação de diferentes organizações: coercitiva, utilitarista e normativa. No primeiro tipo predomina o poder coercitivo. No segundo o poder é exercido através da autoridade racional-legal ou utilitarismo. Na terceira categoria, as organizações buscam o envolvimento de seus membros através da autoridade normativa. Etzioni (1974) considera que existem estruturas mistas de dois ou três tipos, mas sempre com a predominância de um deles. Com relação ao estudo do poder nas organizações, Galbraith (1984) também apresentou algumas idéias relativas ao conceito de poder. Segundo sua teoria, existem três tipos de poder: condigno, compensatório e condicionado. O poder condigno obtém submissão pela capacidade de impor às preferências do indivíduo ou do grupo uma alternativa desagradável ou dolorosa para levá-lo a abandonar essas suas preferências. Por outro lado, o poder compensatório conquista a submissão oferecendo uma recompensa positiva. O poder condicionado, por sua vez, é exercido mediante a mudança de uma convicção, de uma crença. Inicialmente, Galbraith (1984) acredita que seja necessário existirem as fontes, ou seja, os elementos que sustentam o exercício de poder, qualquer que seja o tipo de poder. São elas: personalidade, propriedade e organização. Baseado nos estudos apontados pelo mesmo autor, fica evidente que nas Organizações da Sociedade Civil, o poder condicionado é o que predomina devido sua amplitude e de se tratar um aspecto inerente do desenvolvimento social. Comparação da Teoria sobre o Poder: Etzioni e Galbraith: ETZIONI GALBRAITHPredominantemente Coercitivas Poder condigno • Campos de concentração • Prisões (maioria) • Instituições corretivas (grande maioria) • Hospícios • Campos de prisioneiros de guerra Predominantemente Utilitaristas Poder compensatório • Indústrias • Sindicatos patronais • Organizações agrícolas • Organizações militares em tempo de paz Predominantemente Normativas Poder condicionado Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 44 Orsi, Ademar; Marino, Eduardo; Rossi, Luiz; Bertoia, Natacha; e Shiniashiki, Roberto Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 45 ETZIONI GALBRAITH • Organizações religiosas • Organizações políticas • Hospitais • Sindicatos sociais • Associações voluntárias • Escolas • Organizações profissionais Estruturas Mistas - • Normativa - coercitiva: unidades de combate • Utilitária - normativa: maioria dos sindicatos • Utilitária - coercitiva: algumas indústrias, algumas fazendas e navios Galbraith (1984) afirma que “... de tão sutil e penetrante, chega a ser tida como parte natural e integrante da própria vida; dela não transparece nenhum esforço visível ou específico para conquistar a pretendida crença e submissão...”. Uma vez conquistada a crença, através do condicionamento explícito ou implícito, a decorrente subordinação à vontade de outros é considerada como produto do senso moral ou social do próprio indivíduo. Por outro lado, pode-se perceber que nas Organizações da Sociedade Civil, a fonte de poder mais evidente é a própria organização, principalmente quando analisamos a sua própria definição como sendo “um número de pessoas ou grupos... unidos para algum propósito ou trabalho”. Os participantes submeteram-se aos objetivos da organização em busca de um objetivo comum que, normalmente, requer a conquista da submissão de pessoas ou grupos externos à organização. DIMENSÃO CONTEXTUAL A dimensão contextual proporciona uma construção para a análise das características de como a organização se relaciona com seu ambiente, se desenvolvendo ou falindo. Existem dois aspectos fundamentais para análise: o relacionamento da organização com a comunidade na qual está inserida e, a forma como é efetuada a prestação de contas da organização para os órgãos provedores de recursos. As organizações do terceiro setor são inteiramente dependentes de recursos de terceiros e de políticas governamentais nem sempre previsíveis, e precisam se adaptar a realidade de estarem num ambiente nunca estável. Morgan (1996) nos oferece um quadro com relacionamentos congruentes e incongruentes entre as organizações e o ambiente: CULTURA ORGANIZACIONAL E O TERCEIRO SETOR AMBIENTE Estável e Seguro Turbulento e Imprevisível Estratégia de gestão Defensivo - fixação de