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REPENSANDO O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL

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REPENSANDO O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL PROFESSOR E ALUNO NO COTIDIANO ESCOLAR.
Ana Cléa Bentes Bezerra - Virgilina Fernandes da Silva Batista 
Artigo cientifico apresentado como requisito avaliativo de Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-Graduação, Lato Sensu Especialização em Psicopedagogia ministrado na UNIPEC – Faculdade de Porto Velho-RO, sob a orientação da professora Especialista em Psicopedagogia Josélia Gomes Neves.
RESUMO: O presente artigo tem o objetivo de repensar o comportamento interpessoal na relação professor aluno no cotidiano escolar, tendo como ponto de reflexão a importância da interação com vistas à incidência nos resultados de aprendizagem, bem como o aprofundamento do estudo acadêmico a respeito da referida temática.
 
Palavras-chave: Relação Interpessoal. Diagnóstico Psicopedagógico. Cotidiano escolar. Professor e Aluno.
 
“Depois que eu entrar na sala, aluno nenhum entrará mais”.
(Transcrição da fala de um professor durante este estudo)
 
Introdução
A interação em qualquer ambiente nasce da aceitação do outro onde o respeito e o acolhimento facilita a convivência entre os seres humanos. Na escola, o ambiente das relações interpessoais, deve estar focalizando a constituição do eu, a compreensão do indivíduo com suas diferenças e qualidades, para ter condições de vida nos grupos.
Conforme Patto (1997, p. 319), “a educação para o ‘mundo humano' se dá num processo de interação constante, em que nos vemos através dos outros, e em que vemos os outros através de nós mesmos”. Nesta perspectiva, pretendemos, com este estudo, aprofundar o conhecimento sobre o relacionamento interpessoal professor / professora e aluno / aluna, por entendermos que o entrosamento entre os indivíduos é de suma importância para que se possa viver em harmonia consigo mesmo e com os outros, facilitando assim o aprendizado.
A relevância deste trabalho dar-se-á em função de que estudos dessa natureza contribuem para uma melhor compreensão das relações interpessoais na escola, de forma a favorecer positivamente os resultados do processo de aprendizagem.
Os grupos sociais representam o lócus onde os indivíduos estão inseridos, por isto são elementos básicos na sociedade onde a troca de conhecimento pode, por muitas vezes, ajudá-los a ter um bom desempenho nas relações interpessoais, no ambiente onde se encontram inseridos. 
Na prática profissional a troca de conhecimentos é indispensável para um bom relacionamento, porque passamos mais tempo em nosso ambiente de trabalho que em nosso lar, e ainda assim não nos damos conta da importância de estarmos em um ambiente saudável e o quanto isto depende de cada um e do coletivo. 
Percebe-se que as diferenças individuais não são apenas corporais ou intelectuais, as pessoas são individuais e únicas. É bem verdade que há semelhança entre elas, mas há algo que as diferencia umas das outras. No grupo, essas diferenças são importantes e devem ser respeitadas. É notória a grande necessidade de que temos de nos expressar, e quando não somos bem aceitos pelo outro, isso pode gerar conflitos. 
Pode-se transformar a vida tendo a noção de que se devem vivenciar situações e buscar aprimorar o aprendizado não só voltado para o eu, mas também para o todo. As emoções e sentimentos reprimidos e a não socialização dos mesmos acabam refletindo no corpo, podendo gerar conseqüências desastrosas em relação à baixa auto-estima. 
Conforme Melendo (1998, p, 19), “a relação interpessoal significa saber escutar. A escuta é um ato próprio e exclusivo do ser humano é, um ato consciente, voluntário e livre. Saber escutar é ter uma atitude de respeito, acolhida e aceitação do outro”. 
	Em função disso, é que desenvolvemos o estudo acerca do relacionamento professor / professora e aluno / aluna no cotidiano escolar. O diagnóstico institucional foi o primeiro passo para conhecer a instituição no seu contexto administrativo, organizacional e pedagógico, pois de acordo com Gasparian, (1997), o diagnóstico institucional é uma análise, sendo de grande importância para que se possa intervir com eficiência nas escolas. A intervenção psicopedagógica, por sua vez, tem por objetivo a melhoria das atividades escolares, por isso todas as suas ações devem servir de apoio para a escola nos diferentes níveis nos quais se encontram comprometidos. 
Avaliamos como metodologia adequada para esta pesquisa, o estudo do tipo etnográfico, caracterizado por André, (2002), como aquele que envolve as seguintes técnicas: a observação participante – o pesquisador influencia e é influenciado no processo; a entrevista intensiva – que aprofunda e complementa dados e ainda a análise documental. 
 
