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CAP TULO UM o preco das coisas I 1 DAS VARIAS COISAS que nao consigo entender completamente em minha vida, uma e por que eu pago 0 que pago por uma xicara de cafe. Sou urn bebe dor de cafe razoavelrnente inveterado - fiquei assim quando deixei de fumar pela primeira vez, para preencher 0 espa<;:o deixado por meu vicio anterior. Desde entao, isso se tornou minha Fonte primaria de sustento: meu cafe da manha, meu alrnoco e mitigador de cornpulsoes entre uma coisa e outra. Inumeras possibilidades se apresentam em meu caminho quando faco o trajeto casa-trabalho e vice-versa todos os dias. Tern urn Dunkin' Donuts do outre lado da rua onde eu trabalho, que oferece urn cappuccino por 3,02 dolares, e 0 espresso Illy em meu proprio predio, no 142 andar, urn acima do meu escritorio, que serve cappuccino por 3,50 dolares, A Dean & DeLuca que abriu no saguao do predio vende urn cappuccino demorado mas muito saboroso por 3,27 dolares, Ao longo dos ultimos anos, gravitei de urn modo rnais ou menos alea torio de fornecedor em fornecedor. Embora isso possa parecer algo trivial, I 21 I o PRECO DAS COISAS acho intrigante meu gosto voluvel. Minha escolha de cafe deveria ser em funcao do valor que obtenho pelo meu dinheiro. Mas a equacao nao e 6bvia. Eu deveria mesmo notar as pequenas diferencas de pre<;:o, quantias infimas se comparadas com a renda de que disponho? 0 que mais, alern da qualidade da infusao, entra nos meus calculos? Minha mudanca de Dunkin' para Illy pro vavelmente tinha menos a ver com 0 pre<;:o, ou sabor, do que com 0 reluzente aco escovado da Illy, definitivamente urn passo alern da estetica cor de laranja e rosa de gordura saturada da Dunkin' Donuts. A Illy tambern oferecia a oportunidade de interessantes interacoes sociais dos encontros fortuitos com antigos colegas de outros andares. o mais intrigante de tudo, ha urn vies inegavelmente emocional em minhas prelerencias, que de vez em quando pode constituir urn trunfo sobre qualquer outra consideracao, 0 melhor cafe que tomei em muito tempo vern da minuscula lojinha de tortas da esquina, a meia quadra de minha casa. 0 lugar costumava vender urn cappuccino soberbo pelo pre<;:o inacreditavel de 2,75 d6lares. Eu parava para tomar uma xicara sempre que podia. Entao, urn ou dois anos arras, 0 pre<;:o de repente subiu para 3,50. Isso me deixou tao fu rioso que decidi nunca mais tomar cafe naquele lugar. Nao estou muito certo do motivo pelo qual fiquei tao nervoso. 0 amigavel barista ofereceu explicacoes: estavam mudando para urn cafe pre mium que custava aproximadamente quatro dolares cada 100 gramas; as novas xicaras eram maiores; estavam servindo uma dosagem dobrada - 15 gramas de cafe por xicara. Talvez eu tivesse ficado decepcionado por ver urria pechincha se evaporar. Talvez fosse a sensacao de traicao por descobrir que os jovens indies descolados da lojinha de tortas da esquina podiam tracar estrategias de pre<;:o tao implacaveis quanto a Starbucks. Resmunguei que aluguel, salaries e lucro compoem uma parcela maior do pre<;:o de uma xicara de cafe que 0 custo do cafe que vai ali dentro. Mesmo assirn, minha raiva nao fazia sentido. 0 cafe deles nao custava muito mais do que 0 cafe que eu comprava em qualquer outro lugar. E 0 sabor era muito melhor. Havia algo de irracional no boicote. Felizmente, eu os perdoei. Assim, voltei a tomar cafe da melhor qualidade. A AQUISU;Ao DE bens e services compoe grande parte da vida moderna. Ha comida, roupas, ingressos de cinema, ferias de verao, contas de luz e agua, bo nificacao do seguro hipotecario, combustivel, downloads de i'Iunes, corte de cabelo etc. 0 mercado e 0 lugar em que os pre<;:os adquirem sua definicao mais I 22 I ( direta, determinada I vendedor que espera rotineira da transaca e os precos sao razoa econornica, 0 tango lutarn para chegar a 1 Economistas te do quando abrem su que irao extrair de se) vale 0 seu dinheiro. E dos prindpios fundar longo dos ultimos 25 fundas e abrangentes Mas, como prir porern importante. O~ da humanidade para ( os consomem. Mesmc forma alguma uma int oniscientes dos custos ( cessariamente suprem , acham que querem. Es: vezes nao tern senao UJ que pagam por urn det nor ideia do motivo pel de propensoes nao adn nismos manipulativos c Os pre<;:os nos aj mapa rodoviario das i, suas restricoes nao assu reagem a eles - poder A maioria de no primido sem qualquer acreditar que estarnos s( co interno. Ha alguns a ofTechnology, 0 MIT, revelou uma variante in experirnentar urn novo vez disso. Entao os pesc o PREl;O DE TODAS AS COISAS direta, determinada por uma transacao voluntaria entre urn comprador e urn vendedor que espera se beneficiar do negocio, Porern, a despeito da natureza rotineira da transacao mercantil padrao, as interacoes entre os consumidores e os pre<;:os sao razoavelmente complexas. Este capitulo esobre essa interacao econornica, 0 tango dancado por compradores e vendedores a medida que lutam para chegar a urn acordo. Econornistas tendem a presumir que as pessoas sabem 0 que estao fazen do quando abrem suas carteiras. Que elas sao capazes de estimar 0 beneficio que irao extrair de seja la 0 que estiverem comprando e sabem dizer se aquilo vale 0 seu dinheiro. Edificil exagerar a irnportancia dessa suposicao. Esse eurn dos principios fundamentais sobre os quais a economia classica foi erigida ao longo dos tiltirnos 250 anos. Em geral everdade, e ja rendeu conclus6es pro fundas e abrangentes sobre 0 comportamento humano. Mas, como principio geral, a suposicao eenganadora de urn modo sutil porern importante. Os mercados talvez sejam a mais eficaz instituicao conhecida da humanidade para determinar 0 valor de bens e services para as pessoas que os consomem. Mesmo assim, 0 processo de estabelecimento de pre<;:o nao ede forma alguma uma interacao transparente e direta entre calculadores racionais e oniscientes dos custos e beneficios. Isso porque as transacoes de mercado nao ne cessariamente suprem as pessoas com 0 que elas querem, mas sim com 0 que elas acham que querem. Essas duas coisas nao sao 0 mesmo. Os consumidores muitas vezes nao tern senao uma percepcao muito tenue do motivo pelo qual pagam 0 que pagam por urn determinado objeto de seu desejo.As vezes, nao fazem a me nor ideia do motivo pelo qual 0 objeto edesejavel, Movidos por urn sern-numero de propens6es nao admitidas conscientemente, constituem presa fkil de rneca nismos manipulativos empregados por aqueles que querem lhes vender coisas. Os pre<;:os nos ajudam a preencher essa lacuna cognitiva. Fornecem urn mapa rodoviario das idiossincrasias psicologicas das pessoas, de seus medos, suas restricoes nao assumidas. Os pre<;:os - como sao fixados, como as pessoas reagem a eles - podem nos dizer quem elas de fato sao. A maioria de nos ja ouviu falar do efeito placebo - em que urn com primido sem qualquer propriedade terapeutica alivia urn mal real fazendo-nos acreditar que estamos sendo curados, pondo em acao algum processo psicologi co interno. Ha alguns anos, 0 psicologo Dan Ariely, do Massachusetts Institute ofTechnology, 0 MIT, e alguns colegas seus realizaram urn experimento que revelou uma variante interessante. Disseram a urn grupo de alunos que eles iam experimentar urn novo tipo de analgesico, mas eles receberam urn placebo, em vez disso. Entao os pesquisadores inventaram urn pre<;:o para 0 placebo. Os in- I 23 I o PRECO DAS COISAS dividuos informados de que a pilula custava 2,50 dolares relataram uma redu ~ao da dor muito mais eficaz do que os que foram informados de que os com primidos haviam custado uma ninharia, com 0 pre~o a granel de dez centavos. Considere uma dancarina erotica. Luxuria e uma explicacao razoavel para a popularidade do service,quase 0 mais proximo que se pode chegar legal mente de pagar por sexo fora do estado de Nevada. Porern, aparentemente, ha gradacoes ocultas de desejo que modulam nossa predisposicao a pagar. Em uma exploracao da cena dos "clubes para cavalheiros", psicologos da Universidade do Novo Mexico descobriram que dancarinas eroticas que nao estavarn toman do pilula conseguiam mais dinheiro na fase mais ferril de seu ciclo menstrual. As dancarinas nao podem cobrar explicitamente pelo que fazem porque isso lhes traria problemas com a lei contra oferecer services sexuais. Em vez disso, elas dependem de "gorjetas", geralmente incentivadas pela presen~a de le6es de chacara enormes e musculosos. Nos clubes de Albuquerque, segundo o estudo, a media de gorjeta para uma danca de tres minutos e de cerca de 14 dolares. Talvez as dancarinas soltem urn odor mais excitante quando estao no auge de sua ferrilidade. Talvez mexam seus quadris mais entusiasticamente ou sussurrem bobagens mais sedutoras. 