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GUIA DE ESTUDO DE DIREITO PREVIDENCIARIO SUMÁRIO 1 GUIA DE ESTUDO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO - Apostila 02_2017 .................. 2 1.1 PROCESSO HISTÓRICO EVOLUTIVO DO SISTEMA DE SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO ........................................................................................................... 2 1.1.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 2 1.1.2 SEGURIDADE SOCIAL - Financiamento ........................................................... 3 1.1.3 A SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO ........................................................... 4 2 GUIA DE ESTUDO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO - Apostila 03_2017 .................. 9 2.1 PROCESSO HISTÓRICO EVOLUTIVO DO SISTEMA DE SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL ............................................................................................................ 9 2.2 Mudanças na Constituição de 1824 relativas à Seguridade Social.. .......................... 10 3 GUIA DE ESTUDO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO - Apostila 04_2017 ................ 15 3.1 Princípios Constitucionais da Seguridade Social ....................................................... 15 3.2 Universalidade da cobertura e atendimento ............................................................... 16 3.2.1 Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais ........................................................................................................................ ............................................................................................................................. 16 3.2.2 Irredutibilidade dos benefícios ............................................................................ 17 3.2.3 Eqüidade na forma da participação no custeio .................................................... 17 3.2.4 Diversidade na base de financiamento ................................................................ 17 3.2.5 Caráter democrático e descentralizado da administração.................................... 17 3.3 Princípios da Previdência Social ................................................................................ 18 3.4 Outras Características da Previdência Social ............................................................. 21 4 GUIA DE ESTUDO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO - Apostila 01_2017 ................ 21 4.1 Introdução: ................................................................................................................. 21 4.2 A Seguridade Social na Constituição de 1988 ........................................................... 22 4.3 Previdência Social ...................................................................................................... 22 4.3.1 Incumbe ao INSS: ............................................................................................... 23 4.4 Saúde ................................................................................................................. 23 4.5 Assistência Social ....................................................................................................... 24 4.5.1 A principal característica da Assistência Social é ser prestada gratuitamente aos necessitados. ........................................................................................................ 26 5 GUIA DE ESTUDO DE DIREITO PREV. I – 7º período _Apostila BPC ...................... 26 5.1 BPC – BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA ASSISTENCIAL ............. 26 2 1 GUIA DE ESTUDO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO - Apostila 02_2017 1.1 PROCESSO HISTÓRICO EVOLUTIVO DO SISTEMA DE SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO 1.1.1 INTRODUÇÃO A seguridade social compreende um conjunto de ações dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar o direito à saúde, à previdência social e à assistência social. No Brasil, a ampliação do conceito de seguridade social surgiu com a Constituição de 1988, conhecida como a Constituição Cidadã. Todos devem ter o direito aos benefícios que ela distribui e o dever de contribuir para manter a solidariedade entre gerações. Foi esse o ideário que orientou as políticas sociais após a Segunda Guerra Mundial nos países mais desenvolvidos e transformou aquelas sociedades em Estados de Bem-Estar Social (welfare state). Uma definição bastante ampla de Welfare- State:“É a mobilização em larga escala do aparelho de Estado em uma sociedade capitalista a fim de executar medidas orientadas diretamente ao bem-estar de sua população.” Importa consignar que esse resultado não foi conseqüência da ação do mercado, mas sim de uma atitude deliberada das sociedades através do apoio à intervenção do Estado. Foi essa sem dúvida a base sobre a qual se assentou o desenvolvimento econômico e social das sociedades mais evoluídas. Para que a Seguridade Social cumpra a sua árdua missão constitucional, dela se espera, como resultado necessário, que se concretize a Justiça Social. Quando se fala em Justiça Social, o que se pretende é nada menos do que a modificação dos diferentes estados de coisas que geram as situações de necessidades amparadas pelos programas da Seguridade Social Justiça social é uma construção moral e política baseada na igualdade de direitos e na solidariedade coletiva. Em termos de desenvolvimento, a justiça social é vista como o cruzamento entre o pilar econômico e o pilar social. O conceito surge em meados do século XIX, referido às situações de desigualdade social, e define a busca de equilíbrio entre partes desiguais, por meio da criação de proteções, a favor dos mais fracos. Para ilustrar o conceito, diz-se que, enquanto a justiça tradicional é cega, a justiça social deve tirar a venda para ver a realidade e compensar as desigualdades que nela se produzem. O conceito surge em meados do século XIX, referido às situações de desigualdade social, e define a busca de equilíbrio entre partes desiguais, por meio da criação de proteções, a favor dos mais fracos.No mesmo sentido, diz-se que, enquanto a chamada justiça comutativa é a que se aplica aos iguais, a justiça social corresponderia à justiça distributiva, aplicando-se aos desiguais. O mais importante teórico contemporâneo da justiça distributiva é o filósofo liberalJohn Rawls. 3 1.1.2 SEGURIDADE SOCIAL - Financiamento Para a manutenção de um sistema de proteção social, a Carta Magna vigente estabeleceu um modelo misto de financiamento, prescrevendo no seu art. 195 que a seguridade social será suportada por toda a sociedade, com recursos provenientes tanto do orçamento fiscal das pessoas políticas como por meio de imposições de contribuições sociais. Logo, o custeio direto da seguridade social deve ser feito com o produto da cobrança das empresas, dos trabalhadores, sobre a receita de concursos de prognósticos e a importação de bens e serviços (EC nº 42/03), ficando o custeio indireto por conta das dotações orçamentárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, reservando ainda à União a competência residual para a regulamentação de novas fontes de custeio. 4 1.1.3 A SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO 1.1.3.1 No Direito Estrangeiro As primeiras manifestações do homem em relação à proteção social remontam na Grécia e Roma antigas. Caracterizavam-se através de instituições de cunho mutualista que tinham o objetivo de prestar assistência aos seus membros, mediante contribuição, de modo a ajudar os mais necessitados. Mútuo vem de mutualismo, que é a solidariedade de grupo de pessoas, na defesa de interesses comuns; organização de indivíduos para formação de recursos destinados à proteção recíproca ou de familiares; socorrosmútuos. A família romana, por meio do pater familias, tinha a obrigação de prestar assistência aos servos e clientes. No período da Idade Média, algumas corporações profissionais criaram seguros sociais para seus membros. São as denominadas corporações de ofício, onde determinados grupos faziam um pecúlio, para resguardarem-se de eventuais contingências. O Primeiro contrato de Seguro: A preocupação do homem com relação a eventuais infortúnios continuou a existir. Para se precaver então, criou-se em 1344 a primeira modalidade de contrato de seguro, celebrando-se então o primeiro seguro marítimo, posteriormente seguido por contratos contra incêndios. 1.1.3.2 A benemerência Assistencialismo fundado na caridade, na benemerência, no altruísmo; Esta forma de seguridade é baseada na noção de caridade onde o Estado traz para si alguma responsabilidade. Em 1601, na Inglaterra, foi editada a Lei dos Pobres ( Poor Relief Act), marco da criação da assistência social, que regulamentou a instituição de auxílios e socorros públicos aos necessitados. Editada na Inglaterra, através da Rainha Elizabeth que era uma simpatizante pela causa dos pobres. Esta lei destinava às paróquias a obrigação de socorrer os infortunados de sua jurisdição. Com fundamento nesta lei, o necessitado tinha o direito de ser auxiliado pela paróquia. Os juízes da Comarca tinham o poder de lançar imposto de caridade, que seria pago por todos os ocupantes e usuários de terras, e nomear inspetores em cada uma das paróquias, visando receber e aplicar o montante arrecadado. 