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1 Centro Universitário Univates Disciplina: Cálculo III Semestre: 2011/A Professoras: Adriana Belmonte Bergmann Marli Teresinha Quartieri 3. Equações Lineares de Primeira Ordem Uma outra classe de equações diferenciais, facilmente reconhecível e prontamente solúvel (pelo menos, em princípio), é a das equações lineares de primeira ordem. Uma equação é considerada linear de primeira ordem só se for da seguinte forma: 𝑦′ + 𝑎 𝑥 𝑦 = 𝑏 𝑥 . (3.1) O aspecto “primeira ordem” é óbvio; apenas derivadas de primeira ordem aparecem na equação. O aspecto “linear” depende do fato de o lado esquerdo envolver um operador diferencial que age linearmente no espaço das funções diferenciáveis. Grosso modo, uma equação diferencial é linear se 𝑦 e suas derivadas não forem multiplicadas entre si, nem elevadas a potências e não ocorrerem como argumentos de funções. Essa é uma idéia avançada que explicaremos em detalhe mais tarde. Por agora, o leitor deveria simplesmente aceitar que uma equação da forma (3.1) é linear de primeira ordem e que terá em breve uma receita para resolvê-la. Como usual, aprenderemos este novo método indo diretamente aos exemplos. Exemplo 1 – Considere a equação diferencial 𝑦′ + 2𝑥𝑦 = 𝑥 . Encontre a solução completa. Solução Tentaremos multiplicar ambos os lados da equação por alguma função que tome cada lado facilmente integrável. Existe um truque que sempre funciona: você multiplica ambos os lados por 𝑒 𝑎 𝑥 𝑑𝑥 . Como muitos truques, este pode parecer sem motivação. Mas vamos tentar usá-lo e ver como funciona. Agora, 𝑎 𝑥 𝑑𝑥 = 2𝑥 𝑑𝑥 = 𝑥2 . [nesse ponto, poderíamos incluir uma constante de integração, mas isso não é necessário.] Assim, 𝑒 𝑎 𝑥 𝑑𝑥 = 𝑒𝑥 2 . Multiplicando ambos os lados de nossa equação por este fator, obtemos 𝑒𝑥 2 . 𝑦′ + 𝑒𝑥 2 . 2𝑥𝑦 = 𝑒𝑥 2 . 𝑥 ou (𝑒𝑥 2 . 𝑦)′ = 𝑥. 𝑒𝑥 2 . O último passo é um pouco surpreendente. Para uma equação linear de primeira ordem, é garantido que, se multiplicarmos por 𝑒 𝑎 𝑥 𝑑𝑥 o lado esquerdo da equação acabará sendo a derivada de 𝑒 𝑎 𝑥 𝑑𝑥 . 𝑦 . Agora, é claro, integramos ambos os lados da equação: 2 (𝑒𝑥 2 . 𝑦)′ 𝑑𝑥 = 𝑥. 𝑒𝑥 2 𝑑𝑥 . Podemos fazer ambas as integrações: no lado esquerdo, simplesmente aplicamos o teorema fundamental do cálculo; no lado direito fazemos integração. O resultado é 𝑒𝑥 2 . 𝑦 = 1 2 . 𝑒𝑥 2 + 𝐶 . ou 𝑦 = 1 2 + 𝐶. 𝑒−𝑥 2 . Observe que, como geralmente esperamos, a solução tem uma constante livre (porque a equação original era de ordem 1). Deixamos para você a verificação de que essa solução de fato satisfaz a equação diferencial. Resumo do Método Para resolver uma equação linear de primeira ordem 𝑦′ + 𝑎 𝑥 𝑦 = 𝑏 𝑥 , multiplique ambos os lados da equação pelo “fator integrante” 𝑒 𝑎 𝑥 𝑑𝑥 e então integre. Exemplo 2 – Resolva a equação diferencial 𝑥2𝑦′ + 𝑥𝑦 = 𝑥3 . Solução Inicialmente, observe que essa equação não está na forma padrão (equação 3.1) das equações lineares de primeira ordem. Nós a colocamos na forma padrão multiplicando-a pelo fator 1 𝑥2 . Assim, a equação se torna: 𝑦′ + 1 𝑥 𝑦 = 𝑥 . Agora, 𝑎 𝑥 = 1 𝑥 , 𝑎 𝑥 𝑑𝑥 = ln 𝑥 , e 𝑒 𝑎 𝑥 𝑑𝑥 = 𝑥 . Multiplicamos a equação diferencial por este fator. Na realidade, para simplificarmos os cálculos, nos restringiremos a 𝑥 > 0. Portanto, podemos eliminar os valores absolutos. Logo, 𝑥𝑦′ + 𝑦 = 𝑥2 . Agora, como é garantido pela teoria, podemos reescrever esta equação como 𝑥. 