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Microeconomia II - 2015/2 Provinha 2 7 de setembro de 2015 1. (a) Para comec¸ar a responder esta questa˜o, vamos deixar bem claro o que precisamos fazer. Lembre-se que a Lei de Walras nos diz que “o valor do excesso de demanda agregada e´ zero”. Ou seja, n∑ i=1 piZi = 0 Note que neste problema, estamos interessados em 3 mercados: um de bem de consumo e dois de fatores. Para mostrar que a Lei de Walras e´ va´lida, precisamos simplesmente checar se a demanda em cada mercado e´ igual a` oferta. Para isto, precisamos resolver os problemas das firmas e dos consumidores. E´ importante que isto fique bem claro: temos duas firmas produzindo um mesmo bem, cada uma usando um tipo diferente de fator de produc¸a˜o. Ou seja, ao resolver o problema de cada firma estamos encontrando a demanda por cada fator e a oferta de bem final. Ainda, note que ao resolver o problema dos consumidores estamos encontrando as demandas por bem final e por lazer. Mas, repare que a demanda por lazer na˜o e´ o que nos interessa. O que queremos e´ a oferta de trabalho. Isto na˜o e´ um problema. Como as restric¸o˜es de tempo valem com igualdade, encontrar a demanda por lazer implica em encontrar a oferta de trabalho. Basta substituir a restric¸a˜o no problema do consumidor. Voltarei neste ponto logo mais. Vamos comec¸ar com os problemas das firmas. Firma 1: A firma 1 produz o bem final usando um u´nico insumo: o trabalho do tipo 1 (h1) que e´ ofertado apenas pelo consumidor A. O problema desta firma e´: max y1,h1 py.y1 − w1h1 , s.t. y1 = 2 √ h1 Como a restric¸a˜o vale com igualdade, podemos substituir na func¸a˜o objetivo e resolver um problema simples de otimizac¸a˜o na˜o restrita: max h1 py.2 √ h1 − w1h1 Aqui e´ importante deixar claro o que esta firma esta´ fazendo. Ela escolhe a quantidade de insumo, h1, que vai usar de modo a produzir a quantidade de produto, y1, que torna o seu lucro ma´ximo. Ou seja, o que vamos fazer ao resolver este problema e´ encontrar a demanda por h1 e a oferta de y1. Para resolver o problema, basta tirar a condic¸a˜o de primeira ordem. Como temos apenas uma varia´vel de escolha, basta derivar a func¸a˜o lucro em relac¸a˜o a esta varia´vel e igualar a zero: 1 �2py �2 √ h1 − w1 = 0 √ h1 = py w1 ⇒ hd1 = ( py w1 )2 Note que o que queremos deste problema e´ a demanda por h1. Esta e´ a varia´vel que isolamos. Na˜o e´ w1 nem py. E´ sempre a varia´vel de escolha da firma. Agora que encontramos a demanda por insumo da firma 1, basta substituir na sua func¸a˜o de produc¸a˜o para encontrar a oferta de y1: ys1 = 2 √ hd1 = 2 √( py w1 )2 = 2py w1 Agora que ja´ temos a demanda por h1 e oferta de y1, podemos calcular o lucro da firma 1: pi1 = py. 2py w1 − w1 ( py w1 )2 = 2p2y w1 − p 2 y w1 = p2y w1 Precisamos calcular o lucro da firma porque iremos usa´-lo depois de resolver o problema do consumidor. Lembre-se que o consumidor e´ o dono da firma, portanto o lucro ira´ fazer parte de sua restric¸a˜o orc¸amenta´ria. Isto ficara´ claro mais tarde. Firma 2: O problema da firma 2 e´ ana´logo ao da firma 1. Ela escolhe a quantidade de insumo do tipo 2, h2, que vai usar para produzir a quantidade de produto y2 que maximiza o seu lucro. max y2,h2 py.y2 − w2h2 , s.t. y2 = 4 √ h2 Note que como ambas as firmas produzem o mesmo bem, o prec¸o e´ igual para