1.1.3.3 Seguridade Social na Alemanha. Período de Formação (1883 - 1918) Na Alemanha, Otto Von Bismark instituiu uma série de seguros sociais destinados aos trabalhadores. Otto Von Bismark foi um nobre, diplomata e político prussiano e uma personalidade internacional de destaque do século XIX.Quando primeiro-ministro do reino da Prússia unificou a Alemanha, depois de uma série de guerras, tornando-se o primeiro chanceler do Império Alemão. Na década de 1880 Bismark após tornar ilegais várias organizações veio a instituir, de forma pragmática, a lei de acidentes de trabalho, o reconhecimento dos sindicatos, o seguro de doença, seguro acidente ou por invalidez entre outras, convencido de que só com a ação do estado na resolução destes problemas, se poderia fazer frente às novas idéias políticas. Em 1883, foi criado o seguro-doença obrigatório para os trabalhadores da indústria, custeado por contribuições dos empregados, empregadores e do Estado. Em 1884, criou-se o seguro de acidente de trabalho com o custeio a cargo dos empregadores. Já em 1889, foi instituído o seguro de invalidez e velhice, custeado pelos trabalhadores, empregadores e Estado. Insta registrar que as leis instituídas por Bismark, que criaram os seguros sociais, foram pioneiras para a criação da previdência social no mundo. Tinham o objetivo de evitar as tensões sociais existentes entre os trabalhadores, através de movimentos socialistas fortalecidos com a crise industrial. 5 1.1.3.4 O papel da Igreja na Seguridade. A Igreja, por seu turno, também teve uma participação nesse processo, preocupando-se com o trabalhador diante das contingências futuras. O curso da História está marcado por profundas transformações e por muitas conquistas do trabalho, mas também pela exploração de incontáveis trabalhadores e pelas ofensas à sua dignidade desde muito tempo. Assim, nos pronunciamentos dos pontífices da época, verificamos especialmente na Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII (1891), a idéia de criação de um sistema de pecúlio ao trabalhador, custeado com parte do salário do mesmo, visando protegê-lo dos riscos sociais. A Incíclica é antes de tudo uma vívida defesa da inalienável da dignidade dos trabalhadores, à qual anexa a importância do direito de propriedade, do princípio de colaboração entre as classes, dos direitos dos fracos e dos pobres, do direito de associação e das obrigações dos trabalhadores e dos empregadores. As orientações expressas na Encíclica reforçam o empenho do ânimo cristão da vida social que se manifestou no nascimento e na consolidação de inúmeras iniciativas, tais como: Uniões e centros de estudos sociais, sindicatos, cooperativas, bancos rurais, sociedades operárias, associações, obras de assistência e seguros sociais. Tudo isso deu um notável impulso à legislação do trabalho, para a melhoria dos salários e da higiene e ainda para a proteção dos trabalhadores, inclusive mulheres e crianças, que tanto sofriam com os efeitos da nova realidade imposta pela revolução industrial. 1.1.3.5 A Revolução industrial A criação da seguridade social, com destaque à previdência social, foi fruto das transformações ocorridas no mundo, em especial com a revolução industrial. 6 Em 1897, na Inglaterra, através do Workmen’s Compensation Act, criou-se o seguro obrigatório contra acidentes de trabalho, sendo o empregador responsável pelo sinistro, independentemente de culpa, consolidando o princípio da responsabilidade objetiva da empresa. Em 1907, foi instituído o sistema de assistência à velhice e acidentes de trabalho. Em 1908, criou-se o Old Age Pensions Act, com o objetivo de conceder pensões aos maiores de 70 anos, independentemente de contribuição. Em 1911, através do National Insurance Act, estabeleceu-se um sistema compulsório de contribuições sociais, que ficavam a cargo do empregador, empregados e do Estado. Como se observa, a criação da seguridade social, com destaque à previdência social, foi fruto das transformações ocorridas no mundo, em especial com a revolução industrial. 1.1.3.6 O Constitucionalismo Social Posteriormente, passamos a uma nova fase, denominada de constitucionalismo social. Foi nesta fase em que as Constituições dos países começam a tratar dos direitos sociais, trabalhistas e previdenciários. A primeira Constituição a incluir a previdência social no seu bojo foi a do México, de 1917 (art. 123). Em seguida, tivemos a alemã de Weimar, de 1919 (art. 163), que determinou ao Estado o dever de prover a subsistência do cidadão alemão, caso não possa proporcionar-lhe a oportunidade de ganhar a vida com um trabalho produtivo. 1.1.3.7 A OIT e a Proteção Social A Organização Internacional do Trabalho (OIT), criada em 1919, pelo Tratado de Versalhes. Tal órgão passou a evidenciar a necessidade de um programa sobre Previdência Social, aprovando-o em 1921. Várias Convenções posteriores da OIT vieram tratar da matéria previdenciária como a de n.º 12, sobre acidentes de Trabalho na Agricultura, de 1921. A Convenção de n.º 17 de 1927, tratou sobre indenização por acidente de trabalho. 7 Em sua convenção n.º 102, aprovada em Genebra em 1952, traduzia os anseios e propósitos no campo da proteção social, comuns às populações dos numerosos países que a integram. Dispõe o citado diploma: "Seguridade Social é a proteção que a sociedade proporciona a seus membros, mediante uma série de medidas públicas contra as privações econômicas e sociais que de outra forma, derivam do desaparecimento ou em forte redução de sua subsistência como conseqüência de enfermidade, maternidade, acidente de trabalho ou enfermidade profissional, desemprego, invalidez, velhice, e também a proteção em forma de assistência médica e ajuda às famílias com filhos". Além destas citadas, várias outras convenções da OIT existem sobre a matéria: 24, 35, 37, 38, 39, 40, 123, 128, 130 e 134. Mais tarde a Comunidade Econômica Européia do Carvão e do Aço unificou o tratamento previdenciário para os países que a compõem. 1.1.3.8 O Constitucionalismo Social nos EUA Nos Estados Unidos, Franklin Roosevelt instituiu o New Deal, através da doutrina do Estadodo Bem-Estar Social (Welfare State), visando resolver a crise econômica que assolava o país desde 1929. Nos Estados Unidos, Franklin Roosevelt instituiu o New Deal, através da doutrina do Estado do bem-estar social (Welfare State), visando resolver a crise econômica que assolava o país desde 1929. Objetivava a luta contra a miséria e a defesa dos mais necessitados, em especial os idosos e desempregados. 1.1.3.9 Em 1935, nos EUA foi instituído o Social Security Act, destinado a ajudar os idosos e a estimular o consumo, bem como o auxílio- desemprego aos trabalhadores desempregados. 8 Na Inglaterra, o Plano Beveridge (1941), reformado em 1946, elaborado pelo Lord Beveridge, tinha como objetivo constituir um sistema de seguro social que garantisse ao indivíduo proteção diante de certas contingências sociais, tais como a indingência ou incapacidade laborativa. A segurança social deveria ser prestada do berço ao túmulo (Social security from the cradle to the grave). O Plano Beveridge tinha como características: a) unificar os seguros sociais existentes; b) estabelecer a universalidade de proteção social para todos os cidadãos; c) igualdade de proteção social; d) tríplice forma de custeio, com predominância de custeio estatal. 1.1.3.10 Em 1948 - A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, prescrevia, entre outros direitos fundamentais da pessoa humana, a proteção previdenciária. O art. 85 do citado diploma determinava que "todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar social, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, o direito à segurança2 no caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle". 1.1.3.11 Pactos realizados na defesa da Seguridade Social Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966); Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica – 1969); Protocolo de São Salvador (1988); 1.1.3.12 Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966) Os Estados Partes no respectivo pacto, fazemum acordo baseado nos princípios enunciados na Carta das Nações Unidas, que reconhecem a dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis buscando alcançar a liberdade, a justiça e a paz no Mundo. Assim, o previsto também na Declaração Universal dos Direitos do Homem, que prevê que o ideal do ser humano é ser livre, liberto do medo e da miséria, e que devem ser criadas condições que permitam a cada um desfrutar dos seus direitos no âmbito econômico, social e cultural, e tendo ainda garantidos seus direitos civis e políticos. O Pacto é então um chamado no sentido de que todas as nações possam se esforçar pela promoção e o respeito dos direitos nele reconhecidos. Artigo 9.º: Os Estados Partes no presente Pacto reconhecem o direito de todas as pessoas à segurança social, incluindo os seguros sociais. Artigo 10.