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CLUSTERS E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – CCAAPPÍÍTTUULLOO 33 AAUUTTOO--OORRGGAANNIIZZAAÇÇÃÃOO EE GGOOVVEERRNNAANNÇÇAA SSUUPPRRAA--EEMMPPRREESSAARRIIAALL SSÉÉRRGGIIOO BBAAPPTTIISSTTAA ZZAACCCCAARREELLLLII PPrrooff.. DDrr.. DDEENNIISS DDOONNAAIIRREE PPrrooff.. DDrr.. JJOOÃÃOO MMAAUURRIICCIIOO GGAAMMAA BBOOAAVVEENNTTUURRAA PPrrooff.. DDrr.. JJOOÃÃOO PPAAUULLOO LLAARRAA DDEE SSIIQQUUEEIIRRAA PPrrooff.. DDrr.. RREENNAATTOO TTEELLLLEESS São Paulo 2007 Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 2 CCAAPPÍÍTTUULLOO 33 AAUUTTOO--OORRGGAANNIIZZAAÇÇÃÃOO EE GGOOVVEERRNNAANNÇÇAA SSUUPPRRAA--EEMMPPRREESSAARRIIAALL SUMÁRIO INTRODUÇÃO 03 ENTIDADE SUPRA-EMPRESARIAL: UMA QUESTÃO DE OLHAR 07 AUTO-ORGANIZAÇÃO: COMPETITIVIDADE AUTO-EVOLUTIVA 11 NÚCLEO INICIAL DA AUTO-ORGANIZAÇÃO 13 VELOCIDADE DE AUTO-ORGANIZAÇÃO 15 CARACTERÍSTICAS DE SISTEMA COM AUTO-ORGANIZAÇÃO 16 AUTO-DESORGANIZAÇÃO: DESMANTELAMENTO SUPRA-EMPRESAS 17 GOVERNANÇA SUPRA-EMPRESAS: COMPETITIVIDADE GERENCIADADA 19 CLUSTERS, REDES E A GOVERNANÇA SUPRA-EMPRESARIAL 23 PERFIL DA GOVERNANÇA SUPRA-EMPRESAS 27 FUNDAMENTOS DA PERFORMANCE COMPETITIVA 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 37 Palavras-chave: Auto-organização, Entidade Supra-empresarial, Governança Supra-empresarial, Fundamentos de Redes de Negócio, Fundamentos de Clusters de Negócios. Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 3 Aquilo que os homens de fato querem não é o conhecimento, mas a certeza. Bertrand Russel INTRODUÇÃO Os sistemas supra-empresariais ou supra-empresas, como mencionado em capítulo anterior, não têm dono, personalidade jurídica, organograma etc. e assim, não podem ter chefes, superiores aos presidentes das empresas, ou alguma estrutura hierárquica. Os proprietários das empresas entenderiam essa situação como absurda, com uma instância maior os chefiando ou, mesmo, os liderando informalmente. Os acionistas podem admitir apenas receber “conselhos” de amigos desinteressados, mas as decisões finais são sempre deles. Entretanto, é necessário alcançar ou construir uma explicação para a capacidade das entidades supra-empresas de se desenvolverem, crescerem e competirem. No capítulo anterior, tratamos dos fundamentos e da instituição de clusters e redes de negócios, em que as formas de pensar dos dirigentes de empresas isoladas acabam determinando algumas características desse arranjo supra-empresarial. Se o pensamento seguir a perspectiva estratégica, o resultado previsto das decisões subseqüentes tem alta correlação empírica com a característica localizacional ou o vínculo de relacionamento das empresas reais. Faltaria explicar como isso foi ou é possível, sem estrutura hierárquica de comando simultâneo sobre todas as empresas da entidade. Para esta explicação fica indispensável considerar mecanismos associados à auto-organização e à governança supra- empresas, só perceptíveis ou compreensíveis, partindo-se dos conceitos adequados para reconhecê-los. Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 4 Auto-organização e governança supra-empresas são processos / condições completamente distintos entre si, embora propiciem efeitos positivos para a evolução dos Clusters e das Redes de negócios constituídos, segundo uma perspectiva estratégica, podendo existir isolados ou simultaneamente. Não é correto afirmar que eles se complementam, mas apenas que se compõem ou não e estão relacionados, de certa forma, a desdobramentos cooperativos, resultando em indução ao crescimento e amplificação da capacidade competitiva. Auto-organização e governança, como apresentado, são abordagens pertinentes aos sistemas supra-empresas, constituídos a partir de um pensamento de natureza estratégica, não sendo compatíveis aos sistemas compreendidos segundo um pensamento lógico. A auto-organização é um conceito, associado ao enfoque sistêmico, utilizado com freqüência em estudos de diferentes áreas do conhecimento e, em particular, na investigação das organizações. Alguns a incorporam à Administração Cibernética, sendo que relevantes trabalhos nas décadas de 80 e 90, como os de Beer (1979), Schwaninger (1997) e Espejo (1993), favoreceram a sua divulgação. O termo governança vem ganhando destaque nos últimos anos, sendo ligado – via de regra – à corporação, em função da natureza dos desafios da gestão das empresas, em geral, e de sua orientação estratégica, em particular, em contextos de internacionalização de negócios, globalização das economias e transformações geo-econômicas. A governança supra-empresarial manifesta-se com a natureza de centro de decisão e fonte de influência, orientada para gestão estratégica supra-empresas, resultado de uma forma de pensamento baseado na busca e no fomento da competitividade de um agrupamento de negócios interdependentes, tendo como principal atributo seu caráter de poder dissociado de autoridade (formalmente reconhecida). Sendo auto-organização e governança conceitos vinculados a uma perspectiva estratégica dos sistemas supra-empresariais, seria natural tratar-se – vez por outra – suas componentes: as empresas. Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 5 Entretanto, deve-se assegurar que o termo empresa seja compreendido sem ressalvas ou dúvidas. Assim, como opção metodológica, empresa deve ser entendida como negócio, ou seja, como um sistema com existência efetiva, utilizando insumos (inputs) para operar transformações e oferecer um determinado produto ou categoria desses (outputs), dotados de valor de troca reconhecido pelo mercado. Porque falar de negócios, em vez de empresas, quando se abordam redes e clusters? Aparentemente ficaria mais natural falar de empresas, mas - como se pretende maior abrangência – torna-se preferível falar em termos de negócios, indicando a inclusão e a compreensão para todas empresas em um determinado negócio. Empresa e negócio não são sempre sinônimos. Uma empresa pode atuar em mais de um negócio. Por exemplo, uma pequena empresa de pesca, que compra os materiais necessários e vende, em suas instalações, os peixes capturados aos consumidores, apesar de parecer simples, contem vários negócios. É possível avaliar essa situação, considerando a possibilidade desta empresa ser dividida em várias outras empresas, cada uma com apenas um negócio. Assim, uma empresa especializada em comprar materiais para fornecer aos barcos, uma segunda que opera na comercialização dos peixes, uma terceira que vende informações sobre mercados e meteorologia etc. Desse modo, uma empresa, desenvolvendo a totalidade das atividades ligadas à pesca, oferta e entrega de seu produto aos consumidores, transformou-se em uma diversidade de empresas em negócios especializados, que se integram para realizar, com mais eficácia, o que antes era feito por uma única empresa. O exemplo acima da empresa pesqueira pode ser estendido para qualquer outra natureza de produto ou serviço. No começo do século passado, Henri Ford I, na época líder da indústria automobilística,investiu em uma fazenda de seringueiras para produzir sua borracha, em jazidas de minério Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 6 de ferro para produzir o seu aço, entre outras ações com o mesmo caráter, tudo em uma só empresa. Evidentemente Henri Ford não era um amador e suas iniciativas evidenciam o que era considerado adequado naquele momento. Seria viável discutir Rede de Empresas da Indústria da Pesca, da Indústria Automobilística, e, dessa forma, cada produto poderia ser ligado à sua rede de empresas. Como as empresas componentes de uma rede não são permanentes, ao longo do tempo, havendo mudanças, introdução de novas empresas, fechamento de outras, o título Rede de Empresas traria o inconveniente da alteração da rede de empresas a cada evento de modificação. Outra razão para não se utilizar rede de empresas é a possível associação com rede de relacionamento ou relacionamentos, cujo conceito se estende para outros tipos de vínculos, como, por exemplo, de caráter religioso ou vocacional (lojas maçônicas) ou de natureza comunitária (“orkut”). É preferível usar uma forma mais geral, priorizando os negócios, sem se vincular o nome das empresas e suas características peculiares. Essa opção torna possível generalizar raciocínios, estabelecendo ou propondo conceitos para o desenvolvimento de teorias, constituindo um novo campo do conhecimento para a era moderna da economia e sociedade. Será tratada, a seguir, como plataforma para a construção teórica sob uma perspectiva estratégica de clusters e redes de negócios, os seguintes conceitos: - entidade supra-empresarial; - auto-organização; e - governança supra-empresas. Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 7 ENTIDADE SUPRA-EMPRESARIAL: UMA QUESTÃO DE OLHAR Até o início do século passado, a empresa era considerada como sendo um prolongamento do seu dono. Durante o século passado, iniciando com Taylor, aprendeu-se muito sobre as empresas, inclusive sobre suas especificidades (pequena e média empresa, empresa de serviços, empresa de alta tecnologia etc.). Nesse processo de evolução, a abordagem das empresas tornou-se familiar e cotidiana, assim como os conceitos para entendê-las e agir sobre elas. Entretanto, não era usual dar atenção ao conjunto formado pelas empresas, ou pelos negócios, que interagiam entre si. O foco estava centrado nas empresas, sendo que outras empresas só foram consideradas quando o assunto envolvia competição. Como exemplificação da importância de um olhar sobre o conjunto dos negócios, poderiam ser considerados os negócios ligados à produção e ao tráfico de maconha e cocaína e suas atividades correlatas. É amplamente difundido o conhecimento sobre esses negócios, principalmente quando a polícia está envolvida. As pessoas melhor informadas sabem também da existência de unidades de fabricação e de fornecimento dos produtos químicos para a fabricação. Também são de domínio, aspectos parciais, como a guerrilha e a sua relação de interdependência com a rede de negócios de maconha e cocaína. Mas, sem dúvida, conhecer estes negócios em separado, mesmo em detalhes, não leva ao conhecimento do todo da Rede de Negócios da Maconha e Cocaína. Algumas informações isoladas oferecem indicações que essa rede é significativamente evoluída. Sua capacidade de rápida reconstituição de partes da rede destruídas pelos inimigos, por exemplo, sugerem atividades que requerem planos de longo prazo, potencialmente inviáveis sem uma governança permanente em todos os negócios de sua rede. O entendimento da Rede de Negócios da maconha e da cocaína só é possível se for conhecido como elas Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 8 constituem um conjunto articulado de negócios, ou em termos mais formais, compõem ou instituem uma entidade supra-empresarial. Ao fim do século passado, desenvolveu-se uma consciência da existência de conjuntos de empresas, inter-relacionadas, formando sistemas, com efeitos surpreendentes e grandiosos, que não poderiam ser considerados como simples soma do efeito das empresas consideradas isoladamente. São hoje chamados de Clusters de Negócios e Redes de Negócios, sendo casos particulares de entidades supra-empresariais. Uma entidade supra- empresarial é uma abstração. Ela não tem registro nos órgãos governamentais, não tem contabilidade, geralmente não recolhe impostos, não tem donos ou sede. A entidade supra-empresarial é composta por empresas, que se relacionam formando um sistema, e, desse modo, adquirem características próprias de um conjunto de empresas, que não existem nas empresas consideradas isoladamente. Para introduzir os elementos fundamentais para a compreensão do conceito de entidade supra-empresarial, convêm estabelecer uma comparação com outros agentes, utilizando-se análises comparativas e o repertório de hierarquia de sistemas. Na área biológica, uma analogia didática é o fato das abelhas constituírem colméias; essas representam um sistema de nível superior ao nível das abelhas. A entidade supra- empresarial está para a colméia da mesma forma que a empresa está para a abelha. Portanto, é defensável afirmar que uma colméia é uma entidade “supra-abelhas”. Da mesma forma, um time de amadores de futebol, por exemplo, é uma entidade “supra-indivíduos” de jogadores de futebol. A colméia, resgatando a entidade supra-abelhas, apresenta a condição natural de realizar coisas impossíveis para abelhas isoladamente. De fato, em uma colméia, a abelha isolada tem importância irrelevante. O time de futebol tem resultados, por sua vez, que dependem mais do conjunto formado do que das capacidades isoladas dos jogadores. Para entender uma colméia como uma entidade em nível acima do nível da Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 9 abelha, pouco adianta entender de abelha. Pela mesma razão, entender de Cluster e Rede de Negócios é diferente de entender uma empresa. Quem decidir abordar o sistema, partindo do entendimento da empresa terá um longo caminho pela frente. O caminho mais curto é identificar as inter-relações entre os agentes que compõem o sistema, isto é, entre abelhas no sentido de compreender a colméia e entre empresas no sentido de compreender a entidade supra-empresarial, abordando na seqüência os efeitos do conjunto dessas interações. Por exemplo, para entender um shopping center como um tipo específico de entidade supra-empresas, o caminho mais longo é partir do conhecimento de cada loja isoladamente em seus detalhes. O entendimento do shopping só se inicia de fato quando se apreende o efeito cruzado e integrado entre as lojas ou, em outras palavras, como umas afetam as outras, como elas compõem um todo maior, com efeitos superiores aos possíveis para o conjunto se analisada cada uma delas isoladamente. A reunião daquelas lojas em um determinado prédio gerou uma nova entidade, abstrata, com funções maiores do que a simples administração de um condomínio dos negócios considerados como independentes. Da mesma forma, o entendimento de um porto para comércio internacional ou de um grande aeroporto demanda a compreensão dos negócios, que o constituem, onde dezenas de tipos de negócios interagem entresi, com várias empresas competindo em cada negócio, viabilizando a transferência e armazenagem de mercadorias variadas e em volume elevado. É praticamente inviável conceber um grande porto, ou aeroporto, sem a perspectiva de uma entidade supra- empresarial. Considerando-se uma perspectiva conjugada entre uma visão orientada à instrumentalização conceitual e uma abordagem de aplicabilidade de conceito, define-se Entidade Supra-empresarial como proposto a seguir: Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 10 Existem diferentes tipos de entidades supra-empresariais, cada uma com suas características; o presente texto se concentra em apenas dois tipos delas: os Clusters de Negócios e as Redes de Negócios. Como uma aproximação suficiente para a compreensão da natureza, semelhanças e diferenças de clusters e redes de negócios, o Quadro 3.1 focaliza suas três principais determinantes. QUADRO 3.1 – Análise Comparada de Clusters e Redes de Negócios Fonte: autores ENTIDADE SUPRA-EMPRESARIAL se constitui em um sistema instituído pela inter-relação