𝑦 ′ = 𝑥2 . Integrando ambos os lados, obtemos 𝑥. 𝑦 ′𝑑𝑥 = 𝑥2 𝑑𝑥 . Agora, como é usual, podemos usar o teorema fundamental do cálculo no lado esquerdo e integrar diretamente no lado direito. O resultado é 𝑥. 𝑦 = 𝑥3 3 + 𝐶 . 3 Finalmente, nossa solução é 𝑦 = 𝑥2 3 + 𝐶 𝑥 . Circuito em série Para um circuito em série contendo apenas um resistor e um indutor, a segunda lei de Kirchoff estabelece que a soma das quedas de voltagem no indutor (𝐿 𝑑𝑖 𝑑𝑡 ) e no resitor (iR) é igual à voltagem aplicada no circuito (𝐸(𝑡)). Veja a Figura 3.1: Figura 3.1 Circuito em série LR. Figura 3.2 Circuito em série RC. Obtemos assim, a equação diferencial linear para a corrente 𝑖(𝑡), 𝐿 𝑑𝑖 𝑑𝑡 + 𝑅𝑖 = 𝐸(𝑡) , (1) onde L e R são constantes conhecidas como a indutância e a resistência, respectivamente. A corrente 𝑖 𝑡 é também chamada de resposta do sistema. A queda de voltagem em um capacitor com capacitância C é dada por 𝑞(𝑡) 𝐶 , onde q é a carga do capacitor. Assim sendo, para o circuito em série mostrado na Figura 3.2, a segunda lei de Kirchhoff nos dá 𝑅𝑖 + 1 𝐶 𝑞 = 𝐸(𝑡) . (2) Mas a corrente i e a carga q estão relacionadas por 𝑖 = 𝑑𝑞 𝑑𝑡 ; dessa forma (2) transforma-se na equação diferencial linear 𝑅 𝑑𝑞 𝑑𝑡 + 1 𝐶 𝑞 = 𝐸(𝑡) . (3) Exemplo – Circuito em Série Uma bateria de 12 volts é conectada a um circuito em série no qual a indutância é ½ Henry e a resistência é 10 ohms. Determine a corrente i se a corrente inicial for 0. Solução De (1) vemos que é necessário resolver 1 2 𝑑𝑖 𝑑𝑡 + 10𝑖 = 12 , sujeita a 𝑖 0 = 0. Em primeiro lugar, multiplicamos a equação diferencial por 2 e, usando o fator integrante, 𝑒20𝑡 , obtemos 𝑑 𝑑𝑡 𝑒20𝑡 . 𝑖 = 24𝑒20𝑡 . Integrando cada lado da última equação e resolvendo-a, obtemos 𝑖 𝑡 = 6 5 + 𝑐𝑒−20𝑡 . Como 𝑖 0 = 0, temos que 0 = 6 5 + 𝑐 ou 𝑐 = − 6 5 . Assim sendo, a resposta é 𝑖 𝑡 = 6 5 − 6 5 𝑒−20𝑡 . 4 Problemas de Misturas Na mistura de dois fluidos, muitas vezes temos de lidar com equações diferenciais lineares de primeira ordem. No próximo exemplo, consideramos a mistura de duas soluções salinas com diferentes concentrações. Exemplo – Inicialmente, 50 gramas de sal são dissolvidos em um tanque contendo 300 litros de água. Uma solução salina é bombeada para dentro do tanque a uma taxa de 3 litros por minuto, e a solução bem misturada é então drenada na mesma taxa. Veja a Figura 3.3. Se a concentração da solução que entra é 2 gramas por litro, determine a quantidade de sal no tanque em qualquer instante. Quantos gramas de sal estão presentes após 50 minutos? E depois de um longo tempo? (4) Figura 3.3 constante 300 l. Solução Seja 𝐴(𝑡) a quantidade de sal (em gramas) no tanque no instante t. Para problemas desse tipo, a taxa de variação de 𝐴(𝑡) é dada por 𝑑𝐴 𝑑𝑡 = 𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 𝑑𝑒 𝑠𝑎𝑙 − 𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑠𝑎í𝑑𝑎 𝑑𝑒 𝑠𝑎𝑙 = 𝑅1 − 𝑅2 . (5) Agora, a taxa pela qual o sal entra no tanque é, em gramas por minuto. 