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66 TEORIA GERAL DO CRIME TIPICIDADE Crime 1ª CORRENTE: O crime é um fato típico, antijurídico e culpável. 2ª CORRENTE: O crime é um fato típico e antijurídico. Nesse caso, o fato é apenas formalmente típico. 3ª CORRENTE: Teoria Constitucionalista do Delito: O crime possui um fato formal e materialmente típico e um fato antijurídico. MOMENTOS HISTÓRICOS DA TIPICIDADE A história da tipicidade tem início no século XIX. 1ª CORRENTE: Teoria Causalista ou causalismo- final do século XIX e começo do século XX. Von Lisze (não conhecia a noção de tipicidade) e Beling (em 1906 ele constrói o conceito de tipicidade). Requisitos da tipicidade: 1. Conduta humana voluntária. Em momentos históricos passados, admitiu-se o crime cometido por animais, portanto, a conduta humana como requisito foi uma grande evolução. Se a conduta humana foi forçada ela não é um requisito para tipicidade. 2. Resultado naturalístico: Só existe nos crimes materiais. Ex.: o homicídio, porque ele exige o resultado. 3. Nexo de causalidade: Deve haver nexo causal entre a conduta e o resultado. 4. Adequação do fato à lei Todos esses requisitos são formais, ou seja, estão previstos na lei. Todo crime tem um verbo e o verbo indica uma conduta. 67 Nesse período histórico, a tipicidade era objetiva e neutra, ou seja, o tipo não é dotado de valores. Tipo é mera descrição abstrata do crime. 2ª CORRENTE: Neokantismo- século XX até 1930. Mezger escreveu o Tratado de Direito Penal e retratou toda doutrina penal. Requisitos da tipicidade: 1. Conduta humana voluntária 2. Resultado naturalístico nos crimes materiais 3. Nexo de causalidade 4. Adequação à lei Observa-se que do ponto formal, os requisitos da tipicidade são os mesmos do causalismo. Kant desenvolveu a teoria dos valores. Devido a isso, essa corrente recupera a doutrina de Kant. Para esta corrente, a tipicidade é objetiva e valorativa. O tipo penal é a conduta valorada negativamente pelo legislador. Há muitas críticas ao neokantismo, pois o conceito de tipo penal seria muito vago. A crítica é feita no sentido de dizer que o tipo penal seria valorado de acordo com o que? Quem iria dizer o que seria conduta negativa ou não? 3ª CORRENTE: Finalismo Welzel escreveu a teoria finalista do delito e prosperou nos anos 50 e 60. A obra clássica é de 1939 (época nazista em que a doutrina penal era ignorada). Com Welzel, a tipicidade é objetiva e subjetiva. Ninguém falava até então em tipicidade subjetiva. Do ponto de vista objetivo (formal), os requisitos do tipo continuam os mesmos. Do ponto de vista subjetivo, foi inserido o dolo e a culpa. Antes de Welzel, o dolo e a culpa já existiam, mas eram requisitos da culpabilidade e não da tipicidade. Críticas à corrente: Welzel colocava a culpa como requisito subjetivo, mas a culpa não é subjetiva, ela é normativa. No direito penal, subjetivo é o que está na cabeça do réu, ou seja, o dolo. Por outro lado, normativo é o que depende do juízo de valor do juiz. Portanto, diz-se que a culpa é normativa, pois é o juiz que valora. 68 Obs.: As três correntes acima dizem respeito ao pensamento antigo. Anos 70- ROXIN Roxin sintetiza a Teoria da imputação objetiva. Ele agrega novos dados a tipicidade: Criação de um risco proibido relevante. (O réu só responde se criou um risco proibido relevante) 1. O resultado decorre do risco criado (Tem que ter nexo de imputação entre o resultado e o risco criado) 2. Resultado no âmbito de proteção da norma Roxin, ao criar a teoria da imputação objetiva, não nega os requisitos formais. Anos 80- ZAFFARONI Zaffaroni cria a tipicidade conglobante. Ele respeita os requisitos formais. Para ele, o tipo penal deve ser analisado conglobadamente, ou seja, é preciso analisar todo o ordenamento jurídico. Se existe uma norma que autoriza a conduta, o que está autorizado não pode estar proibido. Ex.: art. 128, II, do CP- aborto em gravidez resultante de estupro. Como regra, o aborto é proibido no Brasil, mas há duas situações em que ele é permitido (quando há risco para vida da gestante e gravidez resultante de estupro). Nesse caso, se há uma norma que permite, o que está permitido não pode ser proibido por outra. Para Zaffaroni, essa norma que permite exclui tipicidade. Para a doutrina e jurisprudência exclui antijuridicidade. TEORIA CONSTITUCIONALISTA DO DELITO A tipicidade fica da seguinte maneira: >> É objetiva e subjetiva. A tipicidade objetiva possui dois campos: formal e material. No âmbito formal, continuam os mesmos requisitos previstos anteriormente (conduta humana voluntária, resultado naturalístico, nexo de causalidade, adequação à lei). A novidade é o campo material da tipicidade. Ele possui duas exigências: valoração da conduta e valoração do resultado (ofensa ao bem jurídico protegido- princípio da ofensividade/lesividade) pelo juiz. A conduta só é típica se criar um risco proibido relevante. 69 Exemplos: Ex.1: HC 46525- primeiro caso julgado pelo STJ onde se discutiu a comissão de formatura de MT. O STJ trancou a ação penal, arquivou o caso, pois promover uma festa de final de curso é criar um risco permitido. Nesse sentido, quem cria risco permitido não está praticando crime. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO CULPOSO. MORTE POR AFOGAMENTO NA PISCINA. COMISSÃO DE FORMATURA. INÉPCIA DA DENÚNCIA. ACUSAÇÃO GENÉRICA. AUSÊNCIA DE PREVISIBILIDADE, DE NEXO DE CAUSALIDADE E DA CRIAÇÃO DE UM RISCO NÃO PERMITIDO. PRINCÍPIO DA CONFIANÇA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ORDEM CONCEDIDA. 1. Afirmar na denúncia que "a vítima foi jogada dentro da piscina por seus colegas, assim como tantos outros que estavam presentes, ocasionando seu óbito" não atende satisfatoriamente aos requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal, uma vez que, segundo o referido dispositivo legal, "A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas". 2. Mesmo que se admita certo abrandamento no tocante ao rigor da individualização das condutas, quando se trata de delito de autoria coletiva, não existe respaldo jurisprudencial para uma acusação genérica, que impeça o exercício da ampla defesa, por não demonstrar qual a conduta tida por delituosa, considerando que nenhum dos membros da referida comissão foi apontado na peça acusatória como sendo pessoa que jogou a vítima na piscina. 3. Por outro lado, narrando a denúncia que a vítima afogou-se em virtude da ingestão de substâncias psicotrópicas, o que caracteriza uma autocolocação em risco, excludente da responsabilidade criminal, ausente o nexo causal. 4. Ainda que se admita a existência de relação de causalidade entre a conduta dos acusados e a morte da vítima, à luz da teoria da imputação objetiva, necessária é a demonstração da criação pelos agentes de uma situação de risco não permitido, não-ocorrente, na hipótese, porquanto é inviável exigir de uma Comissão de Formatura um rigor na fiscalização das substâncias ingeridas por todos os participantes de uma festa. 5. Associada à teoria da imputação objetiva, sustenta a doutrina que vigora o princípio da confiança, as pessoas se comportarão em conformidade com o direito, o que não ocorreu in casu, pois a vítima veio a afogar-se, segundo a denúncia, em virtude de ter ingeridosubstâncias psicotrópicas, comportando-se, portanto, de forma contrária aos padrões esperados, afastando, assim, a responsabilidade dos pacientes, diante da inexistência de previsibilidade do resultado, acarretando a atipicidade da conduta. 