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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA I PROF. DR. EDUARDO KENEDY SITE: www.eduardokenedy.net EXEMPLOS DE RESENHAS LEITE, Yonne & CALLOU, Dinah. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, Série Descobrindo o Brasil, 2002. Resenhado por Luciene Bassols Brisolara (Universidade Católica de Pelotas) Como falam os brasileiros, de Yonne Leite e Dinah Callou, tem por objetivo discutir a questão da variação lingüística. O livro se inicia com uma introdução geral sobre a linguagem, sua função sócio-comunicativa e os diversos falares existentes no Brasil. As autoras partem de Antenor Nascentes que, em 1953, classificou o falar brasi-leiro em seis subfalares: o amazônico, o nordestino, o baiano, o fluminense, o mineiro e o sulista. Além de destacarem características dialetais oriundas de diferentes regiões, tratam de outros fatores extralingüísticos, como: faixa etária, sexo, escolaridade etc, para explicar que as variações também são decorrentes de aspectos individuais. Dentre outros comentários sobre diversidade, destacam que a variação lingüística, de acordo com Antonio Houaiss, é proveniente do próprio processo de colonização do país, ou seja, “dialetação horizontal por influxo indígena e diferenciação vertical entre a fala do luso e a fala do nascido e criado na terra”. O livro, com 73 páginas, está dividido em 15 tópicos – alguns com 1 página e outros com 10: “introdução”, “uma visão geral do Brasil: o mito de homogeneidade”, “assumindo a diversidade”, “o falar carioca no conjunto dos falares brasileiros”, “sexo, idade e variação lingüística”, “para uma caracterização dos falares brasileiros”, “a fonética da fala culta”, “os sotaques sintáticos da fala culta”, “normas, pluralismo, etc”, “traçando linhas imaginárias”, “voltando ao começo”, “cronologia”, “referências e fontes”, “sugestões de leitura” e, por fim, um item “sobre as autoras”. No item “uma visão geral do Brasil: o mito da homogeneidade” encontramos comentários sobre a oposição entre a variante brasileira e a européia da língua portuguesa, razões para o Brasil não apresentar um quadro lingüístico homogêneo e, também, dados sobre as línguas indígenas faladas no Brasil antes e depois da colonização do país. As autoras encerram esse item, afirmando que, para existir uma educação democrática e igualitária, é preciso que reconheçamos a diversidade e trabalhemos com ela, possibilitando, assim, a todos os falantes a aprendizagem de normas prestigiadas e o acesso às mesmas oportunidades. Em “assumindo a diversidade” são apresentados vários Atlas Lingüísticos, iniciados no Brasil, desde 1960, com destaque ao Atlas Lingüístico do Brasil (ALIB), um atlas geral, que tem por objetivo fazer um retrato do Brasil, isto é, “dar conta da diversidade existente, ou melhor, da dialetação do português, a fim de tornar viável a tão complexa delimitação de áreas próprias a cada fenômeno lingüístico” (Leite & Callou,2002: p.17). “O falar carioca no conjunto dos falares brasileiros” refere-se a pesquisas realizadas sobre o dialeto dos cariocas, principalmente, a de Antenor Nascentes, nos anos 80, que faz uma monografia baseada no seu próprio falar. Este tópico foi incluído na obra, pois, de acordo com as autoras, o Rio de Janeiro “é uma área cuja linguagem culta tende a apresentar um menor número de marcas locais e regionais, com uma tendência universalista, dentro do país” (p.10). “Sexo, idade e variação lingüística” abrange os fatores extralingüísticos responsáveis por caracterizar a fala de homens e mulheres, de diferentes faixas etárias e em diversos contextos. Dá-se maior ênfase, nesse tema, à questão de que a identidade homem/mulher não pode ser vista isoladamente e, sim, em conjunto com outros fatores como faixa etária, tipo de trabalho, ou outras identidades culturais. Os tópicos “para uma caracterização dos falares brasileiros”, “a fonética da fala culta”, “os sotaques sintáticos da fala culta”, “normas, pluralismo, etc”, “traçando linhas imaginárias” citam exemplos da variação lingüística como: O artigo definido diante de nomes próprios e possessivos; Alternância nós/ a gente. Vale destacar que todas as análises apresentadas nestes itens são feitas com base no mesmo corpus: São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e Recife, que fazem parte do Projeto NURC (Projeto de Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta). “Voltando ao começo” lembra a chegada de Cabral ao Brasil, deparando-se com povos, costumes e línguas diversas. Também fala sobre a chegada dos jesuítas com “a missão de transformar os indígenas em cristãos” (p.60) e sobre diversas línguas indígenas existentes no Brasil. Todos estes fatos históricos servem para mostrar a origem da diversidade lingüística. Ao final da obra, as autoras fazem referência aos fatos exemplificados no livro e destacam suas fontes bibliográficas. 