0 fato e que as dancarinas que nao estao usando pilula anticoncepcional faziam 354 dolares por noire quando estavam em seu periodo mais fertil, cerca de noventa dolares a mais do que nos dez dias antes da menstruacao e cerca de 170 mais do que durante a menstruacao, As dancarinas tomando pilula tiravam tnenos dinheiro do que as dernais, e seus ganhos eram muito menos sensiveis ao ciclo menstrual. Mas talvez a descoberta mais interessante seja de que nem as dancarinas nern os clientes tenham a menor ideia sobre 0 efeito do ciclo menstrual na quantidade de di nheiro envolvida. Tudo acontece abaixo do radar. AS TENDENCIAS DE consumo de meu filho de 6 anos sao determinadas pelo personagem ficcional do rotulo ou embalagem, independenremenre de pre~o, sabor, textura ou ate finalidade do item cobicado, A seu pedido, ja comprei xampu do Dr. Seuss, escovas de dente do Hornem-Aranha e pasta de dente da Cinderela, Suas preferencias de iogurte se alternam entre Dora, a Aventureira, e Bob Esponja. Seus gostos nao sao exclusivos. Urn estudo conduzido pelas pessoas que fazem a Vila Sesame descobriu que criancas pequenas solicitadas a escolher entre chocolate e brocolis tern duas vezes maior probabilidade de optar pela verdura quando esta vern com urn adesivo do Elmo. I 24 I F Seria de se esper; a extravagancias ainda o fericos por coisas de va economizar vinte dolar dolares num cornputac ambas as a~6es custam da cidade. E, ao contra] menos com 0 custo da prar determinada coisa Escolher urn yin: atributos fisicos com un em que medida projeta <;:as agradaveis de ferias por urn vinho frances d mesma variedade de uv da Italia no rotulo pode Os economistas sempre irao preferir a ( de uma garrafa se lhe sabendo que custou de nios no cortex orbitofr prazerosas. Urn vinho sem F cos e de vinhos se junt cos para estudar os resi 1,65 dolar a 150 dolan do pre~o, as pessoas p os enologos testados se sobre vinhos mais fine . vinho que custa dez vc apenas sete pontos acr As vezes, as pes para provar que podei de 150 dolares 0 barr anos de Abu Dhabi, e do a placa de carro m numero "1" em urn It prietarios de Rolls Ro o PRECO DE TODAS AS COISAS Seria de se esperar que adultos soubessem 0 que fazem. Mas cedemos a exrravagancias ainda mais extremas, muitas vezes pagando pre<;:os estratos fericos por coisas de valor questionavel, As pessoas atravessam a cidade para economizar vinte dolares num sueter de cern, mas nao para economizar vinte dolares num computador de mil, uma decisao estranha considerando-se que ambas as acoes custam a mesma coisa: vinte dolares para se locomover atraves da cidade. E, ao contrario do meu filho de 6 anos, que nao poderia se importar menos com 0 custo da pasta de dentes, talvez eu me predisponha mais a com prar determinada coisa se ela for cara do que algo que seja barato. Escolher urn vinho e urn exerdcio que combina sabor, buque e outros atributos flsicos com urn leque de qualidades diflceis de mensurar - desde saber em que medida projeta para nos uma boa autoimagem ate se nos evoca lembran <;:as agradiveis de ferias que passamos na Europa. as americanos pagam mais por urn vinho frances do que por urn argentino de qualidade semelhante, com a mesma variedade de uva e do mesmo ano. Simplesmente estampar urn Produto da Italia no rotulo pode elevar 0 pre<;:o de uma garrafa em mais de 50%. Os economistas irao the dizer que, se outras coisas sao iguais, as pessoas sempre irao preferir a opcao mais barata. Mas quem aprecia vinhos gosta mais de uma garrafa se the disserem que custa noventa dolares do que se ficarem sabendo que custou dez. A crenca de que 0 vinho e mais caro aciona os neuro nios no cortex orbitofrontal medial, uma area do cerebro associada a sensacoes prazerosas. Urn vinho sem pre<;:o nao tern esse efeito. Em 2008, crfticos gastronomi cos e de vinhos se juntaram a urn estatistico de Yale e alguns economistas sue cos para estudar os resultados de milhares de testes cegos de vinhos que iam de 1,65 dolar a 150 dolares a garrafa. Eles descobriram que, se nao sao informadas do pre<;:o, as pessoas preferem urn vinho mais barato as garrafas mais caras. }<i os enologos testados seguiram de fato a direcao esperada: sua preferencia recafa sobre vinhos mais finos e caros. Mas a tendencia era quase impercepdvel. Um> vinho que custa dez vezes mais do que outro era classificado pelos especialistas apenas sete pontos acima numa escala de urn a cern. As vezes, as pessoas pagam valores estratosfericos por coisas inocuas so para provar que podem faze-lo. Quando 0 pre<;:o do petroleo subiu para cerca de 150 dolares 0 barril no verao de 2008, Said Khouri, urn ernpresario de 25 anos de Abu Dhabi, entrou para 0 livro Guinness dos recordes por ter compra do a placa de carro mais cara da historia. Khouri pagou 14 milhoes pela placa mimero "1" em urn leilao de licenciamento nacional de placas que atraiu pro prietarios de Rolls Royces e Bentleys de todos os Emirados Arabes. 0 numero I 25 I o PRE<;;O DAS COISAS urn, sem duvida, eurn lindo digito para se ter estampado num pedaco de lata que vai na frente e arras do carro. Mas edificil argumentar que vale a pena pagar pelo numero urn 13.999.905 dolares a mais do que alguern pagaria por uma placa de carro normal. Entretanto, esse comportamento esurpreendentemente comum. Pagar pre<;:os elevados por bobagens imiteis eapenas urn jeito caro de se exibir. Em seu famoso A Teoria da Classe Ociosa, 0 sociologo e economista americano Thorstein Veblen argumentou que os ricos se entregavam ao que chamava de "consumo conspicuo" para sinalizar seu poder e superioridade sobre as demais pessoas. Na decada de 1970, 0 sociologo frances Pierre Bourdieu escreveu que as escolhas esteticas serviam como marcadores sociais dos poderosos para de marcar sua superioridade e distancia-los dos grupos inferiores. A<;:6es na boisa qualquer urn pode comprar. Oligarcas, emires e investidores de hedge fund podem pagar 106,5 milhoes de dolares pelo Nu au plateau de sculpteur de Pi casso, que foi vendido em apenas oito minutos e seis segundos em urn leilao de Nova York em maio de 2010. Se Said Khouri tivesse pagado 92 dolares para emplacar seu carro, seria apenas mais urn. Ao longo das tres ultimas decadas, biologos e psicologos evolucionistas pegaram as ideias de Veblen e Bourdieu e as interpretaram de nova forma. A ideia por tras de gastar somas absurdas em coisas inuteis nao e meramente projetar uma nocao abstrata de poder. 0 gesto serve para sinalizar vigor para potenciais parceiras. Jogar dinheiro fora em luxos sem sentido nao ealgo que deva nos intrigar; euma ferramenta essencial para ajudar nossos genes a passar para a geracao seguinte. A selecao sexual da enorme valor a exibicoes futeis e custosasderecursos. 