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1 Decisões de investimento: importância, elaboração e análise Texto para uso da disciplina CE 142 - Métodos de Analise Econômica I Prof. Miguel Juan Bacic Prof. Renato Garcia Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas 2014 Este texto foi elaborado com base em Bacic, M. J. (1990) e deve ser complementado com exercícios em aula e leituras adicionais indicadas. 2 1. Importância das decisões de investimento A política de investimento das empresas explicita o nível das expectativas dos capitalistas no momento da formulação de seus planos. Por sua vez, do ponto de vista macroeconômico, a concretização dos planos de investimento traçados terá papel crucial na determinação da renda e do nível de emprego da sociedade. A decisão de investir em ativos de capital decorre, segundo Keynes (1936), de avaliações dos capitalistas quanto à eficiência marginal do capital (EMgK) e da taxa de juros (i). Somente quando a EMgK é avaliada como consistentemente superior a i haverá estímulo ao investimento produtivo. Ambas variáveis sofrem a influência das avaliações subjetivas que os capitalistas efetuam quanto ao futuro. Keynes (1937) explica que o conhecimento do futuro é "oscilante, vago e incerto" e que por conhecimento incerto não pretende "distinguir o que é conhecido como certo, do que apenas é provável" tal como efetuado por alguns autores que reduzem a incerteza a mesma posição calculável de certeza. Estes autores admitem que fatos e expectativas são dados de forma definida e calculável e que os riscos se submetem a meros cálculos atuariais. Keynes utiliza o termo incerteza aplicando-o a problemas sobre os quais "não existe qualquer base científica para um cálculo probabilístico" (Keynes, 1937, pp. 170-171). Como o futuro é incerto, não reduzível a qualquer distribuição de probabilidades, o investimento é decidido a partir de expectativas construídas sobre um "estado de confiança" de bases precárias, em função do desconhecimento de um conjunto relevante de informações no momento da decisão. Dado que o investimento é um "ato único" com conseqüências sobre um longo período de tempo, a incerteza afeta especialmente toda decisão de acumulação produtiva de riqueza. Portanto, o próprio estado fluido das expectativas, influindo sobre as políticas de investimento das empresas, e em decorrência sobre a renda e o nível de emprego da sociedade acaba conferindo um caráter de instabilidade ao capitalismo. O "estado de confiança" deprimido por parte da classe capitalista acaba levando a uma menor necessidade de investimentos produtivos para sustentar posições conquistadas no mercado, em função da redução ou paralisação dos investimentos de caráter ofensivo dos concorrentes. Os fundos não investidos produtivamente são encaminhados para outras aplicações substitutivas. Toda empresa capitalista tem um amplo leque de alternativas para aplicação dos fundos resultantes de sua acumulação interna. A escolha, que necessariamente se dá sob condições de incerteza, obedece ao clássico "dilema do administrador financeiro", ou seja, a eleição de ativos de alta liquidez e baixa rentabilidade esperada ou de ativos de baixa liquidez e alta rentabilidade esperada. Neste aspecto, a decisão de investir em ativos produtivos concorre, em princípio, com todas as outras alternativas do leque de aplicações possíveis, existindo, porém, a restrição da manutenção das posições conquistadas no mercado quando assim explicitado pela estratégia 3 competitiva da unidade. Estas restrições podem ser muito importantes dado que parar de investir pode significar a perda de todos os ativos aplicados em determinado setor. De um ponto de vista individual, as bases sobre as quais são construídas as expectativas diferem de empresa para empresa e estão ligadas ao horizonte temporal no qual uma firma avalia que pode efetuar previsões com uma certa precisão. Segundo Ansoff (1991), o horizonte de tempo está relacionado com o período de vida da empresa como unidade de acumulação de capital. Este período é muito distante para a empresa, teoricamente infinito. Dentro do horizonte de tempo é possível separar, seguindo Ansoff, duas partes claramente diferenciadas: o período próximo e o longo prazo. O período próximo é aquele no qual uma empresa considera