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Anízio_ARTIGO - INTERPRETAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO

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Interpretação e argumentação 
 
 
Anizio Pires Gavião Filho. Mestre em Direito – UFRGS. Doutor em Direito – 
UFRGS. Professor de Teoria da Argumentação Jurídica e Hermenêutica Jurídica 
da Faculdade de Direito da Fundação Escola Superior do Ministério Público do 
Rio Grande do Sul – FMP. Procurador de Justiça, RS. 
 
Sumário 
Introdução. 1. Interpretação. 2. Metódica da interpretação? 3. Interpretação e 
argumentação. Conclusão 
 
Resumo 
Interpretar é atribuir significado. Na interpretação jurídica, o intérprete 
atribui significado aos símbolos gráficos linguísticos dados nas disposições 
jurídicas dos textos jurídicos normativos. A norma jurídica é já o texto jurídico 
interpretado. Interpretação é também aplicação. Interpretação é criação, mas 
não liberada de critérios. Esses critérios são os argumentos interpretativos. 
Interpretação e argumentação estão unidas. O significado atribuído ao texto 
jurídico normativo deve se achar justificado no âmbito de uma argumentação 
racional. 
 
Abstract 
Interpretation is giving meaning. In legal interpretation the meaning of 
linguistic simbols is given by interpret. The legal statement is already 
interpretation. Interpretation is also law application. Interpretation é criacion, 
but not free from criterea. They are interpretation arguments. Interpretation 
and legal reasoning work toghether. The meaning given to the text muss to be 
justified in the field of legal reasoning. 
 
Palavras-chave 
Interpretação jurídica. Argumentação. Hermenêutica. Aplicação do Direito. 
Raciocínio jurídico. Justificação. Norma. Conceito semântico. Metódica. 
Critérios de interpretação. Teoria objetiva e teoria subjetiva. Argumentos 
interpretativos. Interpretação como argumentação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 2 
Introdução 
 
As mais recentes discussões em torno da aplicação do Direito colocam no centro do 
debate as questões sobre como devem ser interpretados os textos jurídicos normativos dados, 
preponderantemente, por intermédio de um corpo legislativo democraticamente escolhido pelo 
povo, uma vez considerado o Direito da família romano-germânica. Essa questão pode ser 
analisada sobre diversas áreas, extensões e profundidades. 
O que é interpretação? A interpretação jurídica é diferente da interpretação literária, 
da interpretação bíblica ou interpretação de um quadro de El Greco? Qual é a diferença entre a 
interpretação jurídica de um juiz e a interpretação jurídica de um cientista do Direito? E a 
interpretação dos textos jurídicos dados na legislação infraconstitucional é diferente da 
interpretação dos textos jurídicos dados na Constituição? Além dessas questões, podem ser 
colocadas outras sobre como se dá a interpretação mesma. Existem critérios, regras ou exigências 
que devem ser seguidas na atividade interpretativa ou o intérprete é livre para atribuir ao texto 
jurídico normativo o significado ou a unidade de sentido que lhe parecer adequada ou correta? 
Existem regras para a interpretação jurídica e, se isso, como elas podem ser justificadas? E, na 
aplicação do Direito, o que conta realmente? O texto jurídico normativo dado importa realmente 
para a solução dos casos ou o que decisivamente conta é o caso concreto tomado, conforme a 
avaliação razoável e prudencial dos juízes? Uma determinada interpretação de um texto jurídico 
normativo pode ser analisada sob o ponto de vista de sua justificação ou fundamentação? Qual é 
a relação que pode ser estabelecida entre interpretação e argumentação? Além dessas questões, 
muitas outras podem ser formuladas, o que deixa clara a sempre atualidade das discussões em 
torno da interpretação e aplicação do Direito. A análise adiante, assim justificada, pretende 
analisar uma parte dessas questões, fornecendo algumas alternativas à discussão crítica da 
interpretação jurídica. 
Em primeiro lugar, propõe-se justificar uma determinada concepção da interpretação. 
Interpretar é atribuir significado ou unidade sentido a símbolos. Interpretar é também conhecer, 
interpretar e aplicar simultaneamente. Interpretar um texto literário ou jurídico é atribuir-lhe 
significado ou unidade de sentido conforme as funções da linguagem. Elas se referem às regras 
sobre as relações entre as palavras, os significados das palavras conforme elas são usadas e as 
relações entre as palavras e quem as emprega. Assim, a interpretação jurídica é a atividade por 
intermédio da qual o intérprete atribui significado ou unidade de sentido ao conjunto de signos 
linguísticos dados nos textos jurídicos normativos. Desse modo, o texto jurídico normativo é 
apenas um conjunto de signos linguísticos. As normas jurídicas existem apenas como textos 
jurídicos normativos já interpretados. Por isso mesmo, um texto jurídico normativo e a norma 
jurídica que se lhe pode formular não é um objeto pronto e definitivo para sempre. Uma norma 
jurídica é sempre já concretização de um texto jurídico normativo. 
Em segundo lugar, pretende-se justificar que essa atividade de atribuição de sentido a 
um texto jurídico normativo, então entendido como um conjunto de símbolos linguísticos, não é 
subjetiva, arbitrária e livre de exigências ou de critérios. A atribuição de significado ou de 
unidade de sentido a um quadro de El Greco requer que sejam observados os critérios mais ou 
menos universais sobre a interpretação das obras do pintor, considerando-se os elementos do 
contexto histórico político, social e cultural da sua época. Um intérprete artístico não está 
autorizado a atribuir ao quadro Enterro do Conde de Orgaz1 os significados que bem entender, 
 
1 Um dos quadros mais célebres de El Greco, que se acha exposto na Igreja de São Tomé, na cidade de Toledo, 
Espanha. Para uma boa aproximação entre interpretação, literatura e arte, conferir RAZ, Joseph. Between authority 
 3 
conforme sua avaliação discricionária e subjetiva. Assim, também, quanto à interpretação dos 
textos jurídicos. Cânones, diretrizes, guias, critérios, exigências, regras, pouco importa a 
designação, a atividade de atribuição de significado ou de unidade de sentido aos textos jurídicos, 
muito especialmente na atividade de aplicação desses textos jurídicos para a solução de casos 
concretos pelos juízes, deve observar parâmetros mais ou menos universais, amplamente aceitos, 
pois somente com isso fica assegurada a sua objetividade e racionalidade. 
Em terceiro lugar, propõe-se justificar a proposição de que interpretação jurídica e 
argumentação jurídica estão unidas. A interpretação e aplicação das normas jurídicas é uma 
atividade argumentativa. Se o intérprete não é livre para atribuir ao texto jurídico o significado ou 
a unidade de sentido que bem lhe aprouver, o significado ou a unidade de sentido atribuída deve 
ser fundamentado por intermédio de razões. Os argumentos interpretativos formulados a partir 
dos cânones da hermenêutica jurídica clássica e dos círculos hermenêuticos são razões que jogam 
a favor ou contra os significados possíveis que os símbolos linguísticos autorizam formular. Com 
isso, fica reduzido o espaço da subjetividade e da arbitrariedade na atribuição de significado ou 
unidade de sentido aos textos jurídicos normativos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
and interpretation. Oxford: Oxford University Press, 2009, p.246-254, bem como DWORKIN, Ronald. Uma questão 
de princípio. Trad. Luis Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes,2000, p. 217-249. 
 4 
1. Interpretação 
 