º:Os Estados Partes no presente Pacto reconhecem que: Uma proteção e uma assistência mais amplas possíveis serão proporcionadas á família, que é o núcleo elementar natural e fundamental da sociedade, particularmente com vista à sua formação e no tempo durante o qual ela tem a responsabilidade de criar e educar os filhos. Uma proteção especial deve ser dada às mães durante um período de tempo razoável antes e depois do nascimento das crianças. Durante este mesmo período as mães trabalhadoras devem beneficiar de licença paga ou de licença acompanhada de serviços de segurança social adequados. Medidas especiais de proteção e de assistência devem ser tomadas em benefício de todas as crianças e adolescentes, sem discriminação alguma derivada de razões de paternidade ou outras. Crianças e adolescentes devem ser protegidos contra a exploração econômica e social. O seu emprego em trabalhos de natureza a comprometer a sua moral ou a sua saúde, capazes de pôr em perigo a sua vida, ou de prejudicar o seu desenvolvimento normal deve ser sujeito à sanção da lei. Os Estados devem também fixar os limites de idade abaixo dos quais o emprego de mão-de-obra infantil será interdito e sujeito às sanções da lei. 9 1.1.3.13 Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica – 1969) Os Estados Americanos signatários desta Convenção reafirmam seu propósito de consolidar no continente americano, um regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito dos direitos humanos essenciais; Reconhecem que os direitos essenciais da pessoa humana não derivam do fato de ser ela nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma proteção internacional; Esses princípios foram consagrados na Carta da Organização dos Estados Americanos, na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração Universal dos Direitos do Homem, e foram reafirmados e desenvolvidos em outros instrumentos internacionais, tanto de âmbito mundial como regional e visam acima de tudo garantias incondicionais para os homens e cidadãos. Nela há praticamente todos os incisos do artigo 5º que vieram a ser garantidos posteriormente na CRFB/88. Há a proibição da pena de morte, da escravidão, garantia do direito a vida, a garantias judiciais, direito a indenização, liberdade de religião e de pensamento. Há também a garantia de associação, de propriedade, direito ao nome, circulação e residência, direitos políticos, proteção à família, à criança, direito ao trabalho e a condições dignas de trabalho, entre outras várias. “PROTOCOLO DE SAN SALVADOR”PROTOCOLO ADICIONAL À CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS. Neste protocolo os Estados Partes do “Pacto de San José da Costa Rica”, reafirmam seus propósitos anteriores e aumentam a proteção de direitos. Artigo 7:Condições justas, eqüitativas e satisfatórias de trabalho; Artigo 8: Direitos sindicais; Artigo 9: Direito à previdência social. Toda pessoa tem direito à previdência social que a proteja das conseqüências da velhice e da incapacitação que a impossibilite, física ou mentalmente, de obter os meios de vida digna e decorosa. No caso de morte do beneficiário, as prestações da previdência social beneficiarão seus dependentes. Quando se tratar de pessoas em atividade, o direito à previdência social abrangerá pelo menos o atendimento médico e o subsídio ou pensão em caso de acidentes de trabalho ou de doença profissional e, quando se tratar da mulher, licença remunerada para a gestante, antes e depois do parto. Artigo 10: Direito à saúde; Artigo 11: Direito a um meio ambiente sadio; Artigo 12: Direito à alimentação; Artigo 13: Direito à educação; Artigo 14: Direito aos benefícios da cultura; Artigo 15:Direito à constituição e proteção da família Artigo 16: Direito da criança Artigo 17: Proteção de pessoas idosas Artigo 18:Proteção de deficientes Artigo 19: Meios de proteçã 2 GUIA DE ESTUDO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO - APOSTILA 03_2017 2.1 PROCESSO HISTÓRICO EVOLUTIVO DO SISTEMA DE SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL Em nosso país, a preocupação com a proteção social do indivíduo nasceu com a necessidade de implantação de instituições de seguro social, de cunho mutualista e particular. Tivemos a criação das santas casas de misericórdia, como a de Santos (1543), montepios, como o da Guarda Pessoal de D. João VI (1808) e sociedades beneficentes. 10 Santa Casa de Misericórdia. O hospital da Santa Casa de Misericórdia foi fundado em 1543, no outeirinho de Santa Catarina, junto ao qual Braz Cubas fizera construir os primeirosabrigos para um porto, a princípio chamado de Porto da Vila de São Vicente, visto que a ele vinham ter as embarcações para o transporte de mercadorias. Quem foi Braz Cubas. Braz Cubas, foi um explorador português que governou por duas vezes São Vicente. Depois de 1536, quando recebeu sesmarias na Capitania de São Vicente, Cubas desenvolveu a agricultura da cana-de-açúcar e montou um engenho. Ele chegou a ser o maior proprietário de terras da baixada santista. Foi fundador de um porto, uma capela e da Santa Casa de Misericórdia de Todos os Santos (em 1543), que deram origem à vila de Santos. Proteção social na Constituição. A nossa primeira Constituição, de 1824, tratou da seguridade social no seu art. 179, onde abordou a importância da instituição dos socorros públicos. A Constituição de 1824.A CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO. Foi outorgada a 25 de março de 1824, por D. Pedro I. Ela entre outras características, possuía um sistema baseado em eleições indiretas e censitárias. Para votar e ser votado apontava requisitos quanto à renda. Isto denotava um caráter excludente na sociedade imperial, já que grande parte da população era composta por homens livres e pobres e por escravos. O voto censitário. No Brasil, o voto censitário foi estabelecido pela constituição de 1824 e abolido pela constituição de 1891, ou seja, esteve em vigor durante todo o período monárquico brasileiro. Para os padrões da primeira metade do século XIX, o critério censitário acolhido pela Constituição de 1824 não era restritivo. A renda exigida para votar era de 100 mil-réis. A maior parte dos trabalhadores, ganhavam mais de 100 mil-réis. Em 1876, por exemplo, o ordenado de um funcionário público pobre era de 600 mil-réis. Segundo o censo de 1872, o único do período, 13% da população brasileira votava. É certo que a inflação colaborou com a inclusão, pois a quantia se desvalorizava. Mesmo assim, a população votante continuou submissa às autoridades locais. As eleições eram violentas e cheias de fraudes. O voto era um ato de obediência. Foi também adotado no Brasil durante a vigência da Constituição de 1934, que excluía os mendigos do processo eleitoral. Marcas da Constituição de 1824. A marca mais característica desta Constituição foi a instituição de um quarto poder, o Poder Moderador, ao lado do Executivo, Legislativo e Judiciário. Este quarto poder era exclusivo do monarca e, por ele, o imperador controlava a organização política do Império do Brasil. 2.2 Mudanças na Constituição de 1824 relativas à Seguridade Social.. O ato adicional de 1834. Ele em seu art. 10 delegava competência às Assembléias Legislativas para legislar sobre as casas de socorros públicos. A referida matéria foi regulada pela Lei nº 16, de 12/08/1834. Montgeral. Em 1835, foi criada a primeira entidade privada em nosso país, o Montepio Geral dos Servidores do Estado (Montgeral). Caracterizava-se por ser um sistema mutualista, no qual os associados contribuíam para um fundo que garantiria a cobertura de certos riscos, mediante a repartição dos encargos com todo o grupo. Mudanças na legislação brasileira em 1850. O Código Comercial de 1850 dispôs em seu art. 79 que os empregadores deveriam manter o pagamento dos salários dos empregados por no máximo 03 (três) meses, no caso de acidentes imprevistos e inculpados. Art. 79 do Código Comercial de 1850. “Os acidentes imprevistos e inculpados que impedirem aos prepostos o exercício de suas funções não interromperão o vencimento de seu salário, contanto que a inabilitação não exceda três meses contínuos.” Decreto 2.711/1860. Mais tarde, o Decreto nº 2.711, de 1860, regulamentou o financiamento de montepios e sociedades de socorros mútuos. 11 A Constituição de 1891. A Constituição de 1891 foi a primeira a conter a expressão "aposentadoria". Preceituava no seu art. 75 que os funcionários públicos, no caso de invalidez, teriam direito à aposentadoria, independentemente de nenhuma contribuição para o sistema de seguro social. Nesta Constituição, em suas disposições transitórias, estipulava-se ao imperador D. Pedro uma pensão, a contar de 15 de novembro de 1889, durante toda a sua vida, que seria fixada pelo Congresso Ordinário (art. 7º). Decreto Legislativo 3.724. Em 1919, o Decreto Legislativo n.º 3.724, de 15/01/1919, instituiu o seguro obrigatório de acidente de trabalho, bem como uma indenização a ser paga pelos empregadores. Caixa de Aposentadoria. A Lei Eloy Chaves, Decreto Legislativo n.º 4.682, de 24/01/1923, foi a primeira norma a instituir no país a Previdência Social, com a criação das Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP) para os ferroviários, de nível nacional. A Lei Eloy Chaves. É considerada o marco da previdência social no país. A referida lei estabeleceu que cada uma das empresas de estrada de ferro deveria ter uma caixa de aposentadoria e pensão para os seus empregados. A primeira foi a dos empregados da Great Western do Brasil. Tal fato ocorreu em razão das manifestações gerais dos trabalhadores da época e da necessidade de apaziguar um setor estratégico e importante da mão de obra daquele tempo. Expansão das caixas. A década de 20 caracterizou-se pela criação das citadas caixas, vinculadas às empresas e de natureza privada. Eram assegurados os benefícios de aposentadoria e pensão por morte e assistência médica. O custeio era a cargo das empresas e dos trabalhadores. Havia uma pequena parcela do Estado. Os ferroviários foram os primeiros beneficiários das Caixas de Assistência. Beneficiários. Os Beneficiários da Lei Eloy Chaves eram então os trabalhadores subordinados (empregados), como também diaristas de qualquer natureza que executassem trabalhos nas ferrovias. Também eram beneficiários os funcionários das Caixas, os professores das escolas mantidas pelas empresas vinculadas e certas classes de trabalhadores subordinados. Panorama em 1926. O Decreto Legislativo n.