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Teoria e M etodologia do Serviço Social 1 A con stru ção do con h ecim en to Teoria e Metodologia do Serviço Social Cap.I.p65 25/1/2011, 16:251 Arquivo disponível gratuitamente no site: www.servicosocialparaconcursos.com 2 N ei la S pe ro tt o Cap.I.p65 25/1/2011, 16:252 Teoria e M etodologia do Serviço Social 3 A con stru ção do con h ecim en to Teoria e Metodologia do Serviço Social Cap.I.p65 25/1/2011, 16:253 4 N ei la S pe ro tt o © 2009, ULBRA. 1ª Edição. ISBN 978-85-7697- 128-3 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida por qualquer meio, sem autorização prévia da autora, por escrito. O Código Penal Brasileiro determina, no Artigo 184, pena e san- ções a infratores por violação de direitos autorais. Qualquer semelhança é mera coincidência. Coordenação Editorial Karla Viviane Editora Imprensa Livre® Rua Comandaí, 801 Porto Alegre/RS – CEP 90830-530 (51) 32497146 www.imprensalivre.net imprensalivre@imprensalivre.net S749t Sperotto, Neila Teoria e metodologia / Neila Sperotto. – Porto Alegre : Imprensa Livre, 2009. 152 p. ; 22 cm. ISBN 978-85-7697-128-3 1. Normalização. 2. Metodologia científica. I. Título Obra coletiva organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. CDU 001.8 Catalogação elaborada por: Evelin Stahlhoefer Cotta – CRB 10/1563 Cap.I.p65 25/1/2011, 16:254 Teoria e M etodologia do Serviço Social 5 A con stru ção do con h ecim en to Cap.I.p65 25/1/2011, 16:255 6 N ei la S pe ro tt o Cap.I.p65 25/1/2011, 16:256 Teoria e M etodologia do Serviço Social 7 A con stru ção do con h ecim en to Apresentação Nesta obra vamos destacar os fundamentos teórico práticos do trabalho social, com a finalidade de demonstrar a construção dos conhecimentos produzidos no Serviço Social, que fornecem as condições teórico-metodológicas para o estudo da realidade social e apreensão da questão social como produtora da exclusão social e das desigualdades de renda. Estes conhecimentos teóricos são materializados na prática profissional quando da intervenção junto à população usuária dos serviços sociais. Historicamente, a realização do trabalho do assistente social se deu pelo conjunto de ações realizadas diretamente com os indivíduos, as famílias, os grupos e as comunidades, bem como na necessária, e cada vez mais solicitada aos assistentes sociais, administração e gestão de organizações, serviços, programas e projetos sociais. A estrutura da obra está organizada para que, de forma didática, você apreenda como a teoria e a metodologia da profissão foi sendo construída ao longo do tempo. É necessário ter em mente que esta construção não está acabada e encontra-se permanentemente em processo de elaboração, de críticas e reconstrução de saberes. Isso revela a condição de provisoriedade desses saberes. Algumas informações conceituais vocês já possui e Cap.I.p65 25/1/2011, 16:257 8 N ei la S pe ro tt o Apresentação pode (e deve) relembrá-las na leitura do material das obras sobre Introdução ao Serviço Social e História do Serviço Social. Em um primeiro momento você pode pensar que é uma repetição de alguns conteúdos que você já estudou em outras obras, mas leia com mais atenção que logo identificará os aprofundamentos. E lembre-se também que a história se inscreve em um movimento, é construída e reconstruída. Estamos sempre voltando ao passado, com condições mais bem formuladas para compreendê-lo, o que possibilita uma apreensão do presente e um projeto em evolução que, certamente, coexiste com saberes preexistentes. Feitas estas considerações acredita-se que descobrirá muitas outras especificidades desses conhecimentos teórico-práticos dessa ação profissional. Vamos iniciar discutindo o papel da teoria e da metodologia na construção do conhecimento científico, analisando a sua influência na constituição da teoria e metodologia no Serviço Social. Exploraremos um pouco mais os antecedentes metodológicos por meio da análise dos três métodos tradicionais de Serviço Social que você já conhece: o Serviço Social de Caso, o Serviço Social de Grupo e o Serviço Social de Comunidade. Esta análise pretende evidenciar a abordagem realizada pelos profissionais do Serviço Social em cada período no Brasil e no mundo. A opção por uma compreensão política/ história pretende dar espaço às discussões realizadas pelos principais autores do Serviço Social em cada época, isso certamente dará uma noção das bases que norteiam as práticas profissionais dos Assistentes Sociais hoje. Neila Sperotto Cap.I.p65 25/1/2011, 16:258 Teoria e M etodologia do Serviço Social 9 A con stru ção do con h ecim en to Sumário Capítulo I A construção do conhecimento,11 Capítulo II A construção da Ciência Social nos séculos XIX e XX,23 Capítulo III A precursora,41 Capítulo IV O método de caso,57 Capítulo V O método de grupo e de comunidade,69 Capítulo VI A teoria do Serviço Social,79 Capítulo VII Uma concepção teórica da reprodução das relações sociais,95 Capítulo VIII A metodologia dos Serviço Social,105 Cap.I.p65 25/1/2011, 16:259 10 N ei la S pe ro tt o Capítulo IX Ciência e contemporaneidade,125 Capítulo X A construção do conhecimento do Serviço Social na contemporaneidade,133 Cap.I.p65 25/1/2011, 16:2510 Teoria e M etodologia do Serviço Social 11 A con stru ção do con h ecim en to Cap. I A construção do conhecimento 1 Introdução O conhecimento pode ser definido, grosso modo, como a capacidade que o ser humano tem de pensar e compreender a relação existente entre si e o objeto a ser conhecido. Ninguém inicia o ato de conhecer desprovido de instrumentos, pois existem muitas formas de conhecimentos, umas mais elaboradas e complexas, outras menos. O ato de conhecer é simultâneo à transmissão da cultura pela educação social a qual todos somos acolhidos a partir de nossa aparição no mundo. Nossos pais e familiares vão, pouco a pouco, nos introduzindo ao mundo dos conceitos e teorias. Quando nos ensinam, por exemplo, que o fogo queima, aprendemos algo sobre a temperatura, embora ainda não conheçamos as Leis da Termodinâmica e não sabemos o porquê que isso acontece. Da mesma forma quando nos ensinam que caímos quando pulamos da cadeira, utilizam um conceito físico conhecido por Lei da Gravidade. A história tem nos mostrado que, no decorrer dos tempos, a forma como o ser humano entrou em contato com o mundo foi modificando-se, isso nos faz acreditar que a capacidade da razão ou do raciocínio humano se deve às condições de identificar as semelhanças e diferenças existentes nos objetos Cap.I.p65 25/1/2011, 16:2511 12 N ei la S pe ro tt o que o rodeiam. Isso vai possibilitando que novos saberes sejam construídos. 2 A construção do Conhecimento Teórico Em qualquer situação do cotidiano de nossas vidas experimentamos um ato de conhecer que se encontra primeiro no nível da intuição, da experiência vivida. Aqui a intuição está sendo entendida como forma de conhecimento imediato, sem intermediários, e não como popularmente se costuma atribuir o significado: de algo transcendental, mágico. A intuição pode ser de vários tipos: • Intuição sensível – é o conhecimento imediato que nos é fornecido pelos órgãos dos sentidos, é o que nos qualifica para sabermos que faz calor ou frio, para vermos que as folhas das árvores são verdes ou secas, para ouvirmos se uma criança está chorando ou rindo, para sabermos se a água do mar é doce ou salgada, para sentirmos o cheiro das flores, para sentirmos a maciez da pele de um bebê. • Intuição inventiva – é o conhecimento do artista quando, repentinamente, descobre uma nova maneira de fazer o seu trabalho, ou mesmo em sua vida, quando, subitamente, diante de certa situação ou adversidade, encontra uma solução não usual. Existem ainda os inventores que criam novos produtos ou objetos sem possuírem uma formação específica para tal. • Intuiçãointelectual – é a que resulta de uma atitude intencional de capturar a essência de um objeto de investigação ou estudo, do cientista que percorre um caminho metodológico ainda não testado. A intuição é uma forma de conhecer o mundo em que vivemos, mas consideramos que a Razão supera as formas intuitivas que só correspondem às experiências concretas e imediatas que são produzidas pela experiência. Este conhecimento também pode ser chamado de conhecimento Cap.I.p65 25/1/2011, 16:2512 Teoria e M etodologia do Serviço Social 13 A con stru ção do con h ecim en to tácito. Outro tipo é o conhecimento teórico, aquele que é mediato, ou seja, é construído por meio de conceitos. Neste processo, o pensamento ou a razão operam pela articulação de um conjunto de saberes previamente existentes e que, geralmente, são confirmados pelas experiências. O conhecimento racional busca realizar abstrações que permitem ao sujeito afastar-se de sua experiência concreta a fim de capturar a essência do objeto, em uma tentativa de separá-lo da representação deste objeto, pois certamente já temos a imagem do objeto ou uma representação mental sobre o fenômeno. A título de exemplo, podemos lembrar dos primeiro anos de escola, quando aprendemos a realizar adições, subtrações e divisões com enunciados como: João tinha seis maçãs, encontrou sua prima Maria e lhe deu duas maçãs, quando chegou à escola deu uma maçã para a professora de ciências e uma maçã para o professor de futebol, no recreio comeu uma maçã. Quantas maçãs João levou para casa? Note que no inicio tínhamos que ter uma ideia concreta sobre a operação matemática. O enunciado do problema trazia informações concretas de situações vivenciadas por nós no cotidiano. O personagem tinha um nome e a ação ocorria em um local onde concretamente existia a possibilidade da situação ocorrer. Quando ainda não temos consolidado os conceitos que regem as operações matemáticas precisamos de informações e imagens concretas para sermos capazes de materializar a subtração, ao passo que, quando já somos capazes de abstrair, podemos somente considerar a quantidade. Entretanto, ainda assim