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2 - Categorias de interpretação

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PUC Minas Virtual • 1 
 
 
 
Categorias de interpretação 
do fenômeno religioso 
 
 Deus 
 é o invisível 
 evidente! 
 (Mário Quintana) 
 
 
 Da mediação ao encontro com o mistério 
 
 Prof. Camilo de Lelis, teólogo. 
 Dep. de Ciências da Religião – PUC Minas 
 
 Vamos desenvolver uma re-flexão a partir da importância das categorias de 
interpretação do fenômeno religioso. São categorias próprias que precisam ser 
entendidas no seu contexto cultural e religioso. 
 
 
 
 
 I Símbolo 
 
 
Tales e Marcos nasceram na mesma região da Grécia. A infância em 
comum os uniu de forma profunda. Aos 15 anos Marcos é convocado para a 
guerra em uma terra distante, enquanto que Tales deve partir para uma 
escola de Atenas. Na despedida os dois pegam um medalhão de argila 
trabalhada e o quebram ao meio ficando cada um com uma parte. Assim, 20 
ou mais anos depois eles poderão se reconhecer pela justa posição das 
duas partes do medalhão, uma vez que estarão bem diferentes para se 
reconhecerem. 
 
 Esta história o que era o símbolo no tempo antigo. Etimologicamente a palavra 
símbolo vem do grego sym-ballo e remete a algo que une. Diferentemente de símbolo 
temos a palavra diabo (dya-ballo) que é justamente o que divide e separa. Assim o 
símbolo é uma das categorias mais antigas de interpretação do fenômeno religioso. É 
também uma categoria muito presente em nossa vida. Se olharmos atentamente 
podemos perceber que nossa vida é permeada por símbolos. Uma simples caneta pode 
ser um forte símbolo recebido de uma pessoa amada. Aquela pequena medalha recebida 
 
Título: Categorias 
 
Autor: Camilo de Lelis Oliveira Santos Ribeiro 
 
 
PUC Minas Virtual • 2 
 
da mãe, uma carta envelhecida de um avô, uma pracinha naquela pequena cidade que se 
tornou o ponto de encontro dos amigos ou até mesmo uma pessoa especial podem se 
tornar símbolos marcantes em nossa vida. Assim como uma caneta lembra, e até trás a 
presença, de uma pessoa, o símbolo religioso remete ao mistério e faz uma ponte com o 
próprio Deus. 
 As ciências humanas já perceberam que o ser humano é um animal simbólico. 
Podemos perceber grandes sistemas simbólicos que marcam presença na história da 
humanidade. Destacamos quatro destes: 
 
 
 
• Linguagem 
 A linguagem, principalmente lírica e poética, é um destes grandes 
sistemas simbólicos. A poesia, por exemplo, consegue dizer aquilo que uma boa 
explicação racional não consegue dizer. Adélia Prado para expressar a sede humana do 
infinito e da felicidade disse: “Para meus desejos o oceano é uma gota!”. Da mesma 
forma a expressão de um apaixonado ao dizer: “eu te amo!” não é tão forte, expressiva e 
simbólica se ele dissesse a sua amada: “Você não nasceu para mim, você nasceu em 
mim!”. Nestes casos as palavras se tornam pontes para expressar e acessar o mais 
profundo dos sentimentos. 
 
 
• A experiência de amor 
 O segundo sistema simbólico é a experiência de 
amor nas suas mais variadas expressões. Todo amor pede símbolos, seja o amor da 
amizade, o amor a dois, o amor de mãe e até mesmo o amor por uma causa. Assim o 
filho que não tem palavras (e às vezes coragem) para dizer que ama sua mãe, lhe oferece 
uma rosa bonita e perfumada. O gesto de dar a rosa consegue expressar a rica 
experiência de amor do filho e não impedem as lágrimas daquela mãe feliz. Quanto mais 
forte a experiência de amor tanto mais simbólica ela será. 
 