0 que mais seria a cauda do pavao senao uma sinalizacao de vigor destinado as femeas no mercado de acasalamento? Euma afirmacao de que a ave evigorosa 0 bastante para gastar uma quantidade excessiva de energia em urn enfeite de cores sem sentido. Urn anel de diamante tern prop6sito semelhante. N. W. Ayer, a agencia de publicidade por tras da campanha "Urn Diamante epara Sempre", que ela borou a estrategia de marketing para 0 cartel global de diamantes De Beers nos Estados Unidos, persuadiu a mulher americana a desejar ostentosas aliancas de diamante no casamento, e os homens a comprar para elas, convencendo am bos de que esses caros pedacos de pedra simbolizam sucesso. Eles distribufram grandes diamantes entre estrelas de cinema e plantaram hist6rias em revistas sobre como isso simbolizava amor indestrutfvel. E publicaram arnincios em re vistas de elite retratando pinturas de Picasso, Derain ou Dall, para indicar que os diamantes ocupavam a mesma classe de objetos de luxo. "Urn caro diamante I 26 I o presenteado pode repr, so pessoal e familiar relatorio da N. W Ayc ganham uma alianca C Em 2008, Armi nha, criou a Ultima p para 0 iPhone chamad rna fazia era mostrar u Sua razao de ser era 0 a uma tal banalidade, Mas antes que isso ac que, de faro, eram ric o valor - 0 que 0 co Grecia antiga. Mas 0 ( nomia conrernporane urn questionamento urn pre<;:o natural, jus transacao Fosse feita. 1 Durante toda a camente todos os asp preendiam 0 valor cor gra de aura expressa r outros apenas 0 que ( que 0 cornercio deve a venda do que quer ( No seculo XIII bos virtuosos eram ac quantidade de trabal de que 0 valor ineren sua producao. A Igreja gradu me 0 cornercio e 0 e dogma religioso perd. o PRECO DE TODAS AS COISAS presenteado pode representar urn simbolo mais arnplamente buscado de suces so pessoal e familiar - uma expressao de conquista socioeconomica", dizia urn relatorio da N. W. Ayer na decada de 1950. Hoje, 84% das noivas americanas ganham uma alianca de diamante, a urn custo estirnado de 3.100 dolares. Em 2008, Armin Heinrich, urn desenvolvedor de softwares na Alerna nha, criou a ultima palavra em produtos Veblen: ele projetou urn aplicativo para 0 iPhone chamado I Am Rich (Eu Sou Rico). A unica coisa que 0 progra rna fazia era mostrar uma pedra preciosa vermelha e brilhante piscando na tela. Sua razao de ser era 0 pre<;:o: 999 dolares. Talvez incomodada com as criticas a uma tal banalidade, a Apple 0 removeu no dia seguinte ao seu lancamento. Mas antes que isso acontecesse, seis pessoas 0 haviam comprado para provar que, de fato, eram ricas. UIV1A HISTORIA DOS PREC;OS o valor - 0 que 0 confere, 0 que significa - tern cativado pensadores desde a Crecia antiga. Mas 0 conceito na epoca era diferente do que assume para a eco nomia conternporanea, Por centenas de anos, a analise do valor cornecou como urn questionamento moral. Aristoteles estava certo de que as coisas tinham urn pre<;:o natural, justo - urn valor inerente que existia antes que qualquer transacao fosse feita. E a justica era territ6rio divino. Durante toda a Idade Media, quando a Igreja Catolica regulava prati camente todos os aspectos da vida economics na Europa, os estudiosos com preendiam 0 valor como uma manifestacao da justica divina. Inspirado pela re gra de ouro expressa nas palavras de sao Mateus, de que devemos fazer para os outros apenas 0 que queremos que facam por n6s, Tomas de Aquino afirmou que 0 comercio deve trazer iguais beneficios para ambas as partes e condenou a venda do que quer que seja por urn valor acima do "real". No seculo XIII, 0 frade dominicano Alberto Magno propos que escam bos virtuosos eram aqueles em que os bens negociados contivessem a mesma quantidade de trabalho e outros custos. Essa ideia foi refinada no principio de que 0 valor inerente dos bens era estabelecido pelo trabalho envolvido em sua producao, A Igreja gradualmente perdeu 0 controle sobre a sociedade confor me 0 comercio e 0 empreendimento privado se expandiram pela Europa. 0 dogma religioso perdeu seu apelo como ferramenta analftica. Mesrno assim, a I 27 I ] o PRECO DAS COISAS propensao aver pre<;:os pelas lentes da justica sobreviveu ao desenvolvimento do capitalismo, tendo uma boa prosperidade no seculo XVIII. Adam Smith e David Ricardo, os dois pensadores mais proerninentes do periodo classico da economia, combateram a ideia de valor inerente, que eles enxergavam como sendo relacionado a quantidade de trabalho dos produtos, distinto do pre<;:o de mercado estabelecido pelas excentricidades da oferta e da procura. Smith, por exemplo, argumentava que 0 valor-trabalho dos produtos equivalia ao que fora necessario para alimentar, vestir, abrigar e educar os trabalhadores que os fabricavam - com algum extra para lhes permitir se reproduzir. Mas essa linha de pensamento ficou pelo caminho. Entre outras coisas, porque nao tinha urn papel reservado ao capital. Lucros eram uma aberracao moral em urn mundo em que 0 unico valor vinha do labor humano. Alern do mais, nao parecia se ajustar ao bom-senso. Na epoca de Ricardo, os crfticos foram duros com a teo ria do valor-trabalho. Alguns apontaram que a unica coisa que tornava 0 vinho envelhecido mais valioso do que 0 novo era 0 tempo em uma adega, nao 0 trabalho. Mas antes que a ideia pudesse morrer, Karl Marx a levou para 0 que parecia ser sua conclusao 16gica. Ele usou a teoria do valor-trabalho como base para a proposicao de que os capitalistas usavam seu poder de alavancagem enquanto donos do rnaquinario e de outros meios de producao para furtar valor de seus trabalhadores. o valor de urn produto, sustentava Marx, emedido por todo 0 trabalho que entrou em sua producao, induindo 0 trabalho usado para fabricar as fer ramentas necessarias, 0 trabalho envolvido nas ferramentas usadas para fazer as ferramentas e assim por diante. Os capitalistas ganhavam dinheiro usurpando parte desse valor - pagando aos trabalhadores apenas 0 suficiente para ga rantir sua subsistencia e guardando 0 restante do valor que eles criavam para si mesmos. Essa linha de pensamento podia facilmente fazer urn pensador se desviar do caminho. Marx conduiu que, a despeito das aparencias, a relacao de valor entre diferentes coisas - seu pre<;:o relativo - nao tinha nada a ver com as propriedades dessas coisas. Antes, era determinada pelo tempo-trabalho que entrava nelas. "E uma relacao social definida entre homens que assume aos seus olhos a forma fantastica de uma relacao entre coisas", escreveu. Isso guarda algo da estranheza distanciada caracterfstica do pensamento mfstico, em que as coisas sao representacoes de algum fenomeno mais pro fundo sob a pele da realidade. Mas nao lanca luz alguma sobre 0 motivo de eu achar urn copo de cerveja gelada tao mais valioso que urn copo de cerveja sem gelo num dia quente. Compro urn pe de alface se seu valor de uso para mim - porque ele ecrocante, fresco e saudavel- emais elevado do que seu I 28 I pre<;:o, ao qual devc aficionado por alfac do que eu paguei pe Nao existe qualquer mercado. Trata-se aj tes de satisfacao COIl Existe urn tru expor os alunos ao doces variados entre sente - 0 que estar mitem que troquem a atribuir urn valor: do que da prirneira sortirnentos segund menos por coisas qu de todo 0 estoque d A percepcao c penetrou lentament valor-trabalho de 1'v ninguern era capaz d que as pessoas volui tern urn custo para: pre<;:o em que sao fo Ele euma quantidac o valor relativo de c os pre<;:os ao seu lug< guias da humanidad Duas pessoas vao se o beneffcio percebid - 0 ganho margina. -cada uma cede na 11 .dotacao de bens do ..' possa entrar no calci o PREC;:O DE TODAS AS COISAS pres:o, aoqual devo me resignar a fim de obte-lo. Mas se algum desesperado aficionado por alfaces me aborda no meio do caminho para oferecer 0 dobro do que eu paguei pela verdura, you vende-Io para a pessoa por esse pres:omaior. Nao existe qualquer relacao misteriosa entre seu valor intrinseco e seu pres:ode mercado. Trata-se apenas de duas pessoas diferentes que extraem graus diferen tes de satisfacao com a degustacao da alface. Existe urn truque interessante que os professores tern usado ha anos para expor os alunos ao