de um conjunto de negócios relacionados a um determinado produto, linha, categoria ou mercado, em que o processo de integração e a dinâmica das relações entre as organizações implicam efeitos sistêmicos de amplificação da capacidade competitiva do sistema e de seus componentes em relação a empresas situadas externas a ele. DIMENSÃO DE COMPARAÇÃO CCLLUUSSTTEERRSS DDEE NNEEGGÓÓCCIIOOSS RREEDDEESS DDEE NNEEGGÓÓCCIIOOSS Relação entre Negócios PPrrooxxiimmiiddaaddee ggeeooggrrááffiiccaa CCoommppaattiibbiilliiddaaddee ddee pprroodduuttooss ((iinnddúússttrriiaa)) TTrrooccaa ccoollaabboorraattiivvaa TTrraannssaaççõõeess bbaasseeaaddaass eemm ffiiddeelliizzaaççããoo Arranjo Estrutural CCoonnjjuunnttoo ddee nneeggóócciiooss pprreesseenntteess eemm ddaaddaa rreeggiiããoo,, ooppeerraannddoo nnaa mmeessmmaa iinnddúússttrriiaa ((oouu eemm iinnddúússttrriiaa ccoommpplleemmeennttaarr oouu ccoorrrreellaacciioonnaaddaa)).. CCoonnjjuunnttoo ddee nneeggóócciiooss pprreesseenntteess eemm ddaaddaa ccaaddeeiiaa ddee ffoorrnneecciimmeennttoo,, ooppeerraannddoo ttrraannssaaççõõeess eennttrree ssii oorriieennttaaddaass ppaarraa ffiiddeelliizzaaççããoo.. Bases de Competitividade CCOONNCCEENNTTRRAAÇÇÃÃOO GGEEOOGGRRÁÁFFIICCAA PPRROOCCEESSSSOO DDEE FFIIDDEELLIIZZAAÇÇÃÃOO Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 11 AUTO-ORGANIZAÇÃO: COMPETITIVIDADE AUTO-EVOLUTIVA A auto-organização de Clusters e Redes de Negócios refere-se a um processo peculiar de gênese e desenvolvimento dos respectivos sistemas, clusters e redes, denominados entidades supra-empresas. O processo de organização de uma empresa é inteligente ou, pelo menos, consciente. O planejamento da futura empresa incorpora um plano de investimento inicial, com recursos disponíveis, estabelecendo o que convém realizar na primeira etapa, na segunda etapa etc. até o objetivo proposto ser atingido. No caso de um shopping center, que é um tipo de entidade supra-empresas, também existiu um processo de organização plenamente consciente de todos os aspectos: escolha da localização, vias de acesso, prédio, mix conveniente de lojas, forma de avaliação das lojas para eventual substituição etc., tudo consciente e racionalmente planejado. Este tipo de processo deliberadamente organizado não se verificou para a instituição dos Clusters e Redes de Negócios existentes. Não deixa de ser viável, no futuro, novos clusters e redes serem planejados ou organizados segundo um procedimento equivalente ao dos shoppings atuais. Por enquanto, não há possibilidade de abordar clusters e redes, sem reconhecê-los como resultado de um processo que se originou com auto- organização. A aparente dificuldade inicial na compreensão, ou mesmo aceitação, do processo de organização de um arranjo supra-empresarial é o fato delas não terem um grupo único de acionistas ou um único proprietário de todos os negócios, assim como não possuírem um executivo geral responsável pela totalidade dos negócios. Sem essa condição, não é possível conceber um plano completo e racional para planejar cada etapa da organização ou mesmo para definir quais serão as etapas. Como conseqüência, não é possível falar em organização deliberada de clusters e redes com base Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 12 racional como resultado de um processo completamente planejado dentro de um sistema de livre iniciativa capitalista. O paradoxo incômodo encontra-se no reconhecimento necessário de que entidades supra-empresas, a exemplo de clusters e redes, que não resultaram de um processo racional de organização, apresentarem, em geral, posição de vencedores na competição com empresas, conscientemente concebidas e organizadas. Afortunadamente, Clusters de Negócios e Redes de Negócios são arranjos reconhecidos (“institucionalizados”) e, disso, restam a missão e a oportunidade de buscar lições sobre como proceder em situações assemelhadas. Desse modo, a proposta conceitual apresentada confere uma caracterização teoricamente sustentável e uma descrição eminentemente funcional para o processo de auto-organização associado à evolução manifestada em clusters e redes de negócio. NÚCLEO INICIAL DA AUTO-ORGANIZAÇÃO A auto-organização pressupõe um ponto de partida, uma condição de germinação, enfim, um germe, em que, na hierarquização de sistemas, o AUTO-ORGANIZAÇÃO SUPRA-EMPRESARIAL constitui um processo de caráter espontâneo e evolutivo resultante do conjunto de efeitos sistêmicos decorrentes das relações estabelecidas em uma entidade supra-empresarial (dos negócios entre si e com o ambiente), caracterizado pelo desenvolvimento de condições mais complexas e progressivamente mais competitivas ao longo do tempo. Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 13 nível superior ao nível das empresas passa a existir. Esse ponto de partida, no caso de clusters, é a formação “inicial” do aglomerado mínimo de empresas, geralmente semelhantes, que apresentam – por exemplo – a vantagem de exercer potencialmente maior atração dos clientes. No caso de redes de negócios, a ‘germinação’ está associada a um acréscimo significativo na especialização de operações, vinculado a alguma fidelidade na relação fornecedor-fornecido. O germe da nucleação de arranjos supra- organizacionais, como os tratados, pode estar ligado a condições aleatórias ou ser potencializado por essas condições. Um exemplo de caso real, simplificado para avaliar o essencial do processo de auto-organização, é apresentado a seguir como referência de discussão para essa evolução. Considerando que – por uma razão qualquer – se estabeleceu, ainda de forma irrelevante, um pequeno agrupamento de lojas iguais ou assemelhadas, em um trecho de rua, independentes uma das outras. Esse agrupamento passou a ser o ponto de partida para uma evolução espontânea, não prevista. Assim, são oferecidas as condições para a ocorrência do efeito 1. EFEITO 1 – condição favorável de atraçãode clientes, devido à situação de variedade de oferta, preço aparentemente justo, resultado da concorrência instalada, entre outros. Esse efeito induz o efeito 2; EFEITO 2 – aumento da média de vendas por loja, em função do incremento da atração provocado pelo Efeito 1, implica maior lucratividade das lojas, contexto condicionante e potencionalizador do efeito 3; EFEITO 3 – ampliação da atratividade para outras lojas, devido à qualidade dos negócios percebida por empreendedores. Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 14 Novas lojas apresentam alguma diferenciação nos produtos, resultando em dois efeitos (4 e 5) distintos; EFEITO 4 – expansão de variedade e sortimento do conjunto de produtos oferecidos no agrupamento de lojas, com oferta adicional de benefício para os clientes, levando a efeito 6; EFEITO 5 – aumento no número de lojas instaladas em relação à dimensão inicial do agrupamento inicial, remetendo também ao efeito 6; EFEITO 6 – crescimento do poder de atração de clientes, potencializado pela expansão da variedade de produtos e pelo aumento do número de lojas. Ocorre que o Efeito 6 tem a mesma natureza do Efeito 1, ou seja, completa-se um ciclo que se auto-alimenta, à medida que, a rigor, o Efeito 1 se repete. Esse Efeito 1 reiterado provocará o Efeito 2 reiterado, determinando o Efeito 3 reiterado e assim por diante, enquanto causas e respectivos efeitos apresentarem o mesmo caráter das anteriores. O exemplo apresentado, embora simples, é representativo do processo que se repete com maior complexidade em sistemas onde as interações não seriam limitadas aos cinco efeitos e, sim, constituídas e serem resultantes de dezenas de efeitos, com encadeamentos mais complexos, porém dotadas dos mesmos atributos, qualidades e características básicas, como esquematizado na Figura 3.1. Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 15 Figura 3.1 - Desenvolvimento de Clusters de Clusters de Negócios Fonte: autores. VELOCIDADE DE AUTO-ORGANIZAÇÃO Propositalmente não se discutiu nessa primeira aproximação, a defasagem no tempo entre os diferentes efeitos, ou seja, o tempo transcorrido para que o Efeito 1 provoque o Efeito 2 e, deste, o intervalo temporal para que aconteça o Efeito 3 e assim por diante. Estes prazos são condicionados à situação específica de cada caso; podem ser rápidos, demandando poucos dias, ou longos, com horizontes de mais de um ano para cada efeito. São estes prazos obviamente que determinam a velocidade de auto- organização. No caso de Clusters de Negócios, que foram ‘instituídos’ Clusters e Redes de Negócio – uma visão estratégica – ZACCARELLI Processo de Desenvolvimento de Clusters AGRUPAMENTO INICIAL ATRAÇÃO DE CLIENTES [1] VENDAS POR LOJA [2] No. DE LOJAS NO AGRUPAMENTO [5] VARIEDADE DE PRODUTOS DO AGRUPAMENTO [4] ATRAÇÃO DE NOVAS LOJAS [3] Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 16 como resultado de auto-organização, o tempo necessário para uma condição de competição internacional é estimado em decênios, devendo se reconhecer que transcorrerá outro período correspondentemente longo para se alcançar potencialmente a liderança numa competição global. CARACTERÍSTICAS DE SISTEMAS COM AUTO-ORGANIZAÇÃO Sistemas com auto-organização, ou – em outros termos – constituídos e em evolução por processos de auto-organização, apresentam, ao menos, três características distintivas: [1ª] – a seqüência dos efeitos forma um ciclo fechado; os efeitos iniciados em um determinado ponto prosseguem até seus desdobramentos resultarem na amplificação do efeito de origem, determinando um novo ciclo de efeitos do mesmo tipo que o anterior. O processo, com caráter progressivo, não se torna instável devido a restrições do ambiente. [2ª] – todos os efeitos são positivos, ou seja, levam a um incremento da situação anterior. Se entre os efeitos positivos, houver algum efeito negativo (ou de decremento da condição anterior), o sistema acaba apresentando uma restrição ao crescimento ou oscila, alternando progresso e retrocesso. [3ª] – não há restrições de natureza interna ao processo para o crescimento de um sistema auto-organizado. Esse sistema tende a crescer continuamente até ser limitado por uma condição originada no exterior do sistema. Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 17 No exemplo desenvolvido, enquanto for possível atrair mais clientes, o aglomerado de lojas continuará crescendo por auto-organização. Temos, nos sistemas biológicos, exemplos marcantes de sistemas sem limites internos de crescimento. Os dinossauros, em condições de disponibilidade de alimento, permanecem em processo de crescimento “indefinidamente”; os jacarés mantêm esta característica, não existindo tamanho padrão do animal adulto em contra-partida aos animais superiores, dotados de limitação de crescimento de origem interna, sugerindo uma questão para a reflexão. Como conseqüência da terceira característica, os clusters, por não terem limites internos ao crescimento por auto-organização, tendem a crescer até se tornarem monopolistas como entidade supra-empresas (embora as empresas dentro do cluster permaneçam competindo entre si), capazes de alcançar supremacia no mercado mundial, se não houver barreira ao livre comércio. O exemplo mais evidente é o caso da indústria do cinema em Hollywood, cujo cluster venceu todos os competidores, chegando ao monopólio mundial, com exceção da Índia, protegida pela sua diferenciação cultural. AUTO-DESORGANIZAÇÃO: DESMANTELAMENTO SUPRA-EMPRESAS O fenômeno de auto-organização pode se converter em um processo de ‘auto-desorganização’. Duas condições seriam necessárias para tanto, uma de natureza de origem e outra associada ao caráter das interações: [1] – a condição de partida deixa de ser a dimensão mínima indispensável e passa a ser uma situação manifestada ou desenvolvida no/pelo sistema (com alguma organização Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 18 sistêmica), pois, em caso contrário, não haveria o que desorganizar; [2] – o resultado dos efeitos está associado a decremento das condições anteriores, ou seja, o sinal dos efeitos, positivo na auto-organização, assume condição negativa, determinando o decrescimento ou o potencial de redução. O mesmo exemplo, dotado de simplicidade, usado anteriormente pode ser considerado para a auto-desorganização. O agrupamento de lojas, com dimensões relativamente elevadas e condição francamente competitiva, constitui nossa situação de partida. Por hipótese, o Efeito 1, num dado momento, assume condição inversa ao caso anterior: EFEITO 1 – condição desfavorável de atração de clientes, devido à situação acesso à região onde o cluster se encontra instalado, induzindo o efeito 2; EFEITO 2 – declínio da média de vendas por loja, em função da diminuição da atração provocado pelo Efeito 1, implicando menor lucratividade e, por conseguinte, o efeito3; EFEITO 3 – fechamento ou mudança de algumas lojas, devido às condições de qualidade inferior do negócio, resultando nos efeitos 4 e 5; EFEITO 4 – diminuição de variedade e sortimento do conjunto de produtos oferecidos no agrupamento de lojas, reduzindo- se benefício para os clientes e potencializando efeito 6; EFEITO 5 – redução no número de lojas instaladas em relação à situação anterior, remetendo ao efeito 6; Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 19 EFEITO 6 – contração do poder de atração de clientes, potencializado pela diminuição da variedade de produtos e pela redução do número de lojas. O primeiro ciclo de efeitos sucessivos se encerra e desencadeia um processo interativo auto-alimentado que conduz potencialmente o sistema a uma situação de extinção. Em um aspecto, a auto-desorganização apresenta-se, em geral, francamente distinta da auto-organização: a velocidade de desorganização tende a ser relativamente muito maior do que a velocidade de organização, chegando eventualmente a condições de implosão. Concluindo a apresentação do conceito de auto-organização, é possível ou mesmo natural que o leitor entenda, como estranho, um conceito simples ser aplicável a uma realidade extraordinária e tão relevante de desenvolvimento de clusters e redes de negócios. Embora, seja compreensível esta atitude, o argumento factual que a realidade está a mostrar, com a diversidade e profusão de casos reais, quando abordada consistentemente não oferece espaços para dúvidas sobre a auto- organização de clusters e redes de negócios, particularmente em casos de auto-desorganização, situação progressiva de descontinuação de negócios motivada por um processo de natureza supra-empresarial. GOVERNANÇA SUPRA-EMPRESAS: COMPETITIVIDADE GERENCIADA Até há pouco tempo, a palavra governança sem um qualificativo, significava “governança corporativa”, designando a forma de atuação do Conselho de Administração de “grandes empresas”. O Conselho de Administração exercia a governança corporativa, tendo como uma de suas Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 20 funções precípuas, a indicação do primeiro executivo da empresa. Entretanto, esse Conselho não dá ordens ou decide abertamente. Assim parece (note-se a palavra: parece) que esse órgão ou instância não apresenta significativo poder de comando. Os conselheiros se comportam discretamente, fornecendo orientação e avaliação sobre movimentos e evolução do negócio, mas se julgarem que a gestão não