objetivos operacionais Proativo - criação de um sistema de aprendizagem Tecnológico Papéis rotineiros; pouca autonomia Papéis complexos; muita autonomia Humano/ Cultural Orientação para o trabalho econômico / instrumental Orientação para a auto- realização no trabalho; interesse central de vida Estrutural Mecanicista/ Burocrático Orgânico S U BS IS TE M A S Gerencial Autoritário (Teoria X) Democrático (Teoria Y) O diagnóstico feito anteriormente sobre a adequação dos modelos orgânicos e do sistema gerencial da Teoria Y às organizações do terceiro setor vem ao encontro do que o quadro acima aponta como sub-sistemas harmônicos a um ambiente turbulento e imprevisível. Outro aspecto particular das organizações da sociedade civil é a prestação de contas. Enquanto que a prestação de contas no setor lucrativo é fortemente voltada aos mecanismos de mercado e nas organizações do setor público em critérios políticos, nas organizações do terceiro setor não existe a preocupação com um único foco e são caracterizadas pela diversidade e complexidade. DIMENSÃO DO GERENCIAMENTO DOS RECURSOS A dimensão do gerenciamento dos recursos caracteriza-se pelas atribuições e questões relacionadas com o uso dos recursos humanos e materiais nas organizações. Alguns aspectos podem ser enumerados: uso de voluntários, gratificação pelo desempenho dos funcionários, satisfação e insatisfação dos funcionários, processo de recrutamento e seleção e captação de recursos financeiros. O uso de voluntários, tanto no conselho como na parte operacional, por si só caracteriza um papel distinto das OSC. O foco da gratificação pelo desempenho do funcionário está nas recompensas psíquicas. Isto fica mais evidente a partir do momento que analisamos as contribuições de McGregor (1980) no campo do comportamento humano no trabalho. McGregor, nos seus estudos sobre motivação, apresenta duas teorias: a Teoria X e a Teoria Y. Qualifica como Teoria X o sistema de trabalho no qual os colaboradores são preguiçosos, indiferentes, sem ambição e irresponsáveis, necessitando que a supervisão seja próxima e firme. Por outro lado, propõe a Teoria Y no qual as pessoas gostam de trabalhar, e desejam fazer um bom trabalho; aspectos muito próximos ao perfil dos membros e voluntário que trabalham nas OSCs. As premissas da Teoria Y são: - Trabalhar é tão natural quanto o lazer ou o descanso. Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 46 Orsi, Ademar; Marino, Eduardo; Rossi, Luiz; Bertoia, Natacha; e Shiniashiki, Roberto - Os colaboradores vão se auto-gerir e auto-controlar para os objetivos que estiverem comprometidos. - O comprometimento com objetivos resulta de recompensas que terão quando alcançá-los. Estas recompensas não são necessariamente materiais. - O ser humano busca a responsabilidade. - A capacidade de exercitar a criatividade não exclusiva de poucos. - A vida industrial moderna só utiliza parte do potencial intelectual do ser humano. A Teoria Y, ao contrário do antigo sistema, integra o planejamento e a ação. Os colaboradores têm a liberdade em decidir como melhor cumprir suas tarefas. Uma outra característica muito clara nos estudos sobre o terceiro setor é que os executivos destas organizações aparecem com uma combinação de restrições e expectativas não encontradas nos outros setores. Primeiro pela multiplicidade de diversas expectativas e por outro lado, existe um falta óbvia de preparo dos executivos para atender estas expectativas. Com relação aos recursos financeiros, as doações aparecem como principal fonte de recursos, o que diferencia estas organizações das outras. APLICAÇÃO RESUMO DAS ENTREVISTAS Doutores da Alegria Unir as qualidades de ator e o desejo de ajudar doentes na “arte” de sobreviver a vida hospitalar. Foram esses os impulsos de Wellington Nogueira para formar a “Doutores da Alegria”, organização social sem fins lucrativos. Missão – Levar alegria às crianças internadas, seus pais e profissionais de saúde, usando a arte do teatro clown e, nutrindo essa forma de expressão artística como meio de enriquecimento da experiência humana. Histórico da associação - A associação foi fundada em 1995, mas informalmente já existia desde 1991, quando o Hospital Nossa Senhora de Lourdes convidou o ator para trabalhar com as crianças internadas. O