6. Ordem concedida para trancar a ação penal, por atipicidade da conduta, em razão da ausência de previsibilidade, de nexo de causalidade e de criação de um risco não permitido, em relação a todos os denunciados, por força do disposto no art. 580 do Código de Processo Penal. (HC 46525/MT, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 21/03/2006, DJ 10/04/2006, p. 245) Ex.2: Quem a 130 Km atropela alguém na Paulista diz respeito a um risco proibido, estando presente, portanto, o requisito da tipicidade. Ex.3: Teoria da confiança: Quem está cumprindo as regras de uma atividade pode confiar que os outros também cumprirão as mesmas regras. Se você dirige na Avenida Paulista a 50 km, você está criando um risco permitido. Nesse sentido, se você atropela uma pessoa numa avenida em que o trânsito está em 70 movimento e não há como parar para o pedestre passar, você não será responsabilizado por um homicídio, pois gera risco permitido. Ex.4: Venda de arma de fogo com nota fiscal. Aquele que compra a arma e mata alguém não gera responsabilidade do dono da loja, pois vender arma é risco permitido. Ex.5: Alguém diz pra você que vai matar uma pessoa, você é obrigado a impedir o crime? Não, ninguém possui essa obrigação jurídica. Com exceção do funcionário público, este deverá comunicar. Essa teoria do risco proibido nasceu, inicialmente, para os crimes culposos. Depois, passou a valer para todos os crimes. Exemplos: - Acidente do avião da gol, 154 pessoas morreram, quem gerou o risco proibido? O juiz condenou os dois pilotos do avião e o controlador de voo. - A boate Kiss: nesse caso, está entendendo que quem gerou o risco proibido foi o rapaz que soltou o sinalizador, quem o comprou, o dono da boate, dentre outros. - Lesões esportivas: precisa analisar se o risco foi permitido ou não, se estava nas regras do jogo não responde. No boxe, dentro das regras do jogo, caso o golpe gere a morte, o risco é permitido. No futebol: quando vai na bola e quebra a perna do jogador, com base no direito penal anterior também não responde, mas antes excluía antijuridicidade (exercício regular do direito). Na doutrina nova, há a exclusão da tipicidade material, pois o risco é permitido. - Roleta russa: Fazer roleta russa é gerar um risco proibido. Todos respondem por auxílio ou instigação ao suicídio. - Conhecimentos especiais do agente: no voo X da companhia Y, você descobriu que há uma bomba, então dá uma viagem à sogra e o avião explode e ela morre. Nesse caso, você responde pela morte, pois possuía conhecimentos especiais. 71 - Intervenções médicas: o médico opera uma pessoa e ela morre, aquele responde? Depende, se na hora da cirurgia ele criou um risco proibido (não fez as coisas corretas como o médico faz) ele responde. A tipicidade conglobante de Zaffaroni entra nessa regra do risco permitido. - Agente que atua para diminuir risco de maior dano: você está conversando com um amigo, há uma descida íngreme, o carro vem vindo e você nota que ele vai passar em cima do amigo e você empurra o seu amigo, o carro passa, mas ele só quebra o nariz. Nesse caso, você não responde por lesão corporal, pois atuou para diminuir o risco. Contudo, se você empurrou e a vítima bateu com a cabeça e morreu, você também não responderá. - Conduta da vítima: a autocolocação em risco por conduta própria, o agente responde? Essa teoria também foi usada no HC 46525. No circo, antigamente, tinha o quadro em que o homem jogava faca: Num determinado dia, o atirador de facas joga a faca e mata a mulher, ele responde? Em regra, ele responde por culpa. No circo, a conduta é do atirador de facas e não da vítima, portanto, não se aplica a teoria da autocolocação em risco por conduta própria. - AIDS: a mulher que aceita ter relação sexual com o homem que avisa que tem AIDS e não possui camisinha. Nesse caso, a mulher morre de AIDS, o homem responde pela morte? Roxin diz que responde pela morte, pois a vida é um bem jurídico, não adianta a vítima anuir (é o que predomina). Jácobs diz que não responde. No âmbito material, o aspecto valorativo do resultado diz que a ofensa ao bem jurídico precisa ser concreta, transcendental, significativa e intolerável. * Quando a ofensa for insignificante, aplica-se o princípio da insignificância que exclui a tipicidade material. Isso foi dito pelo ministro Celso de Melo. * Ofensa intolerável: Há ofensas toleráveis, por exemplo, lesão de animal em rodeio. Além disso, a nossa cultura permite também a orelha perfurada. * Ofensa concreta: Entra a discussão sobre o perigo abstrato. Os doutrinadores, como regra, não permitem o perigo abstrato, com exceção do perigo abstrato de perigosidade real que significa que não basta estar bêbado é preciso uma condução anormal. Mas o perigo abstrato é admitido pela jurisprudência. >>> TEORIA GERAL DO CRIME 72 >> O estudo da teoria geral do crime possibilita a compreensão dos elementos necessários à configuração do crime. >> Possibilita também a compreensão dos pressupostos para a imposição da sanção penal. 1. CRIME: CONCEITO 1.1. Sob o enfoque formal: Crime é aquilo que assim está rotulado em uma norma penal incriminadora, sob ameaça de pena. 1.2. Sob o enfoque material: Crime é comportamento humano causador de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, passível de sanção penal. 1.3. Sob o enfoque formal-material (Paulo Queiroz): é a junção dos dois conceitos acima. 1.4. Sob o enfoque analítico: Leva em consideração os elementos estruturais que compõem o crime. Hoje, prevalece que o crime é composto de fato típico, ilicitude e culpabilidade. 2. CRIME: SUBSTRATOS Humanos: - desejados - indesejados: - conduta, resultado, nexo causal, tipicidade penal Natureza O Direito Penal é norteado pelo princípio da intervenção mínima (aspecto subsidiário e fragmentário). A partir do momento que tem um fato humano indesejado, passa a ser um fato típico que aparece como primeiro substrato do crime. Quando o fato é típico, ilícito e culpável há a consequência jurídica que é a punibilidade (não integra o crime, sendo apenas a consequência). FATO TÍPICO Fato típico configura o primeiro substrato do crime. O fato típico é um fato humano indesejado, consistente numa conduta causadora de um resultado, ajustando-se a um tipo penal. Direito penal se preocupa com os fatos 73 1. Requisitos do fato típico * Conduta * Resultado * Nexo causal * Tipicidade penal Atenção: Tipicidade penal não se confunde com tipo penal. Tipicidade penal Tipo penal Operação de ajuste fato/norma Modelo de conduta proibida Tipo Penal: Descreve a conduta proibida pela norma, composto de elementos objetivos e, eventualmente, elementos subjetivos. Elementos objetivos: Dividem-se em: descritivos, normativos, científicos. Descritivos Normativos Científicos Relacionados com o tempo, lugar, modo e meio de execução do crime, descrevendo seu objeto material. Atenção: São elementos percebidos pelos sentidos. Ex.: Art. 121 do CP. Demandam juízo de valor. Atenção: Não são percebidos pelos sentidos. Ex.: Art.154 do CP (Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem) Exemplos: documento, funcionário público Art. 24 da lei 11.105/05- “embrião humano”. O conceito transcende o mero elemento normativo, extraindo-se o seu significado da ciência natural. Art. 24. Utilizar embrião humano em desacordo com o que dispõe o art. 5o desta Lei: Atenção: Não demanda juízo de valor. 74 precisam de valoração. Elementos subjetivos Estão relacionados com a finalidade específica que deve ou não animar o agente. Positivos Negativos Elementos indicando a finalidade que deve animar o agente Elementos indicando a finalidade que não deve animar o agente Exemplo: art. 33, § 3º, da lei 11.343/06 § 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro (elementos subjetivo negativo), a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem (elementos subjetivo positivo): Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. Em resumo: Elementos do tipo Objetivos Subjetivos Descritivos Normativos Científicos Positivos Negativos CONDUTA Atenção: Não há crime sem conduta. (“Nullum crimen sine conducta”). Devido a isso, temos doutrina negando a possibilidade de pessoa jurídica praticar crime. Teoria causalista (teoria causal naturalista/teoria clássica/teoria naturalística/teoria mecanicista) 75 Idealizada por Von Liszt, Beling e Radbruch. Nasceu no início do século XIX. É marcada pelos ideais positivistas. Ela segue o método empregado pelas ciências naturais, reinando as leis da causalidade. O mundo deveria ser explicado através da experimentação dos fenômenos, sem espaço para abstrações. Ela quer trabalhar o Direito do mesmo modo que se trabalha nas ciências exatas (o Direito observado pelos sentidos). Dica: “o desejo do causalista é que o tipo penal seja composto somente de elementos objetivos descritivos”. Para a teoria causalista (teoria tripartite), o crime é composto de fato típico, ilicitude e culpabilidade. Conduta é o movimento corporal voluntário que produz uma modificação no mundo exterior, perceptível pelos sentidos. Atenção: Dolo e culpa são analisados somente na culpabilidade. De acordo com a teoria causalista, a conduta é composta de vontade, movimento corporal e resultado, porém a vontade não está relacionada com a finalidade do agente, elemento este analisado somente na culpabilidade. Trata-se apenas de uma vontade de querer agir. Movimento voluntário é movimento dominado pela vontade. Isso é importante para diferenciar conduta (voluntária) de ato reflexo (não voluntário). O causalista quer observar a conduta apenas pelos sentidos, daí a distinção que faz