Buscar

farmacologia 4

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 46 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 46 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 46 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Farmacologia Aplicada 
à Biomedicina
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Dr.ª Roberta Tancredi Francesco
Revisão Textual:
Aline Gonçalves 
Revisão Técnica:
Prof.a Luciana Nogueira
Farmacologia dos Quimioterápicos, 
Dor, Inflamação e Hormônios 
Farmacologia dos Quimioterápicos, 
Dor, Inflamação e Hormônios 
• Estudar a farmacologia dos antimicrobianos, dor e inflamação, bem como antitireoidianos 
e a farmacologia dos hormônios sexuais;
• Analisar possíveis interações entre medicamentos que interfiram em exames laboratoriais.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO 
• Farmacologia dos Quimioterápicos;
• Farmacologia da Dor e da Inflamação;
• Fármacos Utilizados para Contracepção, 
Androgênios e Antiandrogênios;
• Farmacologia da Paratireoide e Vitamina D;
• Farmacologia do Hormônio de Crescimento;
• Interações Medicamentosas e Interferências de 
Medicamentos nos Exames Laboratoriais.
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
Farmacologia dos Quimioterápicos
O termo quimioterapia refere-se ao tratamento de doenças por substâncias quími-
cas que afetam o funcionamento celular. Essa terapia farmacológica pode ser antimi-
crobiana, que afeta bactérias e fungos, ou antineoplásica, fármacos cujos alvos são as 
células tumorais (câncer). Uma característica desses fármacos é a toxicidade seletiva, 
isto é, a inibição de vias ou de alvos que são críticos para a sobrevida e a replicação 
de patógenos ou de células cancerosas em concentrações do fármaco abaixo daque-
las necessárias para afetar as nossas células saudáveis.
A seletividade é uma característica desafiadora para a farmacologia, obtida por 
diferentes meios, tais como alvos exclusivos do patógeno ou da célula cancerosa, que 
não estão presentes no hospedeiro, alvos presentes no patógeno ou na célula cance-
rosa, que são semelhantes, mas não idênticos, aos do hospedeiro, ou, por fim, alvos 
no patógeno ou na célula cancerosa que são compartilhados com o hospedeiro, mas 
que variam quanto à sua importância entre o patógeno e o hospedeiro, conferindo, 
assim, uma seletividade.
A diferença em termos de alvos varia muito, pode ser uma grande diferença, 
como uma proteína exclusiva do patógeno no qual o fármaco atuará preservando a 
célula saudável, ou muito sutil, atuando no ciclo celular e nas taxas de crescimento 
entre algumas células cancerosas e as células normais. Nota-se, dessa forma, que 
muitos agentes antineoplásicos são mais tóxicos para o hospedeiro do que muitos 
agentes antimicrobianos.
Na escolha de um agente quimioterápico, os benefícios devem ser maiores que os 
malefícios. Quanto mais seletivo um fármaco, espera-se que atue com maior espe-
cificidade e tenham-se menos efeitos colaterais. Em princípio, os fármacos possuem 
menor toxicidade para o hospedeiro quando seus alvos possuem diferenças ou carac-
terísticas exclusivas, enquanto exibem toxicidade maior quando seus alvos consistem 
em vias comuns (presentes em vários órgãos ou sistemas). 
Outro ponto importante na escolha do quimioterápico é o índice terapêutico, que 
consiste na relação entre a dose tóxica e a dose terapêutica de um fármaco. O índice 
terapêutico fornece uma indicação do grau de seletividade do fármaco na produção 
dos efeitos desejados. Um fármaco altamente seletivo, como a penicilina, pode ser 
frequentemente prescrito com segurança, devido à grande diferença entre suas con-
centrações terapêuticas e tóxicas.
Leia um artigo sobre índice terapêutico em. Disponível em: https://bit.ly/3lwtjct
Antimicrobianos
Os antimicrobianos são drogas que têm a capacidade de inibir o crescimento 
de micro-organismos, indicadas, portanto, apenas para o tratamento de infecções 
8
9
 microbianas sensíveis, causadoras de doenças infecciosas, ocasionadas por bactérias, 
fungos e protozoários.
Exemplos de patógenos, micro-organismos causadores de diversas doenças infecciosas.
Disponível em: https://bit.ly/2QBVatH
Dois aspectos devem ser considerados: o espectro de ação e a potência do 
fármaco. O espectro é o porcentual de espécies sensíveis (número de espécies/iso-
lados sensíveis), quanto maior o espectro do fármaco, mais abrangente ele se torna; 
e a potência ou concentração inibitória mínima (MIC, MIC50, MIC90) é a concen-
tração de antimicrobiano necessária para inibir o crescimento bacteriano, de forma 
que, quanto menor o MIC, maior a potência, e quanto maior a potência, maior a 
dificuldade da bactéria em desenvolver resistência. Falaremos sobre resistência um 
pouco mais adiante.
No geral, para um antimicrobiano ser considerado ideal, deve possuir ação bac-
tericida e espectro o mais específico possível, possuir o menor MIC e ser compatível 
com o estado clínico do paciente. A indicação de um antimicrobiano está condicio-
nada ao diagnóstico de uma infecção cuja etiologia seja sensível aos antimicrobianos. 
Infecções virais, por exemplo, não respondem ao tratamento com antimicrobianos. 
A história epidemiológica tem importância fundamental e muitas vezes define a 
etiologia. Para analisar o espectro de um antibiótico que será necessário, deve ser 
reali zado um antibiograma (um exame in vitro). A análise deve sempre considerar 
a evolução do quadro clínico. Os casos de evolução desfavorável devem ter no anti-
biograma uma orientação para redirecionamento da terapia.
Outro fator de suma importância na questão dos antimicrobianos é a resistência 
aos fármacos. A resistência constitui um importante problema em toda farmacologia 
antimicrobiana e antineoplásica. Embora a resistência às terapias farmacológicas 
atuais esteja surgindo de modo relativamente rápido, a taxa de introdução de novos 
fármacos (particularmente, agentes antimicrobianos) é relativamente lenta. 
Os numerosos exemplos de microrganismos com resistência rapidamente emer-
gente a fármacos sugerem que esse problema precisa ser solucionado imediatamente. 
Como os patógenos e as células cancerosas são capazes de evoluir rapidamente em 
resposta a pressões adaptativas, a resistência a fármaco pode finalmente aparecer 
com o uso de qualquer agente antimicrobiano ou antineoplásico.
Em uma população de micróbios ou de células transformadas, as células que con-
têm mutações aleatórias que promovem competência irão sobreviver. Assim, o nú-
mero elevado de células, a rápida taxa de crescimento e a taxa elevada de mutações 
promovem o desenvolvimento de uma população heterogênea de células que podem 
adquirir resistência por meio de escape mutacional. O uso contínuo de um fármaco 
pode também selecionar os microrganismos capazes de sobreviver na presença de 
altas concentrações; a resistência é uma consequência inerente da terapia farmaco-
lógica e, em muitos casos, pode anular o tratamento efetivo.
9
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
No caso dos antimicrobianos, a preocupação é muito maior, pois o desenvol-
vimento de resistência passou a ser um problema para todos os agentes antibac-
terianos. Muitas bactérias transportam facilmente a outras bactérias os plasmídios 
(pequenos segmentos circulares de DNA) com genes que carregam a informação 
sobre a resistência a determinado agente bacteriano ou classe de agentes, levando 
rapidamente a ineficácias de muitos tipos de fármacos, como PABA, ácido para-
-aminobenzoico; DHF, diidrofolato; THF, tetraidrofolato.
No teste mostrado a seguir, as bactérias são listadas em pratos com discos brancos 
impregnados com antibióticos. Os anéis claros, como aqueles à esquerda, mostram 
que as bactérias não cresceram, indicando que elas não são resistentes. Aqueles à 
direita são totalmente suscetíveis a apenas três dos sete antibióticos testados.
Figura 1 – Teste de sensibilidade aos antibióticos
Fonte: Wikimedia Commons
Leia esta revisão sobre os mecanismos de resistência bacteriana.
Disponível em: https://bit.ly/2DXkl6B
Os fármacos antimicrobianos podem ser classificados de várias maneiras, consi-
derando seu espectro de ação, o tipo de atividade antimicrobiana, o grupo químicoao qual pertencem e o mecanismo de ação. 
Abordaremos as classes de micro-organismos suscetíveis individualmente.
Antibacterianos
As classes de fármacos antibacterianos apropriam-se das diferenças bioquímicas 
fundamentais observadas entre as bactérias e os seres humanos, e são exploradas no 
desenvolvimento e uso clínico. Didaticamente, podem ser divididas em três grupos ge-
rais. Os fármacos do primeiro grupo inibem enzimas específicas envolvidas na síntese 
e na integridade do DNA: as quinolonas inibem a topoisomerase tipo II das bactérias; 
os fármacos que têm como alvo os processos de transcrição e de tradução inibem os 
processos bacterianos que medeiam a síntese de RNA e de proteínas; as sulfonamidas 
10
11
e o trimetoprim inibem a formação ou o uso de compostos de folato que são neces-
sários para a síntese de nucleotídeos; a rifampicina inibe a RNA polimerase DNA-
-dependente bacteriana; os aminoglicosídeos, a espectinomicina e as tetraciclinas
inibem a subunidade ribossomal 30S das bactérias; os macrolídios, o cloranfenicol, 
as lincosamidas, as estreptograminas e as oxazolidinonas inibem a subunidade 
ribossomal 50S das bactérias. Um terceiro grupo de fármacos inibe etapas específicas 
na síntese da parede celular das bactérias: a fosfomicina e a ciclosserina inibem as 
etapas iniciais na síntese de monômeros de peptidoglicano; a vancomicina liga-se 
aos intermediários do peptidoglicano, inibindo a sua polimerização; as penicilinas, as 
cefalosporinas, os monobactâmicos e os carbapenêmicos inibem a ligação cruzada 
do peptidoglicano; o etambutol, a pirazinamida e a isoniazida inibem processos ne-
cessários para a síntese da parede celular e da membrana externa do Mycobacterium 
tuberculosis. Vamos estudar um pouco mais sobre eles.
• Quinolonas: uma das primeiras quinolonas de uso clínico foi o ácido nalidíxico. 