º 5.109, de 20/12/1926, estende então os benefícios da Lei Eloy Chaves aos empregados portuários e marítimos. Panorama em 1928. Posteriormente em 1928, através da Lei n.º 5.485, de 30/06/1928, os empregados das empresas de serviços telegráficos e radiotelegráficos passaram a ter direito aos mesmos benefícios. 12 Expansão. Em 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que tinha a tarefa de administrar a Previdência Social. A década de 30 caracterizou-se pela unificação das Caixas de Aposentadoria e Pensão em Institutos Públicos de Aposentadoria e Pensão (IAP). O Decreto n.º 19.497 de 17/12/1930, criou as CAPs (Caixas de Aposentadorias e Pensões) para os empregados no serviço de força, luz e bondes. As Caixas de Aposentadorias e Pensões eram organizações de seguro social estruturadas por empresas. Mais tarde foram fusionadas na Caixa Geral e no Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Ferroviários e empregados em Serviço Público. Institutos Públicos de Aposentadoria e Pensão (IAP). O sistema previdenciário deixou de ser estruturado por empresa, passando a ser por categorias profissionais de âmbito nacional. Os IAP’s utilizaram o mesmo modelo da Itália, sendo cada categoria responsável por um fundo. Custeio dos IAP’s. A contribuição para o fundo era custeada pelo empregado, empregador e pelo governo. A contribuição dos empregadores incidia sobre a folha de pagamento. Dinâmica do Custeio dos IAP’s. O Estado financiava o sistema através de uma taxa cobrada dos produtos importados.Os empregados eram descontados em seus salários. A Administração dos IAP’s. A administração do fundo era exercida por um representante dos empregados, um dos empregadores e um do governo. Além dos benefícios de aposentadorias e pensões, o instituto prestava serviços de saúde. Cronologia da criação dos IAP’s. Foram criados os Institutos deAposentadoria e Pensão dos Marítimos (IAPM) em 1933 pelo Dec.n.º 22.872. Dos Comerciários (IAPC) em 1934; Bancários (IAPB) em 1934 pelo Dec. n. 24.615; Industriários (IAPI) em 1936 pela Lei 367; Empregados de Transporte e Carga (IAPETEC) em 1938. O Decreto-lei n.º 3832. O Decreto-lei n.º 3.832, de 18/11/1941, dispôs sobre a situação dos armadores de pesca e dos pescadores e indivíduos empregados em profissões conexas com a indústria da pesca, porém pertencendo também, para efeito de benefícios previdenciários, ao IAPM (Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos). Servidor Público. O Hospital dos Servidores do Estado (H.S.E.) inicia sua existência em maio de 1934, sob a denominação de Hospital dos Funcionários Públicos, quando, por iniciativa do Ministro do Trabalho, Salgado Filho, o Presidente Getulio Vargas assina decreto destinando recursos para a sua construção. IPASE. No serviço público, foi criado em 1938 um fundo previdenciário para os servidores públicos federais chamado de IPASE – Instituto de Pensão e Assistência dos Servidores do Estado. A Carta Magna de 1934. Em seu art. 5.º, inc. XIX, c estabelecia a competência da União para legislar regras de Assistência Social, enquanto o art. 10 dava também aos Estados-membros a responsabilidade para “cuidar da saúde e assistência públicas.” Ela disciplinou a forma de custeio dos institutos, no caso tríplice (ente público, empregado e empregador), conforme preconizava o art. 121, § 1º, "h". Mencionava ainda a competência do Poder Legislativo para instituir normas de aposentadoria (art. 39, VIII, item d). Previa ainda a proteção social ao trabalhador e à gestante (art. 121). Tratava também da aposentadoria compulsória dos funcionários públicos aos 68 anos (art. 170, § 3º), bem como a aposentadoria por invalidez dos mesmos se com 30 nos de trabalho (art. 170, § 6º). Teor da Constituição de 1934. Com relação às leis trabalhistas, a constituição de 1934 proibiu a distinção dos salários para uma mesma função por razões de estado civil, nacionalidade, sexo e idade. Promoveu ainda a criação do salário mínimo e a padronização de uma jornada de 13 trabalho máxima de oito horas diárias. O repouso semanal remunerado foi instituído, assim como as férias anuais remuneradas. Os menores de quatorze anos de idade eram proibidos de trabalhar. Os patrões deveriam indenizar o trabalhador que fosse demitido sem justa causa. O ato adicional de 1834, em seu art. 10 delegava competência às Assembléias Legislativas para legislar sobre as casas de socorros públicos. A referida matéria foi regulada pela Lei nº 16, de 12/08/1834. Em 1835, foi criada a primeira entidade privada em nosso país, o Montepio Geral dos Servidores do Estado (Montgeral). Caracterizava-se por ser um sistema mutualista, no qual os associados contribuíam para um fundo que garantiria a cobertura de certos riscos, mediante a repartição dos encargos com todo o grupo. O Código Comercial de 1850 dispôs em seu art. 79 que os empregadores deveriam manter o pagamento dos salários dos empregados por no máximo 03 meses, no caso de acidentes imprevistos e inculpados. Mais tarde, o Decreto nº 2.711, de 1860, regulamentou o financiamento de montepios e sociedades de socorros mútuos. A Constituição de 1891 foi a primeira a conter a expressão "aposentadoria". Preceituava no seu art. 75 que os funcionários públicos, no caso de invalidez, teriam direito à aposentadoria, independentemente de nenhuma contribuição para o sistema de seguro social. Em 1919, o Decreto Legislativo nº 3.724, de 15/01/1919, instituiu o seguro obrigatório de acidente de trabalho, bem como uma indenização a ser paga pelos empregadores. A Lei Eloy Chaves, Decreto Legislativo nº 4.682, de 24/01/1923, foi a primeira norma a instituir no país a previdência social, com a criação das Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP) para os ferroviários. É considerado o marco da previdência social no país. A referida lei estabeleceu que cada uma das empresas de estrada de ferro deveria ter uma caixa de aposentadoria e pensão para os seus empregados. A primeira foi a dos empregados da Great Western do Brasil. A década de 20 caracterizou-se pela criação das citadas caixas, vinculadas às empresas e de natureza privada. Eram assegurados os benefícios de aposentadoria e pensão por morte e assistência médica. O custeio era a cargo das empresas e dos trabalhadores. O Decreto Legislativo nº 5.109, de 20/12/1926, estendia os benefícios da Lei Eloy Chaves aos empregados portuários e marítimos. Posteriormente, em 1928, através da Lei nº 5.485, de 30/06/1928, os empregados das empresas de serviços telegráficos e radiotelegráficos passaram a ter direito aos mesmos benefícios. Em 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que tinha a tarefa de administrar a previdência social. A década de 30 caracterizou-se pela unificação das Caixas de Aposentadoria e Pensão em Institutos Públicos de Aposentadoria e Pensão (IAP). O sistema previdenciário deixou de ser estruturado por empresa, passando a ser por categorias profissionais de âmbito nacional. Os IAP’s utilizaram o mesmo modelo da Itália, sendo cada categoria responsável por um fundo. A contribuição para o fundo era custeada pelo empregado, empregador e pelo governo. A contribuição dos empregadores incidia sobre a folha de pagamento. O Estado financiava o sistema através de uma taxa cobrada dos produtos importados. Os empregados eram descontados em seus salários. A administração do fundo era exercida por um representante dos empregados, um dos empregadores e um do governo. Além dos benefícios de aposentadorias e pensões, o instituto prestava serviços de saúde. Assim, foram criados os Institutos de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos (IAPM) em 1933, dos Comerciários (IAPC) em 1934, dos Bancários (IAPB) em 1934, dos Industriários (IAPI) em 1936, dos empregados de Transporte e Carga (IAPETEC) em 1938. No serviço público, foi criado em 1938 um fundo previdenciário para os servidores públicos federais chamado de IPASE – Instituto de Pensão e Assistência dos Servidores do Estado. 