de tipos normais e anormais. Tipo normal Tipo anormal Composto somente de elementos objetivos descritivos (e científicos). Composto de elementos objetivos normativos e subjetivos (já que nesses casos não são percebidos pelos sentidos). Críticas à teoria causalista: - Ao conceituar conduta como “movimento humano”, esta teoria não explica de maneira adequada os crimes omissivos. - Não há como negar a presença de elementos normativos e subjetivos do tipo. 76 - Ao fazer a análise do dolo e da culpa somente no momento da culpabilidade, não há como distinguir, apenas pelos sentidos, a lesão corporal da tentativa de homicídio, por exemplo. - É inadmissível imaginar a ação humana como um ato de vontade sem finalidade. Teoria neokantista (teoria causal valorativa) Foi desenvolvida nas primeiras décadas do século XX. O maior nome dessa teoria foi Edmund Mezger. Ela possui base causalista, mas configura uma evolução, já que se fundamenta numa visão neoclássica marcada pela superação do positivismo, através da introdução da racionalização do método (reconhecer que o direito é ciência do “dever ser”). Teoria causalista Teoria neokantista O delito estrutura-se sobre movimento corporal que produz modificação no mundo exterior, perceptível pelos sentidos. Trabalha com métodos similares aos das ciências exatas. Questiona se é possível apreciar toda a realidade com a ajuda do método das ciências naturais (apenas mediante observação). As ciências naturais explicam parcialmente a realidade (só os fenômenos que se repetem). Não explicam os fenômenos individuais (são explicados pela ciência da cultura- “dever ser”). A teoria neokantista também é tripartite. Para ela, crime é fato típico, ilícito e culpável. Para essa teoria, conduta é comportamento humano voluntário causador de um resultado. Teoria causalista Teoria neokantista Movimento Nesse sentido, a expressão “movimento” não explica o delito omissivo. Comportamento Com a expressão “comportamento” abrange o crime omissivo. 77 Dica: A teoria neokantista não se prende aos métodos da ciência exata. Não depende somente dos sentidos. Logo, admite elementos não objetivos descritivos no tipo penal. Ex.: art. 154 do CP- para a teoria causalista não há como enxergar a “justa causa”, já a teoria neokantista diz que não precisa de elementos perceptíveis para entender a “justa causa”, pois eles a analisam mediante a valoração. Críticas à teoria neokantista: - Permanece considerando dolo e culpa como elementos da culpabilidade. - Analisando dolo e culpa somente na culpabilidade, ficou contraditória ao reconhecer como normal elementos normativos e subjetivos do tipo. Teoria finalista Foi criada por Hans Welzel em meados do século XX (1930-1960). Percebe que o dolo e a culpa estavam inseridos no substrato errado, ou seja, não devem integrar a culpabilidade. Nesse sentido, ela migra o dolo e a culpa para o fato típico. Teoria causalista Teoria neokantista Teoria finalista Dolo e culpa analisados na culpabilidade. Conduta é ato de vontade sem conteúdo. Dolo e culpa analisados na culpabilidade. Conduta é ato de vontade sem conteúdo Migra o dolo e a culpa para o fato típico. Conduta é ato de vontade com conteúdo. Para teoria finalista, crime é fato típico, ilícito e culpável. Conduta consiste no comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim (toda conduta é orientada por um querer). Dica: Supera-se a “cegueira” do causalismo com um finalismo “vidente”. Atenção: O fato típico passa a ter duas dimensões: Dimensão objetiva Dimensão subjetiva 78 Conduta Resultado Nexo Tipicidade penal Dolo Culpa Críticas à teoria finalista: - Concentrou sua teoria no desvalor da conduta, ignorando o desvalor do resultado. - Foi superada. Num primeiro momento, a teoria finalista conceituou conduta como “comportamento voluntário psiquicamente dirigido a um fim ilícito”. Exigindo uma finalidade ilícita, não explicava os crimes culposos. O conceito foi corrigido excluindo-se a expressão “ilícita”. Cuidado: No Brasil, foi criada a teoria finalista bipartite. Para essa teoria, crime é composto de fato típico e ilicitude. A culpabilidade não integra o crime, tratada como simples pressuposto de aplicação da pena. (Vamos aprofundar a questãono estudo da culpabilidade) Teoria social da ação Foi desenvolvida por Wessels e tem como principal adepto Jescheck. A pretensão dessa teoria não é substituir as teorias clássica e finalista, mas acrescentar-lhes uma nova dimensão, qual seja, a relevância social do comportamento. Também é uma teoria tripartite. Para ela, crime é fato típico, ilícito e culpável. Conduta é o comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim socialmente reprovado. Atenção: O dolo e a culpa integram o fato típico, mas são novamente analisados no juízo da culpabilidade. Crítica: - A principal crítica reside na vagueza do conceito “socialmente relevante”. Trata-se de noção muito ampla, sendo arriscado incorporá-la ao direito penal, limitando sua intervenção. Teorias Funcionalistas (funcionalismo) 79 Ganham força e espaço na década de 70 (1970), discutidas com ênfase na Alemanha. Buscam adequar a dogmática penal (doutrina) aos fins do direito penal. Percebem que o direito penal tem necessariamente uma missão e que os seus institutos devem ser compreendidos de acordo com ela (edificam o direito penal a partir da função que lhe é conferida). Conclusão: Conduta deve ser compreendida de acordo com a missão conferida ao direito penal. Temos duas principais teorias funcionalistas discutindo a missão do direito penal. Teoria funcionalista teleológica Teoria funcionalista sistêmica Roxin: proteção de bens jurídicos Jakobs: proteger o sistema Funcionalismo teleológico, dualista, moderado ou da política criminal A missão do direito penal é a proteção de bens jurídicos, proteger os valores essenciais à convivência social harmônica. Conduta é o comportamento humano voluntário causador de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Funcionalismo radical, sistêmico ou monista A missão do direito penal é assegurar a vigência do sistema. Estar relativamente vinculada à noção de sistemas sociais (Niklas Luhmann). Conduta é o comportamento humano voluntário causador de um resultado, violador do sistema, frustrando as expectativas normativas. As premissas sobre as quais se fundam o funcionalismo sistêmico deram ensejo à exumação da teoria do DIREITO PENAL DO INIMIGO, representando a construção de um sistema próprio para o tratamento do indivíduo “infiel ao sistema”. Obs.: Nota-se que o funcionalismo explica pressupostos, requisitos e substratos do crime de acordo com a missão do Direito Penal. DIREITO PENAL DO INIMIGO Também é chamado por alguns de Direito Penal Bélico. Fundamentos: O delinquente, autor de determinados crimes, não é ou não deve ser considerado como cidadão, mas sim como um “cancro societário” que deve ser extirpado. (Munoz Conde). Pensadores: Protágoras, São Tomás de Aquino, Kant, Locke, Hobbes. Esses pensadores serviram como inspirações de Jakobs (este não criou o Direito Penal do Inimigo). Jakobs fomenta o Direito Penal do Inimigo para o terrorista, traficante de armas e de seres humanos e os membros de organizações criminosas transnacionais. 80 Características: 1ª) Antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios. Ex.: as organizações criminosas devem ser punidas desde logo os atos preparatórios, evitando-se a execução. 2ª) Condutas descritas em tipos de mera conduta e de perigo abstrato. Há uma flexibilização do princípio da lesividade. 3ª) Descrição vaga dos crimes e das penas. Há uma flexibilização do princípio da legalidade. Art. 20 da lei 7.170/83. Art. 20 - Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. ATENÇÃO: A doutrina brasileira entende que o crime de terrorismo não foi recepcionado pela Constituição, ferindo o princípio da legalidade, já que a redação é muito vaga. 4ª) Preponderância do direito penal do autor. Há uma flexibilização do princípio da exteriorização do fato. 5ª) Surgimento das chamadas “Leis de luta e de combate”. Trata-se do direito penal da ocasião/emergência. 6ª) Endurecimento da execução penal. 7ª) Restrição de garantias penais e processuais. Ex.: a entrevista do preso com o advogado deve ser monitorada. O Direito Penal do Inimigo está dentro do direito penal de 3ª velocidade. >> EM RESUMO, há as seguintes teorias da conduta: a) Causalismo b) Neokantismo c) Finalismo d) Teoria social da ação e) Funcionalismo: Moderado (Roxin) Radical (Jakobs) >> O Código Penal, com a reforma de 84, de acordo com a maioria, adotou o FINALISMO. >> O Código Penal Militar é CAUSALISTA. Art. 33 do Código Penal Militar (analisa a culpa e o dolo na culpabilidade). 