𝑅1 = (3 𝑙/𝑚𝑖𝑛). (2𝑔/𝑙) = 6𝑔/𝑚𝑖𝑛 e a taxa pela qual o sal sai é 𝑅2 = (3 𝑙/𝑚𝑖𝑛). ( 𝐴 300 𝑔/𝑙) = 𝐴 100 𝑔/𝑚𝑖𝑛 . Com isso, a equação (5) torna-se 𝑑𝐴 𝑑𝑡 = 6 − 𝐴 100 , (6) a qual devemos resolver sujeita à condição 𝐴 0 = 50. Como o fator de integração é 𝑒𝑡 100 , podemos escrever (6) como 𝑑 𝑑𝑡 𝑒𝑡 100 . 𝐴 = 6𝑒𝑡 100assim 𝑒𝑡 100 . 𝐴 = 600. 𝑒𝑡 100 + 𝑐 𝐴 = 600 + 𝑐. 𝑒𝑡 100 . (7) Quando 𝑡 = 0 , 𝐴 = 50 , logo encontramos 𝑐 = −550. Finalmente, obtemos 𝐴 𝑡 = 600 − 550. 𝑒−𝑡 100 . (8) Em 𝑡 = 50 , encontramos, 𝐴 50 = 266,41 gramas. Também, quando 𝑡 → ∞ , podemos ver em (8) e na Figura 3.3 que 𝐴 → 600 . Claro que esperávamos isso; durante um longo período de tempo, a quantidade de sal na solução deve ser 300 𝑙 . (2 𝑔/𝑙) = 600𝑔 . 5 Resfriamento A lei de resfriamento de Newton diz que a taxa de variação de temperatura 𝑇(𝑡) de um corpo em resfriamento é proporcional à diferença entre a temperatura do corpo e a temperatura constante 𝑇𝑚 do meio ambiente, isto é, 𝑑𝑇 𝑑𝑡 = 𝑘(𝑇 − 𝑇𝑚 ) , (9) em que k é uma constante de proporcionalidade. Exemplo – Quando um bolo é retirado do forno, sua temperatura é de 300℉. Três minutos depois, sua temperatura passa para 200℉. Quanto tempo levará para sua temperatura chegar a 70 graus, se a temperatura do meio ambiente em que ele foi colocado for de exatamente 70℉ ? Solução Em (9), fazemos a identificação 𝑇𝑚 = 70. Devemos então resolver o problema de valor inicial 𝑑𝑇 𝑑𝑡 = 𝑘(𝑇 − 70) , 𝑇 0 = 300 , (10) e determinar o valor de k para que 𝑇 3 = 200 . A equação (10) é linear e separável. Separando as variáveis, temos 𝑑𝑡 𝑇 − 70 = 𝑘 𝑑𝑡 ln 𝑇 − 70 = 𝑘𝑡 + 𝑐1 𝑇 − 70 = 𝑐2𝑒 𝑘𝑡 𝑇 = 70 + 𝑐2𝑒 𝑘𝑡 . Quando 𝑡 = 0 , 𝑇 = 300; assim 300 = 70 + 𝑐2 𝑒 𝑐2 = 230. Logo, 𝑇 = 70 + 230. 𝑒𝑘𝑡 . De 𝑇 3 = 200 , encontramos 𝑒3𝑘 = 13 23 𝑜𝑢 𝑘 = 1 3 ln 13 23 = −0.19018 . Então 𝑇 𝑡 = 70 + 230. 𝑒−0,19018 𝑡 . (11) Notamos que (11) não fornece nenhuma solução finita para 𝑇 𝑡 = 70 pois lim𝑡→∞ 𝑇 𝑡 = 70 . Intuitivamente, esperamos que o bolo atinja a temperatura de seu meio ambiente após um longo período de tempo. O que é um longo período de tempo? Claro que não devemos ficar perturbados com o fato de o modelo (10) não ser tão fiel à nossa intuição física. As partes (a) e (b) da Figura 3.4 mostram claramente que o bolo estará aproximadamente em sua temperatura ambiente de 70℉ em cerca de meia hora. (a) T(t) T(minutos) 75° 20,1 74° 21,3 73° 22,8 72° 24,9 71° 28,6 70,5° 32,3 (b) Figura 3.4 6 Exercícios I) Resolver as seguintes equações diferenciais: a) 𝑦′ + 4 𝑡 𝑦 = 2 b) 𝑥𝑦′ + 𝑦 = 𝑒−3𝑥 c) 𝑦′ − 5𝑦 = 𝑒5𝑥 . cos𝑥 d) 𝑑𝑦 𝑑𝑥 + 3𝑦 = 𝑒−2𝑥 , com 𝑦 2 = 0 e) 𝑥 𝑑𝑦 𝑑𝑥 + 2𝑦 = 1 − 1 𝑥 , com 𝑥 2 = 1 f) 2𝑦′ = 𝑒 𝑥 2 + 𝑦 g) 𝑦′ − 1 𝑥 𝑦 = 𝑠𝑒𝑛(2𝑥) h) 3 𝑑𝑦 𝑑𝑡 = 9𝑦 + 2𝑒−5𝑡 , com 𝑦 0 = 5 i) 𝑥 𝑑𝑦 𝑑𝑥 + 𝑦 = 4𝑥𝑒3𝑥 , com 𝑥 5 = 1 j) 5 𝑑𝑦 𝑑𝑡 = 15𝑦 + 2𝑒8𝑡 , com 𝑦 0 = 2 k) 𝑑𝑦 𝑑𝑡 − 3 𝑥 𝑦 = 2𝑥2 , com 𝑥 5 = 1 l) 𝑥𝑦′ = 𝑥2 + 3𝑦 , com 𝑦 1 = 2 II) Resolver os seguintes problemas: 1) Um objeto tendo uma temperatura de 90oF foi posto para dentro de um ambiente que estava a 60℉. Dez minutos depois o objeto esfriou para 86oF. Qual a temperatura do objeto após 15minutos? Quanto tempo deve passar para que o objeto esfrie para 65℉? 