2 O livro como um todo proporciona uma leitura não só instrutiva como agradável, desenvolvendo-se, de maneira geral, com simplicidade, clareza e objetividade. Conforme comentário de Jorge Zahar, editor de Como falam os brasileiros “[o] livro convida o leitor a desvendar os mistérios e sutilezas da diversidade e unidade dos falares brasileiros, apresentando um retrato sociolingüístico do falar culto carioca, gaúcho, paulistano, baiano e pernambucano”. Assim, Como falam os brasileiros será útil tanto para principiantes como para interessados que já tenham acumulado conhecimentos menos ou mais avançados da área. É importante ressaltar que um livro, com pouco mais de 70 páginas, e que trata de tantos tópicos, tem que necessariamente ser geral, mas, nem por isso, deixa de ser interessante e de trazer exemplos relevantes de variação lingüística. Fonte: http://rle.ucpel.tche.br/php/edicoes/v7n1/J_resenhas_v7n1.pdf Resenha EDUCAÇÃO EM LÍNGUA MATERNA: A SOCIOLINGÜÍSTICA NA SALA DE AULA Marcelo Módolo1 BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolingüística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004 (Col. Linguagem, nº. 4) 112 p. Esta obra compõe-se de sete capítulos, escritos propositalmente em linguagem coloquial, assim distribuídos: 1) A sociedade brasileira: características sociolingüísticas, 2) Diversidade lingüística e pluralidade cultural no Brasil, 3) A variação lingüística em sala de aula, 4) A comunidade de fala brasileira, 5) O português brasileiro, 6) Competência comunicativa, 7) A variação lingüística no português brasileiro. Esses capítulos são ainda acompanhados de boa exemplificação e de sustentação teórica com elementos da sociolingüística variacionista, da sociolingüística interacional e da etnografia da comunicação. As questões aí tratadas podem ser complementadas pelas “Sugestões de leituras”, pp. 107-108, propostas pela autora. Trata-se de obra de leitura muito prazerosa, com pouca ancoragem teórica e com muitos recursos que promovem um bom entendimento do texto por parte dos leitores. No decorrer dos capítulos há ainda sugestões para atividades, discussões, leituras e reflexões o que torna o trabalho ainda mais didático. O livro destina-se a professores, de ensino fundamental e médio e a estudantes dos cursos de letras e de pedagogia. Passo à apresentação, capítulo a capítulo: 1) A sociedade brasileira: características sociolingüísticas — “identificam-se as principais características sociolingüísticas da sociedade brasileira e suas implicações para a educação”. Um trecho do romance Rememórias dois de Carmo Bernardes serve como texto estímulo para que a autora insira o leitor na reflexão sobre a língua portuguesa no Brasil, suas características e sua variação, especialmente as diferenças entre o Brasil urbano e o Brasil rural. Decorre desse textoestímulo, o trabalho com alguns dados: a) Crescimento da população rural e urbana no Brasil, b) A evolução da alfabetização no Brasil e c) Taxas de alfabetização na população brasileira de 15 anos ou mais; 2) Diversidade lingüística e pluralidade cultural no Brasil — aqui são tecidas considerações que “facilitam a conscientização sobre variação lingüística”, tendo novamente como base a narrativa regional memorialística de Carmo Bernardes. Bortoni-Ricardo explora como a criança começa a desenvolver o seu processo de sociabilização em três domínios: a família, os amigos e a escola. Nesses domínios, as pessoas interagem assumindo certos papéis sociais, os quais são acompanhados por tipos específicos de comportamento lingüístico. São esmiuçadas as relações lingüísticas da criança com a família, com os amigos e com os professores na escola; 3) A variação lingüística em sala de aula, ainda tomando como base a saga de Carmo Bernardes, a autora “refleti sobre a variação lingüística no repertório dos professores e dos alunos de ensino fundamental”. Discute elegantemente como o professor deve trabalhar a questão do erro lingüístico — não como uma deficiência do aluno, mas sim como diferença entre