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Direito Civil I – Revisão 1ª prova Prescrição e Decadência Origem da prescrição A prescrição tem origem no Direito Romano e está ligada à ideia de ação (actio), que era muito importante para os romanos. Eles não conheciam o direito subjetivo (possibilidade de pretender algo de forma garantida pelo ordenamento jurídico). As ações estavam previstas em lei (Período das Legis Actiones). Haviam muitos interesses e não haviam leis suficientes para garantir esses interesses. O pretor criava as ações por meio de fórmulas e colocava o tempo, o prazo. Se passava esse prazo, o titular perdia o direito a ação. Objetivo A prescrição visa a segurança jurídica. Reformulação A prescrição sofreu uma reformulação pelos processualistas modernos, que estudaram a fundo o direito de ação. É um direito subjetivo público autônomo ao direito subjetivo que se pretende ser tutelado. Autônomo pois, por exemplo, os direitos da personalidade são imprescritíveis, mas o direito à indenização pela violação ao meu direito de honra (se ela for lesada) tem prazo para prescrever. Passado esse prazo, permanecerei com o meu direito à honra intacto, mas o direito à indenização estará prescrito, mas não extingue o direito de ação. Poderei agir, mas posso ser impedido pelo devedor. Por isso, autônomos. Direito da tutela jurisdicional Houve um tempo que a justiça era privada (lei de talião, olho por olho, dente por dente). Nesse tempo, haviam muitas injustiças, necessitando que o Estado se fortalecesse para exercer a função de intervir. Então, o Estado se fortaleceu, e pôs fim aos conflitos dizendo do direito (“juris dição”), acabando com a justiça privada (exceto no caso de legítima defesa, até hoje). O Estado deu o direito de invocar o direito da tutela jurisdicional, isto é, o direito de ação. A prescrição não extingue o direito de ação (ele é autônomo). Teorias Existem 3 teorias sobre o conceito de prescrição: 1ª teoria – a prescrição é a perda da pretensão (a pretensão é poder fazer valer um direito que foi violado). A pretensão só existe se tiver o direito subjetivo e ele for violado. 2ª teoria – a prescrição é a perda da responsabilidade (sujeição patrimonial que visa assegurar o cumprimento de uma dívida) 3ª teoria – gera, para o devedor, um direito potestativo de obstar (de impedir) a pretensão por parte do credor. Qual a teoria no ordenamento jurídico brasileiro? Embora o artigo 189 dê a entender que a prescrição extingue a pretensão, ao analisar o ordenamento como um todo (CPC 2015), vemos a prescrição como um direito potestativo do devedor de obstar a pretensão por parte do credor. Renúncia Pode-se renunciar à prescrição desde que não haja prejuízo de terceiro. Ela pode ser expressa: que decorre de uma manifestação de vontade externada pela parte beneficiada pela prescrição (o devedor). Ou pode ser tácita: quando o beneficiário da prescrição pratica atos com ela incompatíveis. (exemplo: o pagamento de uma dívida prescrita) Só pode renunciar à prescrição se ela já estiver consumada. Não pode haver, num contrato que as partes renunciam à prescrição. É nula toda e qualquer cláusula contratual que dispõe essa renúncia. Os prazos prescricionais estão previstos em lei e não podem ser alterados pelas vontade das partes. Requisitos Para que haja a prescrição, são necessários 4 fatos: Violação a um direito – nasce aqui a pretensão Decurso de um lapso temporal (de um prazo, de um tempo) Inércia do titular do direito violado – a inércia se caracteriza pelo não exercício da pretensão dentro do prazo Ausência de causas impeditivas, suspensivas ou interruptivas Causa impeditiva – é aquela que impede o início do decurso do prazo prescricional. Causa suspensiva – é aquela que paralisa o prazo já em curso. Se a causa suspensiva desaparecer, o prazo volta a correr de onde parou. A suspensão pode ocorrer