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H.D.B - Jurisdição Portuguesa sobre o Brasil

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História do Direito Brasileiro – DIR107
(Marcos Seixas)
Anotações sobre Jurisdições
Elaborado por Matheus Sampaio
Municípios:
Era uma forma de organização política em Portugal e nas Colônias, presidiam dentro das Capitanias, e estavam sujeitos a autoridade do Capitão Donatário, porém os municípios tinham autonomia em relação a Capitania. Nem toda ocupação urbana, nem toda vila, nem toda cidade, nem todo arraial, que eram aglomerações de pessoas, poderiam ser considerados municípios. A expressão “município” só poderia ser utilizada quando a Coroa expressamente autorizasse a transformação daquele aglomerado urbano em um município.
De modo geral, todos queriam se transformar em um município (quase como se fosse uma meta), pois dessa forma seriam adquiridas inúmeras vantagens, como por exemplo, a possibilidade de criar uma Câmara Municipal ou Câmara de Vereança, essa dava uma certa autonomia política em relação a coroa:
 - Liberdade para tomar decisões de interesse local (urbanização, fiscalização, atendimento de melhorias publicas); 
 - Requerer assuntos do seu interesse a Coroa ou ao Capitão Donatário;
 - Poderia cobrar Tributos para custear o seu funcionamento (redistribuindo os lucros para a Coroa);
 - Seria ela a responsável em nomear as funções públicas daquele município (Almotacem; Juízes Ordinários, Vereadores).
A Coroa ao selecionar uma cidade para torna-la um município, tinha muita cautela em sua escolha, pois o aglomerado urbano escolhido teria que custear o funcionamento da Câmara com os seus próprios recursos, portanto não seria qualquer vila ou cidade que teria capacidade econômica para fazer um ato como esse. Para transformar uma vila em um município, se espedia um documento jurídico chamado de Foral ou Carta de Foral que regulava os direitos e os deveres que aquela cidade ou vila teriam para com a coroa como impostos que deveriam ser transferidos para a coroa; o direito de ter juízes ordinários municipais; direito de instalar órgãos alfandegários, portuários.
Os vereadores (políticos da Câmara de Vereança), eram escolhidos através da Eleição de Pelouros, porém nem todas as pessoas do município poderiam votar, somente os chamados “Homens Bons”: pessoas do sexo masculino; chefes de família; detentores de posse, principalmente latifundiárias; que não tivessem sangue sujo, sangue judeu ou mouro (não poderia ter antepassados em pelo menos 3 gerações).
Estrutura da Justiça em Portugal e nas Colônias
Havia em Portugal e em suas Colônias três jurisdições hierarquicamente superpostas
Jurisdição Municipal:
Essa jurisdição só existia onde houvesse município, caso ainda não houvesse jurisdição municipal em um aglomerado urbano, no local do crime, o processo seria julgado pela jurisdição senhorial. A jurisdição municipal era exercida por duas pessoas selecionadas de dentro da Câmara de Vereança, escolhidas pelos vereadores pra assumir o cargo, que era chamado de Juiz Ordinário, e tinha um mandato de um ano (estes poderiam ser leigos para serem selecionados, ou seja, não precisavam ser letrados, formados em Direito pela Universidade de Coimbra). Por não conhecerem o Direito Romano, os juízes ordinários atuavam apenas em causas de baixa complexidade: na área civil, seriam as causas de baixo valor econômico, como alugueis; ou na área criminal, com os crimes de menor potencial ofensivo, julgando os casos baseando-se nos costumes locais e no seu senso de justiça, fato esse que não agradava a coroa. 
Jurisdição Senhorial:
Jurisdição que está acima da municipal, é atuante em três casos diferentes, sendo estes:
 - Em local onde não tem município, pois não há Câmara Municipal;
 - Quando uma causa for de alta complexidade dentro de um município, como um crime de homicídio, ou crime de moeda falsa, uma disputa da herança da Capitania, etc;
 - Caso houvesse um recurso contra a decisão da justiça municipal.
 
