Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Brasília-DF. Fisiopatologia e Farmacologia dos processos inFlamatórios e inFecciosos Elaboração Núbia Mantovan Fardin Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ..................................................................... 5 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 7 UNIDADE I PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS .............................. 9 CAPÍTULO 1 FISIOPATOLOGIA DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA: CELULAR E VASCULAR ....................................... 9 CAPÍTULO 2 AUTACOIDES E ANTAGONISTAS DE AUTACOIDES ..................................................................... 20 CAPÍTULO 3 ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS (AINES) ..................................................................... 24 CAPÍTULO 4 ANTI-INFLAMATÓRIOS ESTEROIDAIS ......................................................................................... 33 UNIDADE II FARMACOLOGIA DOS ANTIMICROBIANOS .......................................................................................... 41 CAPÍTULO 5 CLASSIFICAÇÃO E MECANISMOS DE AÇÃO DE ANTIMICROBIANOS ........................................ 41 CAPÍTULO 6 ANTIBACTERIANOS: INIBIDORES DA SÍNTESE DA PAREDE CELULAR E INIBIDORES DA SÍNTESE PROTEICA ....................................................................................... 46 CAPÍTULO 7 ANTIFÚNGICOS ..................................................................................................................... 61 PARA (NÃO) FINALIZAR ...................................................................................................................... 66 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 67 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de to rná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para não finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução A inflamação é uma resposta de defesa a vários agentes nocivos, como micro-organismos e células danificadas (ROBBINS & COTRAN, 2005), provindos de múltiplos eventos iniciados por dano tecidual, causados por fatores internos – necrose de tecidos, fratura de ossos – e externos, que podem ser fatores mecânicos – corte –, físicos – queimadura –, químicos – corrosão –, biológicos – infecção por micro-organismos – e imunológicos – reação de hipersensibilidade (SEADI, 1998), levando a respostas vasculares com migração e ativação de leucócitos e reações sistêmicas (ROBBINS & COTRAN, 2005). Os principais sinais e sintomas clínicos da inflamação foram descritos por Celsus no século I d.C., e são: dor, calor, rubor e tumor (inchaço) no local, podendo haver também a perda de função tecidual. A inflamação está diretamente ligada ao processo de reparo que começa nas fases iniciais da inflamação, mas geralmente só é finalizado depois que a influência nociva foi neutralizada (ROBBINS & COTRAN, 2005). O objetivo final da inflamação é a eliminação da causa inicial da lesão tecidual e das consequências de tal lesão, entretanto, a inflamação e o reparo podem ser potencialmente prejudiciais, por essa razão existem vários anti-inflamatórios e antimicrobianos que, na melhor das hipóteses, promove o controle das sequelas danosas da inflamação, sem interferir em seus efeitos benéficos. Objetivos » Promover ao farmacêutico o conhecimento sobre os sinais e sintomas de respostas inflamatórias para avaliação e acompanhamento de pacientes. » Compreender os processos de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação de medicamentos anti-inflamatórios e antimicrobianos aplicados aos cuidados farmacêuticos. 9 UNIDADE I PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS CAPÍTULO 1 Fisiopatologia da resposta inflamatória: celular e vascular Como descrito anteriormente, a inflamação é um processo de defesa do organismo cujo objetivo final é a eliminação da causa inicial da lesão celular e das consequências de tal lesão, essasrespostas consistem em dois componentes principais: uma reação vascular e uma reação celular, ambas são ativadas por mediadores derivados das proteínas plasmáticas e de várias células. As etapas comuns das respostas inflamatórias são (1) o reconhecimento do agente lesivo; (2) o recrutamento dos leucócitos; (3) a remoção do agente; (4) a regulação (controle) da resposta e (5) a resolução (reparo) (ROBBINS, 2008). A inflamação pode ser dividida em aguda e crônica. A inflamação aguda inicia-se rapidamente e tem uma duração curta, podendo ser de minutos a dias; suas principais características são a exsudação de fluidos e proteínas plasmáticas (edema) e a migração de leucócitos. A inflamação crônica tem duração mais longa e está associada à presença de linfócitos e macrófagos, à proliferação de vasos sanguíneos, fibrose e necrose celular (ROBBINS & COTRAN, 2005). Inflamação aguda A inflamação aguda é uma resposta rápida a um agente nocivo, responsável por levar mediadores de defesa ao local da lesão e pode ser desencadeada por vários estímulos, como: infecções (bacterianas, virais e parasitárias) e toxinas microbianas; trauma; agentes físicos e químicos; necrose tissular; corpos estranhos (farpas, terras, suturas); reações imunológicas (reações de hipersensibilidade). Cada um desses estímulos pode induzir reações com características distintas, porém todas as reações imunológicas apresentam características comuns (ROBBINS & COTRAN, 2005). Descreveremos a seguir os eventos característicos da inflamação aguda, e em seguida seus mediadores químicos. 10 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS Eventos vascular e celular na inflamação aguda Alterações vasculares Durante os processos inflamatórios os vasos sanguíneos sofrem diversas alterações com o objetivo de facilitar o movimento de proteínas plasmáticas e células sanguíneas para o local da lesão (ROBBINS & COTRAN, 2005), essas alterações iniciam-se logo após a lesão ou infecção, mas desenvolvem-se em velocidade variável, dependendo da natureza e da gravidade do estímulo inflamatório original (ROBBINS, 2008). As principais são: 1. vasodilatação: principalmente nas arteríolas que resulta em aumento do fluxo sanguíneo para o local e abertura dos leitos vasculares, responsável por causar o calor e o rubor característicos da inflação. Os principais indutores da vasodilatação são a histamina e o óxido nítrico (NO); 2. aumento da permeabilidade vascular: leva à perda de proteínas do plasma para o interstício, levando a uma diminuição da pressão osmótica intravascular e a um aumento da pressão osmótica intersticial, ocorrendo, assim, um extravasamento de fluido para o tecido, causando o edema. Esse evento é induzido pela histamina, cininas e outros mediadores que produzem aberturas entre as células endoteliais, por lesão endotelial direta ou induzida por leucócitos e pelo aumento da passagem de líquidos através do endotélio. O aumento da permeabilidade vascular permite a entrada de leucócitos e proteínas plasmáticas nos locais da infecção ou da lesão do tecido (ROBBINS, 2008); 3. migração e acúmulo de leucócitos no local da lesão: os leucócitos aderem ao endotélio e a seguir migram através da parede vascular para o interstício, esse processo será descrito detalhadamente adiante. A figura 1 demonstra esquematicamente esse processo de alteração vascular. 11 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I Figura 1. Esquema demonstrativo dos processos de alteração vascular na inflamação (aumento do fluxo sanguíneo; deposição de proteínas plasmáticas no interstício; migração de neutrófilos; aumento da pressão hisdrostática) comparado ao normal. Retirado de Robbins & Cotran, 2005. Eventos celulares: extravasamento de leucócitos e fagocitose Uma importante função da resposta inflamatória é transportar os leucócitos para o local da lesão e ativá-los. Os leucócitos destroem os agentes ofensivos através de processos de fagocitose, por exemplo, e eliminam os tecidos necróticos e as substâncias estranhas, porém, com isso, podem causar lesão tecidual e prolongar a inflamação, já que os produtos dos leucócitos que destroem micróbios podem também lesar o tecido normal do hospedeiro. O recrutamento de leucócitos para o local da inflação pode ser dividido nas seguintes etapas. 1. Marginalização e rolagem: devido à vasodilatação e ao aumento da permeabilidade vascular com perda de líquido para o interstício e acúmulo de células e proteínas no interior dos vasos, o fluxo sanguíneo fica mais lento, e como as hemácias são menores e tendem a se mover mais rápido, os leucócitos são empurrados para a periferia dos vasos (marginalização). Em seguida, os leucócitos rolam pela superfície endotelial, aderindo transitoriamente ao longo do caminho a moléculas de adesão (rolagem). 