trabalho funcionou como um piloto, durante 3 meses, um tempo de experiência que rendeu uma matéria no programa Fantástico (Rede Globo), em 1992. No mesmo ano, uma atriz foi contratada e treinada para auxiliar o trabalho de Wellington. De lá para cá, 29 palhaços já passaram pelo Doutores da Alegria, entretendo crianças hospitalizadas. O embrião da entidade surgiu em 1988,em Nova York, quando Wellington, então ator na Broadway, foi conhecer profissionais que trabalhavam como palhaços nos hospitais. Fez em seguida um teste e foi aceito pela organização, na qual permaneceu durante 3 anos. De volta aoBrasil, estudou com afinco a possibilidade de repetir a bem sucedida experiência. Até que em 1995 recebeu o apoio do Itaú Seguros, após o sucesso do projeto piloto realizado no Hospital Nossa Senhora de Lourdes. Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 47 CULTURA ORGANIZACIONAL E O TERCEIRO SETOR Liderança e treinamento – Liderando o grupo desde o início, o atual diretor executivo da entidade, procurou sempre apagar o ranço de assistencialismo vinculado á associações do Terceiro Setor. Logo em 1995, convidou professores estrangeiros para dar aulas aos atores. Investiu em pesquisa e em profissionais experientes. foi o fomento de uma geração de artistas preocupados com o bem estar social, mostrando profissionalismo e qualidade. A “Doutores da Alegria” não aceitam voluntários, mas sim funcionários, que dedicam seis horas do dia, cinco dias por semana, às crianças hospitalizadas. O ator deve ter uma grande empatia com as crianças e um carisma grandioso. Há voluntários apenas cuidando da estruturação da gestão e projetos novos. Quem quer participar da entidade, deve fazer um processo de seleção árduo, que começa pela análise do currículo. É necessário ter formação de ator e palhaço para passar pela primeira triagem. Em seguida, os melhores são escalados para um workshop pré seletivo, para aproximadamente 30 pessoas, com o objetivo de observar o trabalho de cada um. Na terceira fase da seleção, 8 atores são escolhidos para o teste no hospital. Para ser aceito nos Doutores da Alegria, as crianças do hospital devem aprovar o profissional. Estrutura e recursos - A entidade possui um conselho de 6 pessoas, que se reúnem duas vezes por ano para pensar em caminhos, gestão de novos projetos e perspectivas da carreira dentro da organização. São profissionais que representam a área artística, médica, os pais das crianças atendidas, o desenvolvimento do Terceiro Setor, Recursos Humanos e História. A maior parte dos recursos, vem do patrocínio da Lei Rounaet e também dos sócios mantenedores, são 700 deles. Há parcerias com empresas como a Warner, que doam uma porcentagem de seu lucro para a entidade. A “Doutores da Alegria” atendem 10 hospitais, em São Paulo e Rio de Janeiro. Emílio Ribas, Hospital do Câncer, Hospital do Mandaqui, Hospital da Criança, Cândido Fontoura, Instituto da Criança do HC, Einstein, Fundão e Municipal Jesus. A expetativa é expandir o número de capitais e investir no nordeste e cidades como Campinas. Comunicação e felicidade- A principal recompensa dos Doutores da Alegria é ver o sorriso de uma criança, a felicidade e a vontade de continuar vivo mais um momento. A alegria vem de uma comunicação bem feita entre duas pessoas e é esse o objetivo dos Doutores. A associação procura investir em profissionais qualificados, com bastante experiência, pessoas que acreditam num mundo melhor, capazes de dedicar uma grande parcela de seu tempo no tratamento e bem-estar dos pequeninos. Essa conquista surpreendente da entidade, deve-se a uma estrutura organizada e o espírito de liderança fincado nos membros do conselho, nos palhaços integrantes e no sonho de Wellington. As relações humanas são essenciais, a troca de afeto é fundamental. Partilhar essa satisfação é o maior beneficio que a sociedade pode ter. A criatividade, a capacidade de trabalhar em equipe, de ouvir o outro e acima de tudo, liderar por uma causa comum são as principais qualidades desenvolvidas nesse trabalho. Um sonho que não descansou e perdura com firmeza e raríssima beleza. Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 48 Orsi, Ademar; Marino, Eduardo; Rossi, Luiz; Bertoia, Natacha; e Shiniashiki, Roberto Associação Viva e deixe viver Amenizar o sofrimento de crianças com câncer e oferecer-lhes uma ponta de esperança, foram esses os desejos que transformaram Valdir Cimino em um realizador de sonhos. Foram essas as sementes da Viva e Deixe Viver. Missão - Fundada em 7 de agosto de 1997, por Valdir Cimino, a Associação Viva e Deixe Viver tem por missão resgatar a alegria e o desejo de sobrevivência de crianças portadoras de câncer, contando estórias e entretendo-as. O objetivo é tornar a rotina hospitalar mais leve, oferecendo novos interesses e alegrias. Histórico da associação - Depois de uma viagem à Nova York, onde iniciou um trabalho voluntário de contador de estórias para idosos doentes, Valdir Cimino resolveu repetir a experiência no Brasil, dessa vez com crianças. Trabalhava, então, na Rede Globo e ajudava uma voluntária da Capelania Católica do hospital Emílio Ribas, doando dinheiro para a compra de leite ou brinquedos para as crianças internadas. Depois de uma visita ao hospital, percebeu a imensa necessidade daqueles pacientes. Muitos sentiam falta de companhia, distração e troca de afeto. Eram crianças pobres, algumas órfãs, todas muito carentes. O desejo de contribuir diretamente e a vontade de ver um sorriso, uma expressão de felicidade no rosto dos pequeninos enfermos, fez com que esse publicitário transformasse um sonho em realidade. A partir daquele momento plantou a semente da Viva e Deixe Viver. Dois meses se passaram até que seu trabalho tornou-se conhecido e outros voluntários se engajaram no projeto. O “boom” de voluntários ocorreu em 1999, quando uma matéria na revista Veja tornou o trabalho visualmente reconhecido. Inicialmente com 56 voluntários, a associação transmite noções de higiene, alimentação, medicação e amizade Estrutura atual e perspectivas - Hoje, a Viva e Deixe Viver conta com 180 voluntários e 3 funcionários contratados. É conhecida nacionalmente, como a maior entidade assistencial para crianças com câncer e realiza atividades em 14 hospitais. No mês de maio, devem iniciar projetos em mais um hospital, o Santa Marina. A estrutura da Viva e Deixe Viver é formada através e “células”, espécies de departamentos, são 6 delas. A da integração, na qual está a diretoria da entidade, tem a missão de integrar toda a equipe de voluntários e coordenadores e estabelecer metas e objetivos para a associação. A da administração cuida da parte jurídica e contábil, a da comunicação cuida do relacionamento interno e externo, com a sociedade e imprensa. Há a da capacitação de recursos, a célula de desenvolvimento humano, que estrutura os treinamentos e recrutamento de voluntários e por fim, a célula de eventos, que organiza as festas de confraternização. Para cada célula há um coordenador e uma equipe de voluntários, ocorrem reuniões todas as semanas entre as células e mensalmente com a diretoria, todos os problemas e sugestões são ouvidos e então, pesados e estudados. A organização investe agora em sua profissionalização e na mudança de uma entidade assistencialista para uma associação profissionalizada, nesse caminho já enfrentaram treinamentos de gestão, e em breve esperam contratar mais dois funcionários que estruturariam os treinamentos e a seleção dos voluntários, respectivamente. Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 49 CULTURA ORGANIZACIONAL E O TERCEIRO SETOR Processo seletivo e capacitação de recursos - Atualmente, há um processo seletivo para a captação de novos voluntários, que consiste na resposta a um questionário, para traçar perfil do candidato. Há logo após, a realização de 3 palestras sobre a importância do voluntariado, a missão da entidade, a postura a adotar no hospital e administração do tempo. Em seguida, há uma vivência em grupo com terapeutas da entidade. Se a pessoa estiver emocionalmente preparada para as situações que encontrará, segue-se um período de quatro semanas, no qual o candidato conviverá com voluntários antigos, observando o trabalho desenvolvido. É o início de um treinamento, que será depois complementado por workshops e encontros mensais, nos quais são discutidos sistemas para a profissionalizaçãoda associação e dos voluntários, metas para atingir a missão e estruturas para expandir os horizontes. Para Integrar a Viva e Deixe Viver, é necessário destinar