mais de uma vez. Causa interruptiva – é aquela que paralisa o prazo já em curso. Se a causa interruptiva desaparecer, o prazo volta a correr do início. A interrupção ocorre apenas uma vez. A mesma causa pode ser impeditiva ou suspensiva (ex.: casamento) Causas impeditivas e suspensivas Os artigos 197 a 201 do Código Civil trata das causas que impedem ou suspendem a prescrição. O artigo 197 dispõe que não corre a prescrição entre cônjuges, na constância da sociedade conjugal (por analogia, estende-se à união estável, necessitando, portanto, reconhecer judicialmente a união estável, para ter a data correta). Também não corre a prescrição entre ascendentes e descendentes, entre tutelados e curatelados e seus tutores ou curadores, durante o poder familiar e durante a tutela ou curatela, respectivamente. O artigo 198 dispõe que não corre a prescrição contra: Os absolutamente incapazes (menores de 16 anos), os ausentes do País em serviço público (União, Estados e Municípios) e os serventes das forças armadas, em tempo de Guerra ou situações que demandam o deslocamento (mesmo que interno). Se for a favor dessas pessoas, corre normalmente. Ao retirar os deficientes do artigo 3º (incapazes), o Estatuto do Deficiente acabou por prejudicá-los quanto à prescrição, pois agora ela pode correr contra os deficientes mentais. Mas, entende-se que essa não é a ratio legis, a razão de ser da lei, portanto, não corre a prescrição contra deficientes mentais. O artigo 199 dispõe que não corre igualmente a prescrição se tiver uma causa suspensiva pendendo, pois impede de ter efeito. Também não corre igualmente se não venceu o prazo (não houve violação do direito, que é um dos requisitos da prescrição) ou se está pendendo ação de evicção (perda de um bem em virtude de uma decisão judicial) O artigo 200 trata de ação que tem consequências jurídicas tanto para o cível quanto para o penal. Para o prazo prescricional correr, deve-se ter sentença definitiva no âmbito penal primeiro. Causas interruptivas O artigo 202 trata das causas interruptivas, que só podem ocorrer uma vez. São elas: Por despacho (decisão) de um juiz, mesmo que incompetente, que ordenar a citação (convoca o réu a se defender), se o interessado o fizer corretamente (no prazo e na forma da lei). A interrupção retroage à data da propositura da ação (para que não fique dependendo do juiz) Por protesto, que é um instrumento utilizado para forçar o devedor. Tanto o judicial (falado no I e no parágrafo anterior) quanto o cambial (pelo cartório) Pela habilitação de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores. Por qualquer ato judicial que constitua em mora (atraso injustificado no cumprimento da obrigação) o devedor. Um ato inequívoco, mesmo que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor (confissão de dívida) Prescrição intercorrente É a que ocorre no âmbito, no curso do processo, entre a propositura e o desfecho final, entre a ação e a sentença. Há 3 requisitos: Estar na fase de execução ou cumprimento de decisão judicial Suspensão por 1 (ano) pela ausência de bens do executado A inércia do autor ou exequente (quem cobra) por todo esse período no qual houve a suspensão do processo Prazos A prescrição está, indissociavelmente, ligada à ideia e prazo (lapso temporal – requisitos) O artigo 205 fixa o prazo de 10 anos como prazo prescricional geral. Nos casos em que a lei fixou prazo menor, utiliza-se deles. O artigo 206 trata das situações em que os prazos prescricionais variam de 1 a 5 anos: 1 ano (tratado no § 1º) Hotéis, restaurantes e bares. Segurado e seguradora (exceto DPVAT – 3 anos – inciso IX) 2 anos (tratado do §2º) Dívidas alimentícias vencidas e não pagas 3 anos (tratado no §3º) Aluguel de prédios (imóveis) urbanos ou rústicos Prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias Ressarcimento de enriquecimento sem causa Reparação civil (direito que a vítima tem de ser ressarcida pelo dano causado por outra pessoa, sobretudo se culposamente foi causado) CDC colocacomo sendo de 5 anos essa reparação 4 anos (tratado no §4º) Tutela (a partir da aprovação das contas do Tutor) 5 anos (tratado no §5º) Cobrança de dívidas líquidas (certa quanto à existência e determinada quanto ao seu montante) Decadência É também chamada de caducidade. A decadência faz perecer o próprio direito e está atrelada aos direitos potestativos (poder de interferir em uma esfera jurídica alheia, sem que a pessoa possa fazer algo, a não ser se submeter). Os direitos potestativos não são passíveis de violação. Existem duas espécies de decadência: Decadência legal: é a que está prevista/fixada em lei Ex: artigo 178 CC, 7 dias para desistir da compra etc. Decadência convencional: é a pactuada/convencionada entre as partes Ex: compra do carro com 30 dias para devolução. Diferenças: O juiz de ofício não pode reconhecer a decadência convencional, apenas a legal (e deve reconhecê-la). A decadência legal não pode ser renunciada, a convencional pode. O prazo da decadência legal está fixado em lei, quanto o prazo da decadência convencional é convencionado. A decadência corre contra todos (exceção: art. 198, I, CC – decadência não corre contra os incapazes). Os prazos decadenciais estão previstos em dispositivos diversos. Todos os prazos que não estão previstos nos artigos 205 e 206 do CC (prescricionais) são decadenciais. O prazo decadencial começa a correr no nascimento do direito (potestativo), em contrapartida o prazo prescricional começa a correr a partir da violação do direito (subjetivo) (ou conhecimento da violação do direito, como vêm sido entendido) Diferenças entre prescrição e decadência PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA OBJETO Extingue a pretensão Extingue o direito DIREITO Direito subjetivo (gera um dever, podendo ser violado) Direito potestativo (gera uma sujeição, não podendo ser violado) PRAZO É fixado por lei, todos nos artigos 205 e 206 Pode ser suspenso, interrompido ou impedido Começa a correr no momento de violação do direito Pode ser estabelecido por lei ou pela vontade das partes Não pode ser suspenso, interrompido ou impedido (salvo contra incapazes) Começa a correr no momento de nascimento do direito ANÁLISE PELO JUIZ Juiz não pode reconhecê-la se a parte não disser A decadência legal deve ser reconhecida, enquanto a caducidade convencional não pode RENÚNICIA Após a consumação, pode ser renunciada, desde que não prejudique terceiros A decadência legal não pode ser renunciada, nem após a sua consumação. A convencional pode ser renunciada. O termo “imprescritível” abrange os dois institutos. O direito de ter paternidade reconhecida é um direito imprescritível, mas, por ser direito potestativo, não está sujeito à prescrição, e sim à decadência. Teoria Geral das Obrigações Conceito e evolução histórica Obrigação, em termos gerais, é o dever de fazer alguma coisa, o comprometimento de uma pessoa a uma situação. Em Roma, o conceito de obrigação era: obrigação era o vínculo entre devedor e credor que tem por objeto uma prestação de dar, fazer ou não fazer. Antes, era uma responsabilidade (garantia do cumprimento da dívida) pessoal, ou seja, o devedor respondia com o próprio corpo. Também era uma responsabilidade intransmissível. Além disso era uma relação de subordinação. O devedor estava numa posição inferior em relação ao credor, não havia igualdade. Atualmente, é uma responsabilidade patrimonial, o devedor responde com o seu patrimônio. Por ser uma relação patrimonial, as obrigações podem ser transmitidas. Atualmente, é uma relação de paridade. Nenhuma parte é subordinada à outra, têm-se iguais condições. Essa mudança se deu por causa dos: Princípios atinentes às relações obrigacionais Dignidade da pessoa humana A pessoa passa a ser o centro