12 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS 2. Adesão e transmigração: após o processo de rolagem dos leucócitos, eles se aderem firmemente a um ponto da superfície endotelial, essa adesão é mediada pelas integrinas expressas nas superfícies celulares dos leucócitos e que interagem com seus ligantes nas células endoteliais. As integrinas são glicoproteínas presentes na membrana plasmática dos leucócitos, em estados normais essas glicoproteínas possuem baixa afinidade e não aderem a seus ligantes até que os leucócitos sejam ativados pelas quimiocinas liberadas, por exemplo, nos processos inflamatórios. As quimiocinas são citocinas quimioatraentes secretadas por várias células, nos locais da inflamação, possuem a capacidade de promover mudança conformacional e aumento da afinidade das integrinas presentes nos leucócitos. Após a aderência à parede vascular, os leucócitos migram pela parede do vaso, espremendo-se entre as células nas junções intercelulares (a passagem pelo citoplasma da célula endotelial também já foi descrito), esse processo recebe o nome de diapedese. Essa migração dos leucócitos é orientada pelas quimiocinas produzidas nos tecidos extravasculares, que promovem a movimentação dos leucócitos em direção a seus gradientes químicos. 3. Quimiotaxia: após o extravasamento, os leucócitos migram em direção ao local da lesão ou infecção, devido a um gradiente químico gerado por substâncias exógenas e endógenas liberadas no processo inflamatório, que são provenientes de (1) produtos bacterianos; (2) citocinas, particularmente as quimiocinas; (3) componentes do sistema complemento, principalmente a C5a e (4) produtos da via lipoxigenase do metabolismo do ácido araquidônico, principalmente o leucotrieno B 4 . A figura 2 resume todos esses processos de marginalização, rolagem, adesão, transmigração e quimiotaxia dos leucócitos. Figura 2. Esquema demonstrativo dos processos de marginalização, rolagem, adesão, transmigração e quimiotaxia dos leucócitos em um processo inflamatório. Retirado de Robbins & Cotran, 2005. 13 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I Após serem recrutados para o local da inflamação, os leucócitos devem ser ativados para exercerem sua função, os estímulos para essa ativação são provenientes de micróbios, produtos de células necróticas e vários mediadores. A ativação leucocitária resulta em muitas funções: » fagocitose de partículas: esta é uma etapa inicial na eliminação de substâncias nocivas; » produção de substâncias que destroem os micróbios fagocitados e removem tecidos mortos, sendo eles: enzimas lisossômicas e espécies reativas de oxigênio e do nitrogênio; » produção de mediadores que amplificam a reação inflamatória, como as citocinas e os metabólitos do ácido araquidônico.Mediadores químicos Como descrito anteriormente, os mediadores químicos estão presentes nos eventos vasculares e celulares da inflamação, o conhecimento desses mediadores é importante para que sejam desenvolvidas drogas anti-inflamatórias. Os mediadores podem ser produzidos no local da inflamação pelas células, ou serem produzidos pelo fígado, os quais ficam circulando no plasma como precursores inativos e são ativados somente no local da inflamação. A maioria dos mediadores promove seus efeitos por meio da ligação a receptores específicos presentes nas células-alvo, e suas ações são estreitamente reguladas. A seguir, detalharemos os principais mediadores químicos presentes no processo de inflamação. Aminas vasoativas A histamina e a serotonina são duas aminas importantes, pois são os primeiros mediadores a serem liberados durante a inflamação, e são armazenadas nas células. 1. Histamina: sua principal fonte são os mastócitos, normalmente presentes no tecido conjuntivo e próximo aos vasos sanguíneos. A histamina pré-formada encontra-se nos grânulos dos mastócitos e é liberada pela degranulação dessas células em resposta a vários estímulos: lesão física, como trauma, frio ou calor; reações imunológicas envolvendo a ligação de anticorpos aos mastócitos; pelos fragmentos do complemento chamados de anafilatoxinas (C3a e C5a); proteínas leucocitárias que liberam histamina; neuropeptídeos (substância P); e citocinas (IL-1, IL18) (ROBBINS & COTRAN, 2005). Ela causa dilatação das arteríolas e aumenta a permeabilidade das vênulas (porém, causa constrição das artérias de maior calibre), e age na microcirculação, principalmente por meio da ligação aos receptores H1 nas células endoteliais. 2. Serotonina (5-hidroxitriptamina): suas ações são semelhantes as da histamina, está presente nas plaquetas e nas células enterocromafim. Sua liberação das plaquetas é estimulada quando ocorre agregação plaquetária após contato com colágeno, trombina, difosfato de adenosina (ADP) e complexos antígeno-anticorpo. 14 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS Proteínas plasmáticas As proteínas plasmáticas são mediadoras de vários efeitos da inflamação e pertencem a três sistemas inter-relacionados: o complemento, as cininas e a coagulação. 1. Sistema do complemento: consiste em 20 proteínas (e os produtos de sua clivagem), presentes em maior concentração no plasma na forma inativa e são numeradas de C1 a C9, esse sistema atua tanto na imunidade natural quanto na adquirida contra agentes microbianos. Suas funções biológicas se enquadram em duas categorias: lise celular pelo complexo de ataque a membrana (MAC) e os efeitos dos fragmentos proteolíticos do complemento. Seus fragmentos estão presentes em vários fenômenos da inflamação: › Fenômenos vasculares: através das proteínas C3a, C5a e em menor quantidade pela C4a (anafilatoxinas), que estimulam a liberação de histamina pelos mastócitos aumentando, assim, a permeabilidade vascular e causando vasodilatação. O C5a também ativa a via da lipoxigenase do metabolismo do ácido aracdônico nos neutrófilos e monócitos, provocando a liberação de mais mediadores da inflamação. › Adesão, quimiotaxia e ativação dos leucócitos: através da proteína C5a. › Fagocitose: a proteína C3b serve como opsonina quando ligado a parede bacteriana. 2. Sistema das cininas: a ativação desse sistema resulta na liberação da bradicinina que aumenta a permeabilidade vascular, contração do músculo liso, dilatação de vasos sanguíneos e dor quando injetada na pele, seus efeitos são semelhantes aos da histamina. Ela é inativada rapidamente pela enzima cinase. 3. Sistema da coagulação: esse sistema está intimamente relacionado com a inflamação. A trombina é a principal ligação entre o sistema de coagulação e a inflamação, ela é a enzima que cliva o fibrinogênio solúvel circulante para gerar um coágulo insolúvel de fibrina, e é a principal protease da coagulação. Metabólitos do ácido aracdônico: prostaglandinas, leucotrienos e lipoxinas O ácido aracdônico é um ácido graxo poli-insaturado derivado da dieta ou da conversão do ácido graxo essencial (ácido linoleico) não se encontra livre nas células, somente na forma estratificada nos fosfolipídios da membrana, sendo liberado pela ação das fosfolipases celulares (p. ex. fosfolipase A2), que podem ser ativados por estímulos mecânicos, químicos e físicos, ou por outros mediadores (p. ex. C5a). Os metabólitos do ácido aracdônico (também chamados de eicosanoides) são sintetizados por duas classes de enzimas: as ciclo-oxigenases (prostaglandinas e tromboxanos) e as lipoxigenases (leucotrienos e lipoxinas) (ROBBINS & COTRAN, 2005). 15 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I 1. Via da ciclo-oxigenase: é iniciada por duas enzimas diferentes, a COX-1 (constitutivamente expressa) e a COX-2 (uma enzima induzida), que leva a geração de prostaglandinas, sendo as mais importantes na inflamação as PGE2, PGD2, PGF2A, PGI2 (prostraciclina) e TXA2 (tromboxano). Suas ações específicas são descritas a seguir. › COX-1: é produzida em condições fisiológicas, tem a função de promover a síntese de prostaglandinas em situações fisiológicas, regula também processos celulares normais, como a citoproteção gástrica, a homeostase vascular, a agregação plaquetária e a função renal. › COX-2: produzidas nas situações de inflamação, é uma enzima induzida, sendo produzida apenas em células inflamatórias. › PGI2 (prostaciclina): é produzida no endotélio vascular, sua função fisiológica é controlar o fluxo sanguíneo, pois quando produzidas levam a um quadro de vasodilatação, aumentando o fluxo sanguíneo no local, provocando rubor e calor, e consequentemente provoca dor. › PGE2: também está presente no endotélio vascular, possui a mesma função fisiológica da prostaciclina, promove o aumento da produção de citocinas, principalmente a IL-1, que age no centro do controle da temperatura, localizada no hipotálamo, provendo o aumento da temperatura e produzindo febre. › TXA2 (tromboxano A2): é produzido pelas plaquetas, promove agregação plaquetária (aglutinação) e vasoconstrição. 2. Via da lipoxigenase: seus produtos iniciais são gerados por três lipoxigenases diferentes que só estão presentes em alguns tipos de células. 3. Lipoxinas: suas principais ações são a inibição do recrutamento leucocitário e dos componentes celulares da inflamação, inibindo a quimiotaxia dos neutrófilos e sua adesão ao endotélio. A figura 3 mostra esquematicamente a geração de metabólitos do ácido aracdônico e seus papéis na inflamação. 