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UNIÃO EUROPEIA

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Direito Internacional Público II 
 
União Europeia 
 
Profª Natalia Cintra 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Deborah Bastos Mothe – DRE nº 115199255 
Ingrid Pires de Moura Eça – DRE nº 11604071 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Setembro – 2017 
UNIÃO EUROPEIA 
O INÍCIO DA COOPERAÇÃO 
A União Europeia foi criada com o objetivo principal de promover a paz, os seus 
valores e o bem-estar dos seus povos (art. 3º, Tratado da União Europeia). 
A movimentação começa em 1950, com a Comunidade Europeia do Carvão e do 
Aço, que reunia econômica e politicamente os países europeus, o pensamento era de que 
se os países tivessem relações comerciais entre si e se tornassem economicamente 
dependentes, isto reduziria o risco de conflitos. 
Destaca-se das tradicionais associações, pois reúne países que renunciaram a uma 
parte da respectiva soberania em favor da União Europeia, conferindo a esta poderes 
próprios e independentes dos Estados-membros. O que começou como uma simples união 
econômica, evoluiu e hoje abarca temas que vão desde o clima até a justiça e migração. 
Tais poderes conferem à União Europeia competência para promulgar atos europeus 
de efeito equivalente aos nacionais. 
 
LINHA DO TEMPO 
- Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) – 1950/1951 
- Comunidade Econômica Europeia (CEE) – Mercado Comum – 1957/1958 
- Comunidade Europeia da Energia Atômica (CEEA ou Euratom) – 1957/1958 
- União Europeia (Tratado de Maastricht) – 1992 
 
FUNDADORES E PAÍSES MEMBROS 
Os seis países fundadores são a Alemanha, a Bélgica, a França, a Itália, 
Luxemburgo e os Países Baixos. 
Atualmente, a União Europeia conta com 28 membros. São eles: Alemanha, Hungria, 
Áustria, Irlanda, Bélgica, Itália, Bulgária, Letónia, Chipre, Lituânia, Croácia, Luxemburgo, 
Dinamarca, Malta, Eslováquia, Países Baixos, Eslovénia, Polónia, Espanha, Portugal, 
Estónia, Reino Unido, Finlândia, República Checa, França, Roménia, Grécia e Suécia. 
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
A construção de uma Europa mais unida está diretamente ligada aos princípios 
fundamentais a que os Estados Membros reconhecem estar vinculados e obrigados. Entre 
tais valores, podemos listar: a garantia de uma paz duradoura, a unidade, a igualdade, a 
liberdade, a solidariedade e a segurança. 
E dentre estes citados, podemos destacar como o mais importante a manutenção da 
paz duradoura, devido as duas guerras vividas pelos países europeus, que devastaram seus 
territórios. A criação da União Europeia conseguiu coibir qualquer possibilidade de guerra 
entre os Estados-membros. 
A paz, a igualdade e unidade resultam em uma maior liberdade. No caso da União 
Europeia: liberdade de circulação de trabalhadores, liberdade de estabelecimento, liberdade 
de prestação de serviços, liberdade de circulação de mercadorias e liberdade de circulação 
de capitais. 
A solidariedade é o elemento corretivo da liberdade: para que uma ordem 
comunitária dure, há de se reconhecer a solidariedade entre seus membros como princípio 
fundamental e repartir de forma igualitária e equitativa as vantagens e os custos. 
E para que todos esses valores sejam protegidos, é necessário que se tenha 
segurança. 
 
A CONSTITUIÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA 
A constituição da União Europeia resulta da soma de normas e valores fundamentais 
que os responsáveis encaram como vinculativos; normas estas que resultam dos próprios 
tratados europeus e dos atos jurídicos aprovados pelas instituições da União de usos e 
costumes consagrados1. 
 