14 A Carta Magna de 1934 disciplinou a forma de custeio dos institutos, no caso tríplice (ente público, empregado e empregador), conforme preconizava o art. 121, § 1º, "h". Mencionava a competência do Poder Legislativo para instituir normas de aposentadoria (art. 39, VIII, item d) e proteção social ao trabalhador e à gestante (art. 121). Tratava também da aposentadoria compulsória dos funcionários públicos (art. 170, § 3º), bem como a aposentadoria por invalidez dos mesmos (art. 170, § 6º). A Constituição de 1937, outorgada no Estado Novo, não inovou em relação às anteriores. Apenas empregou a expressão "seguro social" ao invés de previdência social em seu texto. Em contrapartida, a Constituição de 1946 aboliu a expressão "seguro social", dando ênfase pela primeira vez na Carta da República à expressão "previdência social", e consagrando-a em seu art. 157. O inciso XVI do citado artigo mencionava que a previdência social custeada através da contribuição da União, do empregador e do empregado deveria garantir a maternidade, bem como os riscos sociais, tais como: a doença, a velhice, a invalidez e a morte. Já no inciso XVII tratava da obrigatoriedade da instituição do seguro de acidente de trabalho por conta do empregador. No início dos anos 50, quase toda população urbana assalariada estava coberta por um sistema de previdência, com exceção dos trabalhadores domésticos e autônomos. A uniformização da legislação sobre a previdência social ocorreu com o advento do Regulamento Geral dos Institutos de Aposentadoria e Pensão, aprovado pelo Decreto nº 35.448, de 01/05/1954. Em 1960, foi criado o Ministério do Trabalhoe da Previdência Social. Foi editada a Lei nº 3.807, de 26/08/1960, Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), cujo projeto tramitou desde 1947, foi considerada uma das normas previdenciária mais importantes da época. Caracterizou-se pela fase da uniformização da previdência social. A citada lei unificou os critérios de concessão dos benefícios dos diversos institutos existentes na época, ampliando os benefícios, tais como: auxílio-natalidade, auxílio-funeral, auxílio-reclusão e assistência social. A Lei nº 4.214, de 02/03/1963, criou o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL), no âmbito do estatuto do trabalhador rural. A Emenda Constitucional nº 11, de 31/03/65, estabeleceu o princípio da precedência da fonte de custeio e relação à criação ou majoração de benefícios. O Decreto-Lei nº 72, de 21/11/1966, unificou os institutos de aposentadoria e pensão, criando o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), hoje INSS. Com isso, o governo centralizou a organização previdenciária em seu poder. A Constituição de 1967 não inovou muito em relação à Carta anterior. O art. 158 manteve quase as mesmas disposições do art. 157 da Lei Magna de 1946. O § 2º do art. 158 da Constituição de 1967 preceituava que a contribuição da União no custeio da previdência social seria atendida mediante dotação orçamentária, ou com o produto da arrecadação das contribuições previdenciárias, previstas em lei. O sistema de seguro de acidente de trabalho integrou-se ao sistema previdenciário com a Lei nº 5.316, de 14/09/1967. Foram criados adicionais obrigatórios de 0,4% a 0,8% incidentes sobre a folha de salários, objetivando o custeio das prestações de acidente de trabalho. Os Decretos-Leis n.ºs 564 e 704, de 01/05/1969 e 24/07/1969, respectivamente, estenderam a previdência social ao trabalhador rural. A Emenda Constitucional nº 1, de 1969, não apresentou mudanças significativas em relação às Constituições de 1946 e 1967. A Lei Complementar nº 11, de 25/05/1971, instituiu o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural (Pro-Rural). A partir desse momento os trabalhadores rurais passaram a ser segurados da previdência social. Não havia contribuição por parte do trabalhador, este tinha direito à aposentadoria por velhice, invalidez, pensão e auxílio-funeral. A Lei nº 5.859, de 11/12/1972, incluiu os empregados domésticos como segurados obrigatórios da previdência social. A Lei nº 6.367, de 19/10/1976, regulou o seguro de acidente de trabalho na área urbana, revogando a Lei nº 5.316/67. 15 Em 01/07/1977, através da Lei nº 6.439, foi criado o SINPAS (Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social), destinado a integrar as atividades de previdência social, da assistência social, da assistência médica e de gestão administrativa, financeira e patrimonial das entidades vinculadas ao Ministério da Previdência e Assistência Social. O SINPAS tinha a seguinte composição: a)o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) cuidava da concessão e manutenção das prestações pecuniárias; b)o Instituto Nacional de Assistência Médica de Previdência Social (INAMPS) tratava da assistência médica; c)a Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA) prestava assistência social à população carente; d)a Fundação do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) promovia a execução da política do bem-estar social do menor; e)a Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (DATAPREV) era responsável pelo processamento de dados da Previdência Social; f)o Instituto da Administração Financeira da Previdência Social (IAPAS) era responsável pela arrecadação, fiscalização, cobrança das contribuições e outros recursos e administração financeira; g)a Central de Medicamentos (CEME) era responsável pela distribuição dos medicamentos. A Lei nº 6.345/77 regulou a possibilidade de criação de instituições de previdência complementar, matéria regulamentada pelos Decretos nºs 81.240/78 e 81.402/78, quanto às entidades de caráter fechado e aberto, respectivamente. Em 1984, ocorreu a consolidação da legislação previdenciária (CLPS), que reuniu toda a legislação de custeio e benefício em um único documento (Decreto nº 89.312).. Com a Constituição de 1988, houve uma estruturação completa da previdência social, saúde e assistência social, unificando esses conceitos sob a moderna definição de "seguridade social" (arts. 194 a 204). Assim, o SINPAS foi extinto. A Lei 8.029, de 12/04/1990, criou o Instituto Nacional do Seguro Social -INSS (fusão do INPS e IAPAS), vinculado ao então Ministério da Previdência e Assistência Social, tendo sido regulamentado pelo Decreto nº 99.350, de 27/06/90. O Decreto nº 99.060, de 07/03/1990 vinculou o INAMPS ao Ministério da Saúde. Posteriormente, a Lei 8.689, de 27/07/1993, extinguiu o INAMPS. Houve, também, a extinção da LBA e FUNABEM em 1995 e da CEME em 1997. A seguridade social foi organizada, através da edição da Lei nº 8.080, de 19/09/1990 que cuidou da Saúde. Depois, pelas Leis nºs 8.212 e 8.213, ambas de 24/07/1991, que criaram, respectivamente, o Plano de Organização e Custeio da Seguridade Social e o Plano de Benefícios da Previdência Social. E por último, pela Lei nº 8.742, de 07/12/1993, que tratou da Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS. 3 GUIA DE ESTUDO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO - APOSTILA 04_2017 3.1 Princípios Constitucionais da Seguridade Social O § único do art. 194 da Carta Magna vigente determina ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a Seguridade Social com base em objetivos, que seriam na realidade princípios, pois são as proposições básicas, fundamentais ou alicerces de um sistema. As leis n.ºs 8.212/91 e 8.213/91, atendendo ao disposto no diploma legal supracitado, em consonância com o art. 59 do ADCT/88, instituíram o Plano de Organização e Custeio da Seguridade Social e o Plano de Benefícios da Previdência social, respectivamente. O § único do art. 1º da Lei 8.212/91 menciona os mesmos princípios constitucionais descritos no § único do art. 194 da Constituição. Vejamos a seguir os citados princípios: I- Universalidade de Cobertura e Atendimento 16 II- Seletividade e Distributividade na proteção dos Serviços e benefícios III- Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços entre urbanos e rurais IV- Irredutibilidade dos Benefícios V- Eqüidade na participação do custeio VI- Diversidade da base de financiamento (Tríplice forma de Custeio) VII- Caráter descentralizado e democrático da gestão Administrativa VIII- Pré-existência de Custeio (art. 195, § 5° da CF/88) 3.2 Universalidade da cobertura e atendimento A seguridade social tem como postulado básico a universalidade, ou seja, abranger todos os residentes de um país, que, diante de uma contingência terão direito aos benefícios. Contudo, na prática, só terão direito aos benefícios e às prestações da seguridade social de acordo com a disposição da lei. Só tem direito aos benefícios da previdência social (art. 201), a pessoa que contribui. Já as prestações nas áreas da saúde e da assistência social (arts. 196 e 203) são destinadas ao cidadão, independentemente de sua contribuição. universalidade objetiva (cobertura) - extensão a todos os fatos e e situações que geram as necessidades básicas das pessoas, tais como: maternidade; velhice; doença; acidente; invalidez; reclusão e morte. universalidade subjetiva (atendimento) – consiste na abrangência de todas as pessoas, indistintamente; II - Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços A seleção das prestações vai ser feita de acordo com as condições econômico- financeiras do sistema de seguridade social. A lei irá dispor a que pessoas as prestações serão estendidas. A distributividadetem caráter social, pois deve atender prioritariamente aos mais necessita. compreende o atendimento distintivo e prioritário aos mais carentes; alguns benefícios são pagos somente aos de baixa renda; os trabalhadores ativos contribuem para a manutenção dos que ainda não trabalham (menores) e dos que já não trabalham mais (aposentados). O sistema objetiva distribuir renda, principalmente para as pessoas de baixa renda, tendo, portanto, caráter social. 