possível fazer projeções de lucros fundamentadas em estimativas razoavelmente fiéis quanto ao estado futuro da tecnologia, à sua participação no mercado, ao desenvolvimento da concorrência na indústria, às habilidades administrativas requeridas e quanto ao clima político e às condições econômicas em geral. O período próximo se estende até o limite do horizonte de planejamento. A possibilidade de planejamento (e a fixação do objetivo próximo), dentro deste período, está fundada na existência de uma situação de desconhecimento parcial das oportunidades futuras: Por exemplo, uma empresa interessada em ingressar na indústria de computadores pode não ser capaz de especificar, com antecedência, em que linhas de produtos e mercados estará atuando daí a dois anos. Pode, no entanto, diagnosticar o tipo particular de tecnologia que caracterizará a linha de produtos, as perspectivas gerais de crescimento, a natureza de concorrência, os padrões típicos de retorno sobre vendas, retorno do investimento, e índices preço/lucro. Portanto, na verdade trata-se de uma situação de ignorância parcial e não total. Se a empresa considerar grupos de produtos e mercados, em vez de produtos isolados, muitas informações tornar-se-ão disponíveis para a tomada de decisões. (Ansoff, 1991, p. 57). Ressalta Ansoff, (1991, cap. 4) que a situação de desconhecimento parcial difere do tipo de situações de risco e incerteza tratadas pela teoria matemática da decisão. No caso desta teoria se supõe que todas as alternativas são conhecidas e é possível atribuir diversos graus de probabilidade à ocorrência destas e de seus resultados. A amplitude temporal do horizonte de planejamento é função da capacidade de cada empresa em prever o caminho que seguirão as forças determinantes da evolução futura da indústria. Como esta capacidade não está distribuída de forma homogênea entre os concorrentes, é de se esperar que a todo momento exista uma distribuição assimétrica do "estado de confiança individual com relação ao futuro " dos capitalistas fundado em avaliações diferenciadas quanto ao futuro. O tamanho do horizonte de planejamento variará de empresa para empresa. Será maior no caso de empresas que apresentam uma série de características ligadas ao domínio da tecnologia e ao posicionamento estratégico que possibilitam um ponto de vista mais claro quanto à evolução 4 das forças competitivas na indústria, Portanto, empresas que têm um maior horizonte de planejamento estão em vantagem com relação a empresas que têm um horizonte menor. Como a elaboração e analise de projetos é realizada sempre dentro do período próximo e a extensão temporal máxima de cada projeto (período para o qual se avalia a viabilidade) não supera, como regra geral, o período próximo, ou seja vai no máximo até o horizonte de planejamento, as empresas com maior horizonte de planejamento podem estudar a viabilidade de cada projeto dentro de um período temporal maior que as empresas que têm um horizonte menor. Isto facilita a demonstração da viabilidade econômica dos projetos. Ou seja, estas empresas têm uma propensão maior a investir, o que reforça sua competitividade. O longo prazo se estende, segundo Ansoff, a partir do horizonte de planejamento até o limite do horizonte de tempo. Para este período de tempo é impossível efetuar qualquer cálculo econômico.Porém, a preocupação excessiva com a rentabilidade dentro do período próximo pode esgotar as possibilidades futuras da empresa ao final do período: Toda a ênfase estaria em produtos e mercados já existentes,: em propaganda, promoção, equipe de vendas, produtividade da organização de produção. Mas para permanecer rentável a longo prazo, a empresa precisa continuar renovando a si mesma; novos recursos devem ser aplicados e novos produtos e mercados precisam ser desenvolvidos. Muitas fases fundamentais desta atividade de auto-renovação possuem longos períodos de maturação (...) Se o comportamento da empresa fosse guiado tão somente pelo objetivo próximo, as despesas para tais fins não poderiam ser justificadas, e receberiam prioridade muito baixo (Ansoff, 1966, pp. 58-59). A impossibilidade de efetuar medições econômicas para o longo prazo leva à preocupação com o desenvolvimento de características da empresa que contribuam para a rentabilidade, tanto a nível externo (poder de competição) como a nível interno (eficiência). 