do ordenamento jurídico. Para o direito das obrigações, isso delimita a responsabilidade do devedor, assegura ao devedor um mínimo existencial (parcela necessária para ter uma existência digna) – ex: impenhorabilidade do bem de família. Além de delimitar a responsabilidade do devedor, limita o exercício do crédito por parte do credor. Direitos para o devedor e deveres para o credor, assim não há mais subordinação. Boa-fé objetiva A boa-fé objetiva é tida como uma norma de conduta. É um caráter ético que obriga as partes a agir corretamente uma em relação a outra. Funções da boa-fé objetiva Integrativa – preencher eventuais lacunas Interpretativa – deve nortear o trabalho do intérprete jurídico (artigo 113 CC) Limitativa – limita/norteia o comportamento das partes. Da função limitativa, decorrem deveres (instrumentais, anexos ao dever de realizar a prestação) Informação Lealdade Cooperação A boa-fé objetiva deve ser observada antes, durante e depois da relação obrigacional (art. 422) – ex: recall da montadora Os deveres devem ser observados pelo credor e pelo devedor (é uma relação de cooperação, de paridade) Como saber quem é o devedor e o credor? A pessoa a quem cabe o cumprimento da prestação é o devedor. Função Social Proveniente do Estado Social. Tem, por objetivo, romper com o individualismo jurídico, isto é, exercer o direito conforme, apenas, os interesses do seu titular. E como base tem a explicação de que o homem não é autossuficiente, o que fazemos repercute no todo. A Função Social surge a partir do pressuposto que o titular do direito, ao exercê-lo, deve levar em conta não só os seus interesses, mas, também, os interesses do grupo social do qual ele faz parte. Eficácia intrínseca – diz respeito às partes. Uma das partes, ao exercer seu direito, deve observar os interesses da outra parte Eficácia extrínseca – diz respeito ao todo. As partes de uma relação não podem levar em conta só os seus interesses, mas o interesse do grupo social que se inserem. E o grupo social deve respeitar os interesses das partes. Estado Democrático de Direito É um equilíbrio entre o Estado Social e Estado Liberal (preâmbulo da Constituição). Nenhum se sobressai, direitos individuais e direitos sociais serão respeitados. O Estado age como um agente regulamentador. Definição de obrigação Em Roma, definia-se como vínculo. Mas “relação” é mais abrangente. Atualmente: Relação jurídica dinâmica e de cooperação, na qual ambos são sujeitos de direitos e deveres, tendo por objeto uma prestação de caráter patrimonial que deve ser exercida em consonância com as regras e os princípios existentes no ordenamento, respeitando sempre a dignidade humana das pessoas envolvidas. Análise estrutural da obrigação São elementos que compõe uma relação obrigacional: Elemento subjetivo: sujeitos da relação (devedor e credor). Elemento objetivo: prestação (comportamento) de dar, fazer, ou não fazer. Elemento imaterial: o vínculo que liga o devedor ao credor. É imperceptível pelos sentidos, mas existe no ponto de vista jurídico. O credor é a quem interessa a realização da prestação. O devedor é a quem cabe a realização da prestação. Alguns autores costumam distinguir o objeto imediato e o objeto mediato. Aquele é a prestação, o último é o bem ou meio através do qual a prestação será realizada. Ex: doação do celular (celular é o objeto mediato), advogado e cliente (imediato é a prestação do serviço, mediato é o serviço) A prestação tem a característica de ser sempre suscetível de avaliação econômica. No vínculo entre devedor e credor, há uma série de direitos e deveres Deveres: débito (dever de realizar a prestação devida) Direitos: crédito (direito de exigir a prestação) O direito de crédito que se contrapõe a um débito é patrimonial. Direito da personalidade é extra patrimonial. A responsabilidade está ligada ao débito, ela é patrimonial e só surge