 
• A transubstanciação do real na arte 
 Um outro sistema simbólico é a arte. 
Quando um artista pega um bloco de pedra e trabalha por um longo período, consegue 
fazer dele uma obra de arte e deixar muitas pessoas encantadas e “viajando” diante de 
tanta beleza. O real (bloco de madeira) ganha um novo sentido e significado, ou seja, é 
transubstanciado remetendo seus observadores a outra realidade. Assim toda obra de 
arte vai re-significar a substância trabalhada e torná-la um símbolo. 
 
 
• O religioso 
 Por fim, temos o quarto e último grande sistema simbólico que é o 
próprio sistema religioso. O simbólico tem papel fundamental na experiência religiosa, 
uma vez que esta lida com o mistério, com o transcendente, com aquele que não cabe na 
razão humana e não se esgota nunca. Então, é impossível uma religião dizer algo de 
Deus ou se dizer sem o símbolo! Podemos concluir que toda religião é na verdade um 
forte sistema simbólico que tenta dizer o indizível através do símbolo. Destes quatros 
sistemas simbólicos mencionados o religioso é o mais forte e expressivo, uma vez que ele 
além dele ser simbólico em si mesmo, usa dos outros três sistemas. Assim, o religioso 
usa muito da arte, da experiência de amor e da linguagem. 
 
 
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Características do Símbolo 
 
 
Depois de percebermos que o ser humano é um animal simbólico vamos caracterizar 
o símbolo religioso e depois elaborarmos uma definição clara e objetiva. Entre várias, 
destacamos aqui dez características do símbolo: 
 
 
 
 
1º O símbolo è pré-hermenêutico 
 
 
Isso significa que todo símbolo precisa ser interpretado, senão não pode ser 
entendido. Hermenêutica é a interpretação de um texto, é o símbolo não é 
ainda um texto. É um objeto, uma pessoa, algo que é carregado de significado, 
e por isso precisa ser “retirado” dali o seu significado pela palavra e 
interpretação. Assim, o símbolo é uma representação de uma ausência que, ao 
ser interpretado, seu sentido emerge e aponta para o mistério tornando-o 
acessível. O sinal (signo) é diferente de símbolo e não precisa ser interpretado. 
Quando vemos um sinal + ou uma → não precisamos interpretá-la pois ele é 
explicito e objetivo. 
Exemplo: a cruz pode ser apenas um sinal, ou seja, uma cruz fixada em um 
templo é sinal de que o mesmo é cristão (e não budista, ou judeu). Este sinal da 
cruz todo mundo entende, não precisa de uma hermenêutica (interpretação). 
Mas a cruz pode ser também um símbolo, e para entendê-lo precisamos 
interpretá-lo. Nem todo mundo entende o simbolismo da cruz uma vez que seu 
sentido não é dado explicitamente como no sinal. 
 
 
 
 2º O símbolo é insubstituível pelo logos 
 
 O símbolo fornece um sentido para a realidade e para a religião que a razão 
pura não daria conta de fornecer. Não podemos pensar, por exemplo, que o 
símbolo era importante só no tempo antigo e que hoje, devido aos avanços da 
linguagem e da técnica, não há mais necessidade do símbolo. Uma boa 
explicação racional não dispensa e nem substitui o papel do símbolo na 
experiência religiosa. Sem eliminar ou desfazer da linguagem racional, o 
símbolo tem um papel importante e determinante no cotidiano de todas as 
religiões por que ele remete para o mistério, o inexplicável. Quando tudo já está 
explicado, já está claro, já não há símbolo. Por isso, para citar um exemplo, não 
há símbolos na explicação do processo de vaporização da água, pois este é 
claro e sem mistérios. 
 