poder dessa transacao. Primeiro eles distribuem sacos com doces variados entre seus alunos e lhes perguntam que valor atribuem ao pre sente - 0 que estariam dispostos a pagar por seu sortimento. Depois lhes per mitem que troquem os doces entre si. Ao serem instados outra vez ap6s a troca a atribuir urn valor a sua nova posse, eles invariavelmente dao urn pre<;:o maior do que da primeira vez. Isso porque a negociacao lhes possibilitou montar seus sortimentos segundo suas preferencias, Eles trocaram coisas que valorizavam menos por coisas que valorizavam mais. Ninguern trabalhou, e contudo 0 valor de todo 0 estoque de doces aumentou. A percepcao de que as coisas nao detern urn valor absolute, inerente, penetrou lentamente no pensamento econornico no seculo XIX. A teoria do valor-trabalho de Marx acabou tornando-se irrelevante, na medida em que ninguern era capaz de conceber como seu conceito se relacionava aos pres:osem que as pessoas voluntariamente compravam e vendiam coisas reais. As coisas tern urn custo para serem produzidas, e6bvio. Isso estabelece urn piso para 0 pres:o em que sao fornecidas. Mas 0 valor de urn produto nao mora ai dentro. Ele euma quantidade subjetiva determinada pelo vendedor e pelo comprador. o valor relativo de coisas trocadas eseu pres:o relativo. Essa cornpreensao alcou os pres:os ao seu lugar de direito como indicadores das preferencias humanas e guias da humanidade. DOMAN DO OS PRECOS Duas pessoas vao se predispor a negociar urn produto por outro contanto que o beneficio percebido de possuir mais uma unidade do que elas conseguem - 0 ganho marginal- seja no minimo tanto quanto 0 valor perdido do que cada uma cede na negociacao. Esse ganho, por sua vez, e determinado pela dotacao de bens do comprador: dinheiro, tempo e qualquer outra coisa que possa entrar no calculo da pessoa. Quante mais se tern de uma determinada I 29 I o PREVO DAS COISAS coisa, menos se dara valor a posse de uma a mais. Esse principio simples e a forca organizadora dos mercados, que determina os prec;:os dos bens e services pelo mundo afora. Em urn rnercado, a prioridade dos vendedores e em geral espremer tan to dinheiro quanto possivel dos compradores. Os compradores, por sua vez, tentarao conseguir as coisas que desejam 0 mais barato que for possive!. Todos operam dentro de urn conjunto de restricoes: para os compradores, urn orca menro: para os vendedores, 0 custo de produzir, armazenar, promover e por no mercado seja la 0 que fabricarem. Embora os produtores possam elevar os prec;:os se a demanda de consumo por seu produto crescer mais rapido do que o fornecimento, a demanda de consumo ira minguar a medida que os prec;:os subirem. Acima de tudo, a margem de elevacao de prec;:os dos produtores e restringida pela cornpeticao. Em urn mercado competitive, os consumidores podem seguramente presumir que os prec;:os serao refreados na medida em que produtores rivais competindo pelo habiro dos consumidores forcam-nos a des cer para seu custo marginal, 0 custo de fazer mais uma unidade. No entanto, existem inumeras excecoes a essa dinamica, Para comec;:ar, mercados plenamente cornpetitivos sao raros. Em mercados para novas inven coes, monop6lios legais chamados patentes permitem as companhias cobrar prec;:os mais elevados do que cobrariam em urn ambiente competitive a fim de recuperar 0 custo direto de sua invencao. Monop61ios locais sao comuns pense no vendedor de pipoca dentro do cinema. Mesmo em mercados para pro dutos sem nada de especial, os produtores farao tudo a seu alcance para manter a cornpeticao a uma distancia segura. Uma tatica testada e comprovada econ veneer os consumidores de que seu produto eunico, comparando difamatoria mente os artigos rivais. Outra esegurar consumidores com urn produto barato que, mais tarde fica obvio, s6 funciona combinado a algum artigo de prec;:o mais elevado. Ourra esimplesrnente esconder seus prec;:os da vista dos consumidores. Morivacoes nao reconhecidas mascaram as estirnarivas de valor que go vernam nossas decisoes diarias. Minha mensalidade de 58,65 dolares no New York Sports Club, peno do escrirorio, significa que cada uma das minhas duas idas semanais cusra pouco menos de sere d6lares - urn prec;:o razoavel para urn periodo de duas horas, menos do que eu pagaria para ver urn filme ou fazer urn almoco rapido. Mas ha aqueles que pagariam rnuito mais do que eu por uma sessao de exerdcios na Stairrnaster, Paradoxalmente, talvez, estes nao sao os maniacos pela boa forma. Os preguic;:osos sedenrarios sao os que pagam os prec;:os mais elevados. Isso e porque esrao pagando por mais do que uma malhacao. Estao comprando urn incentivo para 0 comprometimento tambern. I 30 I o I Urn estudo com j mensais por setenta e P mensalistas pagavam rna vezes por mes, em medi de treino. Mesmo assini ajudasse a se manteref\l; ceiro para malhar. .~ Todos os dias nO$1] atencao cuidadosa a talvez parecesse urn com destaque no S1 eram 14,99dolares zentas paginas, e 1 que imprimem fot! 60 Photo Value P papel fotogrsfico.: custam 9,50, o neg6ci· ras baratas e c . comecam a ainda esta 40 de refil de.tinta patentes para: ea ignoranci poder impri So.dee o PREC;O DE TODAS AS COISAS Urn estudo com frequentadores de academias que ofereciam inscricoes mensais por setenta e poucos dolares ou usa avulso por dez descobriu que os mensalistas pagavam mais do que deveriam. Eles frequentavam a academia 4,8 vezes por rnes, em media, pagando desse modo cerca de 17 dolares por sessao de treino. Mesmo assim, 0 fato de estarem matriculados regularmente talvez ajudasse a se manterem saudaveis, proporcionando-lhes urn incentive finan ceiro para malhar. Todos os dias nos comprometemos a comprar bens e services sern prestar atencao cuidadosa ao seu custo. Em 2009, a impressora HP Deskjet 02530 talvez parecesse urn roubo ao pre<;o de 39,99 dolares, Mas 0 preco, exibido com destaque no site da Hp, era quase irrelevante. Os ruimeros mais relevantes eram 14,99 dolares por urn cartucho de tinta preta, que imprime cerca de du zentas paginas, e 19,99 pelo cartucho da colorida, que imprime 165. Para os que imprimem fotos em casa, 0 numero crucial era 21,99 pela prornocao HP 60 Photo Value Pack, urn conjunto de cartuchos e cinquenta folhas padrao de papd fotografico. Na loja Rite-Aid, cinquenta fotos impressas no mesmo dia custam 9,50. o neg6cio de impressoras no mundo depende das vendas de impresso ras baratas e cartuchos caros. Segundo urn estudo da PC "WOrld, as impressoras cornecam a emitir avisos de que a tinta esta acabando quando 0 cartucho ainda esta 40% cheio. Hp, Epson, Canon e outras processaram fornecedores de refil de tinta mais baratos, acusando-os de propaganda enganosa e violacao de patentes para faze-los parar. Mas 0 maior aliado do negociodas impressoras e a ignorancia do consumidor sobre 0 que ele esta realmente pagando para poder imprimir. S6 de entrar nas "propriedades" da impressora e mudar a qualidade da impressao para "rapids' ou "rascunho", 0 consumidor ja esta economizando centenas de dolares por ano. Contudo, poucos consumidores fazem isso. Em bora rnuitas empresas ainda vendam refis de tinta baratos, os cartuchos recarre gados respondem por apenas 10 a 15% do mercado.Isso significa que 90% das impressoes continuam a ser feitas usando uma tinta que, segundo a analise da PC "WOrld, custa 4.731 dolares 0 galao (4,5 litros). Voce poderia perfeitamente estar recarregando seus cartuchos com urn champanhe Krug vintage 1985. 