está satisfatória, substituem o executivo, que empossaram. Se o mesmo Conselho de Administração fosse atuante como Governador Corporativo, seria natural que tomasse decisões e gerenciasse sua implementação. A governança corporativa influencia nas decisões, porém de forma tácita. A governança supra-empresas (ou empresarial) apresentaria, como a governança corporativa, uma atuação velada, discreta e de orientação para decisões voltadas para a competitividade e o resultado do agrupamento de negócios, ao qual se relaciona. Portanto, a governança supra-empresarial não concentraria sua perspectiva de atuação em uma empresa isoladamente, mas consideraria o conjunto de todas as empresas, ou seja, focalizaria sua atuação reconhecendo sua natureza de entidade supra-empresas. De fato, a presença efetiva e “reconhecida” de governança vem sendo pesquisada e constatada nos últimos 15 anos. Miles e Snow, tendo iniciado suas pesquisas ao final da década de 80, investigando a relação entre estrutura, processos e estratégia organizacional (Miles e Snow, 1978), em artigo publicado em 1986, propunham com destaque, entre os novos conceitos, associados às novas formas de articulação entre negócios e empresas, uma ‘primeira definição’ para o processo de gestão supra-empresarial que enfatizavam como uma dimensão a ser reconhecida: Clusters of firms or specialized units coordinated by market mechanisms (Miles e Snow, 1986). Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 21 Em 1992, os mesmos autores discutem potenciais condicionantes de desarticulação de ‘organizações em rede’, partindo das proposições desenvolvidas sob a visão de uma administração de nível superior ao das organizações. Nesse período, início da década de 90, Powell a partir de um estudo sobre mercado e hierarquia entre empresas, pesquisava a constituição e a relação de organizações na forma de redes, assinalando a existência de um processo peculiar de vinculação entre negócios: Lateral or horizontal patterns of exchange, independent flows of resources, reciprocal lines of communication (Powell, 1990). Os estudos desenvolvidos em setores específicos ofereciam dados, informação e evidência da presença e da relevância de processos de gerenciamento extra-organizacional, responsáveis pela coordenação entre diferentes negócios independentes, enfatizando a importância de uma governança supra-empresarial. Exemplos como da indústria têxtil na Itália (Mariotti e Cainarca, 1986), do setor cinematográfico (Faukner e Anderson, 1987), do setor de serviços financeiros (Eccles e Crane, 1988), da indústria de semicondutores (Saxenian, 1990), do conjunto de negócios ligados a biotecnologia (Barley, Freeman e Hybels, 1992) ou do segmento de moda (Uzzi, 1996, 1997) registrados e reconhecidos aferiam e validavam a governança supra-empresas como um conceito presente no cotidiano da operação de diferentes contextos de negócio, não restrito a um ou outro setor. Ao longo do tempo, onde as pesquisas confirmavam a presença de governança supra-empresas em diferentes setores, se desenvolvia simultaneamente a demanda por definições mais compreensivas da administração diferenciada e específica nesse domínio. Diversas contribuições se sucederam, baseadas em maior rigor conceitual e/ou maior aplicabilidade de conceito, como Dubini e Aldrich (1991), Larson (1992), Gerlach e Lincoln (1992), Alter e Hage (1993), Kreiner e Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 22 Schultz (1993), Granovetter (1994, 1995), Liebeskind, Oliver, Zucker e Brewer (1996) e Jones, Hesterly e Borgatti (1997). A disponibilidade de pesquisas sérias e validadas nesses últimos vinte anos, envolvendo diferentes perspectivas de abordagem, focalizadas na observação e compreensão da competitividade de “complexos organizacionais”, evidenciaram com absoluta clareza a presença de uma instância gestora em nível supra-organizacional em setores distintos, compostos por empresas independentes, porém ligadas por vínculos de proximidade geográfica, relacionamento transacional, processos competitivos e/ou cooperativos,. Embora sua definição ainda não possa ser considerada como universal, em função da relativa frouxidão da maioria das propostas de conceituação, os estudos mais recentes, como em particular o de Jones, Hesterly e Borgatti (1997), demonstram importante consistência conceitual e aplicabilidade de negócio, sendo baseados numa composição entre as teorias de custo de transação (transaction cost theory) e de rede social (social network theory). Nesse sentido, a proposta dos autores citados para a gestão supra-empresarial seria: Network governanceinvolves a select, persistent, and structured set of autonomous firms (as well as non-profit agencies) engaged in creating products or services based on implicit an open-ended contracts to adapt to environmental contingencies and to coordinate and safeguard exchanges. (Jones, Hesterly e Borgatti, 1990). A ressalva a ser considerada para a definição anterior está relacionada a uma aplicabilidade mais compatível com redes de negócio do que com clusters de negócio diretamente, entretanto, não deixa de contemplar aspectos cruciais da natureza desse tipo de gestão, como adaptação Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 23 coletiva e acordada entre negócios como mecanismo de adequação a contingências ambientais. A governança supra-empresarial, como instância de gestão, coordenação e controle de entidades supra-empresas pode adequadamente ser definida, reconhecendo a consistência conceitual demandada e a instrumentalização requerida pelo conceito como proposto. CLUSTERS, REDES E A GOVERNANÇA SUPRA-EMPRESARIAL Dois casos reais podem pavimentar a discussão sobre a governança, sua natureza, sua importância e até sobre as evidências de sua existência: Caso 1: em meados de 2004, o mercado internacional de soja, com uma história recente de preços elevados, sofreu uma queda de 30%. Todos os agricultores, que estavam colhendo no hemisfério norte ou que tinham acabado de plantar no hemisfério sul, iriam passar de um ano de lucros para um ano de prejuízo. Isso não estava previsto e, pior ainda, quando ocorreu, não havia explicações fundamentadas para as causas da queda dos preços. GOVERNANÇA SUPRA-EMPRESARIAL constitui o exercício de influência orientadora de caráter estratégico de entidades supra-empresariais, voltado para a vitalidade do agrupamento, compondo competitividade e resultado agregado e afetando a totalidade das organizações componentes do sistema supra- empresarial. Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 24 Caso 2: o Brasil, líder mundial na exportação de frangos, tem uma rede de negócios que não é perfeita, mas significativamente evoluída. O planejamento desta atividade requer uma previsão de consumo com horizonte relativamente longo. Trata-se de decidir quantas “avós” dos frangos, a serem abatidos, são necessárias hoje. Um erro para menos no número de “avós” necessárias, resultará num número de “mães” insuficiente no curto prazo e o número de frangos no médio prazo será inferior ao necessário. Se o abastecimento for insuficiente, haverá alta de preços pela escassez e, em conseqüência, uma corrida para maior produção futura, além da necessidade do mercado, implicando, em futuro próximo, baixa desproporcional dos preços. Nesse contexto, o mercado de frangos aparentemente seria mais instável do que o mercado de soja. Mas não é isto que tem sucedido: o mercado de frangos tem se conservado estável, não existindo registro histórico de prejuízos relevantes por falta de abastecimento ou superprodução. O que faz a diferença entre o mercado da soja e o do frango? É difícil ver o que faz a diferença porque ela não se apresenta de maneira manifesta. Mas a resposta está na governança supra-empresarial das Redes de Negócios de frangos, que atua como uma “mão invisível” controlando conscientemente o mercado. Por que essa governança supra- empresas tem que procurar agir da forma mais reservada possível, mesmo com objetivos e ações relevantes e benéficas a quase todos, como no caso da regulação do mercado? É melhor responder a pergunta oposta: por que uma condição mais discreta é preferível à governança? Se a governança for visível, ela será Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 25 ‘vista’ como um ente superior, comandando e determinando movimentos para os negócios da Rede ou do Cluster, o que corresponderia a dar ordens para presidentes e conselhos das empresas. Certamente, esses presidentes, conselheiros ou acionistas de tais empresas não considerariam legítima essa interferência da governança. Provavelmente afirmariam algo como: “esta empresa é minha e ninguém tem o direito de me dar ordens”. Não existe base legítima ou legal para a Rede ou o Cluster de Negócios dar ordens a quem quer que seja. Os legisladores ainda não legalizaram essas entidades como pessoas jurídicas. Não existe sequer amparo legal a atribuições de chefia de uma entidade supra- empresas como essas. Pelo exposto acima, não é adequado nem é legal que a governança dê ordens manifestas. Mas, por outro lado, a demanda por alguma instância equivalente à chefia formal com responsabilidade e capacidade de influência e orientação permanece como condição necessária para a garantia e a estabilidade de eficácia e eficiência das Redes de Negócios e dos Clusters de Negócios, quando a auto-organização for insuficiente ou não efetiva isoladamente para o alcance dos objetivos do agrupamento de negócios. Aparece assim o conceito moderno de governança supra-empresas, que corresponde, grosso modo, a comandar sem parecer que comanda e até sem parecer que existe. Como isso pode ser viabilizado? Os comandos da governança supra-empresarial, após a auto-organização, não podem ser visíveis, mas não podem deixar de existir. O problema delicado é compatibilizar a existência com a invisibilidade. Esse tipo de problema não é original. O livro “O Príncipe” de Machiavelli, escrito em 1504, trata de outra aparente incompatibilidade: como um chefe pode ser temido e estimado simultaneamente pelo mesmo subordinado. Machiavelli tem sido, por cinco séculos, louvado e admirado, de príncipes e generais até supervisores e gerentes de empresas, por suas recomendações orientadas para a solução e gestão desse tipo de paradoxo. Necessita-se de um novo Machiavelli que demonstre ou explique como compatibilizar Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 26 invisibilidade com comando sobre todo um arranjo supra-empresarial. Enquanto se aguarda o novo Machiavelli com a solução completa, algumas indicações para o procedimento dos atores da governança podem ser prescritas: ! AÇÃO amistosa de negociador de acordos, geralmente verbais, sem cláusulas de penalidades, estabelecendo composições com caráter mais de “tratos” do que de contratos, onde o acordo sugere solução pensada, atendendo a todas as partes; ! NATUREZA de aconselhamento e de divulgação de idéias e conceitos convenientes à “boa” administração, tais como investimentos em tecnologia de gestão e de estratégia conjunta das empresas, que compõem a entidade supra-empresas; ! COMPORTAMENTO de zelo pelo bem geral ou, mais especificamente, pela qualidade integrada do sistema, baseado em presença, decisões e ações efetivas e orientadas para o agrupamento de negócios, em particular, e da comunidade, em geral; ! OPERAÇÃO baseada no incentivo e na construção de solução pela “mão dos outros”, como patrocínio velado, mas efetivo, à inovação de processos ou desenvolvimento de produtos em uma empresa fornecedora, como convém à governança; ! RESPONSABILIDADE pela integridade do sistema, de sua operação eficiente, da integração dos membros componentes do arranjoe da qualidade das relações desenvolvidas pelas empresas participantes; Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 27 ! ATITUDE dirigida e consistente de estímulo e favorecimento de processos orientados para relacionamentos baseados em fidelização entre diferentes empresas componentes de uma mesma entidade supra-empresarial. Certamente, o perfil “ÂNCORA” é constituído apenas por aspectos ou atributos que remetem à importância da presença e ação da governança. Porém, nesse contexto, dois conceitos são fundamentais: (1) governança só é dispensável na fase inicial do desenvolvimento de Clusters de Negócios e Redes de Negócios, sendo que nesse último, os processos associados à auto-organização apresentariam uma dinâmica ineficiente, que na presença de governança, resgatariam as melhores condições evolutivas; (2) uma entidade supra-empresas, sem uma orientação aparente, estável e funcionando adequadamente por um período relativamente longo, certamente, mesmo que transparente, possui governança, com competência, pois não seria viável esse quadro na ausência de uma governança supra-empresas. Aparentemente misteriosa, pela evidência de sua ação e dificuldade de sua identificação, a governança é um mecanismo naturalmente resultante de estados favoráveis no contexto de negócio, onde se apresenta. A linha de raciocínio sugerida por Jones, Hesterly e Borgatti (1997), sem dúvida, oferece uma via de compreensão consistente para o a constituição de uma governança. Em um ambiente caracterizado por condições de necessidade de adaptações rápidas e significativas, demanda por capacidade destacada de coordenação entre negócios e presença de níveis de incerteza progressivamente ampliados (e, portanto, de demanda permanente de alternativas de auto-proteção e redução de riscos), a emergência de uma Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 28 governança é estimulada, à medida que provê redução de custos de transação, oferecendo vantagens comparativas em relação à configuração tradicional das relações entre negócios, mesmo associadas a composições consolidadas de empresas ou ainda a sistemas supra-empresariais não dotados de governança. Ou seja, a emergência e a constituição de uma governança supra-empresarial tende, ao longo do desenvolvimento da entidade supra-empresarial, tornar-se progressivamente mais favorável e necessária. PERFIL DA GOVERNANÇA SUPRA-EMPRESAS A entidade supra-empresas não é humana, não tem alma. É tão mecânica como uma boa máquina com seus hardwares e softwares e tão biológica como um bom organismo vivo mantendo sua homeostase e, nesse sentido, adaptando-se e/ou influenciando nas condições do ambiente, maximizando sua sobrevivência. Em função de uma gestão intencionalmente mascarada, não é associada a emoções ou vontades. Entretanto a governança é, em essência, uma atividade humana ou o seu resultado; necessita de homens para ser conduzida. Pode ser feita por um ou por vários homens, agindo como grupo ou como indivíduos, cada um com sua parte no todo. Em sendo atividade humana, requer pensamentos, baseia-se em valores, atitudes e os resultados despertam sentimentos nos homens que dão suporte à atuação da governança. Os ‘valores’ envolvidos, no sentido psicológico, tendem a estar ligados ao desempenho da entidade supra-empresarial e estão incorporados pelas pessoas que lidam com a governança. Se assim for, a governança vai orientar e agir para a entidade supra-empresas atingir os seus propósitos. A governança não será, pois, como um ‘fantasma’, que pode existir, mas não se incorpora ao mundo material. Ela é humana e atuante, porém se mantendo tão ‘intangível’ quanto possível. Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 29 Embora sob uma perspectiva didática, a apresentação dos conceitos de auto-organização e governança poderia induzir uma compreensão equivocada de independência entre os dois processos. Entretanto, reconhecidos e sedimentados os conceitos de auto-organização e governança supra-empresas, deve-se abordá-los, considerando clusters e redes de negócios, sob uma perspectiva conjunta em uma mesma entidade supra-empresarial. A primeira idéia, ao tratar do efeito conjunto, é considerá-lo como uma simples soma: o efeito conjunto seria apenas a soma do efeito da auto-organização ao efeito da governança, desprezando a possibilidade de haver uma interação entre eles, redefinindo, amplificando ou reduzindo, o efeito final. Tomando como exemplo, para efeito de analogia, a necessidade de deslocamento de uma mesa por dois indivíduos, tem-se que, se ambos empurrarem na mesma direção e sentido, o efeito teoricamente equivaleria; mas, se a mesa for significativamente pesada, a mesa poderia não ser deslocada e o efeito seria nulo; se o caminho pretendido para a movimentação da mesa for relativamente complexo, pode ocorrer da eficácia ser maior se uma pessoa se preocupar em empurrar e a outra em puxar... Nesta especialização da natureza do esforço, nem mesmo seria correto considerar o efeito final como a soma dos esforços: o mais adequado, nessa situação, seria analisar o efeito conjunto dos esforços. O efeito conjunto da auto-organização e da governança não é o mesmo para todos os tipos de entidades supra-empresas. Este efeito conjunto é diferenciado para cada caso, ou seja, o efeito em clusters de negócios difere do efeito em redes de negócios. Ao se tratar de uma determinada entidade supra-empresarial, cluster ou rede de negócios, não há a preocupação com a medida isolada do resultado associado à auto- organização e à governança. Considera-se que ambas intervêm nos “fundamentos da performance competitiva”, que por sua vez, afetam a a capacidade competitiva do cluster ou da rede de negócios. Ao tratar da Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 30 estratégia da entidade supra-empresarial, é possível identificar a conveniência de melhorar determinados fundamentos e, para isso, julga- se a alternativa de intervenção mais interessante, estimulando-se a auto- organização ou a governança. Não há sentido prático em melhorar um determinado fundamento por vez e, como eles guardam correlação entre si, é mais simples e funcional tratá-los como grupos, conforme a situação. A lista dos fundamentos para a performance competitiva, apresentada no capítulo anterior, poderia não possuir a mesma ordenação exibida. No entanto, a partir dos conceitos de auto-organização e governança supra- empresarial, torna-se viável justificar a ordem atribuída aos diversos fundamentos, sem que exista a pretensão ou a intenção de hierarquização por importância ou prioridade para qualquer propósito. Dois fundamentos, porém, têm posição claramente diferenciada dos demais: - a concentração geográfica no caso de clusters de negócios e a fidelização no caso de redes de negócios, que no primeiro momento, dependem de auto-organização, como será discutido nos dois próximos capítulos; - a estratégia, tanto nos clusters como nas redes, que conduzem a posições de superioridade na competição, está condicionada à governança supra-empresarial, como será detalhado no penúltimo capítulo. Assim, o rol de fundamentos, iniciadopor aqueles associados à auto- organização e finalizado por fundamentos relacionados à estratégia (relacionados à governança), constituem estruturas de apresentação, meramente indicativas de uma seqüência, mas sem a pretensão de uma sistematização de ordem. Embora tenha se adotado, como critério de ordenação, a experiência de campo e a aparente força da correlação entre o fundamento e a auto-organização, como base para a disposição do Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 31 respectivo fundamento na relação desses, não se deve considerar a disposição como referencial evolutivo. Está implícito, de certa forma, que a governança completa um processo evolucionário que tem sua gênese baseada em auto-organização, mas a importância relativa de cada uma delas é diferente, existindo casos onde a auto-organização constitui a maior componente e, em outros situações, onde a governança comparece como fato distintivo da diferenciação entre entidades supra-empresariais. Os Clusters podem atingir um estágio avançado de auto-organização sem qualquer governança. Essa condição confere elevada capacidade de competir, incluindo mercados internacionais. Entretanto, essa competência competitiva, em seu ‘nível máximo’, compromete seu potencial de lucratividade. O sistema torna-se competitivo, porém, em termos de construção de riqueza, tende a se transformar em um mau negócio em si. O advento da governança completa a evolução do cluster, promovendo o aumento da qualidade do negócio total do cluster, reduzindo sua competitividade a níveis seguros e aumentando os resultados dos negócios. As Redes, se dotadas apenas de auto- organização, alcançam um estágio potencialmente insuficiente de condição competitiva, principalmente em mercados globais. A governança, nesse caso, torna-se indispensável mesmo para a Rede de Negócios ter acesso a posição de competitividade efetiva, sendo responsável e agente acionador para desenvolvimento de outros fundamentos imperativos para a evolução plena de uma entidade supra-empresarial desse tipo. FUNDAMENTOS DA PERFORMANCE COMPETITIVA Fundamentos, como apresentado no capítulo anterior, correspondem a aspectos ou espíritos associados às variáveis ou aos fatores de um Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 32 sistema complexo que, em conjunto, determinam a maioria dos efeitos considerados relevantes. No caso de clusters e redes, o efeito considerado relevante é a capacidade competitiva e, por essa razão, serão focalizados os fundamentos que determinam a performance competitiva dessas entidades supra-empresariais. As variáveis ou fatores podem ser considerados indutivamente como em número reduzido frente às potencialmente passíveis de arrolamento em um processo de investigação mais detalhado em realidades significativamente complexas, como as consideradas. Entretanto, adotando-se a proposição do Princípio de Pareto, segundo o qual, em sistemas influenciados por diversas variáveis, existe a tendência de que um reduzido número dessas variáveis expliquem a maioria, senão a totalidade, dos efeitos, torna-se razoável considerar aquelas disponíveis, vinculadas aos fundamentos. Usar o Princípio de Pareto significa, para a finalidade proposta, identificar os aspectos de clusters e redes de negócios que são mais significativos na determinação de sua competitividade como entidade supra-empresarial. Esses aspectos, após testes de campo com variados e diferentes casos reais, foram elencados e constituem o que se denominou “Fundamentos da Performance Competitiva”. Inicialmente, foram construídos os fundamentos para Clusters de Negócios e, posteriormente, desenvolveu-se tais fundamentos para o caso de Redes de Negócios. Os quadros 3.2 e 3.3 apresentam os fundamentos para Clusters e Redes, respectivamente. Se os fundamentos evidenciam o que é relevante para cada sistema, numa dada situação de interesse para o analista, é admissível afirmar – de forma pragmática – que o elenco de fundamentos apresentados define o sistema e a sua abordagem numa perspectiva