O que é interpretação? A interpretação jurídica é diferente da interpretação literária, 
da interpretação bíblica ou da interpretação de um quadro de El Greco? Qual é a diferença entre a 
interpretação jurídica de um juiz e a interpretação jurídica de um cientista do Direito? E a 
interpretação dos textos jurídicos normativos dados na legislação infraconstitucional é diferente 
da interpretação dos textos jurídicos dados na Constituição? 
Existem várias concepções de interpretação, conforme revelam os estudos da 
hermenêutica filosófica2. Por isso, a pergunta sobre o que é interpretação somente pode ser 
respondida parcialmente, conforme a extensão do interesse de investigação do intérprete. 
Assim, então, interpretação pode ser tomada em sentido mais amplo possível3. Nesse 
sentido, tudo o que é do mundo objetivo e do mundo social a que se pode atribuir um sentido ou 
significado pode ser interpretado. Uma pedra pode ser interpretada tanto quanto um conjunto de 
pedras. Um conjunto de pedras pode constituir uma obra de arte, que pode ser interpretada. Uma 
fotografia pode ser interpretada, assim como um quadro ou uma cena em um teatro ou em um 
filme. Um conjunto formado por milhares de pessoas caminhando pelas ruas de uma cidade pode 
ser designado como passeata, expressão cujo sentido ou significado pode ser o de uma 
manifestação cultural ou uma manifestação política, religiosa ou social. Um sistema de práticas 
culturais e sociais pode ser interpretado. Os hábitos de uma comunidade indígena desconhecida 
da civilização ocidental podem ser interpretados e compreendidos. O seu sistema de normas 
comportamentais e rituais também pode ser interpretado e compreendido. 
Assim, interpretação leva ao conhecimento e à verdade sobre tudo o que homem pode 
atribuir um sentido ou um significado. Então, também as ciências naturais são interpretadas e 
conhecidas. A prova da verdade das formulações das ciências naturais vai depender, antes, da 
interpretação e da compreensão. Um sentido ou significado deverá ser atribuído a um signo 
relevante qualquer. O desenho de um ovo em uma folha de papel, o desenho de um número em 
uma pedra, o desenho de uma flecha em uma pedra, o desenho de um conjunto de números em 
um quadro, o desenho de um conjunto de símbolos ou gráficos. Cuida-se de interpretação, 
compreensão e conhecimento do mundo. 
Em um sentido menos amplo que esse, mas igualmente amplo, tem-se a interpretação 
que se ocupa de apenas uma parte do mundo. É a interpretação em sentido amplo, que é um 
subcaso da interpretação no sentido mais amplo possível. Aqui, o interesse está mundo das 
manifestações dos idiomas dos homens. Ela diz respeito a entender não todas as coisas do mundo, 
mas apenas as manifestações idiomáticas. Nas ciências humanas, cuida-se de interpretar e 
compreender os textos, como os religiosos, os históricos, os literários ou os jornalísticos. 
A interpretação jurídica é deste tipo, pois se ocupa dos textos jurídicos. Os textos 
jurídicos podem ser os textos das fontes do Direito. As normas do sistema jurídico todo de um 
determinado ordenamento jurídico são textos jurídicos normativos. Mas também são textos 
jurídicos os textos dos atos e dos negócios jurídicos. Na atividade dos juízes e dos tribunais são 
 
2 Cf. BLEICHER, Joseph. Hermenêutica contemporânea. Trad. Maria Segurado. Lisboa: Edições 70, 1980; 
RICOEUR, Paul. Hermenêutica e ideologias. Rio de Janeiro: Vozes, 2011; STELMACH, Jerzy; BROZEK, Bartosz. 
Methods of legal reasoning. Springer, 2006; PALMER, Richard E. Hermenêutica. Trad. Maria Luisa Ribeiro 
Ferreira. Lisboa: Edições 70, Ltda., 2011; GADAMER, Hans-Georg. Hermenêutica em retrospectiva. Trad. Marco 
Antonio Casanova. Petrópolis: Editora Vozes, 2009; GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método. Trad. Flávio 
Paulo Meurer. Petrópolis: Editora Vozes, 1999. 
3 Cf. ALEXY, Robert. Interpretação jurídica. In: ALEXY, Robert. Direito, razão, discurso. Trad. Luís Afonso Heck. 
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 61. 
 5 
produzidos textos jurídicos. Outros participantes do sistema jurídico também produzem textos 
jurídicos. Também outros textos não originariamente jurídicos interessam para os juízes e 
tribunais. Interpretar um laudo pericial para determinar a trajetória do projétil no corpo da vítima 
ou as declarações de uma testemunha sobre o número de disparos desferidos pelo acusado. Esse é 
um caso de interpretação descritiva4, que interessa para o juiz enquanto aplicador do Direito, mas 
o objeto imediato da compreensão não é diretamente um texto jurídico. 
Em todos os casos de manifestações idiomáticas tem-se interpretação e compreensão. 
Mesmo nos casos em que não se tenha dúvida quanto ao sentido ou significado de uma 
manifestação idiomática, tem-se interpretação e compreensão. O aviso proibido fumar colocado 
na sala de um consultório médico é considerado uma manifestação idiomática de “entender 
imediato”5. Esse conjunto de signos não dispensa interpretação e compreensão. Somente uma 
pessoa que conhece a língua portuguesa e sabe que sentido atribuir ao conjunto de signos 
proibido e fumar poderá compreender o conjunto todo como uma norma que proíbe a conduta de 
fumar. É obrigatório não fumar. Com essa pré-compreensão, supõe-se que uma pessoa irá apagar 
o seu cigarro ou abster-se de fumar ao ver referidos signos afixados na parede da sala onde se 
encontra. Por isso, então, não se deve negar que também o “entender imediato” requer 
interpretação e compreensão. 
Mas um caso de “entender imediato” pode se transformar em caso de “entender 
mediato”. O caso do aviso proibido fumar cigarros na sala de um consultório não pode ser 
controvertido por alguém que deseje fumar charuto ou cachimbo? O caso do aviso proibido 
fumar cigarros, colocado na sala de um clube de apreciadores de charutos pode ser 
controvertido? O fumante de um cachimbo pode sustentar que no aviso tem-se a palavra cigarros 
e não cachimbos. Então, argumenta que a proibição se dirige aos fumantes de cigarro e não aos 
fumantes de cachimbo. Pode, inclusive, acrescentar que o cheiro da queima do tabaco de seu 
cachimbo tem um aroma perfumado e agradável. Por outro lado, o mesmo aviso, quando 
colocado na sala de um clube de apreciadores de charutos, pode muito bem ser interpretado 
diferente, se colocado na sala de um hospital. Com isso, quer se dizer que existem inúmeros casos 
em que as manifestações idiomáticas são indeterminadas, duvidosas ou controvertidas. Elas são 
tais que autorizam significados ou sentidos diferentes, às vezes, contrários. Nesses casos, a 
atividade do intérprete é extrair dos signos da manifestação idiomática os significados possíveis e 
também escolher um entre eles justificadamente. 
Nesse sentido, então, tem-se que a interpretação em sentido restrito6 se coloca nos 
casos em que uma manifestação idiomática admite várias interpretações e não há certeza sobre 
qual é a correta. É o caso quando o texto comporta mais de uma interpretação. A interpretação em 
sentido restrito é a que ocupa o lugar central na interpretação jurídica. A interpretação jurídica é 
um caso de interpretação em sentido restrito. Quem diz que nos casos de “entender imediato” 
(casos fáceis ou casos claros) das normas jurídicas não se trata de interpretação, erra porque não 
distingue os casos diferentes de interpretação. Onde quer que haja um texto jurídico, há 
interpretação, ainda que interpretação em sentido amplo. Onde quer que haja um texto jurídico 
que admite mais de um significado, há interpretação, no caso, em sentido restrito. 
Como isso, então, deve ficar claro que tanto em sentido amplo como em sentido 
restrito não hádistinção entre a interpretação de um texto literário, histórico ou religioso, por um 
lado, e por outro, interpretação de um texto jurídico científico ou de um texto jurídico normativo 
 