NATUREZA JURÍDICA 
a. Estrutura institucional: as decisões da União Europeia são marcadas 
e influenciadas pelo interesse geral da Europa; 
 
1 BORCHARDT, Klaus-Dieter. O ABC DO DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA. Luxemburgo: Serviço das 
Publicações da União Europeia, 2011, página 32. 
b. Transferência de competência: há transferência de competências 
para as instituições da União Europeia e abrange domínios nos quais os Estados-
membros conservam sua soberania; 
c. Criação de uma ordem jurídica própria (independente da dos 
Estados-membros); 
d. Aplicabilidade direta do direito da União Europeia: as regras do 
direito da União Europeia devem ter efeito de forma plena em todos os Estados-
membros. Tais disposições são fonte de direitos e de obrigações; 
e. Primado do direito da União Europeia: impede qualquer revogação 
ou alteração da legislação da União pelo direito nacional e garante a primazia do 
direito comunitário em caso de conflito deste com o direito nacional dos Estados-
membros. 
A União Europeia é uma entidade autônoma, dotada de direitos soberanos e de uma 
ordem jurídica independente dos Estados-membros. 
O único ponto em comum entre as demais organizações internacionais e a União 
Europeia reside no fato de que todas nasceram de um tratado internacional. Além disso, as 
tarefas desempenhadas pela União Europeia são bastante distintas das confiadas às 
demais organizações internacionais, que assumem missões de caráter técnico, executadas 
por uma instituição internacional, enquanto a União Europeia tem suas atividades ligadas a 
aspectos essenciais para a existência dos Estados. 
 
PODERES DA UNIÃO EUROPEIA 
Os tratados fundadores da União Europeia não concedem às instituições da União 
qualquer competência geral para adotarem todas as medidas necessárias à concretização 
dos objetivos do Tratado2. 
A extensão dos poderes varia de acordo com as atribuições da União Europeia. As 
competências continuam a pertencer exclusivamente aos Estados-membros, desde que não 
tenham sido transferidas para a União. 
A delimitação das competências é feita da seguinte forma: 
1. Competência exclusiva da União (art. 3º, TFUE3); 
 
2 BORCHARDT, Klaus-Dieter. O ABC DO DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA. Luxemburgo: Serviço das 
Publicações da União Europeia, 2011, página 42. 
3 TFUE – Tratado Fundador da União Europeia. 
2. Competência partilhada entre a União e os Estados-membros (art. 4º, 
TFUE); 
3. Competências de apoio (art. 6º, TFUE). 
 
