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A Vigilância Sanitária no Brasil Histórico e Regulamentação Estruturante Profa. Dra. Márcia Passos - Profa. Adjunta da FF-UFRJ Reforma Sanitária e a Vigilância Sanitária no Brasil (Anos 80) • A partir da década de oitenta, a crescente participação popular e de entidades representativas de diversos segmentos da sociedade no processo político moldaram a concepção vigente de vigilância sanitária, integrando, conforme preceito constitucional, o complexo de atividades concebidas. • O Estado deve cumprir o papel de guardião dos direitos do consumidor e provedor das condições de saúde da população. • • 8ª Conferência de Saúde “o pensar e o agir em saúde e em vigilância sanitária assumem novas dimensões”.(1986) • Seu campo de ação passa a estender-se aos diversos segmentos envolvidos ou que venha a ter interferência na saúde da população, desde os serviços de saúde e outros interesses da saúde, saneamentos básico, meio ambiente em geral o ambiente e processo de trabalho no que se refere a saúde dos trabalhadores, além da produção, guarda, transporte e utilização de outros bens, substâncias e produtos psicoativos, tóxicos, sangue e hemoderivados e radiações. Este novo conceito contempla e associa as ações de vigilância sanitária, vigilância epidemiológica e saúde do trabalhador. • É uma dimensão de integralidade dentro de um sistema de saúde e de vigilância da saúde. Reforma Sanitária e a Vigilância Sanitária no Brasil Vigilância Sanitária no Brasil No direito brasileiro, a Lei 9782/99, artigo 4º, estabeleceu que a ANVISA terá atuação administrativa independente, exercendo o poder-dever de controle, e por força do artigo 6º da referida lei, a Agência tem a finalidade de promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária. A partir da criação da ANVISA, iniciou-se o processo de reestruturação e organização das ações de Vigilância Sanitária no Brasil visando o estabelecimento dos focos de observação da realidade sanitária, direcionados para a identificação da relação dinâmica e associada à interação entre produtos e / ou serviços de saúde aos seus consumidores, no âmbito da pós–comercialização. No estabelecimento e fortalecimento da relação sistêmica, com vistas à consolidação do Sistema de Vigilância Sanitária, um dos maiores desafios é o estabelecimento da avaliação de riscos à saúde, principalmente associados a novas e emergentes tecnologias, relativas a substâncias, aparelhos e /ou equipamentos (produtos destinados aos cuidados de saúde), ou associadas aos serviços de saúde (atenção e assistência à saúde). A observação e avaliação de riscos são de fundamental importância, diante do processo de intensa transformação do perfil produtivo e de consumo de bens e serviços destinados a promover e proteger a saúde. Sendo assim, as ações baseadas na precaução e prevenção em saúde despontam como prioritárias, para o Sistema de Vigilância Sanitária. DIREITO SANITÁRIO CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA (1988) O Direito Sanitário é especialidade de alta complexidade e transversalidade, direito que se efetiva com a aplicação das regras e dos princípios pois ambos tem normatividade jurídica. Na matéria sanitária salienta-se a importância do artigo 225 da CF/88 que estabeleceu a “sadia qualidade de vida”, como princípio. São princípios do Direito Sanitário 1) A saúde como direito – Princípio da saúde como direito ou da sadia qualidade de vida; - art. 196 da CF/88. 2) O princípio da unicidade do SUS; - art. 199 da CF/88. 3) O princípio da universalidade; - art. 196 da CF/88 e art. 7º da Lei 8080/90 4) O princípio da integralidade do atendimento; - art. 198, II da CF/88 e art. 7º da Lei 8080/90. 5) O princípio da preservação a autonomia das pessoas; - art. 7º, III da Lei 8080/90. 6) O princípio da informação; - art. 7º, V da Lei 8080/90. 7) O princípio da igualdade; - art. 196 da CF/88 . 