Análise do Documentário 1

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE.
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
Disciplina: EAD 0610 – Fundamentos de Administração
Prof. Dr. Fábio Lotti Oliva
ATIVIDADE: análise do documentário “The corporation”
Aluno(s): Adilson Tomaz da silva n° USP: 9067533
Análise do Documentário “The Corporation”
 O documentário The Corporation, dirigido por Mark Achbar e Jennifer Abbott, e baseado no livro “The Corporation: The Pathological Pursuit of Profit and Power” de Joel Bakan, é uma análise perturbadora do mundo corporativo no início do século XXI. Nele encontramos uma síntese interessante do que seria o objetivo das organizações em todo mundo: gerar lucros. No desenrolar das cenas, o que fica evidente é que em busca de vantagens comparativas, competitividade e eficiência, um número considerável de grandes empresas acaba causando um impacto negativo, tanto as comunidades das quais tira proveito por conta de sua carência material, quanto da grande massa de consumidores que acaba sendo exposta a uma série de perigos a saúde, consequência do processo de diminuição de custos e aumento da produtividade tão almejado pelas organizações modernas.
 Toda situação que vemos no filme é gerada no ambiente de alta complexidade em que a sociedade atual está inserida. O enfoque sistêmico, muito influente na teoria administrativa, servirá de embasamento para ressaltar certos aspectos da relação entre corporações e sociedade que se encontra exposta no filme. O pensamento sistêmico parte do princípio de que o todo é complexo e as situações têm causas diversas, acarretando também consequências variadas. Um sistema é composto por partes, elementos e componentes, em que essas partes se relacionam formando uma entidade que pode ser destacada para análise. Possui uma entrada, lugar para processamento das informações e uma saída. Para deixar o mais claro o modelo de pensamento sistêmico, cabe aqui a comparação ao conceito de caixa-preta, retirado da engenharia, em que sempre que uma coisa entra, sai modificada. Essa é a ideia principal do modelo: transformar as informações presentes no ambiente em que se esta considerando. Em uma das situações apresentadas no filme vemos uma fábrica clandestina que produz roupas a baixíssimos custos, pagando salários irrisórios para seus funcionários, expondo-os também a uma degradação física e psicológica ao prolongar o período de trabalho para além do que seria permitido por lei. Isso acaba ocorrendo em um país pobre, onde a chegada de empresas que serão geradoras de empregos é festejada por parte da população, que geralmente vive de maneira muito precária e não tem alternativas para mudar a situação. Ao analisar o ambiente, que é um dos aspectos essenciais do enfoque sistêmico, as corporações enxergam ali uma alternativa para ampliar sua produção a baixo custo, se aproveitando das brechas institucionais para aumentar seus lucros. Ao se instalar ali, a empresa se insere em um contexto de interdependência e inter-relação com a comunidade a qual atende no local e também no contexto geral do mercado global, uma vez que muitas dessas empresas são multinacionais procurando vantagens competitivas para se sobressair à concorrência, ou seja, seus consumidores em outros países também devem ser considerados como parte desse sistema. Vemos no filme que para continuar conseguindo atender a seus interesses a empresa camufla a situação ilegal, apresentando falsos laudos de análises de funcionários que sofreram danos por causa da forma como realizam as tarefas. Além disso, a empresa acaba escondendo o que ocorre na fábrica do conhecimento do público em geral, uma vez que muitos do que se produz é revendido em mercados com compradores de alto poder aquisitivo, onde essas informações seriam prejudiciais aos negócios.
 Outra situação muito marcante que é explorada no filme e que pode ser analisada pelo viés sistêmico é a questão do uso de medicamentos em animais para aumentar a produtividade de alimentos. O caso apresentado é o de uma grande empresa fabricante de leite que mantém níveis altos de produtividade fazendo uso de certo tipo de medicamento (segundo o filme um remédio chamado popularmente de Posilac) para alcançar esse objetivo. A situação, quando olhada de maneira sistêmica, se apresenta como uma espiral de acontecimentos em que uma coisa acaba provocando outra. Usa-se o medicamento para aumentar a produtividade do leite das vacas, com a consequência de que esses animais acabam adoecendo rapidamente, tendo que ser medicados com antibióticos que serão consumidos indiretamente pela população, gerando um produto que pode causar problemas sérios a saúde de quem os consumir. Recursividade é outro aspecto importante da administração sistêmica e refere-se a uma causalidade complexa em que os efeitos e produtos de uma ação são necessários ao próprio processo que os gerou. Eles retomam de maneira cíclica a situação que os produziu, formando um processo de produção contínuo. Isso é exatamente o que acontece nessa situação. Novamente o modelo padrão sistêmico entra em ação: temos na entrada uma informação que processa a necessidade de conseguir atender a demanda por leite; um processamento que seleciona a maneira mais lucrativa de se alcançar o objetivo e a saída com todas as consequências que podem ser verificadas no filme, ou seja, além do leite entregue aos consumidores, temos os prejuízos para a saúde dos mesmos. Em resumo, o que fica evidente ao ver as cenas que são expostas, é que a sociedade acabou se acostumando com a situação de conforto propiciado pela tecnologia, ao encontrar os produtos de que necessita ou simplesmente deseja na prateleira do mercado, sem contestar sua origem, seu processo de produção, ou mesmo seu impacto ao meio ambiente. A boa notícia é que pouco mais de uma década após o lançamento do filme, a disseminação do acesso à informação pela internet somada a grande rede de comunicação que foi formada a nível mundial, acabou por criar condições para uma reação contra abusos e exageros cometidos por organizações. Como foi apresentado no início dessa reflexão, o enfoque sistêmico leva em conta a análise da complexidade do meio em que a empresa esta inserida, onde o ambiente acaba gerando informações que são absorvidas e acabam se transformando no que essa corporação apresenta aos consumidores como produto. Um sinal muito forte de que o mundo está mudando e se tornando mais complexo pode ser encontrado justamente no consumidor, que se bem informado e munido de uma rede de informação que faça valer suas observações, pode mudar o panorama deplorável que é apresentado em “The Corporation”. 
SÃO PAULO
2015