3.2.1 Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais O Constituinte se preocupou com a uniformidade e equivalência das prestações da seguridade social, uma vez que existiam diferenças entre os direitos do trabalhador urbano e rural. As prestações da seguridade social são divididas em benefícios e serviços. Os benefícios são prestações em dinheiro, tais como a aposentadoria e a pensão. Já os serviços são bens imateriais colocados à disposição da pessoa, como assistência médica, reabilitação profissional, serviço social etc. A legislação previdenciária instituiu benefícios aos trabalhadores rurais e urbanos inscritos no Regime Geral de Previdência Social (RGPS) sem qualquer distinção. concessão dos mesmos benefícios de igual valor econômico e de serviços da mesma qualidade; 17 3.2.2 Irredutibilidade dos benefícios Os benefícios da previdência social devem ter o seu valor real preservado. Assim, o constituinte assegurou a irredutibilidade dos benefícios da seguridade social. A forma de correção dos benefícios deve ser feita de acordo com o disposto em lei, com fulcro no § 4º do art. 201 da Carta Constitucional. as prestações constituem dívidas de valor; não podem sofrer desvalorização; precisam manter seu valor de compra, acompanhando a inflação; esta é uma norma de eficácia limitada; 3.2.3 Eqüidade na forma da participação no custeio O princípio da eqüidade na forma de participação no custeio da seguridade social é um desdobramento dos princípios da igualdade e da capacidade contributiva. Os contribuintes que se encontram em condições contributivas iguais deverão ser tributados da mesma forma. Assim, a contribuição da empresa será distinta à do trabalhador, pois este não tem as mesmas condições financeiras que aquela. O § 9º do art. 195 da Constituição é um exemplo claro de eqüidade no financiamento da seguridade social, ao possibilitar a diferenciação da base de cálculo e alíquota da contribuição, em razão da atividade econômica ou utilização intensiva de mão-de-obra. quem ganha mais deve pagar mais, para que ocorra a justa participação no custeio da Seguridade Social; a contribuição dos empregadores recai sobre o lucro e o faturamento, além da folha de pagamento; estabelece que deve-se tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais 3.2.4 Diversidade na base de financiamento As fontes de financiamento devem ser diversificadas a fim de garantir a manutenção do sistema de seguridade social. Além das fontes previstas nos incisos I a IV do art. 195 da Carta Magna, nada impede que se instituam outras fontes de custeio, desde que por lei complementar, não tendo fato gerador ou base de cálculo de imposto previsto na Constituição, nem sendo cumulativo, conforme art. 195, § 4º c/c art. 154, I do Texto Constitucional. o custeio provém de toda a sociedade, de forma direta e indireta, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; contribuições dos empregadores e empresas, incidindo sobre: folha de salários; receita ou faturamento; lucro contribuições dos trabalhadores e demais segurados da previdência social; sobre aposentadorias e pensões não incide contribuição; receita de concursos de prognósticos (loteria); taxação sobre importação de bens e serviços. 3.2.5 Caráter democrático e descentralizado da administração O inciso VII, § único do art. 194 da Constituição, com redação alterada pela Emenda Constitucional nº 20/98, dispõe que a gestão administrativa da Seguridade Social é qüadripartide, com a participação do governo, aposentados, trabalhadores e empregadores. Tal dispositivo se coaduna com o art. 10 da Constituição que garante a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados de órgãos do governo em que se discutam ou deliberem sobre assuntos relativos à seguridade social. Como exemplo, temos o Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), conforme art. 3º da Lei nº 8.213/91, que tem representantes do governo federal, dos aposentados e pensionistas, dos trabalhadores e dos empregadores. 18 cabe à sociedade civil participar da administração da Seguridade Social, através de representantes indicados pelos empregadores, pelos trabalhadores e pelos aposentados (caráter democrático). 3.3 Princípios da Previdência Social Vamos perceber que existem princípios que são comuns à Seguridade Social e à Previdência Social. I – Contributividade e da Universalidade da cobertura e atendimento Em razão da idéia de seguro, contida na concepção de Previdência, o sistema previdenciário é organizado sob a forma de um regime de caráter contributivo. Isso significa que cada pessoa, para ter direito aos benefícios prestados pelo sistema, deve contribuir com uma parcela da renda ao longo da vida ativa. Os riscos sociais são democráticos: atingem a todos. Por esse motivo, não faz sentido que apenas alguns grupos fiquem amparados contra os perigos da vida moderna, enquanto outros permaneçam sem proteção. Sendo assim, a totalidade da sociedade – sem distinção de profissões e categorias sociais – tem o direito de proteger-se dos riscos sociais, mediante contribuição ao sistema previdenciário. É o que prega a universalidade da cobertura. Já a universalidade do atendimento determina a defesa contra todas as adversidades e fatos que resultem em dificuldades de reposição de renda para um indivíduo. Os trabalhadores estão sujeitos aos mais diversos riscos sociais, entre estes, riscos que resultem tanto na perda permanente da capacidade de trabalho, quanto na perda temporária. A proteção contra morte, invalidez parcial ou total, e velhice refere-se à perda permanente. Acontecimentos como doença e acidente, estão entre as hipóteses de cobertura da 19 Previdência por perda temporária da capacidade de trabalho, além dos afastamentos por maternidade e reclusão. O princípio da universalidade permite que o Estado imponha a obrigatoriedade de adesão ao sistema, de tal forma que a proteção seja estendida a todos. II - Princípio da Perda da Capacidade de Trabalho Além do caráter contributivo durante toda a vida ativa, o segurado só deveria receber o benefício quando da perda da capacidade de trabalho. Esta, por sua vez, só deveria ser reconhecida com a ocorrência de um dos riscos sociais básicos, tais como: doença, invalidez, idade avançada, morte e desemprego involuntário (este atendido pelo Ministério do Trabalho e Emprego, via seguro- desemprego), além dos riscos da maternidade e da reclusão. Observe-se que a aposentadoria por tempo de contribuição não atende a esse fundamental requisito, pois, o segurado completa o tempo de contribuição, mas não perde a capacidade de trabalho. III - Princípio da Obrigatoriedade Compelir os indivíduos a contribuir para a Previdência não é forçar o cidadão a fazer algo fundamental somente para si mesmo e para família, mas sobretudo para a estabilidade social do Brasil. Diante disso, o princípio da obrigatoriedade estabelece que todos aqueles que exercem atividade remunerada devem contribuir com um percentual de sua renda para a Previdência Social. A obrigatoriedade decorre do princípio da universalidade. O Estado, para cumprir seu papel de proteçãosocial a todos os trabalhadores, precisa adotar medidas coercitivas de adesão ao sistema. De fato, a estrutura não funciona voluntariamente. Os indivíduos, na maioria das vezes, são imprevidentes. Desacautelados, possuem uma propensão maior a gastar hoje em vez de poupar para o futuro. Para o bem-estar da coletividade, o Estado tem o dever de conscientizar a população sobre a importância da inserção no sistema previdenciário. Somente com intervenção do Estado é possível criar a “máquina do tempo” do contrato previdenciário intergeracional. IV - Princípio do Equilíbrio Financeiro e Atuarial Desde 1995, a crescente necessidade de financiamento da Previdência deixou claro que o sistema previdenciário precisava de uma reforma capaz de encontrar regras que mantivessem o sistema em harmonia. O equilíbrio financeiro e atuarial é necessário não apenas para dar segurança às pessoas que contribuem mensalmente para o sistema, mas também para assegurar o pagamento dos benefícios àqueles que contribuíram no passado. Assim, numa primeira fase da reforma, mediante a Emenda Constitucional no 20/98, obrigou-se que a Previdência passasse a ser organizada com base em critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema. 20 Somente a reforma seguinte, com a Lei no 9.876/99, introduziu as regras mais definitivas para tornar possível um sistema financeiramente e atuarialmente equilibrado. Entre as mudanças mais importantes implementadas estão a extensão do prazo para cálculo do salário-de-benefício e o fator previdenciário, que serão detalhados mais à frente. V - Uniformidade e Equivalência dos Benefícios e Serviços às Populações Rurais e Urbanas Não é plausível, sob hipótese alguma, que as regras da Seguridade Social privilegiem alguns cidadãos em detrimento de outros, sem razões que sejam do conhecimento da sociedade e por ela aceitas. O sentimento de justiça, que deve orientar um sistema como esse, exige a uniformização das regras para que os benefícios sejam equivalentes para os trabalhadores rurais e urbanos. Os princípios da uniformidade e da equivalência impõem isso. A uniformidade diz respeito aos aspectos objetivos, ou seja, aos eventos que serão cobertos. A equivalência, por sua vez, refere-se ao aspecto pecuniário (de dinheiro) ou do atendimento dos serviços, sem a exigência de que estes ou os benefícios sejam iguais, mas sim, equivalentes, em razão do princípio da eqüidade. VI - Princípio da Eqüidade O princípio da eqüidade significa que a contribuição ao sistema de Seguridade Social seja estabelecida de acordo com a capacidade de cada indivíduo. Da mesma forma, a retribuição ao segurado deve ser proporcional à contribuição dele. Quando isso não ocorre, determinadas pessoas ou grupos estarão levando vantagens para as quais não contribuíram devidamente. Uma das evidências da aplicação desse princípio é encontrada no sistema previdenciário, no qual há taxas de contribuição diferenciadas (8, 9 e 11%), de acordo com a renda dos trabalhadores. VII - Princípio da Solidariedade Intra e Intergeracional Embora a eqüidade estabeleça que o segurado seja retribuído em função das suas contribuições, admite-se alguma distribuição de renda dentro do sistema. Esta regra representa um princípio específico da Previdência Social, o da solidariedade intrageracional. Essa distribuição, entretanto, precisa estar na direção correta, com as regras do sistema beneficiando os trabalhadores de menor poder aquisitivo. A solidariedade com os menos favorecidos é uma regra que fortalece a coesão social. Em decorrência do modelo de repartição simples adotado no Brasil, existe também na Previdência Social o princípio da solidariedade intergeracional. De acordo com as regras do sistema de repartição simples, a geração que está em atividade hoje é quem contribui para financiar os gastos previdenciários da geração anterior, que já está se aposentando. 