16 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS Figura 3. Esquema da geração de metabólitos do ácido aracdônico e seus papéis na inflamação. Modificado de Robbins, 2008. Fator de ativação plaquetária (PAF) O PAF é outro mediador bioativo derivado dos fosfolipídios, ele pode desencadear a maioria dos principais acontecimentos da inflamação, sendo produzido por vários tipos celulares, como plaquetas, basófilos (e mastócitos), neutrófilos, monócitos/macrófagos e células endoteliais. Ele pode promover a estimulação de plaquetas, vasoconstrição e broncoconstrição, e em doses extremamente baixas estimula a vasodilatação e o aumento da permeabilidade vascular. Pode promover também o aumento da adesão leucocitária a endotélio, quimiotaxia, desgranulação e surto oxidativo. Citocinas e quimiocinas As citocinas são proteínas produzidas por vários tipos celulares, principalmente linfócitos e macrófagos, elas têm a capacidade de modular a função de outros tipos celulares. As duas principais citocinas que participam do processo inflamatóriosão o fator de necrose tumoral (TNF) e a interleucina-1 (IL-1), elas são produzidas principalmente pelos macrófagos ativados. A secreção dessas citocinas pode ser estimulada por endotoxinas e outros produtos microbianos, complexos imunes, lesão física e vários tipos de estímulos inflamatórios. Elas induzem as respostas sistêmicas da fase aguda associadas a infecções ou traumas. 17 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I As quimiocinas são uma família de proteínas pequenas que agem a princípio como quimiotáticos para tipos específicos de leucócitos, elas estimulam o recrutamento leucocitário na inflamação e controlam a migração normal de células através de vários tecidos. Outros mediadores 1. Óxido nítrico (NO): ele desempenha um papel importante nos componentes vasculares e celulares das respostas inflamatórias, é um potente vasodilatador devido a sua ação no músculo liso vascular, ele também é capaz de reduzir a agregação e a adesão plaquetária e funciona como um regulador endógeno do recrutamento leucocitário. A produção de NO é um mecanismo compensatório endógeno que reduz as respostas inflamatórias, porém ele também pode ser um mediador de defesa do hospedeiro contra infecções, pois juntamente com seus derivados tem efeitos microbicidas. 2. Componentes lisossomais dos leucócitos: os neutrófilos e monócitos possuem grânulos lisossomais que quando liberados podem contribuir com reações inflamatórias, essas diversas enzimas granulares têm funções diferentes, por exemplo, as proteases ácidas degradam bactérias e fragmentos dentro dos fagossomos, já as proteases neutras são capazes de degradar vários componentes extracelulares. Devido a seus efeitos destrutivos, o infiltrado leucocitário inicial, se não for controlado, pode aumentar mais ainda a permeabilidade vascular e o dano tecidual. 3. Radicais livres derivados do oxigênio: eles podem ser liberados pelos leucócitos no meio extracelular após a exposição a micro-organismos, quimiocinas e complexos imunes. Eles promovem as seguintes reações: lesão à célula endotelial com o consequente aumento da permeabilidade vascular; inativação de antiproteases; lesão a outros tipos de células. 4. Neuropeptídeos: eles participam da deflagração propagação da resposta inflamatória, juntamente com as aminas vasoativas e os eicosanoides. 18 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS O Quadro 1 resume os principais mediadores químicos da inflamação e sua fonte. Quadro 1. Resumo dos principais mediadores químicos da inflamação. Mediadores Fonte Derivados de células Mediadores pré-formados em grânulos secretores Histamina Mastócitos, basófilos, plaquetas Serotonina Plaquetas Recém-sintetizados Prostaglandinas Todos os leucócitos, mastócitos Leucotrienos Todos os leucócitos, mastócitos Fator ativador plaquetário Todos os leucócitos, células endoteliais Espécies reativas de oxigênio Todos os leucócitos Óxido nítrico Macrófagos, células endoteliais Citocinas Macrófagos, linfócitos, células endoteliais, mastócitos Neuropeptídeos Derivados de proteínas plasmáticas (Fígado como principal fonte) Ativação do complemento C3a (anafilatoxina) C5a (anafilatoxina) C3b C5b-9 (complexo de ataque à membrana) Ativação do fator XII (fator de Hageman) Sistema de cininas (bradicinina) Coagulação/sistema de fibrinólise Adaptado de Robbins, 2008. Resultados da inflamação aguda Apesar de a resposta da inflamação aguda ser dependente da natureza e intensidade da lesão e a habilidade do hospedeiro em responder a essa agressão, ela geralmente possui três resultados comuns: » Resolução: quando a lesão é limitada ou breve, quando há pouca destruição tecidual, e quando o tecido tem a capacidade de substituir qualquer célula lesada com restauração e normalidade funcional. Neste caso ocorre a restauração do local da inflamação com degradação dos mediadores químicos, retorno da permeabilidade vascular ao normal, término da inflamação leucocitária, morte dos neutrófilos e remoção de líquidos, edema, leucócitos, agentes estranhos e fragmentos necróticos. » Cicatrização ou fibrose: ocorre após uma grande destruição tecidual ou quando a inflamação atinge tecidos que não são capazes de se regenerar. » Progressão para inflamação crônica: ocorre quando não ha remoção do agente nocivo, ou devido a alguma interferência no processo normal de cicatrização. Dependendo da extensão da lesão inicial, da sua continuidade e a capacidade de regeneração dos tecidos afetados, a inflamação crônica pode ter como resultado a restauração da estrutura e funções normais ou pode resultar em cicatrização. 19 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I Inflamação crônica A inflamação crônica é uma inflamação com duração prolongada (semanas, meses ou anos), em que inflamação ativa, destruição tecidual e reparação ocorrem simultaneamente. Diferente da inflamação aguda, que é caracterizada por alterações vasculares, edema e infiltrado leucocitário, a inflamação crônica possui outras características como: infiltração de células mononucleares, destruição tecidual e reparo envolvendo proliferação de novos vasos (angiogênese) e fibrose. Essa inflamação pode originar-se devido a infecções persistentes por micro-organismos difíceis de erradicar, por doenças inflamatórias imunomediadas (distúrbios de hipersensibilidade) ou ainda por exposição prolongada a agentes potencialmente tóxicos. Inicialmente, na inflamação crônica ocorre a liberação dos mesmos mediadores químicos descritos anteriormente na inflamação aguda, porém sua característica principal é a persistência da inflamação, que resulta das interações complexas entre as células que são recrutadas para o local da inflamação e que são ativadas neste local. 20 CAPÍTULO 2 Autacoides e antagonistas de autacoides As prostaglandinas, a histamina e a serotonina são denominadas autacoides e são formadas pelos tecidos nos quais agem, funcionando, assim, como hormônios locais, porém diferem dos hormônios circulantes pelo fato de serem produzidos por vários tecidos e não apenas em glândulas endócrinas específicas. A palavra autacoide deriva do grego: autos (próprio) e akos (agente medicinal ou medicamento) (HOWLAND, 2007). Prostaglandinas As prostaglandinas são ácidos graxos insaturados que atuam nos tecidos nos quais são sintetizados, sendo rapidamente metabolizados em produtos inativos no local da ativação. A administração sistêmica de prostaglandinas provoca um conjunto de efeitos, que limita a utilidade terapêutica dessas substâncias. Um dos usos é no aborto, ou ainda no tratamento da úlcera péptica utilizado para inibir a secreção de ácido gástrico e para aumentar a resistência à mucosa em pacientes que fazem tratamento com anti-inflamatórios não esteroidais (misoprostol). Histamina A histamina (figura 4) é um mensageiro químico que intermedeia várias respostas celulares, como as reações alérgicas e inflamatórias, a secreção de ácido gástrico e a neurotransmissão em algumas partes do cérebro. Ela não possui aplicação clínica, atua somente como diagnóstica, para avaliar a hiper-reatividade brônquica inespecífica em indivíduos asmáticos, e como controle positivo injetável durante testes cutâneos de alergia, porém os fármacos que interferem em sua ação, os anti-histamínicos, apresentam importantes aplicações terapêuticas. Figura 4. Estrutura química da histamina. Retirado de Goodman & Guilman 2007. 