4 Cf. GREENAWALT, Kent. Law and objectivity. New York-Oxford: Oxford University Press, 1992, p. 74. 
5 Cf. ALEXY, Interpretação jurídica..., p. 62. 
6 Cf. ALEXY, Interpretação jurídica..., p. 62. 
 6 
positivado em um ato institucional legislativo. A atividade hermenêutica do intérprete das 
escrituras sagradas ou dos registros históricos e a do intérprete de um texto jurídico são idênticas: 
atribuição de significado ou unidade de sentido aos textos, que nada mais são do que símbolos 
gráficos linguísticos dotados de significados ou sentidos para os homens e seu mundo. Não por 
outras razões, aliás, Schleiermacher e Betti propõem uma teoria geral da interpretação para as 
ciências humanas em geral7 e o próprio Gadamer diz que a atividade hermenêutica do historiador 
se identifica com a atividade hermenêutica do jurista, inclusive reconhecendo o caráter exemplar 
da última8. 
O caráter diferenciador que pode ser apontado entre a interpretação de um texto 
literário ou registro histórico e um texto jurídico não está na atividade hermenêutica, mas no texto 
mesmo. Evidentemente, um texto literário ou um texto religioso não é um texto jurídico. Nem 
todos os textos jurídicos são textos jurídicos normativos. Mesmo que se reconheça que os textos 
da dogmática têm caráter normativo – pois dão a conhecer o que em um sistema normativo está 
ordenado, proibido ou permitido, apenas alguns deles realmente contemplam essa característica. 
Muitos textos jurídicos da dogmática jurídica são meramente descritivos do sistema jurídico e, 
nesse caso, não apresentam caráter normativo. 
O que afirma o caráter diferenciador da interpretação jurídica não está na atividade 
em si de atribuir sentido ao texto, mas o que e por que alguém se propõe a interpretar um 
determinado texto. Isso está no caráter institucional da interpretação jurídica, que raramente se 
faz notar na interpretação literária, mas pode ser sentido mais claramente na interpretação dos 
textos religiosos ou dos textos históricos. 
O caráter institucional da interpretação jurídica aparece no que é interpretado e quem 
interpreta. A interpretação jurídica tem como objeto atos institucionais e como sujeito pessoas 
investidas de poder9. 
O caráter institucional pelo objeto está no fato de que o objeto da interpretação 
jurídica é a lei, aqui entendida como todos os atos normativos dados pelo legislador e também os 
atos normativos dados por outras autoridades institucionais autorizadas pelo legislador 
(regulamento, provimento, resolução). Caráter institucional porque a lei é produzida por atos 
institucionais do Poder Legislativo, especialmente nos casos dos ordenamentos jurídicos 
codificados do Direito romano-germânico. A lei configura o objeto primário da interpretação 
jurídica. Também constituem objeto da interpretação jurídica os precedentes da jurisprudência 
dos tribunais. No Direito anglo-saxônico a interpretação jurídica dos precedentes é central, pois 
se cuida de Direito predominantemente não legislado, onde a interpretação jurídica tem por 
objeto a ratio decidendi e a obter dicta dos precedentes10. 
O caráter institucional pelo sujeito se apresenta quando se trata de interpretação 
desenvolvida por órgão estatal que tem autoridade, dada pelo ordenamento jurídico, para 
determinar vinculativamente o sentido ou o significado do texto jurídico11. É o caso do legislador 
e o do juiz, que realizam a interpretação autêntica do texto jurídico normativo. A interpretação 
jurídica do legislador é autêntica porque foi ele próprio quem produziu o texto interpretado. A 
 
7 Cf. BLEICHER, Hermenêutica contemporânea…, p. 27-28; SCHLEIERMACHER, Friedrich D. E., Hermenêutica. 
Trad. Celso Reni Braida. 2 Ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2000; BETTI, Emíllio. Teoria generale della 
interpretazione. Milano: Giuffré, 1990; GADAMER, Verdade e método…, p. 288. 
8 Cf. GADAMER, Verdade e método…, p. 482. 
9 Cf. ALEXY, Interpretação jurídica…, p. 63. 
10 Cf. MARSHALL, Geoffrey. What is binding in a precedente. In: MacCORMICK, Neil; SUMMERS, Robert S. 
Interpreting precedents. Aldershot: Ashgate-Dartmouth, p. 503-517, 1997, p. 506-507. 
11 Cf. ALEXY, Interpretação jurídica..., p. 63. 
 7 
interpretação jurídica jurisdicional é autêntica porque o juiz ou o tribunal decide 
vinculativamente e com efeito prejudicial – outro está excluído – o sentido ou significado do 
texto jurídico normativo. 
Esse mesmo critério diferenciador vale para analisar a questão sobre a diferença entre 
a interpretação das disposições jurídicas constitucionais e a interpretação das disposições 
jurídicas infraconstitucionais12. Quanto à atividade hermenêutica de atribuição de significado ou 
unidade de sentido a textos jurídicos normativos, não há diferença entre a interpretação 
constitucional e a interpretação infraconstitucional. O caráter institucional igualmente não aponta 
traço diferenciador, pois se trata da interpretação de textos jurídicos normativos dados por quem 
se acha instituído de poder e da interpretação realizada por pessoas investidas de poder. Nos dois 
casos, está presente o caráter normativo da interpretação jurídica. 
No sistema jurídico brasileiro, a jurisdição ordinária também interpreta textos 
jurídicos normativos constitucionais no caso do controle difuso de constitucionalidade e a 
jurisdição constitucional também diz como devem ser interpretados os textos normativos 
infraconstitucionais por meio do que se costuma chamar de interpretação conforme a constituição 
– caso que o tribunal constitucional deixa de declarar a inconstitucionalidade (invalidade) de 
determinado texto jurídico normativo desde que esse texto seja interpretado no sentido que o 
tribunal lhe atribui. 
É possível argumentar que os textos jurídicos normativos constitucionais são 
diferentes dos dados nas disposições jurídicas infraconstitucionais, especialmente quanto ao grau 
de indeterminação normativa. Em uma boa parte da dogmática jurídica parece ser de aceitação 
bastante geral a formulação de que as disposições jurídicas constitucionais são princípios dados 
por meio de proposições normativas indeterminadas pela abertura semântica e valorativa. Aliás, 
não por outra razão, a Constituição Federal de 1988 apareceu designada como uma constituição 
de princípios ou principiológica. É certo que um bom número de disposições jurídicas autoriza 
formular princípios e que um traço diferenciador dos princípios é a indeterminação normativa. Se 
isso justifica se designar a Constituição Federal de 1988 como uma constituição princípios, então 
não erra quem a considera uma constituição principiológica. 
Contudo, dois aspectos devem ser destacados. O primeiro é que a Constituição 
Federal de 1988 não é uma constituição de princípios e sim também uma constituição de regras. 
As disposições jurídicas sobre as divisões de competência entre os poderes e todos os órgãos 
estatais dadas na Constituição Federal de 1988 são textos jurídicos que autorizam formular regras 
e não princípios. Na verdade, a Constituição Federal de 1988 tem tanto regras quanto princípios, 
mas é mais regulatória do que principiológica – trata-se de uma “Constituição de regras”13. O 
segundo é que a indeterminação normativa não é característica exclusiva dos princípios, mas das 
normas jurídicas. Os textos jurídicos normativos constitucionais e infraconstitucionais são 
escritos em linguagem natural e não em linguagem simbólica. Somente a última, como dizem os 
lógicos, seacha higienizada das imperfeições e confusões criadas pela linguagem natural. A 
indeterminação normativa decorrente da abertura semântica, da ambiguidade, da vagueza e da 
abertura valorativa é própria dos textos dados em linguagem natural corrente. Não são poucas as 
disposições jurídicas infraconstitucionais que apresentam expressões vagas, ambíguas, semântica 
 