se a prestação não é cumprida. Regra geral – na relação entre devedor e credor existe tanto o débitoquanto a responsabilidade. (há a exceção da obrigação natural e da relação do fiador com o locatário, por exemplo) O vínculo entre o devedor e o credor pode ser composto de outros elementos como: Direito Potestativo: poder ou prerrogativa de interferir na esfera jurídica de outra pessoa, sem que ela possa fazer nada, a não ser se sujeitar (não pode ser violado) Ônus: necessidade de fazer algo para atender o próprio interesse (sempre inexigível) O ônus se aproxima da noção de dever, mas não se confunde com ele. O dever é a necessidade de fazer algo para atender o interesse alheio (sempre exigível) Fonte das Obrigações A maioria das obrigações nasce com a celebração de um contrato (negócio jurídico): acordo entre vontades, que visa a produção de efeitos no mundo jurídico, não necessariamente escrito (pode ser tácita ou verbal). O ato ilícito (artigo 186 – toda ação ou omissão, voluntária ou culposa, praticada em desconformidade com nosso ordenamento jurídico) também é uma fonte. Quando o dano é causado, surge a obrigação de reparar o dano causado (artigo 907) Existe também uma terceira fonte: ato unilateral (artigo 854) – declaração unilateral de vontade é todo ato humano lícito, mas que não provém de um acordo ou de convergência de dois ou mais comportamentos. Ex: gestão de negócios, pagamento indevido, enriquecimento sem causa, promessa de recompensa. Roll é taxativo (numerus clausos – fechado, não admite outras fontes) ou exemplificativo (numerus apertus – aberto, admite outras fontes). A doutrina vem entendendo que é exemplificativo. Alguns autores entendem que é possível acrescentar uma 4ª fonte: a lei Será que a lei, por si só, é capaz de gerar uma obrigação? O que a lei faz é tão somente estabelecer normas jurídicas (suporte fático hipotético). Prevê fatos e atribui consequências jurídicas. Normas isoladas não criam obrigações. O fato se concretiza (fato jurídico, fato previsto hipoteticamente em uma norma) Outra doutrina que entende o fato jurídico como fonte das obrigações (fato + norma). Abrange as fontes previstas (são espécies de fatos jurídicos) no Código Civil e as complementa. Ato jurídico no sentido estrito é um acontecimento natural também capaz de gerar efeitos no mundo jurídico. Se a pergunta envolver a doutrina: outras fontes são admitidas. Prisão Civil A prisão civil se diferencia da prisão penal, pois tem o objetivo de constranger o devedor a pagar. E, quando paga, é posto em liberade. Atualmente, o credor, o beneficiário da pensão alimentícia, o autor da ação escolhe qual artigo vai se dar o processo: artigo 528 do Novo CPC que autoriza a prisão ou artigo 911 do Novo CPC que não autoriza. Cita o devedor para justificar em até 3 dias (comprovar que já pagou, pagar ou comprovar que não tem condições de pagar). A prisão vai de 1 a 3 meses. O artigo 139 do Novo CPC, em seu inciso IV, faculta poderes ao juiz. Ele pode usar desses meios atípicos para constranger o devedor a pagar a prisão: protesto SPC ou SERASA, suspensão da CNH, retenção do passaporte etc. Diferença entre Direito de Crédito e Direitos Reais O direito de crédito tem por objeto uma prestação de dar, fazer ou não fazer. É um direito relativo (oponível inter partes). Existem em nosso ordenamento inúmeros, podemos criar (numerus apertus). Os direitos reais têm por objeto o próprio bem (móvel ou imóvel). São absolutos (oponíveis erga omnes, em relação a todos). Existem em nosso ordenamento em números limitados, não podemos criar (numerus clausus). Os direitos reis têm o chamado poder de sequela, isto é, poder perseguir e reaver a coisa onde quer que ela esteja. A garantia do bem móvel é chamada de penhora. A garantia do bem imóvel é chamada de hipoteca (direitos reais). Para o direito real ser exercido, independe da cooperação de