apenas uma hora por semana, não é nenhuma tarefa impossível. Se o voluntário deixa de comparecer a 4 visitas, os coordenadores abrem espaço então, para outro pretendente. Em sua maioria, são pessoas os 39 e 40 anos, em geral, 75% de mulheres.. A Associação tem patrocínio da Colgate e também recebe dinheiro de mantenedores, sua meta é sobreviver apenas com os recursos dos mantenedores em alguns anos. O grande desafio de encontrar voluntários comprometidos – O maior desafio das organizações sociais não é encontrar, mas principalmente, manter os voluntários. A “Viva e Deixe Viver” não é uma exceção, muita gente deixa de efetuar trabalhos voluntários, porque alega falta de tempo e por vezes, a estrutura emocional não agüenta. Conscientizar a população dos benefícios do voluntariado nem sempre é tarefa fácil, mas é de extrema importância para a sobrevivência do Terceiro Setor. O trabalho voluntário está crescendo hoje, de forma impressionante, quando a sociedade acorda para os valores do voluntariado e seu verdadeiro significado. A “Viva e Deixe Viver” é uma demonstração de carinho, uma demonstração de que vale a pena lutar por um sonho e unir esforços para alegrar o mundo. ANÁLISE DAS DIMENSÕES Como proposto na metodologia do trabalho, dentre as dimensões sugeridas por Ruckle (1993) para verificar as características comuns nas organizações pesquisadas, utilizaremos a análise da dimensão “Formação”, envolvendo os aspectos Filosofia Organizacional e Missão, Estrutura Organizacional, Poder e Modelo Gerencial. Filosofia Organizacional e Missão A filosofia organizacional reflete claramente os motivos e os objetivos de seus fundadores como não poderia deixar de ser, dado que esta característica é comum também a outros tipos de organização. Nestes casos analisados, essa característica é fortemente percebida em vista de serem organizações jovens, relativamente pequenas e com participação cotidiana do fundador. Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 50 Orsi, Ademar; Marino, Eduardo; Rossi, Luiz; Bertoia, Natacha; e Shiniashiki, Roberto Os valores acordados inicialmente são encontrados ainda hoje nas duas organizações. Estão relacionados com o propósito assistencialista ou não do trabalho, conforme a entidade; com o desenvolvimento das atividades, que, mesmo sem estabelecer uma padronização na forma de atuação, exige forte ligação com a atitude frente àquele que está sendo atendido, inclusive utilizando-se de formas intensivas de formação e treinamento para garantir esse valor; e com o vínculo com as pessoas que ali trabalham, ainda que adotando diferentes visões - uma ocupa exclusivamente voluntários com dedicação de tempos livres de uma hora semanal e a outra exige a vinculação formal, como funcionário, com dedicação de 30 horas semanais. A missão de ambas as entidades é plenamente conhecida e assumida pelos seus membros, e isso é justificado, segundo seus fundadores, pelo alto envolvimento das pessoas com as entidades. Estrutura Organizacional Os conselhos diretores das duas entidades são formados por voluntários. Em uma delas buscou-se adotar uma certa representatividade dos envolvidos com a sua missão: artística, médica, terceiro setor, pais de crianças atendidas, etc. Essa instância é responsável, nas duas entidades, pela visão de futuro, pelas decisões estratégicas, pela preservação da missão e pela integração das atividades da respectiva entidade. Em uma das entidades alguns membros do conselho acumulam posição executiva, cotidiana, respondendo por comunicação, tanto interna - com seus membros - como externa - com imprensa, sociedade em geral -, por desenvolvimento humano, abrangendo a seleção, o treinamento e a alocação dos membros nos locais e horários de atendimento. Na outra, o conselho se reúne duas vezes ao ano, entretanto seus integrantes são solicitados com freqüência para, dependendo de suas qualificações, realizar algum trabalho específico. Em ambos os casos a estrutura organizacional é bastante “leve”, apresentando apenas dois níveis hierárquicos: Entidade “A” Entidade “B” Conselho Conselho Coordenadores de células Diretor executivo Membros Membros Modelo Gerencial O modelo gerencial das entidades estudadas se aproxima mais do modelo descrito para as organizações do tipo orgânico. Os