 
 
 
 
 
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 3º O símbolo é mediador de transcendência 
 
 
O papel do símbolo é de mediação, ou seja, ele se coloca entre a pessoae o 
mistério último que chamamos de Deus. Quando observamos um eclipse solar 
ou pegamos uma fôrma quente de pizza no forno usamos uma lente escura e 
uma luva, respectivamente, como mediação necessária. Assim é o símbolo. Por 
que a mediação do símbolo é necessária? Por que não posso acessar Deus de 
forma direta? 
As experiências milenares das religiões e dos místicos revelam um Deus 
grande demais, um mistério profundo que não pode ser encarado. Esta 
experiência mostra um Deus que é inominável, invisível, irrastreável, 
inobjetivável, inesgotável, etc. Em outras palavras Deus é o insuportável, ou 
seja, não pode ser suportado diretamente pelo ser humano. Deus é tanta 
beleza, tanta luz, tanto amor, tanta bondade e felicidade, que de uma “dose só” 
nós não suportaríamos. Pode-se encarar o sol de frente sem queimar os olhos? 
Então, ao se mostrar, Deus se limita. Ao revestirmos um objeto ou pessoa de 
simbolismo fica possível ao ser humano se comunicar com o mistério, com 
aquele que é o Absoluto. Para fazer uma analogia, podemos dizer que o 
símbolo é como a lente de um binóculo ou microscópio que permite ver o que 
sem ela não se vê. Sem a simbologia a experiência religiosa ficaria 
enfraquecida na sua recepção e comunicação. Aqui fica claro o papel da 
imagem na experiência religiosa. A imagem religiosa (seja uma estátua, uma 
pintura, uma fotografia, um líder religioso ou até mesmo a bíblia) é um símbolo 
na medida que nos une com o mistério. Caso contrário se torna um ídolo (até a 
Bíblia). Rever os conceitos de “imagem” e “ídolo” no texto da unidade I. 
Assim, toda religião e experiência mística precisarão da mediação do 
símbolo. Até mesmo para comunicar uma experiência religiosa o símbolo tem 
papel fundamental. Símbolo é mediador! 
 
 
 
 4º O símbolo é re-velador das dimensões da alma 
 
 
 O símbolo ajuda a des-velar a interioridade humana. Ajuda a dizer 
toda a riqueza e o mistério da psique humana que é carregada de desejos, 
sonhos, anseios, emoções, sensações e experiência profundas. Quando 
tiramos fotografias e mandamos um filme, não digital, para a revelação, é 
porque sozinhos não conseguimos “trazer” aquelas imagens, que já estão ali, 
para “fora”. O símbolo é como os produtos químicos da revelação fotográfica. 
Ajudam a dizer, a explicitar o que está no mais secreto de nós mesmos. Nos 
ajuda a entender as experiências religiosas que acontecem na interioridade 
humana. Para melhor entendermos isso vamos lembrar uma expressão do 
grande fenomenólogo Paul Ricoeur: “O símbolo dá em transparência... tão claro 
e profundo que expressa a vivência humana e sua história.” Assim percebemos 
que o símbolo tem como função natural revelar, externalizar toda a realidade. 
 
 
 
 
5º O símbolo tem função social e relacional 
 
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 O símbolo é gerador de vínculo e pode aproximar pessoas e grupos. 
Muitas pessoas se reúnem em torno de um símbolo e se identificam com os que 
usam o mesmo símbolo. Um exemplo bem próximo de nós é a Bíblia. Ela é um 
símbolo que tem forte função social e relacional. 
A comunicação mais profunda entre pessoas vai necessitar de símbolos para 
ajudar nas inter-relações. O símbolo nos solidariza com o cosmos, os outros e o 
mistério. Ele nos liga com toda a realidade humana e tem a capacidade de 
agregar pessoas socialmente e fortalecer suas inter-relações. Nas religiões os 
símbolos exercem este papel com muita clareza e eficiência, uma vez que seus 
“devotos” são muitas vezes identificados por eles. 
 