8) O princípio da participação popular ou comunitária; art. 198, III da CF/88 9) O princípio da solidariedade no financiamento; - art. 198 da CF/88 10) O princípio da vinculação dos recursos orçamentários; - art. 198, § 2º da CF/88 e Lei de Responsabilidade Fiscal. 11) O princípio da ressarcibilidade do SUS – art. 198 § 1º da CF/88 e 32 da Lei 9656/98. 12) O princípio da prevenção; 13) O princípio da precaução. A idéia do princípio da prevenção é o agir antecipado. Busca o princípio a ação antecipada e para tal é necessário ter conhecimentos e certezas cientificas dos efeitos dos atos, processos ou produtos. Em prevenção sanitária, o risco é o da produção de efeitos sabidamente ruinosos para a saúde. Preventivamente se exigem as cautela que a técnica e a ciência recomendam, o perigo, o risco que se quer evitar na prevenção é pois concreto e na maior parte dos casos há elementos técnicos que fundamentam concretamente as medidas. Princípio da Prevenção (art. 225, § 1º, II e §§ 5º21 e 6º), 196 da CF/88 e art. 198, II). O princípio da Precaução art. 5º e 196 da CF/88 e art. 12 da Lei 7.347/85.33 Dec. 2.519/98, Lei 8.974/95 O Princípio da Precaução ultrapassa o da prevenção impondo às autoridades a obrigação de agir em face de uma ameaça de danos irreversíveis à saúde, mesmo que os conhecimentos científicos disponíveis não confirmem o risco. A precaução atua na incerteza científica e não existe por ela mesmo, se constrói a cada contexto. Existem diferenças entre os conceitos de precaução e de prevenção. A prevenção está associada à riscos conhecidos e já bem identificados, o conceito de precaução está relacionado aos riscos desconhecidos e que ainda precisam ser melhor conhecidos e / ou identificados pela sociedade VIGILÂNCIA em SAÚDE PÚBLICA CARACTERÍSTICAS: Intervenção sobre os problemas de saúde: danos, riscos e/ou determinantes); Ênfase em problemas que requerem atenção e acompanhamentos contínuos; Operacionalização do conceito de risco; Articulação de ações promocionais, preventivas e curativas; Atuação intersetorial; Ações sobre o território; Intervenção sob forma de operação. Vigilância em Saúde Pública • Vigilância Sanitária Conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos a saúde, e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e da circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde. VIGILÂNCIA EM SAÚDE PÚBLICA • Vigilância Sanitária Voltada para o controle de ambientes, produtos e serviços. Obedece uma racionalidade político-jurídica, fundada nas normas que regulamentam a produção, distribuição e consumo de bens e serviços Dimensões da Vigilância Sanitária Direito Sanitário, estabelece Implicações legais na proteção à saúde da população, conferindo-lhe importantes prerrogativas expressas pelo seu papel fiscalizador (papel de polícia) e pela sua função normatizadora. Necessita de suporte de várias áreas do conhecimento científico, métodos, técnicas, que requerem uma clara fundamentação epidemiológica para seu exercício; Observação ou cumprimento de normas e padrões técnicos e de uma conseqüente tomada de decisão. Deverá responder às necessidades determinadas pela população, mas enfrenta os atores sociais com diferentes projetos e interesses. Situa-se em campo de conflito de interesses,pois prevenir ou eliminar riscos significa interferir no modo de produção econômico-social Jurídica Tecnológica Ideológica Político Produtos e Serviços Consumidores Controle Sanitário Controle das práticas de produção, determinando as normas técnicas e padrões de produção e exercendo a fiscalização para o cumprimento dessas normas, para prevenir e evitar o dano no ato do consumo. Intervenção do Estado na Relação entre Produtores e Consumidores • Controle Interno • Práticas de auto-avaliação englobando os conceitos em voga de gestão da qualidade total e garantia de qualidade que redundam em manuais ou guias de boas práticas para o controle interno da qualidade da produção. • (o prestador/fornecedor é responsável pelo que produz e deve manter controle sobre sua produção, respondendo pelos