81 Art.33. Diz-se o crime: Culpabilidade I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo. >> A doutrina moderna trabalha com as premissas do FUNCIONALISMO DE ROXIN. >> O projeto do CP é criticado, pois mistura finalismo com funcionalismo de Roxin. o CARACTERÍSTICAS DA CONDUTA a) Comportamento voluntário (dirigido a um fim). Está presente tanto na conduta culposa (prática de um ato cujo resultado previsível seja capaz de causar lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico) quanto na conduta dolosa (o fim é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado). b) Exteriorização da vontade: A vontade aparece por meio de uma ação/omissão. o CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CONDUTA 1ª) Caso fortuito ou força maior: O Direito Civil se debruça na tentativa de diferenciar caso fortuito da força maior. Para Maria Helena Diniz, na força maior há um fato da natureza ocasionando o acontecimento. Ex.: raio que provoca incêndio. No caso fortuito, o evento tem origem em causa desconhecida. Ex.: cabo elétrico que sem motivo aparente se rompe provocando o incêndio. Em resumo, são fatos imprevisíveis ou inevitáveis. > Exemplo de caso fortuito aplicado por Rogério: um caminhão dirigia de maneira correta, diligente e sem motivo aparente rompeu o freio e atropelou e matou uma pessoa. 2ª) Involuntariedade: A ausência de capacidade de dirigir a conduta de acordo com uma finalidade exclui esse elemento do fato típico. Exemplos: estado de inconsciência completa (sonambulismo e a hipnose); movimento reflexo (sintoma de reação automática do organismo a um estímulo externo e é desprovido de vontade). Cuidado: Não abrange a embriaguez completa, apesar de ser também um estado de inconsciência. Será estudada na culpabilidade. >> QUESTÃO DE CONCURSO: Diferencie movimentos reflexos de ações em curto circuito: Movimento reflexos Ações em curto circuito 82 Impulso completamente fisiológico, desprovido de vontade. - Exclui conduta. Ex.: susto Movimento relâmpago provocado pela excitação de diversos órgãos. (é um movimento acompanhado de vontade) - Há conduta, que não é excluída. Ex.: Excitação de torcida organizada 3ª) Coação física irresistível: O coagido é impossibilitado de determinar seus movimentos de acordo com a sua vontade. Cuidado: Não abrange a coação moral (há conduta), pois esta éanalisada na culpabilidade. o ESPÉCIES DE CONDUTA * Crime doloso e culposo * Erro de tipo * Ação e omissão I- ESPÉCIES DE CONDUTA QUANTO À VOLUNTARIEDADE TEORIA CLÁSSICA TEORIA FINALISTA Crime é fato típico, ilícito e culpável. O dolo e a culpa eram analisados na culpabilidade. O dolo e a culpa são analisados no fato típico. São elementos implícitos do tipo. CRIME DOLOSO- Art. 18, I, do CP. Art. 18 - Diz-se o crime: (Alterado pela L-007.209-1984) Crime Doloso I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; Dolo é a vontade consciente dirigida a realizar ou aceitar realizar a conduta descrita no tipo penal. Atenção: A noção de dolo não se esgota na realização da conduta, abrangendo resultado e demais circunstâncias da infração penal. Elementos do dolo: 1º) Elemento volitivo: vontade de praticar a conduta descrita na norma. 2º) Elemento intelectivo: consciência da conduta e do resultado. 83 Cuidado: A liberdade da vontade não é elemento do dolo, mas circunstância a ser analisada na culpabilidade. É errado dizer que o dolo é a “vontade livre e consciente”, pois isso interfere na culpabilidade e não no dolo”. Ex.: Na coação moral irresistível há dolo, mas é excluída a culpabilidade. Teorias do dolo 1ª) Teoria da vontade: Dolo é a vontade consciente de querer praticar a infração penal. 2ª) Teoria da representação: Fala-se em dolo sempre que o agente tiver a previsão do resultado como possível e, ainda sim, decide prosseguir com a conduta. Atenção: Trata-se de um conceito muito amplo e acaba abrangendo no conceito de dolo a culpa consciente. 3ª) Teoria do consentimento ou assentimento: Fala-se em dolo sempre que o agente tiver a previsão do resultado como possível e, ainda assim, decide prosseguir com a conduta, assumindo o risco de produzir o evento. Nesse caso, não mais abrange a culpa consciente. >> O Brasil adotou a teoria da vontade e a teoria do consentimento. Análise do art. 18 do CP: Considera-se o crime doloso Dolo Teoria “Quando o agente quis o resultado” Direto Teoria da vontade “Ou assumiu o risco de produzi- lo” Eventual Teoria do consentimento Espécies de dolo 1. Dolo natural Serão analisados na explicação sobre teorias da culpabilidade 2. Dolo normativo 3. Dolo direto/determinado/imediato/incondicionado Configura-se quando o agente prevê o resultado, dirigindo a sua conduta na busca de realizar esse evento. 4. Dolo indeterminado ou indireto 84 O agente, com a sua conduta, não busca resultado certo e determinado. Ele possui duas formas: 4.1. Dolo alternativo 4.2. Dolo eventual O agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo sua conduta para realizar qualquer deles. Tem a mesma vontade de realizar os resultados previstos. O agente também prevê pluralidade de resultados, dirigindo a sua conduta para realizar um deles, assumindo o risco de realizar o outro. A vontade em relação aos resultados previstos é diferente. Ex.: A previu lesão e morte, ele dirige a conduta para causar lesão, mas assume o risco de matar. >> QUESTÃO DE CONCURSO: Diferencie dolo alternativo objetivo de dolo alternativo subjetivo. Atenção: A doutrina divide o dolo alternativo em duas espécies: * O dolo alternativo é objetivo quando a vontade indeterminada estiver relacionada com o resultado em face da mesma vítima. (Ex.: atiro contra a vítima para ferir ou matar, tanto faz) * O dolo alternativo é subjetivo quando a vontade indeterminada envolver as vítimas de um mesmo resultado. (Ex.: atiro contra um grupo de pessoas para matar qualquer delas) 5. Dolo cumulativo O agente pretende alcançar dois resultados em sequência. Trata-se de uma hipótese de progressão criminosa. Ex.: o agente, depois de ferir a vítima, resolve provocar sua morte. 6. Dolo de dano A vontade do agente é causar efetiva lesão ao bem jurídico tutelado. 7. Dolo de perigo O agente atua com a intenção de expor a risco o bem jurídico tutelado. 8. Dolo genérico O agente atua com vontade de realizar a conduta descrita no tipo penal, sem um fim específico. 9. Dolo específico O agente atua com vontade de realizar a conduta descrita no tipo penal com um fim específico. 85 Ex.: Esses crimes são escritos da seguinte maneira -“É crime com o fim de...”. Hoje, dolo específico é o dolo mais elemento subjetivo do tipo. O dolo genérico é chamado apenas de “dolo”. Não há mais essa classificação entre dolo genérico e dolo específico. 10. Dolo geral ou erro sucessivo – será analisado na aula sobre erro de tipo. 11. Dolo de primeiro grau É o dolo direto propriamente dito. 12. Dolo se segundo grau Também é chamado de dolo de consequências necessárias. É também espécie de dolo direto. No dolo de segundo grau, a vontade do agente se dirige aos meios utilizados para alcançar determinado resultado. Abrange os efeitos colaterais do crime, de verificação praticamente certa. O agente não persegue imediatamente esses efeitos colaterais, mas tem por certa sua ocorrência, caso se concretize o resultado pretendido. Dolo de 1º grau Dolo de 2º grau Corresponde ao resultado ou resultados que o agente persegue imediatamente. Abrange as consequências necessárias mesmo que não perseguidas pelo agente, porém sabidamente inevitáveis. Exemplo: Eu quero matar um desafeto que vai no avião, então coloco uma bomba. A morte do desafeto é dolo de primeiro grau. A morte dos demais passageiros e tripulantes é dolo de segundo grau. Cuidado: Dolo de 2º grau não se confunde com dolo eventual. Dolo de 2º grau é espécie de dolo direto. O dolo eventual é espécie de dolo indireto. Dolo de 2º grau Dolo eventual O resultado paralelo é certo e inevitável. O resultado paralelo é incerto e eventual. Ex.1: abater avião para matar piloto. Em relação aos demais tripulantes, há dolo de 2º grau. Ex.2: atirar contra um carro em movimento para matar motorista. Em relação aos demais passageiros, há dolo eventual, pois a morte dos demais passageiros é incerta. 