duas variedades. A pesquisadora insere também nesse capítulo a noção de adequação lingüística, que deve ser ministrada aos alunos, conscientizando-os quanto às diferenças para que eles possam começar a monitorar seu próprio estilo; 4) A comunidade de fala brasileira, neste capítulo a autora “leva o aluno a aprofundar sua conscientização sobre a variação lingüística e a educação em língua materna”. Tomando como base a historinha O limoeiro de Maurício de Sousa (Chico Bento, nº. 354), a autora sugere que o personagem Chico Bento poderia se transformar — em nossas salas de aula — em um símbolo do multiculturalismo que ali deveria ser cultivado. A autora explora também conceitos como grupos etários, gênero, status socioeconômico, grau de escolarização, mercado de trabalho e rede social, que corroboram para o entendimento da variação lingüística; 1 Doutor em Filologia e Língua Portuguesa pelo Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. 3 5) Em O português brasileiro há uma “sistematização das informações sobre a variação lingüística no Brasil”, tomando por base três linhas, que foram classificadas de contínuos: contínuo de urbanização, contínuo de oralidade-letramento, contínuo de monitoração estilística. Evita-se, assim, a costumeira e tradicional criação de fronteiras rígidas entre língua-padrão, dialetos, variedades não-padrão, etc que compõem o português brasileiro. Mais precisamente, Bortoni-Ricardo nos mostra que o português brasileiro não possui uma feição única, mas sim é uma entidade heteróclita, ou seja, há vários “portugueses brasileiros”. Esse, sem sombra de dúvidas, é o capítulo mais significativo do livro, pois propõe um instrumental de análise para o português brasileiro distinto do que vem sendo apresentado por outros pesquisadores; 6) Competência comunicativa — capítulo que visa “introduzir os conceitos de competência lingüística e competência comunicativa e suas implicações para a educação”. A autora rastreia o percurso desses conceitos a partir do lingüista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913), que postulou uma distinção entre língua e fala; em seguida o norte-americano Noam Chomsky (1928), que retomou a distinção entre língua e fala, com pequenas alterações, propondo uma dicotomia entre competência lingüística e desempenho (ou performance). Finalmente, a autora destaca o trabalho do norte-amerciano Dell Hymes (1927) em 1966, como a principal reformulação à dicotomia proposta por Chomsky. Para Hymes, o maior problema com o conceito de competência lingüística residia no fato de que esse conceito não dava conta questões de variação da língua. Hymes então propôs um novo conceito, o de competência comunicativa, que é bastante amplo para incluir não só as regras que presidem à formação das sentenças, mas também as normas sociais e culturais que definem a adequação da fala. Assim, Hymes inclui a noção de adequação no âmbito da competência; 7) A variação lingüística no português brasileiro — Neste sétimo e último capítulo a autora “sistematiza informações sobre regras de variação na fonologia e morfossintaxe”. Mais particularmente, a autora quer responder às seguintes perguntas: “1) Quais as principais características da fala de um brasileiro com antecedentes rurais e urbanos se comparada à fala de um brasileiro com antecedentes urbanos?” e “2) Quais as principais características da linguagem de um falante usando estilo monitorado se comparado aos seus estilos não monitorados?” Trata-se de um trabalho muito interessante para os que se iniciam nos estudos de sociolingüística do português brasileiro, dado que a autora condensa – com inegável habilidade – discussões clássicas, a par de pesquisas recentes sobre esse tema. Se os especialistas estão relativamente bem servidos de publicações, o mesmo não se pode dizer, contudo, do público leigo que pretende se iniciar nessa área do conhecimento lingüístico. Para este, têm faltado boas obras introdutórias. Assim, esse trabalho vem preencher uma lacuna existente no mercado editorial e também fazer importante ligação entre a sociolingüística teórica sobre o português brasileiro e o público principiante nesse setor do conhecimento lingüístico. Espero ainda que, com a iniciativa da Profa. Bortoni-Ricardo, mais pesquisadores sintam-se estimulados a divulgar a não especialistas os estudos e as pesquisas lingüísticas sobre o português brasileiro. Fonte: http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/resenhabortoni-ricardo.pdf