 
 
 
 
6º O símbolo “diz sempre mais do que diz” 
 
 
 O símbolo não se esgota e vai além dele mesmo. Isso por que ele é a 
linguagem do profundo, da intuição, dos sonhos, do amor, da experiência 
religiosa, etc. Para entendermos o “diz sempre mais do que diz” vamos 
imaginar uma pessoa que ao tentar ajudar alguém ou a um grupo, percebe que 
sua ajuda foi além do que imaginava. No símbolo, ao ser interpretado, ele 
consegue diz muito mais do que “ele tem”, ele expressa tanto que supera sua 
própria estrutura física e cultural. Assim, a primeira vista parece que o símbolo 
diz muito pouco, mas logo se percebe que ele é uma janela que consegue 
mostrar um grande horizonte (horizonte este que é maior que a própria janela). 
 
 
 
 
 
7º O símbolo é polissêmico 
 
 
 Existe no símbolo uma polissemia de sentido, ou seja um mesmo 
símbolo pode ter diferentes significados dentro de um mesmo grupo ou em 
diferentes culturas. Assim como as formas de se “experimentar a Deus” são 
muitas, as formas simbólicas de sua representação são também múltiplas. 
Podemos tomar como exemplo o fogo. Em todas as culturas o símbolo do fogo 
está ligado às manifestações de Deus ou às suas invocações. O fogo pode 
expressar várias interpretações: 
Destrói, purifica, transforma, aquece, ilumina, etc. Na experiência religiosa 
Deus é o fogo que “destrói” o mal, “purifica” da culpa e do erro, “transforma” 
pela conversão e humanização, “aquece” pela sua presença, esperança e 
promessas de plenitude, e “ilumina” com sua palavra e sabedoria. Desta forma 
o mesmo símbolo respeita e não enquadra todas as religiões em uma 
uniformidade. 
 
 
 
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8º O símbolo é universal 
 
 
 Existem símbolos que possuem o mesmo significado em diversas 
culturas e religiões. Até mesmo entre culturas que nunca se encontraram ou 
que eram separadas por grandes oceanos. Assim, percebemos que a maioria 
dos símbolos são patrimônios da humanidade e participam da mesma 
interpretação histórica. A universalidade do símbolo fica cada vez mais nítida 
com os estudos das ciências humanas e as pesquisas de campo ligadas às 
diversas culturas. 
Esta universalidade do símbolo é muito importante na nossa sociedade pós-
Moderna e globalizada, uma vez que a tolerância religiosa e o ecumenismo se 
tornam cada vez mais necessários. O símbolo pode ser um primeiro passo para 
o diálogo inter-religioso e para a paz religiosa no mundo. 
 
 
 
9º O símbolo não é inventado 
 
 
 No geral, o símbolo é símbolo, ou seja, não se conhece a sua origem. 
Existem espaços que são mais férteis e que favorecem mais o surgimento de 
símbolos. Um destes espaços é a manifestação de Deus na natureza e na 
história da humanidade. Todas essas experiências são geralmente muito ricas 
de símbolos e estão presentes desde a pré-História. Os sonhos, que expressam 
muito a interioridade humana, são também espaços “geradores de símbolos”. 
Não é sem razão que os sonhos estão quase sempre presentes nas 
manifestações de Deus com os homens. Interessante também é lembrarmos da 
psicologia junguiana que sempre interpretou os sonhos como símbolos da 
psique humana. 
Assim, os símbolos emergem de realidades profundas se tornam 
norteadores da realidade. 
 
 
 
10º O símbolo pode ser extinto 
 
 
A morte do símbolo pode acontecer por processos de racionalização, a 
saber: 
 a) pelo conceitualismo do século XIX que quer reduzir toda a 
realidade a verdades verificáveis. Não há espaço para verdades metafísicas e 
poéticas. Aqui o símbolo se torna apenas um enfeite, uma decoração supérflua 
e desnecessária; 
 b) pelo dogmatismo que tenta reduzir toda a riqueza e abertura 
do símbolo traduzindo-o em uma linguagem fixa e racional. É uma tentativa 
esgotar e enquadrar o símbolo numa fórmula mecânica e definitiva. 
 c) pela psicanálise que iguala o símbolo a um sinal de causa e 
efeito. Essa tendência “freudiana” reduz tudo a uma sexualidade insatisfeita. 
 
