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Unidade 1 – Conceitos de Cultura e de Clima Organizacional Caro aluno, Estamos iniciando a disciplina Clima e Cultura Organizacional do curso de especialização MBA em Gestão de Pessoas da UNOPAR Virtual! Seja muito bem-vindo! Prepare-se, pois esse é assunto muito interessante, acomode-se bem e aproveite cada detalhe dessa aula... Eu sou a professora responsável pela disciplina, meu nome é Thais Accioly Baccaro, sou formada em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Londrina, tenho Mestrado em Administração de Organizações pela FEARP-USP e estou concluindo meu doutorado, também na FEARP-USP. Trabalho diretamente com pesquisa na área de Gestão de Pessoas e sou professora do ensino superior há 7 anos. Agora que você já conhece um pouquinho de mim, fiquei curiosa para saber quem é você... Qual sua formação? Qual sua experiência na área de Gestão de Pessoas? Você já fez pesquisas de clima organizacional, tentou entender a cultura da empresa que trabalha, ou até mesmo gerenciou um processo de mudança organizacional? Esses assuntos serão trabalharemos e detalhados nessa disciplina. Sou suspeita para falar, mas esses conteúdos são fundamentais para o especialista em Gestão de Pessoas, pois eles concedem informações importantes sobre a construção da cultura nas organizações, trata do entendimento do clima organizacional e prepara para as mudanças organizacionais. Para que você possa ter acesso a todo conteúdo, dividiremos nossa aula em duas unidades, sendo que na primeira veremos os conceitos de cultura e clima organizacional, e na segunda falaremos das pesquisas de clima e das mudanças organizacionais. Ficou em dúvida em como a disciplina será dividida? Veja o quadro abaixo com o resumo das informações. Quadro 1 – Apresentação da disciplina. Fonte: Do autor. Será um enorme prazer compartilhar com vocês esses conceitos que são de extrema utilidade para todo profissional de gestão de pessoas que deseja auxiliar a empresa que trabalha no entendimento de sua cultura, de seu clima e no gerenciamento das mudanças organizacionais. E agora que você já sabe os conteúdos que trabalharemos, vamos iniciar nossas atividades? Preparados? Vamos dar a largada...Vamos trabalhar juntos aprendendo um pouco mais sobre Clima e a Cultura Organizacional. CONCEITOS DE CULTURA E DE CLIMA ORGANIZACIONAL O que será que representa a cultura de uma organização? Será que esse assunto tem relação com a cultura da região em que vivemos? Será que a cultura das pessoas que trabalham em uma empresa influencia na criação da cultura organizacional? Nossa... são tantos questionamentos... Fique calmo (a), pois vamos conversar um pouquinho sobre todas essas dúvidas... Para começar, é importante falar que o termo cultura não surgiu no ambiente administrativo, pelo contrário, ele é bastante antigo, e na sociedade romana o termo latino colere significava o cultivo de produtos relacionados com a terra, educação, desenvolvimento da infância e cuidado com os deuses (SAMPAIO, 2004). Assim, “[...] na maioria das línguas ocidentais ‘cultura’ é equivalente a ‘civilização’ ou ‘refinamento da mente’ e designa muitas vezes o resultado desse refinamento, como sejam a educação, a arte a literatura” (HOFSTEDE, 2003, p. 19). Para o autor, podemos entender a cultura como todas as atividades simples da vida, como “[...] cumprimentar, comer, mostrar ou esconder emoções, manter uma certa distância física dos outros, fazer amor, ou manter a higiene do corpo” (HOFSTEDE, 2003, p. 19). REFLEXÃO: Mas, como será então que formamos a nossa cultura? Ele já nasce junto com a gente, ou vamos desenvolvendo-a com o passar do tempo? Bem, a cultura de uma pessoa é adquirida e não herdada, ela vem do ambiente social em que vivemos e não dos nossos genes (HOFSTEDE, 2003). Portanto, um indivíduo pode fazer parte de vários grupos sociais que correspondem a níveis de cultura diferentes, o nível nacional que é a cultura do país; o nível religioso, que representa suas crenças e convicções; o nível de geração, que é a diferença entre avós, pais, filhos; ao nível de origem social, que determina sua escolaridade e profissão exercida, entre vários outros. REFLEXÃO: Pense um pouquinho sobre a cultura que você foi desenvolvendo ao passar da sua vida, você possui a cultura brasileira, a cultura da sua região, a cultura da sua cidade, e a cultura da organização que