continuamos com uma representação mental sobre a subtração que foi construída pelo conhecimento racional. Isso possibilita a generalização e a possibilidade de construir uma forma de se comunicar mundialmente. Onde estiver escrito o enunciado: 6-2-1-1-1 = 1 sabemos que João voltou para casa com 1 maçã, sem a necessidade de representá-lo concretamente e pessoalmente. Quanto mais nos dedicamos ao estudo dos conceitos matemáticos, mais somos capazes de realizar operações complexas, como por exemplo, as utilizadas para os cálculos Cap.I.p65 25/1/2011, 16:2513 14 N ei la S pe ro tt o de estruturas realizados na engenharia civil, que possibilitam a construção de edifícios, pontes e viadutos. A capacidade de abstração é o que nos possibilita transformar conhecimentos teóricos em práticas que são construídas a partir de metodologias. No Serviço Social não é diferente da Matemática, pois primeiro devemos apreender conhecimentos ou saberes da realidade social e cultural de cada sociedade, aliado aos conhecimentos de socialização e de relações sociais construídos historicamente pelo ser humano. São saberes científicos advindos de várias ciências que nos possibilitam compreender o homem como um ser biológico e social. O conhecimento científico é passível de abstração e diz se que ele é fruto de uma complexificação da razão. A ciência pretende superar o conhecimento intuitivo, buscando transcender a experiência concreta, para oferecer uma representação do real, que pode ser considerada para fins de transformação da realidade. Este esforço se justifica pela possibilidade de conhecer sem passar pela experiência concreta, não sendo preciso cometer sempre os mesmos erros para acertar, e isso nos possibilita evoluir rapidamente. Imagine se todos ainda precisassem queimar as mãos para saber que o fogo queima. E pensem agora em todas as formas que já foram desenvolvidas para aproveitar a energia do fogo, que no inicio dos tempos servia simplesmente para a preparação de alimentos, passando depois a ser utilizado para a fundição de metais, ainda na pré-história e utilizado também para este fim até a atualidade. Espera-se que este exercício de abstração desperte em você a curiosidade para saber mais sobre a construção do conhecimento e que evidencie a importância do conhecimento científico para a vida cotidiana. Isso porque, como futuro profissional do Serviço Social, o conhecimento científico é fundamental para ajudá-lo a compreender as diversas visões de homem e mundo que se evidenciam na prática profissional junto aos indivíduos, famílias e comunidades. Você vai precisar estudá-los. Sabendo identificar qual é esta visão, saberá com certeza propor uma transformação na realidade social de cada cidadão ou cidadã, que esteja em sintonia com as possibilidades Cap.I.p65 25/1/2011, 16:2514 Teoria e M etodologia do Serviço Social 15 A con stru ção do con h ecim en to de concretização e, ainda, identificar concepções que precisam ser iluminadas e crenças que devem ser desestimuladas, para que o novo possa fazer parte da realidade social vivenciada pela população, trazendo melhorias na qualidade de vida. 3 A Teoria do Conhecimento Para compreender a teoria do conhecimento é necessário que se visite novamente alguns expoentes da filosofia, que é uma disciplina que investiga os problemas que se originam da relação do sujeito com o objeto do conhecimento, ou seja, do homem com o mundo. Conhecer a trajetória histórica do conhecimento científico possibilita a você identificar, na sociedade do século XXI, ainda influências do pensamento e da forma de compreender o mundo dos filósofos da Antiguidade e da Idade Média. Lembre-se de que, como faz parte da sociedade, você possivelmente reproduza ou utiliza bases desse conhecimento no cotidiano. Estas ideias geralmente estão arraigadas nos nossos hábitos, nos clichês, nos preconceitos, nas ideologias. Frases como “pau que nasce torto morre torto”, “mulher deve ficar em casa cuidando dos filhos”, “é um absurdo o casamento de homossexuais”, “só não trabalha quem não quer”, “filho de peixe peixinho é”, “se Deus quiser”, “Deus dá o frio conforme o cobertor”, enfim, estes e muitos outros ditos nos colocam diante da constatação de que o pensamento e a compreensão do mundo em que vivemos ainda estão poluídos pelo pensamento dos séculos passados. Sugerimos o livro “O Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder, pois é uma leitura leve e que retrata com precisão e com exemplos do cotidiano a história da filosofia, dedicando um capítulo para cada grande filósofo da antiguidade. Neste livro o autor inicia discutindo a existência do Jardim do Éden dizendo “... afinal de contas, algum dia alguma coisa tinha de ter surgido do nada”1 onde nos convida a responder perguntas como: 1 GAARDNER, 1995, p. 13. Cap.I.p65 25/1/2011, 16:2515 16 N ei la S pe ro tt o • “Quem é você?” • “De onde vem o mundo?” Esta proposta do autor se deve a sua crença de que “... a única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas...”2 e de que existem questões que interessam a todos os seres humanos independentemente de onde vivem. Esta questão refere-se a que “nós temos a necessidade de descobrir quem somos e por que vivemos”3. Muitas respostas já foram dadas no decorrer da história e estas convivem na sociedade até hoje, dependendo do acesso ao conhecimento e as experiências que cada grupo social teve. Nos primórdios da civilização, as perguntas eram respondidas pelas religiões por meio dos mitos. A filosofia é a forma nova de pensar e compreender o mundo, surgida na Grécia antiga por volta de 600 a.C. Desde então foram formuladas inúmeras respostas e explicações. O conjunto de respostas que damos para estas questões chamamos visão de homem e mundo. Basicamente, as principais diferenças nas respostas filosóficas são as queconstituem as bases de uma teoria e, por conseguinte, norteiam o processo metodológico. Entender como esses aspectos são relevantes para a construção das teorias e metodologias construídas em cada uma das profissões é fundamental, não só para identificá-las, mas principalmente para reconhecermos em nós a necessidade de modificar nossa forma de compreender o mundo, pois a diferença existente entre um profissional técnico e a opinião de um cidadão comum é a capacidade que os técnicos constroem para “enxergar” além das aparências, compreendendo um fenômeno social a partir da abstração do conhecimento científico e sendo capaz de proferir uma explicação diferente das do senso comum. Esta compreensão diferenciada do fato social4, respaldada pela ciência, é o que vai permitir com que seja um Assistente Social. Você mesmo vai poder identificar quando estará se 2 Ibid., p. 22. 3 Ibid., p. 24. 4 Devemos considerar os fatos sociais como “coisas”. Para Durkheim, “coisa” é algo Cap.I.p65 25/1/2011, 16:2516 Teoria e M etodologia do Serviço Social 17 A con stru ção do con h ecim en to tornando um profissional. Este processo só se inicia no momento em que não se contentar em repetir simplesmente o que sempre pensou, no momento em que você começar a questionar as verdades que você cresceu aprendendo, quando suas certezas forem abaladas e você não encontrar no conhecimento do senso comum respostas satisfatórias para a ocorrência dos fatos sociais. Neste momento você estará se tornando um profissional. O processo de questionar a ordem existente, a postura de escutar de forma livre de preconceitos as situações vivenciadas no cotidiano, vão permitir que você, quando for Assistente Social, compreenda o que ocorre com um marido quando este bate em sua esposa. Não para aceitar ou justificar o ato que precisa ser erradicado da nossa sociedade, mas para conseguir identificar formas de proteger essa mulher, responsabilizar esse homem e libertá-los do aprendizado social que receberam e vêm reproduzindo na sociedade, onde a violência de gênero era justificada e aceita. Os Assistentes Sociais precisam compreender a violência doméstica de forma diferente dos vizinhos ou de pessoas da família, pois se continuar acreditando nas explicações do senso comum, que geralmente colocam a mulher que sofre violência como “uma pessoa que gosta de apanhar” ou “que em briga de marido e mulher ninguém bota a colher” – explicações e certezas que certamente já ouviram – que mudança social os profissionais podem promover? Uma compreensão diferente do senso comum para a compreensão da violência doméstica é possibilitada pelo conhecimento teórico produzido pelas ciências sociais que se tem à disposição no processo de formação dos cursos de Serviço Social e ainda na metodologia do trabalho profissional. Este conhecimento nos possibilita promover na prática a transformação desta realidade social, visto que a violência doméstica, por exemplo, não é um problema privado específico de um único lar, mas se constitui como um fato social, pois possui as três características descritas por Émile Sui generes, ou seja, é dotado de uma lógica própria. Precisamos limpar toda a mente de prenoções antes de analisarmos fatos sociais. Essas “noções vulgares” desfiguram o verdadeiro aspecto das coisas e que nós confundimos com as verdadeiras coisas. As prenoções são capazes de dominar o espírito e substituir a realidade. Esquecidas as prenoções devemos analisar os fatos sociais cientificamente (extraido de http://pt.wikipedia.org/wiki/fato social em 02 de janeiro de 2009). Cap.I.p65 25/1/2011, 16:2517 18 N ei la S pe ro tt o Durkheim: • Coercitividade – característica relacionada com a força dos padrões culturais do grupo que os indivíduos integram. Estes padrões culturais são de tal maneira fortes que obrigam os indivíduos a cumpri-los. • Exterioridade – esta característica transmite o fato desses padrões de cultura serem exteriores aos indivíduos, ou seja, ao fato de virem do exterior e de serem independentes das suas consciências. • Generalidade – os fatos sociais existem não para um indivíduo específico, mas para a coletividade. Podemos