05 CONSUMIDORES TAMBEM podem tracar estrategias incisivas para adequar seus desejos e suas necessidades aos seus orcamenros, Com a alta do pre<;o da gasolina, os motoristas rodaram cerca de 11 bilh6es de quilornetros a rnenos nas I 31 I o PRECO DAS COISAS estradas americanas em janeiro de 2009 do que fizeram urn ano antes, uma re ducao de mais ou menos 35 quilometros pOl'pessoa. Durante uma alta dos pre cos da gasolina entre 2000 e 2005, econornistas da Universidade da California em Berkeley e Yale descobriram que, amedida que 0 pre~o desse combustivel dobrava de 1,50 para 3 dolares, as familias se tornavam compradoras mais cui dadosas, pagando entre 5 e 11% menos para cada item. 0 pre~o tipico pago por uma caixa de cereais em uma grande rede de mercearias da California caiu 5%. A quantidade de frango fresco comprado em prornocao aumentou em 50%. Mas os empresarios estao sempre urn passo afrente. Ninguern compreen de ao certo 0 que levou ao aumento subito dos pre~os dos produtos agricolas em 2007 e 2008. Os analistas costumam mencionar a seca em importantes areas de cultivo, elevando os custos de transporte e os pre~os dos fertilizantes, o desvio do milho e outros cultivos para a producao de combustivel e ate pro porcionando melhorias na dieta de gran des pafses em desenvolvimento, como India e China. Seja qual for a razao, as companhias alimenticias se mostraram notavelmente habeis em proteger suas margens de lucro reduzindo silenciosa mente 0 tamanho de suas porcoes, enquanto 0 pre~o continuava 0 mesmo. A Wrigley's tirou duas unidades de chiclete do sabor Juicy Fruits de 1,09 dolar, A Hershey's encolheu suas barras de chocolate. A General Mills passou a oferecer caixas menores do cereal Cheerios. Entao, quando a recessao chegou, em 2009, e os pre~os dos produtos agricolas comecaram a cair, as empresas recorreram a tatica oposta: dar aos consumidores mais pOl'menos e anunciar com alarde. A Frito-Lay incluiu 20% a mais de Cheetos em cada saco, estampando a embalagem com urn "Ei! Tern 20% a mais de alegria gratis aqui dentro". A French's tentou cornpetir consigo mesma para convencer 0 consumidor de que oferecia urn negocio irrecusavel. Lancou uma bisnaga de 567 gramas de sua mostarda amarela classica pOl' 1,50 dolar a menos do que 0 1,93 dolar pelo que vendia sua bisnaga de 396 gramas. o que realmente doma os pre~os e a existencia de mais de urn produtor no mercado. Se os compradores nao tivessem outra opcao alern dos produtos Frito-Lay, a empresa teria menos incentivo para pOl' mais Cheetos dentro do saquinho e divulgar isso aos quatro ventos. Nao houvesse outras fabricas de doces pOl'af, a Hershey's poderia tel' elevado 0 pre~o de suas barras de chocola te mesmo depois de encolher seu tamanho. Mas 0 pre~o de urn produto deve estar interligado a urn universo povoado pOl' outras marcas de doces e salgadi nhos. Em que medida ele esta ou nao adequado vai determinar seu sucesso no plano geral. Essa e a defesa mais significativa dos consumidores contra 0 poder das corporacoes: a cornpeticao. I 32 I o poder da fonica. Em 1983, AT&T no mercadc uma ligacao transc companhia cobravs do 0 plano interna centavos 0 rninuto, Na Inglaterra ~6es. Mas em 1981 munications, uma vos, e em 1984 ela de 1982, a taxa de u de 2,13 libras ester cada liga~ao abaixo oferece urn rnirnero libras ao meso A competicao de impressoras. as 1 como a HP cornpet ao custo de sua fabri ESP da Kodak sao c - cartuchos de tinta c rezentas paginas, In 'impressao dornesti a conquistar pare NSIDEREMOS 0 (l ccmercado. Steve E que chama de CUJ .._sidade da Califor »de Sandra Kurtz etou 0 primeiro -ioaar com micro .Quando chego ig nao tinha a n maior mirm o PREC;:O DE TODAS AS COISAS o poder da competicao fica muito claro no custo de uma ligacao tele f6nica. Em 1983, pouco depois que 0 governo acabou com 0 monop6lio da AT&T no mercado de telefonia americano, a empresa cobrava 5,15 dolares por uma ligayao transcontinental de dez minutos no periodo diurno. Em 1989, a companhia cobrava 2,50 dolares pela mesma ligayao. Hoje, uma pessoa pagan do 0 plano internacional de 5 dolares mensais pode ligar para Pequim por 11 centavos 0 minuto, e para Londres por oito centavos. Na Inglaterra, foi 0 governo que criou 0 monop6lio sobre as comunica y6es. Mas em 1981, a gestae de Margaret Thatcher perrnitiu aMercury Com munications, uma empresa privada, oferecer services de telefonia competiti vos, e em 1984 ela desmembrou a estatal British Telecom. Em l Q de fevereiro de 1982, a taxa de uma ligayao de tres minutos de Londres para Nova York caiu de 2,13 libras esterlinas para 1,49. Hoje, contanto que 0 usuario mantenha cada ligacao abaixo de uma hora, 0 pacote internacional da British Telecom oferece urn numero ilimitado de ligay6es de Londres para Nova York por 4,99 libras ao meso A competicao pode nos proteger dos preyos descontrolados do mercado de impressoras. Os lucros gordos da tinta supervalorizada permitem a empresas como a HP competir no mercado vendendo impressoras a urn preyo inferior ao custo de sua fabricacao. Outros empregam taticas diferentes, As impressoras ESP da Kodak sao cerca de 30% mais caras do que modelos similares, mas os cartuchos de tinta chegam a custar apenas dez dolares e imprimem cerca de trezentas paginas. Independentemente das taticas variadas, 0 preyo geral para a impressao dornestica deve cair conforme os fabricantes tiverem de competir para conquistar parcelas do mercado. CONSIDEREMOS 0 QUE acontece quando ha pouca ou nenhuma cornpeticao no mercado. Steve Blank, urn ex-ernpresario do Vale do Silicio que da aulas do que chama de customer development (desenvolvimento do cliente) na Uni versidade da California, em Berkeley, costumava contar para seus alunos 0 caso de Sandra Kurtzig, fundadora de uma companhia que na decada de 1970 projetou 0 primeiro software comercial para pequenas empresas capazes de funcionar com microcomputadores, em vez de imensos mainframes. Quando chegou a hora de fazer sua primeira visita como vendedora, Kurtzig nao tinha a menor ideia do que pedir por seu sistema, entao ela men cionou 0 maior numero que achava que uma pessoa racional pagaria: 75 mil dolares. Mas quando 0 comprador anotou 0 numero sem nem piscar, ela se I 33 I o PRECO DAS COISAS deu conta de que cornetera urn erro. "Por ano", acrescentou rapidamente. 0 homem da empresa escreveu isso tarnbern. Apenas quando Kurtzig acrescen tou uma taxa de manutencao de 25% ao ana foi que 0 ernpresario objetou, de modo que ela reduziu isso para 15%. Segundo Steve Blank, 0 comprador da empresa disse "Ok". Sandra Kurtzig pode fazer isso porque estava oferecendo urn service unico numa industria especializada e com poucos competidores, e assim teve enorme liberdade para fixar seus prec;:os. Mas onde existem muitos rivais e impossivel atingir esse nfvel de poder de mercado, A mera arneaca de cornpeticao pode levar as empresas a reagir. De faro, durante muitos anos, 0 ru mor de que a Southwest Airways inauguraria voos para determinados destinos induziria as companhias aereas a baixar os prec;:os da rota em questao, numa medida preventiva contra a eventual perda de clientes. o Walmart levou os supermercados ao desespero quando expandiu sua atuacao para 0 setor alimenticio em 1988, ofertando prec;:os de 15 a 25% mais baixos do que seus competidores. Segundo urn estudo, a abertura de urn Walmart Supercenter levava as vendas de outros comercios da regiao a diminuir em 17%, em media,provocando uma queda de 250 mil dolares por rnes em seus faturamentos. Para continuar funcionando, os rivais logo tiveram de seguir 0 exemplo. Urn estudo dos prec;:os de varejo em 165 cidades norte-arnericanas entre 1982 e 2002 revelou que a inauguracao de urn novo Walmart a lange prazo forcava os rivais na area a baixar prec;:os de produtos como aspirina, xampu e pasta de dente em 7 a 13%. Como a maio ria dos neg6cios, 0 Walmart corta prec;:os apenas quando ha compericao por perto. Urn estudo revelou que a rede cobrava cerca de 6% a mais em Franklin, Tennessee, onde nao havia praticamente nenhum com petidor, do que em Nashville, onde tinha de cornpetir com 0 rival Kmart. Os criticos argumentam que 0 Walmart destroi as comunidades, forcando os vendedores locais a fechar as portas. A implacavel politica de produtos mais baratos da rede tern levado muitos fornecedores a recorrer aos baixos custos da China, contribuindo para 0 declinio das fabricas nos Estados Unidos. Mesmo assim, a competitividade do Walmart definitivamente beneficia os americanos em sua condicao de consumidores. 