objetivos de cada um dos membros e as atitudes frente àquele que está sendo atendido estão bem definidos, tendo a missão da entidade como base permanente, mas a sua Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 51 CULTURA ORGANIZACIONAL E O TERCEIRO SETOR atuação deve ser adaptada a situações instáveis, dependentes das condições e da reação do atendido. Não pode ser focalizada a tarefa, mas o atendimento, em ambos os casos, do objetivo de entreter. A interação com o atendido e com os pares - em um dos casos o trabalho é realizado sempre em duplas - é que determina a forma e o método a ser adotado naquele momento, naquela situação. As comunicações entre as pessoas , portanto, tendem a ser de consulta lateral mais que comando vertical. Essa característica também é comum aos níveis estratégicos. Apesar de existir uma concentração de responsabilidade entre os conselheiros ou coordenadores, dependendo da entidade, ela não é delimitada de forma a cercear iniciativas que venham contribuir para o objetivo e a missão das organizações. Poder Vimos anteriormente que Etizioni (1974) propõe que as organizações se diferenciam conforme o tipo de utilização do poder e autoridade - coercitivo, utilitarista e normativa - e que Galbraith (1984) identifica três tipos de poder - condigno, compensatório e condicionado. Vimos também que esses tipos quando comparados em pares - coercitivo e condigno, utilitarista e compensatório, normativo e condicionado - podem ser considerados análogos, sendo sutis as diferenças entre eles. Etizioni (1974) acrescenta um outro componente relativo ao tipo de envolvimento dos membros nas organizações - alienativo, calculativo ou moral - e que este está correlacionado com o tipo de poder ou autoridade usado pela organização. Assim, o envolvimento do tipo alienativo estaria vinculado ao poder do tipo coercitivo, o calculativo ao utilitário e o moral ao normativo. Pela sua própria natureza, as organizações estudadas não podem, em nenhum momento, ser classificadas como valendo-se do poder coercitivo ou condigno, conforme o autor citado, para suas ações. O envolvimento de seus membros não é do tipo alienativo, pois tem total liberdade de adesão ou de desligamento da entidade. Em uma delas, inclusive, eles são voluntários em esmagadora maioria. O tipo de poder nessas entidades caracterizar-se-ia mais fortemente na terceira categoria das duas classificações: como organizações que buscam o envolvimento através da autoridade normativa, segundo Etizioni, ou, segundo Galbraith (1984), pelo poder condicionado, exercido mediante a mudança de uma convicção, de uma crença. Essa autoridade normativa é obtida e exercida a partir da clara definição de princípios, regras, modelos de conduta que devem ser seguidos por todos, o que influencia os seus membros, ou os condiciona, na consolidação e até mesmo na adoção da crença expressa na missão da organização. Há certamente, por esses motivos, um envolvimento moral, pela identificação com os valores e objetivos. Por outro lado, há que se considerar que as entidades oferecem-se como possibilidade para a realização de algum empreendimento considerado importante pelos seus membros. Embora não se possa afirmar um envolvimento calculativo, decorrente, segundo Etizioni (1974), da trocade compensações financeiras - ainda que estas existam em um dos casos estudados - pode-se atribuir também um poder compensatório a essas Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 52 Orsi, Ademar; Marino, Eduardo; Rossi, Luiz; Bertoia, Natacha; e Shiniashiki, Roberto organizações, dada a ampliação do conceito de compensação para uma recompensa positiva, conferido por Galbraith (1984),. Ainda, o mesmo Galbraith acredita que seja necessário existirem as fontes, ou seja, os elementos que sustentam o exercício de poder, qualquer que seja o tipo de poder. São elas: personalidade, propriedade e organização. Nesse sentido, é bastante evidenciada a personalidade dos fundadores, sendo esta a determinante da própria personalidade e organização das entidades, como fonte de poder nessas organizações. Em conseqüência, há que se considerar também a forte percepção de propriedade das entidades centrada nos fundadores passada nas entrevistas - com expressões do tipo: “eu não uso...; eu não