21 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I O mastócito é o principal local de armazenamento de histamina (em grânulos). Ahistamina é encontrada na maioria dos tecidos, porém distribuída de forma desigual sendo encontrada em grande quantidade nos pulmões, na pele e no trato gastrintestinal, que são locais com grande concentração de mastócitos. Ela é formada pela descarboxilação do aminoácido histidina, pela ação da enzima L-histidina descarboxilase. Na maioria das vezes, a histamina é apenas um de vários mediadores químicos liberados. Ela é liberada a partir de estímulos, como a destruição de células como resultado de frio intenso, toxinas bacterianas, venenos de ferrão de abelhas ou traumatismos, além das alergias e anafilaxias. Ela exerce seus efeitos ligando-se a um ou mais dos quatro tipos de receptores específicos (H1, H2, H3, e H4), sendo que somente os receptores H1 e H2 são alvos de fármacos com utilidade clínica, e os receptores H3 e H4 ainda não têm suas ações farmacológicas muito claras. Os receptores H1 são receptores acoplados à proteína Gq/11 e ativam a via PLC-IP3-Ca 2+, e muitas das possíveis continuações dessa via, como a ativação da proteinocinase C (PCK), as enzimas dependentes de Ca2+-calmodulina (eNOS e várias proteinocinases) e a PLA2. Os receptores H2 são receptores acoplados a proteína Gs que ativa a via de proteína A adenililciclase-AMP cíclico-cinase (PKA), e os receptores H3 e H4 são receptores acoplados à proteína Gi/0 que inibem a adenililciclase. Receptores H1 são responsáveis por mediar respostas de broncoconstrição e contração do intestino, já receptores H2 promovem secreção gástrica, e respostas de dilatação vascular são mediadas pelo estímulo desses dois receptores (H1 e H2). Os receptores H3 funcionam como autorreceptores em neurônios histaminérgicos de forma muito semelhante aos receptores α2 pré-sinápticos, inibindo a liberação de histamina e modulando a liberação de outros neurotransmissores, esses receptores estão localizados principalmente no sistema nervoso central (SNC), nos gânglios da base, hipocampo e córtex e promovem a vigília. Os receptores H4 estão presentes em células com atividade imune, como os eosinófilose e também em células do trato gastrintestinal e do SNC, sua ativação em eosinófilos promove uma alteração na forma da célula à quimiotaxia e um incremento na regulação de moléculas de adesão, ou seja, a histamina liberada pelos mastócitos age nos receptores H4 para recrutar eosinófilos, os antagonistas H4 podem ser úteis em inibir as respostas alérgicas e inflamatórias. Anti-histamínicos H1 O termo anti-histamínico sem adição de nenhum adjetivo modificador refere-se somente aos bloqueadores clássicos dos receptores H1, eles não influenciam a formação ou a liberação de histamina, apenas bloqueiam a resposta mediada pelo receptor no tecido-alvo. Eles podem ser divididos em fármacos de primeira e segunda geração. A maioria dos fármacos de primeira geração pode penetrar no SNC causando sedação, podendo também agir em outros receptores, produzindo uma variedade de efeitos adversos, como sonolência e boca seca, porém os fármacos de segunda geração são específicos para receptores H1 e não atravessam a barreira hemato-encefálica, apresentando, assim, menor toxicidade ao SNC do que os de primeira geração. 22 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS Esses fármacos são úteis no tratamento de alergias causadas por antígenos que agem nos mastócitos sensibilizados por anticorpos imunoglobulina E (IgE) e são usados principalmente para o controle dos sintomas da rinite alérgica e da urticária, pois a histamina é o principal mediador. Antagonistas H1 disponíveis no mercado a. Dibenzoxepinas tricíclicas (doxepina): é comercializado principalmente como um antidepressivo tricíclico, porém é também um potente antagonista H1. Causa sonolência e associa-se a efeitos anticolinérgicos. b. Etanolaminas (protótipo: difenidramina): possuem significativa atividade antimuscarínica e induzem sedação, porém seus efeitos colaterais no trato gastrintestinal são extremamente baixos neste grupo. c. Etilenodiaminas (protótipo: pirilamina): esta classe inclui alguns dos antagonistas H1 mais específicos. Provoca sonolência e os efeitos colaterais do trato gastrintestinal são incomuns. d. Alquilaminas (protótipo: clorfeniramina): são os mais potentes antagonistas H1 e menos propensos a produzir sonolência, sendo mais adequados para o uso diurno. Seu efeito colateral mais comum é a estimulação do SNC. e. Piperazinas de primeira geração: um dos membros mais antigos desse grupo, a clorciclizina, tem ação prolongada e baixa sonolência. A hidroxizina é usada para alergias cutâneas. A ciclizina e a meclizina já foram utilizadas para controlar enjoo de movimento. f. Piperazinas de segunda geração (cetirizina): possui efeitos anticolinérgicos mínimos, sua penetração no SNC é mínima, porém tem uma incidência mais alta de sonolência em comparação ao outros antagonistas H1 de segunda geração. g. Fenotizinas (protótipo: prometazina): a maioria dos fármacos dessa classe possui atividade anticolinérgica, além de antagonistas do receptor H1. É utilizada principalmente pelos seus efeitos antieméticos. h. Piperidinas de primeira geração (ciproeptandina, fenindamina): a ciproeptadina tem propriedades anti-histamínicas e antisserotoninérgicas igualmente. Elas causam sonolência e têm efeitos colinérgicos também. i. Piperidinas de segunda geração (protótipo: terfenadina): os fármacos atualmente existentes dessa classe são a loratadina, a desloratadina e a fexofenadina, eles são altamente seletivos para os receptores H1, têm baixa ação anticolinérgica e dificilmente penetram no SNC, possuindo, assim, baixa incidência de efeitos colaterais. 23 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I Bloqueadores dos receptores histamínicos H2 Os bloqueadores dos receptores H2 apresentam baixa ou nenhuma afinidade pelos receptores H1, sua utilização é principalmente como inibidor da secreção de ácido gástrico no tratamento de úlceras. Os fármacos dessa classe existentes no mercado são dimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina e não serão discutidos neste capítulo por não ter ações anti-inflamatórias. Bloqueadores dos receptores histamínicos H3 e H4 Já foram desenvolvidos antagonistas específicos dos receptores H3 e H4, porém nenhum foi aprovado para uso clínico. Os antagonistas H3 têm capacidade de melhorar a atenção e o aprendizado, estimulam a vigília e são usados também como agentes antiepilépticos. Já os antagonistas de receptores H4 são promissores candidatos para o tratamento de condições inflamatórias como rinite alérgica, asma e artrite reumatoide, devido à localização e à função inusitada desse receptor nas células de origem hematopoiética. Bradicinina, calidina e seus antagonistas Alguns fatores, como lesões tissulares, reações alérgicas, infecções virais e outros eventos inflamatórios, ativam uma série de reações proteolíticas que geram bradicinina e calidina nos tecidos, esses peptídeos agem como autacoides, produzindo dor, vasodilatação e maior permeabilidade vascular no local de sua ação. Sua atividade ocorre principalmente devido à liberação de potentes mediadores como as prostaglandinas, NO ou fator hiperpolarizante derivado do endotélio. Os antagonistas de bradicinina estão atualmente sendo investigados em diversas áreas, como dor, inflamação, doenças inflamatórias crônicas, sistema cardiovascular e reprodução. Pois sabe-se que as cininas participam de uma variedade de doenças inflamatórias e causam dor, e a bradicinina excita os neurônios sensoriais primários e provoca a liberação de neuropeptídeos, como substância P, neurotoxina A e peptídeos relacionados com o gene da calcitonina. 24 CAPÍTULO 3 Anti-inflamatórios não esteroidais(AINEs) Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) são um grupo de diferentes agentes químicos que possuem atividade antipirética, analgésica e anti-inflamatória, atuam principalmente inibindo as enzimas ciclo-oxigenases (responsáveis por catalisar a biossíntese de prostanoides), levando à redução da síntese de prostaglandinas, com efeitos benéficos e indesejáveis. Todos os AINEs, exceto a nabumetona, são ácidos orgânicos fracos. Esses anti-inflamatórios geralmente são altamente metabolizados, alguns por meio de mecanismos de fase I seguidos de fase II, e outros por mecanismos de fase II apenas. Seu metabolismo ocorre, geralmente, mediante famílias CYP3A ou CYP2C das enzimas P450 do fígado. Atualmente, existem em torno de 50 AINEs no mercado e, como não é necessária a apresentação de prescrição médica aqui no Brasil, esses fármacos são utilizados extensamente e muitas vezes indevidamente. Estão disponíveis como comprimidos, injeções e géis. Aliviam os sintomas de dor e edema, como artrite reumatoide; dores agudas, como trauma, dor pós-parto e pós-operatória, além de dor dental, menstrual e cefaleia. A escolha de um AINE requer uma consideração de sua eficácia, custo, segurança e de numerosos fatores pessoais, por exemplo, se o paciente está utilizando outros fármacos, deste modo, não existe um AINE melhor para todos os pacientes, mas pode haver um ou dois AINEs mais apropriados para um determinado indivíduo. A seguir, descreveremos detalhadamente os principais AINEs encontrados no mercado, bem como seus mecanismos de ação e efeitos colaterais. Ácido acetilsalicílico e outros salicilatos O ácido acetilsalicílico foi o precursor dos AINEs tradicionais, é o fármaco pelo qual os outros anti-inflamatórios são comparados, sendo o mais comumente utilizado, sobretudo pelo baixo custo. Porém, sua longa história e disponibilidade sem prescrição médica diminuem seu apelo em comparação com o dos AINEs mais novos, hoje ele é raramente utilizado como anti-inflamatório, sendo substituído pelo ibuprofeno e pelo naproxeno. Já os salicilatos não acetilados são fármacos anti-inflamatórios efetivos, sendo analgésicos menos efetivos que o ácido acetilsalicílico. Esses fármacos incluem o salicilato de colina magnésio, o salicilato de sódio e o salicilsalicilato (KATZUNG, 2010). Como são menos eficazes em inibir a COX, seu uso pode ser preferível quando não se deseja essa inibição, como no caso de pacientes com asma, pacientes com tendências hemorrágicas e pacientes com disfunção renal. 