0 impacto tern sido tao poderoso que, se gundo urn estudo,o Departamento de Cornercio inclui no calculo da inflacao americana cerca de 15% a mais porque a amostragem utilizada nao inclui os prec;:os baixos dos produtos alimenticios do Walmart. I 34 I o PREC;:O DE TODAS AS COISAS MAI\JTENDO A COMPETICAo A DISTANCIA Em 2005, os fabricantes automotivos de Detroit - General Motors, Ford e Chrysler - utilizaram uma nova tatica para esvaziar seus patios superlotados e reavivar suas combalidas financas. Ofereceram ao publico consumidor uma oportunidade sem precedentes para comprar urn carro pelo mesmo pre<;:o com desconto que em geral reservavam aos empregados. Quando a GM lancou seu programa "Employee Discount for Everyone" (Desconto de funcionario para todo mundo), em junho, as vendas saltaram em 40%. Quando a Chrysler Ian cou seu "Employee Pricing Plus", em julho, passou a vender mais autornoveis do que nunca. Mas a urn exame mais deride, as prornocoes nao eram urn negocio assim tao born. Urn estudo conduzido por economistas da Universidade da Cali fornia, em Berkeley, e do Massachusetts Institute of Technology revelou que muitos carros podiam ter sido comprados por menos antes que 0 programa de desconto de empregados Fosse lancado. Para a maioria dos modelos da GM e da Chrysler, e uma parcela substancial de vefculos da Ford, os clientes pagavam mais nas duas semanas da promocao do que teriam pagado nas duas semanas precedentes ao lancamento. Eles simplesmente eram informados de que esta yam diante de uma pechincha e acreditavam piamente. Se a competicao e0 melhor amigo do consumidor, a estrategia de con tra-ataque favorita das empresas e manter os consumidores desinformados sobre onde podem conseguir 0 negocio mais vantajoso. Ao contrario da uto pia competitiva descrita nos modelos econornicos, em que os consumidores podem comparar sem esforco produtos que competem entre si a fim de fazer sua escolha, 0 mundo real esta assolado pelo que 0 premio Nobel George Stigler chamou de search cost- isto e, 0 custo, em tempo e dinheiro, de se encontrar a melhor oportunidade de negocio, Edificil para os consumidores descobrir quanto determinado produto custa em cada ponto da cidade muito menos tudo 0 que esta disponivel na internet. E ainda mais diHcil se os produtos nao forem identicos, Esse e0 ripo de brecha que os ernpresarios sabem explorar. Para muitas empresas, furtar-se a competicao e uma questao de sobre vivencia, Fabricantes de tudo, de carros e chips de computadores a sapatos e aparelhos de teve, vivenciam 0 que e conhecido como retornos de escala crescentes: cada microchip adicional custa menos para ser fabricado do que o precedente. As empresas podem obter materias-primas e partes mais bara- I 35 I a PREC;:O DAS COISAS tas quanto mais as adquirem. Elas tambern dividem 0 custo dos investimen tos em rnaquinario e coisas assim por mais produtos, reduzindo 0 custo por unidade. Essa dinamica deixa as empresas diante de urn enigma desafiador: a competicao, quando operando do modo apropriado, derrubaria os pres;os de televisores e microchips incessantemenre ate chegarem a uma margem apenas ligeiramente acima do que custou 0 ultimo a ser fabricado. Se isso acontecesse, os fabricantes de chips e televisoes iriarn a falencia, Por urn pres;o desses, se riam incapazes de recuperar seus custos. Felizrnente para eles, ha modos de se esquivar em certa medida dos ernbaracos causados pela competicao. Uma das tecnicas rnais conhecidas e tornar dificil para os consumidores perceber onde podem conseguir a maior valorizacao para seu dinheiro. No supermercado Fairway no Brooklyn, onde levo meu filho para fazer compras nos fins de semana, a cara secao de organicos e separada de tudo 0 mais, para evitar que urn comprador consciente dos pres;os decida levar 0 ce real comum mais barato dessa vez. Itens sernelhantes ficam estrategicamente dispostos longe uns dos outros no vasto espas;o, desencorajando comparacoes de pres;o. Ha urn queijo fresco todo especial no meu caminho quando entro e variedades embaladas baratas quando saio. Ha pelo menos duas secoes diferen tes de frios e azeite de oliva. Molhos prontos para massa de diferentes marcas parecem estar espalhados por toda a loja. Ate as frutas sao separadas. Liquidacoes e rernarcacoes frequentes tambern servem como ferramentas para impedir os fregueses de atinar onde a caixa de cereal mais barata e vendida. Em Israel, urn estudo conduzido de 1993 a 1996 com quatro produtos similares vendidos numa serie de lojas detectou enorme variacao de pres;os. Nao era apenas que a mesma lata de cafe ou saco de farinha custava mais do que 0 dobro tanto no estabelecimento mais caro como no mais barato; 0 produto nem sempre era mais barato na mesma loja. Os comerciantes ficavam mudando os pres;os cons tantemente para manter os compradores desnorteados. Ate mesmo a internet, uma tecnologia que em principio deveria dar mais poder ao consumidor do seculo XXI, possibilitando-Ihe comparar pre s;os no mundo todo com urn clique do mouse, e capaz de confundir a cabeca do cliente. Lojas virtuais que vendem chips de computador costumam em baralhar as descricoes dos produtos e oferecer dezenas de vers6es diferentes para dificultar qualquer comparacao na hora da compra. Adicionam enormes custos de envio e de manuseio ocultos, cercam os produtos com urn enxame de amincios que precisam ser tirados da frente e oferecern produtos de baixa qualidade para atrair os consumidores aos seus sites e, uma vez la, leva-los a pagar por atualizacoes. I 36 I o PRECO DE TODAS AS COISAS Alguns vendedores descobriram ate como tapear os sites de cornparacao de pre<;:o usados pelas ferramentas de busca para fazer corn que pensem que estao dando 0 produto de gra<;:a e apare<;:am no tapo da lista de itens, Ern vez de incentivar a transparencia, a internet tern encorajado os vendedores a tap ear. Qualquer urn que ofereca urn produro decente por urn pre<;:o justo ficaria en terrado sob uma pilha de ofertas superespeciais "imperdlveis" feitas por seus concorremes nao tao honrados. APROCURA DE TOLOS A tatica infalivel para identificar e fisgar 0 cliente mais rnao-aberta num dado grupo de pessoas continua a ser 0 leilao. Leiloes sao pensados para encontrar o consumidor que atribuiu 0 maior valor a seja la qual for 0 item que esta sendo leiloado. Daniel Kahneman, 0 psic6logo israelense que ganhou 0 pre mio Nobel de economia por pesquisar as idiossincrasias comportamentais capazes de desencaminhar nossa capacidade de avaliacao econornica, chamou os leiloes de "procura por tolos". E por isso que os vendedores os adoram, mas os compradores nao. Urna pesquisa de 2006 corn firmas de privateequity descobriu que 90% delas preferiam evitar leiloes quando estavarn compran do uma empresa, mas de 80 a 90% eram a favor deles quando estavam ven dendo uma. 0 lendario investidor americano Warren Buffett nunca omite a advertencia no relat6rio anual da Berkshire Hathaway: "Nao participamos de leiloes." Nao que necessariamente sejam urn neg6cio ruim para os compradores. Mas realizar a compra ern urn leilao pode ser algo traicoeiro quando 0 valor do que esta sendo vendido e desconhecido. Por exemplo, considere urn leilao do governo pelo direito de explorar as ondas do ar ou perfurar po<;:os petroliferos. Se todos os licirantes sabem 0 que estao fazendo, as chances sao de que 0 lance rnedio reflita 0 valor ern que a companhia petrolifera ou a empresa de teleco municacoes media seja capaz de explorar lucrativamente os direitos. Mas isso significa que 0 lance vencedor - que necessariamente sera acima da media - tera excedido esse