tenho..., eu precisaria...,” etc. - e nos documentos de divulgação - “[eu] sentia vontade..., [eu] comecei..., [eu] aprendi...”, etc. CONCLUSÕES A partir das entrevistas e da análise detalhada da dimensão formação proposta por Ruckle (1993), apesar de apresentar-se limitado para um estudo mais aprofundado de aspectos da cultura organizacional, pudemos evidenciar alguns aspectos relacionados aos padrões culturais que permeiam as OSC, principalmente no âmbito das duas organizações estudadas. Segundo a proposta de Schein (1989) que prevê três níveis de análise de cultura nas organizações, o modelo de análise proposto por Ruckle (1993) preocupa-se apenas em analisar a do primeiro deles que trata de aspectos visíveis das organizações pesquisadas como o organograma, a descrição da forma como as atividades estão estruturadas, a forma como a instituição foi fundada, etc. O segundo aspecto proposto por Schein que trata dos valores, são difíceis de serem detectados pelos procedimentos metodológicos utilizados, já que segundo o autor, as pessoas geralmente têm dificuldade em expressar a razão do seu próprio comportamento ou também do comportamento das pessoas com quem trabalha. Os achados em termos de padrões culturais comuns pelo presente trabalho que talvez sejam pertinentes para um estudo mais aprofundado, são aqueles relacionados ao papel que os dois fundadores desempenham nessas instituições, na estágio de desenvolvimento que as duas organizações se encontram. As duas têm menos de dez anos de operação e os dois fundadores ocupam um papel de idealizadores dessas organizações e pioneiros em iniciativas dessa natureza no Brasil. Schein (1989) aponta que no primeiro estágio de desenvolvimento de uma organização as principais características culturais de uma organização são advindas das crenças e pressupostos dos fundadores. “O paradigma cultural da organização torna-se embebedado pelas crenças e valores de seu fundador e se por acaso a organização sobreviver às suas primeiras tarefas, cria-se uma base de identificação para novos membros e uma espécie de ‘cola’ psicológica agrega o grupo”. Nesta fase, há um esforço de diferenciação do grupo em relação a outros e há um esforço para fazer com que a cultura se explicite e ela é ensinada muito fortemente aos novos membros. O autor alerta que organizações que são constituídas com a presença muito marcante de seu fundador passam por dificuldades na transição do primeiro estágio para o segundo que definido por ele como a fase de sucessão. Esta sucessão pode ser entendida como a transferência da administração da organização para um administrador profissional. Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1 , jan./jun. 2005 53 CULTURA ORGANIZACIONAL E O TERCEIRO SETOR Segundo Schein, um fundador sente muita dificuldade de abrir mão de daquilo que ele criou. Nesta fase, é comum emergirem entre os colaboradores da organização conflitos entre os que são mais “conservadores” que querem preservar a cultura criada por influencia do fundador e os “liberais” que querem que uma nova cultura se desenvolva. Em casos extremos, fundadores com um perfil empreendedor muito exacerbado chegam a inconscientemente desejar o fim da organização. Este estudo possibilitou que comprovássemos que a cultura organizacional é determinada pela história da organização, ou seja, é definida pelas decisões que os indivíduos tomaram no passado, particularmente por pessoas importantes, como o fundador; mas que com o tempo, as idéias e as crenças se desenvolvem e se tornam influências claras no comportamento das pessoas. Referências bibliográficas BROWER, M. The Will to Manage, McGraw Hill, 1966 COELHO, Simone de Castro Tavares. Terceiro setor: um estudo comparado entre Brasil e Estados Unidos. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2000. DARCI, M. , O. O terceiro Setor entre o Público e o Privado. in, Anais do Seminário “Empresa Social”. São Paulo, COGEAE, PUC, 1996. ETZIONI, Amitai. Análise Comparativa de Organizações Complexas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1974. FALCONER, Andres Pablo. A promessa do terceiro setor – Um estudo sobre a Construção do Papel das Organizações Sem fins lucrativos e do seu Campo de gestão. 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