12 Cf. ALEXANDER, Larry; SHERWIN, Emily. Demystifying legal reasoning. Cambridge: Cambridge University 
Press, 2008, p. 221. 
13 Cf. ÁVILA, Humberto. “Neoconstitucionalismo”: entre a “ciência do direito” e o “direito da ciência”. Revista 
Eletrônica de Direito do Estado. N. 17. Jan./Fev./Mar. 2009, p. 4. 
 8 
e valorativamente abertas, mas autorizam formular apenas regras e não princípios. É dizer: são 
regras que apresentam a mesma indeterminação normativa dos princípios. 
O argumento de que interpretar é atribuir significado ou unidade sentido a símbolos e 
que, a partir disso, a interpretação jurídica é a atividade de atribuir significado aos símbolos 
linguísticos que autorizam formular juízos de dever jurídico, não implica assumir que o que é 
interpretado – os textos jurídicos dados – constitui um objeto pronto, acabado, definitivo e 
unívoco para sempre no mundo. Um texto jurídico normativo e a norma jurídica que se lhe pode 
formular não é um objeto pronto e definitivo para sempre. 
Nesse ponto, a contribuição da hermenêutica filosófica de Gadamer é decisiva ao 
tornar central o horizonte presente do intérprete e a sua pré-compreensão no momento do ato 
hermenêutico14. O texto jurídico pode ser o mesmo, mas se outro o momento hermenêutico, 
novos significados ou sentidos lhe podem ser atribuídos, conforme novas valorações culturais, 
sociais ou políticas – novo horizonte. Por isso mesmo, ato hermenêutico é também conhecer, 
interpretar e aplicar simultaneamente. A interpretação não é um ato posterior e complementar à 
compreensão de algo. Compreender é já interpretar e, por isso, interpretação é uma forma de 
compreensão de algo. Por outro lado, compreender é aqui sempre já aplicar. Deve-se reconhecer 
a aplicação como integrante de toda a compreensão. Desse modo, na compreensão sempre ocorre 
algo como uma aplicação do texto a ser compreendido à situação atual do intérprete15. 
Essa associação entre o momento da interpretação e o da aplicação na interpretação 
jurídica, segundo Larenz, conduz ao risco da insegurança jurídica16. É que se o que diz o Direito 
é somente dado a conhecer no momento da sua aplicação, então se perde completamente a 
medida do que exatamente em um sistema jurídico normativo está autorizado, permitido ou 
proibido. A superação dessa crítica pode ser alcançada. Dizer-se que interpretação e aplicação 
estão unidas simultaneamente no ato hermenêutico não significa que em cada caso o intérprete 
está livre para atribuir ao texto jurídico normativo o significado ou a unidade de sentido que bem 
entender, completamente diferentes dos já antes, uma vez, dados. Se o texto é o mesmo e os casos 
são semelhantes em seus elementos essenciais, o princípio da universalizabilidade determina que 
se lhe deve atribuir o mesmo significado ou unidade de sentido. Se não for esse o caso, então, 
razões devem ser apresentadas. Elas podem dizer com a presença de novas valorações ou com a 
ausência de identidade entre os casos de aplicação do Direito. 
 
2. Metódica da interpretação jurídica 
 
O que significa uma metódica da interpretação jurídica? Ao lado dessa questão, 
podem ser colocadas também outras. Qual é o sentido da palavra metódica? A interpretação de 
um texto jurídico normativo se deixa dar por meio de métodos? A interpretação jurídica não é 
uma atividade de pura criação do intérprete e, por isso, então, arte que não se sujeita a qualquer 
pretensão rigorosa da metodologia? A compreensão, a interpretação e a aplicação das ciências do 
espírito não são passíveis de verdade, pois não podem ser controladas e verificadas 
empiricamente e, portanto, não se deixam explicar pelos métodos, que são próprios da 
racionalidade teórica das ciências naturais? Enfim, como e por que fundamentar uma pretensão 
de alcançar método à interpretação jurídica? 
 
14 Cf. GADAMER, Verdade e método…, p. 489. 
15 Cf. GADAMER, Verdade e método…, p. 489. 
16 Cf. LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. Trad. José Lamego. 3 Ed. Lisboa: Fundação Calouste 
Gulbenkian, 1997, p. 297. 
 9 
O ponto de partida para responder essas questões pressupõe saber que sentido está 
atribuído à palavra metódica. Outra formulação simbólica poderia ser empregada em lugar de 
metódica, como é o caso da palavra método. Igualmente, a palavra metodologia. Escolheu-se a 
palavra metódica porque esse é o conjunto de símbolos linguísticos cujo significado melhor 
corresponde ao conjunto de critérios orientadores da atividade de compreensão, interpretação e 
aplicação dos textos jurídicos normativos. Exclui-se método porque deve ser recusada qualquer 
tentativa de identificar a atividade interpretativa dos textos jurídicos normativos com o 
reducionismo das fórmulas simbólicas da lógica matemática ou da lógica simbólica mesma. 
Igualmente, deixou-se de lado a designação metodologia, pois o significado que lhe é 
normalmente atribuído é o de estudo do método. 
É que se costuma associar qualquer tentativa de analisar a atividade de interpretação 
dos textos normativos jurídicos a partir critérios e regras – metanormas, que se ocupam de dizer 
como os textos normativos jurídicos podem ser compreendidos, interpretados e aplicados – à 
ideia de aplicação de exigências metodológicas estritas da racionalidade lógico-dedutiva das 
ciências naturais. Não poucas vezes, o argumento é o de que as ciências humanas e, assim, a 
compreensão, interpretação e aplicação dos textos jurídicos normativos não se deixam 
fundamentar racionalmente por meio do método. 
Aqui, à palavra metódica não deve ser atribuído esse significado ou associada a essas 
ideias. Não se tem ainda disponível nas ciências humanas um modelo metodológico rigoroso 
absoluto, capaz de assegurar uma única e definitiva compreensão, interpretação e aplicação dos 
textos jurídicos normativos. Se nas ciências naturais os rigores do método não podem assegurar 
uma racionalidade absoluta, muito menos nas ciências humanas. 
A compreensão, a interpretação e aplicação dos textos jurídicos normativos não se 
reduzem exclusivamente a uma atividade puramente lógica dos juízos teóricos, mas elas não se 
deixam realizar sem o auxilio de critérios ou exigências mínimas universalmente válidas. 
Metódica da interpretação jurídica significa não mais do que as exigências mínimas 
que a atividade de compreensão, interpretação e aplicação dos textos normativos jurídicos deve 
atender. O atribuir significado às disposições jurídicas deve seguir padrões ou critérios 
universais, mais ou menos compartilhados pela comunidade jurídica e sociedade geral. Não se 
trata de reduzir a arte da compreensão hermenêutica aos critérios metodológicos rigorosos e 
tampouco identificar a compreensão, a interpretação e aplicação dos textos jurídicos normativos 
ao método lógico dedutivo da racionalidade teórica das proposições descritivas do mundo 
objetivo. A métodica da interpretação jurídica é muito menos pretensiosa, pois não persegue uma 
resposta absolutamente correta para cada caso, admitindo a racionalidade possível que a 
argumentação racional pode alcançar para as questões práticas colocadas para o discurso jurídico. 
É que não existe uma interpretação “absolutamente correta”, definitiva para todas as 
épocas, pois uma interpretação nunca será definitiva,seja pelas as mudanças das relações da vida 
seja pelas mudanças do ordenamento jurídico todo. Uma nova interpretação do texto jurídico 
normativo não poderá desprezar o contexto do todo dado em um sistema normativo que já não é o 
mesmo de uma interpretação feita no passado. Uma nova interpretação do texto jurídico 
normativo não poderá desprezar as novas pautas valorativas. Como toda interpretação está 
condicionada a sua época, o intérprete não pode desprezar as mudanças da consciência valorativa 
geral. 
Além disso, na atividade de interpretação, compreensão e aplicação das disposições 
jurídicas, as valorações pessoais, as inclinações ideológicas e as visões de mundo entram em 
jogo. O texto jurídico normativo da disposição do art. 170 da Constituição Federal diz que 
propriedade deve cumprir uma função social. Será que um intérprete-aplicador forjado no seio 
 10 
dos movimentos sociais do movimento social dos agricultores sem terra vai alcançar a esse texto 
normativo o mesmo sentido do que o de um intérprete-aplicador de concepções liberais, inspirado 
pelos valores da livre exploração da terra, originário da aristocracia rural? Não parece que a 
historicidade, autoridade da tradição e o fato de o intérprete ter consciência desses preconceitos17 
bastam a uma interpretação, compreensão e aplicação em termos de verdade (correção) com um 
mínimo de garantia e controle intersubjetivo. Não por outra razão, o próprio Gadamer parece não 
dispensar o método. A preocupação de Gadamer com a linguagem é um indicativo disso18. 
Com isso, está justificado estudar os métodos, desde os clássicos até os 
contemporâneos da “nova” hermenêutica. É verdade que os métodos ou critérios não garantem 
muita coisa, mas sem eles a atividade de interpretação, de compreensão e de aplicação das 
normas jurídicas vai mergulhar no subjetivismo, no intuicionismo e no decisionismo. 
Assim, os cânones, os métodos, os critérios, as técnicas, os argumentos 
interpretativos não podem ser dispensados da interpretação, compreensão e aplicação das normas 
jurídicas. Essas designações têm sido empregadas como livremente intercambiáveis, sem 
justificações. A referência a cânones remete aos primeiros momentos da hermenêutica clássica e 
filosófica, bem como à formulação clássica de Savigny19. O emprego de método está inserido na 
perspectiva da hermenêutica epistemológica, que pretende formular uma teoria metodológica da 
interpretação jurídica20. Os empregos de critérios e técnicas, influência da análise e da 
sistematização, representam a ideia de guias ou regras utilizadas para justificar a atribuição de 
sentido aos textos normativos jurídicos do legislador. Se assim, então, quem sabe mais adequada 
é a designação argumentos. 
 