25 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I Mecanismos de ação O ácido acetilsalicílico é um ácido orgânico fraco e o único AINE capaz de acetilar irreversívelmente a ciclo-oxigenase, além de inibir a agregação plaquetária. Já os salicilatos são inibidores reversíveis das duas isoformas da COX apenas. Ação anti-inflamatória Devido a sua inibição da atividade da COX, ocorre a diminuição da formação de prostaglandinas, modulando, assim, os aspectos da inflamação nos quais ela age como mediadora. Ação analgésica A PGE2 é capaz de sensibilizar as terminações nervosas à ação da bradicinina, histamina e de outros mediadores químicos liberados localmente pelo processo inflamatório, portanto, o ácido acetilsalicílico, ao inibir a atividade da COX, diminui a síntese de PGE2, diminuindo, assim, a sensação de dor. Ação antipirética A febre ocorre quando o “ponto de referência” do centro termorregulador hipotalâmico anterior é elevado, sendo causado principalmente pela síntese de PGE2 estimulada, por exemplo, pela citocina. Portanto, o efeito antipirético do ácido acetilsalicílico é possivelmente mediado pela inibição da COX no sistema nervoso central, com diminuição da produção de PGE2, e ainda pela inibição da IL-1 que é liberada pelos macrófagos durante episódios de inflamação. Essa ação do ácido acetilsalicílico sobre o controle da temperatura ocorre somente em indivíduos febris, não havendo efeitos sobre a temperatura normal do organismo. Usos clínicos O ácido acetilsalicílico e os salicilatos são utilizados como antipiréticos e analgésicos no tratamento de gota, febre reumática e artrite reumatoide, e em condições comumente tratadas como cefaleia, artralgia e mialgia. Eles têm sido associados a opioides para o tratamento da dor de câncer, na qual os efeitos anti-inflamatórios atuam de modo sinérgico com os opioides, intensificando a analgesia. Pode ser utilizado também topicamente no tratamento de calosidades, calos ósseos e epidermofitose (erupção causada por fungos). Além de serem utilizados para inibir a aglutinação plaquetária, reduzir a incidência de ataques isquêmicos transitórios e angina instável em homens, como, também, para tratar de trombose da artéria coronária. 26 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS Efeitos adversos a. Gastrintestinais: normalmente a prostaciclina (PGI2) promove a inibição de ácido gástrico, enquanto a PGE2 e a PGF2a estimulam a síntese de muco protetor no estômago e no intestino delgado, devido à ação do ácido acetilsalicílico inibindo a COX e, consequentemente, diminuindo a formação desses prostanoides, ocorre portanto um aumento da secreção gástrica e diminuição da proteção da mucosa. Causando, assim, irritação epigástrica, náuseas e vômitos. Com isso, o ácido acetilsalicílico deve ser administrado acompanhado de alimentos e grande volume de líquido para reduzir os distúrbios gastrintestinais, além de ser administrado juntamente como o misoprostol, por exemplo. b. Sangue: o TXA2 é responsável por aumentar a aglutinação plaquetária, já a PGE2 provoca sua redução. O ácido acetilsalicílico inibe irreversivelmente a produção de tromboxano nas plaquetas, resultando na inibição da agregação plaquetária e no prolongamento do tempo de sangramento. Como as plaquetas não possuem núcleo, não podendo sintetizar enzimas, e a acetilação da ciclo-oxigenase é irreversível, essa falta de tromboxano persiste durante toda a vida da plaqueta (3 a 7 dias), porém, nas células endoteliais, não ocorre o mesmo, pois elas possuem núcleo e podem produzir novas ciclo-oxigenases. Assim, o ácido acetilsalicílico não deve ser administrado pelo menos uma semana antes de uma cirurgia. c. Respiração: em doses terapêuticas eles podem aumentar a ventilação alveolar, já doses mais elevadas podem agir diretamente sobre o centro respiratório no bulbo, resultando em hiperventilação e alcalose respiratória, agora, em doses tóxicas, podem causar depressão respiratória, com acidose respiratória e metabólica não compensada. d. Ação nos rins: eles impedem a síntese de PGE2 e PGI2, que são prostaglandinas responsáveis pela manutenção do fluxo sanguíneo renal na presença de vasoconstritores circulantes. Essa diminuição da síntese de prostaglandinas pode resultar na retenção de sódio e água, causando edema e hiperpotassemia em alguns pacientes, podendo ocorrer, também, nefrite intersticial. Interações farmacológicas Existem alguns fármacos que podem interagir com os salicilatos, causando alguns efeitos indesejados: a. antiácidos: provoca a redução da velocidade de absorção do ácido acetilsalicílico; b. heparina ou anticoagulantes orais: provoca hemorragia; c. probenecida sulfinpirazona: provoca a diminuição da excreção de urato (contraindicado em pacientes com gota); d. bilirrubina, fenitoína, naproxeno, sulfinpirazona, tiopental, tiroxina e tri-idotironina: provocam o aumento da concentração plasmática, fazendo com que a meia-vida seja mais longa, com maiores efeitos terapêuticos e maior toxicidade também. 27 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I Inibidores seletivos da COX-2 (coxibes)O local de ligação do substrato nas duas formas de COX (1 e 2) são estruturalmente diferentes, a COX-2 apresenta um canal de substrato maior e mais flexível do que o da COX-1 e um maior espaço disponível no sítio onde se ligam os inibidores, conforme demonstrado na figura 5. Essa diferença em sua estrutura permitiu a produção de fármacos específicos para a COX-2, com o intuito de inibir a síntese de prostaglandinas por essa isoenzima sem, no entanto, afetar a isoenzima COX-1 “de manutenção”, encontrada no trato gastrintestinal, nos rins e nas plaquetas, sendo esta uma tentativa de minimizar os efeitos colaterais gastrintestinais e de coagulação. Figura 5. Diferenças estruturais dos sítios ativos da COX-1 e COX-2. A COX-2 possui um canal maior e mais flexível do que a COX-1, apresentando um maior espaço no local de ligação dos inibidores. Disponível em <http://ejb-eliezer.blogspot.com.br/>, em 10/7/2012. Os inibidores seletivos da COX-2 exercem efeitos analgésicos, antipiréticos e anti-inflamatórios semelhantes aos dos AINEs não seletivos, mas com a metade dos efeitos adversos gastrintestinais, porém, não apresenta efeitos cardioprotetores, o que levou a alguns pacientes utilizar o ácido acetilsalicílico em pequenas doses para manter esses efeitos. Celecoxibe O celecoxibe (figura 6) é um inibidor seletivo da COX-2, cerca de 10 a 20 vezes mais seletivo para COX-2 do que para COX-1, com meia-vida de 11 horas. 28 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS Figura 6. Estrutura química do celecoxibe. Retirado de Katzung, 2010. Ele também é efetivo no tratamento da artrite reumatoide e da osteoartrite, provocando menos úlceras endoscópicas do que a maioria dos outros AINEs e não afeta a agregação plaquetária nas doses habituais. Pode interagir com a varfarina (conforme esperado de um fármaco metabolizado através da CYP2C9). Seus efeitos adversos podem ser dor abdominal, diarreia e dispepsia. Como ocorre com outros AINEs, pode ocorrer toxicidade hepática. Etoricoxibe O etoricoxibe é um derivado bipiridínico, inibidor seletivo da COX-2 de segunda geração, sendo sua seletividade à COX-2 superior a qualquer outro coxibe. Sofre extenso metabolismo pelas enzimas P450 hepáticas, com excreção renal e meia-vida de eliminação de 22 horas. Possui eficácia semelhante aos AINEs tradicionais para o tratamento da osteoartrite, artrite gotosa aguda e dismenorreia primária. Meloxicam O meloxicam é uma enolcarboxamida relacionada com o piroxicam que inibe preferencialmente a COX-2, pois não é tão seletivo quanto os outros coxibes. Ele possui menos complicações gastrintestinais do que o piroxicam, o diclofenaco e o naproxeno. Da mesma forma que os outros AINEs, o meloxicam inibe o TXA2, porém sabe-se que mesmo em doses supraterapêuticas essa inibição não atinge níveis que resultam em diminuição da função plaquetária in vivo. 29 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I Valdecoxibe O valdecoxibe (figura 7) é um isoxazol com substituição diaril e um novo inibidor altamente seletivo da COX-2, com meia-vida de 8 a 11 horas. Sua dose analgésica é de 20mg, 2 vezes ao dia. Não possui nenhum efeito sobre a agregação plaquetária e o tempo de sangramento. Figura 7. Estrutura química do valdecoxibe. Retirado de Katzung, 2010. Inibidores não seletivos da COX Diclofenaco O diclofenaco é um derivado do ácido fenilacético, relativamente não seletivo como inibidor da COX, possui meia-vida de aproximadamente 1 hora. Cerca de 20% dos pacientes apresentam efeitos adversos, como desconforto gastrintestinal, sangramento gastrintestinal oculto e ulceração gástrica. Devido a isso, o diclofenaco é geralmente administrado juntamente com o omeprazol ou misoprostol, evitando, assim, o sangramento e o desconforto gastrintestinal. Ele pode comprometer o fluxo sanguíneo renal e a taxa de filtração glomerular, além de promover a elevação dos níveis séricos das aminotransferases. Diflunisal O diflunisal é um derivado do ácido salicílico, porém não é metabolizado em ácido salicílico nem em salicilato. Ele sofre um ciclo êntero-hepático, com reabsorção de seu metabólito glicuronídio, seguida de clivagem do glicuronídio, liberando novamente o componente ativo. Sua meia-vida é de 13 horas. Ele é efetivo para o alívio da dor do câncer com metástases ósseas e para o controle da dor na cirurgia dentária (terceiro molar). 