ambas, py. Mas, como cada uma usa um insumo espec´ıfico, temos um sala´rio para cada firma. Na verdade, temos neste problema dois mercados de trabalho, portanto, precisamos de dois sala´rios para equilibra´-los: w1 e w2. Novamente, como a restric¸a˜o vale com igualdade, podemos substituir na func¸a˜o objetivo e tirar a condic¸a˜o de primeira ordem max h2 py.4 √ h2 − w2h2 �4py �2 √ h2 − w2 = 0 √ h2 = 2py w2 ⇒ hd2 = ( 2py w2 )2 Substituindo na func¸a˜o de produc¸a˜o da firma 2: ys2 = 2 √ hd2 = 4 √( 2py w2 )2 = 8py w2 2 E substituindo na func¸a˜o lucro: pi2 = py. 8py w2 − w2 ( 2py w2 )2 = 8p2y w2 − 4p 2 y w2 = 4p2y w2 Agora, vamos resolver os problemas dos consumidores e verificar a Lei de Walras. Consumidor A: O problema deste consumidor e´ escolher a quantidade de bem de consumo. xA, e de horas de lazer, lA, ele ira´ consumir. Mas, note que pela restric¸a˜o de tempo dada no enunciado, ao escolher sua demanda por lazer, o consumidor estara´ automaticamente escolhendo quantas horas de trabalho ele ira´ ofertar. O problema deste consumidor e´ max xA,lA xAlA s.t. pxxA + w1lA ≤ 16w1 + pi1 lA + hA = 16 Note que na restric¸a˜o orc¸amenta´ria, estamos considerando no lado direito da desigualdade o valor total da dotac¸a˜o de tempo. Ou seja, o poder de compra que este indiv´ıduo teria se decidisse vender toda sua dotac¸a˜o de tempo no mercado. Como a func¸a˜o objetivo e´ crescente em ambos os bens e a restric¸a˜o de tempo vale com igualdade podemos reescrever este problema como max xA,hA xA(16− hA) s.t. pxxA = w1hA + pi1 Como temos duas varia´veis de escolha neste problema, vamos escrever o lagrangeano e tirar as condic¸o˜es de primeira ordem L = xA(16− hA) + λ [w1hA + pi1 − pxxA] ∂L ∂xA = (16− hA)− λpx = 0 ∂L ∂hA = −xA + λw1 = 0 Isolando λ (16− hA) px = xA w1 ⇒ xA = w1 px (16− hA) Lembre-se que o que encontramos aqui e´ simplesmente a TMS entre xA e hA, ou seja, a raza˜o entre os bens na cesta o´tima do consumidor. Agora, basta substituir esta relac¸a˜o na restric¸a˜o orc¸amenta´ria ��px w1 ��px (16− hA) = w1hA + pi1 2w1hA = 16w1 − pi1 ⇒ hsA = 16w1 − pi1 2w1 3 Esta e´ a oferta de trabalho do indiv´ıduo do tipo A. Note que ela e´ crescente no sala´rio, w1, e decrescente na riqueza (lucro), pi1, como seria de se esperar. Basta agora substituir esta equac¸a˜o na relac¸a˜o que encontramos na TMS e teremos a demanda por xA xdA = w1 px (16− hsA) = w1 px ( 16− 16w1 − pi1 2w1 ) = 16w1 + pi1 2px Como seria de se esperar, a demanda por xA e´ crescente no sala´rio, w1, e na riqueza (lucro), pi1, e decrescente no prec¸o do bem, px. Consumidor B : Como ambos os consumidores teˆm a mesma func¸a˜o utilidade, e´ fa´cil ver que a soluc¸a˜o do problema do consumidor B nos da´ xdB = 16w2 + pi2 2px hsB = 16w2 − pi2 2w2 Recomendo a voceˆs que refac¸am o problema do consumidor B para que fique bem claro o procedimento. Agora que ja´ temos as func¸o˜es de demanda e oferta do bem de consumo e dos fatores, podemos mostrar a validade da Lei de Walras. Lei de Walras: n∑ i=1 piZi = 0 Como ambas as firmas produzem o bem de consumo que os indiv´ıduos demandam, sabemos que y1 + y2 = xA + xB py = px Basta agora multiplicar o vetor de prec¸os pelos excessos de demanda em cada mercado e somar px ( 16w1 + pi1 2px + 16w2 + pi2 2px − 2px w1 − 8px w2 ) + w1 (( px w1 )2 − 16w1 − pi1 2w1 ) + +w2 (( 2px w2 )2 − 16w2 − pi2 2w2 ) = ��8w1 + pi1 2 +��8w2 + pi2 2 − � �� 2p2x w1 − � �� 8p2x w2 + � �� p2x w1 −��8w1 + pi1 2 + � �� 4p2x w2 −��8w2 + pi2 2 pi1 + pi2 − p 2 x w1 − 4p 2 x w2 = p2x w1 + 4p2x w2 − p 2 x w1 − 4p 2 x w2 = 0 Portanto, a Lei de Walras e´ va´lida nesta economia. 