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Assim, o simbolizante se iguala ao simbolizado, fazendo do símbolo apenas o 
sintoma direto de alguma coisa.D) finalmente, por uma leitura historicista da bíblia que retira 
toda a riqueza dos símbolos. De uma leitura “ao pé da letra” resta uma 
“reportagem” difícil de ser atualizada para hoje ou a conversão do símbolo em 
apenas uma “fábula interessante. O mesmo vale para qualquer texto religioso. 
 
 
Terminada as características já é hora de elaborarmos uma definição mais 
concisa de símbolo. 
 O símbolo remete a algo desconhecido em si, mas que se faz 
presente em algo visível e material, onde é capitado por um claro-escuro 
(lusco-fusco), afastando assim toda pretensão humana de se apossar do 
mistério. O claro-escuro revela que ao mesmo tempo que o símbolo remete a 
uma “presença forte”, essa presença não se confunde com o próprio Deus. Se 
segurarmos o símbolo, não estamos com isso aprisionando Deus em nossas 
mãos. 
 Com essa definição terminamos a primeira categoria de interpretação 
do fenômeno religioso: o símbolo. A segunda categoria, tão antiga como este, é 
o Mito. 
 
 
 
 
 
 
 
 II Mito 
 
 
“No tempo em que o Senhor Deus fez a terra e os céus, não existia 
ainda sobre a terra nenhum arbusto nos campos, e nenhuma erva havia 
ainda brotado nos campos, porque o Senhor Deus não tinha feito chover 
sobre a terra, nem havia homem que a cultivasse; mas subia da terra um 
vapor que regava toda a sua superfície. O Senhor Deus formou, pois, o 
homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e 
o homem se tornou um ser vivente. Ora, o Senhor Deus tinha plantado um 
jardim no Éden, do lado do oriente, e colocou nele o homem que havia 
criado. O Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores, de aspecto 
agradável, e de frutos bons para comer; e a árvore da vida no meio do 
jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal... O Senhor Deus tomou o 
homem e colocou-o no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo. Deu-lhe 
este preceito: ’Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não 
comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que 
dele comeres, morrerás indubitavelmente’.” 
 (Gn 2,4b-9,15-17, segunda narrativa do mito judaico da criação). 
 
 
Mito vem da raiz “mythos” e remete a expressão lembrar, pnsar ou expressar 
verdades. 
Na verdade a linguagem clássica do século XIX definiu mito da seguinte 
maneira: 
� mito é aquilo que não se deixa integrar à realidade; 
 
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� mito é o que não é real; 
� mito é uma linguagem rústica, antiga e inferior à linguagem moderna 
que é mais clara e mais sistematizada; 
� mito é o que não é verdade; 
� mito é comparado a uma fábula ou folclore. 
É claro que esta afirmação do século XIX está errada! 
 Isso é para percebermos o que não é mito. Essa linguagem moderna e positivista 
segue o racionalismo e reduz toda narrativa mítica a “histórias de carochinha”. 
Para melhor entendermos o que é o mito é preciso localizar seu papel e suas 
características dentro do universo religioso. 
Se o símbolo é um objeto, pessoa, lugar ou astro, o que seria então um mito? O mito é 
um texto e sua índole é narrativa. Geralmente ele é contado e recontado e emerge da 
grande tradição oral da humanidade. 
 
 
 
 Características do Mito 
 
 
Destacamos então algumas das características do mito: 
 
 
 
 
1º O mito è também pré-hermenêutico 
 
 
O mito precisa ser interpretado de acordo com sua cultura, sua época, sua 
forma, sua inculturação e importância para tal grupo. Sozinho, sem 
interpretação, o mito pode ser reduzido a apenas uma história (lenda ou fábula) 
que tem uma “lição de moral”. 
 