INSTITUIÇÕES DA UNIÃO EUROPEIA (art. 13º, Tratado da União Europeia) 
As instituições da União Europeia são: 
1. o Parlamento Europeu; 
2. o Conselho Europeu; 
3. o Conselho; 
4. a Comissão Europeia (adiante designada «Comissão»); 
5. l Tribunal de Justiça da União Europeia (garante que a legislação da 
UE é interpretada e aplicada de forma idêntica em todos os Estados-Membros e 
também pode decidir sobre litígios que envolvam países, instituições, empresas ou 
particulares da União); 
6. o Banco Central Europeu (responsável pela política econômica da 
zona do euro); 
7. o Tribunal de Contas (verifica a boa execução do orçamento da 
União). 
A União Europeia possui um sistema institucional que lhe permite alçar novas metas 
e também desenvolver normas jurídicas vinculativas para todos os Estados-membros. 
Dessas instituições, três são responsáveis pela definição das políticas e pela tomada 
de decisões na União Europeia. São elas: 
1. Parlamento Europeu (art. 14º, Tratado da União Europeia) 
O parlamento representa o povo dos Estados-membros, constituintes da União 
Europeia. O limite mínimo é de seis lugares e o máximo é de noventa e seis. 
Os deputados são eleitos pelos Estados-membros por sufrágio universal direto a 
cada cinco anos. Isto favoreceu a existência de um parlamento com maior legitimidade e 
representatividade, bem como uma maior fiscalização de sua atuação. 
O Parlamento possui amplos poderes na designação da Comissão Europeia, 
poderes estes que vão desde a escolha do presidente da Comissão até a aprovação pelo 
Parlamentode todo o elenco da Comissão, podendo até mesmo demiti-la através de uma 
moção de censura. 
Além disso, o Parlamento possui forte atuação no processo legislativo europeu, 
podendo apresentar alterações aos atos jurídicos e impô-las ao Conselho da União 
Europeia, respeitando certos limites. Sua principal função é aprovar ou rejeitar, junto ao 
Conselho da União Europeia, os projetos de legislação adotados pela Comissão. 
O Parlamento também deve autorizar o quadro financeiro plurianual e participar no 
quadro de despesas, orçamento este elaborado pelo Conselho baseado em projeto da 
Comissão. 
O Parlamento possui ainda direito de emissão de parecer favorável em acordos 
internacionais importantes e também funções de supervisão (a Comissão deve se justificar 
para o Parlamento). 
Com a crescente importância do Parlamento, os requisitos para tomadas de decisões 
estão se tornando cada vez mais rígidos. Para que suas decisões sejam válidas é 
necessária a maioria absoluta dos votos expressos. 
2. Conselho Europeu e Conselho da União Europeia (arts. 15º e 16º, 
Tratado da União Europeia) 
A função do Conselho Europeu é estabelecer as diretrizes políticas gerais para a 
atuação da União. Para tal, aprova decisões políticas de fundo e formula diretrizes e 
recomendações relacionadas com o trabalho do Conselho ou da Comissão. 
Este é composto pelos Chefes de Estado e Governo dos países-membros da União 
se reúnem, pelo menos, quatro vezes ao ano. O objetivo de tais reuniões é definir as 
prioridades políticas da União Europeia e dar o impulso necessário a sua concretização. 
Normalmente, as decisões são tomadas por consenso. 
Já no Conselho da União Europeia estão representados os governos dos Estados-
membros. Todos eles enviam um representante. Reúnem-se de forma várias vezes por mês, 
mas isso não ocorre de forma obrigatória. 
A tarefa mais importante é a de elaboração de legislação, que é exercido em 
conjunto com o Parlamento. Além disso, é o responsável pelo estabelecimento de acordos 
entre a União e países terceiros ou organizações internacionais. 
No mais, faz parte das atribuições do Conselho nomear os membros do Tribunal de 
Contas, do Comitê Econômico e Social Europeu e do Comitê das Regiões4. 
A maioria das decisões é tomada por maioria qualificada, embora existam algumas 
questões que exijam unanimidade. Cada membro do Conselho tem direito a um voto. Para 
que seja aplicado o “mecanismo de bloqueio” a alguma decisão, é necessário que haja uma 
minoria de pelo menos 55% da população ou dos Estados-membros. Tal mecanismo pode 
ser revertido pelo Conselho por meio de uma votação com maioria simples, mas existe um 
protocolo que determina que, para tal, terão de ser realizadas consultas no Conselho 
Europeu que só poderão levar à uma decisão caso se tenha unanimidade. 
3. Comissão Europeia (art. 17º, Tratado da União Europeia) 
É composta por comissários, atualmente, um por país e devem ser confirmados 
pelo Parlamento, conforme abordado anteriormente. 
A Comissão encabeça toda ação da União, já que é sua competência apresentar 
ao Conselho da União Europeia propostas legislativas. 
Possui poderes legislativos delegados pelo Conselho e pelo Parlamento para 
executar as medidas por eles deliberadas. 
Também é tida como a “guardiã do direito da União”, pois vela pelo respeito e 
aplicação pelos Estados-membros deste. Logo, também é representante dos interesses 
da União, não podendo representar nenhum outro, devendo lutar sempre pela 
prevalência deste. Representa a União frente às demais organizações internacionais. 
A Comissão também possui um papel executivo limitado, podendo analisar fatos, 
conceder autorizações, formular proibições e, se for o caso, aplicar sanções. 
- Elaboração da legislação da União Europeia 
A Comissão avalia potenciais consequências econômicas, sociais e ambientais 
de suas possíveis propostas, através de uma avaliação de impacto, mensurando as 
vantagens e desvantagens de suas estratégias. 
Há uma consulta às partes interessadas na iniciativa e pareceres de grupos de 
peritos sobre questões técnicas, essa postura facilita que as propostas sejam 
 
4 O Comitê Econômico e Social Europeu e o Comité das Regiões são organismos consultivos que representam 
os empregadores, os sindicatos, a sociedade civil e as administrações locais e regionais. 
consoantes às necessidades das partes. Qualquer cidadão, empresa ou organização 
pode participar no processo de consulta pela Internet. 
 
FONTES DO DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA 
1. Direito primário – Tratados originários da União Europeia. 
2. Acordos internacionais; 
3. Direito Derivado 
3.1. Atos jurídicos com aspecto legislativo (regulamentos, diretivas 
e decisões); 
3.2. Atos jurídicos sem aspecto legislativo (atos jurídicos delegados 
e atos jurídicos de execução); 
3.3. Outros atos jurídicos (recomendações e pareceres, acordos 
interinstitucionais, resoluções, declarações e programas de ação). 
4. Princípios Gerais do Direito; 
5. Acordos entre os Estados-membros (decisões Coreper e acordos 
internacionais). 
 