5 A preocupação com a melhoria do desempenho no longo prazo está diretamente ligada ao tamanho do horizonte de planejamento. Unicamente a existência de claras linhas quanto ao caminho a seguir no período próximo levarão a considerar seriamente o desenvolvimento de ações no presente para consolidar o longo prazo. Por outro lado, as empresas que apresentam um horizonte curto de planejamento tenderão a serem levadas pelas variações da conjuntura e não se preocuparão em tomar medidas no presente que sustentem o longo prazo, pela simples razão que não têm condições de saber onde estarão no futuro mais longínquo. O maior horizonte de planejamento possibilita uma série de vantagens, criadoras de um verdadeiro "círculo virtuoso", pois abre-se espaço para: - procura pelo domínio de diversas tecnologias, inclusive as adjacentes, potencialmente ameaçadoras aos próprios negócios. - fixação de preços a partir de níveis futuros esperados de economias de escala ou de ganhos esperados de experiência que possibilitem reduzir custos (curva de experiência) - crescimento à frente da demanda, de forma a ocupar espaços na produção e na comercialização. Estas características que acompanham um comportamento baseado num horizonte de longo prazo colocam a preocupação constante com o desenvolvimento de ações que possibilitem um posicionamento estratégico favorável, mesmo no caso de mudanças inesperadas nos cenários competitivos, tecnológicos e econômicos futuros. 2. Elaboração dos projetos de investimento Os decisões de investimento têm as seguintes características: Aplicações de recursos no longo prazo. Relacionadas com o planejamento estratégico e o sistema orçamentario empresarial. Normalmente assumem a forma de projetos de investimento. Podem existir diferentes alternativas a serem avaliadas. Para a avaliação é importante estimar os fluxos de caixa gerados no tempo. Como exemplos: Construção de uma nova fabrica. Compra de novas maquinas. Substituição de um equipamento por outro. Lançamentos de um novo produto. Expansão de linhas de produtos já existentes. Construção de depósitos. Pesquisa, desenvolvimento e treinamento. 6 As etapas a serem seguidas na elaboração dos projetos são: 1. Geração das propostas. 2. Estimação dos fluxos de caixa das diversas propostas (considerando os critérios de investimento líquido e de fluxo de caixa das operações). 3. Avaliação dos fluxos de caixas a partir do uso de métodos de análise de projetos de investimento. 4. Escolha de projetos com base nos critérios de aceitação. A essência da escolha das alternativas de investimentos encontra-se na percepção de oportunidades e na geração dos números corretos, para estimativa dos fluxos de caixas. Fluxos de Caixa Consistem em estimativa das saídas e entradas de caixa após a dedução do imposto de renda dentro do horizonte temporal do projeto. Quando uma compra proposta substitui um ativo existente é preciso medir as saídas e entradas de caixa incrementais que resultarão do projeto. Nestas estimativas não são utilizados valores contábeis nem o conceito contábil de retorno: os fluxos de caixa determinam a capacidade da empresa de pagar contas, gastar dinheiro, reinvestir recursos ou distribui-los aos acionistas. Este é o padrão convencional de fluxo de caixa: Entradas 300 300 300 300 300 0 1 2 3 4 5 Saídas 1000 Investimento líquido Investimento liquido é a saída de caixa relevante que deve ser considerada ao avaliar-se um possível dispêndio de capital. Corresponde à diferença entre todas as entradas e saídas de caixa que ocorrem no momento zero. Investimento Líquido = Custo do novo projeto + custo de instalação das máquinas e equipamentos novos - valor a receber pela venda de ativos que serão substituídos + imposto de renda sobre venda de ativos. 