1.Diagnóstico da Instituição:
A avaliação institucional de uma escola é uma atividade intrínseca, pois interfere e produz efeitos sobre o seu funcionamento no presente e no futuro. A finalidade é à busca do aperfeiçoamento, a melhoria da escola e o redirecionamento das ações desenvolvidas. Mas na escola diagnosticada esta avaliação ainda não acontece. Segundo a direção tornar-se-á uma realidade a partir deste ano, para que desta forma os obstáculos possam ser superados e que os novos desafios assumidos sejam vencidos a cada etapa. 
Inicialmente, a observação foi desenvolvida nas salas de aula do ensino fundamental – 3ª, 4ª e 5ª séries, nas aulas de educação física e em uma reunião pedagógica. Após o registro das anotações, entrevistamos a direção da escola, o corpo docente, pessoal técnico e o de apoio, bem como alunos e alunas, além de pais e mães. Os documentos analisados foram: o Regimento Escolar, os Diários de Classe, os Projetos em andamento mencionados mais adiante e os cadernos dos alunos e alunas. De posse dos dados, partimos para a análise e diagnosticamos que a relação interpessoal entre os funcionários da referida instituição não era satisfatória do ponto de vista coletivo.
A escola diagnosticada está localizada em um bairro periférico na cidade de Porto Velho - RO. Conforme as informações coletadas na instituição, foi criada através do Decreto nº 5499, de 27 de Março de 1992, tendo como entidade mantenedora, o Governo do Estado de Rondônia. No aspecto geral a estrutura física da Escola comporta as necessidades espaciais dos 1.102 alunos. Desenvolve vários projetos, financiados pelo Governo Federal e Estadual, como o Plano de Desenvolvimento da Escola – PDE, o Programa de Apoio Financeiro da Escola - PROAFI, Programa de Dinheiro Direto na Escola - PDDE, Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE. 
Além destes, há os projetos pedagógicos ligados diretamente à prática do professor e professora, com objetivo de introduzir no cotidiano escolar, os valores morais refletindo no procedimento humano para resgatar valores que auxiliam na formação dos cidadãos conscientes.
Consta em seu organograma a Associação de Pais e Professores - APP, que, de acordo com a direção, trabalha ativamente junto ao corpo docente e técnico escolar. Verificamos que a maioria dos professores e professoras estão habilitados ou cursando o ensino superior.
Muitos estudos têm afirmado que a escola tem o papel de socializar o conhecimento organizado, este que a sociedade julga necessário, mas também pelo desenvolvimento de seus membros, objetivando sua interação como cidadãos autônomos e conscientes em uma sociedade democrática.
“O ideal de uma escola cidadã está no cerne de um projeto de transformar a instituição convencional em uma rede de relações humanas fortemente “participativa”, envolvendo alunos, professores, funcionários, mães, pais e toda a comunidade servida pela unidade de ensino”. (Gadotti, 1995. p., 13).
 