perceber a generalidade pela propagação das tendências dos grupos pela sociedade. Esperamos que tenha ficado clara a importância de se conhecer a trajetória da construção do conhecimento teórico para que fique mais fácil o entendimento de como a visão de homem e mundo interfere em nossa vida profissional e pessoal, e a importância da ruptura da compreensão de senso comum que temos para incorporar uma postura científica. Você quer ser um Assistente Social? Comece agora mesmo o exercício de encontrar várias explicações para um mesmo fato social e identificar qual é uma concepção de senso comum e uma compreensão teórica deste mesmo fato social. Você vai se surpreender com as descobertas. Marilena Chauí, uma importante filósofa brasileira de nosso tempo, no seu livro “Convite à Filosofia”, em uma linguagem muito clara nos ensina como assumir uma atitude crítica. Convida a questionar as evidências do cotidiano para conseguirmos romper com esta atitude de aceitação passiva diante das crenças e explicações causais lineares. Diz que as perguntas inesperadas oportunizam tomar uma distância de si mesmo e da vida cotidiana para atingir uma atitude filosófica que requer indagar, perguntar, investigar, estudar para compreender. Cap.I.p65 25/1/2011, 16:2518 Teoria e M etodologia do Serviço Social 19 A con stru ção do con h ecim en to As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático. Que significa isso? Significa que a filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas.5 O caminho proposto pela autora para chegar ao pensamento sistemático, onde não existe lugar para o “acho que” ou um “eu gosto de”. O pensamento sistemático que é dotado da postura de incerteza utiliza-se de um método Socrático, onde guia-se pelo princípio da célebre frase: “Sei que nada Sei”, sendo esta, segundo Sócrates, a única verdade filosófica. 5 CHAUÍ, 1994, p.15. Cap.I.p65 25/1/2011, 16:2519 20 N ei la S pe ro tt o Figura 1 – Quadro Resumo de Marilena Chauí Crenças (relações casuais) «» evidências (não são questionadas) Perguntas (inesperadas) «» tomar distância de si mesmo/da vida cotidiana Atitude filosófica (Indagar, perguntar, investigar para compreender) O que? Natureza, significação Como? Estrutura, relações Por que? Origem, causa Atitude crítica pensamento crítico Sócrates: sei que nada sei Platão: admiração Aristóteles: Espanto Perguntamos ao próprio pensamento o pensamento volta para si mesmo Reflexão filosófica Motivação, razões, causas conteúdo, sentido, intensão/finalidade Pensar Dizer Fazer Eu penso que (Eu acho que: opinião, crença) Pensamento sistemático Demonstração, prova racionais (rigor do pensamento) Negativa Dizer Não senso comum preconceito prejuizo Estabelecido Positiva O que são? Coisas, ideias, fatos, situações comportamentos, valores, nós- mesmos » » » » » » » » » Cap.I.p65 25/1/2011, 16:2520 Teoria e M etodologia do Serviço Social 21 A con stru ção do con h ecim en to Uma dica: diante de qualquer fato social que você já possui uma opinião faça sempre as perguntas sugeridas por Marilena Chauí. Observe a sequência do encadeamento lógico, de onde vem e para onde leva o raciocínio. As relações horizontais e verticais nos levam a desenvolver um raciocínio lógico dentro do método científico. 4 Conclusão Neste primeiro capítulo a aproximação com a teoria do conhecimento pretendeu levar ao entendimento de que, mesmo existindo teorias e metodologias, essas não devem simplesmente ser “aplicadas na prática” comocomumente se vê dizer. Um profissional de nível especializado, como o Assistente Social, tem o compromisso social de também produzir conhecimentos a partir da sua intervenção na realidade social, que inicia com o estudo de cada situação que se apresenta no cotidiano do trabalho social. Para tanto, há de se ter em mente que existem teorias nas Ciências Humanas e Sociais que, mesmo tendo sido construídas nos séculos XIX e XX, são ainda fundamentais para iniciar o processo de compreensão da realidade social na qual desenvolve-se o trabalho do Assistente Social, com vistas à consolidação de um conhecimento sistemático. Basicamente, no Serviço Social você encontrará muitas referências às teorias filosóficas e às ciências sociais. Algumas serão destacadas no capítulo seguinte. Cap.I.p65 25/1/2011, 16:2521 22 N ei la S pe ro tt o Cap.I.p65 25/1/2011, 16:2522 Teoria e M etodologia do Serviço Social 23 A con stru ção da C iên cia Social n os sécu los X IX e X X Cap. II A construção da Ciência Social nos séculos XIX e XX 1 Introdução Como já vimos no capítulo anterior, o conhecimento foi sendo produzido ao longo dos séculos, a partir da inserção do ser humano no mundo, e se perpetuou por meio das crenças e processos de socialização nos quais todos somos educados até chegar a um nível de maturidade em que a forma de conhecer transcendeu a experiência e a intuição e elevou-se ao status de ciência, produzindo o que hoje chamamos conhecimento científico ao conjunto de enunciados e teorias que embasam as ações profissionais. Partindo do princípio de que a ciência se constroi a partir da observação do real, os referenciais teóricos contribuem de forma fundamental para a construção das ciências humanas e sociais que, pela observação do contexto sociohistórico do século XIX, clamava por explicações que pudessem dar uma esperança de organização. Este século foi marcado por grandes rupturas e instauração de novos hábitos resultado do processo de industrialização. As instituições sociais tradicionais se encontravam enfraquecidas, havia muitos questionamentos, valores tradicionais eram rompidos, este cenário era frutífero para a emergência de novos conhecimentos científicos e a sociedade estava necessitada destes. Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2023 24 N ei la S pe ro tt o Uma teoria geral possibilita ao profissional parâmetros e métodos eficazes para a observação do real. Assim, o referencial teórico ajuda na codificação do conhecimento concreto existente no real, que pode orientar a formulação de hipóteses gerais para o estudo dos acontecimentos, ideias e situações concretas que se colocam no cotidiano da prática profissional. Isso ajuda a acumular conhecimento sobre os aspectos mais frágeis e fragmentados do fato social estudado, o que dá respaldo para produzir as propostas de transformação da situação e evidencia quais os pontos onde deve ser focado e intensificado o trabalho social. Percebemos que a teoria é um guia para a investigação e estudo nas ciências sociais, é o ponto de partida que facilitará o controle das distorções e interpretações do pesquisador na hora de analisar os dados. A pesquisa só se encaminha de forma científica se possuir um referencial teórico que direcione os seus passos, para que não tome outro caminho e que não cometa vieses no tratamento dos dados que estão sendo coletados e trabalhados. Se, por um lado, as teorias são construídas a partir da observação do real, por outro, o real só é conhecido através do emprego de métodos científicos rigorosos.6 Podemos verificar na história que a preocupação pela sistematização do conhecimento do homem vem desde o princípio, até evoluir para a necessidade de se produzir um conhecimento mais exato, mais fidedigno e livre de vieses. Mas as divergências sobre a origem do homem, sua possibilidade ou não de pensar e raciocinar, fizeram com que o problema por muito tempo fosse visto apenas enquanto constituição do ser, considerado em si mesmo, sem levar em conta o modo pelo qual se manifestava e como se relacionava com os outros. Kant foi o primeiro a limitar-se à observação do comportamento humano, suas relações, concebendo o homem como um ser que dispõe de um aparato mental, que o qualifica como ser consciente. 6 HAGETTE, 1995, p. 12. Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2024 Teoria e M etodologia do Serviço Social 25 A con stru ção da C iên cia Social n os sécu los X IX e X X Mesmo com essas discussões epistemológicas, somente no século XIX, com o positivismo de Comte e o materialismo de Marx, inicia-se a discussão sobre a problemática política que se reflete nas ações dos homens uns sobre os outros. 2 A Concepção Positivista A concepção positivista de Auguste Comte, propositor da Sociologia e o fundador do Positivismo (1789–1857), defendia um modelo único de ciência. O positivismo de Comte propôs refutar a ciência especulativa, a visão evolucionista e linear da história. A filosofia positiva de Comte nega que a explicação dos fenômenos naturais, assim como sociais, provenha de um só princípio. A visão positiva dos fatos abandona a consideração das causas dos fenômenos (Deus ou natureza) e torna-se pesquisa de suas leis, vistas como relações abstratas e constantes entre fenômenos observáveis. No quadro a seguir encontra-se um fragmento do texto apresentado em http:// pt.wikipedia.org sobre August Comte. Sugerimos o acesso ao hipertexto em sua integra. Tendo por método dois critérios, o histórico e o sistemático, outras ciências abstratas antes da Sociologia, segundo Comte, haviam atingido a positividade: a Matemática, Astronomia, a Física, a Química e a Biologia. Assim como nestas ciências, em sua nova ciência chamada de física social e posteriormente Sociologia, Comte usaria da observação, da experimentação, da comparação, da classificação e da filiação histórica como método para a obtenção dos dados reais. Comte afirmou que os fenômenos sociais podem ser percebidos como os outros fenômenos da natureza, ou seja, como obedecendo a leis gerais. Pode-se dizer que o conhecimento positivo tem como fundamento “ver para prever, a fim de prover” – ou seja: conhecer a realidade para saber o que acontecerá a partir de nossas ações, para que o ser humano possa melhorar sua realidade. Dessa forma, a previsão científica caracteriza o pensamento positivo. O espírito positivo, segundo Comte, tem a ciência como investigação do real. No social e no político, o espírito positivo passaria o poder