você trabalha? Pense em elementos que fazem parte de cada uma dessas esferas. Por exemplo: Qual a comida típica da sua região? Tem estilo de música regional? Existe alguma vestimenta característica da sua região No Brasil nós temos várias características culturais bem marcantes, como os hábitos indígenas, os costumes das baianas, nossa paixão por futebol, o carnaval do Rio de Janeiro, de Salvador, de Olinda, e tantas outras coisas... Como é bom viver em um país tão pluralista, você não acha? Pensando no ambiente empresarial, podemos falar que, com a globalização e o avanço da tecnologia, as organizações passaram a possuir funcionários e clientes oriundos de várias partes do mundo. Portanto, o processo de comunicação entre eles deve levar em consideração as diferenças culturais existentes, para garantir uma comunicação eficaz e sem ruídos. As barreiras culturais existentes podem levar grandes negociações ao fracasso, desta forma, Robbins (2005), sugere que antes de uma comunicação com pessoas de culturas diferentes devemos levar em consideração estas quatro regras: Quando utilizamos estas regras, estamos buscando ser o mais conservador possível e garantir que o processo de comunicação com pessoas de diferentes culturas ocorra da melhor maneira possível. Nós estamos inseridos em uma cultura nacional que determina as características fundamentais que simbolizam o povo brasileiro; temos uma cultura regional que é representada pelas características da região em que vivemos no Brasil; e também temos a cultura organizacional, que são as normas e os valores compartilhados pelos membros de uma empresa. Toda organização possui cultura com características próprias e únicas, quais são as características culturais da empresa que você trabalha? Como nosso interesse aqui é discutir a cultura organizacional, vamos nos focar neste assunto. Os estudos sobre cultura organizacional tiveram início na década de 1950, mas somente nos anos 1980 é que as pesquisas passaram a ter grande importância dentro dos ambientes organizacionais. O enfoque em cultura organizacional teve início com o declínio da produtividade norte- americana e o aumento da competitividade das empresas japonesas. As divergências existentes entre as culturas da sociedade ocidental e oriental suscitaram as pesquisas na área de cultura organizacional. Os valores da cultura japonesa passaram a ser apontados como os responsáveis pelo sucesso empresarial, como o trabalho em grupo, a obediência e o compartilhamento (FREITAS, 1991). Já sabemos que o estudo da cultura organizacional teve influência das empresas japonesas, mas então, o que é a cultura organizacional? Veja abaixo duas definições muito interessantes. A cultura organizacional não é algo palpável, ela não é percebida ou observada em si mesma, mas por meio de seus efeitos e consequências. Muitas vezes, o estudo da cultura organizacional lembra um iceberg. Dê uma olhadinha na imagem abaixo, repare que o que vemos acima da água é um pedaço pequeno se comparado ao tamanho do gelo que fica submerso. Mas, como podemos relacionar o iceberg com a cultura organizacional? Bem vamos lá... A parte superior que está acima da água, representa os aspectos visíveis e superficiais decorrentesda cultura. Na parte que fica embaixo da água, estão os aspectos invisíveis e profundos, no qual a observação e a percepção são mais difíceis. Na figura abaixo você pode verificar os elementos que representam o iceberg da cultura organizacional, sendo os aspectos formais a parte visível da cultura e os aspectos informais a parte invisível da cultura organizacional. Figura 3 – Aspetos Formais e Informais da cultura Organizacional. Fonte: CHIAVENATO (2006, p. 101). A maior dificuldade em analisar a cultura organizacional está em decifrar os elementos que ficam submersos, ou seja, que são invisíveis, pois eles são orientados pelos aspectos sociais e psicológicos. Para auxiliar nesta análise, podemos verificar cada um dos elementos que compõe a cultura de organização, assunto que será discutido nas Vídeo Aulas a seguir: Existem organizações que possuem cultura forte e outras que possuem cultura fraca (ROBBINS, 2005). A cultura forte tem um impacto maior impacto sobre o comportamento do empregado e está mais diretamente relacionada à diminuição de rotatividade, pois demonstra alta concordância entre os membros, coesão, lealdade e compromisso organizacional. Já na cultura