valor. Se esse e 0 caso, as probabilidades sao altas de que o vencedor perdera dinheiro. E por isso que 0 fenorneno e conhecido como maldicao do vencedor. o leilao, contudo, nao e a unica tecnica disponivel para servir de engodo a consumidores perdularios. Na verdade, as corporacoes tern inumeros modos I 37 I o PREC;O DAS COISAS sutis e elegantes de segrega-Ios segundo sua predisposicao a abrir as carteiras e ser utilizada para extorquir urn pre<;o mais elevado dos que mais valorizam seus itens. custos de tempo. Considerernos, por urn momento, 0 modo como as pessoas compram. Segundo urn estudo realizado entre compradores de Denver, familias com ren dimento superior a 70 mil d6lares por ano pagam 5% a mais pelo mesmo AS PESSOAS DIFEI grupo de produtos do que familias com renda inferior a 30 mil. Solteiros sem sas tentam se valet filhos pagam 10% a menos do que familias com cinco membros ou mais. Fa midores possfvel, e rnflias chefiadas por pessoas na faixa dos 40 e poucos anos pagam ate 8% a mais Examinando 0 gui do que familias chefiadas por pessoas na faixa dos 20 e poucos ou quase 60. dois economisrasd Aposentados sao compradores muito mais cuidadosos do que gente de rneia r. ou como sendo ~ -idade, Eles procuram cuidadosamente 0 melhor neg6cio e acabam pagando '.mais.pelos aperi~1 quase a mesma quantia pelo mesmo produto. Pessoas de meia-idade, por outro ge,seu. prato pJ:in.,~ lado, compram com mais cuidado. Desse modo, os pre<;os que pagam figuram ~;!r:lrealizar.~~ em todos os pontos do levantamento. ':QJato;;.de\' Esses padr6es surgem por causa das diferencas de valor que as pessoas atribuem ao seu tempo e dinheiro. Tempo e relativamente mais valioso para os ricos, que ja possuem dinheiro, do que para os pobres, que nao 0 tern. Urn faxineiro em Nova York ganhando 11 d6lares por hora preferira receber vinte d6lares de horas extras a desfrutar de horas de lazer. Urn advogado que ganha quinhentos d6lares a hora, por outro lado, provavelmente escolheria 0 tempo livre. Isso afeta 0 modo como cada urn deles faz compras. 0 advogado sera 0 menos inclinado a perder horas comparando pre<;os, e em vez disso comprara 0 primeiro item que vir pela frente. 0 faxineiro, por sua vez, sera mais pJ;openso a recortar cupons, bater perna pelas lojas e procurar as melhores ofertas. o valor de nosso tempo tambern cresce com a idade. Isso porque os salaries aumentam conforme progredimos em nossas carreiras, adquirimos especializacao e conquistamos tempo de service. 0 numero de horas no dia, por outro lado, nao cresce. Como qualquer pai ou mae ira admitir, 0 tempo na verdade encolhe quando chegam as criancas cornpetindo por atencao com as tarefas da casa, as idas as compras e 0 trabalho. A escassez de tempo e mais crfrica por volta dos 45 anos, quando os salaries e as responsabilidades com 0 trabalho atingem seu pico enquanto as familias ainda tern criancas morando na casa. As empresas exploram essas diferencas. Elas carregam mais no pre<;o da cesta basica nos supermercados dos bairros ricos do que nos que sao frequen tados por farnilias de baixa renda. Descontos e cupons lhes permitem vender o mesmo produro por dois pre<;os diferentes - urn para 0 pobre que recorta cupons e outro para 0 rico que nao poderia se importar menos. A tecnica pode I 38 I o PREc;O DE TODAS AS COISAS ser utilizada para discriminar entre todos os tipos de pessoas com diferentes custos de tempo. AS PESSOAS DIFEREM em aspectos que vao alern de idade e riqueza. As empre sas tentarn se valer disso para vender seus produtos para 0 maximo de consu midores possfvel, extraindo deles 0 pre«;:o maximo que estao dispostos a pagar. Examinando 0 guia de restaurante Zagat de 2008 para a cidade de Nova York, dois economistas descobriram que restaurantes classificados como rornanticos ou como sendo urn born ponto de encontro de solteiros cobravam ate 6,9% a mais pelos aperitivos e ate 14,5% a mais nas sobremesas, em relacao ao custo de seu prato principal, do que restaurantes classificados como bons lugares para realizar almocos de neg6cios. 0 motivo, presumiram, podia rnuito bern ser 0 fato de que os casais - se gostassem urn do outro - permaneceriam por mais tempo e pediriam urn aperitivo, talvez uma sobremesa. Seria falta de romantismo de qualquer lado reclamar do pre«;:o. De modo que 0 restaurante podia cobrar relativamente mais por esses itens "rornanticos" no cardapio. A tecnica - chamada, apropriadamente, "discrirninacao de preco" esta disseminada. Que outra coisa representa 0 desconto de estudante na livra ria, ou 0 ingresso mais barato das marines na Broadway? Os livros sao publi cados em caras edicoes de capa dura meses antes da edicao de brochura para capitalizar em cima dos que nao podem esperar para ler 0 titulo e irao pagar mais para te-lo mais rapido, A Apple lancou urn iPhone de oito gigabytes por 599 d6lares em junho de 2007, a fim de capturar os primeiros entusiastas, que pagariam qualquer coisa para estar entre os primeiros a ter urn. Dois meses mais tarde 0 pre«;:o caiu para 399 dolares. As companhias aereas sao mestres em vender lugares em urn aviao a pre cos muito diferentes. Elas aperfeicoaram suas tecnicas ao longo de mais de trinta anos tentando lotar voos que custam a mesma coisa para operar estando cheios ou vazios. Em 1977, a American Airlines foi a primeira empresa a tentar o estratagema, oferecendo passagens "Super Saver" mais baratas que exigiam compra com antecedencia e uma estada minima de sere dias ou mais para seduzir passageiros atentos a precos e que viajavam a lazer. A variacao nos pre cos explodiu apos a desregularnentacao das tarifas aereas em 1978, disparando uma intensa competicao conforme as companhias faziam de tudo para ocupar o maximo possivel de lugares em seus avi6es. Durante urn quarto de seculo, a tecnica mais famosa foi a regra da estada no sabado anoite, usada para separar turistas atentos a pre«;:os de homens de negocios com dinheiro para gastar na I 39 I o PRE~O DAS COISAS passagem e que pagariam qualquer coisa para chegar em casa antes do fim de semana. Arualmente, as companhias aereas tern ate vinte diferentes pre<;os para lugares em urn mesmo voo, dependendo de quando e onde a passagem foi com prada, 0 tempo de duracao da viagem e um sem-numero de outras varia veis. Passagens com restricoes nos dias de viajar custam cerca de 30% a menos do que passagens sem restricao alguma. Pessoas que compram sua passagem com menos de uma semana de antecedencia pagam 26% mais do que aqueles que a compram com pelo menos tres semanas antes do tempo. Passageiros que providenciam estada para 0 sabado anoite pagam 13% a menos. Euma tatica lucrativa. Um escudo entre milhares de musicais de 1992 a 2005 revelou que shows oferecendo diferentes pre<;os de ingressos para diferen tes secoes obtinharn um lucro 5% maior do que os que nao0 faziam, atraindo urn mix de fas mais lucrativo com ingressos baratos nas piores areas, no alto, e lugares caros nas fileiras da frente. A discrirninacao funciona melhor em cida des mais ricas e para artistas mais velhos, pois estes cultivam urn publico mais diversificado: fas mais velhos e mais abonados que acompanham a banda desde o infcio e jovens interessados em ver uma banda de dinossauros, contanto que os ingressos nao sejam caros. Hoje essa e a norma: em 1992, mais da metade dos shows vendia todos os lugares pelo mesmo pre<;o. Em 2005, apenas cerca de 10% fizeram isso. Alguns esquemas para tirar 0 dinheiro dos consumidores de acordo com sua predisposicao a pagar nao funcionam. No fim da decada de 1990, a Coca -Cola criou uma maquina que automaticamente cobraria mais por uma lata de refrigerante nos dias quentes, Mas quando 0 executivo-chefe da empresa, Doug Ivester, revelou 0 projeto em uma entrevista a revista brasileira i7eja, a Coca-Cola foi bombardeada com uma chuva de protestos. 