As quinolonas mais recentemente introduzidas são, em sua maioria, fluoradas, 
incluindo o ciprofloxacino, o ofloxacino e o levofloxacino. Essas quinolonas e 
outras quinolonas fluoradas (fluoroquinolonas) são identificadas pelos seus nomes 
genéricos, que tipicamente terminam com “floxacino”. As fluoroquinolonas são 
amplamente utilizadas no tratamento de infecções urogenitais, respiratórias e gas-
trintestinais comuns causadas por microrganismos Gram-negativos, incluindo E. 
coli, Klebsiella pneumoniae, Campylobacter jejuni, Pseudomonas aeruginosa, 
Neisseria gonorrhoeae e Enterobacter, Salmonella e espécies de Shigella.
Figura 2 – Estrutura química das quinolonas
Fonte: Wikimedia Commons
As quinolonas constituem uma importante classe de antibióticos bacterianos, que 
atuam por meio da inibição das topoisomerases tipo II bacterianas. São inibidores da 
enzima bacteriana DNA topoisomerase II (girase de DNA) e da DNA topoisomerase 
IV. Para muitas bactérias Gram-positivas (S. aureus), a DNA topoisomerase IV é a 
principal inibida pelas quinolonas.
Mecanismo de ação das quinolonas. Disponível em: https://bit.ly/2YQoeBZ
O desenvolvimento de resistência bacteriana tem sido observado com mais fre-
quência com o uso do ácido nalidíxico, e menos frequentemente com as quinolonas 
11
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
mais recentes. A exposição a concentrações crescentes das quinolonas, entretanto, 
resulta em cepas altamente resistentes de muitas espécies. 
Os efeitos colaterais mais comumente encontrados com o uso terapêutico das qui-
nolonas estão relacionados com o trato gastrointestinal (3% a 6%) e incluem náuseas, 
vômitos, diarreia, dor abdominal, dispepsia e flatulência.
• Derivados da Rifamicina: a rifampicina e seu derivado estrutural, a rifabutina, 
são dois derivados semissintéticos do antibiótico de ocorrência natural, a rifami-
cina B. A rifamicina B foi isolada de Streptomyces mediterranei, reclassificado 
como Nocardia mediterranei.1 A rifampicina é um inibidor da RNA polimerase, 
utilizada clinicamente como parte da combinação de fármacos para o tratamento 
da tuberculose. É o único fármaco em uso clínico que bloqueia a transcrição 
bacteriana. Embora a rifampicina possa ser utilizada para profilaxia da doença 
meningocócica e tratamento de algumas outras infecções bacterianas, seu prin-
cipal uso é no tratamento da tuberculose e de outras infecções micobacterianas. 
A rifampicina mostra-se particularmente efetiva contra micobactérias que resi-
dem em fagossomos, visto que é bactericida para bactérias tanto intracelulares 
quanto extracelulares.
Figura 3 – Estrutura química das rifampicinas
Fonte: Wikimedia Commons
O mecanismo de ação da rifampicina ocorre por meio da formação de um com-
plexo estável com a RNA polimerase DNA dependente bacteriana, inibindo, assim, 
a síntese de RNA, exercendo sua atividade bactericida. O alvo da rifampicina é a su-
bunidade da RNA polimerase bacteriana. O fármaco permite o início da transcrição, 
mas bloqueia, em seguida, o alongamento. 
A rifampicina exibe alta seletividade para as bactérias, visto que as polimerases 
dos mamíferos (até mesmo as das mitocôndrias, que são consideradas semelhantes 
às dos procariotas) são inibidas pela rifampicina apenas em concentrações muito 
mais altas. Por conseguinte, a rifampicina é geralmente bem tolerada e a incidência 
de efeitos adversos (tipicamente exantema, febre, náusea, vômitos e icterícia) é baixa.
• Aminoglicosídeos: os aminoglicosídeos são utilizados, principalmente, no trata-
mento de infecções causadas por bactérias Gram-negativas. Os aminoglicosídeos 
incluem a estreptomicina (o primeiro aminoglicosídeo, descoberto em 1944), a 
neomicina, a canamicina, a tobramicina, a paromomicina, a gentamicina. 
12
13
Entre esses aminoglicosídeos, a gentamicina, a tobramicina e a amicacina são 
as mais amplamente utilizadas, em virtude de sua menor toxicidade e cobertura 
mais ampla contra os microrganismos. Entretanto, até mesmo esses agentes 
carecem de atividade contra anaeróbios e muitas bactérias Gram-positivas.
Os aminoglicosídeos inibem a síntese de proteína, ligam-se ao rRNA 16S da 
subunidade 30S e produzem efeitos sobre a síntese proteica que dependem da con-
centração do fármaco, ou seja, interferem na função da subunidade 30S de decodifi-
cação do mRNA. Os aminoglicosídeos, quando presentes em baixas concentrações, 
induzem os ribossomos a efetuar uma leitura incorreta do mRNA durante o alonga-
mento, levando à síntese de proteínas que contêm aminoácidos incorretos.
Ao contrário de outros inibidores da síntese proteica, os aminoglicosídeos são 
bactericidas. Essa característica é importante no tratamento das infecções graves. 
Os bactericidas são substâncias que matam de forma direta os microrganismos, ini-
bindo enzimas que desempenham um papel fundamental para que a célula bacteria-
na permaneça viva, mas não necessariamente a destroem. A contagem de bactérias 
viáveis decresce quando comparada com a contagem de bactérias totais, diferen-
temente de agentes bacteriostáticos, que são produtos com a função de impedir a 
proliferação dos microrganismos. Um bacteriostático impede a multiplicação das 
bactérias, mas não as matam; esses agentes são, em sua maioria, inibidores de síntese 
proteica e atuam por ligação reversível aos ribossomos.
Figura 4 – Mecanismo de ação dos inibidores da síntese proteica
Fonte: Microbiologybook.org
Esses agentes podem ter efeitos colaterais. Pacientes que recebem aminoglicosí-
deos por tempo superior a duas semanas e aqueles em risco de toxicidade vestibular 
e auditiva devem ser monitorados por meio de audiogramas seriados. Ao primeiro si-
nal de toxicidade, o fármaco deve ser suspenso (se possível) ou ter sua dose ajustada.
• Tetraciclinas e glicilciclinas: as tetraciclinas vêm sendo utilizadas clinicamente há 
muitos anos, são exemplos: a clortetraciclina, a oxitetraciclina, a tetraciclina, a 
13
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
 demeclociclina, a metaciclina, a doxiciclina e a minociclina. Todas estão estrei-
tamente relacionadas em termosestruturais e podem ser consideradas como grupo. 
As diferenças na sua eficácia clínica são mínimas e relacionam-se, em grande parte, 
com a farmacocinética de absorção, distribuição e excreção de cada fármaco. 
As tetraciclinas são antibióticos bacteriostáticos de amplo espectro e amplamente uti-
lizados. As tetraciclinas ligam-se de modo reversível ao rRNA 16S da subunidade 30S e 
inibem a síntese proteica por meio do bloqueio da ligação do aminoacil tRNA ao sítio 
A sobre o complexo mRNA-ribossomo. Essa ação impede a adição de outros ami-
noácidos ao peptídeo nascente. Entretanto, a inibição da síntese proteica não explica 
totalmente a alta seletividade das tetraciclinas para bactérias, visto que esses fármacos 
também podem interromper a síntese proteica eucariótica in vitro em concentrações 
não muito mais elevadas. Na verdade, a elevada seletividade das tetraciclinas provém 
do acúmulo ativo desses fármacos nas bactérias, mas não nas células dos mamíferos. 
As tetraciclinas penetram nas bactérias Gram-negativas por difusão passiva por meio 
de proteínas, denominadas porinas, na membrana externa, seguidas de transporte 
ativo (dependente de energia) através da membrana citoplasmática interna.
Figura 5 – Estrutura química do grupo das tetraciclinas
Fonte: Wikimedia Commons
• Macrolídios: são assim denominados pelos seus grandes anéis de lactona, aos 
quais estão fixados um ou mais desoxiaçúcares. A eritromicina é o membro 
mais bem conhecido desse grupo. Dois derivados semissintéticos da eritromici-
na, a azitromicina e a claritromicina, possuem espectro mais amplo do que a 
eritromicina, de modo que o seu uso está crescendo. 
Os macrolídios são antibióticos bacteriostáticos que bloqueiam a etapa de trans-
locação da síntese proteica ao atuar sobre o alvo do rRNA 23S da subunidade 50S. 
Os macrolídios ligam-se a um segmento específico rRNA 23S e bloqueiam o túnel de 
saída a partir do qual emergem os peptídeos nascentes. O uso dos macrolídios é com-
plicado pelo problema da resistência, que é habitualmente codificada por plasmídios.
Um mecanismo empregado pelas cepas resistentes (p. ex., Enterobacteriaceae) 
consiste na produção de esterases que hidrolisam os macrolídios. 
Mecanismo de ação dos macrolídios. Disponível em: https://bit.ly/3lADv3C
Os macrolídeos  constituem um grupo de antibióticos formados quimicamente 
por um anel macrocíclico de lactona, ao qual se ligam um ou mais açúcares.
14
15
Figura 6 – Estrutura química dos macrolídios
Fonte: Wikimedia Commons
• Lincosamidas: as lincosamidas têm propriedades antibacterianas similares aos 
macrolídeos e agem pelo mesmo mecanismo de ação. A lincomicina e seu de-
rivado semissintético clindamicina foram introduzidos na prática clínica como 
antibióticos de uso oral em 1960 e 1969, respectivamente. A lincomicina foi 
isolada do micro-organismo de solo Streptomyces lincolnensis. A clindamicina 
é um antibiótico amplamente utilizado, que possui melhor atividade e maior 
absorção por via oral. A clindamicina é o fármaco de escolha para o tratamento 
de infecções periféricas causadas por Bacillus fragilis ou outras bactérias ana-
eróbicas penicilina resistentes. Esse fármaco é também topicamente utilizado 
para o tratamento de acne;
• Glicopeptídeos: os antibióticos glicopeptídicos vancomicina e teicoplanina
têm se tornado os fármacos de primeira linha no tratamento de infecções por 
bactérias Gram-positivas com resistência a diversos antibióticos. A vancomicina 
foi o primeiro antibiótico glicopeptídico introduzido na prática clínica em 1959, 
foi isolada de amostras de solo de Streptomyces orientalis (reclassificado como 
Amycolatopsis orientalis). A elucidação da estrutura desse antibiótico demorou 
vários anos, até ser completa e inequivocadamente proposta na década de 1980.
A vancomicina apresenta uma conformação rígida importante para a atividade. 