MACHADO, A. R. (1998) O diário de leituras. A introdução de um novo instrumento na escola. São Paulo: Martins Fontes, 263 p. Resenhado por Angela B. KLEIMAN (Universidade de Campinas) KEY WORDS: Discourse; Text Genre; School Situation. PALAVRAS-CHAVE: Discurso; Gênero de Textos; Situação Escolar. Este livro trata do desenvolvimento e utilização de um novo gênero didático - o diário de leituras. O objetivo didático, ligado à formação de leitores reflexivos, fundamenta-se numa pesquisa apoiada num modelo de análise de discurso de base sócio-interacionista que postula, como elemento central da atividade da linguagem, a existência de gêneros portadores da experiência social, em constante transformação pelas exigências e parâmetros da ação social em curso, neste caso, a interação didática. A combinação, muito feliz, que a autora realiza entre os objetivos teóricos, de um lado, visando à descrição de um novo gênero e os objetivos aplicados, de outro, visando a avaliação crítica da experiência que possibilitou o estudo do diário de leituras como instrumento didático, faz deste livro leitura essencial tanto para teóricos da área do discurso quanto para alunos de cursos de Letras e docentes engajados no ensino de leitura e produção de textos no contexto universitário. O estudo - que foi apresentado como tese de doutorado no Programa de Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas da PUC-SP - está dividido em duas partes, precedidas de uma breve introdução geral, em que constam os objetivos do trabalho. Consta também um prefácio, escrito por Jean-Paul Bronckart, co-orientador do trabalho e autor do modelo de análise de discurso utilizado, no qual se tecem considerações sobre a relevância da pesquisa tanto para a difusão e reflexão crítica do modelo de produção de discursos que fundamenta o trabalho, quanto para 4 a pesquisa educacional. A base empírica do estudo é constituída por setenta e nove textos produzidos por alunos do primeiro ano de Jornalismo da PUC-SP. Na primeira parte, composta dedois capítulos, a autora apresenta os fundamentos teóricos subjacentes ao uso do diário de leituras enquanto instrumento educacional. No Capítulo 1, Ação e Gênero de Textos, a autora relaciona o conceito de ação comunicativa de Habermas (1981) à noção de gêneros de Bakhtin (1953), retomada no modelo de análise de discursos na perspectiva interacionista-social proposto pela escola de psicologia de linguagem de Genebra. O segundo capítulo, O Gênero Diário e sua Utilização na Prática e na Pesquisa Educacional, apresenta as características do gênero diário, procurando, nas situações de produção diarista ao longo da história e nas suas características textuais, os elementos comuns dos gêneros íntimos. Dentre essas características, a autora destaca: a construção de um superdestinatário, cuja representação fugiria às normas e convenções sociais, e os aspectos estilísticos relacionados à subjetividade e à expressividade informal e privada, que marcam uma pouca preocupação com procedimentos de textualidade. Resta determinar se os diários produzidos em situações didáticas partilham esses traços do gênero e do estilo, questão que fica para a pesquisa, apresentada na segunda parte do livro. A segunda parte está dividida em seis capítulos. No capítulo 3, O Quadro Teórico da Análise dos Textos, a autora expõe a teoria do funcionamento dos discursos de Bronckart (Bronckart, 1994), complementada com a teoria de análise textual de Adam & Petitjean (1989) e Adam (1992). Trata-se de um quadro teórico complexo, claramente apresentado, cuja pertinência e adequação são demonstrados nos capítulos analíticos. A teoria de funcionamento dos discursos toma como unidade psicológica central o conceito de ação, unidade que pode ser descrita mediante a identificação dos parâmetros da situação de comunicação e do conteúdo temático mobilizado pelo agente produtor do texto, podendo se concretizar, portanto, em diversos textos, com diversas características lingüísticas. Essas duas representações dos agentes produtores – de determinados parâmetros da situação de produção (material e de interação social) e dos conteúdos – formariam uma base de orientação para as escolhas a serem expressas através do texto: gênero, tipo discursivo, estabelecimento de coerência. Por sua vez, essas escolhas determinam outras. Por exemplo, as opções relativas aos tipos de discurso envolveriam operações para constituir o mundo discursivo, o