Os Capitães Donatários receberam jurisdição por meio da Carta de Doação para julgar as causas senhoriais, mesmo sendo eles leigos ou não. Contudo os Capitães não exerciam a jurisdição que tinham, pois em suas vidas não sobrava tempo suficiente para executar julgamentos, eles tinham que guerrear contra índios, piratas na costa, coletar tributos para serem enviados para a Coroa, seu tempo era dedicado especialmente para a segurança da Capitania. Sendo assim, as Ordenações Filipinas autorizavam que os Capitães se substituíssem no exercício da jurisdição senhorial, pelos chamados Ouvidores, que diferente dos Juízes Ordinários, não poderiam ser qualquer pessoa. Haviam pré-requisitos solicitados pelas Ordenações Filipinas para uma atuação nesse cargo: A pessoa deveria ser Bacharel em Direito, podendo ser bacharel em Direito Romano ou Canônico; e que permanecesse no cargo por no máximo três anos, pois depois desse tempo deveria ser substituído por outro Ouvidor (existem notícia históricas do descumprimento desses dois pré-requisitos). 
Jurisdição Régia ou da Coroa:
A jurisdição da coroa só poderia ser acessada por meio de um recurso proveniente da jurisdição senhorial, e no Brasil, a jurisdição da coroa era exercida a princípio pelo Ouvidor Geral, que era uma pessoa escolhida pela Coroa e deveria ser Bacharel em Direito. Porém, esse cargo foi extinto pelo Rei Português devido as suas atribuições irrealizáveis, como: Fiscalizar o exercício da justiça no Brasil inteiro, e julgar os recursos judiciais provenientes das decisões dos Ouvidores das Capitanias Hereditárias. 
Com a extinção do Ouvidor Geral, foi criado em Salvador, no ano de 1609, a Relação do Brasil, que era um Tribunal Colonial composto por Desembargadores que tinham as mesmas funções do que antes era a de um Ouvidor Geral (tendo em vista de que esse Tribunal Colonial ainda não se equivale a um Tribunal da atualidade, pois além da função judicial, eles administravam, e acusavam). Por muito tempo esse Tribunal Colonial foi único já criado no Brasil, até 1752, quando foi criada a Relação do Rio de Janeiro, e a Relação do Brasil foi renomeada passando a ser chamada de Relação da Bahia. Tendo agora duas Relações na colônia, os recursos provenientes das Capitanias da metade sul do Brasil iriam para o Rio de Janeiro, e os recursos provenientes da metade norte iriam para Salvador, havendo assim uma divisão de tarefas para a otimização do serviço judiciário.
Mesmo com todas as Relações existentes de Portugal pelo mundo, havia um ultimo Tribunal, que se localizava em Lisboa, e era considerado o mais alto da estrutura judiciaria portuguesa, a Casa de Suplicação. Este era um Tribunal que trabalhava junto à corte portuguesa, e tinha como função ser a ultima instância dos casos da justiça, seus membros nomeados pela Coroa, eram letrados (Bacharéis em Direito) e chamados também de Desembargadores ou Ministros. 
Na teoria, não havia um órgão hierarquicamente superior a Casa de Suplicação no qual pudesse se recorrer, mas na pratica havia a possibilidade, ainda que escassa, de mudar a decisão da Casa da Suplicação, por meio de um apelo direto a pessoa do Rei. Um ato como esse não era comum, até porque não era considerado um recurso, e sim um apelo emocional feito por aqueles que tinham cometido algum tipo de delito e tinham proximidade com a coroa. Essa intervenção direta do Rei no perdão ou no abrandamento de uma decisão da Casa de Suplicação é conhecida como Graça, e mesmo assim, havia um órgão chamado de Desembargo do Paço, que assessorava a Coroa a tomar decisões sobre a concessão ou não da Graça, nos casos em que era solicitado. 
Para além de todas as estruturas judiciarias, a jurisdição da coroa tinha mais um tipo de magistrado, Bacharel em Direito, que não se encontra na hierarquia, ele era conhecido como Juiz de Fora. Estes eram envidados para alguns Municípios, por determinação do Rei, por dois motivos específicos:
Políticos: Quando havia o surgimento de eventuais conflitos deinteresses entre as Câmaras Municipais e a Coroa, o Juiz de Fora era enviado e criava-se assim automaticamente o cargo de Presidente da Câmara Municipal, onde ele teria todas as ferramentas para o controle da Câmara, assegurando os interesses da Coroa.
Jurídicos: Quando havia uma péssima qualidade na tomada de decisões dos Juízes Ordinários por serem leigos, deixando de aplicar a lei, para aplicar costumes ou seu próprio senso de justiça. Sendo assim, a Coroa para evitar problemas, enviava o Juiz de Fora, que passaria a substituir os Juízes Ordinários, ou seja, apesar de ser um magistrado da Coroa, ele passaria a exercer jurisdição municipal.

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