0 Philadelphia Inquirer criticou violentamente a ideia como sendo "a mais nova evidencia de que 0 mundo esta indo para 0 inferno numa cesta de supermercado". Um editorial sobre a novidade no San Francisco Chronicle foi intitulado ''A maquina de extorsao autornatica da Coca". A Pepsi aproveitau a brecha e anunciou que jamais "exploraria' seus consumidores com calor. Ivester defendia 0 plano. Ele disse a i7eja: "E jus to que seja mais caro. A maquina simplesmente vai tamar esse processo autornatico." Mesmo assim, a Coca-Cola descartou a ideia. A internet tende a trazer a discrirninacao de pre<;:o para cada recesso de nossas vidas, Em setembro de 2000, a Amazon.com foi pega oferecendo os mesmos DVDs para clientes diferentes com descontos de 30, 35 e 40% em relacao ao pre<;o sugerido pelo fabricante. A empresa disse que a diferenca de pre<;os se devia a um criterio aleatorio. 0 site negou que segregava clientes I 40 I o PREc;O DE TODAS AS COISAS segundo a sensibilidade deles ao pre~o, 0 que podia ser apreendido a partir de seus hist6ricos de compras registrados nos pedis da Amazon. Mas, desde 0 in cidente, advogados do consumidor tern advertido que as pilhas de inforrnacao privada que as pessoas passam adiante quando realizam buscas, compram e participam de redes sociais na internet vao permitir as empresas fazer a sintonia fina de seus pre~os para se ajustar ao perfil de cada comprador. Alguem menos preocupado com pre~os, por exernplo, receberia vers6es mais caras de artigos no topo da lista de uma ferramenta de busca. Os que estao sempre arras de pechinchas seriam apresentados as alternativas mais baratas antes. A pratica nao emaligna. Empresas inclinadas a economias de escala em setores competitivos muitas vezes dependem disso para elevar seu pre~o medio por unidade de acordo com seu custo medic por unidade. Se vendessem tudo ao pre~o marginal- 0 pre~o que custa para fazer a ultima unidade isolada-, nao seriam capazes de cobrir seus custos fixos e iriam a falencia. E isso pode ser benefico para os consumidores. Se toda Coca Fosse vendida pelo mesmo pre~o, urn consumidor que talvez apreciasse a Coca em urn dia ameno de outono se 0 refrigerante estivesse custando urn pouco menos nao vai cornpra-la, abstendo -se do que, para ele, teria sido uma compra lucrativa. Permitir a Coca-Cola que cobre mais em dias quentes e menos nos dias normais iria possibilitar que mais consumidores se entregassem ao seu gosto por uma Coca. Ainda assim, so a discriminacao de pre~o nao basta para recuperar urn modelo comercial falho. As companhias aereas pravaram que isso sequer ga rante a lucratividade. Com todos os seus esforcos para gerenciar pre~os, a com peticao derrubou as tarifas aereas pela metade desde 1978, para cerca de 4,16 centavos por passageiro por milha, fora impostos. A maior parte das grandes companhias passou algum tempo na falencia, Em termos de lucros operacio nais, a industria como urn todo passou a ultima meia decada, de 2000 a 2009, no vermelho. PROTEJA-NOS DO QUE COMPRAMOS A visao da humanidade como urn grupo de seres racionais capazes de estimar com precisao custos contra beneficios, esforcando-se para maximizar seu bern -estar, permanece imensamente popular entre economistas. Euma crenca fun damental do setor conservador nos Estados Unidos: se compreendemos nossas pr6prias preferencias melhor do que qualquer outre, nao ha motivo para que I 41 I o PRECO DAS COISAS o governo meta 0 nariz em nossas decisoes. Isso carrega poderosas inferencias. Nao podemos ser criticados pelo que escolhemos. Se compramos alguma coisa por determinado pre<;:o, ela deve valer no minimo tanto quanto pagamos por ela. 0 pre<;:o de mercado de qualquer coisa e a melhor aproxirnacao que 0 mun do tem do real valor dessa coisa para a sociedade. Essa crenca nao eva. Ela fornece uma estimativa razoavel de pessoas reais em muitas situacoes, Por exemplo, fornece uma explicacao satisfat6ria para 0 porque de preferirmos coisas que escolhemos a coisas que outras pessoas esco lheram para nos. Joel Waldfogel, economista da Universidade da Pensilvania, pediu a um grupos de alunos da universidade que comparassem 0 valor de pre sentes que ganharam com coisas que haviam comprado para si mesmos. A fim de dispor de um termo de cornparacao para as respostas, ele perguntou qual seria a quantidade minima de dinheiro que pediriam para vender os objetos em questao, Um total de 202 alunos respondeu, fornecendo pre<;:os hipoteti cos para 538 coisas que haviam comprado sozinhos e 1.044 itens que haviam ganhado de presente. Waldfogel descobriu que as pessoas dao um valor cerca de 18% maior ao que compraram, por d6lar gasto, do que ao que ganharam de presente. Como veremos em capftulos subsequentes, 0 modelo da humanidade ra cional e uma ferramenta poderosa para nos ajudar a compreender 0 comporta mento de homens e mulheres em muitas situacoes de vida. Contudo, no frigir dos ovos, a crenca inerente na capacidade de nossas escolhas comunicarem nos sas preferencias e inconsistente com 0 modo como de fato nos comportamos. Como alguns dos exemplos anteriores podem sugerir, as pessoas muitas vezes tomam decisoes sobre pre<;:os e valores que, sob consideracao atenta, sao incon sistentes ou carecem de visao a lange prazo. Mudamos de ideia e deploramos nossas acoes apenas minutos depois. Entregamo-nos deliberadamente a nossas compulsoes, Valorizamos mais 0 que possufrnos do que 0 contrario, Alunos da Universidade Duke, por exemplo, disseram que estariam dispostos a pagar ate 166 dolares, em media, por um ingresso para 0 grande jogo de basquete - quando a Duke era uma das quatro equipes que pode riam ganhar 0 campeonato. Mas os que tinham 0 ingresso disseram que nao o venderiam por menos de 2.411 dolares, Economistas que acreditam na racionalidade humana veem 0 credito como uma ferramenta muito boa para regular 0 consumo em nossas vidas, permitindo que compremos mais quan do ganhamos menos e paguemos mais tarde. 0 restante de nos sabe como cartoes de credito podem ser perigosos. Um estudo revelou que torcedores de basquete de posse de um cartao de credito pagariam ate 0 dobro por ingressos I 42 I para um jogo do I em dinheiro. E muitas veze 1960, 0 ernpresario pOT qualquer garia£ tpdos os seus vinhos ;~teO,79. Ele deix~ o PREC;O DE TODAS AS COISAS para urn jogo do Boston Celtics do que pagariam os que tiveram de pagar em dinheiro. E rnuitas vezes somos simplesmente seduzidos por pre<;:os. Na decada de 1960, 0 ernpresario californiano Dave Gold descobriu que cobrar 0,99 dolar por qualquer garrafa de vinho em sua loja de bebidas aumentava as vendas de todos os seus vinhos, incluindo garrafas que haviam previarnente custado 0,89 .e ate 0,79. Ele deixou 0 neg6cio de bebidas, lancou a cadeia delojas de 0,99 e faturou centenas de rnilhoes. Desde entao, empresas de todo tipo tern usado o chamariz dos 99 centavos na etiqueta de pre<;:o. Steve Jobs revolucionou a industria musical convencendo-nos a pagar 0,99 d6lar por uma cancao. Evi denternente, a cifra nos convence de que estamos obtendo a melhor relacao custo-beneficio, Pesquisando 0 cenario de nossas tomadas de decisao idiossincraticas mais de 15 anos arras, Kahneman, 0 psicologo ganhador do prernio Nobel, sugeriu que 0 governo deveria intervir para refrear nossas tendencias a agir irracional mente. Devemos considerar, escreveu ele, "algumas intervencoes paternalistas, quando e plausrvel que 0 Estado saiba mais sobre os gostos futures do indi viduo do que 0 indivfduo sabe no presente memento". Jenny Holzer, uma artista americana da decada de 1980 que construiu sua reputacao projetando "truismos" inquestionaveis em predios, construldos com letreiros de neon, e estampando-os em carnisetas, abordou essamesma vulnerabilidade humana na superficie reluzente de urn BMW de corrida, gravando nele a Frase "proteja-me do que eu quero". I 43 I
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