4 (b) Para encontrar o equil´ıbrio competitivo, basta igualar demanda e oferta em cada mercado, ou seja, fazer o market clearing. O que queremos encontrar e´ o prec¸o que mante´m o mercado equilibrado. Ou seja, nos mercados de trabalho queremos encontrar w1 e w2 e no mercado de consumo queremos encontrar o prec¸o do bem, px. Como ja´ sabemos que vale a Lei de Walras, so´ precisamos encontrar o equil´ıbrio em 2 mercados, pois o terceiro certamenteestara´ equilibrado. Vamos usar os mercados de trabalho. Lembrando que devemos usar o bem de consumo como numera´rio, ou seja, px = 1 Mercado de trabalho 1: hd1 = h s A( 1 w1 )2 = 16w1 − pi1 2w1 = 8− pi1 2w1 = 8− 1 2 . 1 w21 3 2 1 w21 = 8⇒ w21 = 3 16 ⇒ w∗1 = √ 3 4 Mercado de trabalho 2: hd2 = h s B( 2 w2 )2 = 16w2 − pi2 2w2 = 8− pi2 2w2 = 8− 1 2 . 4 w22 6 w22 = 8⇒ w22 = 4 3 ⇒ w∗2 = 2√ 3 Basta agora substituir os prec¸os nas equac¸o˜es de demanda e/ou de oferta para encontrar as alocac¸o˜es. hd1 = ( 1 w∗1 )2 = ( 4√ 3 )2 = 16 3 hd2 = ( 2 w∗2 )2 = ( 2 √ 3 2 )2 = 3 ys1 = 2 w∗1 = 8√ 3 ys2 = 8 w∗2 = 4 √ 3 xA = 16w∗1 + 1 w∗1 2 = 2 √ 3 + 2√ 3 xB = 16w∗2 + 4 w∗2 2 = 16√ 3 + √ 3 4 5 (c) O problema de Pareto e´ o problema do planejador central. A hipo´tese ba´sica que fazemos e´ que planejador conhece todas as informac¸o˜es necessa´rias para alocar os recursos da economia de modo eficiente. Ou seja, ele conhece as utilidades dos agentes, conhece as func¸o˜es de produc¸a˜o das firmas e conhece as dotac¸o˜es de fatores e/ou bens da economia. Assim, na˜o e´ preciso haver um sistema de prec¸os para sinalizar escassez. Nesta nossa economia, o problema de Pareto e´ max xA,lA,xB ,lB UA(xA, lA) = max xA,lA,xB ,lB xAlA s.t. UB(xB , lB) = xBlB = U¯B hA + lA = 16 hB + lB = 16 y1 + y2 = 2 √ h1 + 4 √ h2 Era simplesmente isto. Na˜o era preciso tirar condic¸o˜es de primeira ordem, nem igualar TMS dos agentes. Era so´ para montar o problema. 2. (a) Nesta questa˜o, temos uma economia de trocas puras, ou seja, a oferta dos dois bens e´ a dotac¸a˜o de ambos os indiv´ıduos. O problema de Pareto e´ max xA1 ,x A 2 ,x B 1 ,x B 2 xA1 + lnx A 2 s.t. xB1 x B 2 = u¯B xA1 + x B 1 = 1 xA2 + x B 2 = 1 Como as restric¸o˜es de recursos (dotac¸o˜es) valem com igualdade, podemos escrever o lagran- geano como L = xA1 + lnxA2 + λ [ u¯B − (1− xA1 )(1− xA2 ) ] As condic¸o˜es de primeira ordem deste problema sa˜o ∂L ∂xA1 = 1 + λ(1− xA2 ) = 0 ∂L ∂xA2 = 1 xA2 + λ(1− xA1 ) = 0 Aqui e´ preciso ter cuidado com os sinais na hora de derivar. Note que sa˜o dois sinais de (-) na restric¸a˜o. (b) Para esta questa˜o, basta lembrar que a curva de contrato e´ o conjunto de todos os pontos Pareto eficientes desta economia, ou seja, tais que TMSA = TMSB . 