21 3.4 Outras Características da Previdência Social Além dos princípios descritos, há outras características relevantes no sistema previdenciário brasileiro contidos no texto constitucional. Primeiro, nenhum benefíciopode ter valor inferior ao do salário mínimo. Antes da Constituição de 1988, existiam benefícios pagos no meio rural com valor igual a meio salário mínimo. Além disso, a Constituição impõe a irredutibilidade do valor dos benefícios. Um segundo conjunto de características tem por objetivo preservar o dinheirodo trabalhador contra a inflação. Para tanto, há duas regras: correção do salário-decontribuição e da renda mensal do benefício. Os salários-de-contribuição, que servem de base para calcular o benefício a que o segurado tem direito, são atualizados até a data da concessão do benefício, de forma a refletir um valor real. Depois de estabelecido o valor do benefício, são assegurados reajustes periódicos que compensam as perdas inflacionárias. Destaca-se em relação ao sistema previdenciário brasileiro sua natureza de substituição de renda/salário, compatível com as contribuições vertidas, limitadasa um valor máximo , que também é o valor máximo de reposição de renda denominado teto previdenciário. O teto estabelecido é suficiente para cobrir cerca de 86,5% do total de trabalhadores em atividade, uma vez que apenas 13,5% da população ocupada recebe valor superior a este montante. Para estes últimos, a Constituição Federal, em seu art. 202, prevê a existência de um sistema complementar, que será estudado em breve. Por fim, a Previdência no Brasil é administrada de forma democrática e descentralizada, ou seja, com a participação dos entes federativos e da sociedade civil. Esta forma de gestão é possível pela existência das Gerências-Executivas espalhadas por todo o Brasil e pelo Conselho Nacional da Previdência Social, órgão deliberativo por meio do qual a sociedade pode interferir na Previdência. 4 GUIA DE ESTUDO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO - APOSTILA 01_2017 4.1 Introdução: A Seguridade Social parte do pressuposto de que a cidadania envolve, além de direitos civis e políticos, um mínimo de bem-estar, tanto do ponto de vista econômico quanto de segurança. Proporcionar aos cidadãos paz e tranqüilidade em meio às dificuldades inerentes à vida humana: este é o compromisso geral da Seguridade Social, que reúne um conjunto de ações para garantir proteção aos trabalhadores. 22 4.2 A Seguridade Social na Constituição de 1988 Quando os Constituintes insculpiram no Texto Constitucional o capítulo da Seguridade Social (arts. 194 a 204) dentro das disposições da Ordem Social presente no Título VIII, visavam a ampliação e democratização do acesso da população à Saúde, à Previdência Social e à Assistência Social. Nesse tripé, cuja implementação deveria envolver iniciativas dos Poderes Públicos e da sociedade, os Constituintes depositaram suas esperanças de maior Justiça Social, inexistente no passado nos modelos de Estado Liberal, como visto anteriormente. Desta forma visaram também a promoção do bem-estar e melhoria da qualidade de vida de todos e não só para um pequeno grupo de privilegiados. Surge então um projeto coletivo, cujo postulado fundamental é o da solidariedade social (art. 3º, I) que transparece como baliza para o sistema de Seguridade Social, rompendo definitivamente com a lógica econômica do seguro privado, ou seja, a rígida correlação entre prêmio e benefício que vigorava até então. A Seguridade Social parte do pressuposto de que a cidadania envolve, além de direitos civis e políticos, um mínimo de bem-estar, tanto do ponto de vista econômico quanto de segurança. Proporcionaraos cidadãos paz e tranqüilidade em meio às dificuldades inerentes à vida humana: este é o compromisso geral da Seguridade Social, que reúne um conjunto de ações para garantir proteção aos trabalhadores. Podemos definir a Seguridade Social, através do conceito de Sérgio Pinto Martins:"É um conjunto de princípios, de regras e de instituições destinado a estabelecer um sistema de proteção social aos indivíduos contra contingências que os impeçam de prover as suas necessidades pessoais básicas e de suas famílias, integrado por ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, visando assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social". (MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. São Paulo: Atlas, 19ª ed., 2003, p. 43.) A seguridade social é um direito social garantido no art. 6º da Carta Magna de 1988. A competência para legislar sobre a Seguridade Social é privativa da União, conforme preceitua o art. 22, XXIII, da Constituição de 1988. 4.3 Previdência Social A Previdência Social, visa à proteção do cidadão quando da perda, temporária ou permanente, da sua capacidade de trabalho e se encontre presente no artigo 201 da Carta Magna. Previdência Social é sinônimo de seguro social. Seu conceito pode, então, ser definido como o seguro que garante a renda do trabalhador e de sua família, obedecido o teto do Regime Geral de Previdência Social – RGPS, quando da perda, temporária ou permanente, da capacidade de trabalho em decorrência dos riscos sociais. A previdência social é então um seguro coletivo, público, compulsório, destinado a estabelecer um sistema de proteção social, mediante contribuição, que tem por objetivo proporcionar meios indispensáveis de subsistência ao segurado e a sua família, quando ocorrer certa contingência prevista em lei. Wladimir Novaes Martinez conceitua a previdência social "como a técnica de proteção social que visa propiciar os meios indispensáveis à subsistência da pessoa humana – quando esta não pode obtê-los ou não é socialmente desejável que os aufira pessoalmente através do trabalho, por motivo de maternidade, nascimento, incapacidade, invalidez, desemprego, prisão, idade avançada, tempo de serviço ou morte – mediante contribuição compulsória 23 distinta, proveniente da sociedade e de cada um dos participantes". (MARTINEZ, Wladimir Novaes. A seguridade social na Constituição Federal. São Paulo: LTR, 2ª ed., 1992, p.99.) A previdência social consiste, portanto, em uma forma de assegurar ao segurado, com base no princípio da solidariedade, benefícios ou serviços quando seja atingido por uma contingência social. O sistema previdenciário público utiliza o modelo de repartição simples, na qual os ativos contribuem para os inativos, de forma intergeracional. Logo, existe uma solidariedade entre os participantes no custeio do sistema, cujos valores arrecadados destinam-se aos benefícios futuros. O art. 201 da Constituição Federal dispõe que a previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados os critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, nos termos da lei, e atenderá a: I-cobertura de eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II-proteção à maternidade, especialmente à gestante; III-proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV-salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; V-pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiros e dependentes. As principais regras estão disciplinadas na Lei nº 8.213/91, que trata dos benefícios previdenciários e regulamenta o caput do art. 201 da Carta Magna, e na Lei nº 8.212/91, que dispõe sobre o custeio da seguridade social. Merece destaque também o Decreto nº 3.048/99, que trata do Regulamento da Previdência Social. O artigo 1º da Lei 8.213/91 dispõe que: “ a Previdência Social”, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e de prisão ou morte daqueles de que dependiam automaticamente.” A Previdência Social, no que se refere ao Regime Geral, pertinente à maioria dos trabalhadores é atualmente administrada pelo INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social – autarquia federal resultante da fusão dos antigos INPS (que cuidava da concessão de benefícios) e do IAPAS (que cuidava da gestão administrativa e financeira do sistema), que tem por objetivo a prática das ações estatais na área da Previdência Social. 4.3.1 Incumbe ao INSS: - a arrecadação e a administração das contribuições previdenciárias; - a concessão e a manutenção das prestações previdenciárias. Cabe destacar também a existência da previdência privada, denominada de previdência complementar prevista no art. 202 da Carta de 1988. Caracteriza-se por ser um sistema de seguro complementar ao regime oficial, de caráter facultativo, de natureza contratual. A Lei Complementar nº 109/2001 dispõe sobre o regime de previdência complementar ao benefício pago pelo INSS. Já a Lei Complementar nº 108/2001 disciplina a previdência fechada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e outras entidades públicas. 4.4 Saúde A Constituição de 1988 tratou da Saúde como espécie da Seguridade Social. Dispõe o art. 196 que a saúde é direito de todos e dever do Estado. Para atender essa previsão constitucional criou-se o SUS – sistema único de saúde, disciplinado basicamente por meio das Leis 8.080/90 e 8.142/90. 