7 Supondo um projeto estudado pela empresa Econômica no qual propõe-se a troca de uma maquina antiga por uma nova teriamos Valor compra máquina 200.000,00 + Custo de transporte máquina nova 25.000,00 + Custo instalação máquina nova 10.000,00 + Custo desmontagem máquina velha 8.000,00 - Valor venda máquina velha - 34.000,00 + IR devido pela venda máquina velha 6.000,00 = Investimento líquido 215.000,00 O valor do investimento líquido corresponderá a sáida de caixa na avaliação do projeto. Fluxo de caixa das operações O fluxo de caixa das operações corresponde as entradas de caixa decorrentes do projeto. A técnica básica para converter o lucro liquido contábil em fluxo de caixa é: Fluxo de caixa = Lucro liquido após o imposto de renda mais despesas das operações que não envolvem desembolso (as depreciações). Suponhamos que decorrente da compra da máquina anteriormente mencionada projetem-se na Econômica, para cada ano receitas, custos variáveis de operação e custos fixos (estes sem considerar o valor da depreciação). Faturamento (por ano) 350.000,00 - Custos variáveis(por ano) 240.000,00 Margem de Contribuição 110.000,00 - Custos Fixos (sem depreciação) (por ano) 50.000,00 = Fluxo de caixa antes IR 60.000,00 O fluxo de caixa gerado antes do IR é de R$ 60.000 Porem, há que considerar o impacto do IR no projeto. Supondo que a máquina seja depreciada em 10 anos, o valor anual da depreciação é de R$ 20.000. Deduzindo do Fluxo de caixa antes de IR o valor da depreciação encontramos o resultado contábil, que será a base para o cálculo do IR. Calculado o IR, o deduzimos do valor do Fluxo de caixa antes do IR e encontramos o Fluxo de Caixa Operacional após o IR. Este valor será considerado na avaliação do projeto como a entrada prevista de caixa; 8 Faturamento (por ano): 350.000,00 - Custos variáveis (por ano) 240.000,00 Margem de Contribuição 110.000,00 - Custos Fixos (sem depreciação) (por ano) 50.000,00 = Fluxo de caixa antes IR 60.000,00 Depreciação (por ano) 20.000,00 Resultado contábil 40.000,00 IR 35% 14.000,00 Fluxo de caixa operacional após IR 46.000,00 3. Métodos para avaliar projetos de investimento3.1. Pay-back Considera o tempo necessário para recuperar o dinheiro investido. Supondo que o projeto anteriormente mencionado da empresa Econômica seja avaliado em 10 anos e considerando ano 0 o momento em que o investimento é realizado podemos verificar que o pay-back ocorre no ano 5. Ano Investimento Líquido Fluxo de caixa operacional Fluxo de caixa Saldo de caixa 0 (215.000,00) (215.000,00) (215.000,00) 1 46.000,00 46.000,00 (169.000,00) 2 46.000,00 46.000,00 (123.000,00) 3 46.000,00 46.000,00 (77.000,00) 4 46.000,00 46.000,00 (31.000,00) 5 46.000,00 46.000,00 15.000,00 6 46.000,00 46.000,00 7 46.000,00 46.000,00 8 46.000,00 46.000,00 9 46.000,00 46.000,00 10 46.000,00 46.000,00 Observação: valor entre parênteses significa numero negativo 3.2. Valor presente líquido (VPL) O método também é conhecido como valor atual líquido (VAL). 9 Consiste em descontar o fluxo de caixa a uma taxa de desconto d que é a mínima aceitável pela empresa que avalia o projeto. Caso o resultado obtido seja superior a zero o investimento é aceitável, no caso contrário é rejeitado. A expressão formal do VPL é: onde: ILj = investimento líquido previsto no período j. FcxOj = fluxos de caixa das operações previstos em cada período j de vida do projeto d = taxa de desconto O VPL é a diferença entre os valores presentes das entradas e saídas de caixa. Se a rentabilidade do projeto for superior a taxa d o VPL será positivo. Se for inferior o VPL será negativo. Ou seja Quando o VPL>0 a proposta gerara um retorno maior do que a taxa de desconto utilizada. Pode ser aceita. Quando o VPL<0 a proposta tem um retorno inferior a taxa de desconto utilizada e não e ,portanto, economicamente viável. Será rejeitada. Continuando com o exemplo anterior, observamos que se a taxa de desconto d usada pela empresa for de 14% ao ano, a proposta será aceita. Já, se a empresa escolhe uma taxa d de 18% na aceitará a proposta. (há que lembrar que esta avaliação é financeira, a empresa Econômica, mesmo usando uma taxa d de 18% ao ano, pode aceitar a proposta, caso seja considerada muito importante desde uma perspectiva estratégica). Ano Fluxo de caixa d = 14% d = 18% Taxas de desconto Valor descontado Taxas de desconto Valor descontado 0 (215.000,00) 1,00000000 (215.000,00) 1,0000000 (215.000,00) 1 46.000,00 1,14000000 40.350,88 1,1800000 38.983,05 2 46.000,00 1,29960000 35.395,51 1,3924000 33.036,48 3 46.000,00 1,48154400 31.048,69 1,6430320 27.997,02 4 46.000,00 1,68896016 27.235,69 1,9387778 23.726,29 5 46.000,00 1,92541458 23.890,96 2,2877578 20.107,02 6 46.000,00 2,19497262 20.956,98 2,6995542 17.039,85 7 46.000,00 2,50226879 18.383,32 3,1854739 14.440,55 8 46.000,00 2,85258642 