Os glicopeptídeos inibem a biossíntese da parede celular bacteriana pela com-
plexação com o resíduo dipeptídico terminal D-Ala-D-Ala das cadeias peptídicas 
que constituem a parede celular. Essa complexação impede que o substrato 
esteja disponível para a ação da transpeptidase, inibindo, portanto, a reação 
de transpeptidação. O desenvolvimento de resistência bacteriana a esses anti-
bióticos é mais lento, apesar de algumas linhagens de Staphylococcus aureus
hospitalares já apresentarem resistência desde 1966. Eles são restritos para o 
tratamento de infecções causadas por bactérias Gram-positivas por serem inca-
pazes de penetrar nas membranas de bactérias Gram-negativas. A vancomicina, 
em geral, é o antibiótico de última escolha frente a patógenos Gram-positivos 
resistentes, em particular contra espécies de Enterococcus.
• Lipodepsipeptídeos: a daptomicina é um lipodepsipeptídeo isolado de 
Streptomyces roseosporus e aprovado em 2003 para tratamento de infec-
ções causadas por bactérias Gram-positivas. Seu mecanismo de ação envolve 
15
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
 desorganização de múltiplas funções da membrana celular bacteriana. É prová-
vel que todos os antibióticos lipopeptídicos apresentem alguma penetração na 
membrana devido às cadeias alquílicas, o que promove sua desorganização.
• Estreptogramina: a pristinamicina é uma mistura de substâncias macrolac-
tonas obtidas de Streptomyces pristinaespiralis, que podem ser utilizadas oral-
mente no tratamento de infecções por bactérias Gram-positivas. Dois derivados 
semissintéticos dessa classe, quinupristina e dalfopristina, têm sido utilizados 
por via intravenosa em combinação. A quinupristina é derivada da pristinami-
cina I, uma peptideolactona cíclica não ribossomal, enquanto a dalfopristina 
 deriva da pristinamicina IIA, um híbrido policetídico/peptídico contendo um 
anel macrolactônico. Esses agentes atuam de maneira sinergística para bloque-
ar a translação do polipeptídeo pela ligação na subunidade 50S dos ribosso-
mos bacterianos, na região 23S do rRNA, sobrepondo parcialmente o sítio de 
 ligação dos macrolídeos. Aparentemente, a ligação da dalfopristina aumenta a 
afinidade da ligação para a quinupristina, explicando o efeito sinérgico. A quinu-
pristina inibe a elongação da cadeia peptídica, enquanto a dalfopristina interfere 
na transferência da cadeia peptídica de um tRNA para outro.
Mecanismo de ação dos antibióticos macrolídeos. Disponível em: https://youtu.be/79RQglzuf9k
Agora abordaremos uma classe de antibacterianos que atuam na inibição da sín-
tese da parede celular.
Em 1928, Alexander Fleming fez uma descoberta por acaso, ao esquecer uma pla-
ca de cultura bacteriana na bancada de seu laboratório. Ao voltar, notou um elo de ini-
bição da placa, causado pela contaminação do fungo Penicillium notatus. Essa des-
coberta revolucionou o tratamento das infecções bacterianas e originou a penicilina, 
o primeiro de uma longa lista de antibióticos que atuam por meio da inibição da sín-
tese da parede celular bacteriana. As propriedades químicas e estruturais peculiares 
da parede celular.
Figura 7 – Fungo Penicillium notatus produz a toxina penicilina, 
que originou uma classe de antibióticos β-lactâmicos
Fonte: Getty Images
16
17
Os fármacos derivados da penicilina são denominados β-lactâmicos e constituem 
a classe maior e mais amplamente prescrita de antibióticos que inibem a síntese da 
parede celular das bactérias. Os diferentes agentes pertencentes a essa classe variam 
na sua estrutura química e, portanto, no espectro de ação; entretanto, todos os 
β-lactâmicos compartilham o mesmo mecanismo antibiótico de ação: a inibição da 
ligação cruzada dos polímeros de mureína. 
Quimicamente, o elemento-chave desse mecanismo de ação consiste na presença 
de um anel β-lactâmico de quatro membros. Esse anel faz com que todo β-lactâmico 
seja um análogo estrutural do dipeptídeo D-Ala-D-Ala do peptídeo e, portanto, um 
substrato para uma ou mais transpeptidases bacterianas. 
A maioria dos β-lactâmicos exibe seletividade para várias transpeptidasesdiferentes; 
outros, como o análogo da penicilina, a meticilina, que é utilizada contra o S. aureus, 
são específicos apenas para uma única enzima.
Figura 8 – Estrutura química da penicilina
Fonte: Chem.hope.edu
Como as transpeptidases bacterianas estão localizadas no espaço periplasmático 
entre a membrana citoplasmática e a parede celular, os β-lactâmicos precisam atraves-
sar a parede celular e, no caso das bactérias Gram-negativas, a membrana externa para 
exercer seus efeitos. Por conseguinte, o espectro de ação de um agente β-lactâmico é 
determinado por dois fatores: o grau com que ele pode penetrar na membrana externa 
e na parede celular e, uma vez no espaço periplasmático, a sua capacidade de ligação 
às transpeptidases específicas. 
Mecanismo de ação das penicilinas. Disponível em: https://bit.ly/3hJCG6n
Os agentes tanto hidrofílicos quanto hidrofóbicos difundem-se por meio da cama-
da espessa de mureína das bactérias Gram-positivas, porém os agentes hidrofílicos 
passam através dos poros da membrana externa das bactérias Gram-negativas com 
muito mais facilidade que os agentes hidrofóbicos. Em consequência, os agentes 
hidrofílicos, como a ampicilina, a amoxicilina e, especialmente, a piperacilina, a 
ticarcilina, a carbenicilina e a mezlocilina, tendem a apresentar um amplo espec-
tro de ação, enquanto os agentes hidrofóbicos, como a oxacilina, a cloxacilina, a 
dicloxacilina, a nafcilina, a meticilina e a penicilina G, tendem a exibir um espec-
tro de ação estreito. 
17
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
Os efeitos adversos mais comuns da terapia com β-lactâmicos consistem em re-
ações de hipersensibilidade. Entretanto, os anéis β-lactâmicos podem reagir com 
grupos amino na proteína e, em seguida, pode-se desencadear uma resposta de 
hipersensibilidade. A mais temida dessas reações é a anafilaxia, que tipicamente 
ocorre dentro de uma hora após a administração do fármaco, resultando em bronco-
espasmo, angioedema e/ou colapso cardiovascular. Além disso, pode ocorrer urticá-
ria, erupção medicamentosa morbiliforme (parecida com sarampo), doença do soro 
e febre medicamentosa.
• Sulfonamidas: são antimicrobianos bacteriostáticos sintéticos que inibem com-
petitivamente a conversão de ácido p-aminobenzoico em desidropteroato, que a 
bactéria necessita para a síntese de ácido fólico e purina e de DNA. Nós humanos 
precisamos consumir o ácido fólico, pois não o sintetizamos. Por isso as sulfona-
midas prejudicam apenas as bactérias, pois as impedem de sintetiza-lo. Como nós 
o adquirimos nos alimentos, não somos afetados. Três sulfonamidas, sulfisoxa-
zol, sulfametizol e sulfasalazina, estão disponíveis como fármacos de dose úni-
ca para administração oral. O sulfametoxazol é formulado com a trimetoprima. 
A sulfadoxina associada à pirimetamina está disponível para administração oral.
A trimetoprima está disponível como substância isolada ou associada ao sulfa-
metoxazol. Os fármacos agem sinergisticamente no bloqueio sequencial do metabo-
lismo do ácido fólico bacteriano:
• A trimetoprima previne a redução de desidrofolato a tetraidrofolato;
• O sulfametoxazol inibe a conversão do ácido p-aminobenzoico em desidropteroato.
• Essa sinergia fornece o máximo de atividade antibacteriana, que é frequente-
mente bactericida.
Guia completo de antimicrobianos. Disponível em: https://bit.ly/3jsShrq
Antifúngicos
Os agentes antifúngicos azólicos podem ser divididos em duas grandes classes, 
os imidazólicos e os triazólicos, que compartilham o mesmo mecanismo de ação 
e espectro antifúngico semelhante. Como os triazólicos de administração sistêmi-
ca tendem a ter menos efeito do que os imidazólicos também administrados siste-
micamente sobre a síntese de esteróis nos seres humanos, o desenvolvimento de 
 novos fármacos tem sido direcionado, principalmente, para os triazólicos. A classe 
de antifúngicos imidazólicos inclui o cetoconazol, o clotrimazol, o miconazol, o 
econazol, o butoconazol, o oxiconazol, o sertaconazol e o sulconazol. O ceto-
conazol foi introduzido em 1977, como protótipo dessa classe. O cetoconazol é 
disponível em formulações tanto orais quanto tópicas. O iconazol, o sertaconazol e o 
sulconazol são agentes antifúngicos imidazólicos tópicos utilizados no tratamento de 
infecções fúngicas superficiais do estrato córneo, mucosa escamosa e córnea. Todos 
esses agentes são comparáveis quanto a sua eficácia. Além de inibir a 14-esterol 
18
19
 desmetilase, o miconazol afeta a síntese de ácidos graxos e inibe as enzimas oxidati-
vas e peroxidase dos fungos.
Em geral, os azólicos tópicos atualmente disponíveis não são efetivos contra infec-
ções fúngicas dos cabelos ou das unhas, e a forma tópica não deve ser utilizada para 
tratamento de micoses subcutâneas ou sistêmicas. Os agentes azólicos tópicos estão 
disponíveis para aplicação cutânea e vaginal, e a escolha de determinado agente 
deve basear-se no seu custo e disponibilidade. 
Mecanismo de ação dos antifúngicos. Disponível em: https://bit.ly/3gKiVdm
Leia o artigo “Atualização no uso de agentes antifúngicos”, disponível em: https://bit.ly/3iADD0U
Antivirais
A palavra vírus vem do latim e significa veneno. Esses são considerados agentes 
infecciosos, pois são causadores de infecções e estão entre as principais causas de 
mortalidade no mundo. São incapazes de viver fora das células, devido ao fato de 
serem acelulares formados por uma capsula proteica e de RNA ou DNA, portanto 
só possuem vida se utilizarem uma célula. 
A estrutura proteica que os envolve é chamada de capsídeo. Podemos citar como 
exemplos de vírus que causam infecções em seres humanos são o Adenovírus, 
Papilomavírus, Herpesvírus, Influenzavírus, Rabdovírus e o Togavírus.
A melhor forma de combate-los é por meio da profilaxia com o uso das vacinas. 
As doenças como gripe, raiva, hepatite A, B e C e rubéola são exemplos de doenças 
que possuem vacinas como forma de prevenção.