espiritual para o controle Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2025 26 N ei la S pe ro tt o dos “filósofos positivos”, cujo poder é, nos termos comtianos, exclusivamente baseado nas opiniões e no aconselhamento, afastando-se a ação política prática desse poder espiritual – o que afasta o risco de tecnocracia. O seu método em termos gerais caracteriza-se pela observação, mas deve-se perceber que cada ciência, ou melhor, cada fenômeno tem suas particularidades, de modo que o método de observação para cada fenômeno será diferente. Além da realidade, outros princípios caracterizam o Positivismo: o relativismo e o espírito de conjunto (hoje em dia chamado de “holismo”). Na verdade, na obra “Apelo aos conservadores”, Comte apresenta sete definições para o termo “positivo” a saber: real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático. A sociologia de Comte promoveu o destaque para o papel das elites intelectuais, esclarecidas e defendeu a imparcialidade científica, condenando a influência da ideologia política, interferindo na construção da ciência, na busca de construir um método e uma doutrina política capaz de dotar o cientista de uma imparcialidade absoluta. Para evitar as influências da igreja, defendeu a ciência como nova religião. Estes princípios, segundo Comte, proporcionariam: • Exatidão científica x imprecisão filosófica • Fundamentação x especulação • Real x quimérico • Útil x inútil • Verdade x ilusão • Eficaz x diletante • Empírico x abstrato • Objetivo x opinativo Tendo o Positivismo inaugurado o status de Ciência paraas Ciências Humanas e Sociais que até então estavam igualadas as artes, em função de não ter uma metodologia que garantisse o tão exigido rigor científico já conquistado pela ditas ciências exatas, a sociologia moderna foi inaugurada pelo Funcionalismo Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2026 Teoria e M etodologia do Serviço Social 27 A con stru ção da C iên cia Social n os sécu los X IX e X X de Durkheim. Esse foi um dos métodos muito difundidos e utilizados na construção das ciências sociais ao longo destes anos, que seguiu as premissas e doutrinas positivistas, aliados a outros que inauguravam novas concepções e visões de homem e mundo. Acredita-se que o estudo do Funcionalismo, do Estruturalismo e do Marxismo, referenciais teóricos que tem contribuído para a construção das ciências humanas e sociais, nos séculos XIX e XX, se estabelece em condição necessária para verificarmos de que maneira cada um contribuiu e continua contribuindo ainda hoje para a construção da ciência nas áreas Humanas e Sociais e, consequentemente, nas metodologias do Serviço Social. Para tanto, a seguir veremos cada uma delas. 3 O Funcionalismo O funcionalismo tem interesse em verificar e apreender as conexões funcionais. Para verificar estas relações é necessário conhecer o conceito de função e do método de interpretação, ou seja, a análise funcionalista. A evolução do pensamento funcionalista passa por três períodos: organizacionista – da constatação dos conceitos, período das orientações interpretativas e o período da visão crítica e sistematização teórica. 1 – Período organizacionista – é marcado pela transferência da conotação biológica da palavra “função” para o campo da sociologia. O termo função é usado tanto para definir função de nutrição, de relação e de reprodução, quanto para exprimir a relação de correspondência entre estes movimentos e as necessidades do organismo. O sistema não era objeto de muitas preocupações e Spencer definiu a sociedade como uma “entidade, composta de unidades discretas, os indivíduos, mas possuidora de existência regulada”7, concluindo ainda com uma frase que respaldou logicamente toda a sua produção organizacionista “as relações permanentes que existem entre as partes de uma sociedade são análogas às 7 FERNANDES, 1972, p. 188. Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2027 28 N ei la S pe ro tt o relações permanentes que existem entre as partes de um corpo vivo”8. Florestan Fernandes destaca de Spencer cinco itens da teoria das funções: funções sociais, estrutura e função, princípio da integração funcional, princípio da reversibilidade das funções e princípio da vitalidade das funções. • As funções sociais: são predominantemente descritas a partir dos resultados alcançados pelas instituições, grupos e estruturas sociais; • Estrutura e função: são concebidas como parâmetros independentes na dinâmica social; • Princípio da integração funcional: as partes de uma sociedade são unidas por uma relação de dependência tão rigorosa quanto às partes de um corpo vivo; • Princípio da reversibilidade das funções: quando as partes têm poucas diferenças, elas podem desempenhar as funções de outras, entretanto sendo muito diferentes, elas não podem desempenhas as funções de outras; • Princípio da vitalidade das funções: a vitalidade aumenta à medida que as funções se especializam. 2 – Período da construção dos conceitos e das orientações interpretativas – Durkheim é o autor que mais se destaca neste período em função de ter escrito duas obras nas quais crítica a influência organizacionista, no que se refere à definição de função social, pela analogia (organismo e sociedade) sem que ao menos se preocupassem com as suas consequências. As preocupações deste teórico eram com o que ele considerou uma patologia social. Descreveu a sociedade do século XIX como doente de anomia, ou “anomana”. A anomia9 era a grande inimiga da sociedade, algo que devia ser vencido, 8 Ibid., p. 189. 9 A anomia é um estado de falta de objetivos e perda de identidade, provocado pelas Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2028 Teoria e M etodologia do Serviço Social 29 A con stru ção da C iên cia Social n os sécu los X IX e X X e a sociologia, segundo ele, era o meio para isso. O papel do sociólogo seria, portanto, estudar, entender e ajudar a sociedade. No trecho apresentado no quadro a seguir encontra- se um fragmento do texto apresentado em http:// pt.wikipedia.org. Sugere-se o acesso no hipertexto com a entrada “Émile Durkheim”. Na tentativa de “curar” a sociedade da anomia, Durkheim escreve “Da divisão do trabalho social”, onde ele descreve a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica entre os membros da sociedade. A solução estaria em, seguindo o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, se cada membro da sociedade exercer uma função na divisão do trabalho, ele será obrigado por meio de de um sistema de direitos e deveres, e também sentirá a necessidade de se manter coeso e solidário aos outros. O importante para ele é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgânica, interiorizada e não meramente mecânica. Na obra “A Divisão Social do Trabalho”, o autor limitou-se a estabelecer conexões de ordem sociológica, conexões funcionais existentes de fato entre os fenômenos, justificando intensas transformações ocorrentes no mundo social moderno. A partir do surgimento do Capitalismo, e da tomada da Razão, como forma de explicar o mundo, há um brusco rompimento com valores tradicionais, fortemente ligados à concepção religiosa. A Modernidade, com seus intensos processos de mudança, não fornece novos valores que preencham os anteriores demolidos, ocasionando uma espécie de vazio de significado no cotidiano de muitos indivíduos. Há um sentimento de se “estar à deriva”, participando inconscientemente dos processos coletivos/sociais: perda quase total da atuação consciente e da identidade. Este termo foi cunhado por Durkheim em seu livro O Suicídio. Durkheim emprega este termo para mostrar que algo na sociedade não funciona de forma harmônica. Algo desse corpo está funcionando de forma patológica ou “anomicamente”. Em seu famoso estudo sobre o suicídio, Durkheim mostra que os fatores sociais – especialmente da sociedade moderna – exercem profunda influência sobre a vida dos indivíduos com comportamento suicida. Segundo Robert King Merton, anomia significa uma incapacidade de atingir os fins culturais. Para ele, ocorre quando o insucesso em atingir metas culturais, devido à insuficiência dos meios institucionalizados, gera conduta desviante. Seu pensamento popularizou-se em 1949 com seu livro: Estrutura social e Anomia. A teoria da anomia de Merton explica porque os membros das classes menos favorecidas cometem a maioria das infrações penais, explica os crimes de motivação política (terrorismos, saques, ocupações) que decorrem de uma conduta de rebeliões e explica comportamentos como os do alcoolismo e tóxico-dependência (evasão). Obtido em “http://pt.wikipedia.org/wiki/Anomia. Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2029 30 N ei la S pe ro tt o que a escolha do termo função se deu pelo fato de qualquer outro ser inexato ou equívoco. Durkheim apresenta as ideias de que é necessário “determinar se há correspondência entre o fato considerado e as necessidades gerais do organismo social e em que consiste essa correspondência”. Assim “deve ser procurada a função de um fato social na relação que ele mantém com algum fim social”10. Durkheim crítica o período organicista pelo fato de reduzir a análise em termos de função aos seus limites explicativos. A solução encontrada por ele aponta para a realização de pesquisa separada: “quando, pois se pretende explicar um fenômeno social, é preciso pesquisar, separadamente, a causa eficiente que o produz e a função que ele preenche.11 O esforço é reconhecido como o passo decisivo na conceituação sociológica de função social e na fundamentação da interpretaçãofuncionalista dos fenômenos sociais. 