3. Interpretação e argumentação 
 
A discussão em torno dos objetivos da interpretação jurídica remete a duas 
formulações teóricas diferentes. A teoria subjetiva diz que o objetivo da interpretação é investigar 
a vontade histórico-psicológica do legislador. Assim, o texto jurídico normativo deve ser 
interpretado no sentido que o legislador histórico atribui às palavras empregadas ou conforme o 
fim que legislador histórico pretendia atingir com o texto jurídico normativo. A teoria objetiva 
diz que o objetivo da interpretação é investigar o sentido razoável, correto ou justo do texto 
jurídico normativo dado pelo legislador. Assim, o intérprete deve atribuir ao texto jurídico 
normativo o sentido que melhor corresponde a sua correção material, especialmente quanto à 
solução para as situações concretas de aplicação do Direito. 
Daí, então, podem ser formulados quatro objetivos da interpretação possíveis. Quanto 
ao tempo da origem-subjetiva, o intérprete deve investigar a vontade fática originária do 
legislador histórico. Quanto ao tempo da origem-objetiva, o intérprete deve determinar o sentido 
razoável do texto normativo na data de seu nascimento. Quanto ao tempo da interpretação-
subjetiva, a atividade do intérprete é determinar a vontade hipotética do legislador atual. Quanto 
 
17 Cf. GADAMER, Verdade e método…, p. 407-421. 
18 Cf. GADAMER, Wahrheit und Methode…p. 566. 
19 Cf. SAVIGNY, M. F. C. de. Sistema del derecho romano actual. Trad. Jacinto Mesia y Manuel Poley. Tomo I. 
Madrid: F. Gongora y Compañia, 1878, p. 150. 
20 Cf. STELMACH; BROZEK, Methods of legal reasoning…, p. 175-176. Um interessante catálogo de princípios e 
canones interpretativos pode ser encontrado em SCALIA, Antonin; GARNER, Bryan A. Reading law: the 
interpretation of legal texts.Thomson/West: St. Paul, 2012. 
 11 
tempo da interpretação-objetiva, o intérprete deve fixar o sentido razoável do texto normativo na 
data de sua interpretação-aplicação21. 
Este debate ainda está aberto. Quem sabe não se pode mesmo determinar uma 
primazia definitiva de uma teoria sobre a outra. Há quem sustente que a teoria objetiva superou a 
objetiva22. A verdade é que bons argumentos falam a favor das duas teorias. 
Os princípios da democracia, da divisão dos poderes e da autoridade do legislador 
democrático jogam a favor da teoria subjetiva. Contra a teoria subjetiva estão argumentos 
igualmente fortes. Eles dizem que muito dificilmente se consegue determinar a vontade do 
legislador histórico. Normalmente, podem ser formuladas questões como estas. Como investigar 
a vontade do legislador histórico? Quem é o legislador histórico? O que fazer quando as 
intenções do legislador histórico se mostram contraditórias ou ambíguas? Qual é o peso dos 
trabalhos preparatórios para determinar as intenções do legislador histórico? O texto normativo, 
uma vez dado pelo legislador, não se desprende das intenções de quem o elaborou? O intérprete-
aplicador do texto jurídico normativo não lhe pode atribuir um sentido diferente do intencionado 
pelo legislador histórico, especialmente em atenção ao tempo do texto e à nova realidade do 
mundo? 
A favor da teoria objetiva argumenta-se que a interpretação deve levar a uma resposta 
correta ou justa quanto ao conteúdo. O sentido a ser atribuído ao texto normativo deve ser aquele 
que produza uma sentença judicial correta ou justa. Contra a teoria objetiva diz-se que ela leva ao 
arbítrio e à subjetividade do intérprete-aplicador. Ela leva à arbitrariedade interpretativa. Além 
disso, ela implica aumento da competência do judiciário em relação ao espaço de conformação do 
legislador. O juiz estaria usurpando a competência do legislador democraticamente escolhido 
pelo povo. O resultado seria um ativismo judicial sem limites, não autorizado pela Constituição 
Federal. O caso seria de carência de legitimidade da jurisdição e de violação do princípio da 
democracia. Então, qual é a solução para a determinação do objetivo da interpretação? 
Uma alternativa é uma variação da teoria subjetiva, que toma não apenas a intenção 
do legislador histórico dado empiricamente, mas também a intenção hipotética do legislador 
histórico. No lugar da vontade empírica do legislador histórico, coloca-se a vontade presumida do 
legislador atual ou do legislador racional. O objetivo da interpretação é determinar a vontade do 
legislador racional ou do legislador atual. Interpretar um texto jurídico normativo é desentranhar 
o sentido que o legislador racional hoje lhe atribuiria. Esta solução não é satisfatória igualmente. 
O problema estaria em como controlar racional e objetivamente a determinação do significado ou 
unidade de sentido que o intérprete afirma como sendo o dado pelo legislador racional. 
A melhor alternativa está em uma solução unificadora23, que integra os argumentos 
subjetivos e objetivos. Esta pode ser designada como uma teoria unificadora. É que cada uma das 
teoriassubjetiva e objetiva acerta e erra parcialmente. Nenhuma teoria acerta integralmente. 
Nenhuma teoria erra integralmente. A teoria subjetiva acerta quando diz que o texto jurídico 
normativo é uma criação do homem, expressão de uma vontade dirigida à coordenação de 
interesses tanto quanto possível justa e adequada às necessidades da sociedade. O texto jurídico 
normativo já é uma alocação de poder e coordenação de valores, de aspirações e desejos. O texto 
jurídico normativo é expressão da intenção do legislador democraticamente escolhido pelo povo 
para por ele se manifestar nessa coordenação de interesses e conflitos. O texto jurídico normativo 
é resultado de uma discussão pública e, nesse sentido, produto de uma razão pública. Mas a teoria 
 