Já os medicamentos usados na cura de doenças causadas por vírus são denomi-
nados antivirais, porém como os vírus só podem sobreviver ao adentram a célula 
hospedeira e se utilizar de suas organelas para sua replicação é muito difícil encon-
trar fármacos antivirais que atuam de maneira específica para o combate a estes 
agentes, pois também afetam as células hospedeiras. Também, além disso, o modo 
de ação destas drogas ainda não é completamente compreendido.
Dentre os mecanismos para o tratamento de infecções virais temos o bloqueio da 
ligação do vírus, inibição da síntese de DNA/RNA, inibição da síntese proteica, inibi-
ção de juntamento, inibição da liberação de vírus, inibição de vírus não encapsulado 
e o estímulo imunológico. 
Classificação dos antivirais, disponível em: https://bit.ly/3jpNqXO
19
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
Figura 9 – Classificação dos fármacos antivirais em seu local de ação
Fonte: Canvas.uw.edu
Revisão dos fármacos antivirais, disponível em: https://bit.ly/34QAlmj
Farmacologia da Dor e da Inflamação
A dor é resposta a um estímulo intenso ou nocivo que nos ajuda a evitar uma 
possível lesão. Entretanto, a dor também pode ser incapacitante, como a que ocorre 
após traumatismo, durante a recuperação de uma cirurgia ou em associação a afec-
ções clínicas caracterizadas por inflamação.Fisiologicamente, a dor é a consequên-
cia perceptual final do processamento neural de determinada informação sensorial. 
Em geral, o estímulo inicial se dá por meio de transmissores sensoriais no sistema 
nervoso central até o córtex. Esse sistema pode ser convenientemente analisado 
em termos dos locais de ação onde os fármacos intervêm para produzir analgesia. 
Em primeiro lugar, a transdução de estímulos nocivos externos e intensos despolari-
za as terminações nervosas periféricas de neurônios sensoriais, denominados noci-
ceptores pelo fato de responderem a estímulos nocivos.
Assista ao vídeo sobre a fisiologia da dor. Disponível em: https://youtu.be/u9UYaknSOLQOs fármacos usados para aliviar a dor são denominados analgésicos. O trata-
mento ideal da dor deve basear-se na identificação e atuação sobre os mecanismos 
precisos da dor que operam em determinado paciente. 
Diversas classes de fármacos são amplamente utilizadas para alívio da dor. Esses 
fármacos incluem: agonistas dos receptores de opioides, AINE, antidepressivos tri-
cíclicos, anticonvulsivantes e agonistas adrenérgicos. Além disso, os agonistas dos 
receptores 5HT1 possuem aplicações específicas no tratamento agudo da enxaqueca. 
Devido à eficácia limitada de qualquer fármaco utilizado isoladamente, é comum, na 
prática clínica, recorrer a uma abordagem de polifarmácia para o manejo da dor. 
20
21
Conheceremos mais sobre os opioides que são os principais fármacos na clínica 
da dor aguda e, em seguida, abordaremos os AINE, que são usados na dor crônica ou 
em associação com os opioides. Os demais estão mais bem descritos na unidade II.
Agonistas dos Receptores Opioides 
Os agonistas dos receptores opioides constituem a principal classe de fármacos 
utilizada no controle agudo da dor moderada a intensa. A morfina, agonista do re-
ceptor opioide de ocorrência natural, e seus derivados sintéticos, como a codeína 
(metilmorfina), são amplamente utilizados. O fentanil é outro exemplo de agonista 
opioide sintético de ação curta, com meia-vida de eliminação comparável à da morfina, 
é 75 a 100 vezes mais potente do que a morfina. O alfentanil, que é ainda mais 
 potente do que o fentanil, e o sufentanil, que é menos potente, estão estruturalmente 
relacionados com o fentanil.
Os locais de ação analgésica incluem o cérebro, o tronco encefálico, a medula 
espinal e as terminações nervosas periféricas aferentes primárias e o mecanismo 
de ação dos agonistas dos receptores opioides na medula espinal. A ativação dos 
receptores opioides μ tanto pré-sinápticos quanto pós-sinápticos por neurônios ini-
bitórios de circuito local e descendentes inibe a transmissão central de estímulos 
nociceptivos. Na terminação pré-sináptica, a ativação do receptor opioide μ diminui 
o influxo de Ca2+ em resposta a um potencial de ação. A ativação dos receptores 
opioides μ pós-sinápticos aumenta a condutância do K+, portanto, diminui a resposta 
pós-sináptica à neurotransmissão excitatória.
Os analgésicos têm participação direcionada para diversas etapas na percepção 
da dor, desde o início de um estímulo de dor até a percepção central dessa dor. 
Os AINE modulam a despolarização da membrana inicial (transdução de sinais) em 
resposta a um estímulo periférico. Os bloqueadores dos canais de sódio diminuem 
a condução do potencial de ação nas fibras nociceptivas. Os opioides, os antide-
pressivos, os AINE, os anticonvulsivantes e os agonistas 2-adrenérgicos modulam a 
transmissão da sensação da dor na medula espinal, diminuindo o sinal transmitido 
das vias de dor periféricas para centrais. Os opioides também modulam a percepção 
central de estímulos dolorosos. 
Os múltiplos locais de ação dos analgésicos permitem o uso de uma abordagem 
combinada de fármacos no manejo da dor. Por exemplo, a dor moderada é frequen-
temente tratada com associações de opioides e AINE. Como esses fármacos apre-
sentam diferentes mecanismos e locais de ação, a combinação dos fármacos é mais 
efetiva do que o uso isolado de um fármaco.
Mecanismo de ação dos opioides. Disponível em: https://bit.ly/2QHleDw
Os efeitos colaterais dos opioides ocorrem por meio de receptores no centro de con-
trole respiratório medular, na zona quimiorreceptora medular e no trato gastrintestinal, 
provocando depressão respiratória, náusea e vômitos e constipação, respectivamente. 
Além disso, os opioides podem causar sedação, confusão, tontura e euforia.
21
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
Anti-Inflamatórios Não Esteroides - AINEs
A inflamação, assim como a dor, é a resposta do organismo para manter ou bus-
car a homeostase. O uso de substâncias para amenizar dor e a inflamação é uma das 
necessidades mais antigas da humanidade. No decorrer do século passado, houve 
grande evolução para a farmacologia desses agentes.
Atualmente, os Anti-inflamatórios não Esteroides (AINEs) encontram-se entre os me-
dicamentos mais prescritos em todo o mundo. São utilizados em diversas doenças infla-
matórias, como asma, artrite reumatoide, osteoartrites e distúrbios musculoesqueléticos. 
Os AINEs são empregados no tratamento da inflamação, da dor e da febre. 
 Muitas das propriedades básicas desses fármacos estão relacionadas com a inibição 
das enzimas cicloxigenases (COX). Apesar de serem conhecidos diversos subtipos de 
COX, a COX-1 e COX-2 são as enzimas inibidas com a ação dos AINEs, sendo os 
AINEs não seletivos inibidores de ambas as enzimas, COX-1 e COX-2, enquanto os 
AINEs seletivos inibem apenas a COX-2.
Os AINEs não seletivos apresentam importante efeito anti-inflamatório, analgé-
sico e antitérmico, porém diminuem as prostaglandinas que protegem o estômago, 
causando desconfortos gástricos, como dores, aumento da acidez (azia) e até sangra-
mentos. Também podem causar efeitos adversos renais e hepáticos.
Os AINEs seletivos apresentam alta potência no controle da inflamação e da dor 
e não causam efeitos adversos gástricos, pois não afetam as prostaglandinas que 
protegem o estômago. Porém, o seu uso deve ser controlado devido a efeitos adver-
sos cardiovasculares.
Os AINEs não seletivos são os mais antigos, designados tradicionais ou conven-
cionais. Essa atividade anti-inflamatória teve demonstrada a capacidade de inibir a 
produção de prostaglandinas (PGs), por meio de uma provável competição com o 
sítio ativo da COX. 
Foi somente em 1990 que se conseguiu demonstrar que a COX é efetivamente 
constituída por duas isoformas principais, com características químicas e fisiológicas 
bem definidas, a COX-1 (constitucional ou fisiológica) e a COX-2 (induzida ou infla-
matória). Os AINE seletivos para a COX-2 são designados COXIBEs e foram desen-
volvidos numa tentativa de aumentar a aceitação dessas medicações pelos pacientes, 
reduzir a toxicidade (principalmente gastrintestinal) e aumentar o efeito anti-inflama-
tório. Os AINE com maior seletividade anti-COX-2 são meloxicam, nimesulida, 
celecoxibe, rofecoxibe, etoricoxibe, valdecoxibe e lumiracoxibe.
Mecanismo de ação dos AINE. Disponível em: https://bit.ly/3hKjDZH
Os AINE impedem a produção de prostaglandinas, gerando os seguintes efeitos 
principais: 
22
23
• Efeito analgésico: quando as prostaglandinas são liberadas, o organismo se 
torna sensível à dor. Ao impedir o organismo de produzir prostaglandinas, os 
AINE reduzem a resposta dolorosa; 
• Efeito anti-inflamatório: acredita-se que, cessando a produção de prostaglandi-
nas, reduzem-se a dor e o edema da resposta inflamatória aguda do organismo; 
• Efeito antipirético: AINE também são antipiréticos, o que significa que podem 
reduzir a temperatura corpórea por controlar a febre.
Nos últimos anos, tem sido questionada a segurança do uso dos AINE na prática clí-
nica, particularmente dos inibidores seletivos da COX-2 na presença de determinadas 
condições e doenças, o que levou à retirada de alguns desses fármacos do mercado.
Os efeitos colaterais da utilização de AINE incluem os gastrointestinais: todos os 
AINE convencionais têm a tendência de causar efeitos adversos gastrointestinais, que 
podem variar de dispepsia a sangramentos de estômago e duodeno, ativar doenças 
inflamatórias intestinais quiescentes e causar dano tecidual (como úlceras) no trato 
gastrointestinal baixo, geralmente, após um longo período de uso. 
Muitos AINE são derivados do ácido carboxílico e se encontram na forma não ioni-
zada no lúmen gástrico, dessa maneira, podem ser absorvidos pela mucosa gástrica. 
Com a mudança de pH ácido para neutro, no interior da mucosa, a droga ionizada 
é armazenada temporariamente no interior das células epiteliais, o que causa dano a 
elas. Entretanto, esse dano “tópico” não pareceser de fundamental importância para 
a patogênese da sintomatologia ulcerosa. Essa última se deve, principalmente, a uma 
consequência da inibição sistêmica da atividade COX-1 da mucosa gastrointestinal (GI). 