16.125,72 3,7588592 12.237,76 9 46.000,00 3,25194852 14.145,37 4,4354539 10.370,98 10 46.000,00 3,70722131 12.408,22 5,2338356 8.788,97 VPL 24.941,32 (8.272,03) 10 Ou resumidamente: d= 14% d = 18% Valor presente das saídas (215.000,00) (215.000,00) Valor presente das entradas 239.941,32 206.727,97 VPL 24.941,32 (8.272,03) Esta metodologia de cálculo do VPL corresponde ao modelo com recebimento antecipado, no qual a primeira parcela não é descontada. O mesmo modelo pode ser construído supondo que o investimento líquido será efetuado no ano 1 (o ano seguinte ao ano base no qual o projeto esta sendo avaliado). Corresponde ao modelo de desconto com recebimentos vencidos. Ano Fluxo de caixa d = 14% d = 18% Taxas de desconto Valor descontado Taxas de desconto Valor descontado 1 (215.000,00) 1,14000000 (188.596,49) 1,1800000 (188.596,49) 2 46.000,00 1,29960000 35.395,51 1,3924000 33.036,48 3 46.000,00 1,48154400 31.048,69 1,6430320 27.997,02 4 46.000,00 1,68896016 27.235,69 1,9387778 23.726,29 5 46.000,00 1,92541458 23.890,96 2,2877578 20.107,02 6 46.000,00 2,19497262 20.956,98 2,6995542 17.039,85 7 46.000,00 2,50226879 18.383,32 3,1854739 14.440,55 8 46.000,00 2,85258642 16.125,72 3,7588592 12.237,76 9 46.000,00 3,25194852 14.145,37 4,4354539 10.370,98 10 46.000,00 3,70722131 12.408,22 5,2338356 8.788,97 11 46.000,00 4,22623230 10.884,40 6,1759260 7.448,28 VPL 21.878,35 ( 13.403,30) Ou resumidamente: d= 14% d = 18% Valor presente das saídas (188.596,49) (188.596,49) Valor presente das entradas 210.474,84 175.193,19 VPL 21.878,35 (13.403,30) As planilhas de cálculo têm uma função financeira denominada VPL que calcula o valor resultante de uma série de fluxos de caixa considerando o modelo de recebimentos vencidos. Há que informar a taxa de desconto d e o intervalo de células onde estão os valores do fluxo de caixa (no exemplo o intervalo onde esta á série que se inicia com (215.000 ) até o último valor de 46.000,00. Inserir Função Financeira: VPL (taxa; valores) Se escolhemos a taxa de 14% , informamos VPL (0,14; intervalo de valores) e obtemos como resposta 21.878,35. 11 Esta resposta corresponde ao modelo de atualização com recebimento vencido. Caso desejemos usar a função VPL e o modelo a ser seguido é o de recebimento antecipado, basta multiplicar o resultado obtido por (1+ d). No exemplo, 21.878,35 x (1,14) = 24.941,32 Caso comparemos o VPL com o valor presente das saídas de caixa (estas expressas em valores positivos) obtemos o índice de lucratividade: Índice de lucratividade= ((VPL / valor presente saídas de caixa)-1) x 100 No exemplo do projeto da Econômica com recebimento antecipado: d= 14% d = 18% Índice de lucratividade 11,60% -3,85% 3.3. Pay-back descontado Consiste no cálculo do pay-back usando os valores descontados. Consideremos o fluxo de caixa descontado do projeto da Econômica decorrente do desconto antecipado com taxa de 14% ao ano: Ano Fluxo de caixa d = 14% Saldo de caixa Taxas de desconto Valor descontado 0 (215.000,00) 1,00000000 (215.000,00) (215.000,00) 1 46.000,00 1,14000000 40.350,88 174.649,12) 2 46.000,00 1,29960000 35.395,51 (139.253,62) 3 46.000,00 1,48154400 31.048,69 (108.204,93) 4 46.000,00 1,68896016 27.235,69 (80.969,23) 5 46.000,00 1,92541458 23.890,96 (57.078,28) 6 46.000,00 2,19497262 20.956,98 (36.121,29) 7 46.000,00 2,50226879 18.383,32 (17.737,98) 8 46.000,00 2,85258642 16.125,72 (1.612,26) 9 46.000,00 3,25194852 14.145,37 12.533,10 10 46.000,00 3,70722131 12.408,22 VPL 24.941,32 Observamos que o pay-back descontado se verifica no ao 9. (no pay-back sem desconto ocorria no ano 5) 3.4. Taxa interna de retorno (TIR) A TIR representa "a taxa de desconto r que iguala, em determinado momento de tempo (geralmente usa-se a data de início do investimento- momento zero), as entradas com as saídas previstas de caixa" (Martins e 12 Assaf, 1985, p. 439). Aproxima-se, portanto, ao que Keynes em sua Teoria Geral, denominou de eficiência marginal do capital (Leite, 1982, p. 336). Mais precisamente, defino a eficiência marginal do capital como sendo a taxa de desconto que tornaria o valor presente do fluxo de anuidades das rendas esperadas desse capital, durante toda a sua existência, exatamente igual ao seu preço de oferta (Keynes, 1936, p. 101). Esta taxa de desconto r é obtida ao se igualar: onde: ILj = investimento