organizacional fraca, esses comportamentos dificilmente são observados. Mas, então, como transformar uma cultura organizacional fraca em forte? Como podemos manter a cultura organizacional viva? Para isso, podemos nos basear em algumas ações que podem nos ajudar (ROBBINS, 2005): Teoricamente, as culturas organizacionais têm seu início com a filosofia do fundador da empresa. Esta filosofia orienta como devem ser os critérios utilizados nas práticas de recrutamento e seleção dos profissionais. A partir do momento em que o funcionário é contratado, ele passa por um processo de socialização, que é o período em que o funcionário aprende os valores e as normas da organização, assimilando os comportamentos essenciais para o seu bom desempenho na empresa. A junção dos valores que indivíduo traz de fora da empresa, juntamente com o processo de socialização, ocorrido no momento em que ele entrou na empresa, e com a filosofia dos dirigentes, formam a cultura organizacional. Figura 4 – Formação da cultura organizacional. Fonte: Robbins (2005, p. 511). A figura acima demonstra como a cultura organizacional é formada, tendo seu início pela filosofia do fundador da empresa, que inicia as operações passando seus valores para organização, em seguida, os processos de seleção de pessoal que visam recrutar e contratar profissionais condizentes com os objetivos da organização. Após a contratação, a maneira como os novos funcionários são socializados e que os dirigentes conduzem este processo vão formando a cultura organizacional. PESQUISAS E TIPOS DE CULTURA ORGANIZACIOANAL Como podemos descobrir as características da cultura de uma organização? Bem, vamos pensar da seguinte maneira, se você quer desvendar a cultura organizacional da empresa que você trabalha, com certeza você terá que investigar os seguintes pontos: histórico da organização, incidentes críticos que a organização passou, processo de socialização de novos membros, políticas de recursos humanos, processo de comunicação, e organização do processo de trabalho (FLEURY; FISCHER, 1991). Analisando cada um destes seis tópicos podemos ter uma visão detalhada que nos indica como é a cultura de uma organização, para assim adequar os programas de recursos humanos e os processos de mudança organizacional. Para entender a cultura das organizações, vários autores realizaram estudos, podendo ser destacado como o de maior abrangência e de maior repercussão o realizado pelo holandês Hofstede (2003). O autor realizou uma pesquisa sobre culturas nacionais e culturas organizacionais na IBM em mais de 40 países em que a empresa possui filiais. Nessa pesquisa, ele identificou quatro dimensões que mostram as diferenças de padrões de valores relacionados com o trabalho que, quando tratadas isoladamente, classificam os países pesquisados. Outro estudo de grande importância foi o realizado por Handy (1994). O autor realizou uma ampla pesquisa de cultura organizacional que classifica as organizações levando em consideração a mitologia grega, assim ele dividiu as empresas em 4 tipos de cultura organizacional e as denominou levando em consideração as características de quatro deuses gregos. CLIMA ORGANIZACIONAL Até agora conversarmos bastante sobre cultura organizacional, mas e o clima, do que se trata esse conceito? Como esses assuntos se relacionam? O conceito de clima organizacional é um dos mais escorregadios dos pesquisadores da área empresarial. Muitos falam sobre o clima, mas poucos conseguiram apresentar uma ideia sólida sobre a sua definição. Ele foi definido por Forehand e Gilmer (1964, p. 362) como: [...] o conjunto de características que descrevem uma organização e que (a) distingue uma organização de outras organizações; (b) são relativamente permanentes durante o tempo e (c) influencia o comportamento das pessoas na organização. Para os autores, a definição de clima organizacional tem o intuito de discutir os atributos ou as características da organização e, para tanto, propõem cinco dimensões: tamanho, estrutura, complexidade dos sistemas, estilo de liderança, e orientações para os objetivos. Ou seja, quando você quiser entender um pouquinho sobre clima organizacional terá que investigar essas cinco dimensões. Por exemplo: Já para os Litwin e Stringer (1968, p. 187) o clima organizacional é: [...] um conceito que descreve a natureza subjetiva ou a qualidade do ambiente organizacional. Suas propriedades