21 Cf. ALEXY, Interpretação jurídica..., p. 69. 
22 Cf. BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e aplicação da constituição. 7. Ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 144. 
23 Cf. LARENZ, Metodologia da ciência do direito..., p. 449. 
 12 
objetiva também acerta quando diz que o texto jurídico normativo intervém nas relações da vida 
muito distantes e diferentes do tempo de seu nascimento. Como fazer-se aplicar um texto jurídico 
normativo para intervir em situações da vida muito distintas das pensadas pelo legislador 
histórico? Com o tempo, o texto normativo adquire vida própria, afastando-se das ideias 
originárias do legislador histórico. O dado pelo legislador não é diferente das outras obras do 
espírito humano e, como tal, não deve ser tomado como um ser físico ou psicológico, pronto e 
acabado. 
Assim, o objetivo da interpretação é determinado pela combinação de elementos 
subjetivos e objetivos. O objetivo da interpretação de um texto jurídico normativo é determinado 
pela confluência das intenções subjetivas do legislador histórico com os fins e imperativos 
jurídicos objetivos do texto mesmo. Quem interpreta um texto jurídico normativo a fim de 
resolver uma questão prática de seu tempo, traz para hoje uma obra do passado. O intérprete não 
pode desprezar a intenção do legislador histórico e tampouco a realidade da vida hoje. O objetivo 
da interpretação é determinar o sentido normativo do texto. Determinar o sentido normativo do 
que é agora juridicamente vinculante. A determinação desse sentido normativo pressupõe as 
ideias concretas do legislador histórico e sua adequação à realidade social do seu contexto de 
aplicação. Essa concepção não é a mesma que outra que diz que o objetivo da interpretação é 
determinação da vontade da lei. Esta última é uma concepção subjetivista, que cai na vontade de 
uma pessoa ou de uma pluralidade de pessoas. Ela encerra uma personificação injustificada da 
lei, que serve para encobrir a tensão entre a vontade do legislador histórico e o conteúdo objetivo 
da lei, em permanente modificação24. 
Desse modo, então, uma alternativa também unificadora, mas também 
diferenciadora25 pode ser formulada. Ela combina os momentos subjetivos e objetivos. A 
diferença é que ela propõe primazia prima facie (não definitiva) dos elementos subjetivos sobre 
os objetivos. Ela não impede que o intérprete se afaste da vontade do legislador histórico. Ela cria 
para o intérprete o dever de dar as razões justificadoras da superação da vontade empírica do 
legislador histórico. Com isso, então, o foco é deslocado não para se determinar o objetivo da 
interpretação, mas para definir quais são as melhores razões para justificar e fundamentar uma 
determinada atribuição de sentido. Essas razões são os argumentos interpretativos. 
Eles foram inicialmente formulados como cânones ou “regras fundamentais da 
interpretação” jurídica por Savigny26 sob a influência da hermenêutica epistemológica 
metodológica de Schleiermacher, que propôs um catálogo de regras universalmente válidas da 
interpretação – os cânones de interpretação. 
A hermenêutica de Schleiermacher analisa o processo da compreensão nestas 
dimensões: interpretação histórica e interpretação psicológica. A compreensão deve recriar a 
situação histórica e psicológica na qual se encontrava o autor do texto interpretado. O que deve 
ser compreendido não é apenas a literalidade das palavras e o seu sentido objetivo, mas também a 
individualidade do autor do texto interpretado27. A Interpretação gramatical é alcançada a partir 
do conhecimento da totalidade da língua do texto, para o que Schleiermacher formulou 24 
cânones de interpretação. Entre eles, dois são mais importantes. O primeiro diz que tudo o que 
necessita de uma maior determinação em um determinado contexto somente pode ser 
determinado por referência ao campo de linguagem partilhado pelo autor e pelo público inicial. O 
 
24 Cf. LARENZ, Metodologia da ciência do direito..., p. 447-448. 
25 Cf. ALEXY, Interpretação jurídica..., p. 69. 
26 Cf. SAVIGNY, Sistema del derecho romano actual..., p. 150. 
27 Cf. GADAMER, Verdade e método..., p. 291-291. 
 13 
segundo diz que o significado de cada palavra em um determinado passo deve ser determinado 
por referência a sua coexistência com as palavras que a rodeiam. A interpretação psicológica é 
alcançada a partir do conhecimento da totalidade da intenção e dos objetivos do autor. Assim, o 
intérprete deve investigar não apenas o texto, mas também o seu autor. Ler um texto é dialogar 
com o seu autor e encontrar a sua intenção, buscando compreender o seu espírito e decifrando os 
símbolos a partir das quais ele expressou seu pensamento. Portanto, a partir de um conhecimento 
histórico e linguístico adequado, o intérprete pode compreender melhor o autor do que este se 
compreendeu a si mesmo. O intérprete que segue o conscientemente o fio do pensamento do 
autor terá de trazer para o nível consciente muitos elementos que ficariam inconscientes neste 
último – por isso, compreenderá melhor o autor do que este compreendeu a si próprio28. Além 
disso, Schleiermacher deu grande atenção ao círculo hermenêutico, que diz que a unidade do todo 
pode ser compreendida a partir das partes individuais, e as partes individuais podem ser 
compreendidas a partir da unidade do todo29. Com isso, deu início a uma teoria universal da 
interpretação30. 
Essas formulações levaram Savigny à formulação clássica dos cânones da 
interpretação jurídica, configurando os primeiro movimento em direção à metodologia da ciência 
jurídica. Daí, então, a interpretação gramatical, a interpretação histórica e a interpretação 
sistemática. O jovem Savigny recusou a interpretação teleológica, que autoriza o intérprete 
atribuir sentido ao texto normativo jurídico a partir de sua finalidade (ratio legis)31. Nesse 
momento de sua obra, o pensamento de Savigny aparece associado à concepção positivista 
legalista da interpretação jurídica, caracterizada pela redução do papel do intérprete a declarar o 
sentido do texto conforme o significado literal das palavras empregadas pelo legislador, 
considerado sentido por este atribuído ao texto normativo jurídico. A segunda parte da obra de 
Savigny aceitou a interpretação teleológica, reconhecendo ao intérprete poder para investigar o 
fim do texto normativo jurídico em si, mas no âmbito do nexo de significado fornecido por uma 
global intuição do instituto jurídico ao qual o texto jurídico interpretado se acha incluído32. 
Não se encontra consenso sobre a totalidade dos cânones da interpretação jurídica e 
como eles podem ser classificados. Desde a formulação clássica de Savigny, muitos critérios 
foram discutidos, muito especialmente sobre a interpretação dos textos normativos jurídico-
constitucionais. Contudo, permanece ainda aberta a questão sobre qual é a importância dos meios 
interpretativos formuladospela metodologia jurídica clássica? 
Os métodos tradicionais de aplicação do Direito somente podem ser compreendidos 
como pontos de vista auxiliares parciais33. Os cânones de interpretação herdados da tradição não 
podem mais ser tratados como canônicos da interpretação do Direito, pois carecem de 
universalidade formal e dignidade lógica. Eles são relativos no tocante ao objeto particular da 
tarefa individual de concretização. Não há uma ordem hierárquica dos cânones, sequer uma 
plausível. 
O aspecto literal-gramatical não consegue decidir entre os vários significados da 
linguagem comum e da linguagem jurídica e também entre os próprios significados jurídicos. O 
aspecto histórico aparece multiplamente amalgamado com reflexões genéticas e teleológicas. O 
 