30 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS Etodolaco O etodolaco é um derivado racêmico do ácido acético, com meia-vida intermediária de 6,5 horas. Ele é ligeiramente mais seletivo para COX-2. Produz alívio satisfatório da dor pós-operatória após cirurgia de derivação da artéria coronária. Fenoprofeno O fenoprofeno é um derivado do ácido propiônico, porém é pouco utilizado devido a seu efeito colateral mais comum, o desenvolvimento de nefrite intersticial, além dos efeitos tóxicos comuns de todos os AINEs. Flurbiprofeno O flurbiprofeno é um derivado do ácido propiônico, porém seu mecanismo de ação é mais complexo do que o de outros AINEs. Ele inibe a COX de modo não seletivo e estudos experimentais comprovaram que ele pode afetar também a síntese de TNF-α e de óxido nítrico. Não apresenta circulação êntero- hepática, e seus enantiômeros são metabolizados de forma diferente, não sofrendo conversão quiral. Sua eficácia é comparável à do ácido acetilsalicílico e à de outros AINEs em estudos clínicos de pacientes com artrite reumatoide, espondilite ancilosante, gota e osteoartrite. Ibuprofeno O ibuprofeno é um derivado simples do ácido fenilpropiônico, com meia-vida de 2 horas. Ele é adquirido como fármaco de venda livre em baixas doses com vários nomes comerciais. Provoca irritação e sangramento gastrintestinal, porém com menos frequência do que com o ácido acetilsalicílico. É contraindicado para indivíduos com pólipos nasais, angioedema e reatividade broncoespástica ao ácido acetilsalicílico. Pode provocar insuficiência renal aguda, nefrite intersticial, síndrome nefrótica e desenvolvimento de hepatite. Indometacina A indometacina é um potente inibidor não seletivo da COX, além de poder inibir a fosfolipase A e C, reduzir a migração dos neutrófilos e diminuir a proliferação das células T e B. Suas indicações e seus efeitos colaterais são ligeiramente diferentes dos outros AINEs. Suas principais indicações são para o uso de afecções reumáticas, em casos de gota e espondilite ancilosante. O uso de doses mais altas de indometacina promove o aparecimento de reações adversas exigindo a interrupção do tratamento, sendo seus efeitos adversos mais comuns dor abdominal, diarreia, hemorragia gastrintestinal e pancreatite. 31 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I Cetoprofeno O cetoprofeno é um derivado do ádico propiônico que inibe tanto a COX (de modo não seletivo) quanto a lipoxigenase. Sua meia-vida é de 1,8 horas. É utilizado frequentemente no tratamento da artrite reumatoide, osteoartrite, gota, dismenorreia e outras afecções dolorosas. Seus principais efeitos colaterais afetam o trato gastrintestinal e o sistema nervoso central. Cetorolaco O cetorolaco é um AINE indicado principalmente como analgésico e não como fármaco anti- -inflamatório, mesmo tendo as propriedades típicas dos AINEs. Sua meia-vida é de 4 a 10 horas. Ele é um analgésico efetivo, utilizado para substituir a morfina em algumas situações que envolvem dor pós-cirúrgica leve ou moderada. Seus efeitos tóxicos são semelhantes aos de outros AINEs, embora a toxicidade renal seja mais comum com seu uso crônico. Nabumetona A nabumetona é o único AINE não ácido deuso corrente, ela é convertida no derivado do ácido acético ativo no corpo. Sua meia-vida é de mais de 24 horas, o que permite sua administração na forma de dose única ao dia. Seus efeitos adversos assemelham-se aos dos outros AINEs, porém, muitas vezes, são necessárias doses mais altas. Seu custo é muito alto, devido a isso não é utilizado com frequência. Naproxeno O naproxeno é um derivado do ácido naftilpropiônico. Sua meia-vida é de 14 horas. É indicado principalmente para casos de reumatismo. Além de seus efeitos adversos comuns a todos os outros AINEs, foram observados casos raros de pneumonite alérgica, vasculite leucocitoclástica e pseudoporfiria. Oxaprozina A oxaprozina é derivada do ácido propiônico, sua principal diferença em relação aos outros membros desse subgrupo reside na sua meia-vida muito longa: de 50 a 60 horas, e por não sofrer circulação êntero-hepática. Ela apresenta os mesmos benefícios e riscos associados a outros AINEs. É potencialmente mais útil no tratamento da gota. Piroxicam O piroxicam é um inibidor não seletivo da COX e em altas concentrações também inibe a migração dos leucócitos polimorfonucleares, diminui a produção de radicais de oxigênio e inibe a função dos linfócitos. Sua meia-vida longa, de 57 horas, permite a administração 1 vez/dia. É utilizado para as 32 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS indicações reumáticas habituais. Seus principais efeitos colaterais são sintomas gastrintestinais, tontura, zumbido, cefaleia e exantema cutâneo. Sulindaco O sulindaco é um pró-fármaco sulfóxido. Além de suas indicações semelhantes aos outros AINEs, ele pode suprimir a polipose intestinal familiar, pode inibir o desenvolvimento de câncer de cólon, mama e próstata. Suas reações adversas mais graves são a ocorrência de síndrome de necrólise epidérmica de Stevens-Johnson, trombocitopenia, agranulocitose e síndrome nefrótica. Tiaprofeno O tiaprofeno é um derivado do ácido propiônico racêmico que não sofre estereoconversão. Possui uma meia-vida curta de 1 a 2 horas, que pode ser aumentada em indivíduos idosos para 2 a 4 horas. Esse fármaco diminui ligeiramente os níveis séricos de ácido úrico por inibir sua reabsorção renal. Sua eficácia e seus efeitos adversos assemelham-se aos de outros AINEs. Interações medicamentosas As principais interações clinicamente documentadas dos AINEs são as seguintes. » Fenitoína: é uma interação previsível, ocorre na maioria dos pacientes aos quais se administra a combinação, incidindo diminuição do metabolismo hepático da fenitoína. » Furosemida: é uma interação previsível, ocorre na maioria dos pacientes aos quais se administra a combinação, diminuindo as respostas diuréticas, natriuréticas e anti-hipertensivas à furosemida. » Hidralazina: é uma interação não estabelecida, em que se dispõem de dados insuficientes para estimar a previsibilidade. Diminui a resposta anti-hipertensiva à hidralazina. » Inibidores da enzima conversora de angiotensinogênio (ECA): é uma interação previsível, ocorre na maioria dos pacientes aos quais se administra a combinação, ocorre diminuição da resposta anti-hipertensiva. » Metotrexato: é uma interação não estabelecida onde se dispõem de dados insuficientes para estimar a previsibilidade, ocorrendo possível aumento da toxicidade do metotrexato (particularmente com doses antineoplásicas). » Triantereno: é uma interação não estabelecida onde se dispõem de dados insuficientes para estimar a previsibilidade. Diminui a função renal observada com o triantereno mais indometacina, tanto em indivíduos sadios quanto em pacientes. 33 CAPÍTULO 4 Anti-inflamatórios esteroidais Esse grupo de fármacos é representado pelos esteroides, que são moléculas complexas, solúveis nas gorduras, com quatro anéis fundidos e de alta massa molecular. Os esteroides que ocorrem naturalmente incluem o colesterol, os sais biliares e muitos hormônios que são os que estão envolvidos nos processos inflamatórios e que são utilizados como fármacos anti-inflamatórios estereidais estudados neste capítulo. A produção desses hormônios ocorre na glândula adrenal, também conhecida como glândula suprarrenal. Os esteroides hormonais podem ser classificados em esteroides com efeitos importantes sobre o metabolismo intermediário e a função imune (glicocorticoides) em esteroides onde a atividade principal é a retenção de sal (mineralocorticoides) e os que apresentam atividade androgênica e estrogênica. Glândula adrenal e seus hormônios As glândulas adrenais estão localizadas na região superior de cada rim e são divididas em duas porções (córtex e medula). O córtex é subdividido em três zonas: zona glomerulosa, zona fasciculada e zona reticular. Já a medula da adrenal é a região central da glândula secreta os hormônios chamados catecolaminas. A figura 8 representa esquematicamente a glândula adrenal, indicando as porções bem como suas zonas distintas. Figura 8. Figura esquemática da glândula adrenal, demonstrando suas porções, córtex e medula, bem como suas zonas distintas. Disponível em: <http://www.medicinageriatrica.com.br/2007/06/21/glandula-adrenal/>, em 15/7/2012. 