Mesmo a administração intramuscular ou intravenosa de aspirina ou outros AINE 
pode causar úlceras gástricas ou duodenais. Por inibirem a COX-1, os AINE impe-
dem a síntese de prostaglandinas gástricas, especialmente PGI2 e PGE2, que servem 
como agentes citoprotetores da mucosa gástrica. Esses eicosanoides agem inibindo 
a secreção ácida pelo estômago, aumentando o fluxo sanguíneo na mucosa gástrica 
e promovendo a secreção de mucocitoprotetor. A inibição da sua síntese, portanto, 
acarreta ao estômago uma maior suscetibilidade às lesões, cujo aspecto característico, 
com infiltrado inflamatório, levou ao uso da denominação de gastropatia por AINE. 
Além disso, diminui a adesividade plaquetária, aumentando os riscos de sangramento.
• Cardiovascular: os inibidores seletivos da COX-2 (coxibes) vieram ao mercado 
com o objetivo de promover ação anti-inflamatória e alívio de sintomas, assim 
como os AINE tradicionais, porém com diminuição do risco de eventos gastroin-
testinais. No entanto, alguns estudos clínicos evidenciaram uma ocorrência ele-
vada de eventos cardiovasculares e tromboembólicos em usuários crônicos da 
medicação. Desde o lançamento dos coxibes (celecoxibe, rofecoxib, valdecoxibe, 
parecoxibe, etoricoxibe e lumiracoxibe), tem-se questionado se tais eventos esta-
riam relacionados a eventos de classe e/ou relação dose-efeito, como também se a 
aspirina poderia interferir nesses eventos. Outra questão levantada foi se os AINE 
tradicionais poderiam apresentar riscos semelhantes aos coxibes.
23
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
No aparelho cardiovascular se observam altas concentrações de COX-1 em pla-
quetas e células endoteliais vasculares. Essa enzima é responsável pela produção de 
tromboxano A2 (TX A2), resultando em potencial efeito pró-trombótico, promovendo 
o aumento na agregação e adesão plaquetária, estando ainda associada à vasocons-
trição e ao remodelamento vascular. A COX-2 resulta na formação de prostaciclinas, 
promovendo efeito antitrombótico, vasodilatação e redução da agregação e adesão 
de plaquetas. Mais recentemente se identificou a COX-2 em amostras obtidas de pla-
cas ateromatosas coronarianas e carotídeas, reforçando a participação dessa enzima 
no processo inflamatório aterosclerótico. Dessa maneira, esses sistemas enzimáticos 
mantêm um equilíbrio entre os processos hemorrágicos e a trombose.
• Renal: os AINE podem induzir Insuficiência Renal Aguda (IRA) de duas diferen-
tes maneiras: hemodinamicamente mediada ou por nefrite intersticial (frequen-
temente acompanhada de síndrome nefrótica). Esses efeitos estão diretamente 
relacionados à redução da síntese de PGs induzida pelos AINE. Embora as PGs 
renais sejam primariamente vasodilatadoras, elas não apresentam papel principal 
na regulação da hemodinâmica renal, já que a síntese basal é relativamente bai-
xa. Entretanto, a liberação desses hormônios (particularmente a prostaciclina e a 
PGE2) está aumentada em doenças glomerulares subjacentes, insuficiência renal, 
hipercalcemia e por substâncias vasoconstritoras (angiotensina II e norepinefrina). 
A secreção desses últimos hormônios é aumentada em estados de depleção de 
volume (como insuficiência cardíaca congestiva, cirrose e perda de água e sal pelo 
trato gastrointestinal ou renal). Nesses contextos, as PGs vasodilatadoras agem 
preservando o fluxo renal sanguíneo e a filtração glomerular por diminuição da 
resistência pré- glomerular. Isso é particularmente importante quando existe de-
pleção de volume efetivo, situação em que as PGs antagonizam o efeito vasocons-
tritor da angiotensina II e da norepinefrina. Na doença glomerular, entretanto, o 
aumento na produção de PGs parece manter a taxa de filtração glomerular na 
presença de importante redução na permeabilidade do capilar glomerular;
• Hepático: elevações de transaminases são comumente associadas com o uso 
de AINE, entretanto, insuficiência hepática é muito rara. Pacientes com Artrite 
Reumatoide (AR), quando comparados com pacientes com osteoartrite (OA), 
ambos em uso de AINE, têm risco dez vezes maior de injúria hepática aguda. 
Exposição concomitante com outras medicações hepatotóxicas provavelmente 
aumenta o risco de dano hepático em pacientes com AR. Hepatite tem sido 
relacionada ao uso do diclofenaco, incluindo FAN positivo e evidência histoló-
gica de hepatite crônica ativa. Recomenda-se a dosagem das enzimas e testes 
de função hepáticas oito semanas após o início da terapia crônica com AINE. 
A monitorização sintomática não é suficiente, já que sintomas hepáticos são 
raros. Os AINE devem ser suspensos nas seguintes situações: aumento das ami-
notransferases maior que três vezes o valor de normalidade, queda sérica da 
albumina (sugestivo de defeito de síntese induzido pela droga) ou se o tempo de 
protrombina estiver prolongado.
• Pulmonar: os AINE raramente induzem problemas pulmonares, embora a atual 
incidência de eventos adversos seja desconhecida. As principais reações pul-
24
25
monares que podem ocorrer incluem: broncoespasmo (em indivíduos sensíveis 
a aspirina) e infiltrados pulmonares com eosinofilia. Os infiltrados pulmonares 
têm uma típica apresentação de febre, tosse, dispneia e eosinofilia periférica 
 absoluta. Na avaliação patológica são encontrados granulomas mal definidos 
com infiltração eosinofílica. Glicocorticoides são necessários ao longo da inter-
rupção da droga e para reversão do processo.
• Hematológico: a neutropenia é uma complicação infrequente com o uso de 
AINE, ocorrendo em menos de 1% dos pacientes. Os AINE devem ser evitados 
em pacientes com defeitos plaquetários prévios (secundários a uremia ou doença 
de von Willebrand) e naqueles com trombocitopenia (contagem < 50.000/µL). 
AINE não acetilados ou inibidores seletivos da COX-2 são uma alternativa segura 
para esses pacientes. AINE devem ser suspensos no período pré-operatório por 
um tempo equivalente a quatro a cinco vezes o tempo de meia-vida.
• Sistema nervoso central: os efeitos dos AINE no Sistema Nervoso Central 
(SNC) incluem meningite asséptica, psicose e disfunção cognitiva. Esses dois últi-
mos são mais comuns em pacientes idosos, particularmente com o uso da indo-
metacina. Meningite asséptica parece ser mais prevalente em paciente com lúpus 
eritematoso sistêmico em tratamento com AINE (em geral, ibuprofeno e napro-
xeno). Manifestações oculares por uso de AINE não têm relevância clínica. Pode 
ocorrer deposição de cristais da droga na córnea e, raramente, desenvolvimento 
de edema de córnea. Esse último é reversível, embora possa afetar a visão.
• Pele: várias reações de pele podem ocorrer com o uso de AINE. Reação severa, 
como a síndrome de Steven-Johnson, é incomum. Rash morbiliforme e urticária 
também são encontradas com o uso dessa classe de drogas.
A dipirona não diminui as prostaglandinas da inflamação aguda, não apresentando 
um efeito anti-inflamatório importante. Porém, ela diminui as prostaglandinas que 
produzem algia (dor), por isso a dipirona é classificada como um potente analgésico 
simples. Vale ressaltar que, apesar da baixa incidência de hipersensibilidades, alguns 
pacientes podem ser alérgicos, devendo ser abordada essa questão durante a anam-
nese do paciente.
Veja o vídeo sobre inflamação e eicosanoides. Disponível em: https://youtu.be/P0ul8zRdBo0
A aspirina, ácido acetilsalicílico, é o AINE mais antigo e amplamente estudado, po-
rém é considerado separadamente dos demais, por seu uso predominante no trata-
mento das doenças cardiovasculares e cerebrovasculares em doses baixas. Devido a 
sua toxicidade (principalmente intolerância gastrointestinal), procurou-se sintetizar 
outras substâncias com menores efeitos adversos e, assim, desenvolveu-se o primeiro 
anti-inflamatório não salicilato,a fenilbutazona, que foi pouco usado por causa de 
seus efeitos colaterais, e logo surgiu a indometacina, outro derivado não salicilado, 
com intensas ações analgésicas e anti-inflamatórias, desenvolvido para substituir a 
fenilbutazona. E, a partir desse período, novos fármacos, acídicos ou não, pas-
saram a ser sintetizados, procurando-se encontrar cada vez mais eficácia e menos 
25
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
efeitos indesejáveis, principalmente gastrointestinais, e entre eles estão: naproxeno, 
cetoprofeno, ibuprofeno, piroxicam, tenoxicam, meloxicam, diclofenaco, ace-
clofenaco, sulindaco, nimesulida e muitos outros. Esses, nos dias atuais, têm sido 
denominados de AINE tradicionais. 
A seguir, uma tabela com o resumo dos AINE.
Tabela 1 – Classificação dos anti-inflamatórios não esteroides 
segundo sua seletividade para a ciclo-oxigenase
Anti-inflamatórios não Esteroides – Classificação
Não seletivos (COX-1 e 2) 
(tradicionais, convencionais)
Seletivos (COX-2) 
(COXIBEs)
Aspirina Rofecoxibe (Vioxx)
Acetaminofeno Valdecoxibe (Bextra)
Indometacina (Indocid) Parecoxibe
Ibuprofeno (Motrin, Dalsy) Celecoxibe (Celebra)
Naproxeno (Naprosin) Etoricoxibe (Arcoxia)
Sulindac (Clinoril) Lumiracoxibe (Prexige)
Diclofenaco (Voltaren)
Piroxicam (Feldene)
β-Piroxicam (Cicladol)
Meloxicam (Movatec)
Cetoprofeno (Profenid)
Fonte: Adaptado de BATLOUNI, 2010
Anti-Inflamatórios Esteroidais (AIE)
Os glicocorticoides são hormônios esteroides que exercem suas funções fisiológi-
cas por meio de sua ligação ao receptor citosólico de glicocorticoides amplamente 
distribuídos. Os receptores são membros da superfamília de receptores nucleares 
e regulam a transcrição; são citoplasmáticos em complexo com proteínas Hps90. 