De acordo com os documentos apresentados, a Escola tem por objetivo “proporcionar aos educandos a formação necessária para o desenvolvimento de suas habilidades visando à auto-realização, preparação para o exercício consciente da cidadania e continuidade aos estudos”, (Carneiro, 1998, p. 31, Lei nº 9394/1996).
Conforme verificamos, o discursoda direção é o da gestão compartilhada, neste texto compreendido como “a abordagem participativa na gestão escolar demanda maior participação de todos os interessados no processo decisório da escola, envolvendo-os também na realização das múltiplas tarefas de gestão” (Lück, 2002, p. 16).
A direção afirma que prioriza o desenvolvimento das atividades pedagógicas integradas, contínuas e progressivas, atendendo as características da vida e do comportamento social e cultural do educando e procurando desempenhar as funções administrativas necessárias para o bom andamento dos esquemas de funcionamento, contando com suporte de profissionais para a manutenção e garantia da qualidade e excelência em todos os serviços oferecidos por aquele estabelecimento de ensino. 
Esta afirmação da direção nos leva a pensar que na escola tudo é maravilhoso, mas a realidade, pelo que analisamos, é outra. A direção até procura solucionar os problemas, mas muitas vezes não obtém sucesso por falta de comunicação e insuficiência de respeito mútuo.
Há uma insatisfação muito grande em relação ao desenvolvimento e resultados das atividades propostas, traduzidas nas queixas da escola e do cotidiano escolar: biblioteca precária – pois faltam livros e profissional qualificado; insuficiência de professores para atender os alunos; necessidade de mais salas de aula; necessidade de um laboratório de informática; pouca utilização pelos professores dos recursos didáticos disponíveis na escola; não tem um espaço físico adequado para a realização das aulas práticas de educação física.
Os entrevistados apontaram ainda como aspectos deficientes: o descumprimento dos deveres por todos e a pouca união entre o grupo de funcionários; unidade insuficiente nas decisões pedagógicas, para eles é necessária à participação efetiva de todos os docentes; formas de tratamento inadequadas entre professor / professora e aluno / aluna são um dos motivos pela não permanência dos alunos na sala de aula e a pouca ou até a inexistente participação dos pais na Associação de Pais e Professores - APP.
Em conversa com o corpo docente da escola, percebemos a grande preocupação destes com a indisciplina das crianças e dos adolescentes. Os mesmos deduzem que isso ocorre devido à carência de professor e o baixo nível de instrução dos pais, pois os filhos ficam sozinhos em casa enquanto os mesmos trabalham, contribuindo assim para a causa da indisciplina. 
Pensamos que estes fatores descritos pelos educadores não justificam a indisciplina, pois nem sempre a criança ou adolescente cujos pais possuem pouco nível de instrução, são indisciplinados. O professor não deve rotular o aluno de indisciplinado ou danado, só porque ele pertence a uma classe social menos favorecida, mas mostrar propostas pedagógicas motivadoras com base nos princípios éticos. 
Como já foi ressaltada anteriormente, a indisciplina na sala de aula e na escola é uma preocupação constante entre os educadores, tendo em vista que esta afeta o desempenho educacional de vários alunos. “O professor perde muito tempo em sala de aula com questões de indisciplina, com dinâmicas de interação do aluno com o conhecimento”. 
Esta fala de um professor durante este estudo, demonstra que atividades ligadas às relações interpessoais podem ser vistas como trabalho extra-sala e não como um legítimo conteúdo de ensino, contrariando uma das aprendizagens formalizadas no Relatório da UNESCO, os quatro pilares da educação: aprender a conviver juntos. (Delors, 1998). 
Infelizmente, ainda existem professores conservadores com comportamento autoritário, não dando importância à interação como uma das formas de obter conhecimento, com isto o relacionamento interpessoal professor / professora e aluno / aluna ficam restritos somente em “transmitir” saberes. 
Detectamos também que as relações interpessoais, não só entre professor / professora e aluno / aluna, mas entre os próprios alunos não são boas. Em nosso entendimento, o grande desafio é colocar-se no lugar do outro para compreender o seu ponto de vista, com isto busca-se desenvolver a solidariedade e aprender a conviver com as diferenças.
 
2.Sobre o Diagnóstico e Intervenção Psicopedagógica:
Organizamos o estudo em pauta da seguinte forma: inicialmente elaboramos as hipóteses para diagnóstico e intervenção - a participação da família junto à instituição, para que o aluno perceba sua importância no âmbito familiar e escolar e maior comprometimento de todos os funcionários dentro da instituição. Em seguida produzimos as intervenções e sugestões - a promoção de encontros de professores para formação de grupos de estudos e trocas de experiências que os ajudarão na melhor eficiência da docência; o estabelecimento de relações com outros setores da instituição; promoção de eventos que envolvam equipe técnica e professores; organização de palestras com os pais.
Com base nos dados coletados pretendíamos fazer um trabalho com os pais, alunos e os funcionários da escola, mas infelizmente não foi possível. Resolvemos trabalhar o Plano de Intervenção Psicopedagógica, “Eu, Você e Nós”, somente com os professores, coordenação pedagógica e direção da escola, buscando levá-los a uma reflexão sobre o seu comportamento diante das suas ações. O trabalho se deu com uma palestra cujo tema era “Relações Interpessoais”. 
As atividades foram desenvolvidas da seguinte forma: apresentação do grupo e do tema a ser desenvolvido no decorrer do trabalho. Em um clima agradável desenvolvemos uma dinâmica de apresentação oportunizando o conhecimento do outro. A receptividade a esta dinâmica foi ótima, pois puderam se conhecer melhor e perceberam a importância de ouvir o outro, enfatizando ainda mais a importância do ser humano, fez-se uma leitura compartilhada, a qual propôs um momento de reflexão sobre “O valor de cada um”. Após a leitura possibilitamos a socialização dos comentários pelo grupo, e todos partilharam de uma forma comovente as discriminações que sofrem e também a que impõe aos outros. Momentos como este servem para refletir sobre o comportamento humano.
“Às vezes desprezamos as pessoas com quem convivemos todos os dias por causa dos seus “defeitos”, quando na verdade somos todos iguais ou pior do que elas. Desconsideramos que essas mesmas pessoas precisam apenas de alguém que as compreenda e as ame, não pelo que elas poderiam fazer, mas pelo que realmente são. Amar a todos é difícil, mas não impossível. (Oliveira, 2003, p. 18 e 19)”.
 