podem ser percebidas ou experimentadas pelos membros da organização e comunicadas por eles por meio de um questionário adequado. É importante observar que, enquanto na definição de Forehand e Gilmer (1964) a ênfase recai sobre as características da organização, na definição de Litwin e Stringer (1968) a ênfase recai sobre a soma das percepções dos membros que trabalham na organização. Sendo que a análise do clima organizacional serve para identificar onde se situam as grandes deficiências das organizações e mostrar em que direção possíveis esforços devem ser enviados na busca de soluções que venham a favorecer uma melhor integração entre as metas individuais e institucionais, o que, em consequência, se traduz num melhor desempenho, tanto do ponto de vista pessoal, como organizacional. Para Chiavenato (2006), o clima organizacional está intimamente relacionado com a motivação dos membros da empresa. Quando há uma elevada motivação entre os funcionários, o clima organizacional tende a ser favorável e proporciona relações de satisfação, animação, interesse e colaboração entre os participantes. Quando há baixa motivação, o clima organizacional tende a baixar, demonstrando casos de desinteresse, apatia, insatisfação, depressão. Desta forma, o clima representa o ambiente interno da organização e está diretamente relacionado com o grau de motivação existente. Neste sentido, o conceito de clima organizacional nos remete a uma série de aspectos próprios da organização, e se trata de um conceito multidimensional que engloba as seguintes variáveis (DIAZ, 1998): variáveis do ambiente físico: espaço físico, condições de ruído, calor, instalações, máquinas; variáveis estruturais: tamanho da organização, estrutura formal, estilo de direção;variáveis do ambiente social: companheirismo, conflitos entre pessoas e departamentos, comunicação; variáveis pessoais: atitudes, motivações e expectativas; e variáveis próprias do comportamento organizacional: produtividade, absenteísmo, rotatividade, satisfaçãono trabalho, tensão e stress. Todas estas variáveis configuram o clima de uma organização, e, por meio da percepção delas, os integrantes da organização ou os pesquisadores de comportamento organizacional, podem tirar conclusões significativas das empresas. Assim, o clima organizacional é uma autorreflexão dos membros da organização acerca de sua vinculação entre si e com o sistema organizacional. Na visão de Luz (2003), o clima de uma organização pode ser bom, prejudicado ou ruim. No bom clima organizacional há o predomínio de atitudes positivas como: confiança, entusiasmo, alegria, engajamento, participação, motivação, comprometimento e baixo turnover. Já no clima ruim ou prejudicado, algumas variáveis organizacionais afetam de maneira negativa o ânimo dos funcionários, havendo o predomínio de tensão, discórdia, rivalidade, conflitos, desinteresse pelo cumprimento da tarefa, resistência manifesta ou passiva às ordens, comunicações comprometidas e alta rotatividade. A percepção do clima organizacional é bastante subjetiva, no entanto, ela pode se materializar por meio de indicadores que demonstram sinais sobre a sua qualidade. Luz (2003) orienta que podem ser considerados estes indicadores do clima da organização: análise do turnover, absenteísmo, programas de sugestão, avaliação de desempenho, greves, conflitos interpessoais e interdepartamentais, desperdícios de materiais e queixas no serviço médico. Vamos falar um pouquinho sobre cada um desses elementos: A análise de cada um desses indicadores pode ajudar na identificação do clima organizacional e no desenvolvimento de possíveis alterações que visam melhorar o clima da organização. Com a análise destes indicadores e a realização de uma pesquisa de clima organizacional, a empresa poderá obter melhores resultados visando a satisfação e o aumento da produtividade dos funcionários da empresa. Agora que você já sabe muito bem o que é a cultura e o clima organizacional, conseguiria diferenciar esses conceitos? Não? Então você não é o único, pois existem muitos autores que assumem o conceito de clima e cultura como se fossem sinônimos, pelo fato deles apresentarem certas semelhanças, já que avaliam elementos que fazem parte do cenário organizacional. No entanto, Fleury e Sampaio (2002) alertam para as diferenças existentes entre estes conceitos. Veja bem... Figura 5 – Comparação entre clima e cultura