seus desvios, imperfeições ou nocividades) • Controle Externo • à prática da vigilância sanitária, que se caracteriza pela elaboração de normas oficiais, licenciamento dos estabelecimentos, orientação educativa, fiscalização e aplicação de medidas para a proteção da saúde da população. • (exercido pelo Estado ou pelas sociedades organizadas na vigilância do processo e na defesa do consumidor) Crime Hediondo • A lei 9.667/1998, alterou dispositivos do código penal para incluir a falsificação de produtos de interesses da saúde na classificação de crimes hediondos. • A Lei 9.695/1998, que dispõe sobre o aumento dos valores de multas e introduz novas penalidades, destacando o controle sobre as empresas transportadoras de produtos farmacêuticos e farmoquímicos. • A lei 9.782/1999, dispõe sobre a criação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Criação da ANVISA • A Agência Nacional de Vigilância Sanitária foi criada pela Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999. É uma autarquia sob regime especial, ou seja, uma agência reguladora caracterizada pela independência administrativa, estabilidade de seus dirigentes durante o período de mandato e autonomia financeira. A gestão da Anvisa é responsabilidade de uma Diretoria Colegiada, composta por 5 membros. Na estrutura da Administração Pública Federal, a Agência está vinculada ao Ministério da Saúde, sendo que este relacionamento é regulado por Contrato de Gestão. • Lei nº 9.782/99 – Art. 6º A Agência terá por finalidade instiucional promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e de fronteiras. Vigilância Sanitária - Objetivos • Proteger a saúde e evitar a ocorrência de agravos à saúde através do acompanhamento do cumprimento de padrões adequados aos grupos de fatores de risco. As ações de Vigilância Sanitária contemplam todas as ações de saúde, desde a promoção, passando pela proteção, recuperação e reabilitação da saúde: • Ações de normatização e controle da prestação de serviços e atividades que direta ou indiretamente se relacionam com a saúde; • Ações de normatização e controle da industrialização, transporte, comercialização e uso de produtos de interesse sanitário; • Ações de normatização e controle sobre o meio ambiente e as condições de trabalho A missão da Vigilância Sanitária a vigilância sanitária não somente faz parte das competências do SUS, como tem caráter prioritário, por sua natureza preventiva • Missão -“eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde” » Lei n° 8.080, art. 6° • Risco sanitário – risco: expressão matemática da probabilidade de ocorrência de um agravo ou dano, em uma dada população, em certo território e em tempo determinado • Risco= ameaça + elementos em perigo + vulnerabilidade Ser portador de fator de risco para determinado agravo, significa estar mais vulnerável a este agravo O que são riscos sanitários? Gerência do Risco • Risco Inerente ou potencial • Se diz de condições de perigo próprias de determinadas práticas, situações ou técnicas onde há um risco em si, risco para os trabalhadores que lidam com ela, risco para o público que freqüenta ou para as vizinhanças e risco para o paciente que recebe doses, seja como técnica de diagnóstico, seja nas terapêuticas utilizadas, o que exige uma série de cuidados para se garantir os resultados esperados sem os efeitos deletérios. • Risco Adquirido • Do risco adquirido se diz de práticas ou produtos que não teriam um risco em si, mas que devido a incorreções em seu processo de produção podem vir a provocar doenças ou danos à saúde. Natureza do trabalho em Vigilância Sanitária • Avaliação do risco - natureza científica; definir efeitos de uma exposição; mede o risco associado; • Gerenciamento do risco - caráter político- administrativo; decide o que fazer com o risco avaliado; pondera alternativas e seleciona a ação regulatória; integra resultados da avaliação do risco com preocupações sociais, econômicas e políticas; fundamenta-se no conhecimento derivado