Quando há a ligação com o receptor, ocorre uma alteração conformacional que 
permite a dissociação da proteína, direcionando-se para o núcleo onde interage 
com proteínas nucleares e com o DNA. Como homodímero, liga-se a elementos de 
resposta dos glicocorticoides nos promotores dos genes responsivos. Além dessas 
ligações, há a formação de outros fatores de transcrição (AP-1 e NF-KB) que ativam 
sobre os promotores que não têm os elementos de resposta. Eles medeiam os efeitos 
anticrescimento, transcrição dos fatores de crescimento e citocinas inflamatórias.
Os hormônios esteroidais afetam o metabolismo de maneira significativa. Podem 
ser classificados em aqueles que têm efeito sobre o metabolismo intermediário e fun-
ção imune (glicocorticoides), aqueles cuja atividade principal consiste na retenção do 
sal (mineralocorticoides) e aqueles que têm atividades androgênicas e estrogênicas. 
Vamos nos deter, contudo, aos glicocorticoides. O principal corticoide de ocorrência 
natural secretado pelo córtex da suprarrenal é o cortisol.
26
27
Os efeitos fisiológicos do cortisol incluem a resposta do músculo liso vascular e 
brônquico, a diminuição da catecolamina na presença do cortisol, assim como as 
respostas lipolíticas das células adiposas A catecolaminas ao ACTH e ao hormônio 
do crescimento, que são atenuados na presença de glicocorticoides.
Os efeitos metabólicos dos glicocorticoides incluem o metabolismo dos carboidratos, 
lipídeos e proteínas, estimulam a gliconeogênese, realizam a síntese do glicogênio no 
jejum e estimulam a liberação de aminoácidos no catabolismo muscular. Com os glico-
corticoides, há um aumento da glicose no sangue, o que leva à secreção de insulina que 
estimula tanto a lipogênese quanto inibe a lipólise, levando a um aumento de liberação 
da gordura e a um aumento da liberação de ácido graxo e glicerol na circulação. Esses 
fármacos também apresentam efeitos catabólicos e anabólicos que são representados 
pela síntese de RNA e proteínas ligadas ao fígado, exercendo efeitos catabólicos no 
músculo, na gordura periférica e na pele. Podem causar diminuição de massa na mus-
culatura e um adelgaçamento na pele.
Efeitos Anti-Inflamatórios e Imunossupressores
Os efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores exercidos por esses fármacos 
são de extrema importância. Há diminuição da inflamação por causa dos efeitos 
na distribuição e função dos leucócitos, bem como dos efeitos supressores sobre as 
citocinas e as quimiocinas inflamatórias. Eles inibem também a interação entre as 
moléculas de adesão e as células endoteliais que causam o exsudato e a inflamação.
São exemplos de glicocorticoides: hidrocortisona, cortisona, corticosterona, 
prednisolona, prednisona, metilprednisolona, triancinolona, dexametasona, 
betametasona, desoxicortona e fludrocortisona.
O seu efeito deve-se à modificação da atividade de vários genes e as proteínas 
produzidas a partir deles. A terapia farmacológica com glicocorticoides está indica-
da para duas finalidades principais: terapia de reposição nos casos de insuficiência 
suprarrenal e inibição da inflamação crônica, além da inibição das respostas imunes 
em casos de alergias, autoimunidade e rejeição a transplante. 
Como os níveis farmacológicos de glicocorticoides sistêmicos resultam invariavel-
mente em efeitos adversos graves, foram desenvolvidas estratégias para minimizar 
essas respostas adversas aos glicocorticoides, enfocando a administração local de 
glicocorticoides na área ou nas áreas que necessitam de tratamento, portanto as 
vias de administração podem ser VO, IV, IM e tópica, a depender da gravidade e da 
 necessidade do paciente. Deve ser ajustada a posologia e a melhor via de administra-
ção de acordo com cada caso/patologia.
O mecanismo de ação dos AIE ocorre ao encontrarem com seu receptor de glico-
corticosteroide no citoplasma e migrarem para o núcleo das células. Exercem seu efeito 
anti-inflamatório e imunossupressor, estimulando a expressão gênica de lipocortina que 
inibe as enzimas fosfolipase A2 e lipoxigenase (cascata da inflamação), resultando na 
diminuição da produção de prostaglandinas, leucotrienos e fator de ativação plaquetária. 
27
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
Fosfolípides
Glicocorticoides
Cicloxigenases5 – Lipoxigenase
Fosfolipase A2
Peroxidase
15 – LO
Lipoxina A Lipoxina B Leucotrieno A4
Tromboxane
(TxA2) (TGI2)
PGE2
PGF2
PGD2
Prostaciclina Prostaglandina
Leucotrieno B4
Ácido araqudônico
15 – HPETE 5 – HPETE PGG2
PGH2(LTA4)
(LTB4)
LTC4
LTD4
LTE4
Figura 10 – Cascata do ácido araquidônico
Além disso, produzem uma regulação negativa dos genes das citocinas nos ma-
crófagos, células endoteliais e linfócitos, o que leva à menor produção de interleuci-
nas (IL-1, -2, -3, -6), TNF, GM-CSF e interferon, promovendo assim a supressão da 
proliferação dos fibroblastos, da função dos linfócitos T, além de interferir na quimio-
taxia dos macrófagos.
Há um aumento da concentração de neutrófilos circulantes, que leva seu maior 
influxo para o sangue vindo da medula óssea, e uma diminuição da concentração 
de linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos (pela movimentação do leito vascular 
para o tecido linfoide). Há também uma inibição da função dos macrófagos e células 
apresentadoras de antígenos que leva a uma não produção de FTNa, IL-1, metalo-
proteínas e ativadores de plasminogênio. 
Os glicocorticoides levam, também, a uma vasoconstrição quando ocorre a supressão 
da degranulação dos mastócitos (a diminuição da histamina circulante leva a uma di-
minuição da permeabilidade capilar), além de levar à ativação do complemento. Esses 
fármacos reduzem a expressão da COX-2 nas células inflamatórias com a consequente 
diminuição da quantidade de enzima disponível para a formação de prostaglandinas.
Figura 11 – Mecanismo de ação dos glicocorticoides
Fonte: pdfs.semanticsholar.org
28
29
Os efeitos adversos atingem vários sistemas do nosso organismo, tais como o 
SNC, cujas alterações são convulsões, excitabilidade e insônia. Já no sistema imu-
nológico ocorre o favorecimento a infecções no sistema digestivo, pode surgir o 
aparecimento de úlcera péptica, perfurações intestinaise pancreatite, e nos olhos 
pode ocorrer aumento da pressão intraocular e evoluir para glaucoma, catarata sub-
capsular e exacerbação de infecções. No sistema cardiovascular, podem aparecer a 
hipertensão e fragilidade capilar. No músculo esquelético, perda da massa muscu-
lar, miopatia, osteoporose e fraturas espontâneas no sangue, a hipercoagulabilidade 
e tromboembolismo. Na pele: atrofia da pele, estrias cutâneas, acnes, hirsutismo, 
equimoses e cicatrização lenta. Uma característica de síndrome desencadeada pelo 
uso contínuo dos glicocorticoides é a Síndrome de Cushing, e podemos incluir como 
efeito adverso: degeneração muscular periférica, obesidade central, face de lua cheia, 
dobras gordurosas supraclaviculares e dorsocervicais, estrias abdominais pigmenta-
das, acnes, hirsutismo, pletora facial, fragilidade capilar e hematomas, hipertensão, 
intolerância a glicose, hipocalcemia, arteriosclerose, infecção, distúrbios neuropsiqui-
átricos e osteoporose quando há excesso de glicocorticoides.
Deve-se ter bastante cuidado com glicocorticoides, pois o uso prolongado de glico-
corticoides resulta em efeitos colaterais sistêmicos e supressão do eixo hipotalâmico-
-hipófise-adrenal. A suspensão do tratamento com glicocorticoide pode resultar em 
quadro de insuficiência adrenocortical e na “síndrome de retirada ou deprivação de 
corticoesteroides”. A suspensão abrupta de terapia com glicocorticoide pode resultar 
em “crise adrenal aguda”, podendo levar a desidratação, hipotensão e choque, taqui-
cardia, náusea, vômito, anorexia, fraqueza, apatia, hipoglicemia, confusão mental 
e desorientação. 
Resumo dos glicocorticoides. Disponível em: https://bit.ly/3bgFYeP
Fármacos Utilizados para Contracepção, 
Androgênios e Antiandrogênios
Quando, em um ciclo menstrual normal, ocorre a fecundação e, consequente-
mente, a gestação, o próprio corpo da mulher se encarrega de impedir naturalmente 
que ocorra uma nova ovulação, para assegurar que o embrião se desenvolva. Isso 
acontece porque, durante a gravidez, os altos níveis de hCG estimulam a secreção 
de progesterona e estrógeno, que, por sua vez, inibem a produção de LH e FSH. 
O principal mecanismo de ação dos anticoncepcionais orais de uso diário é justa-
mente a manutenção de níveis hormonais constantes (progesterona e estrógeno), 
assim como ocorre durante a gestação.
Os anticoncepcionais ou contraceptivos orais são fármacos que impedem a gravi-
dez, por simularem que o organismo da mulher não pode ovular.
29
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
Os contraceptivos hormonais, em sua maioria compostos por estrogênio e proges-
terona sintéticos, agem sobrepujando os hormônios que desencadeiam a ovulação. Es-
ses anticoncepcionais têm a função de manter níveis constantes de progesterona e es-
trogênio, que inibem a secreção hipofisária de LH e FSH por meio de um mecanismo 
chamado de “feedback” (ou retroalimentação), mantendo os óvulos “adormecidos”.
Os anticoncepcionais orais (ACOs) mais comumente usados no Brasil são os 
 monofásicos, isto é, todos os comprimidos ativos têm a mesma composição e dose 
de progesterona e estrógeno. A maioria contém 21 comprimidos, que devem ser 
 tomados diariamente, a partir do primeiro ao quinto dia do ciclo menstrual, com 
pausa de 7 dias e início de uma nova cartela após cada pausa. Esse esquema imita 
um ciclo menstrual de 28 dias, semelhante à média da população.
Quando, por conveniência ou não, a mulher não faz a pausa entre as cartelas, 
não há queda dos níveis hormonais, portanto, não acontece o sangramento. A pausa 
não interfere no bloqueio hormonal causado pelo uso do anticoncepcional, portanto, 
administrar ininterruptamente duas ou mais cartelas não influencia na proteção as-
segurada pelo uso contínuo do anticoncepcional, mas é uma prática que deve ser 
acompanhada e indicada pelo ginecologista.