 
 
 
 
 2º O mito, na sua interpretação,deve ser 
 considerado em dois aspectos: 
 linguagem e símbolo 
 
 
 O primeiro aspecto é a complexidade e problemática da linguagem. Texto 
vem de “tecido”, ou seja, é um conjunto de palavras costuradas de tal forma que 
ganha um gênero literário próprio. 
Ao observarmos um texto percebemos que ele não é “somente um texto” (todo 
texto já chega grávido). Um texto tem também um pré-texto e um pós-texto. E 
não é só isso, pois a interpretação vai considerar também a presença de um 
contexto, intra-texto, sub-texto, extra-texto, inter-texto, meta-texto e até mesmo 
um não-texto. Assim, sem entrar em detalhes, podemos perceber a 
complexidade de um texto e uma narrativa. 
 
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 Um segundo aspecto é a riqueza dos símbolos. Se não entendermos o que 
é um símbolo e seu significado, vamos também ter dificuldade de interpretar o 
mito, uma vez que este é carregado de simbologia. 
 Portanto, uma boa interpretação do mito depende destes dois aspectos: 
complexidade da linguagem e riqueza dos símbolos. 
 
 
 
 3º O mito deve ser entendido na sua própria forma 
 
 
O mito deve ser interpretado na sua forma antropológica e existencial e não 
na sua forma cronológica. O essencial da mensagem do mito é expressar algo 
sobre o ser humano (antropológico) e sobre a existência (existencial). Não 
importa no mito saber quando ele surgiu e se os personagens existiram ou não. 
Então, todo mito religioso vai estar falando profundamente sobre o sentido da 
vida humana e sua verdade não depende da existência ou não dos 
personagens. 
 
 
 
 4º O mito é uma forma de expressar a verdade 
 
 
 O mito é um jeito de dizer uma ou mais verdades de modo narrativo e 
simbólico. Quando o mito quer dizer uma verdade ele conta uma história. É 
assim que muitos se assustam (o termo é este mesmo) quando falamos que o 
texto da narrativa da criação no Gênesis é mítico. Logo perguntam? “então 
aquilo não e verdade?” “Adão e Eva existiram ou não”! Este tipo de pergunta 
não deve ser feito. O texto fala de uma verdade, mas se aconteceu aquilo ou 
não é outra história. 
 
 
 
5º O mito tem moldes profundos 
 
 
 O mito, a primeira vista, parece uma pequena historinha. Podemos 
imaginar que o mito é uma pequena flor em um vaso. Podemos imaginar que a 
flor seja a história. O que não percebemos é que esta flor está plantada em um 
vaso profundo, seus moldes são densos e de grande extensão. As raízes de um 
mito bebem em diversas culturas e região. Por isso não devemos subestimar 
essas histórias ou reduzi-las a lendas culturais. 
 
 
 
 
6º O mito é expressão da humanidade 
 
 
 O mito é expressão do “inconsciente coletivo” e dos “arquétipos”. 
Inconsciente coletivo é a prodigiosa herança da evolução do gênero humano, 
 
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que renasce em cada estrutura individual. Já os arquétipos são centros 
energéticos do inconsciente coletivo. É assim que o mito consegue expressar 
tão bem sobre o ser humano e conduzi-lo à sua própria história. O mito se 
mostra como testemunha simbólica de uma realidade ontológica que 
inacessível à expressão lógica. Para isso o mito explora a realidade de forma 
plástica e dramática sem recorrer a uma dialética racional e filosófica. São 
histórias que dão conta de dizer o mais profundo e originário da humanidade. 
 
A partir dessas 6 características já podemos delinear uma definição de mito 
considerando sua relação intrínseca com o símbolo. 
O mito é um relato de um acontecimento originário, no qual deuses agem e 
cuja finalidade é dar sentido a uma realidade significativa. 
Assim, percebemos que todo mito é um relato, que fala das origens, onde o 
protagonista é sempre deus e fala de uma realidade importante. 
Estes quatro elementos ajudam a definir o que é um mito. Não existe, por 
exemplo, mito sobre assuntos banais e que não tem importância para a 
humanidade. Existem vários tipos de mitos, como porexemplo, mitos trágicos, 
mitos da criação, mitos de purificação, etc. 
Mito e símbolo caminham muitas vezes juntos e se ajudam a dar sentido à 
realidade. 
A partir do símbolo e do mito podemos falar do rito, como nossa terceira 
categoria. 
 