3 – Período da visão crítica e de sistematização teórica – este período é muito importante para o amadurecimento do funcionalismo porque é criticado por um dos seus próprios membros. Merton fez a melhor crítica ao funcionalismo. Não necessitamos recorrer a autores marxistas, por exemplo, para identificar lacunas e fragilidades do funcionalismo. O próprio Merton faz isso com conhecimento profundo. A obra de Merton12 é preocupada com a teoria e a pesquisa voltada para a operacionalização. Propõe uma reformulação do funcionalismo apontando os riscos e prejuízos do método. Os problemas do método: • Os vocábulos da análise – categoria função pode ser encontrada com vários conceitos. Esta fragilidade prejudica a pesquisa, uma vez que fica a mercê de diversas concepções do termo (um só termo, diversos conceitos), deixam margem que impedem a lógica do procedimento (um só conceito, diversos 10 Ibid., p. 191. 11 Ibid., p. 193. 12 MERTON, 1968, p. 104. Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2030 Teoria e M etodologia do Serviço Social 31 A con stru ção da C iên cia Social n os sécu los X IX e X X termos). • Os postulados com bases falsas – postulado da unidade funcional, o fato dos pesquisadores trabalharem com sociedades simples, deram muita ênfase à integração, não necessariamente todas as sociedades sejam funcionais. Merton chama a atenção para o fato de nem a biologia ter este tipo de postulado, pois acredita que a função e disfunção convivem, além da possibilidade de existir fatos que não tenham função nenhuma dentro do recorte que se faça. • Postulado do funcionalismo universal – este pressuposto de que função sempre se refere a resultado também está equivocado. • Postulado da indispensabilidade – supõe que existem certas funções que são indispensáveis, dá origem a toda espécie de problemas teóricos. Este postulado inviabiliza todo o processo, além de ser reacionário e conservador. • A análise funcional como ideologia – a questão da análise funcional como elemento conservador, se dá pelo fato de afirmar a invariabilidade entre os interesses. Este “perigo” só ocorre se for estabelecido o postulado da indispensabilidade que Merton também aponta como conservador e reacionário. • A análise funcional como elemento radical – Merton não prega a neutralidade, mas coloca que a análise funcional é neutra no sentido de que ela não vem em nome de (nada). O marxismo sim vem em nome do socialismo. “O fato da análise funcional ser entendida por uns como inerentemente conservadora e por outros como intrinsecamente radical, sugere que a análise funcional pode não implicar em nenhum compromisso ideológico intrínseco, embora, como outras formas de análise sociológica, ela possa estar imbuída de uma extensa variedade de valores ideológicos”.13 • A ideologia e a análise funcional da religião – para Merton é prematuro dizer que a religião garante a apatia do povo, pois o sistema de religião é também revolucionário. As diferenças das crenças fazem com que você perceba que não é possível ter controle, uma vez que possuem diversas diferenças 13 Ibid., p. 106. Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2031 32 N ei la S pe ro tt o entre elas. • Funções manifestas e latentes – o real é pôr si só embaralhado. Podemos ter uma visão equivocada do real, pois mostra em sua aparência as coisas desarrumadas. Note que o funcionalismo não estuda a disfunção ou não função, ele estuda é como funciona. A busca é de como funciona para saber o que tem se mantido para garantir o funcionamento. Preste bastante atenção para não se equivocar na compreensão do pressuposto funcionalista, pois este aceita e tem como pressuposto a existência de funcionalidades e disfincionalidades, mas só se constitui seu objeto de estudo o que é funcionalidade. Isso demonstra uma opção pelo estudo da funcionalidade e não uma “cegueira” do cientista social. A questão que precisa ser colocada no nosso tempo é a determinação e a certeza de que aqueles que não estão “funcionando”, ou aquilo que se mostra disfuncional precisa ser adaptado ao modelo funcional. Isso pode impedir a transformação da realidade social e até mesmo o progresso, destacado como a finalidade da sociedade pelo positivismo. A análise funcional possui muitas possibilidades, uma vez que privilegia o estudo de fenômenos recorrentes: família, escola, organização, enfim, tudo o que vem garantindo a manutenção da sociedade. A expressão “produção social” leva em conta a produção e reprodução, privilegiando a mudança para a continuidade, não permite a mudança revolucionária, usando para explicar a necessidade da mudança para continuidade a expressão “reforma social”. Para fazer uma observação a partir do método funcionalista é necessário seguir alguns passos: • Vínculo claro com o empírico. • Decomposição por intermédio de processo analítico, o contexto empírico em seus aspectos nucleares. Esta decomposição se dá pela necessidade de agrupamentos para possibilitar a construção de instrumentos apropriados para o estudo de cada uma. Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2032 Teoria e M etodologia do Serviço Social 33 A con stru ção da C iên cia Social n os sécu los X IX e X X • Por meio de do desvelamento do como funciona, percebem-se as consequências, pelo processo de interpretação das conclusões alcançadas pelo estudo. • Isto possibilita o planejamento da mudança, pois o planejamento é funcional e a melhor forma de dar continuidade ao fenômeno é fazendo uma mudança planejada. Para tanto é importante estar atento para as funções manifestas e latentes. Segundo Merton14, é necessário que se identifique para o estudo as funções manifestas (evidentes) que se referem às consequências objetivas para uma unidade específica, que contribui para o seu ajustamento ou adaptação, sendo esta intencionada. As funções latentes não são intencionadas, tendo a possibilidade de incluir questões latentes – ideia da contingência, de um imprevisto. Por intermédio das análises interpretativas, o funcionalismo pode ampliar o conhecimento do fenômeno, diminuindo os juízos morais ingênuos, pois eliminar estruturas sociais existentes pura e simplesmente sem a proposição de novas estruturas para substituí-las, é desconsiderar o seu caráter de manutenção da sociedade. Este é o risco que Merton chama a atenção. Procurar a mudança social sem o devido reconhecimento das funções manifestas e latentes desempenhadas pela organização social que está sofrendo a mudança, é contentar- se com o ritual social em vez de lançar mão da engenharia social”.15 Ambos, função social e estrutura social, interagem completando o ciclo de funcionamento do sistema social. Assim não podemos deixar de considerar que um afeta o outro e é afetado por ele, produzindo relações sociais, latentes e contingenciais, que requerem mudanças estruturais. A estrutura afeta a função e a função afeta a estrutura. 14 Ibid., p. 119. 15 Ibid., p. 149. Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2033 34 N ei la S pe ro tt o 4 O Estruturalismo Destaca-se Lévi-Strauss como teórico que colocou o estruturalismo como método, perspectiva, posição ou prisma pelo qual pode ser encarado o social. Para tal: Estruturalismo, estrutura, não é só método, mas visão sociológica, modo de compreender o social, não pelo que apresenta exteriormente, mas pelo que oculta, pelo que não revela, que, entretanto, efetivamente, o acomoda.16 Qualquer estrutura precisa se situar em uma parte profunda da realidade social, pois não está na aparência do fenômeno, está profundamente dada pelo tempo. Coloca estrutura sob dois aspectos: estruturas contingentes (que variam) e invariantes. O homem tem um componente cultural que é contingente, e um natural que é invariante. Biologicamente, homens brasileiros e franceses têm estruturas invariantes, ao passo que os homens franceses são geralmente mais galantes e românticos do que os homens brasileiros. O comportamento amoroso possui uma estrutura contingente. O método estruturalista consiste em encontrar formas invariáveisem conteúdos diferentes. A sociedade não é composta de uma única estrutura, mas se estabelece a partir da interligação de diversas estruturas que a constituem, obedecendo a um complexo de ordens. Assim podemos admitir que o social seja composto por diversas camadas de estruturas. Esse todo social, segundo Lévi-Strauss, é formado por três pilares: parentesco, totenismo e mito. • O parentesco, em sua essência, é o que protege o incesto, logo são invariantes, pois apenas modificam-se as formas de relacionamento familiar, mas a base continua a mesma; • O totenismo capta os signos que os homens usam para se comunicar, captando as formas desta comunicação, que são invariantes; 16 LEVI-STRAUSS, 1972, p. 191. Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2034 Teoria e M etodologia do Serviço Social 35 A con stru ção da C iên cia Social n os sécu los X IX e X X • O mito é o meio de extensão da cultura que é contingente. Levi-Strauss era muito radical. Pelo seu método ficava impossível haver movimento, pois admitia que o código em sua essência seja igual em todos os tempos. Somente após, Levi-Strauss considerou que o movimento social se estrutura, desestrutura e se reestrutura, admitindo- se que na pesquisa é importante o estudo das descontinuidades e das rupturas. É preciso capturar a essência do fenômeno para enxergar sua estrutura, pois a estrutura não é nem uma verdade da “coisa” nem sobre a “coisa”; a estrutura é a “coisa”. Assim podemos dizer que no estruturalismo a estrutura é a essência do fenômeno, aquilo que podemos chamar objeto de estudo. No estruturalismo admite-se que existe uma parte da história que o homem não faz, uma parte que o homem faz, mas não pode se deixar levar pelo roldão, sob pena de não fazer sequer uma parte da história. Isso porque tem que levar em conta que o homem, para fazer história, necessita de sua parte biológica por uma questão de sobrevivência. O enfoque estruturalista tende a captar apenas o fenômeno que é invariante a partir da base das relações sociais. Estas se desencadeiam sempre pelas mesmas bases. O parentesco é uma base invariante, o homem tem características biológicas para relacionar-se sexualmente. O parentesco é uma base cultural, varia enquanto se refere às formas de se estabelecer este