grau de implicação da situação material, a escolha de um tipo de seqüencialidade, ou seja, um plano do discurso. As oposições relativas à escolha do mundo discursivo envolvem situar as referências num mundo distante ao da situação de material de produção (disjunção) ou num mundo conjunto ao da interação social (conjunção), enquanto a escolha do grau de implicação da situação material de produção envolve decisões sobre integrar no texto referências aos parâmetros da situação de comunicação (implicação) ou não integrá-las, produzindo-se um texto autônomo em relação a esses parâmetros (autonomia). Os quatro grandes tipos de discurso propostos pela teoria resultam das combinações entre essas diversas oposições: os discursos do eixo do EXPOR (conjunção) - interativo (implicação) ou teórico (autonomia) - e os discursos do eixo do NARRAR (disjunção) - o relato interativo (implicação) ou a narração (autonomia). Esse quadro teórico – parcialmente resumido aqui - é complementado com a noção de seqüencialidade (Adam & Petitjean, 1989, Adam, 1992), isto é, o conjunto de seqüências convencionalizadas para a organização cognitivo- discursiva do tema, que determinam a reestruturação lingüística do conhecimento que resulta no texto. Considerável espaço é dado ao tratamento das seqüencialidades descritiva e explicativa, uma vez que essas são as predominantemente encontradas nos textos do corpus. O Capítulo 4, Questões Metodológicas, fornece dados sobre os sujeitos, os instrumentos de coleta de dados e sua contextualização, e os procedimentos analíticos. Estes últimos consistem em três procedimentos maiores, cada um dos quais é objeto de análise em capítulos posteriores. São eles: identificação das unidades de informação a fim de se identificar as representações dos alunos sobre a situação (capítulo 5), seleção das unidades lingüísticas a serem analisadas e levantamento de freqüências de cada unidade (capítulo 6); análise do plano do texto e da organização seqüencial (capítulo 7). O Capítulo 5, Representações sobre os Parâmetros da Situação de Comunicação sobre o Diário de Leituras, focaliza as "teorias diaristas" particulares encontradas nos diários dos sujeitos da pesquisa, a fim de se compreenderem os problemas com que os alunos se depararam, em relação aos temas, à relação entre locutor e interlocutor (o professor), e ao processo de articulação leitura/escrita. A diversidade de representações que os alunos se fizeram da situação aponta para a diversidade das soluções e, portanto, dos textos produzidos, questão abordada no capítulo seguinte. O capítulo 6, Características Discursivas dos Textos Produzidos, classifica a produção diarista dos alunos em três grandes grupos, tomando como base para a classificação as unidades lingüísticas presentes e/ou ausentes nos diferentes diários. No primeiro subconjunto, "Grupo Mais Teórico (GT)", os textos são construídos autonomamente em relação à situação de comunicação, com presença marcante de frases declarativas e ausência de elementos dêiticos de pessoa, tempo ou espaço. O outro grupo de textos, que contêm segmentos de discurso interativo, é dividido em dois subconjuntos, segundo a presença e freqüência de unidades que implicam a situação 5 de comunicação, em "Grupo Interativo com marcas do destinatário (GICD)" e "Grupo Interativo sem marcas do destinatário (GISD)". Todos os textos estão constituídos por discursos da ordem de EXPOR, embora nos textos interativos haja trechos dos mundos discursivos da ordem de NARRAR. O Capítulo 7, A Organização Seqüencial e os Planos de Texto, apresenta as diferentes formas de plano global de texto e de organização seqüencial encontradas nos três grupos de diários identificados no capítulo anterior. A análise é bastante detalhada a fim de "auxiliar outros profissionais que queiram utilizar a teoria adotada para fins didáticos ou de pesquisa."