34 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS Mais de 30 esteroides são sintetizados pelo córtex da adrenal, podendo ser classificados em três classes principais. Os mineralocorticoides são sintetizados na zona glomerulosa (aldosterona é o principal) e promovem a retenção do Na+ e a perda de K+ pelos rins, promovendo, assim, o equilíbrio salino no organismo. Outra classe de esteroides da adrenal cortical compreende os glicocorticoides, dos quais o cortisol é o mais importante. Os glicocorticoides são sintetizados na zona fasciculada da adrenal. Dentre os hormônios produzidos pela glândula adrenal, os glicocorticoides apresentam acentuada importância como anti-inflamatórios. A síntese de glicocorticoides é dependente de colesterol, suas etapas estão especificadas na figura 9 e sua produção é regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal. Esse eixo corresponde a um sistema de controle que integra funções endócrinas e neurológicas. O hipotálamo secreta o fator de liberação da corticotropina (CRF) e a arginina vasopressina (AVP) na microcirculação, na adeno- -hipófise ou hipófise anterior, elas estimulam a liberação do hormônio adrenocorticotrópico, que promove, no córtex da suprarrenal, a liberação do cortisol. Figura 9. Etapas de formação dos hormônios adrenocorticosteroides. Retirado de Rang et al., 2007. O cortisol, portanto, é o produto final do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal e desempenha funções centrais e periféricas mediadas via dois tipos de receptores específicos: o tipo 1, ou receptor mineralocorticoide (MR), e o tipo 2, ou receptor glicocorticoide (GR). Os efeitos mais conhecidos dos glicocorticoides são mediados principalmente pelos GRs, amplamente distribuídos. Esse tipo de receptor interage com os promotores de genes-alvo e regulam a sua transcrição. Quando não estão ligados aos hormônios, esses receptores são citoplasmáticos, presentes em complexos oligoméricos com proteínas de choque térmico (Hsp). O hormônio, portanto, penetra na célula e liga-se ao receptor, induzindo a alterações conformacionais que permitem a sua dissociação das proteínas de choque térmico. Em seguida, o complexo ligante-receptor é transportado ativamente até o núcleo, onde interage com o DNA e com proteínas nucleares. 35 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I O receptor de glicocorticode é formado por aproximadamente 800 aminoácidos e pode ser dividido em três domínios funcionais, conforme demonstrado na figura 10. O domíniode ligação dos glicocorticoides se encontra na extremidade carboxiterminal da molécula, já o domínio de ligação do DNA localiza-se no meio da proteína e contém nove resíduos de cisteína. Essa região, por sua vez, dobra-se em uma estrutura em “dois dedos”, estabilizada por íons zinco conectados com as cisteínas, formando dois tetraedros. Os dedos de zinco são a estrutura básica onde o domínio de ligação do DNA reconhece sequências específicas do ácido nucleico. O domínio aminoterminal está envolvido na atividade de transativação do receptor e aumenta sua especificidade. Figura 10. Receptor de glicocorticoide e seus mecanismos. Retirado de Katzung, 2010. Os glicocorticoides reduzem as manifestações da inflamação, devido a seus efeitos sobre a concentração, distribuição e função dos leucócitos periféricos, bem como seus efeitos supressores sobre citocinas e quimiocinas inflamatórias e outros mediadores da inflamação. A administração de um glicocorticoide de ação curta em dose única promove aumento da concentração circulante de neutrófilos e redução do número de linfócitos (células T e B), monócitos, eosinófilos e basófilos. Os glicocorticoides também podem inibir as funções dos macrófagos teciduais e de outras células apresentadoras de antígenos. Eles também influenciam na resposta inflamatória ao reduzir a síntese das prostaglandinas, leucotrienos e fator de ativação das plaquetas, resultando na ativação da fosfolipase A2. Promovem também redução da expressão da COX-2, nas células inflamatórias, com consequente redução da quantidade de enzimas disponíveis para a formação de prostaglandinas e diminuem a permeabilidade capilar ao reduzirem a quantidade de histamina liberada dos basófilos e mastócitos. 36 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS Mecanismos de ação dos glicocorticoides Os glicocorticoides atuam praticamente sobre todos os órgãos e tecidos. Seus mecanismos de ação são divididos em três grupos principais: 1) ações dependentes de modificações do genoma; 2) ações não dependentes de modificações no genoma e que são mediadas por receptores; 3) ações não dependentes de modificações no genoma e que são medidas de maneira físico-química. Ação dependente da modificação do genoma É o mecanismo mais conhecido, devido à lipossolubilidade dos glicocorticoides, eles passam facilmente pela membrana das células indo se ligar a receptores intracitoplasmáticos, que são de duas formas: alfa e beta. O receptor alfa, na sua forma inativa, está ligado a uma proteína de choque térmico que impede sua ação. Quando o glicocorticoide se liga ao receptor, desfaz-se a ligação com a proteína de choque térmico e o conjunto (ligante-receptor) migra para o núcleo celular onde irá se ligar ao DNA, iniciando a transcrição de genes e a síntese de várias proteínas. No DNA existem pontos específicos para a ligação com o glicocorticoide, que são chamados de elementos de resposta ao glicocorticoide, esses passos de interação do glicocorticoide com o receptor e a transcrição gênica estão demonstrados na figura 11. A inibição da síntese de proteínas efetoras nem sempre é feita por mecanismos de ação diretos sobre o DNA, podem ocorrer, também, em nível de pré-transcrição e pós-transcrição. Muitos mediadores inflamatórios agem sobre a proteína G e outros receptores, que levam a ativação de várias quinases e que, por sua vez, ativam o fator de transcrição AP-1. Este fator se desloca para o núcleo e promove a indução da transcrição gênica de várias outras proteínas pró-inflamatórias. Os receptores de glicocorticoides, quando ativados, podem se ligar a AP-1 e assim impedir sua ação. Os glicocorticoides podem inibir também outro fator de transcrição chamado NF-κβ, esse fator é responsável por mediar à ação de várias citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). Os glicocorticoides inibem a ação do NF-κβ por aumentar a produção de proteínas inibidoras. Além disso, os glicocorticoides possuem ação a nível de pós-transcrição sobre a estabilidade do RNA mensageiro (RNAm) formado. Por exemplo, os glicocorticoides podem desestabilizar o RNAm para a síntese de COX-2, que leva à diminuição de sua ação. Os glicocorticoides podem, também, afetar o transporte e a secreção de proteínas recém-formadas. A ação dos glicocorticoides sobre a transcrição genética pode ser negativa também. Os componentes que têm sua síntese reduzida pelos glicocorticoides são várias citocinas, como interleucina 1 (IL-1), IL-2, IL-4, IL-6, interferon gama (INF-γ) e TNF-α. Ou seja, a ação genômica dos glicocorticoides pode ser feita diretamente sobre o DNA ou em nível de pré-transcrição genética por meio da ação sobre AP-1 e NF-κβ ou, ainda, em nível de pós-transcrição, sobre RNAm, transporte e secreção de proteínas. 37 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I Figura 10. Modelo de interação de um esteroide, S (p. ex. cortisol), e seu receptor, R, e os efeitos subsequentes observados em uma célula-alvo. Retirado de Katzung, 2010. O esteroide encontra-se no sangue circulante, na forma ligada à globulina de ligação dos corticoesteroides, mas penetra na célula como molécula livre. O receptor alfa, na sua forma inativa, está ligado a proteínas estabilizadoras, sendo elas proteína de choque térmico 90 (Hsp90) e várias outras, que impedem sua ação. Quando o complexo liga-se a uma molécula de cortisol, ocorre a liberação da Hsp90 e moléculas associadas. O complexo esteroide-receptor tem a capacidade de penetrar no núcleo, ligar-se ao elemento de resposta dos glicocorticoides (ERG) sobre o gene e regular a transcrição pela RNA polimerase II, bem como por fatores de transcrição associados. Diversos fatores reguladores (não ilustrados) podem participar, facilitando ou inibindo a resposta dos esteroides. O RNAm resultante é editado e exportado até o citoplasma para a produção de proteínas, que irá produzir a resposta tumoral. Mecanismo de ação não genômica mediada por receptor Para que esse mecanismo ocorra, são necessárias doses mais altas de glicocorticoides e seus efeitos aparecem mais rapidamente do que os efeitos genômicos, por não precisar de síntese de novas proteínas, levando de segundos a minutos para serem notados. Ocorrem mediante receptores de membrana, diferentes dos intracitoplasmáticos já comentados anteriormente. Em humanos, esses receptores foram encontrados em células leucêmicas e de linfoma, participando da lise celular induzida pelos glicocorticoides. 