São dois os tipos de preparações para contracepção oral: combinações de estró-
genos e progestágenos e terapia contínua com apenas progestágenos. No entanto, os 
mais utilizados e mais eficazes são os combinados, que contêm os dois tipos de hor-
mônio. Essa combinação de estrogênio e progesterona exerce um efeito contraceptivo, 
impedindo a ovulação, pois age reprimindo a liberação dos hormônios LH e FSH.
Os anticoncepcionais orais combinados, mais utilizados no Brasil, encontram-se dis-
poníveis em diferentes preparações: monofásica, difásica e trifásica. Os mais modernos 
e mais utilizados estão disponíveis em uma cartela (ou blíster) que contém 21 compri-
midos, com as mesmas doses de estrogênio e progesterona. Esses anticoncepcionais 
orais modernos também são conhecidos como anticoncepcionais de baixa dosagem, 
pois contêm 30 mg ou menos de estrogênio. A dose de progestágeno possui maior 
variação, mas normalmente contém em torno de 0,1 mg ou menos desse componente.
Como principal efeito adverso em mulheres com predisposição a doenças car-
diovasculares está a trombose arterial. Esse risco está diretamente relacionado ao 
estrogênio presente na composição desses medicamentos. Mulheres hipertensas, 
fumantes ou com idade superior a 35 anos estão mais propensas a ter um Acidente 
Vascular Encefálico (AVE) isquêmico e hemorrágico. 
Na Europa e em países desenvolvidos, por exemplo, cerca de 13% dos casos de 
AVE em mulheres com idade entre 20 e 44 anos estão associados ao uso de ACOs. 
Uma associação entre os contraceptivos hormonais e o aumento do risco de infecções 
do trato genital inferior, causadas por clamídea e monília, além de doença inflama-
tória pélvica, tem sido feita. Observou-se que os efeitos dos hormônios presentes são 
variados e dependem diretamente do patógeno envolvido. Há, também, a depleção 
de nutrientes, principalmente nas adolescentes, que apresentam um rápido cresci-
mento, desenvolvimento físico e produção energética, portanto, precisam de aumento 
das necessidades nutricionais, vitamínicas e minerais. Outra desvantagem é que esse 
30
31
 medicamento está associado a casos de trombose mesentérica, sendo mencionado 
como causa de infarto intestinal há mais de um século. As tromboses venosas e as 
arteriais também têm sido associadas. Fatores como estase sanguínea e a hipercoagu-
labilidade são responsáveis pela estimulação do tromboembolismo venoso, ao passo 
que a trombose arterial será desencadeada por lesão do endotélio. O risco a essa 
patologia está relacionado à dose do componente estrogênico, o etinilestradiol, que, 
quando presente na corrente sanguínea, provoca aumento na formação da trombina, 
assim como elevação dos fatores de coagulação e diminuição dos inibidores, gerando 
efeito pró-coagulante leve. O uso precoce de métodos anticoncepcionais (antes do 
completo desenvolvimento do trato genital feminino) pode ser um fator importante 
no desenvolvimento do câncer de colo de útero. Mulheres que utilizam os méto-
dos contraceptivos hormonais por tempo prolongado (mais que 12 anos) terão risco 
 aumentado para desenvolver adenocarcinoma in situ do colo uterino.
Assista ao vídeo sobre anticoncepcionais hormonais. 
Disponível em: https://youtu.be/rah-CL5ut4E
Andrógenos e Antiandrógenos
Os esteroides androgênicos referem-se aos hormônios sexuais masculinos. O ter-
mo androgênico é de origem grega, andro significa “homem”, e gennan, “produzir”. 
Assim, a definição biológica de um androgênio é qualquer substância que produz es-
pecificamente o crescimento das gônadas masculinas. Na espécie humana, existem 
quatro formas principais de androgênios circulantes: a testosterona, di-drotestosterona, 
androstenediona, deidroepiandrosterona (DHEA) e seu derivado sulfatado. 
Fórmula estrutural da testosterona. Disponível em: https://bit.ly/3bgGolp
As ações da testosterona e dos andrógenos correlatos podem ser divididas em duas 
categorias principais: efeitos androgênicos, relacionados especificamente com a fun-
ção reprodutora e com as características sexuais secundárias, e efeitos anabólicos, que 
dizem respeito ao aumento de força emassa muscular, de maneira geral, à estimula-
ção do crescimento e maturação dos tecidos não reprodutores. Deve-se salientar que 
mecanismos intracelulares semelhantes, via único tipo de receptor, participam dessas 
duas categorias de efeitos, não havendo, portanto, a possibilidade de dissociá-los. 
Além dos esteroides androgênicos endógenos, existem os esteroides anabolizantes 
ou Esteroides Anabólicos Androgênicos (EAA). Essas substâncias sintéticas, forma-
das a partir da testosterona ou um de seus derivados, são utilizadas na medicina há, 
pelo menos, cinco décadas, e sua indicação terapêutica está associada a quadros de 
hipogonadismo e deficiência do metabolismo proteico. Além disso, são amplamente 
utilizados no meio desportivo com o objetivo de melhorar o desempenho atlético.
Assim como os endógenos, possuem tanto atividade anabólica quanto andro-
gênica, sendo que a relação anabólica:androgênica varia de acordo com o tipo de 
31
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
substância utilizada. Podemos citar como substâncias anabólicas: testosterona, 
 metiltestosterona, metandrostenolona, oximetolona, oxandrolona, nandrolona 
e estanozol. São indicados para o tratamento de hipogonadismo nos homens para 
aumentar a concentração de testosterona e derivados essenciais ao desenvolvimento 
e manutenção de características sexuais masculinas. O tratamento com tais subs-
tâncias também é recomendado nos casos de puberdade e crescimento retardados, 
micropênis neonatal, deficiência androgênica parcial em homens idosos e no trata-
mento da deficiência androgênica secundária a doenças crônicas.
Seus principais efeitos colaterais ocorrem com o uso indiscriminado por homens 
e atletas que fazem uso prolongado, o que pode levar à morte. Outras considera-
ções são a atrofia do tecido testicular, causando infertilidade e impotência, tumores 
de próstata, ginecomastia, devido à maior quantidade de hormônio androgênico 
convertido a estrogênio pela ação da aromatase; dificuldade ou dor para urinar e 
hipertrofia prostática. Na mulher, manifesta-se a masculinização, evidenciada pelo 
engrossamento de voz e crescimento de pelos no corpo no padrão de distribuição 
masculino; irregularidade menstrual e aumento do clitóris. 
Outras alterações, comuns a ambos os sexos, que também podem manifestar-
-se, são: calvície, aparecimento de erupções acneicas; fechamento epifisário pre-
maturo, aumento da libido; ruptura de tendão, devido ao aumento exagerado de 
massa muscular sem equivalente desenvolvimento do tecido tendinoso, alterações no 
 metabolismo lipídico, aumentando os níveis de LDL (lipoproteína de baixa densida-
de) e diminuindo os de HDL (lipoproteína de alta densidade).
Antiandrógeno
Antiandrógenos, também conhecidos como antagonistas de andrógenos ou blo-
queadores de testosterona, são uma classe de medicamentos que previne os andró-
genos, como a testosterona e a di-hidrotestosterona (DHT), de mediar seus efeitos 
biológicos no organismo. Eles agem bloqueando o Receptor Androgênico (RA) e/
ou inibindo ou suprimindo a produção de andrógenos. Eles podem ser considerados 
os opostos funcionais de agonistas de RA, por exemplo, andrógenos e esteroides 
anabolizantes, como testosterona, DHT e nandrolona. Antiandrogênios são um dos 
três tipos de antagonistas de hormônios sexuais, sendo os outros o antiestrogênio e 
o antiprogestógeno. Antiandrógenos são usados para tratar uma variedade de con-
dições dependentes de andrógenos. Nos homens, os antiandrogênicos são usados 
no tratamento do câncer de próstata, próstata aumentada, perda de cabelo no couro 
cabeludo, impulso sexual excessivamente alto, impulsos sexuais incomuns e proble-
máticos e puberdade precoce.
• Enzalutamida e apalutamida: esses medicamentos são novos tipos de an-
tiandrógenos. Eles são administrados por via oral diariamente. Podem ser úteis 
em homens cujo tumor não está mais respondendo a outras formas de terapia 
hormonal (câncer de próstata resistente à castração). A enzalutamida pode ser 
usada tanto para câncer metastático ou não metastático, enquanto a apalutamida 
é geralmente usada para câncer não metastático;
32
33
• Estrogênios (hormônios femininos): foram a principal alternativa à orquiectomia 
para homens com câncer de próstata avançado. Mas, devido aos seus possíveis 
efeitos colaterais, estão sendo substituídos por outros tipos de hormonioterapia;
• Cetoconazol: utilizado anteriormente no tratamento de infecções fúngicas, 
bloqueia a produção de determinados hormônios, como os androgênios, de 
forma similar ao abiraterone. É mais frequentemente utilizado no tratamento 
de homens diagnosticados com câncer de próstata avançado, por permitir a 
redução dos níveis de testosterona mais rapidamente.
Os efeitos colaterais incluem a diminuição ou ausência da libido, disfunção erétil 
(impotência), diminuição dos testículos e do pênis, ondas de calor, sensibilidade e cres-
cimento do tecido mamário, osteoporose, anemia, diminuição da agilidade mental, 
perda de massa muscular, ganho de peso, fadiga, aumento do colesterol e depressão.
Farmacologia da Paratireoide e Vitamina D
A tireoide é uma glândula endócrina localizada no pescoço, abaixo da laringe, 
na superfície ventral da traqueia. A principal função da glândula tireoide consiste na 
síntese dos hormônios tireoidianos T3 e T4. O iodeto é um oligoelemento e compo-
nente crucial da estrutura do hormônio tireoidiano. Embora a T4 seja o hormônio 
tireoidiano predominante encontrado no sangue, a T3 possui quatro vezes a atividade 
fisiológica da T4 nos tecidos-alvo.
Os hormônios da tireoide exercem efeitos em praticamente todas as células do 
organismo. Embora a maioria dos efeitos dos hormônios tireoidianos provavelmente 
ocorra em nível da transcrição gênica, há evidências crescentes de que esses hor-
mônios também atuam na membrana plasmática. Ambas as formas de ação são 
mediadas pela ligação do hormônio a receptores de hormônio tireoidiano (TR). O 
hormônio livre penetra na célula por difusão passiva e por transporte ativo, sendo 
este último mediado por carreadores específicos e inespecíficos do hormônio, como 
ânion orgânico e transportadores monocarboxílicos.