Para desenvolver este trabalho convidamos um palestrante1 que destacou a importância de estarmos abertos para novos conhecimentos com a dinâmica do “abraço” enfatizando a questão de agradecer o outro pelo momento que estiveram juntos na forma de um abraço. O mesmo solicitou que se formassem grupos de quatro pessoas, ficando todos abraçados ao som de uma música ambiente, foi sugerido que refletissem sobre a valorização individual e grupal. Encerrando seu trabalho, o palestrante fez suas considerações sobre a importância de conviver junto valorizando o “NÓS”, pediu que todos abraçassem mais uma vez e agradecessem por aquele momento.
Certamente o que se acabou de relatar é uma visão sintetizada da experiência vivenciada durante a intervenção psicopedagógica, ao final dessa jornada, avaliamos que saímos enriquecidas com o aprendizado construído e, certas de que é na partilha de dons e conhecimentos que construiremos juntas uma nova educação pessoal e um auto conhecimento.
Acreditamos que as decisões da escola para se tornarem verdadeiras, tem que partir da prática cotidiana. É importante que o educador, a educadora conheçam a vida cotidiana escolar para poder trabalhar bem as relações interpessoais, sociais e de poder. Conforme Heller2 citada por Veiga, (1995, p., 56) “a relação do homem com o cotidiano é direta, favorecendo um processo de amadurecimento ao indivíduo, que se reproduz diretamente como indivíduo e indiretamente como membro de um complexo social”.
Portanto, o relacionamento interpessoalprofessor / professora e aluno / aluna devem ser constituídos pela ética, onde o respeito mútuo entre os envolvidos deve ser cultivado no relacionamento da vida cotidiana dentro e fora da escola. A solidariedade, a justiça e o diálogo também compartilham desse relacionamento, com sentimentos de igualdade e de liberdade para saber lutar pelos direitos à cidadania e ser solidário com os outros nos ideais relativos à sociedade. 
O diálogo é um aprendizado e uma arte a ser ensinada e praticada, a comunicação é um dos elementos essenciais da educação. Segundo Freire (1996), a autonomia do aluno deve ser respeitada conforme a exigência da ética. Cada indivíduo tem suas particularidades e pensamentos que não podem ser desconsiderados. Se isto acontecer, a ética é infringida.
Este relacionamento se torna mais difícil quando se trata de adolescente, por isto na instituição diagnosticada, as relações interpessoais entre educadores e educandos estão um tanto prejudicadas, pois a grande maioria dos alunos são adolescentes e também a falta de ética no cotidiano escolar estar colaborando com este mau relacionamento, pois a comunicação, o respeito, a justiça e a solidariedade são indispensáveis para um bom relacionamento e um bom aprendizado.
É visível e notório no cotidiano escolar, que na fase da adolescência, variações de emoções, mudanças de humores repentinos e tantas outras. É um período de transição marcada pelas transformações fisiológicas e psicológicas, sede da descoberta do próprio corpo. 
De acordo com Bossa (1998, p. 227), “a adolescência é uma fase singular da vida devido à ocorrência simultânea de um conjunto de mudanças evolutivas na maturação física, no ajustamento psicológico e nas relações sociais”. É neste contexto que o adolescente descrito neste diagnóstico psicopedagógico, se apresenta. Vem manifestando um histórico de agressividade em casa e na escola, sendo que em alguns momentos demonstra ser alegre e carinhoso, bem como uma certa aversão em relação à escola em que estuda atualmente. Conforme sua mãe, a razão da rejeição à escola tem ligação com o rótulo de “danado” e agressivo. Encontra-se fora da faixa etária ideal de idade em relação à série atual.
 