organizacional. Fonte: Do autor. Ficou mais claro agora? Pode ser inútil tentar entender ou alterar o clima sem primeiro considerar a cultura ou o contexto em que ele foi gerado. Muitos programas de mudanças falham porque eles não levam em consideração a cultura subjacente, ou seja, pesquisar clima e especificar um clima desejado não são suficientes, é preciso também analisar as pressuposições subjacentes da cultura. Chegamos ao fim da nossa primeira unidade Web... ufaaa... Mas ainda não acabou. Na próxima unidade nós trabalharemos com a realização de pesquisa de clima organizacional e com os processos de mudança organizacional. Unidade 2 – Pesquisas de Clima Organizacional e Mudanças Organizacionais PESQUISAS DE CLIMA ORGANIZACIONAL Inúmeros estudos já comprovaram que o clima de uma organização impacta diretamente a produtividade dos seus colaboradores. Se o clima está bom, as pessoas trabalham mais felizes, mais motivadas e são capazes de dar o melhor de si. Se está ruim, as pessoas ficam desconfiadas, irritadas, desanimadas e, consequentemente, produzem menos. A situação do clima organizacional nunca resulta de uma única causa, mas sim de um conjunto de fatores. Você já sentiu desmotivado, irritado ou desconfiado em seu ambiente de trabalho? Como isso impactou em suas atividades? Como o ambiente organizacional muda constantemente, de tempos em tempos, é necessário fazer uma avaliação minuciosa desse ambiente para saber, por exemplo: • Em que ponto o relacionamento entre a empresa e os funcionários precisa ser melhorado; • Qual o grau de liderança dos gestores; • Como está a confiança das pessoas na gestão da empresa; e • Como são vistos pela população os benefícios que estão sendo concedidos, entre vários outros fatores. Para avaliar esses indicadores podemos utilizar uma ferramenta chamada pesquisa de clima organizacional. Essa pesquisa é um instrumento utilizado para medir o grau de satisfação interna dos funcionários, permitindo aos administradores fazer um vínculo entre os procedimentos e práticas da administração e os problemas e necessidades dos empregados. Neste sentido, Coda (1997, p. 99) afirma que: A pesquisa de Clima Organizacional é o instrumento pelo qual é possível atender mais de perto às necessidades da organização e do quadro de funcionários a sua disposição, à medida que caracteriza tendências de satisfação e insatisfação. Os estudos no Brasil referentes a clima organizacional surgiram bem depois dos estudos realizados internacionalmente. Os primeiros estudos originaram-se nos Estados Unidos por volta de 1939. Aqui no Brasil, os primeiros estudos nesta área tiveram início a partir de 1977, com os trabalhos desenvolvidos por Edela Lanzer Pereira de Souza (SOUZA, 1978). Com o objetivo de identificar que tipo de clima organizacional os funcionários gostariam de ter, ou seja, o clima ideal; e de diagnosticar o que elas veem na realidade (clima real), Kolb, Rubin e McIntyre (1978) elaboraram um instrumento de mensuração de clima organizacional. Essa pesquisa avalia sete dimensões, CONFORMIDADE, RESPONSABILIDADE, PADRÕES, RECOMPENSAS, CLAREZA ORGANIZACIONAL, CALOR e APOIO, LIDERANÇA. Logo abaixo você poderá visualizar o exemplo do questionário criado por Kolb, Rubin e McIntyre (1978) que avalia cada uma dessas dimensões. O funcionário terá que ler a afirmação e assinalar a letra “A” acima do número que indica a sua avaliação atual da organização (clima atual), e assinalar a letra “I” acima do número que indica a sua avaliação quanto à organização ideal para se trabalhar (clima ideal). Quadro 1 – Modelo de Pesquisa de Clima Organizacional. Fonte: Adaptado de Kolb, Rubin e McIntyre (1978, p. 79-80). Esse exemplo apesar de ser antigo é interessante, pois as empresas podem comparar qual situação que os funcionários julgam ser a ideal, e qual é a situação atual vivida na opinião deles. Os profissionais de Recursos Humanos deverão analisar estes resultados e verificar quais as ações que devem ser tomadas. Se for verificado um clima inadequado, a empresa deverá passar por um amplo processo de mudança organizacional para solucionar todos os problemas encontrados. Existem muitos instrumentos de pesquisas de clima organizacional, é necessário que a empresa identifique quais são os objetivos que quer atingir e desenvolva um instrumento que se encaixe às suas exigências. No entanto, este é um trabalho que deve ser fundamentado, pesquisado