líquido previsto no período j. FcxOj = fluxos de caixa das operações previstos em cada período j de vida do projeto r = taxa interna de retorno ou eficiência marginal do capital. Podemos observar o seguinte exemplo no qual uma empresa investe R$ 1.000 no ano 0 e depois obtêm um determinado fluxo de caixa das operações: Período (j) Investimento líquido (IL) Fluxo de caixa das operações(FcxO) Fluxo de caixa (IL – FcxO) 0 1000 -1000 1 100 100 2 100 100 3 1100 1100 TOTAL 1000 1300 300 Neste exemplo a eficiência marginal do capital é de 10%, pois esta é a taxa r que iguala as entradas com as saídas de caixa:: 100 100 1100 1000 = ------- + --------- + --------- (1+0,10) (1+0,10)2 (1+0,10)3 A interpretação desta taxa r deve ser efetuada cuidadosamente Como afirmam Martins e Assaf (1985) a TIR corresponde à taxa de retorno equivalente à unidade de tempo para a qual foram definidos os fluxos de fundos. No exemplo em estudo, a TIR corresponde a uma taxa anual de 10%, a 13 qual em 3 anos gerará uma rentabilidade de 33,1% [(1+0,10)3-1]. A riqueza econômica em termos monetários será de $ 331, ao final do terceiro ano. Comparando este montante com o investimento inicial chega-se à taxa de 33,1% [(331/1000)-1]x100. A taxa equivalente anual é 10% a qual corresponde à taxa r anteriormente definida. Supondo que o investimento se realize (e lembrando que o investimento efetuado corresponde ao Ativo da empresa) a analisamos o resultado histórico ano a ano, a taxa de retorno sobre ativo (RsA) verificada será sempre 10%, tal como pode ser observado no quadro seguinte: Ano Lucro Ativo RsA 1 100 1000 10% 2 110 1100 10% 3 121 1210 10% TOTAL 331 Pode parecer estranho que o fluxo de fundos previsto seja diferente do lucro verificado em termos monetários. Porém, esta é uma característica do método da TIR, que tem como pressuposto básico o reinvestimento do fluxo intermediário de fundos à própria taxa r. Cabe notar também que, quando os fluxos de fundos são desiguais, a taxa r não encontrará correspondência período a período com a taxa de retrono sobre o investimento, A taxa r não pode ser considerada "(...) como o ganho efetivo em cada período (...), mas como a rentabilidade ponderada geometricamente de acordo com o critério de juros compostos" (Martins e Assaf, 1985, p. 440). Neste caso a correspondência será "em média", ou seja, a média geométrica da rentabilidade total, historicamente verificada no projeto, será igual a r. Pode-se então considerar como correspondentes, no que diz respeito ao cálculo comparativo do desempenho do capital entre o futuro "esperado" e o passado verificado - ou seja entre o ex-ante e o ex-post -, a eficiência marginal do capital ou taxa interna de retorno (r) e a taxa de lucro sobre o capital total (ativo) investido (RsA). Cabe observar que Neste caso RsA deve ser calculada tomando como base os custos desembolsáveis, para torná-la compatível com os elementos que entram no cálculo da TIR ,A eficiência marginal do capital e a taxa de lucro sobre o ativo (RsA) são equivalentes quando utilizados para medir o desempenho da mesma massa de capital em distintos períodos de tempo. Em um caso, o futuro "esperado" é trazido ao presente, no outro, é verificado no presente o resultado no passado daquele futuro "esperado". Qual a relação entre o VPL e a TIR?. O VPL, quando d < r é positivo tornando-se menor na medida em que d se aproxima de r. Quando d=r o VPL é igual a zero e quando d>r o VPL é negativo. Ou seja, caso descontemos um fluxo de caixa ao valor da TIR teremos um VPL = 0 como resultado. Retomando o exemplo anterior da Econômica a TIR é 16,91%. Para chegar a este resultado usamos a função financeira TIR (ou IRR nas versões em inglês). Há que definir o intervalo dos dados (os valores do Fluxo de caixa) e há que informar um taxa estimada. 