da avaliação do risco. Atuação da Vigilância Sanitária • I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; • II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde. • III- O Controle do meio –ambiente, visando à proteção dos recursos naturais e à garantia do equilíbrio ecológico e conseqüentemente da saúde humana. • . I - Bens e serviços de saúde • 1. As tecnologias de alimentos, referentes aos métodos e processos de produção de alimentos necessários ao sustento e nutrição do ser humano. • 2. As tecnologias de beleza, limpeza e higiene, relativas aos métodos e processos de produção de cosméticos, perfumes, produtos de higiene pessoal e saneantes domissanitários. • 3. As tecnologias de produção industrial e agrícola, referentes à produção de outros bens necessários à vida do ser humano, como produtos agrícolas, químicos, drogas veterinárias, etc. • 4. As tecnologias médicas, que interferem diretamente no corpo humano, na busca da cura da doença, alívio ou equilíbrio da saúde, e compreendem medicamentos, soros, vacinas, equipamentos médico- hospitalares, cuidados médicos e cirúrgicos e suas organizações de atenção à saúde, seja no atendimento direto ao paciente, seja no suporte diagnóstico, terapêutico e na prevenção ou apoio educacional. • 5. As tecnologias do lazer, alusivas aos processos e espaços onde se exercem atividades não- médicas, • 6. As tecnologias da educação e convivência, referentes aos processos e espaços de produção, englobando escolas, creches, asilos, orfanatos, presídios, cujas condições das aglomerações humanas interferem na sua saúde. II - Meio ambiente • 1. O meio natural, correspondente a água, ar, solo e atmosfera. Interessam ao controle sanitário as tecnologias utilizadas na construção de sistemas de abastecimento de água potável para o consumo humano, na proteçãode mananciais, no controle da poluição do ar, na proteção do solo, no controle dos sistemas de esgoto sanitário e dos resíduos sólidos, entre outros, visando à proteção dos recursos naturais e à garantia do equilíbrio ecológico e conseqüentemente da saúde humana. • 2. O meio construído, referente às edificações e formas do uso e parcelamento do solo. Aqui o controle sanitário é exercido sobre as tecnologias utilizadas na construção das edificações humanas (casas, edifícios, indústrias, estabelecimentos comerciais, etc.) e a forma de parcelamento do solo no ambiente urbano e rural; sobre os meios de locomoção e toda a infra-estrutura urbana e de serviços; sobre o ruído urbano e outros fatores, no sentido de prevenir acidentes, danos individuais e coletivos e proteger o meio ambiente. • 3. O ambiente de trabalho, relativo às condições dos locais de trabalho, geralmente resultantes de modelos de processos produtivos de alto risco ao ser humano. O controle sanitário se dirige a esse ambiente, onde freqüentemente encontra cidadãos que são obrigados a dedicar grande parte de seu tempo ao trabalho em condições desagradáveis, em ambientes fechados e insalubres, em processos repetitivos, competitivos e sob pressão, o que altera e põe em risco a saúde física e psicológica e a vida dos indivíduos e da comunidade. Penalidades contra os infratores Advertência. Multa. Apreensão do produto. Inutilização do produto. Interdição do produto. Suspensão da venda do produto. Cancelamento do registro do produto. Proibição de propaganda. Cancelamento da autorização de funcionamento da empresa. Imposição da contrapropaganda. Interdição total ou parcial do estabelecimento. Referências Bibliográfica • 1- Suely Rozenfeld (Org) Fundamentos de Vigilância Sanitária, Rio de Janeiro, Editora FIOCRUZ, 2000, 304p. • 2- Costa, Ediná Alves, Vigilância Sanitária. Proteção e Defesa da Saúde. Segunda Edição Aumentada, São Paulo, Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos, 2004, 496p. • 3- Marques, Maria Cristina da Costa (Org) Vigilância Sanitária: Teoria e Prática. São Carlos, Editora Rima, 2006, 226p
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