Dados iniciais:
Nome: F
Idade: 12 anos
Escolaridade: 4ª série
Filiação: Mãe – B., 47 anos.
Pai – S., 52 anos.
Data da avaliação: Novembro de 2003.
 
Dados familiares:
Conforme informação da mãe, F, é o caçula dos 11 filhos, do sexo masculino. Foi uma gravidez não desejada com tentativa de aborto, a maior parte de sua infância, ou seja, quando mais precisou não teve acompanhamento dos pais, ficando sempre aos cuidados de seus irmãos mais velhos, não foi amamentado, ficou desnutrido por falta de alimentação adequada para um bebê, quando os pais se separam, a situação ficou ainda pior, pois esta separação durou aproximadamente cinco anos. Os pais reataram quando o mesmo tinha seis anos. 
Um dos maiores incômodos do menor é, quando o seu irmão mais velho esta sob o efeito do álcool e da droga, que se torna muito agressivo, chega a ponto de pegar objetos cortantes para ameaçar os irmãos e a mãe. Os problemas com o irmão mais velho deduz -se que seja um fator relevante a sua agressividade, o mesmo tem uma preocupação e medo do mesmo.
“Eu me arrependo muito de querer abortar o meu filho, mas é que a minha filha só tinha quatro meses de vida, foi quando eu tomei chá de ervas que amargava (ervas abortivas), mas não deu certo. Eu também batia muito nele, quando era bebê, não gostava dele, agora eu gosto e não bato mais”, (fala da mãe de F).
 
Os instrumentos usados foram às técnicas projetivas psicopedagógicas; (Família educativa, Plano da sala de aula e Fazendo o que mais gosto) e entrevistas anamnese.
 
Análise dos resultados:
F. nos demonstrou tranqüilidade razoável, concentração sempre com respostas claras, sem dificuldades em elaborar e organizar as atividades, não gosta de matemática e tem dificuldades com a mesma, prefere as disciplinas de arte e educação física. Na sala de aula manifesta um certo incômodo com relação a alguns colegas em determinadas situações. Considera-se tímido, curioso, agitado, um pouco rebelde, estudioso e responsável. No futuro pensa em ser Médico, a fim de socorrer as pessoas necessitadas.
Isso nos remete a um caso que para a sociedade é considerado um “fracassado”, (Perrenoud, 1999), pois não se encontra na faixa etária ideal de idade em relação à série atual; não por problemas de aprendizagem, mas devido aos problemas familiares, (a família viajava muito). O aluno tem problemas de relacionamento humano, convivência e de auto-estima.
As observações se encontram e confirmam nos dados levantados com sua mãe e a professora, ou seja, referente às queixas apresentadas e confirmadas na aplicação das provas projetivas. A análise dos dados nos remete aos itens do campo afetivo – social e corporal.
Percebemos que o desenvolvimento emocional do adolescente ficou comprometido por falta de afeição. A afeição é fundamental para a estrutura humana, para se ter um bom desenvolvimento emocional é importante construir um ambiente de afetividade, compreensão e respeito.
Sabemos que é essencial à educação o que os pais passam para os seus filhos, esta educação familiar estimula o amadurecimento emocional, mas também pode bloqueá-lo. Infelizmente no caso do adolescente diagnosticado o mesmo não recebeu esta educação na infância, o que houve foram situações de rejeições, repressões um verdadeiro festival de incentivos para que o menor em causa venha trilhar o caminho da marginalidade. Situações como estas podem gerar desvios no seu comportamento de indivíduo adulto. Segundo Schettini:
“Muitos bloqueios que impomos às crianças são não somente desnecessários como prejudiciais à sua saúde psicológica. Agindo dessa forma, estaremos contribuindo para que elas estabeleçam mecanismos psicológicos que, certamente, provocarão distorções e perturbações no seu comportamento atual e futuro”. (1997, p., 30 e 31).
 