e realizado por profissionais competentes, sempre adequando as necessidades de cada organização. Antes de aplicar qualquer pesquisa de clima organizacional, é importante que o profissional de recursos humanos, estude muito e participe de cursos específicos sobre o tema; realize uma troca de experiência com as organizações que já realizaram a pesquisa; realize reuniões com todos os envolvidos no processo; elabore as questões para aprimorá-las juntamente com o pessoal envolvido; consiga a adesão da alta administração para a realização da pesquisa (RIBEIRO, 2007). Seguindo estas diretrizes, certamente a pesquisa de clima cumprirá o seu objetivo, conduzindo a organização a níveis de excelência em produtos e serviços e atuando como imprescindível ferramenta estratégicade gestão. Agora que você já conhece bem a pesquisa de clima organizacional, veja alguns exemplos de empresas que utilizam essa ferramenta frequentemente. PESQUISA DE CLIMA ORGANIZACIONAL – BANCO ITAÚ O Banco Itaú realiza pesquisa de clima organizacional desde 1999, as pesquisas são aplicadas 2 vezes por ano com o objetivo de avaliar aspectos referentes ao ambiente de trabalho e a gestão de pessoas empregada. Eles utilizam uma metodologia internacional avaliando 5 grandes dimensões: o sentimento de camaradagem, a credibilidade do banco, o respeito com os superiores e com os pares, a imparcialidade na tomada de decisão e o orgulho de se trabalhar nessa empresa. Os resultados obtidos com a pesquisa são analisados e discutidos amplamente na empresa visando melhorias no ambiente de trabalho. PESQUISA DE CLIMA ORGANIZACIONAL – MANLATIN AMERICA (VOLKSWAGEN) A empresa MANLatin America é a fabricante de caminhões e ônibus da marca Volkswagen, ela é uma das maiores indústrias desse setor na América Latina. No Brasil, está sediada na cidade de Rezende no estado do Rio de Janeiro, possuindo cerca de 1200 funcionários. Na visão da empresa, uma de suas principais metas é promover um ambiente de trabalho em que os funcionários se sintam satisfeitos e felizes. Para isso, a empresa contratou o Instituto Great Place to Work para conduzir suas pesquisas de clima de organizacional. Esse instituto trabalha com o conceito de “excelente lugar para trabalhar” possibilitando mudanças organizacionais nos ambientes de trabalho. As pesquisas de clima são realizadas a partir das cinco dimensões que já foram mencionadas no caso do Banco Itaú, e seus resultados são amplamente discutidos pela equipe diretiva, juntamente com os funcionários. PESQUISA DE CLIMA ORGANIZACIONAL - O BOTICÁRIO Para finalizar os exemplos de pesquisa de clima organizacional, assista o vídeo abaixo que mostra as características da empresa O Boticário e os resultados de sua pesquisa de clima organizacional. Antes de passarmos para a discussão sobre mudança organizacional, é importante que você tenha em mente que: a equipe diretiva da empresa deve acompanhar a realização da pesquisa de clima organizacional, pois quando ela é feita, surge nos funcionários uma expectativa de mudança. E quando os problemas são apontados pela pesquisa, os funcionários esperam que sejam implantadas as mudanças para solucioná-los, e se isso não ocorre geralmente causa frustração e desmotivação entre os funcionários. MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS Toda organização, sem exceção, passa por processos de mudanças. Quantas vezes você já passou por um processo de mudança na empresa que você trabalha? Mudança de sistema gerencial, de software de gerenciamento, mudança de liderança, mudança de departamento, aquisição ou fusão de empresa, enfim... Mudanças de qualquer natureza. Esses processos acontecem para adequar as organizações à sua realidade, como por exemplo, o excesso de competitividade, para o cumprimento de novas leis, para a introdução de novas tecnologias, para atender as mudanças no comportamento dos consumidores, entre vários outros fatores. Sendo assim, a área de recursos humanos tem o papel de atuar como um agente de mudanças, pesquisando e diagnosticando as necessidades da organização. Talvez a maior característica de nossos tempos seja a mudança, não propriamente ela em si, mas a frequência e a rapidez com que ela ocorre. A globalização, a evolução das telecomunicações, os avanços nos transportes e as novas tecnologias criaram uma rede global, cada vez mais interdependente. Neste contexto, imaginar um ambiente estável e