2) Uma força de 300 volts é aplicada a um circuito em série L-R no qual a indutância é de 6 henry e a resistência é de 5 ohms. Encontrar a corrente no instante t = 10, sabendo que 𝑖 0 = 0. 3) Um tanque contém 500 litros de fluído no qual foram dissolvidos 40 gramas de sal. Uma salmoura contendo 1 grama de sal por litro é então bombeada para dentro do tanque a uma taxa de 5l/min; a solução bem misturada é bombeada para fora à mesma taxa. Encontrar o número de gramas de sal no tanque no instante 𝑡 = 30 minutos. 4) Um copo de água a uma temperatura de 95℃ está colocado numa sala com uma temperatura constante de 21℃ . Supondo que a lei de resfriamento de Newton se aplica, e que em 1 minuto a temperatura do copo de água era 85℃, calcule quantos minutos levará para a água atingir uma temperatura de 51℃. 7 5) Um lingote de aço, cuja temperatura é de 1500℉ é colocado em um compartimento cuja temperatura é constante e igual a 90℉. Uma hora depois, a temperatura do lingote é de 1120℉ . Qual a temperatura do lingote 5 horas após ter sido colocado no compartimento? 6) Um tanque contém, inicialmente, 60 libras de sal dissolvidos em 100 galões de água. Suponha que a água salgada contendo 4 gramas de sal por galão é acrescentada ao tanque a uma taxa de 5 galões por minuto e a solução misturada é drenada do tanque à mesma taxa. Determinar a quantidade de sal no tanque no instante após 10 minutos. 7) Uma força eletromotriz de 200 volts é aplicada a um circuito em série no qual a resistência é de 30 ohms e a capacitância é 10−2 farads. Encontrar a carga q(t) no capacitor se 𝑖 0 = 0,4 . Determinar a carga e a corrente em 10 segundos. 8) No instante inicial, um tanque contém 4 libras de sal dissolvidas em 120 galões de água. Suponha que a água salgada contendo duas libras de sal por galão é acrescentada ao tanque a uma taxa de 5 galões/min, e a solução misturada é drenada do tanque à uma taxa de 4 galões por minuto. Determinar a quantidade de sal no tanque após 25 minutos. 9) Uma força de 50 volts é aplicada a um circuito em série L-R no qual a indutância é de 8 henry e a resistência é de 6 ohms. Encontrar a corrente no instante t = 9, sabendo que 𝑖 0 = 0 . 10) Coloca-se uma barra de metal, à temperatura de 100℉ em um quarto com temperatura constante de 0℉ . Se, após 20 minutos a temperatura da barra é de 50℉, determine: a) o tempo necessário para a barra chegar à temperatura de 25℉; b) a temperatura da barra após 10 minutos. 11) Um tanque contém inicialmente 200 galões de água pura. Num instante 𝑡 = 0, a água salgada contendo 5 libras de sal por galão é acrescentada ao tanque a uma taxa de 10 galões por minuto e a solução misturada é drenada do tanque a mesma taxa. a) Quanto sal haverá no tanque num tempo arbitrário? b) Quanto sal haverá no tanque após 30 minutos?
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