14 TIR (intervalo dos dados; taxa estimada) Ano Fluxo de caixa 0 (215.000,00) 1 46.000,00 2 46.000,00 3 46.000,00 4 46.000,00 5 46.000,00 6 46.000,00 7 46.000,00 8 46.000,00 9 46.000,00 10 46.000,00 TIR = 16,91%. Caso descontemos o fluxo de caixa do projeto da Econômica a taxa da TIR, encontraremos um VPL = 0, independentemente que o fluxo seja antecipado ou vencido. No caso de fluxo antecipado: VPL descontado a taxa da TIR. Fluxo antecipado; Ano Fluxo de caixa d = 16,91% Taxas de desconto Valor descontado 0 (215.000,00) 1,00000000 (215.000,00) 1 46.000,00 1,16909890 39.346,54 2 46.000,00 1,36679225 33.655,44 3 46.000,00 1,59791532 28.787,51 4 46.000,00 1,86812105 24.623,67 5 46.000,00 2,18401827 21.062,09 6 46.000,00 2,55333336 18.015,67 7 46.000,00 2,98509923 15.409,87 8 46.000,00 3,48987624 13.180,98 9 46.000,00 4,08001049 11.274,48 10 46.000,00 4,76993579 9.643,74 VPL 0,00 15 No caso de fluxo vencido: VPL descontado a taxa da TIR, Fluxo vencido Ano Fluxo de caixa d = 16,91% Taxas de desconto Valor descontado 1 (215.000,00) 1,16909890 (183.902,32) 2 46.000,00 1,36679225 33.655,44 3 46.000,00 1,59791532 28.787,51 4 46.000,00 1,86812105 24.623,67 5 46.000,00 2,18401827 21.062,09 6 46.000,00 2,55333336 18.015,67 7 46.000,00 2,98509923 15.409,87 8 46.000,00 3,48987624 13.180,98 9 46.000,00 4,08001049 11.274,48 10 46.000,00 4,76993579 9.643,74 11 46.000,00 5,57652670 8.248,86 VPL 0,00 Como calcular a TIR sem o uso de planilha de cálculo ou calculadora financeira Em algumas situações o analista de projetos pode não ter a disposição um computador ou uma calculadora financeira. Isto não impede de achar a TIR de um projeto, porem o calculo deve ser realizado por meio de um processo de aproximação. Desconta-se o fluxo de caixa por uma taxa d estimada. Caso o VPL obtido seja positivo há que aumentar o valor da taxa d. Caso o VPL obtido seja negativo há que diminuir o valor de d. Repete-se este processo sucessivamente até achar a taxa d da qualresulta um VPL = 0. Suponhamos um dado fluxo de caixa de um projeto; Podemos descontá- lo a uma taxa d estimada de 12% ao ano: ANO Fluxo de caixa Taxas de desconto Valor descontado 0 (35.000,00) 1 (35.000,00) 1 5.000,00 1,12 4.464,29 2 25.000,00 1,2544 19.929,85 3 5.000,00 1,404928 3.558,90 4 5.000,00 1,5735194 3.177,59 5 4.225,00 1,7623417 2.397,38 VPL (1.472,00) Como o VPL obtido é negativo há que descontar a uma taxa d menor, por exemplo 8%: 16 ANO Fluxo de caixa Taxas de desconto Valor descontado 0 (35.000,00) 1 (35.000,00) 1 5.000,00 1,08 4.629,63 2 25.000,00 1,1664 21.433,47 3 5.000,00 1,259712 3.969,16 4 5.000,00 1,360489 3.675,15 5 4.225,00 1,4693281 2.875,46 VPL 1.582,87 O VPL obtido é positivo, Sabemos que a TIR esta no intervalo 8%-12%. Descontamos a uma taxa d dentro do intervalo, por exemplo 10% e nos aproximamos bem da TIR: ANO Fluxo de caixa Taxas de desconto Valor descontado 0 (35.000,00) 1 (35.000,00) 1 5.000,00 1,1 4.545,45 2 25.000,00 1,21 20.661,16 3 5.000,00 1,331 3.756,57 4 5.000,00 1,4641 3.415,07 5 4.225,00 1,61051 2.623,39 VPL 1,65 O VPL é próximo a zero. Caso calculemos a TIR com o auxílio da planilha de cálculo encontramos o valor correto: 10,0022%. Relação TIR e VPL Cabe destacar as relações existentes entre os métodos da TIR e do VPL. Ambos os métodos sinalizam no mesmo sentido quanto à decisão a ser tomada ao avaliar determinado projeto: "Normalmente, os métodos do VPL e da TIR levam à mesma decisão de aceitar - rejeitar um investimento isolado ou um grupo de investimentos independentes" (Martins e Assaf, 1985, p. 449). Ocorrem diferenças, no entanto, quando avaliados dois projetos mutuamente exclusivos; nesse caso a TIR e o VPL podem sinalizar formas contrárias. Isto é devido ao pressuposto básico de ambos os métodos quanto ao reinvestimento dos fluxos intermediários de caixa. "Na verdade, o conflito verificado entre os métodos é explicado pelas diferentes taxas de reinvestimento admitidas implicitamente nos fluxos de caixa. O método da TIR pressupõe que os fluxos intermediários de caixa sejam reinvestidos à própria taxa interna de retorno do projeto, e o método da VPL admite que esses fluxos sejam compostos (reinvestidos) à taxa de desconto exigida pela empresa" (Martins e Assaf, 1985, p. 450). Esta é a razão principal pela qual o método do VPL costuma ser mais utilizado que a TIR ao se efetuar a avaliação de determinado projeto de investimento: a taxa d utilizada para calcular o VPL é mais representativa que a taxa r da TIR, para expressar as possibilidades futuras de reaplicação dos fluxos intermediários de caixa. A taxa d "(...) exprime, em essência um valor aproximado do custo de oportunidade da empresa, e serve, conseqüentemente 17 como uma medida mais indicativa das possibilidades de reinvestimentos" (Martins e Assaf, 1985, p. 453). Por outro lado, se o que se