RESPONSABILIZAÇÃO DOS ESTADOS POR VIOLAÇÃO DO DIREITO DA UNIÃO 
Conforme referiu o Tribunal de Justiça, o direito à reparação dos danos “constitui o 
corolário necessário do efeito direto das disposições comunitárias, cuja violação está na 
origem do prejuízo causado”, reforçando consideravelmente as possibilidades de que os 
particulares dispõem para obrigar as autoridades nacionais (executivas, legislativas e 
judiciais) a respeitar e aplicar a legislação da União Europeia5. 
 
A AUTONOMIA DA ORDEM JURÍDICA DA UNIÃO EUROPEIA E O CONFLITO 
COM O DIREITO NACIONAL DOS ESTADOS-MEMBROS 
Os Estados-membros, ao instituírem a União Europeia, limitaram os seus poderes 
legislativos soberanos e criam uma ordem jurídica independente que os vincula, bem como 
a seus nacionais e que deve ser usada em seus órgãos jurisdicionais. 
 
5 BORCHARDT, Klaus-Dieter. O ABC DO DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA. Luxemburgo: Serviço das 
Publicações da União Europeia, 2011, página 120. 
Tal autonomia tem significado fundamental, pois é a única garantia de que o direito 
da União não será preterido pelo direito nacional e de que poderá ser aplicado igualmente 
em todos os Estados-membros. 
O direito da União e o direito nacional tem uma relação de complementação mútua, o 
que pode ser entendido do art. 4º, número 3, do Tratado da União. É necessário que haja 
cooperação, pois a ordem jurídica União não pode sozinha realizar todos os objetivos 
pretendidos pela sua função. Há de se ter parceira e solidariedade. Logo, as autoridades 
nacionais devem além de respeitar os tratados da União e suas respectivas normas de 
execução emanadas das instituições da União Europeia, como também aplicá-las em seu 
dia-a-dia. 
E como proceder quando uma disposição do direito da União, que estabeleça direitos 
e obrigações aos cidadãos da União, for incompatível com uma norma de direito nacional? 
Tal conflito apenas se resolve se uma das duas ordens jurídicas prevalecer sobre a outra. 
Neste caso, só será resolvido na medida em que seja dado ao direito da União o primado 
sobre o direito nacional e, desta forma, todas as disposições nacionais que colidirem com 
uma disposição da União Europeia sejam preteridas em favor desta. 
 
INSTRUMENTOS DE AÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA 
Os instrumentos de ação da UE encontram-se dispostos no artigo 288º do Tratado 
sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE), que versa sobre os regulamentos, 
diretivas, decisões, recomendações e pareceres que as instituições da União Europeiapodem adotar. Ainda neste artigo, se estabelece a forma em que cada um desses 
instrumentos de ação irão ser efetivados. 
1. Regulamentos 
Os regulamentos são os atos jurídicos vinculativos, que permitem que a União 
Europeia interfira de forma mais incisiva nas ordens jurídicas dos seus Estados-membros. 
Tem como características, além da sua forma vinculativa, o caráter geral, ou seja, a 
aplicabilidade de forma geral, englobando todos os Estados-membros, assim como seus 
particulares e instituições, e a sua aplicabilidade direta, que significa que os regulamentos 
não necessitam de normas específicas dos direitos nacionais para ter a sua efetiva 
aplicação. 
O objetivo do regulamento é garantir a aplicação uniforme do direito da União em 
todos os seus Estados-membros, tornando inaplicáveis quaisquer normas nacionais que vão 
de encontro com o disposto no regulamento. 
2. Diretivas 
Ao contrário do regulamento, a diretiva tem como objetivo conciliar a unidade do 
direito da União com a manutenção das particularidades dos direitos nacionais. E para isso, 
ela vincula os Estados-membros destinatários, podendo ser um ou mais, a alcançar o 
resultado fim proposto por ela, mas deixa que o destinatário decida qual meio irá empregar 
para tal. 
Por conta disso, as diretivas não tem aplicabilidade imediata, substituindo as normas 
do direito nacional. Os Estados-membros têm a obrigação de transpor ou adotar uma 
medida de execução para aplicar a norma ao direito nacional, o que se dá através 
procedimento composto por duas fases: 
a. Primeira fase - nível da União Europeia: A diretiva estabelece o 
objetivo a ser alcançado pelo Estado-membro e estipula um prazo para tal. 
b. Segunda fase - nível nacional: A realização, de fato, do objetivo 
estabelecido pela diretiva pelo direito nacional de cada Estado-membro. 
Embora as diretivas não sejam diretamente aplicáveis, o Tribunal de Justiça da UE 
tem determinado, através de sua jurisprudência, que algumas disposições podem produzir 
efeitos direitos em um Estado-membro, mesmo sem terem sido transpostas para o direito 
nacional. Isso se dá em caráter excepcional, nas ocasiões a seguir: 
a. Quando a transposição não tenha sido efetuada no prazo; 
b. Quando as disposições da diretiva são imperativas, clara e precisas; 
c. Quando as disposições da diretiva conferem direitos aos particulares. 
Isso se dá para proteger os cidadãos europeus de um comportamento abusivo e 
contrário pelos Estados-membros ao aplicar a legislação anterior a diretiva. Além disso, a 
não transposição de uma diretiva significa uma violação do direito comunitário. Sendo 
assim, a aplicação direta é uma forma de sanção ao Estado-membro. 
É importante salientar que essa forma direta de aplicação até hoje só foi aplicada em 
processos entre cidadãos e Estados-membros, e só quando beneficia o cidadão. Isso é 
chamado de efeito direto vertical. No entanto, um particular não pode invocar essa 
jurisprudência contra outro particular, o chamado efeito direto horizontal, pois esse efeito 
direto tem um caráter de sanção, como já mencionado, e só pode ser aplicado em face de 
um Estado-membro, que é o responsável pela transposição. Sendo assim, um cidadão não 
pode ser responsabilizado pela não transposição ou não aplicação de uma diretiva por parte 
do Estado-membro. 
3. Decisões 
A decisão é o instrumento pelo qual a União regula situações concretas. Através 
deste ato, as instituições da União podem exigir a um Estado-membro ou cidadão um certo 
tipo de comportamento frente a uma situação concreta. Tem como características: 
a. Aplicabilidade individual; 
b. Vinculativa; 
c. Aplicabilidade direta. 
 