parentesco, se monogâmico, poligâmico, matriarcal ou patriarcal. Mas o que é essencialmente invariante é a proteção ao incesto, pois não possuímos repulsa natural para não relacionarmo-nos com parentes, apreendemos culturalmente que este tipo de relacionamento sexual não promove a dinâmica necessária para a perpetuação da sociedade. Esse aspecto da inexistência de uma “repulsa” natural para não nos relacionarmos sexualmente com pessoas de nossa família foi frequentemente tratada na literatura de romances e novelas, que mostravam, por exemplo, os casos de paixão e amor entre irmãos de sangue que, separados na infância e não sabendo da existência deste irmão, ao encontrá-lo na vida adulta acabam por apaixonarem-se. Este é o mote que leva a Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2035 36 N ei la S pe ro tt o necessidade da revelação de um segredo familiar. A concepção de que o incesto é proibido e repulsivo é cultural, aprendido socialmente. Concordamos que a prática do incesto é antissocial e que deve ser erradicada da sociedade, mas estas informações e teorias são muito úteis para compreendermos muitas situações de abuso sexual de crianças e adolescentes por familiares, situações que cada vez mais são objeto de intervenção do Assistente Social. O método estruturalista se constitui na materialização para capturar a teia de relações que se estabelece no social, que se apresenta para sistematizar a sua construção, a partir do modelo que o constitui, como vem se constituindo e como vem se mantendo. Esse processo é que vai nos permitir reconhecer a estrutura, a essência. Essa captura do processo demonstra o constante embate entre o real e o racional, compostos por múltiplas hierarquias. 5 Marxismo O Marxismo surgiu com a sociedade moderna, com a grande indústria e o proletariado fabril. Apresenta-se como a concepção do mundo que exprime este mundo moderno, as suas contradições, os seus problemas, e que propõe, para tais problemas, soluções racionais.17 Segundo Lefebvre, o marxismo é a corrente filosófica mais influente da nossa época, construída a partir da filosofia clássica alemã, a economia política inglesa e o socialismo utópico francês, Marx expôs sua ideia generosa de possibilitar ao homem uma sociedade igualitária. Por meio do pensamento de Hegel, maior influência de Marx, que mesmo criticando seu idealismo, consegue substituí-lo pelo materialismo. Para construir este referencial, Marx apoiou-se em três pilares fundamentais: a práxis, a alienação e o homem novo. A práxis – pressuposto fundamental da concepção marxista do homem, constituído de um conjunto de trocas antropológicas 17 LEFEBVRE, 1974, p. 17. Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2036 Teoria e M etodologia do Serviço Social 37 A con stru ção da C iên cia Social n os sécu los X IX e X X que determina que o sistema de produção produz o homem, e esta se dá pelo trabalho. O homem se realiza transformando as relações sociais e de produção. Alienação – é a segunda categoria básica da antropologia marxista. Segundo Marx o homem, ao longo da história, perdeu sua própria identidade, vítima do processo de produção que era desumano. Em Marx, a alienação de caráter econômico da sociedade capitalista é radical, primordial e fonte de alienação social, política, filosófica e religiosa, que se concretiza em quatro níveis: alienação com respeito ao produto de seu trabalho, ao ser genérico do homem, com respeito à própria atividade e em relação a outro homem. Além de descrever a situação alienada do homem da sociedade capitalista, forneceu as condições de mudança futura para um “homem novo”. Homem novo – para que este homem novo apareça é necessário que se crie a necessidade de uma nova sociedade. Para isso sugere a superação de toda a alienação, da propriedade privada, da divisão do trabalho e a possibilidade de desfrutar um tempo “livre” para espiritualizar-se. Assim, o homem novo é “total”, “pleno”, “universal”, “completo”, “multilateral” e “espiritualmente dotado”. O marxismo promoveu: O encontro da dialética Hegeliana com o real e, consequentemente, com o postulado empirista de que o conhecimento não pode prescindir dos sentidos, distanciando- o do princípio cartesiano das ideias inatas. O materialismo histórico, pedra angular do marxismo, propunha que não é a consciência do homem que determina a sua existência mas, ao contrário, é sua existência social que determina sua consciência”18 O método dialético aborda o real de forma a compreender e apreender a historicidade antropológica do homem, por meio de das suas realizações no campo do trabalho e das relações 18 HAGETTE, 1995, p. 15. Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2037 38 N ei la S pe ro tt o de produção, a partir da luta de classes e da luta dos homens contra a exploração dos sistemas de produção, sobre a venda da força do trabalho, com a proposta de uma “nova sociedade igualitária”. O conteúdo político e humanista da teoria marxista tem atraído os cientistas sociais comprometidos com a justiça e a equidade social, o que tem levado, por vezes, a um viés na coleta de dados do real, pelo apelo intervencionista que este conteúdo político sugere ao pesquisador. Esta teoria, como você poderá perceber nos capítulos subsequentes, tem grande influência na construção teórico-metodologica do Serviço Social pós Movimento de Reconceituação do Serviço Social, que você já estudou nas obras de História do Serviço Social e Introdução ao Serviço Social. No quadro a seguir destacam-se algumas ideias chave para a compreensão. O texto pretende ser de caráter informativo e não explicativo. O marxismo é o conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e sociais elaboradas primariamente por Karl Marx e Friedrich Engels e desenvolvidas mais tarde por outros seguidores.Baseado na concepção materialista e dialética da História interpreta a vida social conforme a dinâmica da base produtiva das sociedades e das lutas de classes daí consequentes. O marxismo compreende o homem como um ser social histórico e que possui a capacidade de trabalhar e desenvolver a produtividade do trabalho, o que diferencia os homens dos animais e possibilita o progresso de sua emancipação da escassez da natureza, o que proporciona o desenvolvimento das potencialidades humanas. A luta comunista se resume à emancipação do proletariado por meio da liberação da classe operária, para que os trabalhadores da cidade e do campo, em aliança política, rompam na raiz a propriedade privada burguesa, transformando a base produtiva no sentido da socialização dos meios de produção, para a realização do trabalho livremente associado – o comunismo –, abolindo as classes sociais existentes e orientando a produção – sob controle social dos próprios produtores – de acordo com os interesses humanos-naturais. Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2038 Teoria e M etodologia do Serviço Social 39 A con stru ção da C iên cia Social n os sécu los X IX e X X Uma classe social é um grupo de pessoas que têm status social similar segundo critérios diversos, especialmente o econômico. Diferencia-se da casta social na medida em que ao membro de uma dada casta normalmente é impossível mudar de status. Segundo a óptica marxista, em praticamente toda sociedade, seja ela pré-capitalista ou caracterizada por um capitalismo desenvolvido, existe a classe dominante, que controla direta ou indiretamente o Estado, e as classes dominadas por aquela, reproduzida inexoravelmente por uma estrutura social implantada pela classe dominante. Segundo a mesma visão de mundo, a história da humanidade é a sucessão das lutas de classes, de forma que sempre que uma classe dominada passa a assumir o papel de classe dominante, surge em seu lugar uma nova classe dominada, e aquela impõe a sua estrutura social mais adequada para a perpetuação da exploração. Luta de classes foi a denominação dada por Karl Marx, ideólogo do comunismo juntamente com Friedrich Engels, para designar o confronto entre o que consideravam os opressores (a burguesia) e os oprimidos (o proletariado), consideradas classes antagônicas e existentes no modo de produção capitalista. A luta de classes se expressa nos terrenos econômico, ideológico e político. 6 Conclusão Neste capítulo, de forma breve você pôde tomar contato com as principais correntes teóricas de influencia social, cada uma a seu tempo desvelou aspectos importantes da construção das relações socias. As Ciências Sociais estão permanentemente em formulações e reformulações teóricas em função da dinâmica de seu objeto de estudo. Para a compreensão do conhecimento produzido na área do Serviço Social, estas correntes teóricas representam a possibilidade de abstração e compreensão racional da realidade social. Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2039 40 N ei la S pe ro tt o Cap.II.p65 25/1/2011, 16:2040 Teoria e M etodologia do Serviço Social 41 A precu rsora Cap. III A precursora 1 Introdução É preciso ter em mente a historicidade e o contexto sócio político de cada período, para evitar o risco de pensar a “evolução” deste conhecimento como algo linear e cronológico. A trajetória percorrida pela profissão em quase um século de sistematização de sua prática profissional é fruto de embates políticos e ideológicos. Pensar a inserção de uma disciplina profissional no seio da sociedade pós-industrial revela a complexidade e os reflexos gerados na sociedade pelas transformações no mundo do trabalho. Na esfera política as guerras mundiais e os conflitos étnicos raciais produziram um contingente de pessoas que necessitavam de assistência. O berço histórico da profissão revela a dificuldade em tornar técnica uma ação que, por milênios, vinha sendo realizada pela ação de benevolência e pela caridade. Aceitar que a providência divina e a compaixão humana não davam mais conta de assistir os necessitados era também um pesadelo, já que isso colocava em questão os valores da caridade difundidos pelo cristianismo. Esta tarefa foi aceita por Mary Richmond, em 1917, que, com sua sistematização fez nascer a profissão de Serviço Social, que estava sendo gerada no inicio do século XX. Estudar os precursores só tem sentido se nossa perspectiva Cap. III.p65 25/1/2011, 16:2141 42 N ei la S pe ro tt o de leitura histórica obedecer a um olhar contextualizado, uma postura crítica diante das determinações e tendo em mente que existe uma limitação espaçotemporal. Nas palavras de Faleiros: Quando se fala de Mary Richmond, por exemplo, ela se situou num contexto liberal e negou uma forma muito mais empiricista que os assistentes sociais desenvolviam, articulou um pensamento, uma crítica àquela outra prática, anterior a ela. A negação de Mary Richmond se dá num confronto com o marxismo, com o debate mais articulado que pode, ao mesmo tempo, destruir alguns aspectos colocados por ela, negar a positividade, reconstruir alguns aspectos que ela reconstruiu, num outro contexto. À medida que há uma negação, há também uma retomada. À medida que estamos com os alunos, na prática, criticando o funcionalismo, que está presente no dia a dia, estimula-se à crítica e desenvolve-se um pensamento teórico.19 Esta proposição revela a necessidade de criticar e contextualizar. Admitindo que as teorias coexistem no contexto histórico social, não podemos pensar que, na atualidade, não existem práticas funcionalistas, elas existem. Nossa tarefa, como pesquisadores e profissionais competentes, é problematizar estas práticas a fim de superá-las. Existem outras perspectivas que dão conta de analisar os primórdios da profissão de Serviço Social sem considerar estes aspectos da história. Esta perspectiva teórica, filiada ao marxismo, considera o surgimento do Serviço Social a partir da divisão sóciotécnica do trabalho, que igualmente está limitada por uma realidade histórica determinada. Nas palavras de José Paulo Neto: Na segunda alternativa – aquela que concebe o Serviço Social como profissão fundada na divisão social do trabalho –, o encaminhamento da relação sistematização (da prática)/teoria é diverso. Aqui, o que se cancela é uma teoria do Serviço Social: interdita-se um saber teórico constituído e construído 19 FALEIROS, 1989, p. 155. Cap. III.p65 25/1/2011, 16:2142 Teoria e M etodologia do Serviço Social 43 A precu rsora pela profissão. O suposto é que o Serviço Social opera com um conjunto de representações teóricas e ideais que extrai das chamadas Ciências Sociais ou da tradição marxista – rearticuladas sincreticamente em função de suas demandas de intervenção. Assim, a sistematização (da prática) mostra- se, de uma parte, como urgência para localizar os seus pontos de estrangulamento, para indicar a necessidade de novos aportes teóricos, para sinalizar a existência de lacunas no acervo de conhecimentos e de técnicas, para sugerir a emergência de fenômenos e processos eventualmente inéditos, isto é, como momento pré-teórico a ser elaborado pelas Ciências Sociais ou pela tradição marxista.20 Não é nosso interesse apontar uma ou outra perspectiva. Acreditamos que você já está incorporando o “espírito” filosófico e está seguindo as pistas oferecidas por Marilena Chauí, no Capítulo 1. Esta atitude certamente irá propiciar a você um caminho, uma escolha teórico-metodológica particular no futuro. Isso posto, apresentaremos, nos próximos capítulos, tanto a análise das teorias e metodologias mais atuais quanto aquelas dos primórdios, alertando-os para o fato de que exigem igualmente uma apreensão crítica e comprometida com princípios ético políticos da profissão. Com este intuito é que vamos estudar, neste capítulo, a metodologia do diagnóstico social, sistematizada por Mary Richmond, a precursora do Serviço Social. 2 Mary Richmond Como você já estudou anteriormente, Mary E. Richmond escreveu o livro intitulado “DiagnósticoSocial” que, segundo a declaração no prefácio, foi resultado da sistematização de 15 anos de anotações e pesquisas feitas com outros trabalhadores sociais, a fim de “transmitir aos novos que viessem a trabalhar em instituições de caridade a explicação dos métodos que nós, os velhos, julgávamos mais úteis”.21 Quando Mary Richmond iniciou as notas ainda não existia 20 NETO, 1989, p. 151. 21 RICHMOND, 1917, p. IV. Cap. III.p65 25/1/2011, 16:2143 44 N ei la S pe ro tt o um curso de formação em Serviço Social, que só foi criado em Nova Yorque, nos Estados Unidos, em 1898, depois de seguidos apelos de Mary Richmond e colaboradoras que já praticavam o Serviço Social, mas “apreendiam fazendo”. Diante da emergência das mazelas de uma sociedade industrializada, crescia o número de pessoas necessitadas de ajuda, não sendo mais possível o auxílio aos pobres ser realizado somente pelos princípios da caridade. A complexidade da questão social exigia um tratamento mais científico e sistemático e Mary Richmond, preocupada com esta necessidade, passou a sistematizar o conhecimento produzido no cotidiano da prática, alimentado pelo conhecimento de outras áreas complementares, como as Ciências Sociais, a Medicina e o Direito. As primeiras escolas estavam ligadas à faculdade de Medicina e destinavam-se ao trabalho de visitação social e a organização dos serviços das agências de caridade. Destacaram-se da obra fragmentos do prefácio escrito por Mary Richmond, em 1917, data de publicação do livro, para você ter uma ideia da motivação da autora. Certamente é recomendada a leitura desta obra, mas infelizmente o livro está esgotado e são poucos os exemplares existentes nas bibliotecas brasileiras, pois a obra só foi editada em língua portuguesa em Lisboa, em 1950, pelo Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge. A Editora Século XXI, de Madri, publicou em 2006 este livro em Castelhano. Certamente é um exemplar digno de uma biblioteca pessoal de um Assistente Social. Prefácio Há 15 anos, comecei a tomar notas, a juntar elementos informativos e a esboçar mesmo certos capítulos de um livro sobre o trabalho social nas famílias. Nele esperava transmitir aos novos que viessem a trabalhar em instituições de caridade a explicação dos métodos que nós os velhos, julgávamos mais úteis. Pareceu-me logo, contudo, que não haveria objetivo ou método que pudesse ser característico e exclusivo desse campo de trabalho, pois que, em última analise, os objetivos e métodos para se solucionaram os casos sociais eram ou Cap. III.p65 25/1/2011, 16:2144 Teoria e M etodologia do Serviço Social 45 A precu rsora deveriam ser os mesmos, qualquer que fosse o tipo de necessidade que havia a atender, quer se tratasse dum paralítico sem casa onde viver, duma criança abandonada por pais alcoólicos ou de uma viúva com filhos pequenos e sem recursos. Para outros profissionais, como os médicos e os advogados, por exemplo, existe sempre uma base de conhecimentos gerais comuns. Se um neurologista e um cirurgião têm de decidir juntos seja o que for sobre determinado caso, um e outro servem-se, alem da experiência adquirida no seu ramo, de certos elementos basilares de ordem técnica que ambos conhecem. Em circunstâncias semelhantes, que noções básicas e comuns haverá que possam orientar às trabalhadoras sociais? Entretanto, havia já que pensar na circunstância de se ter alargado o campo da averiguação das realidades sociais, do diagnóstico social e do respectivo tratamento, tanto no domínio do verdadeiro trabalho social como para conseguir outros que já não eram os da correção de necessitados ou delinquentes, pois seria necessário que o Serviço Social dos casos individuais viesse também a servir de complemento à ação médica, educativa e judicial.22 A obra está imbuída de difundir a necessidade de produzir conhecimentos e métodos mediados pela ciência. A preocupação em sistematizar o conhecimento da prática e colocar a ação do Serviço Social em sintonia com o espírito científico da época revela com precisão a produção de um conhecimento próprio da área, mesmo que ancorado nos saberes de outras áreas como a Medicina e o Direito. O forte apelo do funcionalismo de Durkheim, visto no Capítulo 2, aparece na obra, uma vez que o Diagnóstico destinava-se principalmente para respaldar a eficácia do tratamento social. Lembre que neste momento não devemos “julgar” (atribuir um valor) a pertinência do método funcionalista, mas conhecer, fazer as questões que aprendemos com Marilena Chauí. Assim podemos compreender como a teoria e a 22 Ibid., p. VII. Cap. III.p65 25/1/2011, 16:2145 46 N ei la S pe ro tt o metodologia do Serviço Social foi sendo construída, levando em conta o que Mary Richmond escreveu no inicio dos anos do século XX. Segundo ela, as trabalhadoras sociais nos Estados Unidos: (...) na sua maioria estão ocupadas no Serviço Social dos casos individuais, isto é, em atividades que tem como objetivo imediato a melhoria dos indivíduos ou das famílias, uma a uma, independentemente da sua melhoria coletiva, no conjunto do agregado social. A melhoria do agregado social e a melhoria do indivíduo são, porém, interdependentes e por isso, o trabalho de reforma social e o dos casos individuais devem necessariamente caminhar a par.23 O livro Diagnóstico Social foi dividido em três partes. Sendo apresentados na primeira parte cinco capítulos que tratam do estudo do que Mary Richmond chamou “Realidades Sociais”. A segunda parte foi destinada aos Métodos que Conduzem ao Diagnóstico, com 14 capítulos, e a terceira parte foi intitulada “Modalidades Nos Processos a Seguir”, com nove capítulos, totalizando 455 páginas. Para o Diagnóstico Social devem ser consideradas a natureza das realidades sociais e a utilização do seu conhecimento que possibilita a organização de um plano de tratamento social, esse podendo ser dividido em duas partes: Primeiro a coleta dos dados para averiguar a situação, depois as conclusões que dessa averiguação se podem tirar. A coleta de dados faz-se logo nos primeiros contactos que a trabalhadora social tiver: 1.