pretende estudar é o retorno r que um projeto de investimento oferece e depois comparar esse retorno r com a taxa de juros i, o método da TIR, permite comparar r com i de forma objetiva, independente da taxa de desconto utilizada. Isto não se verifica com o VPL, pois o valor presente depende da taxa d escolhida; e, portanto, é impossível determinar a taxa implícita de retorno de um ativo, r, para compará-la com i. Concluindo: ambos os métodos (TIR e VPL) sinalizam na mesma direção quando trata-se de avaliação de projetos de investimento. O VPL de um determinado projeto é função da taxa d utilizada e da taxa r que é intrínseca ao projeto; sempre que r>d o VPL será positivo. O VPL é mais utilizado que a TIR na avaliação de projetos, dado que a taxa d representa melhor as alternativas de reinvestimentos futuros de fundos. A TIR possibilita, por outro lado, uma melhor visão do retorno do projeto em si mesmo (eficiência marginal do capital). 4. Exercício Uma empresa do setor de tecelagem industrial estuda comprar 2 teares novos para atender demanda de empresas produtoras de pneus, para fabricação de tecido a ser utilizado no processo de produção de pneus. Cada tear custa a vista R$ 180.000,00. Há um custo de transporte e instalação de R$ 10.000,00 para os dois teares. Os impostos incidentes sobre faturamento são os seguintes: ICMS 18,00% PIS 1,65% COFINS 7,60% TOTAL 27,25% (não será considerado o IPI, pois os preços serão expressos sem este imposto). O departamento comercial prevê que as vendas anuais serão as seguintes por cliente: Descrição Clientes Quantidade/ano Unidade Preço unit. sem IPI Faturamento por ano XPZ Goodyear 40.000 kg 10,00 400.000,00 NOP Pirelli 20.000 kg 9,00 180.000,00 GLM Firestone 18.000 kg 12,00 216.000,00 RZX Michelin 24.000 kg 8,00 192.000,00 Total 102.000 988.000,00 18 O departamento de custos estudou as especificações de cada produto e seu processo e projetou os custos variáveis unitários e os custos fixos anuais de operação dos teares. Descrição Clientes Quantidade/ano Preço unit. sem IPI Custos variáveis Custos Variáveis Totais Matéria Prima Impostos sobre PV Outros Total unitário 27,25% XPZ Goodyear 40.000 10,00 3,50 2,73 0,40 6,63 265.000,00 NOP Pirelli 20.000 9,00 2,90 2,45 0,35 5,70 114.050,00 GLM Firestone 18.000 12,00 4,20 3,27 0,70 8,17 147.060,00 RZX Michelin 24.000 8,00 2,90 2,18 0,50 5,58 133.920,00 Total 102.000 660.030,00 Quanto as custos fixos, serão contratados 6 funcionários (2 por turno de produção) com um salário médio de R$ 1.600 por mês. O taxa de provisões trabalhistas e encargos é de 80% a ser aplicável sobre o salário médio.(observação: esta taxa inclui as férias, portanto o valor de salário anual é obtido multiplicando por 11 e não por 12). São previstos R$ 30.000,00 por ano de gastos de manutenção e mais R$ 6.000,00 por ano de gastos diversos. O valor dos teares é depreciado em 10 anos. Considerando que o desembolso para a aquisição e instalação dos teares é efetuado no ano 0, que receitas e custos ocorrem a partir do ano 1 e que o projeto e avaliado até o ano 10 (do ano 0 até o 10), solicita-se: a) Determinar investimento líquido e fluxo de caixa operacional (a alíquota de IR é 35%) b) Determinar o VPL (fluxo antecipado) e o índice de lucratividade A empresa avalia os projetos com uma taxa d = 14% ao ano. c) Determinar a TIR. d) Determinar o pay-back e o pay-back descontado. 5. Bibliografia ANSOFF, H. (1991). A nova estratégia empresarial. São Paulo, Atlas. BACIC, M. J. (1990). Fragilidade financeira e alavancagem: uma aplicação no segmento das maiores empresas do Brasil (1980-1987), dissertação de mestrado, IE/Unicamp. KEYNES, D. (1936). The General Theory of Employment, Interest and Money, London, Mac Millan. Tradução ao português: Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro, São Paulo, Nova Cultural, 1983. ------------. (1937). The General Theory of Employment. Quarterly Journal of Economics, Fev. Tradução ao Portugués: Teoria Geral do Emprego, In SZMRECSÁNYI, T. (Org.), Keynes, São Paulo, Ática, 1984. LEITE, H. (1982). Introdução à Administração Financeira. São Paulo, Atlas. MARTINS e ASSAF, A. (1985). Administração Financeira: As Finanças das Empresas sob Condições Inflacionárias, São Paulo, Atlas. 19 Solução do exercício20
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