13. Dolo antecedente/concomitante/subsequente Dolo antecedente Dolo concomitante Dolo subsequente É o dolo anterior a conduta É o dolo existente no momento da conduta É o dolo posterior à conduta 86 Segundo Nucci, o dolo antecedente e o subsequente não nos interessa. Para haver crime, o dolo deve ser concomitante. Exemplo: Eu compro o carro de B, mas este é produto de crime. Eu só sei depois, mas mesmo assim fico com o carro. Respondo por receptação? Para haver receptação deve haver má-fé no momento em que adquiriu a coisa. Nesse caso, o dolo subsequente não configura o crime de receptação. 14. Dolo de propósito Nesse caso, a vontade é refletida, presente na premeditação. Não necessariamente agrava ou qualifica o crime. 15. Dolo de ímpeto Caracterizado por ser repentino, sem intervalo entre a fase da cogitação e da execução. Está presente nas ações de curto circuito. Trata-se de uma atenuante de pena (art. 65, III, “c”, CP). Ex.: crimes de multidão. Circunstâncias Atenuantes Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Alterado pela L-007.209-1984) III - ter o agente: c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; CRIME CULPOSO- Art. 18, II do CP. Art. 18 - Diz-se o crime: (Alterado pela L-007.209-1984)Crime Culposo II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. O crime culposo consiste numa conduta voluntária que realiza um evento ilícito não querido ou aceito pelo agente, mas que lhe era previsível (culpa inconsciente) ou excepcionalmente previsto (culpa consciente) e que podia ser evitado se empregasse a cautela necessária. O conceito de crime culposo do art. 33, II, do Código Penal Militar é o mais completo. Art.33. Diz-se o crime: Culpabilidade II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou, prevendo-o, 87 supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo. Elementos do crime culposo 1º) Conduta humana voluntária Ação ou omissão dirigida ou orientada pelo querer, causando um resultado involuntário. Dolo Culpa A vontade é dirigida à realização de um resultado ilícito. A vontade se direciona à realização de um resultado lícito (diverso daquele que efetivamente se produz). 2º) Violação de um dever de cuidado objetivo O agente, na culpa, viola seu dever de diligência. Esse dever de diligência é entendido como regra básica para o convívio social. O comportamento do agente não atende o que esperado pela lei e pela sociedade. # Como apurar se houve ou não infração do dever de diligência? De acordo com a doutrina majoritária, o operador deve analisar as circunstâncias do caso concreto, pesquisando se uma pessoa de inteligência média evitaria o perigo. Se evitável pelo homem médio, caracteriza-se a violação do dever de diligência. Se inevitável pelo homem médio, não caracteriza violação do dever de diligência. >> Formas de violação do dever de diligência: a) Imprudência: É a precipitação, a afoiteza. Trata-se de uma forma positiva da culpa, ou seja, está ligada a uma ação. Ex.: conduzir veículo em alta velocidade num dia de muita chuva. b) Negligência: Retrata ausência de precaução. É uma forma negativa da culpa, já que há uma omissão. Ex.: conduzir veículo automotor com pneus gastos. c) Imperícia: Falta de aptidão técnica para o exercício de arte ou profissão. Ex.: condutor que troca o pedal do freio pelo pedal da embreagem, não conseguindo parar o automóvel. ATENÇÃO: Na denúncia, o Ministério Público deve apontar a forma de violação do dever de diligência, descrevendo no que consiste. 88 Ex.1: Fulano matou culposamente Beltrano (errado, essa denúncia é inepta, porque não apontou a forma de violação do dever de diligência). Ex.2: Fulano, com manifesta imprudência, matou Beltrano (errado, também denúncia inepta, pois não descreveu no que consistiu a imprudência). Ex.3: Fulano, dirigindo em alta velocidade em dia de chuva, nisso, aliás, consistiu sua imprudência, matou Beltrano. (correto, pois foi apontada a forma de violação do dever de diligência bem como foi descrita no que consistiu). Obs.: É possível a combinação das formas de violação do dever de diligência (Mirabete). >> QUESTÃO DO MP DO RJ: MP denuncia Fulano por crime culposo, indicando ter havido imprudência. Durante a instrução, comprova-se a culpa, porém decorrente de negligência. O juiz pode condenar Fulano ou deve enviar os autos para o MP aditar a inicial? Para não violar o princípio da ampla defesa, o MP deve aditar a inicial (art. 384 do CPP- mutatio libeli). Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente. (Alterado pela L-011.719-2008) 3º) Resultado naturalístico involuntário Em regra, o crime culposo é material, exige modificação no mundo exterior. CULPA= Conduta voluntária + resultado involuntário ATENÇÃO: Temos crime culposo sem resultado naturalístico, ou seja, crime formal ou de mera conduta. Ex.: art. 38 da Lei de drogas (11.343/06)- o simples fato de o médico entregar a receita ao paciente já consuma o crime, independente do paciente usar a droga ou não. Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: 4º) Nexo causal entre conduta e resultado 5º) Resultado involuntário previsível 89 Previsível significa possibilidade de prever o perigo advindo da conduta. CUIDADO: Ainda que previsto o perigo, não se descarta a culpa, desde que o agente acredite poder evitar o resultado (CULPA CONSCIENTE). 6º) Tipicidade A tipicidade é extraída do art. 18, parágrafo único do CP. Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Se o tipo penal quer punir a forma culposa, deve ser expresso. No silêncio, o tipo penal só é punido a título de dolo (princípio da excepcionalidade do crime culposo). EM RESUMO: Elementos estruturais da culpa Conduta humana voluntária Violação do dever de cuidado objetivo Resultado involuntário Nexo causal Previsibilidade Tipicidade >> E a previsibilidade subjetiva? A previsibilidade subjetiva, entendida como a possibilidade de conhecimento do perigo analisada sob o prisma subjetivo do autor, levando em consideração seus dotes intelectuais, sociais e culturais, não é elemento da culpa, mas será analisada pelo magistrado no juízo da culpabilidade, integrando o elemento da exigibilidade de conduta diversa. Espécies de culpa 1ª) Culpa consciente (com previsão ou “ex lascívia”) O agente prevê o resultado, mas espera que ele não ocorra, supondo poder evitá-lo com suas habilidades ou com a sorte. Aqui, o agente, mais do que previsibilidade tem previsão, porém o resultado continua involuntário, não querido pelo agente. 90 2ª) Culpa inconsciente (sem previsão ou “ex ignorantia”) O agente não prevê o resultado que, entretanto, era previsível. Qualquer pessoa de inteligência mediana tinha condições de prever o risco. 3ª) Culpa própria ou propriamente dita O agente não quer e não assume o risco de produzir o resultado, mas acaba lhe dando causa por imprudência, negligência ou imperícia. A culpa própria é gênero da qual a culpa consciente e inconsciente são espécies. CULPA= conduta voluntária + resultado involuntário 4ª) Culpa imprópria (por equiparação, assimilação ou extensão) CULPA IMPRÓPRIA: conduta voluntária + resultado voluntário (punido a título de culpa por razões de política criminal) É a única culpa que admite tentativa, pois a estrutura é de crime doloso. A culpa imprópria é aquela me que o agente, por erro evitável, imagina certa situação de fato que, se presente, excluiria a ilicitude (descriminante putativa). Provoca intencionalmente determinado resultado típico, mas responde por culpa por razões de política criminal (art. 20, §1º, segunda parte, do CP). Descriminantes Putativas § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro derivade culpa e o fato é punível como crime culposo. (Alterado pela L-007.209-1984) ATENÇÃO: A estrutura do crime é dolosa, mas o agente é punido a título de culpa. 