° – com o interessado ; 2.° – com a família deste; 3º – com outras fontes de informação que não pertençam ao grupo familiar.24 Segundo Mary Richmond, o conhecimento minucioso que envolvem o indivíduo é o que dá sustentação para o bom diagnóstico. As condições existentes para o tratamento também devem ser identificadas para um prognóstico de sucesso. O 23 Ibid., p. 4. 24 Ibid., p. 16. Cap. III.p65 25/1/2011, 16:2146 Teoria e M etodologia do Serviço Social 47 A precu rsora envolvimento da família e de outras agências de assistência, escolas, prontuários médicos, as informações dos patrões e vizinhos constituíam-se em fontes significativas para a análise dos dados. As realidades sociais definidas pela autora revelam: 1° – As realidades sociais podem ser definidas como consistindo em todos os fatos da história pessoal e familiar que, tomados em conjunto, indicam a natureza das dificuldades sociais de um necessitado e dos meios de as remover. 2° – Dependendo como o fato sucede, menos de atos visíveis do que da tendência para um certo procedimento, as realidades sociais comprem-se de uma série de fatos, cada um dos quais podendo ter valor insignificante, mas que, juntos, têm grande valor. 3º – As realidades sociais diferem das legais porque são mais minuciosas e utilizam questionários mais complexos. Por isso exigirão que a segurança dos dados colhidos seja maior. 4° – A utilização da investigação das realidades sociais fora do Serviço Social fez-se necessário para ajudar o diagnóstico médico ou mental nos processos dos tribunais, para certos defensores, para estudar o método a preferir no ensino de certas crianças e para apurar qual a vocação profissional. Quando os testes que garantirão a sua segurança estiverem mais bem formulados e aceitos, mais extensa ainda se tornará a aplicação da investigação das realidades sociais. 5° – O Serviço Social tem por principal finalidade a investigaçãodas realidades sociais, mas com respeito, a avaliação perfeita das noções que a investigação traz tem muito que aprender com a Medicina, o Direito, a História, a Lógica e a Psicologia.25 Diante destes destaques, cabe ressaltar que existem diferentes tipos de realidades sociais, sendo que essas possuem caráter objetivo, testemunhal e circunstancial, e obedecem ao critério dos tribunais, uma vez que o diagnóstico social era 25 Ibid., p. 56. Cap. III.p65 25/1/2011, 16:2147 48 N ei la S pe ro tt o principalmente utilizado para auxiliar em decisões judiciais de proteção das crianças. Aqui as realidades sociais nesta corrente teórica dizem respeito somente às relações diretas como a família e as estabelecidas com algumas instituições. Ela não considera o todo social como elemento significativo. Para Richmond, a realidade objetiva é aquela que se apresenta aos nossos sentidos. A testemunhal é a que se obtém de afirmações de seres humanos; a circunstancial é a que aceita tudo, engloba tudo o que não proveio de afirmações diretas e, sendo verdadeira, estabelece base para deduções. 3 O Método de Diagnóstico Embora se defenda a importância do estudo e do uso de várias fontes de informação sugerindo levar em conta o depoimento de testemunhas, a autora destaca que existem riscos e que são necessários cuidados para não cometer enganos levados por informações inadequadas. A preocupação com os critérios de verdade é característica do tipo de postura. Mesmo na época não existindo um código de ética formal, já poderia ser identificado na obra princípio condutor de posturas éticas e morais. As preocupações com a cientificidade e com a técnica estavam ligadas na possibilidade de construir um corpus de saber que revelasse unidade para o trabalho social. Esta tarefa foi sendo perseguida por um método analítico sustentado pelos critérios da ciência e objetivava reconhecer os elementos presentes no processo que eram gerais e generalizáveis. O método diagnóstico permite que a realidade apresentada pela pessoa seja estudada e verificada. A importância dada à documentação do processo igualmente é notável, a minúcia dos questionários, instrumentos construídos para cada situação de carência apresentada (viuvez, gravidez de solteiras, delinquência, mendicância, incapacidades de trabalho, doença de tuberculose, loucura, feridos de guerra e velhice, cegueira, emigrantes) revelam um conjunto de variáveis sobre as quais estava sustentada a análise constituindo-se no “objeto” definido Cap. III.p65 25/1/2011, 16:2148 Teoria e M etodologia do Serviço Social 49 A precu rsora para o estudo. Documentação que possibilitou a ela a sistematização dos processos, resultando na obra. A orientação fornecida para a realização de um bom diagnóstico evidencia larga experiência, mas também um tratamento analítico do dado. A orientação vem sempre seguida de explicação e da necessidade de planejar o futuro, e evitar os equívocos, postura atribuída ao conhecimento técnico. Como destaque os principais cuidados que a autora revela à trabalhadora social ao elaborar o diagnóstico: O diagnóstico social é a tentativa para conseguir definir o mais exatamente possível a situação social e a personalidade de um certo necessitado. A coleta dos dados de investigação ou das realidades constituem elementos inicias do diagnóstico, fazendo-se a seguir o exame crítico e a comparação das realidades apuradas e, por fim, a sua interpretação, definindo as dificuldades sociais existentes. Para usar uma só palavra que compreenda todos os tempos dessa operação é preferível o termo diagnóstico ao termo investigação, ainda que o diagnóstico seja, na realidade, o que se faz em último lugar. A ideia de “diagnóstico social” inclui a de este ter de se fazer em um tempo limitado (podendo contudo ser revisto em qualquer ocasião e a de que tem em vista sempre uma ação beneficente). A palavra fato não é aqui limitada ao que é tangível. Os pensamentos e acontecimentos também são fatos. A questão de uma coisa ser ou não um fato está antes em se determinar se pode ou não ser afirmada com certeza. As três espécies de realidades são de aplicação geral, podem distinguem-se pelo sentido das deduções que delas se possam fazer. Na realidade objetiva não há dedução a fazer; na testemunhal a base da dedução é uma asserção humana, e na circunstancial pode ser qualquer a base da dedução. Na realidade circunstancial é preciso distinguir cuidadosamente entre quem viu ou ouviu o fato suposto e quem afirma o que outros lhe disseram. Esse último caso é Cap. III.p65 25/1/2011, 16:2149 50 N ei la S pe ro tt o a realidade do diz-se e deve ser ponderada cuidadosamente para o que será preciso uma experiência segura para lidar com testemunhas, a fim de descobrir em toda a extensão possível o fundamento pessoal das asserções que elas fizeram e a parte em que utilizaram afirmações dos outros ou simples boatos. Há ainda a considerar uma diferença importante entre realidade direta e indireta. A realidade circunstancial é sempre indireta e caracterizadamente cumulativa. Na realidade direta, as provas únicas a obter a confiança que mereçam são aplicadas aos elementos que definem o caráter humano, como a honestidade, as tendências, a atenção, a memória, a sugestibilidade (...).26 Desta forma entende-se que o diagnóstico social é composto por fases onde, em um primeiro momento, se coleta os dados e, na sequência, com base nas informações coletadas até o momento, o profissional está apto a fazer algumas deduções. As deduções são orientadas por processos racionais, portanto utilizam um conhecimento previamente construído. Lembre-se de que já estudamos sobre como acontece esse processo nos capítulos iniciais. Agora, os conceitos e saberes filosóficos e a postura crítica, característica fundamental de um Assistente Social, se fazem necessários. Assim, de posse do conjunto de informações e do método analítico-dedutivo, o profissional pode iniciar a sua análise compreensiva do problema social e concluir o diagnóstico social. Para Richmond, uma dedução consiste na possibilidade de passar de fatos conhecidos para fatos que não se conhece até o momento. Para ela, “é um processo de uso do raciocínio que, na sua forma mais comum, se traduz por tirar uma conclusão da relação existente entre os fatos. (...) pode partir de muitos casos particulares para uma regra geral. Assim como de uma regra verificada em fatos novos, aplicando-se a um caso particular”27. Ou seja, do geral para o particular e do particular para o geral, esse é o movimento realizado na síntese do conhecimento científico, conhecido por método indutivo- 26 Ibid., p. p.60. 27 Ibid., p. 55. Cap. III.p65 25/1/2011, 16:2150 Teoria e M etodologia do Serviço Social 51 A precu rsora dedutivo. Uma dedução é o que possibilita a formulação de hipóteses que serão confirmadas ou não ao longo do processo de estudo da situação apresentada. Segundo Mary Richmond “(...) a trabalhadora social hábil formula muitas hipóteses, reservando umas até sua confirmação, aceitando outras”.28 Na segunda parte do livro estão apresentados os métodos que conduzem ao diagnóstico, onde a autora apresenta a sequência de quatro processos que a trabalhadora dos casos individuais emprega no cotidiano, a saber: • Uma primeira e longa entrevista com o necessitado; • Os primeiros contatos com sua família mais chegada; • A busca de cooperação fora da família para que o estudo esteja amplo; • O exame cuidadoso de cada dado obtido e das relações desse com outros para a sua devida interpretação. Com estas considerações a autora propõe utilizar métodos que caracteriza por: • Aproximação; • Indicações a aproveitar e perguntas a fazer; • Apontamentos a tirar; • Conselhos e promessas prematuros; • Condução da entrevista para a intimidade. Com o intuito de explicitar e generalizar estes processos, a autora relacionou condicionamentos de duas ordens. Os relacionados aos interesses da instituição e os relacionados à postura profissional. Estes encontram-se
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