quem quer que seja. O direito de crédito necessita da colaboração do devedor, ele depende disso para ser exercido. O direito de crédito é transitório pela sua própria natureza, já nasce com o objetivo de se extinguir. Os direitos reais tendem a permanência. Obrigação Propter Rem É a obrigação em razão de uma coisa. Está entre o direito real e o direito de crédito. Vincula a pessoa pelo fato de ela ser titular de algo. A natureza jurídica da obrigação propter rem se aproxima do direito real por estar atrelada a uma coisa, mas ela tem por objeto uma prestação, o que a aproxima do direito de crédito. O entendimento dominante é esse. É um terceiro gênero. Classificações das Obrigações Quanto à exigibilidade da prestação Obrigação natural é inexigível judicialmente. Ex.: jogo (resultado final depende diretamente da habilidades dos envolvidos) e aposta (resultado final independe diretamente da habilidades dos envolvidos) não regulamentados pelo estado. Os que são regulamentados são uma obrigação civil como qualquer outra (exigível judicialmente) Obrigação natural é a que falta a responsabilidade (possibilidade de o credor ir ao patrimônio do devedor para buscar satisfazer seu direito de crédito, satisfazer a prestação). Há um débito, se foi pago voluntariamente, não pode pedir de volta (repetição do indébito). O artigo 814 do CC dispõe que essas dívidas não obriga o pagamento, mas não pode ter a repetição do indébito, salvo se houver trapaça ou o perdente for incapaz). Qual a natureza da obrigação natural? Alguns dizem que é meramente moral (posição minoritária) e outros que é uma obrigação jurídica imperfeita, por faltar a responsabilidade (posição majoritária) Ex: dar uma cesta básica (doação e cumprir preceito moral) Pagar uma aposta (pagamento, existe débito, existe o dever de realizar a prestação) Quanto ao objeto Obrigação de dar É a obrigação que consiste na entrega (a coisa pertence ao devedor) ou restituição (a coisa pertence ao credor) de algo. No nosso sistema romano-germânico, entende-se que a propriedade de bem móvel é transferida pela tradição e de bem imóvel por registro. Coisa certa Obrigação de dar coisa certa é a que recai sobre o objeto que está completamente individualizado (bem infungível). Art. 313 – o credor não é obrigado a receber prestação diversa da devida, ainda que seja mais valiosa. Art. 233 – o acessório (artigo 94) segue a sorte do principal (mesmo que não mencionado), salvo disposição em contrário. A pertença (artigo 93) é parte integrante do bem principal. A regra é oposta. A pertença não segue o principal, salvo disposição em contrário. Impossibilidade da prestação Exemplo: vendi o meu carro e, antes da tradição, ele foi queimado. Deve-se analisar, primeiramente, se houve culpa. Se houver culpa, o devedor responde por perdas e danos. Se não houver, a obrigação irá se resolver, se extinguir, as partes voltam para o estado inicial. Mas quem vai arcar com o prejuízo? Regra: “res perit domino” – a coisa perece para o dono. O dono vai amargar o prejuízo. (entregar – devedor, restituir – credor) Deterioração É a danificação do objeto, não é a perda (impossibilidade total do objeto). O credor não é obrigado a receber o objeto. Ele pode recusar. Aí entende-se que teve perda. Então, aplica-se a regra da perda. Teve culpa? Responde por perdas e danos. Não teve culpa? Negócio se extingue. A única diferença é que o credor pode receber o bem/objeto. Mas o bem é do devedor até a tradição, então o prejuízo é do devedor (dono). O credor, nesse caso, tem direito ao abatimento no preço. Melhoramento ou acréscimo à coisa Ex.: vendi um sítio, logo após, a via que dá acesso a ele foi pavimentada (melhoramento) Vendi uma égua manga larga, na hora, viu que estava prenha (acréscimo) Se para esse melhoramento houve algum dispêndio/gasto do devedor, aplica-se as regras referentes à benfeitorias (obra ou