5ª) Culpa presumida ou “in re ipsa” Modalidade de culpa admitida pela legislação penal anterior ao Código de 1940, consistente na simples inobservância de uma disposição regulamentar. ATENÇÃO: Hoje, a culpa não mais se presume, devendo ser comprovada. VOLUNTARIEDADE: RESUMO Consciência Vontade Dolo direto Tem previsão Vontade = querer o resultado Dolo eventual Tem previsão Vontade = assume o risco 91 de produzir o resultado Culpa consciente Tem previsão Não tem vontade quanto ao resultado (acredita poder evitar) Culpa inconsciente Não tem previsão (tem previsibilidade) Não tem vontade quanto ao resultado De acordo com o STF, embriaguez ao volante com resultado morte caracteriza, em princípio, culpa consciente. O mesmo tribunal, no entanto, no caso de “racha” de veículos automotores com resultado morte, entende caracterizar dolo eventual. Não existe no Direito Penal a compensação de culpas. CRIME PRETERDOLOSO Lembrando: Temos várias espécies de crimes agravados (ou qualificados) pelo resultado. a) Crime doloso: agravado ou qualificado pelo dolo. Ex.: homicídio qualificado. b) Crime culposo: agravado ou qualificado pela culpa. Ex.: incêndio culposo qualificado por morte culposa. c) Crime culposo: agravado ou qualificado por dolo. Ex.: homicídio culposo qualificado pela omissão de socorro. d) Crime doloso: agravado ou qualificado pela culpa. Ex.: lesão corporal seguida de morte. Somente essa hipótese é chamada de crime preterdoloso. No crime preterdoloso, o agente pratica delito distinto do que havia projetado cometer, advindo da conduta dolosa resultado culposo mais grave que o projetado. Cuida-se de figura híbrida, havendo concurso de dolo (no antecedente) e culpa (no consequente). >> Art. 19 do CP: Agravação pelo Resultado Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente. (Alterado pela L-007.209-1984) Elementos do crime preterdoloso 1ª) Conduta dolosa visando determinado resultado 92 2ª) Provocação de resultado culposo mais grave que o desejado 3ª) Nexo causal entre conduta e o resultado 4ª) Tipicidade: não se pune crime preterdoloso sem previsão legal. ATENÇÃO: O resultado tem que ser culposo. Se fruto de caso fortuito ou força maior, não pode ser imputado ao agente. Ex.: numa casa noturna, uma pessoa brigando com a outra no camarote dá um soco, a pessoa cai do camarote, bate a cabeça e morre. Nesse caso, o agente responderá por qual crime? A queda do camarote era previsível, portanto, responderá por lesão corporal seguida de morte. A conduta dolosa é a lesão corporal, o resultado morte é culposo. Se essa discussão tivesse ocorrido no local próprio para briga do MMA. Houve a discussão durante o treino, a pessoa cai, bate a cabeça no ferro e morre. Nesse caso, o lutador só responderá por lesão corporal, pois não era previsível que no local para briga ia ter esse ferro. >> Empurrão seguido de morte culposa: Obs.1: empurrão não caracteriza lesão corporal, mas sim vias de fato (art. 21 da Lei das Contravenções penais). Obs.2: Não existe, na contravenção penal, qualificadora em caso de morte culposa. Obs.3: Não pode ajustar o comportamento ao artigo 129, §3º do CP, pois implicaria analogia in malam partem. Obs.4: Deve o agente que empurrou a vítima responder por homicídio culposo, ficando a contravenção absorvida. ERRO DE TIPO Conceito: É a falsa percepção da realidade. Cuida-se de ignorância ou erro que recai sobre as elementares, circunstâncias ou qualquer dado agregado ao tipo penal. Ex.: Fulano se apodera de material que encontrou na rua, imaginando tratar-se de coisa abandonada. Na verdade, o material era de Beltrano, que reformava a sua casa. Fulano não sabia que subtraía coisa alheia. >> Não podemos confundir erro de tipo com erro de proibição. Erro de tipo Erro de proibição 93 - Existe falsa percepção da realidade - O agente não sabe o que faz Exemplo: Fulano sai de uma festa com guarda-chuva pensando ser seu, mas logo percebe que era de outra pessoa. Ele subtraiu coisa alheia móvel sem saber. - O agente percebe a realidade, equivocando-se sobre a regra de conduta. - O agente sabe o que faz, mas ignora ser proibido. Exemplo: Fulano encontra um guarda- chuva perdido na rua. Fulano se apodera do objeto e acredita que não tenha obrigação de devolvê-lo, pois “achado não é roubado”. Espécies de erro de tipo 1. ESSENCIAL: O erro recai sobre dados principais do tipo penal. Se avisado do erro, o agente para de agir criminosamente. Art. 20, caput do CP. Erro Sobre Elementos do Tipo Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. (Alterado pela L-007.209-1984) Conceito: O agente ignora o erro sobre elemento constitutivo do tipo legal. Divide-se em: 1.1.Inevitável 1.2. Evitável Exemplo: Caçador que atira contra um arbusto, pensando que lá se esconde um veado. Ao se aproximar, percebe que matou alguém (o agente ignorava esta elementar). Consequências do erro de tipo essencial: Vai depender se o erro é inevitável ou evitável. Erro inevitável Erro evitável - Exclui o dolo. Tratando-se de erro essencial, não há consciência e esta é elemento do dolo. - Exclui a culpa - Exclui dolo Tratando-se de erro essencial, não há consciência. - Pune-se a culpa (se prevista como crime) 94 Se é inevitável é porque é imprevisível e para ter culpa precisa-se de previsibilidade. Sendo evitável, o erro era previsível. >> Como aferir a (in) evitabilidade do erro? 1ª CORRENTE: Deve-se invocar a figura do “homem médio”. Se o homem médio pudesse evitar, o erro é evitável. (DOUTRINA MAJORITÁRIA E JURISPRUDÊNCIA) 2ª CORRENTE: Trabalha as circunstâncias do caso concreto, pois percebe que o grau de instrução, idade do agente, momento e local do crime podem interferir na previsibilidade do agente. (DOUTRINA MODERNA) 2. ACIDENTAL: O erro recai sobre dados secundários do tipo penal. Quando avisado do erro, o agente corrige os caminhos ou sentidos da conduta e continua agindo de forma ilícita. 2.1. Erro sobre o objeto Não tem previsão legal. O agente se confunde quanto ao objeto material – coisa- por ele visado, atingindo objeto diverso. Exemplo: Fulano, querendo subtrair um relógio de ouro, por erro, acaba furtando um relógio dourado. Atenção: Somente haverá essa espécie de erro se a confusão de objetos materiais não interferir na essência do crime, pois, caso contrário, deve ser tratado como erro de tipo essencial. Exemplo: Senhora que cultiva no quintal da sua casa pé de maconha, imaginando ser planta ornamental. Consequências: - Não exclui dolo nem culpa; - Não isenta o agente de pena; - O agente responde pelo delito considerando-se o objeto material efetivamente atingido (teoria da concretização). No primeiro exemplo acima, Fulano responderá por furto do relógio dourado, podendo ser aplicado o privilégio ao considerar o valor do relógio. 95 Observação: Objeto visado Objeto atingido Relógio de ouro Relógio de plástico (Responderá pelo relógio de plástico, cabendoprivilégio) Relógio de plástico Relógio de ouro (Responderá pelo relógio de ouro, não cabendo privilégio) Deverá responder sempre com base no objeto atingido, embora não seja a posição adotada pelo professor Rogério que defende que deva ser levada em consideração a alternativa in dubio pro reo. 2.2. Erro sobre a pessoa Previsão legal: art. 20, § 3º, CP. Erro sobre a Pessoa § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. (Alterado pela L-007.209-1984) Conceito: OBS 1: Erro sobre objeto material “coisa” caracteriza erro sobre o objeto (já estudamos). OBS 2: Não há erro de execução, mas de representação. O agente confunde as vítimas. OBS 3: Dois personagens: vítima virtual ou visada pelo agente e a vítima real, atingida pela ação do agente. Exemplo: Fulano quer matar seu pai, porém, representando equivocadamente a pessoa que entra na casa, acaba matando o seu tio. Perceba que o “pai” é a vítima virtual e o “tio” é a vítima real. Atenção! Perceba também que não houve erro na execução, o que houve foi confusão mental. Consequências do erro sobre a pessoa: a) Não exclui dolo/ culpa; 96 b) Não isenta o agente de pena; c) Respondendo pelo crime, mas deve ser punido considerando as qualidades da vítima virtual, isto é, o pai. Ele vai responder por parricídio, mesmo estando o pai vivo. - No erro sobre o objeto (coisa), o agente é punido considerando o objeto real, efetivamente atingindo (Teoria da Concretização). - Já no erro quanto à pessoa, o agente é punido considerando a vítima virtual, pretendida pelo agente (Teoria da Equivalência). 2.3. Erro na execução Previsão legal: art. 73 do CP: Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. Conceito: Por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente acaba atingindo pessoa diversa da pretendida. OBS 1: Erro na execução envolvendo “coisa” é tratado como erro sobre o objeto. OBS 2: Eu tenho novamente dois personagens: a vítima virtual e a vítima real. A grande diferença é que aqui não houve confusão mental, houve erro na execução. OBS 3: A vítima foi corretamente representada. O crime foi mal executado. Não houve confusão mental aqui. Exemplo: Fulano mira seu pai, mas, por falta de habilidade no manuseio da arma, acaba atingindo um vizinho que passava do outro lado da rua. ERRO SOBRE A PESSOA ERRO NA EXECUÇÃO Erro na representação da vítima pretendida Representa-se corretamente a vítima 97 pretendida. A execução do crime é correta, não há falha operacional A execução do crime é errada (há falha operacional) A pessoa visada não corre perigo (porque foi confundida por outra) A pessoa visada corre perigo Atenção: Nos dois casos, o agente responde pelo crime considerando as qualidades da vítima virtual. Consequências: a) “Aberratio ictus” com Resultado Único O agente atinge somente a pessoa diversa da pretendida. O agente será punido considerando-se a qualidade da vítima virtual. b) “Aberratio ictus” com Resultado duplo ou unidade complexa: O agente atinge também a pessoa pretendida. Ele atinge as duas. O agente responde pelo crime aplicando-se a regra do concurso formal. Problema: Vamos imaginar que “Fulano” querendo matar seu pai, atira, mas por erro, apesar de ferir a vítima visada, acaba matando o vizinho. Resposta: 1ª Corrente: O atirador responde, em concurso formal, por homicídio doloso consumado do pai + lesão culposa do vizinho. Damásio adota esta corrente. 