28 Cf. GADAMER, Verdade e método..., p. 299. 
29 Cf. SCHLEIERMACHER, Hermenêutica…, p. 47. 
30 Cf. STELMACH; BROZEK, Methods of legal reasoning…, p. 176. 
31 Cf. SAVIGNY, Sistema del derecho romano actual..., p. 152-153. 
32 Cf. STELMACH; BROZEK, Methods of legal reasoning…, p. 184. 
33 Cf. MÜLLER, Friedrich. Teoria estruturante do direito. 2. Ed. Trad. Peter Naumann e Eurides Avance de Souza. 
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. 
 14 
aspecto sistemático quase nunca pode optar entre os diferentes pontos de vista da sistemática da 
forma do texto, do sentido e da matéria. O aspecto teleológico não é mais do que um conceito que 
serve para abraçar valorações de todas as ordens e origens, apontando para um campo ilimitado 
de possibilidades interpretativas. Ratio, telos, sentido e fim, parecem ser apenas metáforas do que 
realmente se procura e se deseja no caso individual. As fórmulas teológicas vazias podem servir 
para encobrir com o véu da linguagem as questões jurídicas concretas. 
Assim, os pontos de vistas metódicos auxiliares herdados da tradição não são 
conclusivos. Por isso mesmo, exclusiva e isoladamente, nenhum deles pode decidir para 
determinar o sentido do texto jurídico normativo. Todos eles devem ser levados em conta para se 
alcançar a interpretação mais bem justificada de um determinado texto jurídico normativo. 
Nesse sentido, e uma vez assumido que a atribuição de significado ao texto jurídico 
normativo deve ser justificada, os cânones da hermenêutica clássica devem ser compreendidos 
como argumentos interpretativos ou argumentos de interpretação. Razões linguísticas, históricas, 
sistemáticas e teleológicas, associadas às razões práticas gerais – razões morais, éticas e razões 
pragmáticas – são razões que jogam a favor ou contra uma determinada atribuição de sentido ou 
significado a um determinado texto jurídico normativo interpretado e aplicado em uma 
determinada situação concreta. Conforme o caso, então, os diversos tipos de argumentos – 
argumentos linguísticos, argumentos históricos, argumentos sistemáticos, argumentos 
teleológicos e argumentos práticos gerais – têm maior ou menor peso para a determinação do 
significado a ser atribuído ao texto jurídico normativo. 
Se cada um dos argumentos interpretativos não se mostra suficiente para 
exclusivamente determinar o sentido a ser atribuído a um determinado texto jurídico normativo; 
se não pode ser formulada uma escala de hierarquia justificada entre eles; se eles devem ser 
reunidos para, conjuntamente, integrar o conjunto de argumentos pró e contra uma determinada 
atribuição de sentido a uma disposição jurídica, então pode ser colocada a questão sobre como 
exatamente isso deve ocorrer. Essa questão diz sobre o procedimento argumentativo. 
Uma primeira alternativa aponta para uma ordenação da atividade interpretativa a 
partir. A questão que se coloca é se é possível uma ordem na atividade do intérprete? O começo 
da atividade interpretativa pode ser o significado do texto jurídico normativo dado pelo uso da 
linguagem corrente ou da linguagem técnica? O fim da atividade interpretativa é alcançado 
quando determinado o fim do texto normativo e avaliadas as consequências do sentido atribuído 
ao texto? 
Há a proposta de uma ordenação da atividade do intérprete34. O ponto de partida é o 
significado autorizado pelas regras gramaticais, uso da linguagem corrente e “dos modos de 
expressão técnico-jurídicos”. O próximo passo é dado quando o intérprete deve verificar a 
coerência interna do sistema, buscando determinar o significado a partir da localização do texto 
jurídico normativo no sistema e sua conexão com outras partes do texto e do sistema mesmo. O 
passo seguinte é alcançado pela investigação da situação histórica, antes e depois da regulação 
normativa, considerando, ainda, a gênese do texto, notadamente o material dos trabalhos 
preparatórios. Por fim, o intérprete deve investigar os fins de texto e do conjunto todo do qual o 
texto é parte. 
Essa ordenação talvez não possa ser formulada. Uma ordenação assim somente pode 
ser alcançada na justificação de um determinado sentido do texto atribuído pelo intérprete. 
Portanto, apenas no contexto da justificação e não no contexto da descoberta. É que se deve 
 
34 Cf. ENGISCH, Karl. Introdução ao pensamento jurídico. 7 Ed. Trad. J. Batista Machado. Lisboa: Fundação 
Calouste Gulbenkian, 1996, p. 127. 
 15 
distinguir entre o contexto da descoberta e o contexto da justificação. O processo psicológico 
desenvolvido pelo intérprete está no contexto da descoberta. Nesse contexto, entra em jogo desde 
a pré-compreensão do intérprete sobre o texto até a consideração das consequências do resultado 
da interpretação para o caso concreto. Uma ordenação do tipo indicada somente vai ser possível 
quando da apresentação das razões de justificação de uma determinada atribuição de sentido ao 
texto jurídico normativo interpretado. Por isso mesmo, então, o ponto de partida deve ser mesmo 
a pré-compreensão não apenas do texto, mas de toda a situação histórico-concreta da vida. Essa 
formulação remete à questão sobre a casuística na interpretação e aplicação do Direito35. Ela 
somente pode ser estudada em outro lugar. 
Quem sabe, em lugar da ordenação, não seja melhor a união inter-relacional entre os 
argumentos interpretativos. 
O argumento linguístico pode ser o ponto de partida e o limite da interpretação. É que 
o que está além dos sentidos possíveis do texto jurídico normativo, mesmo na mais ampla 
interpretação, já não é mais apenas interpretação. O caso da interpretação extensiva é ainda um 
caso de interpretação, pois apenas se toma o texto jurídico normativo no seu significado possível 
mais amplo. Quando diferentes significados possíveis são autorizados pelo texto jurídico 
normativo, outros argumentos interpretativos são necessários. Assim, pode entrar no jogo 
argumentativo o contexto sistemático do texto jurídico normativo em favor da determinação do 
significado de um termo ou de uma disposição normativa. Ele pode contribuir para se alcançar a 
concordância material entre diferentes disposições normativas de um sistema normativo todo. Por 
isso mesmo, em caso de dúvida entre os vários significados possíveis atribuíveis ao texto jurídico 
normativo, uma disposição deve ser interpretada de modo a entrar em concordância com as outras 
disposições do mesmo sistema de normativo. As contribuições da dogmática jurídica servem, 
igualmente, para incrementar essa concordância material. Quando a interpretação linguística e a 
interpretação sistemática deixam margem a diferentes significados, então o intérprete deve 
preferir aquela que melhor se ajuste à intenção reguladora do legislador histórico e ao fim da 
disposição jurídica dada conforme pretendido pelo seu autor empírico concreto. Isso pode ser 
investigado a partir da situaçãohistórica, do motivo da regulação, das declarações de intenção do 
legislador, da exposição de motivos, assim como do próprio conteúdo do texto normativo. É que 
na interpretação do texto normativo o intérprete está vinculado, pelo menos prima facie, aos fins 
da lei e às valorações do legislador democraticamente legitimado. Se isso não for suficiente, o 
intérprete deve recorrer aos critérios teleológico-objetivos, ainda que não se possa precisar se o 
legislador tinha ou não consciência deles. Esses critérios são dados pela “estrutura material do 
âmbito da norma” e pelos “princípios imanentes do ordenamento jurídico”36. 
Essa proposta pode ser designada como proposta unificadora37 e também 
diferenciadora38. Ela não somente combina os momentos subjetivos e objetivos, mas ainda 
propõe primazia prima facie dos primeiros sobre os últimos. Cuida-se uma primazia prima facie e 
não definitiva. Ela não impede que o intérprete se afaste da vontade do legislador histórico. 
Apenas, ela cria para o intérprete o dever de dar as razões justificadoras da superação da vontade 
empírica do legislador histórico. A determinação da primazia definitiva vai depender de alguns 
critérios, como o tempo do texto normativo; as modificações das circunstâncias fáticas; as 
modificações das circunstâncias sociais valorativas; a vontade inequívoca do legislador histórico; 
 