Figura 12 – Aspectos anatômicos da glândula tireoide
Fonte: Divulgação | ufjf.br
33
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
O hormônio tireoidiano é importante na lactância para o crescimento e o desen-
volvimento do sistema nervoso. A deficiência congênita de hormônio tireoidiano 
resulta em cretinismo, uma forma de retardo mental grave, porém passível de pre-
venção. No adulto, o hormônio tireoidiano regula o metabolismo corporal geral e 
o consumo de energia. As enzimas reguladas pelo hormônio tireoidiano incluem a 
Na+/K+ ATPase e muitas das enzimas do metabolismo intermediário, tanto anabólico 
quanto catabólico. Na presença de altos níveis de hormônio tireoidiano, esse efeito 
pode resultar em ciclo fútil e em consequente aumento da temperatura corporal. 
Por outro lado, os baixos níveis de hormônio tireoidiano resultam em mixedema, 
um estado hipometabólico caracterizado por letargia, ressecamento da pele, voz gros-
seira e intolerância ao frio. A sua função é estimular o metabolismo basal das células 
por meio de vários mecanismos. Dentre eles, temos: aumento do número e tamanho 
das mitocôndrias, o que disponibiliza mais ATP para as células; aumento no trans-
porte de íons, principalmente através da bomba Na/K ATPase, o que consome ATP 
e, portanto, aumenta o calor liberado pelas células. Um maior metabolismo necessita 
de mais energia, dessa forma, há aumento no catabolismo (degradação) de carboi-
dratos e lipídeos, aumentando, consequentemente, o apetite. Uma maior transcrição 
gênica leva à formação de mais enzimas, o que acelera o metabolismo e aumenta a 
necessidade de vitaminas (coenzimas) pelo corpo. Uma maior necessidade de energia 
leva a um maior fluxo cardíaco, frequência cardíaca, contratilidade cardíaca e pressãoarterial, o que, portanto, aumenta o aporte de oxigênio para as células.
O hormônio de liberação da tireotropina (TRH) é um tripeptídio secretado 
pelo hipotálamo que é transportado até a adeno-hipófise pela circulação porta 
hipotalâmico-hipofisária. O TRH liga-se a um receptor acoplado à proteína G, 
localizado sobre a membrana plasmática dos tireótrofos da adeno-hipófise ou 
 células produtoras de TSH. Essa ligação estimula uma cascata de transdução de 
sinais que finalmente promove a síntese e a liberação do hormônio tireoestimu-
lante (TSH). O TSH é o mais importante regulador direto da função da glândula 
tireoide. O TSH estimula todos os aspectos conhecidos da síntese de hormônio 
tireoidiano, incluindo captação de iodeto, organificação, acoplamento, internalização 
da tireoglobulina e secreção dos hormônios tireoidianos. Além disso, o TSH pro-
move aumento da vascularização e crescimento da glândula tireoide. 
Em condições patológicas nas quais o TSH ou um simulador de TSH é secretado 
em altos níveis, a glândula tireoide pode aumentar e atingir várias vezes o seu ta-
manho normal, resultando em hipertrofia difusa característica da glândula tireoide, 
conhecida como bócio.
Figura 13 – Estrutura química da tiroxina
Fonte: Wikimedia Commons
34
35
A fisiopatologia das doenças da tireoide pode ser compreendida como um distúr-
bio do eixo fisiológico hipotalâmico-hipofisário-tireoide. Por exemplo, uma diminui-
ção fisiológica dos hormônios tireoidianos, normalmente, ativa a síntese e a liberação 
de TSH, resultando em liberação aumentada dos hormônios tireoidianos pela glân-
dula tireoide e em normalização dos níveis de hormônios tireoidianos. A patologia 
da glândula tireoide também pode causar insuficiência de hormônio tireoidiano, que 
também diminui a retroalimentação negativa do hormônio tireoidiano sobre a libe-
ração de TSH. Embora os níveis de TSH estejam consequentemente elevados, não 
há aumento na liberação de hormônios tireoidianos, uma vez que a glândula tireoide 
é incapaz de responder. As doenças da tireoide são, em sua maioria, mais bem clas-
sificadas em afecções que resultam em aumento (hipertireoidismo) ou diminuição 
(hipotireoidismo) da secreção de hormônios tireoidianos. A doença de Graves e a 
tireoidite de Hashimoto são duas doenças comuns da tireoide. Acredita-se que ambas 
tenham origem autoimune, entretanto, a doença de Graves provoca hipertireoidismo, 
e a tireoidite de Hashimoto resulta, finalmente, em hipotireoidismo.
Outras causas de hipotireoidismo e de hipertireoidismo incluem anomalias de 
desenvolvimento, tireoidite subaguda (Síndrome de De Quervain) e adenomas e car-
cinomas da tireoide. Os detalhes das fisiopatologias subjacentes diferem, porém a 
intervenção farmacológica, em cada caso, baseia-se em determinar se o paciente é 
hipotireoideo, eutireoideo ou hipertireoideo.
O tratamento farmacológico da fisiopatologia da glândula tireoide envolve a reposição 
do hormônio tireoidiano deficiente ou um antagonismo do hormônio tireoidiano presen-
te em quantidades excessivas. A reposição é evidente por si própria, enquanto os antago-
nistas atuam em múltiplas etapas na síntese e ação do hormônio tireoidiano. Além disso, 
diversos agentes farmacológicos utilizados para indicações de doenças não tireoidianas 
exercem efeitos importantes sobre o metabolismo periférico dos hormônios da tireoide.
Tratamento do Hipotireoidismo
O hormônio tireoidiano, normalmente usado em longo prazo, constitui uma 
 terapia bem estabelecida e segura para tratamento do hipotireoidismo, cujo objetivo 
é repor a falta de hormônio tireoidiano endógeno com administração regular de 
hormônio tireoidiano exógeno. 
O hormônio tireoidiano exógeno, que é produzido por síntese química, é estrutu-
ralmente idêntico ao hormônio tireoidiano endógeno (geralmente, T4). A disponibi-
lidade de um grande reservatório de “pró-fármaco” tireoidiano (T4) no plasma pode 
ser importante, convertido em T3, talvez como tampão efetivo para normalizar o 
metabolismo em uma ampla variedade de condições. Em segundo lugar, a meia-vida 
da T4 é de seis dias, em comparação com a meia-vida de um dia da T3.
A meia-vida prolongada da T4 permite ao paciente tomar apenas uma pílula 
de reposição de hormônio tireoidiano por dia. Por essas razões, a levotiroxina, o 
 L-isômero de T4, constitui o tratamento de escolha para o hipotireoidismo. 
35
UNIDADE Farmacologia dos Quimioterápicos, Dor, Inflamação e Hormônios 
A eficácia da reposição de hormônio tireoidiano é monitorada por meio de ensaios 
dos níveis plasmáticos de TSH e de hormônio tireoidiano. O TSH é um marcador 
acurado da atividade do hormônio tireoidiano, visto que a liberação de TSH pela 
adeno-hipófise é extremamente sensível ao controle de retroalimentação pelo hor-
mônio tireoidiano no sangue. Quando o paciente está tomando uma dose estável de 
levotiroxina, a monitoração dos níveis de TSH, geralmente, pode ser efetuada de a 
cada seis meses a um ano. 
A ocorrência de súbitas alterações nos níveis de TSH, apesar do uso constante 
de levotiroxina, pode ser devido a interações medicamentosas afetando a absorção 
e o metabolismo. Por exemplo, certas resinas, como o polistireno sulfonato de sódio 
(Kayexelate®) e a colestiramina, podem diminuir a absorção de T4. Os fármacos que 
aumentam a atividade de certas enzimas P450 hepáticas, incluindo rifampicina e 
fenitoína, aumentam a excreção hepática de T4. Nesses casos, pode ser necessário 
aumentar a dose suplementar de T4 para manter um estado eutireoideo. 
Leia o artigo “Aspectos farmacológicos da levotiroxina sódica: uma breve revisão”.
Disponível em: https://bit.ly/3gURWga
Tratamento do Hipertireoidismo
Existem agentes farmacológicos direcionados para cada etapa na síntese dos hor-
mônios tireoidianos, desde a captação inicial de iodeto, a organificação e o acopla-
mento, até a conversão periférica de T4 em T3. Clinicamente, dispõe-se de iodeto 
radioativo e de tioaminas para o tratamento do hipertireoidismo. Algumas vezes, 
são também utilizados antagonistas adrenérgicos para melhorar alguns dos sintomas 
do hipertireoidismo. Inibidores da Captação de Iodeto: O iodeto é transportado 
até a célula folicular da tireoide por meio de um simportador de Na+ /I–. Certos 
ânions com raio atômico aproximado do iodeto, como o perclorato, o tiocianato 
e o pertecnetato, competem com o iodeto pela sua captação na célula folicular da 
glândula tireoide. Isso resulta em diminuição da quantidade de iodeto disponível para 
a síntese dos hormônios tireoidianos.
Em geral, os efeitos dos inibidores da captação de ânions não são imediatamente 
aparentes, devido à grande reserva de hormônio tireoidiano pré-formado no coloide. 
Os inibidores da captação de ânions podem ser utilizados no tratamento do hiperti-
reoidismo. Esses agentes reduzem o suprimento intratireoidiano de iodeto disponível 
para a síntese dos hormônios da tireoide. Todavia, o seu uso é incomum, devido ao 
potencial de anemia aplásica, e as tioaminas são, em geral, mais efetivas. Como mui-
tos desses inibidores da captação são também empregados como meios de contraste 
radiopacos, é importante ter em mente esse antagonismo fisiológico sempre que um 
paciente tiver sintomas de hipotireoidismo após exames radiográficos extensos que 
utilizam meio de contraste.
Assista ao vídeo “Iodo e Tireoide”. Disponível em: https://youtu.be/pCfpMUYIop0 
36
37
Vitamina D
A vitamina D é um importante hormônio para a homeostase do cálcio e o metabo-
lismo ósseo. Em adição a essa ação no tecido ósseo, há evidências de que a vitamina 
D tenha papel na diferenciação celular, inibição do crescimento celular e modulação 
do sistema imune. A principal fonte de vitamina D é a exposição à radiação ultra-
violeta B (R-UV) (95%). Ainda não há consenso entre as várias sociedades científicas 
sobre os níveis séricos de vitamina D ideais para as necessidades do metabolismo 
humanos. Nos últimos anos, têm sido identificadas associações da vitamina D com 
doenças

Continue navegando