4. Recomendações e pareceres 
É um pronunciamento da União, de forma não vinculativa, que pode, no caso das 
recomendações, sugerir uma forma de comportamento, conforme o artigo abaixo. 
Artigo 117º 
 1. Quando houver motivo para recear que a adoção ou alteração de uma disposição 
legislativa, regulamentar ou administrativa possa provocar uma distorção, na aceção do artigo 
anterior, o Estado-Membro que pretenda tomar essa medida consultará a Comissão. Após ter 
consultado os Estados-Membros, a Comissão recomendará aos Estados interessados as medidas 
adequadas, tendentes a evitar a distorção em causa. 
Quanto aos pareceres, são emitidos pelas instituições da União para apreciar uma 
situação. Podem criar condições prévias para posterior formulação de atos jurídicos 
vinculativos. Sua forma de proposição está presente nos artigos 258º e 259º do Tratado 
sobre o Funcionamento da União Europeia. 
 
 
 
O PROCESSO LEGISLATIVO NA UNIÃO EUROPEIA 
O processo legislativo na UE é um processo legislativo ordinário (Tratado de Lisboa), 
que consiste num processo de co-decisão desde 1992, onde é adotada uma forma 
democrática de se legislar, através partilha do poder legislativo pelo Parlamento e o 
Conselho. O processo é composto por diversas fases e tem como base jurídica os artigos 
289º e 294º do TFUE. 
Artigo 289º 
1. O processo legislativo ordinário consiste na adoção de um regulamento, de uma diretiva ou 
de uma decisão conjuntamente pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho, sob proposta da 
Comissão. Este processo é definido no artigo 294º. 
1. Proposta legislativa 
A Comissão Europeia é a única a possuir o direito de iniciativa legislativa, e pode 
apresentar propostas por sua iniciativa, a pedido de outras instituições da UE ou na 
sequência de iniciativa de cidadania 
Por conta disto, nesta primeira fase, a Comissão elabora uma proposta e envia 
simultaneamente para o Parlamento e o Conselho Europeu. Em alguns casos, envia 
também ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões para que emitam 
pareceres. 
2. Primeira leitura 
Nesta segunda fase, ocorre a leitura da proposta no Parlamento Europeu e é emitido 
um parecer que pode adotar a proposta ou introduzir alterações. Então, o Parlamento 
transmite a sua posição ao Conselho que pode aprovar, fazendo com que o ato legislativo 
seja adotado, ou alterar essa posição, fazendo com que a proposta retorne ao Parlamento 
para uma segunda leitura. É importante apontar que nessa segunda fase não há prazo para 
a leitura no Parlamento e no Conselho. 
3. Segunda leitura 
O Parlamento examina a proposta enviada pelo Conselho no prazo de três meses, e 
tem três possibilidades para agir: 
a. Pode aprovar, fazendo com que o ato seja adotado; 
b. Rejeitar por maioria dos seus membros, e assim o ato não entrará em 
vigor e o processo irá terminar; 
c. Propor alterações e reenviar a proposta ao Conselho para segunda 
leitura. 
O Conselho irá deliberar, nessa segunda leitura, sobre as alterações propostas pelo 
Parlamento e tem duas possibilidades de ação, num prazo de três meses: 
a. Aprovar todas as alterações apresentadas. Para que o ato seja 
adotado, é preciso que uma maioria qualificada vote por aprovar as alterações do 
PE sobre as quais a Comissão tenha dado parecer positivo. E para aprovar as 
alterações em que a Comissão tenha dado parecer negativo será preciso votar 
por unanimidade do Conselho; 
b. Não aprova todas as alterações e convoca o Comité de Conciliação. 
 