24 Como regra, a União fixa regras gerais, sendo de sua competência, por exemplo, fazer grandes campanhas publicitárias de prevenção a doenças, vacinações, etc. Aos Estados e DF incumbe a prestação do serviço de saúde, enquanto aos municípios incumbe o atendimento emergencial, bem como a triagem e acompanhamento dos casos que demandem intervenção especializada. Percebe-se então que há na área da saúde um união, uma coordenação entre a União, os Estados, Municípios e DF, visto que através do Ministério da Saúde – em parceria com estados e municípios – desenvolve ações de prevenção a doenças e oferece assistência ambulatorial e hospitalar com acesso universal, gratuito e igualitário para toda a população, conforme determina o art. 196 da Constituição Federal de 1988. Isto é feito por meio da rede do Sistema Único de Saúde (SUS), que conta com hospitais públicos e privados espalhados pelo país afora. Os serviços de saúde do SUS estão à disposição de todos os brasileiros e brasileiras e, atualmente, não guardam qualquer vínculo com o INSS. A saúde pública é então dever do Estado, logo a prestação do serviço é gratuita, independentemente de ser o paciente contribuinte ou não da Seguridade Social. Assim, o art. 2º da Lei nº 8.212/91 dispõe que a saúde é direito de todos e dever do Estado, e que será garantida mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação. O sistema de saúde será financiado pelo orçamento da Seguridade Social, além de outras fontes (art. 198, § 1º da Constituição). 4.5 Assistência Social A Assistência Social foi inserida na Constituição de 1988 nos arts. 203 e 204. Encontra-se regulamentada pela Lei nº 8.742/93 ( Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS). O artigo 4º da Lei 8.212/91 diz que: “a Assistência Social é a política social que provê o atendimento das necessidades básicas, traduzidas em proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência, à velhicee à pessoa portadora de deficiência. As prestações de assistência social são destinadas aos indivíduos sem condições de prover o próprio sustento de forma permanente ou provisória, independentemente de contribuição à seguridade social. É então um direito constitucional, do qual todo brasileiro em estado de hipossuficiência faz jus, como uma forma de promoção social. Wladimir Novaes Martins define a Assistência Social como "um conjunto de atividades particulares e estatais direcionadas para o atendimento dos hipossuficientes, consistindo os bens oferecidos em pequenos benefícios em dinheiro, assistência à saúde, fornecimento de alimentos e outras pequenas prestações. Não só complementa os serviços da Previdência Social, como a amplia, em razão da natureza da clientela e das necessidades providas". A Assistência Social, também dever do Estado, objetiva a promoção da cidadania, por meio da criação de oportunidades de auto-sustento, bem como do amparo, inclusive financeiro, aos cidadãos que não têm condições nem de manter a própria subsistência. A prestação assistencial é mínima, pois tem o objetivo exclusivo de assegurar somente o indispensável à subsistência do cidadão. 25 A Assistência Social existe para prover o atendimento das necessidades básicas dos cidadãos mais humildes, criando condições para proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência, à velhice e à pessoa portadora de deficiência, independentemente de contribuição à Seguridade Social. Cabe ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome a formulação de políticas de natureza assistencial. A execução destas políticas é realizada de forma descentralizada por órgãos estaduais de assistência social. A execução destas políticas é realizada de forma descentralizada por órgãos estaduais de assistência social. Dentre as ações resultantes, destacam- se a isenção da contribuição patronal para as empresas consideradas filantrópicas, o pagamento de benefícios para aqueles que comprovarem insuficiência de renda e programas específicos que atendem a grupos vulneráveis da sociedade. O INSS então, de forma extraordinária, também atua na área social. Isso ocorre no caso de garantia de um salário mínimo mensal para alguns grupos específicos que comprovem não possuir meios de prover sua própria manutenção. São garantidos então benefícios assistenciais, em dinheiro, que são pagos de duas formas: como amparos assistenciais e pensões vitalícias mensais. No primeiro grupo, são beneficiados os portadores de deficiência, incapacitados para o trabalho e para a vida independente, e os idosos carentes, a partir de 1º de janeiro de 2004, 65 anos que comprovem possuir uma renda familiar per capita inferior a 25% do salário mínimo através do benefício assistencial denominado BPC – Benefício de Prestação Continuada. Esses benefícios forma regulamentados pela Lei 8.742/93 – LOAS – Lei de Organização da Assistência Social. Existem ainda as pensões assistenciais, que são de caráter indenizatório, e são concedidas às vítimas da síndrome de talidomida, aos seringueiros (e dependentes) e às vítimas da hemodiálise de Caruaru (Lei no 9.422/96). Embora o INSS tenha sido criado exclusivamente para atender aos segurados da Previdência Social, isto é, aqueles que contribuem para o sistema, o Instituto incumbe-se também de efetuar a concessão e o pagamento destes benefícios assistenciais, em razão de sua vasta rede de agências e postos, da estrutura operacional e da capacitação técnica de suas equipes multidisciplinares. O INSS conta ainda com convênios bancários em praticamente todos os municípios brasileiros, o que garante fácil acesso àqueles que moram nas regiões mais longínquas. O dinheiro para pagamento dos benefícios assistenciais é fornecido pelo Fundo de Assistência Social, à conta do Ministério da Fazenda, não sendo, portanto, utilizados recursos provenientes das contribuições dos segurados. Além disso, a Assistência Social financia creches, distribui alimentos e promove ações de apoio aos desprotegidos, executadas pelo poder público ou pela iniciativa privada. 26 4.5.1 A principal característica da Assistência Social é ser prestada gratuitamente aos necessitados. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com os recursos dos orçamentos dos entes federativos e mediante o recolhimento das contribuições previstas no art. 195 da Constituição, além de outras fontes, observando-se as seguintes diretrizes: I-descentralização político-administrativa das ações; II-participação da população. 5 GUIA DE ESTUDO DE DIREITO PREV. I – 7º PERÍODO _APOSTILA BPC 5.1 BPC – BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA ASSISTENCIAL A. O que é o Benefício de Prestação Continuada (BPC)? O Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social (BPC), assegurado pela Constituição Federal de 1988, garante a transferência mensal de 1 salário mínimo ao idoso, com 65 anos ou mais, e à pessoa com deficiência incapacitada para a vida independente e para o trabalho, que comprovem não possuir meios para prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. O BPC é um benefício individual, não vitalício e intransferível, que integra a Proteção Social Básica no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). É um direito de cidadania assegurado pela proteção social não contributiva da Seguridade Social. Para ter acesso ao BPC, não é necessário que o beneficiário já tenha contribuído para a Previdência Social. B. Quem pode receber o BPC? Podem receber o BPC: § Idosos, com idade de 65 anos ou mais, cuja renda per capita familiar seja inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo vigente; § Pessoas com deficiência, de qualquer idade, incapacitada para a vida independente e para o trabalho, com renda per capita familiar seja inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo vigente. Há a possibilidade de rever , inclusive judicialmente com base na posição do STF para as demais políticas públicas cujo valor é de ½ SM por pessoa. Mas, não se trata de uma revogação nem tácita e nem expressa da lei. C. Como requerer o BPC? Para requerer o BPC, a pessoa idosa ou com deficiência deve procurar uma Agência do INSS, preencher o formulário de solicitação do benefício, apresentar declaração de renda dos membros da família, comprovar residência e apresentar os documentos de identificação próprios e da família. Para tanto, é necessário fazer o agendamento do atendimento, com data e hora marcada. O agendamento pode ser feito pelo telefone 135 da Central de Atendimento da Previdência Social (ligação gratuita) ou pela internet no site www.previdenciasocial.gov.br. O requerente que seja pessoa com deficiência deve passar por avaliação da incapacidade para a vida independente e para o trabalho, realizada pela perícia médica e por assistente social do INSS. Essa avaliação será agendada pelo INSS. Quando comprovada a impossibilidade de deslocamento da pessoa com deficiência até o local de realização da avaliação da incapacidade, ela é realizada em seu domicílio ou instituição em que estiver internado. D. Quais os documentos necessários para requerer O BPC? São necessários os documentos de identificação do requerente e dos componentes da família. Podem ser apresentado um dos seguintes documentos: 27 § Certidão de nascimento ou casamento; § Certificado de reservista; § Carteira de identidade; § Ou carteira de trabalho e previdência social. O requerente deve apresentar também o Cadastro de Pessoa Física (CPF) no ato do requerimento do BPC. Caso ele não o possua, a análise do processo administrativo e a concessão do benefício não serão prejudicadas.
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