em ordem é uma atividade praticamente impossível. Cabe agora, então, um grande desafio às empresas e à área de recursos humanos: acompanhar a dinâmica do ambiente, rompendo todos os paradigmas do conhecimento passado buscando soluções inovadoras para os problemas atuais. As empresas precisam estar abertas aos processos de mudança, orientando e acompanhando seus funcionários por meio da área de recursos humanos. Muito se fala em mudança e nas suas aplicações, mas afinal, o que é a uma mudança? Como ela deve ser implementada? “Mudança é uma alteração no ambiente, na estrutura, na tecnologia ou nas pessoas de uma organização” (ROBBINS; DECENZO, 2004, p. 142). Na maioria das vezes as empresas mudam, pois pretendem: “[...] melhorar a qualidade, aumentar a produtividade, refletir os valores dos novos líderes, reduzir custos e administrar conflitos” (HERZOG apud WOOD JUNIOR; CURADO; CAMPOS, 1995, p. 191). Esses motivos que levam aos processos de mudança podem aparecer de maneira isolada, porém é mais comum existir uma série de motivos que levam as empresas implantarem as mudanças. No entanto, a mudança não deve ocorrer apenas de maneira aleatória, é preciso planejar os processos de mudanças nas organizações, pois eles envolvem muitos aspectos que precisam ser verificados com cautela, como as pessoas e os recursos necessários para as alterações. Neste contexto de planejamento, podemos considerar a mudança planejada como “[...] a tentativa sistemática de reformular uma organização de modo a ajudá-la a se adaptar às mudanças no ambiente externo e a alcançar novos objetivos” (STONER; FREEMAN, 1999, p. 300). Essas mudanças planejadas podem ser de primeira ordem ou segunda ordem (ROBBINS, 2005). As mudanças de primeira ordem são lineares e contínuas, não implicando em nenhuma mudança estrutural e fundamental nas convicções dos membros da empresa, elas acontecem de maneira sutil para melhorar o funcionamento e os resultados. Já as mudanças de segunda ordem envolvem mudanças radicais com redefinição das convicções dos funcionários e mudanças em processos de trabalho que reinventam as organizações. Infelizmente percebemos que a maioria das organizações tratam as mudanças como eventos acidentais, no entanto, a área de recursos humanos de uma empresa deve se preocupar com os processos de mudança de maneira proativa e significativa. Para tanto, a mudança planejada deve se focar na mudança de comportamento das pessoas e dos grupos, pois é por meio do que eles são capazes de fazer que vai resultar o sucesso ou o fracasso da organização (ROBBINS, 2005). PROCESSO DE MUDANÇA ORGANIZACIONAL Sabendo que a mudança é um processo inevitável precisamos entender como acontece este processo, e, para isso, vamos nos basear nas metáforas criadas por Robbins e Decenzo (2004). Os autores afirmam que os processos de mudança podem ser analisados comparando- os com a metáfora das Águas Calmas ou das Águas Turbulentas. Na metáfora das Águas Calmas, a empresa é vista como um grande navio navegando em alto mar, sua tripulação é experiente e planeja muito bem as viagens, as mudanças acontecem quando surge uma tempestade inesperada, ou por algum descuido, caso contrário, a viagem segue na tranquilidade (ROBBINS; DECENZO, 2004). Para ilustrar a metáfora das Águas Calmas, o modelo de processo de mudança proposto por Lewin (apud ROBBINS; DECENZO, 2004) é o mais adequado. Neste modelo, devemos deixar de lado as velhas práticas, ou seja, passar por um processo de descongelamento das práticas que precisam ser abandonadas, realizar o processo de mudança e depois fazer o novo congelamento das práticas que precisam ser incorporadas. Figura 3 – Processo de Mudança. Fonte: Adaptado de Robbins e Decenzo (2004, p. 146). Já na metáfora das Águas Turbulentas a organização é vista com um bote inflável em um rio com corredeiras fortes e muitas pedras. Neste bote estão pessoas que nunca remaram juntas, que não conhecem o rio e ainda por cima está anoitecendo. Nas águas turbulentas a mudança é algo naturale sua administração deve ser feita de maneira contínua (ROBBINS; DECENZO, 2004). A metáfora das Águas Calmas foi útil nas décadas de 1950, 1960 e 1970, quando as organizações trabalhavam em um ambiente estável e previsto. Atualmente, o ambiente organizacional é dinâmico e incerto, e as mudanças acontecem a todo instante, portanto, vivemos na época das Águas Turbulentas (ROBBINS; DECENZO, 