 
 
 
 
 III Rito 
 
 
“Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, 
quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao 
encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. O filho lhe disse, 
então: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de 
ser chamado teu filho. Mas o pai falou aos servos: Trazei-me 
depressa a melhor veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e 
calçado nos pés. Trazei também um novilho gordo e matai-o; 
comamos e façamos uma festa. Este meu filho estava morto, e 
reviveu; tinha se perdido, e foi achado. E começaram a festa.” 
 (Lc 15, 20 -14.). 
 
 
 
Mito vem do latim ritusritusritusritus e está ligado ao ato de celebrar, dançar e louvar. 
Existem ritos civis que se estruturam para a festa ou para a celebração de datas ou 
pessoas. O rito é uma ação organizada para celebrar, de forma múltipla, as 
crenças, mitos e experiências de um povo religioso. 
Podemos entender a importância do rito quando pensamos na força da 
linguagem gestual e não verbal. Sabemos que o impacto da linguagem verbal é 
muito pequena. A linguagem gestual e visual é muito mais expressiva. Existem 
expressões, sentimentos, anseios e orações que só podem ser expressas pelos 
gestos, pela dança, pelo canto e posturas. 
 
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 Características do Rito 
 
Três características são importantes para o rito, tanto religiosos como civil: 
 
 
 
1º O rito supõe um espaço 
 
 
O rito para ser realizado precisa de um espaço delimitado para tal. 
Geralmente é um templo ou um lugar constituído para tal. O espaço é 
preparado e estruturado para facilitar a celebração com suas motivações 
próprias. Quando o espaço é delimitado ele se torna sagrado, e portanto um 
símbolo. 
 
 
 
 2º O rito supõe um mediador 
 
 
 O rito como uma celebração rica de conteúdos e movimentos, necessita de 
um ou mais mediadores. Geralmente as celebrações contam com líderes e uma 
grande organização interna. Quanto mais complexo é o rito, mais complexa é 
sua liderança. Junte-se a isso o tempo de duração, o número de participantes, o 
local escolhido e o horário da celebração ritual. Aqui fica claro a necessidade de 
mediações nos ritos religiosos. 
 
 
 
 
 3º O rito supõe uma doutrina 
 
 
A celebração ritual não elimina o lugar da doutrina, entendida na sua 
expressão latina doceo (ensinar), como elemento norteador e qualificador da 
festa religiosa. 
A doutrina é o corpus de normas que vão ajudar no andamento da 
celebração. Ela é na verdade a Revelação de Deus explicada, aprofundada e 
sistematizada. Junto com o corpus temos a tradição, que é a releitura e 
atualização da mensagem religiosa. 
Ao falarmos da doutrina não podemos deixar de associar a presença forte, 
na celebração, dos mitos e dos símbolos religiosos. Os objetos, vestes, 
pessoas, lugares mostram a presença dos símbolos. O mito se faz presente 
pela leitura de textos sagrados e explicações religiosas durante a celebração. 
Portanto o rito é a expressão gestual da fé religiosa que integra em seu 
corpus celebrante o mito e o símbolo. 
 
 
 
 
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 IV A Práxis 
 
 
“De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? 
Acaso esta fé poderá salvá-lo? Se a um irmão ou a uma irmã faltarem 
roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, 
aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de 
que lhes aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si 
mesma. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé 
sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Crês que há 
um só Deus. Fazes bem. Também os demônios crêem e tremem.” 
 (Tg 2, 14 -19.) 
 