O indivíduo agredido fica com medo e se isola da convivência social, sente-se o pior dos seres humanos, as marcas das agressões são visíveis no seu comportamento. O medo que F sente do irmão causa lhe aflição, isto é o gosto amargo da violência psicológica sofrida. O adolescente sempre desenvolverá um mecanismo de defesa como o da agressão. Também podemos considerar que esses fatores ruins sempre vão estar presentes nas relações pessoais no seu cotidiano.
Portanto a relação interpessoal entre professores e alunos no cotidiano escolar, não deve somente limitar-se a transmitir conhecimento, e sim permitir uma troca de ensinamentos e aprendizagens entre ambos, estimulando a curiosidade, pois ela é um ponto principal na construção do aprendizado e na produção de conhecimentos, está aberto aos questionamentos, dificuldades e também para as capacidades individuais, mas respeitando a individualidade de cada um. Segundo Patto (1997, P. 315), “o professor precisa buscar, em cada aluno, as suas qualidades positivas, a fim de provocar o seu desenvolvimento”.
Nas relações interpessoais no cotidiano escolar dependem do educador e da sua capacidade de trabalhar as habilidades dos alunos motivando-os a ter atitudes de respeito com os colegas e assim mantendo um ambiente de relações harmoniosas no grupo. 
O professor, a professora deve ter capacidade de conhecer a vida cotidiana do aluno, onde se encontra suas energias e seus interesses. É através de uma intervenção pedagógica que o educador deve ficar conhecendo o que seu aluno já sabe e respeitar este conhecimento prévio. Conforme Weisz (2002, p. 39), “as construções e idéias que ele elaborou e que, no mais das vezes, não foram ensinadas pelo professor, mas construídas pelo aprendiz”. 
Sobre as considerações referentes ao instrumental de coleta de dados, temos a acrescentar que os professores e pais querem uma escola compartilhada, sendo que todos, família e escola, trabalhem juntos na resolução deseus problemas, tanto no que se refere à indisciplina, evasão, quanto à reprovação. Ocorre também uma grande preocupação, por parte dos pais e mães, no que diz respeito à qualidade de ensino que se está oferecendo nesta instituição, pois, sabem que seus filhos e filhas terão muitas dificuldades ao enfrentarem concursos, vestibulares, empregos, que surgirão na vida dos mesmos.
Embora o processo opere com a contradição – as falas dos atores da escola muitas vezes são desautorizadas pela prática, mesmo assim, verificamos que ao longo do processo, as relações interpessoais estão interferindo positivamente no desenvolvimento das ações na escola, a qual está sempre na busca constante, em conjunto, de soluções a fim de resgatar valores éticos nas relações e nos serviços prestados, onde a solidariedade e o compromisso de cada um serão um forte ponto de apoio. 
Foi de suma importância pesquisar e analisar alguns possíveis “problemas” que ocorrem na referida instituição. Analisamos que as ações precisam ser permanentemente modificadas, replanejadas coletivamente e redirecionadas. Acredita-se que é muito importante a aplicação de avaliações deste tipo nas instituições escolares, pois possibilita ouvir a comunidade e toda equipe escolar em seus anseios e sugestões, que poderão contribuir na melhoria da atuação dos agentes internos e superar as dificuldades existentes na escola.
Ressaltando a importância das relações interpessoais entre educadores e educandos no cotidiano escolar, para melhorar a qualidade do ensino aprendizagem, na formação do sujeito consciente dos seus direitos e deveres, preenchendo as diversas lacunas e sanando os impasses existentes na escola, assumindo um perfil do processo de relação na busca de qualidade das ações individuais e coletivas, dando origem a um impacto positivo no crescimento da instituição, onde alunos, pais, professores e demais funcionários saíam ganhando com tal aperfeiçoamento.
 
NOTAS EXPLICATIVAS
1– Palestrante convidado pelo grupo, ERNANI CORREIA FRÓIS JÚNIOR, psicólogo e professor universitário.
2 - HELLER, Agnes. O cotidiano e a História. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1972, p. 18.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BOSSA, Nádia Aparecida. Avaliação Psicopedagógica do Adolescente. 6ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
______________________. Fracasso Escolar: Um olhar Psicopedagógico. São Paulo, SP: Artmed, 2002.
BRASIL, MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) volume 1 Introdução. 3ª edição, Brasília, 2001.
BRASIL, MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) volume 8 Apresentação dos Temas Transversais e Ética. 3ª edição, Brasília, 2001.
CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: Leitura Crítica - Compreensiva Artigo a Artigo. 6ª edição, Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
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WEISS, Maria Lúcia. Psicopedagogia Clínica. Editora DP&A, 8ª edição, RJ – 2001.
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Ana Cléa Bentes Bezerra - Virgilina Fernandes da Silva Batista - Concluintes do Curso de Psicopedagogia da UNIPEC, Porto Velho – RO, 2004; Assessora Parlamentar e Coordenadora Pedagógica da rede pública municipal, respectivamente. Virgilia: virgilinasilva@uol.com.br

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