6 TMSA = UMgA1 UMgA2 = 1 1 xA2 = xA2 TMSB = UMgB1 UMgB2 = xB2 xB1 Ou seja, a curva de contrato e´ o conjunto de todos os pontos tais que xA2 = xB2 xB1 Se desenharmos a caixa de Edgeworth com o indiv´ıduo A tendo como origem o canto inferior esquerdo e tendo x1 no eixo das abcissas e x2 no eixo das ordenadas, basta reescrever a curva de contrato como uma relac¸a˜o entre xA1 e x A 2 : xA2 = 1− xA2 1− xA1 ⇒ 1− xA1 = 1− xA2 xA2 ⇒ xA1 = 2− 1 xA2 Note que quando xA1 = 0 2− 1 xA2 = 0⇒ xA2 = 1 2 E que quando xA1 = 1 2− 1 xA2 = 1⇒ xA2 = 1 Portanto, sabemos que a curva de contrato e´ crescente e na˜o sai da origem de A, mas sim de x2 = 1 2 e passa pela origem de B. Resta saber o formato da curva. Para isto, basta derivar duas vezes em relac¸a˜o a xA1 (lembre-se de usar a Regra da Cadeia): xA1 = 2− 1 xA2 ⇒ xA2 = 1 2− xA1 = f(xA1 ) f ′(xA1 ) = − 1 (2− xA1 )2 (−1) = 1 (2− xA1 )2 f ′′(xA1 ) = −2 1 (2− xA1 )3 (−1) = 2 (2− xA1 )3 > 0 Assim, como a func¸a˜o tem a segunda derivada positiva, sabemos que a curva de contrato e´ estritamente convexa. Para encontrar o ponto pedido neste item, basta substituir xB1 = 1 2 na equac¸a˜o da curva de contrato xA2 = xB2 xB1 = 1− xA2 1 2 ⇒ xA2 = 2(1− xA2 )⇒ xA2 = 2 3 Como esta caixa de Edgeworth e´ um quadrado de lado 1, sabemos que a alocac¸a˜o sera´ xA1 = 1 2 | xA2 = 2 3 7 xB1 = 1 2 | xB2 = 1 3 (c) Para resolver este item, bastava atentar para a dica que foi dada. Como a alocac¸a˜o do item anterior pertence a` curva de contrato, sabemos que ela e´ Pareto eficiente. Pelo Segundo Teorema do Bem Estar, e´ poss´ıvel encontrar um vetor de prec¸os que sustente esta alocac¸a˜o como um equil´ıbrio competitivo. So´ precisamos encontrar este vetor de prec¸os. Mas, lembre-se que no equil´ıbrio ambos os indiv´ıduos esta˜o maximizando sua utilidade. E sabemos da Teoria do Consumidor que no o´timo TMS1,2 = p1 p2 . Tomando o prec¸o do bem 1 como numera´rio e usando a TMSA, temos TMSA1,2 = x A 2 = 1 p2 ⇒ 2 3 = 1 p2 ⇒ p2 = 3 2 Note que o resultado seria o mesmo usando a TMSB . Obviamente, tambe´m seria o mesmo re- solvendo o problema de maximizac¸a˜o de utilidade de cada agente para encontrar as demandas marshallianas e fazendo o market clearing. (d) Agora sim temos que resolver o problema de cada consumidor, encontrar as demandas marshal- lianas e fazer o market clearing para encontrar o vetor de prec¸os e substitu´ı-lo nas demandas para encontrar a alocac¸a˜o de equil´ıbrio. Indiv´ıduo A: O problema deste indiv´ıduo e´ escolher a quantidade que ira´ consumir de xA1 e xA2 , sujeito a` sua restric¸a˜o orc¸amenta´ria: p1.0 + p2 1 4 = 1 4 p2 max xA1 ,x A 2 xA1 + lnx A 2 , s.t. p1x A 1 + p2x A 2 = 1 4 p2 8 Escrevendo o lagrangeano e tirando as condic¸o˜es de primeira ordem L = xA1 + lnxA2 + λ [ 1 4 p2 − p1xA1 − p2xA2 ] ∂L ∂xA1 = 1− λp1 = 0 ∂L ∂xA2 = 1 xA2 − λp2 = 0 Isolando λ 1 p1 = 1 xA2 p2 ⇒ xA2 = p1 p2 Substituindo na restric¸a˜o orc¸amenta´ria, encontramos a demanda por xA1 : p1x A 1 +��p2 p1 ��p2 = 1 4 p2 xA1 = 1 4 p2 p1 − 1 Note que para que a demanda por xA1 seja positiva, e´ preciso 1 4 p2 p1 − 1 > 0⇒ p2 p1 > 4 Indiv´ıduo B: Para este indiv´ıduo, a restric¸a˜o orc¸amenta´ria e´ dada por p1 + 3 4 p2. Como a sua utilidade e´ Cobb-Douglas, sabemos que sua demanda marshalliana e´ xB1 = 1 2p1 ( p1 + 3 4 p2 ) = 3 8 p2 p1 + 1 2 xB2 = 1 2p2 ( p1 + 3 4 p2 ) = 1 2 p1 p2 + 3 8 Agora, basta fazer o market clearing. Usando o mercado de x2, temos xA2 + x B 2 = w A 2 + w B 2 p1 p2 + 1 2 p1 p2 + 3 8 = 1 3 2 p1 p2 = 5 8 ⇒ p1 p2 = ��> 5 10 ��> 12 24 = 5 12 Como p2 p1 = 12 5 < 4, sabemos que xA1 = 0. Logo, na˜o havera´ trocas. O equil´ıbrio sera´ a pro´pria dotac¸a˜o inicial. xA1 = 0 | xA2 = 1 4 xB1 = 1 | xB2 = 3 4 9
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