despesa com objetivo de melhorar, embelezar ou restaurar a coisa). Se foi de boa-fé e sendo uma benfeitoria do tipo necessária ou útil, tem direito à indenização. Art. 237 – pertence aodevedor (ele tem o ônus e o bônus) Coisa incerta A obrigação de dar coisa incerta é a que recai sobre o objeto que não está totalmente individualizado, embora seja passível de individualização. Um dos requisitos do negócio jurídico, para que não seja nulo, é ser um objeto determinado ou determinável ao menos quanto ao gênero e quantidade. A obrigação de dar coisa incerta passa a ser obrigação de dar coisa certa. Essa transformação tem o nome de “concentração” Concentração A concentração pressupõe a escolha. De quem é a escolha? Depende do que for pactuado. Pode ser o credor, o devedor ou um terceiro. Se for omisso, a escolha cabe ao devedor (artigo 244). Deve-se escolher o objeto de qualidade mediana, nem o melhor nem o pior. Pode ocorrer a perícia para avaliar a qualidade mediana. Depois da escolha, o credor deve ser cientificado da escolha (artigo 245). Artigo 246 – perda ou deterioração não valem aqui (na opinião do professor, antes de o credor ser cientificado, e não antes da escolha como dispõe o artigo). A não ser que, no caso de perda ou deterioração, seja de um objeto de gênero raríssimo. Aqui, então, a obrigação se resolve. Obrigação de fazer A obrigação de fazer consiste na prestação de um serviço. Fungível É a obrigação que pode ser cumprida por qualquer pessoa e não apenas pelo devedor. Ex: preciso de alguém para limpar a minha casa. O credor aciona o devedor fixando um prazo para cumprir a obrigação, sob pena da execução por terceiro às custas do devedor (de urgência, sem autorização judicial, sem urgência, pedindo a autorização judicial) Infungível É a obrigação que não pode ser cumprida por qualquer pessoa, apenas pelo devedor. Como diferenciar a fungível da infungível? Olhar o contrato ou pela natureza do negócio. Ex: show do coldplay, mesmo sem estar no contrato, é infungível. Impossibilidade Se houver culpa, responde por perdas e danos. Se não houver culpa, a obrigação se extingue. Inadimplemento É o descumprimento culposo da obrigação/prestação devida (voluntariamente) Consequências: Art. 247: devedor responde por perdas e danos. Artigo 536 do Novo CPC: tutela ou execução específica – juiz de ofício ou a requerimento toma medidas para exigir a prestação devida. Ex: multa, busca e apreensão, remoção de pessoas etc. Hoje, entende-se que “perdas e danos” é uma alternativa em benefício do credor, mas se ele quiser o serviço, busca a tutela específica. Caso o devedor não cumpra a prestação, mesmo com a tutela específica, o credor opta por perdas e danos, por absoluta falta de opção. A diferença é que, inicialmente, perdas e danos se tornaram uma alternativa. Obrigação de não fazer A obrigação de não fazer tem um caráter negativo, impõe uma abstenção. O devedor se compromete a não fazer. Ex: ator da globo não pode se apresentar em outra emissora, condômino não pode modificar a calçada. Impossibilidade Quando o devedor é obrigado/constrangido a praticar o ato. Se houve culpa, art. 251, responde por perdas e danos. Se não houver culpa, art. 250, a obrigação se extingue, as partes voltam ao estado anterior. Inadimplemento Quando o devedor, voluntariamente, faz o que não deveria fazer. Às vezes a tutela não traz um resultado esperado/efetivo, não desfaz o que foi feito. Então o devedor responde por perdas e danos. Se for possível desfazer o que foi feito (quando não deveria ter sido), o credor poderá acionar o devedor, fixar um prazo, pedir para desfazer às custas do devedor (art. 251) Se tiver urgência, credor pode fazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, cobrando o ressarcimento depois (levando em conta a boa-fé, função econômica, função social etc.).
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