(p. 165). O detalhamento e minuciosidade da análise dificulta a percepção das regularidades, ficando a impressão de uma forte heterogeneidade tanto na organização seqüencial e no plano global, quanto no tipo de seqüências escolhidas. Entretanto, a autora tem o cuidado de apresentar um quadro- resumo em que os vários subtipos de seqüências são eliminados, evidenciando-se, assim, que, no conjunto de textos produzidos, há forte predomínio de seqüências explicativas e descritivas e que, nos textos interativos, há predomínio de descrições de texto e de ação. A heterogeneidade se mantém em relação ao plano global, que pode ou não estar presente nos textos. Cabe apontar também que a análise permite evidenciar problemas na teoria da organização seqüencial, primeiro porque os critérios de identificação de seqüências não são facilmente aplicáveis e porque a própria noção de seqüência deve ser questionada, já que os textos não são construídos em seqüências completas, mas em fragmentos de seqüências. No capítulo final, Conclusões, a autora, primeiramente, tece considerações sobre os resultados da pesquisa, para depois apresentar uma reflexão teórica sobre a contribuição da pesquisa aplicada na análise da reestruturação e constituição de gêneros na instituição didática. Quanto ao estatuto do diário de leitura, a autora aponta que as regularidades na construção dos textos (tal como apresentadas nos capítulos 6 e 7) pareceria ser evidência de uma transposição das caraterísticas típicas do gênero de diário privado para um gênero ainda em constituição- o diário de leitura. Entretanto, ela argumenta que, ao se levar em consideração a incompatibilidade existente entre os parâmetros das situações de produção do diário íntimo e do diário institucional, outras conclusões parecem mais plausíveis. Assim, para a autora, outros gêneros indexados à situação escolar, como o resumo, a resenha crítica e a dissertação, seriam também gêneros dos quais o aluno se serve na sua produção diarista. Tal combinação explicaria a existência dos diários mais teóricos e a enorme variação dos textos produzidos quanto à implicação dos parâmetros da situação no diário de leituras. Por outro lado, também tiveram influência na produção as instruções didáticas que precederam a produção dos textos, que traziam implícito um modelo pré-teórico que guiou as produções dos alunos para a descrição e para um diário reflexivo: "À medida que lê, vá escrevendo como se fosse para você mesmo(a). Descreva o que o texto traz de interessante tanto em relação à forma quanto ao conteúdo; descreva em que o texto lido contribuiu para sua aprendizagem, para mudanças em sua prática de leitura e produção …"(p. 233). Do ponto de vista da contribuição teórica, a pesquisa didática se constituiu como um instrumento eficaz para a análise da reestruturação e constituição de um novo gênero no contexto universitário, em que a situação de ação verbal complexa com que os alunos se deparam exige a produção de uma unidade intertextual multimodelar em função dos parâmetros da situação didática em curso. A conclusão central, decorrente da análise da situação material de produção e dos textos efetivamente produzidos é que, na produção diarista dos alunos, há exemplos "da constituição de um novo instrumento semiótico a partir de instrumentos conhecidos."(p. 234). O capítulo também inclui uma avaliação crítica da experiência didática. Em primeiro lugar, fica evidente a importância de pesquisa aplicada para a (re)formulação teórica. O estudo permite uma caracterização teórica do diário de leituras, gênero já utilizado com fins didáticos, porém sem a conceitualização teórica que este estudo aporta. Além disso, os procedimentos analíticos detalhados, de textos completos, levanta questionamentos importantes para os quadros teóricos utilizados. A reflexão teórica, ao ocupar um lugar central na pesquisa, permite redimensionar o trabalho didático, entendendo-o não apenas como uma experiência local, mas como um trabalho que reflete e refrata as condições sociais da universidade e da escola brasileira, que determinam os processos de ação comunicativa aí estabelecidos. Esse redimensionamento é, sem dúvida, uma das contribuições mais importantes do trabalho, pois ele permite a utilização não ingênua de um importante instrumento de trabalho didático. Ao contrário de outros gêneros escolares que se constituem em modelos rígidos a serem seguidos pelo aluno, o diário permitiria elaborações e escolhas muito mais variadas. Devido a essas características, sua utilização didática permitiria configurar uma situação de produção de textos através da construção em vez da reprodução, pouco comum (mas sempre desejada) na situação escolar. No trabalho de Anna Rachel Machado vemos combinados a escolha de um problema relevante para o ensino, o domínio de um quadro teórico complexo e o rigor analítico que exige o retorno e a revisão da teoria, constituindo- se, por isso, no tipo de trabalho que deveria servir de parâmetro para a pesquisa aplicada.
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