 
 
 
Práxis, do grego praksispraksispraksispraksis, é uma expressão que não se reduz a uma prática. 
Práxis é uma ação consciente, um agir maduro e integrado. A práxis religiosa é 
muito importante por que coloca a religião na realidade e no meio do povo. É 
quando a fé “arregaça as mangas” e vai à luta para transformar o mundo e lutar 
pela justiça. É a ocupação da religião e do fiel com as questões humanas, sociais, 
políticas e de misericórdia. Nesse momento a religião se pergunta pelas questões 
éticas e pela sua missão no mundo. O texto bíblico diz que Jesus Cristo passou 
sua vida fazendo o bem, ou seja em uma ação práxica. 
Se a religião não desenvolve essa práxis ela fica muito platônica e distante 
das grandes questões que afetam a humanidade. Quando um grupo religioso se 
fecha em si mesmo se torna uma seita, uma espécie de “gueto” religioso que leva a 
alienação e fuga do mundo. Essa foi a grande crítica que o sociólogo K. Marx fez a 
religião de sua época. 
A expressão práxica da fé é muito importante e pode usar do mito e do 
símbolo no seu processo de luta e transformação, bem com o rito e sua riqueza 
celebrativa. 
 
 
 
 
 
 
 V A razão 
 
 
 “E dos filhos de Issacar, destros na ciência dos 
tempos, e aptos para saberem o que Israel devia fazer…» 
 (I Crónicas 12:32) 
 
 
 
A razão é expressão da inteligência humana e das capacidades que Deus 
nos deu. Razão vem do latim ratioratioratioratio e remete às capacidades racionais e objetivas 
do conhecimento humano. Nesta quinta e última categoria de interpretação do 
 
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fenômeno religioso nos deparamos com a questão da consciência crítica. 
Perceberemos aqui a importância da reflexão para a fé e para as religiões. A 
experiência judeu-cristã sempre valorizou o estudo e o entendimento dos textos 
sagrados e das experiências. 
O divórcio entre a fé e a razão não se sustenta mais numa época de pós-
Modernidade. Esse divórcio, que chegou ao ateísmo absoluto com Marx, Freud, 
Nietzsche e outros, estava baseado no paradigma mecanicista de Descartes, 
Newton e Galileu no período moderno. Hoje, a partir da teoria da relatividade de 
Einstein e da física quântica de N. Bohr, a ciência não sustenta mais esse 
dualismo. 
Fé e ciência são dois campos distintos e não podem ser confundidos. Cada 
um tem seu método próprio e devem ser respeitados. Mas não precisam ser 
inimigas, podem caminhar na mesma direção e até mesmo se ajudarem. 
O estudo, a teologia e a reflexão são instrumentos legítimos de 
conhecimento de Deus e entendimento de sua vontade. Este estudo não tem a 
pretensão de esgotar Deus ou decifrá-lo. Mas sem elas nós caímos no fideismo, 
que é uma fé bobinha, ingênua e sem plausibilidade. Com posturas de fé como 
essas muitas pessoas são enganadas e manipuladas. Acreditam cegamente no 
líder e esperam uma ação mágica de Deus. Por que Deus nos deu Bilhões de 
neurônios? Por que nos capacitou? Deus não é a inteligência plena? A sabedoria 
do universo? 
 
 
 
 
 Uma conclusão final 
 
 
• Ao final dessa reflexão nos deparamos com cinco categorias de interpretação do 
fenômeno religioso. São elas que “dão conta” de interpretar a mais profunda 
experiência que o ser humano pode fazer, ou seja, a experiência com Deus. As 
cinco categorias estão inter-ligadas e são a base de equilíbrio de uma fé adulta, de 
uma religião madura e séria. O desequilibro está muitas vezes nestas questões 
internas que fazem parte da estrutura de uma religião. Símbolo, mito, rito, práxise 
razão: pilastras que sustentam a complexidade, fragilidade e riqueza de uma 
religião. 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS 
 
 
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Janeiro, Zahar, 1983. 284p. 
 
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RIBEIRO, Camilo de Lelis O. S. Jesus Cristo: quem é este homem?. Revista O 
Paráclito, Dracena-SP: Ed. J. Gráfica, 2002. 
 
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STEPHANO, R. NOVUM TESTAMENTUM: textus graecus. Paris: Ed. Ambrosio 
Firmin Didot, 1863. 
 
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Fontes, 2000.

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