2ª Corrente: O atirador deve ser responsabilizado por tentativa de homicídio do pai em concurso formal com homicídio culposo do vizinho. Teoria adotada por Fragoso. Cuidado! A doutrina divide esta espécie de erro em duas modalidades: ABERRATIO ICTUS POR ACIDENTE ABERRATIO ICTUS POR ERRO DO USO DOS MEIOS DE EXECUÇÃO o Não há erro no golpe, mas na o Existe erro no golpe; 98 execução. o A vítima visada pode ou não estar no local Ex: “A” coloca uma bomba no carro de “B” para explodir quando acionado. Naquele dia quem ligou o carro foi a esposa de “B’. o Desvio na execução em razão de inabilidade do agente no uso do instrumento; Aqui a vítima visada está no local. Ex: “A” atira para matar “B”, mas errando o alvo atinge sua esposa. 2.4. Resultado diverso do pretendido “Aberratio criminis” ou “aberratio delicti” Previsão legal: art. 74, CP: Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. “Fora dos casos do artigo anterior...”: Aqui também há erro de execução, mas esse artigo também é espécie de erro da execução. Conceito: Por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente atinge bem jurídico distinto daquele que pretendia atingir. Exemplo: “Fulano” quer danificar o carro de “Beltrano”, atira uma pedra no veículo, mas acaba atingindo o motorista, que vem a falecer. Art. 73, CP Art. 74, CP Espécies de Erro na Execução Espécies de Erro na Execução O agente, apesar do erro, atinge o mesmo bem jurídico, mas de pessoa diversa o resultado pretendido (ceifar vida) O agente, em razão do erro, atinge bem jurídico diverso. Resultado produzido (vida) diverso do pretendido (patrimônio) Relação coisa x vida 99 coincide com o resultado produzido – há uma relação pessoa x pessoa visada e atingida) Consequência do artigo 74: O agente responde pelo resultado produzido, isto é, diverso do pretendido, na forma culposa. Atenção! No nosso exemplo, “Fulano” responde por homicídio culposo. Em caso de resultado duplo, concurso formal. Cuidado! A regra do artigo 74 do CP deve ser afastada quando o resultado pretendido é mais grave que o resultado produzido, hipótese em que o agente responde pelo resultado pretendido na forma tentada. Exemplo: “Fulano” quer matar “Beltrano”. Atira uma pedra contra a cabeça de “Beltrano”, mas acaba atingindo o veículo da vítima. Pela regra do art. 74, ele deveria responder pelo resultado produzido na modalidade culposa. Mas acontece que dano não tem modalidade culposa. Esqueça a regra do art. 74, pois ele responderá por tentativa de homicídio. 2.5. Erro sobre o nexo causal Não tem previsão legal. Conceito: O agente provoca o resultado desejado, mas com o nexo diverso do pretendido. A doutrina divide esta espécie de erro em duas modalidades: 1ª Modalidade: Erro sobre o Nexo Causal em Sentido Estrito Ocorre quando o agente mediante um só ato provoca o resultado visado, porém com outro nexo. Exemplo: “A” empurra “B” de um penhasco para que morra afogado. “B”, na queda, bate a cabeça numa rocha e morre em razão de traumatismo craniano. Qual era o nexo visado? – O afogamento. Qual o nexo realizado? – Traumatismo craniano Ele conseguiu o resultado visado (morte), porém com outro nexo. 100 2ª Modalidade: “Dolo Geral” (ou erro sucessivo) ou“Aberratio Causae” O agente, mediante conduta desenvolvida em pluralidade de atos, provoca o resultado pretendido, porém com outro nexo. Exemplo: “A” dispara contra “B”(1º ato). Imaginando que “B” está morto, joga seu corpo no mar (2º ato), vindo “B” a morrer afogado. Qual é o resultado pretendido? Matar. Conseguiu? Sim. Porém ele atingiu o objetivo com um outro nexo. Consequência: O agente responde pelo crime, considerando o nexo real. Nós adotamos aqui o Princípio Unitário (não vamos dividir em dois crimes – um crime só, considerando o nexo real). No primeiro exemplo, o agente responde por homicídio e o nexo é o traumatismo craniano. Já no segundo exemplo, o agente responde por homicídio e o nexo é o afogamento. Para a minoria, o agente deve ser punido pelo crime praticado, mas considerando o nexo realizado ou desejado, SEMPRE o mais BENÉFICO. ERRO DE TIPO: QUESTÕES IMPORTANTES: O erro de tipo tem previsão só no CP ou também tem previsão no CPP? Lembrando: o erro de tipo SÓ é tratado no Código Penal, não no Código de Processo Penal. Problema: Vamos imaginar que “Fulano” quer matar um agente Federal em serviço. Por acidente, acaba matando outra pessoa que passava pelo local. De quem é a competência para o processo e julgamento desse crime de homicídio? O crime de homicídio será processado e julgado por qual Justiça (Federal ou Estadual)? Vítima virtual – Agente Federal Vítima real – outra pessoa comum CÓDIGO PENAL CÓDIGO DE PROCESSO PENAL Art. 73, CP. Vítima Virtual Trabalha com a Vítima Real. Como o CPP não trabalha erro de tipo, a competência será da Justiça Estadual 101 Exemplo: Vamos imaginar que eu seja Promotora em um caso em que o agente falsificou um cheque do Banco Itaú. O agente confessa a falsificação. Eu vou denunciá-lo pelo crime de falsificação de documento público por equiparação: Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. O réu não sabia que o cheque era um documento público por equiparação. Aqui, estamos diante de Erro de tipo ou erro de proibição? – Nenhum dos dois. Aqui estamos diante de um Erro de Subsunção. O que vem a ser isso? o O agente decifra equivocadamente o sentido jurídico do seu comportamento. É um erro que recai sobre conceitos jurídicos. Cuidado! Não se confunde com erro de tipo e com erro de proibição. a) Não se confunde com o erro de tipo, pois não há falsa percepção da realidade (o agente sabe que falsifica cheques); b) Não se confunde com o erro de proibição, pois o agente conhece a ilicitude do seu comportamento (sabe que falsificar cheque é comportamento ilícito). Exemplos: Documento público por equiparação; Conceito de funcionário público para fins penais. Consequências: a) Não exclui dolo/ culpa; b) Não isenta o agente de pena; c) Responde pelo crime, mas pode ter a sua pena atenuada. ERRO PROVOCADO POR TERCEIRO Previsão legal: art. 20, § 2º do CP. § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. 102 No erro de tipo, o agente erra por conta própria. Já no erro determinado por terceiro, temos um erro induzido. Atenção! Neste erro também temos dois personagens. a) O agente provocador >> Autor Mediato b) O agente provocado >> Autor Imediato Exemplo: Médico com a intenção de matar o paciente, induz a enfermeira a ministrar a dose letal no doente. Consequência: Responde pelo crime o terceiro que determina o erro (no nosso exemplo, o médico responde por art. 121, CP, na condição de autor mediato). E o agente provocado? – Em regra, não pratica o crime, salvo se agiu com dolo ou culpa. Não se pode falar em concurso de pessoas, pois não há homogeneidade nas condutas dos agentes. CRIME COMISSIVO E CRIME OMISSIVO O Direito Penal protege determinados bens jurídicos, proibindo condutas consideradas desvaliosas. O crime COMISSIVO, nada mais é do que uma conduta desvaliosa proibida pelo tipo incriminador. É uma ação que viola um tipo proibitivo. Ex: art. 121, CP (“Matar alguém). o Crime Omissivo O Direito Penal também protege bens jurídicos, proibindo a abstenção (inação) de condutas valiosas. Crime omissivo é a não realização (a omissão) de conduta valiosa a que o agente estava juridicamente obrigado e que lhe era possível concretizar. Omissão que viola um tipo mandamental. Exemplos: 1) Omissão de socorro (art. 135, CP); CRIME OMISSIVO PRÓPRIO 103 2) Mãe que não alimenta o filho até sua morte: esta mãe responderá por homicídio. CRIME OMISSIVO IMPRÓPRIO (ela responderá por um crime comissivo praticado com omissão) A norma mandamental que determina a ação valiosa pode decorrer: a) Do próprio tipo penal: O tipo incriminador descreve a omissão. São tipos que normalmente trazem a seguinte expressão “Deixar de...” >> Chamado de CRIME OMISSIVO PRÓPRIO/ PURO. b) Cláusula geral: O dever de agir está descrito numa norma geral >> Chamado de CRIME OMISSIVO IMPRÓPRIO/IMPURO: o agente responde por um crime comissivo, mas praticado por omissão. E se o agente desconhece que tem o dever de agir (norma mandamental)? Resposta: Nesse caso, incorrerá em erro de tipo mandamental. Para Luiz Flávio Gomes, trata-se de espécie de erro de tipo. Para a maioria, no entanto, deve ser tratado como erro de proibição. CRIME OMISSIVO PRÓPRIO A conduta omissiva está descrita no próprio tipo penal incriminador. Para que se realize basta a não realização da conduta valiosa descrita pelo tipo. Ex: Omissão de socorro. Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: CRIME OMISSIVO IMPRÓPRIO OU IMPURO O dever de agir está acrescido do dever de evitar o resultado. OMISSÃO PRÓPRIA OMISSÃO IMPRÓPRIA Dever de agir Dever de agir para evitar o resultado 104 Dever Genérico Dever Jurídico O dever de agir decorre de cláusula geral e não do próprio tipo incriminador. OMISSÃO PRÓPRIA OMISSÃO IMPRÓPRIA O dever de agir decorre do tipo. O dever de agir e evitar o resultado decorre de cláusula geral (art. 13, §2º do CP) Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado Presente o dever jurídico de agir e evitar o resultado, o omitente responde por crime comissivo por omissão. O omitente é chamado de garante ou garantidor. OMISSÃO PRÓPRIA OMISSÃO IMPRÓPRIA O agente responde por crime omissivo O agente responde por crime comissivo por omissão (tinha o dever de evitar o resultado). Art. 13, § 2º: As hipóteses de dever jurídico: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 105 Ex.1: Pais em relação aos filhos.Mãe que omite dever de alimentar o filho de tenra idade responde por homicídio (doloso ou culposo, depende do animus dela); Ex.2: Bombeiro que omite socorro morrendo a vítima em perigo: Vai responder por homicídio (doloso ou culposo, dependendo do animus dele) b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; Essa hipótese abrange o dever contratual, não mais legal. Exemplo: Salva vidas contratualmente que omite o dever de socorrer sócio de um clube em perigo (de um clube, por exemplo, não aquele que pertence ao corpo de Bombeiros). Responde por homicídio doloso ou culposo. c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado Ex: Uma banda que numa boate dispara fogos de artifício; um parque de diversões que deixa uma cadeira com risco no brinquedo. Repare que nesses casos, o agente em seu comportamento anterior deixou de fazer alguma coisa, tendo de responder por dolo ou culpa, dependendo do caso. CRIME DE CONDUTA MISTA É um tipo penal incriminador composto de uma ação seguida de uma omissão. O tipo exige do agente dois comportamentos. Uma ação seguida de uma omissão. Ex.: Apropriação indevida/indébita de coisa achada (art. 169, parágrafo único, II, CP): Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Parágrafo único - Na mesma pena incorre: II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias. RESULTADO ATENÇÃO: Da conduta pode advir dois resultados: 106 * Resultado naturalístico * Resultado normativo RESULTADO NATURALÍSTICO É a modificação no mundo exterior (perceptível pelos sentidos) provocada pelo comportamento do agente. Cuidado: Não são todos os crimes que possuem resultado naturalístico. Classificação doutrinária do crime quanto ao resultado naturalístico: Crime material Crime formal Crime de mera conduta O tipo penal descreve conduta + resultado naturalístico (indispensável para a consumação). Ex.: homicídio, furto O tipo penal descreve conduta + resultado naturalístico (é dispensável, porque a consumação se dá com a conduta) -É chamado de crime de consumação antecipada. O resultado naturalístico se ocorrer é mero exaurimento. Este é considerado na fixação da pena. Ex.: extorsão (súmula 96 do STJ- “O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”.) O tipo penal descreve uma mera conduta e é esta que consuma o crime. - Não tem resultado naturalístico descrito no tipo. Ex.: omissão de socorro, violação de domicílio. RESULTADO NORMATIVO OU JURÍDICO É a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Cuidado: Todos os crimes (material, formal ou de mera conduta) possuem resultado normativo. 107 Classificação doutrinária do crime quanto ao resultado normativo: 1º) Crime de dano: Quando a consumação exige efetiva lesão ao bem jurídico tutelado. O crime de dano não é necessariamente material. Ex.: homicídio 2º) Crime de perigo: A consumação se contenta com a exposição do bem jurídico a uma situação de perigo. Hoje, a doutrina moderna divide o crime de perigo em três espécies: Crime de perigo abstrato Crime de perigo concreto Crime de perigo abstrato de perigosidade real O perigo advindo da conduta é absolutamente presumido por lei. No crime de perigo abstrato, basta o MP provar a conduta. - Tem doutrina que questiona a constitucionalidade do crime de perigo abstrato sob o fundamento de que ele viola o princípio da lesividade. Contudo, a jurisprudência já tem seu entendimento consolidado, principalmente no que diz respeito aos crimes da lei de drogas em que quase todos são classificados como crimes de perigo abstrato. O perigo advindo da conduta deve ser comprovado. Atenção: Deve ser demonstrado o risco para pessoa certa e determinada. Ex.: crime de perigo do art. 130 do CP- perigo de contágio de moléstia venérea. É a alternativa encontrada para aqueles que entendem que o crime de perigo abstrato é inconstitucional. Nesse caso, o perigo advindo da conduta deve ser comprovado (nesse sentido se aproxima do crime de perigo concreto), contudo dispensa demonstração de risco para pessoa certa e determinada (nesse sentido, aproxima-se do crime de perigo abstrato). 108 Exemplo do crime de embriaguez ao volante: Se de perigo abstrato, basta o motorista embriagado conduzir o veículo automotor, mesmo que de forma normal. Se de perigo concreto, é necessário o motorista embriagado conduzir o veículo de forma anormal, gerando risco para alguém. Se de perigo abstrato de perigosidade real, é necessário o motorista embriagado conduzir o veículo de forma anormal, dispensando prova do risco para alguém. Obs.: O STF sempre trabalhou com o crime de embriaguez ao volante como crime de perigo abstrato. NEXO CAUSAL É um vínculo entre conduta e resultado. É a relação de provocação entre a causa eficiente e o efeito ocasionado. Busca aferir se o resultado pode ser atribuído objetivamente ao sujeito ativo como obra do seu comportamento típico. Previsão legal: art. 13, caput do CP. Relação de Causalidade Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. (Alterado pela L-007.209-1984) O art. 13, caput, do CP adotou a teoria da equivalência dos antecedentes causais (ou teoria da equivalência das condições, teoria da condição simples, teoria da condição generalizadora ou da “conditio sine qua non”). Para esta teoria, todo fato sem o qual o resultado não teria ocorrido é considerado causa. É causa toda ação/omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Como saber se o fato foi determinante para o resultado? Tem que trabalhar com outra teoria ou outro método, qual seja teoria da eliminação hipotética dos antecedentes causais. Trata-se do método empregado no campo mental da suposição ou da cogitação, através do qual causa é todo fato que, suprimido mentalmente, o resultado não teria ocorrido como ocorreu ou no momento em que ocorreu. Exemplo: Vamos imaginar a morte da vítima por envenenamento. É preciso analisar as causas dessa morte. O que aconteceu antes? “Fulano” comprou bolo, depois compra veneno, em seguida, mistura veneno 109 mais bolo, aí “Fulano” resove fumar um charuto esperando a vítima, quando esta aparece, “Fulano” oferece bolo a vítima, obviamente a vítima morre envenenada. 1ª pergunta: causa da morte? – De acordo com o art. 13, caput, é toda ação/omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 2ª pergunta: Como saber qual ação ou omissão foi determinante para o resultado? Devemos analisar o método da eliminação hipotética. A compra do bolo, o veneno, misturar o veneno no bolo, servir o bolo para a vítima são causas. Fumar o charuto não é causa. Em resumo, CAUSA OBJETIVA DO RESULTADO = teoria da equivalência + teoria da eliminação hipotética. Atenção: Esta fórmula é criticada, pois do ponto de vista objetivo, regressa ao infinito (ex.: vamos imaginar um criminoso que matou alguém
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