38 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS Entre os efeitos mediados por este mecanismo, podemos citar: retroalimentação negativa do hormônio adenocorticotrópico (ACTH), supressão da prolactina, efeitos sobre estabilização de membranas, efeitos cardiovasculares e de comportamento, indução de apoptose e a ação antianafilática dos glicocorticoides. Mecanismo de ação não genômica mediada por ações físico-químicas Esse mecanismo de ação exige doses muito altas de glicocorticoides e é o que aparece mais rapidamente. Ele é responsável por uma diminuição no transporte de sódio e de cálcio através da membrana citoplasmática, ocorrendo uma queda no consumo de ATP e uma diminuição do cálcio citosólico. O cálcio citoplasmático é essencial para proporcionar e manter a ativação linfocitária, assim, esse mecanismo explica o sucesso obtido com as chamadas terapias de pulso utilizadas para tratamento de doenças imunologicamente mediadas, nas quais se somam, mais tarde, os efeitos genômicos que prolongam e completam a ação terapêutica destes medicamentos. Parâmetros farmacocinéticos e farmacodinâmicos dos glicocorticoides Os glicocorticoides podem ser classificadosde acordo com sua meia-vida, sua potência e sua duração de ação. E quanto a sua duração de ação pode ser dividido em fármacos de duração curta, intermediária e longa, tendo como base a duração da supressão do ACTH após dose única, com atividade anti-inflamatória equivalente a 50mg de prednisona. São considerados glicocorticoides de ação curta a cortisona e a hidrocortisona, por suprimirem a ACTH por 8 a 12 horas; os glicocorticoides de ação intermediária são a prednisona, a prednisolona, a metilprednisolona e a triamcinolona, que suprimem o ACTH por 12 a 36 horas; e os glicocorticoides de ação longa são a dexametasona e a betametasona, que promovem a supressão do ACTH por 36 a 72 horas. A potência dos glicocorticoides é avaliada pela sua afinidade aos receptores citoplasmáticos e pela duração de sua ação. Atualmente, várias apresentações e formas farmacêuticas de glicocorticoides estão disponíveis no mercado, sendo absorvidos por via oral ou parenteral, alguns dos principais estão descritos no quadro 2. Sua metabolização ocorre no fígado, podendo aumentar a velocidade de metabolização através de administração de indutores enzimáticos e diminuída em casos de insuficiência hepática. Sua excreção é através da urina e da bile. 39 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS │ UNIDADE I Quadro 2. Principais corticosteroides naturais e sintéticos prescritos para uso geral. Fármaco Atividade (em relação a hidrocortisona) Dose oral equivalente (mg) Formas disponíveisAnti-inflamatória Tópica De retensão de sal Glicocorticoides de ação curta a média Hidrocortisona (cortisol) 1 1 1 20 Oral, injetável, tópica Cortisona 0,8 0 0,8 25 Oral Prednisona 4 0 0,3 5 Oral Prednisolona 5 4 0,3 5 Oral, injetável Metilprednisolona 5 5 0 4 Oral, injetável Meprednisona 5 0 4 Oral, injetável Glicocorticoides de ação intermediária Triacinolona 5 5 0 4 Oral, injetável, tópica Parametasona 10 0 2 Oral, injetável Fluprednisona 15 7 0 1,5 Oral Glicocorticoide de ação longa Betametasona 25 a 40 10 0 0,6 Oral, injetável, tópica Dexametasona 30 10 0 0,75 Oral, injetável, tópica Mineralocorticoides Fludrocortisona 10 0 250 2 Oral Acetato de desoxicorticosterona 0 0 20 Injetável, pílula Retirado de Ktzung, 2010. Toxicidade Os benefícios obtidos com o uso de glicocorticoides variam consideravelmente e em todos os pacientes a utilização desses fármacos deve ser cuidadosamente avaliada em relação a seus efeitos disseminados, observados em todas as partes do organismo. Seus principais efeitos indesejáveis são resultados de suas ações hormonais que levam ao quadro clínico de síndrome de Cushing iatrogênica. Quando os glicocorticoides são administrados por um período curto de menos de 2 semanas, mesmo em doses razoavelmente altas, é difícil verificar efeitos adversos, porém, verifica- -se em certas ocasiões a ocorrência de insônia, alterações do comportamento (principalmente hipomania) e úlceras pépticas agudas mesmo depois de alguns dias de tratamento. Pode também ocorrer pancreatite aguda crônica em alguns casos de tratamento de altas doses de glicocorticoides. Nos casos de desenvolvimento de síndrome de Cushing iatrogênica, geralmente o rosto torna-se arredondado, observam-se tumefações, deposição de gordura e pletora (face em configuração de lua cheia); a gordura tende a ser redistribuída dos membros para o tronco, nuca e fossa supraclavicular. Ocorre maior crescimento de pêlos finos na face, coxas e tronco, podendo verificar aparecimento de acne, insônia e aumento do apetite. Ocorre também aumento de peso corporal, deposição visceral 40 UNIDADE I │ PROCESSOS INFLAMATÓRIOS E FARMACOLOGIA NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS de gordura, miopatia, adelgaçamento da pele com estrias e esquimoses, hiperglicemia e, por fim, desenvolvimento de osteoporose, diabetes e necrose asséptica do quadril, com comprometimento da cicatrização nestes casos. Outros efeitos colaterais graves consistem no aparecimento de úlceras pépticas e suas consequências. Pode ocorrer, também, hipomania ou psicose aguda, principalmente em pacientes que recebem doses muito altas de corticosteroides. Também é comum ocorrer elevação da pressão intraocular, podendo desenvolver glaucoma. Quando administrados em doses superiores às fisiológicas, os esteroides, como a cortisona e a hidrocortisona, provocam retenção de sódio e líquidos, bem como perda de potássio. Em pacientes com funções cardiovasculares e renais normais, esses efeitos levam à alcalose hipoclorêmica hipopotassêmica e à elevação da pressão arterial. Em pacientes com hipoproteinemia, doença renal ou hepatopatia, pode ocorrer edema, já em pacientes com cardiopatia, pode resultar em insuficiência cardíaca. Portanto, os pacientes que receberem o tratamento com glicocorticoides devem ser cuidadosamente monitorados. Os glicocorticoides devem ser utilizados com muita cautela, principalmente em pacientes com úlcera péptica; cardiopatia ou hipertensão com insuficiência cardíaca; com certas doenças infecciosas, como varicela e tuberculose; psicoses; diabetes; osteoporose ou glaucoma. 41 UNIDADE IIFARMACOLOGIA DOS ANTIMICROBIANOS CAPÍTULO 5 Classificação e mecanismos de ação de antimicrobianos Após a Segunda Guerra Mundial, houve na Medicina uma revolução para encontrar compostos com atividade antimicrobiana, por causa da grande incidência de mortes causadas por infecções bacterianas, que durante a guerra era causa de baixas em tropas que nela lutaram. Na década de 1930 eram realizados diversos estudos para buscar moléculas antimicrobianas, porém apenas em 1941 é que havia quantidade suficiente de penicilina para seu emprego na clínica. O tratamento antimicrobiano age nas diferenças bioquímicas que existem entre micro-organismos e seres humanos, assim, os fármacos antimicrobianos são eficazes no tratamento de infecções, pois são seletivamente tóxicos, têm a capacidade de lesar ou matar os micro-organismos invasores sem prejudicar as células do hospedeiro. O objetivo da terapia farmacológica antimicrobiana é a toxicidade seletiva, essa seletividade pode ser obtida ao atacar alvos seletivos do patógeno que não estejam presentes no hospedeiro; alvos presentes no patógeno que são semelhantes, mas não idênticos aos do hospedeiro; alvos no patógeno que são compartilhados com o hospedeiro, mas que variam quanto à sua importância entre o patógeno e o hospedeiro, conferindo assim uma seletividade. Alvos farmacológicos A relação entre a dose tóxica e a dose terapêutica de um fármaco é denominada índice terapêutico, ou janela terapêutica, portanto, um fármaco altamente seletivo, como a penicilina, pode ser prescrito com segurança, devido à grande diferença entre sua concentração terapêutica e tóxica. Os fármacos podem ser divididos em três tipos de seletividade a alvos: » exclusivo: o fármaco tem como alvo uma via genética ou bioquímica que é exclusiva do patógeno. Como exemplo, temos os inibidores da parede celular bacteriana; » seletivo: o fármaco tem como alvo uma isoforma de determinada proteína que é exclusiva do patógeno. Como exemplo, temos o inibidor da diidrofolato redutase (DHFR); » comum: o fármaco tem como alvo uma necessidade metabólica específica do patógeno. Como exemplo, temos a 5-Fluoruracila. 42 UNIDADE II │ FARMACOLOGIA DOS ANTIMICROBIANOS Alvos exclusivos de fármacos Os alvos exclusivos de fármacos são as vias metabólicas, enzimas, genes que sofrem mutação e produtos gênicos que estão presentes no patógeno, mas ausentes no hospedeiro. Os agentes antibacterianos, por exemplo, têm como alvo comum a parede celular de peptídeoglicano bacteriana. A penicilina e outros antibióticos β-lactâmicos inibem as enzimas
Compartilhar