4. Processo de Conciliação 
O Comité de Conciliação é composto por vinte e sete representantes do Conselho e 
vinte e sete do Parlamento Europeu. É convocado para que se chegue a um acordo comum, 
por maioria qualificada e no prazo de seis semanas, de acordo com as posições adotadas 
na segunda leitura. 
Alcançando um projeto comum, o Comité irá transmitir ao Parlamento e Conselho 
para que haja uma terceira leitura. Caso o Comité não seja capaz de aprovar um projeto 
comum no prazo supracitadoo ato legislativo não será adotado, terminando o processo. 
5. Terceira leitura 
A partir da aprovação de um projeto comum pelo Comité, tanto o Parlamento quando 
o Conselho tem um prazo de seis semanas para examinar o projeto, podendo: 
a. Aprovar por maioria dos votos (Parlamento) ou maioria qualificada 
(Conselho), e o ato legislativo é adotado; 
b. Rejeitar, fazendo com que a proposta não seja adotada e o processo 
legislativo termine. 
Caso o processo seja rejeitado em qualquer uma das etapas irá, necessariamente, 
ocasionar o término do processo, e só poderá ser iniciado novamente através de uma nova 
proposta da Comissão. 
SISTEMA DE PROTEÇÃO JURÍDICA DA UNIÃO EUROPEIA 
O sistema de proteção jurídica da União Europeia tem como objetivo ser uma forma 
de proteção aos sujeitos de direito comunitário, ao colocar a disposição destes mecanismos 
para buscar a efetivação e aplicação legal de seus direitos. Dentre esses mecanismos 
temos a ação por incumprimento dos tratados, recurso de anulação e ação de indenização. 
1. Ação por incumprimento dos tratados 
Presente nos artigos 258º e 260º do TFUE, é um mecanismo aplicado 
exclusivamente pelo Tribunal de Justiça da União. É aplicado sempre que é considerado 
que um Estado-Membro não cumpriu as obrigações que lhe foram incumbidas por um 
tratado proposto pela União Europeia, seja uma violação desse direito de forma positiva, ou 
seja, por uma ação, ou de forma negativa, por uma omissão ou abstenção de agir. 
Pode se dar por iniciativa da Comissão Europeia agindo por conta própria ou por 
conta de queixa de um Estado-Membro ou até mesmo de cidadãos. 
Numa primeira fase, é enviado uma notificação dando a oportunidade ao Estado-
Membro de apresentar observações sobre as acusações. Isso se dá para preservar a 
integridade do Estado-Membro visto que é uma acusação grave. Com isso, o Estado-
Membro repõe a legalidade da situação, tomando as medidas necessárias para tal num 
tempo adequado. Caso isso não seja feito, a Comissão encaminha o Estado-Membro para o 
Tribunal. 
O Tribunal de Justiça determina se houve o incumprimento de fato do tratado, 
através de um acórdão de natureza declarativa e força obrigatória. Caso se verifique o 
incumprimento de fato do tratado, o Estado-Membro fica obrigado a recuperar a estabilidade 
legal do tratado, e caso isso não seja feito o Tratado da União Europeia prevê a 
possibilidade de o Tribunal de Justiça condenar o Estado-Membro ao pagamento de uma 
quantia fixa ou progressiva como forma de sanção pecuniária, prevista no artigo 260º do 
TFUE. 
2. Recurso de Anulação 
O recurso de anulação permite a anulação de atos jurídicos praticados pelas 
instituições da União Europeia, com o intuito de fornecer um controle judicial desses atos. 
Tem base legal no artigo 263º do TFUE, onde está previsto que este tipo de recurso pode 
ser interposto pelos Estados-Membros, Parlamento Europeu, Conselho, Comissão, Tribunal 
de Contas, Banco Central Europeu e o Comité das Regiões. Ainda, prevê que qualquer 
cidadão ou empresas da União possam interpor recurso, porém somente contra decisões de 
que sejam destinatários ou de que lhe seja atingida diretamente. 
O referido artigo estipula por quais fundamentos se pode interpor recurso de 
anulação, como é explicitado no trecho abaixo. 
“Para o efeito, o Tribunal é competente para conhecer dos recursos com fundamento 
em incompetência, violação de formalidades essenciais, violação dos Tratados ou de 
qualquer norma jurídica relativa à sua aplicação, ou em desvio de poder, interpostos por um 
Estado-Membro, pelo Parlamento Europeu, pelo Conselho ou pela Comissão.” 
Caso seja verificado no recurso a presença de um dos fundamentos citados, o 
Tribunal terá o poder de anular, com efeitos retroativos, o ato praticado. 
3. Ação de Indenização 
 