35 Cf. SUNSTEIN, Cass. Legal reasoning and political conflict. New York: Oxford, 1996, p. 121. 
36 Cf. LARENZ, Metodologia da ciência do direito..., p. 471-472. 
37 Cf. LARENZ, Metodologia da ciência do direito..., p. 449. 
38 Cf. ALEXY, Interpretação jurídica..., p. 69. 
 16 
o peso dos argumentos sistemáticos e o peso dos argumentos substanciais39. Com isso, então, o 
foco talvez não esteja em determinar o objetivo da interpretação, mas em determinar quais são as 
melhores razões para justificar e fundamentar uma determinada atribuição de sentido. Nisso, 
então, está a união entre interpretação e argumentação. 
O modelo de primazias prima facie admite que a ordem de hierarquia estabelecida 
inicialmente por alguma razão pode ser invertida se forem apresentados argumentos em sentido 
contrário. O problema da hierarquia dos argumentos de interpretação se resolve como uma 
questão de argumentação. A razão dessa primazia prima facie está em que os elementos 
subjetivos são mais próximos do princípio da democracia, da divisão dos poderes e da autoridade 
do legislador que criou o texto normativo. Os meios de interpretação que expressam vinculação 
com o ordenamento jurídico vigente detêm primazia prima facie sobre os demais. Assim, podem 
ser formuladas duas regras gerais de primazia prima facie: a regra que diz que os argumentos 
linguísticos prevalecem prima facie sobre todos os outros e a regra que diz que os argumentos 
institucionais – argumentos linguísticos, históricos e sistemáticos – prevalecem prima facie em 
relação aos teleológicos e aos práticos gerais40. 
A primeira regra estabelece uma relação de primazia prima facie dos argumentos 
linguísticos sobre todos os outros. O argumento linguístico e o argumento histórico retiram força 
da autoridade e da legitimidade do legislador41. Trata-se de respeito ao sentido composicional das 
expressões escolhidas pelo legislador, a fim de que os destinatários das disposições possam 
compreendê-las a partir de seu sentido imediato e minimizar os custos das disputas sobre as 
interpretações dos textos jurídicos42. Então, em razão do princípio da segurança jurídica e, com 
isso, do princípio do Estado de Direito, o dito pelo legislador detém primazia prima facie sobre o 
querido. A força argumentativa do que o legislador democraticamente legitimado diz no texto 
jurídico normativo é maior do que a força argumentativa do que o legislador quis dizer com o 
mesmo texto jurídico normativo. Assim, os argumentos linguísticos prevalecem, pelo menos 
prima facie, sobre os argumentos genéticos. Os argumentos linguísticos também prevalecem 
prima facie sobre os argumentos sistemáticos. É correto dizer que os argumentos sistemáticos 
visam à coerência, o que é elementar para a racionalidade. Contudo, aquilo que deve ser trazido 
em um sistema de normas é, antes, o decidido e dado pelo legislador democraticamente 
escolhido. Por isso, então, a primazia prima facie dos argumentos linguísticos sobre os 
sistemáticos. Entre os argumentos históricos e os argumentos sistemáticos não há uma relação de 
primazia prima facie que possa ser justificada43. 
A segunda regra geral estabelece uma relação de primazia prima facie dos 
argumentos linguísticos, genéticos e sistemáticos sobre os argumentos teleológicos. Novamente, 
a razão para isso está em que os argumentos institucionais retiram sua força diretamente do 
sistema jurídico. Aliás, a própria existência do sistema jurídico está fundamentada nas fraquezas 
das considerações exclusivamente teológico-avaliativas. Além disso, os argumentos puramente 
teológicos estão mais próximos do que isso definir o intérprete, com o risco do arbítrio judicial, 
do que o definido pelo legislador democraticamente legitimado. Assim, por exemplo, se uma 
disposição jurídica encontra uma interpretação claramente retirada do seu texto pela semântica 
convencional à linguagem corrente e se ela pode ser confirmada pela leitura do texto no contexto 
 
39 Cf. ALEXY, Interpretação jurídica..., p. 69. 
40 Cf. ALEXY, Interpretação jurídica..., p. 74-75. 
41 Cf. MARMOR, Andrei. Interpretation and legal theory. 2 Ed. Oxford: Hart Publishing, 2005, p. 133-134 . 
42 Cf. MacCORMICK, Neil. Retórica e Estado de Direito. Trad. Conrado Mendes e Marcos Paulo Veríssimo. Rio 
de Janeiro: Elsevier, 2008, p. 126-127. 
43 Cf. ALEXY, Interpretação jurídica..., p. 74. 
 17 
do sistema jurídico como um todo. Então, os argumentos teleológico-avaliativos estão 
dispensados44. 
Bem entendido, cuida-se de uma hierarquia de primazias prima facie. Elas podem ser 
destruídas se boas razões forem apresentadas. Quem pretende desconsiderar a primazia 
estabelecida deve estar disposto a suportar a carga da argumentação. Assim, pode ser formulada a 
seguinte regra da carga de prova. Os argumentos que expressam uma vinculação ao teor 
linguístico do texto jurídico normativo dado pelo legislador, conforme o uso corrente da 
linguagem comum ou especializada, à vontade do legislador histórico e ao sentido coerente do 
sistema jurídico normativo todo, prevalecem sobre outros argumentos, a não ser que possam ser 
aduzidas razões que concedam primazia a estes outros argumentos interpretativos45. 
A questão se coloca a partir disso é quais razões podem ser apresentadas para afastar 
a primazia prima facie? Essa é uma questão que somente pode ser resolvida em uma discussão 
racional. Os argumentos teleológicos, que normalmente são dados por meio de razões morais, 
éticas, pragmáticas, desempenham papel decisivo, onde o princípio da universalizabilidade exige 
que as razões apresentadas em um caso determinado sejam também razões para outro caso 
semelhante. Cuida-se, portanto, de uma questão que se deixa resolver pela ponderação dos 
argumentos em jogo. Isso fica claro quando o procedimento de justificação de uma determinada 
interpretação de uma disposição jurídica é mostrado abertamente. No procedimento de 
justificação de uma interpretação jurídica, o intérprete apresenta as razões que estão a favor da 
interpretação que pretende manter e apresenta contrarrazões em desfavor da interpretação que 
pretende afastar. Com isso, tem-se interpretação como uma questão de argumentação. A 
justificação do sentido atribuído ao texto jurídico normativo pelo intérprete se desenvolvecom a 
apresentação de argumentos pró e contra, configurando uma constante competição entre as duas 
ou mais alternativas de interpretação. 
 
Conclusão 
 
Estas linhas serviram, então, para justificar uma determinada concepção da 
interpretação. 
Interpretação jurídica é a atividade por intermédio da qual o intérprete atribui 
significado aos signos linguísticos dados nos textos jurídicos normativos. As normas jurídicas 
existem apenas como significados dos textos jurídicos normativos uma vez já interpretados. Uma 
norma jurídica é sempre já concretização de um texto jurídico. 
Isso não implica que o intérprete está autorizado a livre e discricionariamente atribuir 
ao texto jurídico normativo o significado que bem entender, conforme suas avaliações subjetivas 
e inclinações morais, culturais, políticas e sociais. Que isso e sua pré-compreensão são elementos 
centrais para formulação das hipóteses interpretativa não implica que o intérprete não está sujeito 
a quaisquer parâmetros mais ou menos universais, amplamente aceitos. O contrário 
comprometeria as mínimas pretensões de objetividade e racionalidade na aplicação do Direito. 
Interpretação e argumentação estão unidas. Interpretação é uma atividade 
argumentativa. Os argumentos interpretativos são razões que jogam a favor ou contra os 
significados possíveis que os símbolos linguísticos autorizam formular. Com isso, fica reduzido o 
espaço da subjetividade e da arbitrariedade na atribuição de significado aos textos jurídicos 
normativos. 
 
44 Cf. MacCORMICK, Retórica e Estado de Direito..., p. 138. 
45 Cf. ALEXY, Interpretação jurídica..., p. 75. 
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