orientada para a capacidade competitiva, particularmente associando seus fundamentos aos processos de auto-evolução e governança: Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 33 ! Cluster de Negócios: sistema que apresenta os fundamentos apresentados do Quadro 3.2, agrupados em função de sua associação ou dependência em relação aos processos de auto-organização e governança. ! Rede de Negócios: sistema que apresenta os fundamentos do Quadro 3.3, agrupados em função de sua associação ou dependência em relação aos processos de auto- organização e governança. QUADRO 3.2 – Performance Competitiva de Clusters: Atributos Fonte: Edição sobre material pessoal do Prof. Zaccarelli FUNDAMENTO ATRIBUTO / CONDIÇÃO Fundamento 1 CONCENTRAÇÃO geográfica em áreas relativamente reduzidas Fundamento 2 ABRANGÊNCIA de negócios viáveis e relevantes Fundamento 3 ESPECIALIZAÇÃO das empresas Fundamento 4 EQUILÍBRIO com ausência de posições privilegiadas Fundamento 5 COMPLEMENTARIDADE (de negócios) por utilização de subprodutos Fundamento 6 COOPERAÇÃO entre empresas do Cluster de Negócios Fundamento 7 SUSTITUIÇÃO Seletiva de negócios do Cluster Fundamento 8 UNIFORMIDADE do nível tecnológico Fundamento 9 CULTURA da comunidade adaptada ao cluster FUNDAMENTO ATRIBUTO / CONDIÇÃO Fundamento 10 CARÁTER EVOLUCIONÁRIO por introdução de (Novas) Tecnologias Fundamento 11 ESTRATÉGIA DE RESULTADO orientada para o cluster 1o. GRUPO - viável por Auto-organização; não demanda Governança 2o. GRUPO - inviável por Auto-organização; demanda GOVERNANÇA Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 34 Observações a. No primeiro grupo, os 9 aspectos fundamentais, que se constituem em domínio de auto-evolução, podem progredir até um dado estágio limite, isto é, uma condição de cluster completo de forma independente dos aspectos restantes; b. Os aspectos 10 e 11, que se constituem em domínios de governança do cluster, podem se manifestar e passarem a existir antes dos aspectos da auto-evolução estarem completos. QUADRO 3.3 – Performance Competitiva de Redes: Atributos Fonte: Edição sobre material pessoal do Prof. Zaccarelli FUNDAMENTO ATRIBUTO / CONDIÇÃO Fundamento 1 FIDELIZAÇÃO progressiva entre fornecedores- clientes Fundamento 2 COMPRA DIRETA de insumos produtores -> usuários Fundamento 3 ABRANGÊNCIA de negócios presentes na rede Fundamento 4 ESPECIALIZAÇÃO das empresas presentes na rede Fundamento 5 AGILIDADE na substituição de empresas FUNDAMENTO ATRIBUTO / CONDIÇÃO Fundamento 6 HOMOGENEIDADE da intensidade de fluxos Fundamento 7 INOVAÇÃO para Alinhamento de negócios Fundamento 8 APERFEIÇOAMENTO por introdução de Novas Tecnologias Fundamento 9 COMPARTILHAMENTO de investimentos, riscos e lucros Fundamento 10 ESTRATÉGIA DE GRUPO para competir como Rede 1o. GRUPO - ineficiente por Auto-organização; Governança garante o processo de organização 2o. GRUPO - inviável por Auto-organização; Governança é indispensável no processo de organização Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica –ZACCARELLI 35 Observação a. No primeiro grupo, os 5 primeiros aspectos fundamentais podem apresentar auto-evolução até um estágio não completo; posterior a essa condição, a presença de uma governança em cada Rede de Negócios torna-se indispensável como agente acionador de desenvolvimento desses para sua conclusão, assim como base de sustentação para o progresso dos demais; b. A presença efetiva de governança para os cinco primeiros aspectos determinaria um incremento de eficiência, não acessível sem a concorrência desse processo, em função apenas da auto- organização. As listas apresentadas se baseiam em resultados de testes compilados diversos diagnósticos reais, como apresentado no capítulo 10, refletindo nosso estágio de entendimento de Clusters e Redes de Negócios. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Uma entidade supra-empresas é uma abstração. Ela não tem registro nos órgãos governamentais, não tem contabilidade, geralmente não recolhe impostos, não tem donos ou sede. A entidade supra-empresarial é composta por empresas, que se relacionam formando um sistema, e por isso adquirem características próprias de um conjunto de empresas, que não existem nas empresas consideradas isoladamente. A auto-organização pressupõe um ponto de partida, uma condição de germinação, enfim, um germe, onde, na hierarquização de sistemas, o nível superior ao nível das empresas passa a existir. Esse ponto de partida, no caso de clusters, é a formação “inicial” do aglomerado mínimo de empresas, geralmente semelhantes, que apresentam – por exemplo – a vantagem de exercer potencialmente maior atração dos clientes. No caso de redes de negócios, a ‘germinação’ está associada a um acréscimo significativo na especialização de operações vinculado a alguma fidelidade na relação fornecedor-fornecido. O germe da nucleação de arranjos supra-organizacionais, como os tratados, pode estar ligado a condições aleatórias ou ser potencializado por essas Clusters e Redes de Negócios - Zaccarelli CLUSTER E REDES DE NEGÓCIOS – uma visão estratégica – ZACCARELLI 36 condições. Dadas as condições de nucleação, desenvolve-se espontaneamente um processo evolutivo associado à expansão da capacidade competitiva desses arranjos. Sob a perspectiva de um sistema individualizado resultante da composição das empresas num cluster ou numa rede de negócios, surge a demanda por uma orientação integrada. Os comandos, após a auto-organização, não podem se basear em autoridade formal, mas não podem deixar de existir. O problema delicado é compatibilizar a existência com a condição de informalidade legal. De certa forma, a governança completa um processo evolucionário que tem sua gênese baseada em auto-organização, mas a importância relativa de cada uma delas é diferente, existindo casos onde a auto-organização constitui a maior componente e, em outros situações, onde a governança comparece como fato distintivo da diferenciação entre entidades supra-empresariais. Os Clusters podem atingir um estágio avançado de auto-organização sem qualquer governança. Essa condição confere elevada capacidade de competir, incluindo mercados internacionais. Entretanto, essa competência competitiva, em seu ‘nível máximo’, compromete seu potencial de lucratividade. O sistema torna-se competitivo, porém, em termos de construção de riqueza, tende a se transformar em um mau negócio em si. O advento da governança completa a evolução do cluster, promovendo o aumento da qualidade do negócio total do cluster, reduzindo sua competitividade a níveis seguros e aumentando os resultados dos negócios. As Redes, se dotadas apenas de auto-organização, alcançam um estágio potencialmente insuficiente de condição competitiva, principalmente em mercados globais. A governança, nesse caso, torna-se indispensável até mesmo para a Rede de Negócios ter acesso a uma posição de competitividade efetiva, sendo responsável e agente acionador para desenvolvimento de outros fundamentos imperativos para a evolução plena de uma entidade supra-empresarial desse tipo. REFERÊNCIAS ALTER, C. e HAGE, J. Organizations working together. Newbury Park, CA: Sage, 1993. BARLEY, S. R.; FREEMAN, J. e HYBELS, R. C. Strategic alliances in commercial biotechnology. In Nohria; N.; Eccles, R. (eds.), Networks and Organizations. pp. 311 – 347. Boston, MA: Harvard Business School Press, 1992. BEER, Stafford. Brain of the firm. Chichester: John Wiley & Sons, 1979. BEER, Stafford. The Heart of Enterprise. Chichester: John Wiley & Sons, 1979. BORKENAU, F. Pareto. Londres: Chapman & Hall, 1936. 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