Artigo 268º 
O Tribunal de Justiça da União Europeia é competente para conhecer dos litígios relativos à 
reparação dos danos referidos nos segundo e terceiro parágrafos do artigo 240º. 
 
Trata-se de um recurso em que possibilita os cidadãos, empresas e Estados-
Membros que tenham sofrido algum dano causados pelas instituições da UE ou seus 
agentes a obter o ressarcimento deste, recorrendo ao Tribunal de Justiça para tal, como é 
possível verificar no artigo 268º supra transcrito. 
 
O artigo 340º do TFUE regula parcialmente os pressupostos da responsabilidade da 
União, sendo definido a indenização de acordo com os princípios gerais comuns do direito 
dos Estados-Membros. 
 
A jurisprudência do Tribunal de Justiça tem fixado as condições abaixo para que 
possa haver a indenização pela União Europeia: 
 
a. Tem de haver comportamento ilícito por parte de uma instituição 
europeia ou de um agente da UE no exercício das suas funções; 
b. Tem de haver dano efetivo; 
c. Tem de haver nexo causal entre o ato da instituição comunitária e o 
alegado dano; 
d. Não é necessário provar a culpa da instituição. 
 
 
CONCLUSÃO 
Por fim, podemos observar que a União Europeia conseguiu inovar no quesito direito 
comunitário, criando mecanismos para assegurar a efetividade deste, a ponto de criar um 
sentimento de pertencimento e de proteção dentro de sua comunidade, ao aplicar 
diretamente o direito da União e colocar à disposição do cidadão a possibilidade de acionar 
as instituições da UE competentes caso o direito nacional do Estado-membro vá de 
encontro ao comunitário. E, para poder proporcionar toda essa estrutura, é composta de 
uma complexidade de instituições com funções diversas, como o Parlamento e o Conselho 
Europeu. 
Como já observado, a União Europeia se distancia das demais associações e blocos 
econômicos pelo seu caráter soberano. Os Estados-membros abdicam de parte da sua 
soberania, como em uma espécie de Confederação, para que a UE consiga alcançar seus 
objetivos, como a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais, legislar e criar 
políticas de desenvolvimento. 
Ademais, não se pode deixar de destacar a importância da persecução do princípio 
pela paz duradoura, voltando todo o seu direito e suas ações para atingir tal objetivo, 
equilibrando as forças entre os Estados-Membros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA: 
BORCHARDT, Klaus-Dieter. O ABC DO DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA. 
Luxemburgo: Serviço das Publicações da União Europeia, 2011. 
Site da União Europeia. Disponível em: <https://europa.eu/european-
union/index_pt>. Último acesso em 14/09/2017. 
Site do Conselho Europeu. Disponível em: 
<http://www.consilium.europa.eu/pt/home/>. Último acesso em 17/09/2017. 
Site do Parlamento Europeu. Disponível em: 
<http://www.europarl.europa.eu/portal/pt>. Último acesso em 17/09/2017. 
Site Euroogle. Disponível em: <http://euroogle.com/dicionario.asp>. Último 
acesso em 17/09/2017.

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