2004). Neste ambiente turbulento e incerto que vivemos, as organizações precisam constantemente se desenvolver com relação à mudança organizacional, passando por processos de transformação, visando adequá-las às reais necessidades do ambiente. Fisher (2002) ainda acrescenta que é preciso evoluir do conceito de mudança organizacional para o de transformação organizacional, no qual são analisados aspectos mais objetivos, como técnicos e administrativos de cada situação vivenciada; e aspectos menos visíveis, como as relações de poder, a cultura organizacional, o relacionamento entre os funcionários. Para transformar a organização é importante analisar dois pontos fundamentais: (1) a estrutura organizacional, que é vista como a divisão da organização em diferentes áreas; (2) e osmodelos de gestão, que devem se focar nos resultados estratégicos da organização (FISHER, 2002). RESISTÊNCIA À MUDANÇA Quando falamos em mudança, logo pensamos em resistência, pois nem sempre é muito fácil implantá-las. Muitos estudos afirmam que quando há mudança há resistência, SEMPRE!!! Em certo sentido, a resistência à mudança é uma atitude positiva, pois dá um grau de estabilidade e previsibilidade ao comportamento. No entanto, o aspecto negativo da resistência à mudança pode servir como uma barreira ao progresso organizacional e a sua evolução. O termo resistência à mudança é atribuído a Kurt Lewin, que o define como “[...] o resultado da tendência de um indivíduo ou de um grupo a se opor às forças sociais que objetivam conduzir o sistema para um novo patamar de equilíbrio” (LEWIN apud HERNANDEZ; CALDAS, 2001, p. 33). Como assim? Bem... traduzindo esse conceito podemos entender a resistência a mudança como o processo que faz com que pessoas não sejam favoráveis às novidades implantadas pela empresa. De maneira geral, as pessoas são resistentes às mudanças por três grandes motivos: “[...]incerteza, preocupação com perda de pessoal e a crença de que a mudança não representa o melhor interesse da organização” (ROBBINS, DECENZO, 2004, p. 149, grifo nosso). É natural do ser humano ter medo do desconhecido, portanto, a área de recursos humanos deve atuar como um catalisador das mudanças organizacionais preparando as pessoas para as alterações e diminuindo a resistência. Segundo Kotter e Schelesinger (apud HERNANDEZ; CALDAS, 2001) existem seis estratégias genéricas que resumem as receitas para tratar com as resistências às mudanças: (1) a educação e a comunicação; (2) participação e envolvimento, (3) facilitação e suporte, (4) negociação e acordo, (5) manipulação e cooperação, (6) coerção explícita e/ou implícita. Vamos ver cada uma delas: Para escolher qual dessas estratégias é melhor para auxiliar nos processos de implantação de mudanças, devemos analisar com muito cuidado a situação que a empresa vivencia, e o comportamento das pessoas que estão envolvidas na mudança. Com esse diagnóstico poderemos conduzir melhor os processos de mudanças, possibilitando, talvez, o sucesso da mudança na organização. Para finalizar nossa discussão sobre resistência à mudança, veja que interessante o estudo que Hernandez e Caldas (2001) realizaram. Eles desenvolveram uma revisão crítica sobre toda a produção acadêmica e gerencial sobre resistência à mudança e formularam pressupostos econtrapressupostos para explicar um modelo de resistência à mudança. Sendo que pressuposto é uma análise tida como verdadeira, e o contrapressuposto é uma visão contrária à ideia anterior. Difícil de entender? Veja o quadro abaixo que com certeza esclarece os achados dessa pesquisa. Quadro 2 – Pressupostos e contrapressupostos das mudanças organizacionais. Fonte: Hernandez e Caldas (2002, p. 37). Este quadro de pressupostos e contrapressupostos nos faz refletir sobre alguns pontos importantes das mudanças e alguns mitos que tínhamos como verdades. Cada um dos pressupostos criados por Hernandez e Caldas (2002) gera um ou mais contrapressupostos, ou seja, cada uma das afirmações são questionadas com outras opções ou alternativas de situações. Com essa discussão chegamos ao final da disciplina!!! Espero que você possa utilizar os conceitos discutidos aqui em seu ambiente de trabalho e que os resultados de suas pesquisas de clima e cultura tragam melhor desempenho pra empresa que trabalha. Desejo muito sucesso pra você!!! Com carinho, Prof a . Thais Baccaro
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