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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA 
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS 
DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA I 
PROF. DR. EDUARDO KENEDY 
 
SITE: www.eduardokenedy.net 
 
EXEMPLOS DE RESENHAS 
 
 
LEITE, Yonne & CALLOU, Dinah. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, Série 
Descobrindo o Brasil, 2002. 
 
Resenhado por Luciene Bassols Brisolara (Universidade Católica de Pelotas) 
 
 
Como falam os brasileiros, de Yonne Leite e Dinah Callou, tem por objetivo discutir a questão da variação 
lingüística. O livro se inicia com uma introdução geral sobre a linguagem, sua função sócio-comunicativa e os 
diversos falares existentes no Brasil. As autoras partem de Antenor Nascentes que, em 1953, classificou o falar 
brasi-leiro em seis subfalares: o amazônico, o nordestino, o baiano, o fluminense, o mineiro e o sulista. Além de 
destacarem características dialetais oriundas de diferentes regiões, tratam de outros fatores extralingüísticos, 
como: faixa etária, sexo, escolaridade etc, para explicar que as variações também são decorrentes de aspectos 
individuais. 
Dentre outros comentários sobre diversidade, destacam que a variação lingüística, de acordo com Antonio 
Houaiss, é proveniente do próprio processo de colonização do país, ou seja, “dialetação horizontal por influxo 
indígena e diferenciação vertical entre a fala do luso e a fala do nascido e criado na terra”. 
O livro, com 73 páginas, está dividido em 15 tópicos – alguns com 1 página e outros com 10: “introdução”, 
“uma visão geral do Brasil: o mito de homogeneidade”, “assumindo a diversidade”, “o falar carioca no conjunto 
dos falares brasileiros”, “sexo, idade e variação lingüística”, “para uma caracterização dos falares brasileiros”, “a 
fonética da fala culta”, “os sotaques sintáticos da fala culta”, “normas, pluralismo, etc”, “traçando linhas 
imaginárias”, “voltando ao começo”, “cronologia”, “referências e fontes”, “sugestões de leitura” e, por fim, um 
item “sobre as autoras”. 
No item “uma visão geral do Brasil: o mito da homogeneidade” encontramos comentários sobre a oposição 
entre a variante brasileira e a européia da língua portuguesa, razões para o Brasil não apresentar um quadro 
lingüístico homogêneo e, também, dados sobre as línguas indígenas faladas no Brasil antes e depois da 
colonização do país. As autoras encerram esse item, afirmando que, para existir uma educação democrática e 
igualitária, é preciso que reconheçamos a diversidade e trabalhemos com ela, possibilitando, assim, a todos os 
falantes a aprendizagem de normas prestigiadas e o acesso às mesmas oportunidades. 
Em “assumindo a diversidade” são apresentados vários Atlas Lingüísticos, iniciados no Brasil, desde 1960, 
com destaque ao Atlas Lingüístico do Brasil (ALIB), um atlas geral, que tem por objetivo fazer um retrato do 
Brasil, isto é, “dar conta da diversidade existente, ou melhor, da dialetação do português, a fim de tornar viável a 
tão complexa delimitação de áreas próprias a cada fenômeno lingüístico” (Leite & Callou,2002: p.17). 
“O falar carioca no conjunto dos falares brasileiros” refere-se a pesquisas realizadas sobre o dialeto dos 
cariocas, principalmente, a de Antenor Nascentes, nos anos 80, que faz uma monografia baseada no seu próprio 
falar. Este tópico foi incluído na obra, pois, de acordo com as autoras, o Rio de Janeiro “é uma área cuja 
linguagem culta tende a apresentar um menor número de marcas locais e regionais, com uma tendência 
universalista, dentro do país” (p.10). 
“Sexo, idade e variação lingüística” abrange os fatores extralingüísticos responsáveis por caracterizar a fala 
de homens e mulheres, de diferentes faixas etárias e em diversos contextos. Dá-se maior ênfase, nesse tema, à 
questão de que a identidade homem/mulher não pode ser vista isoladamente e, sim, em conjunto com outros 
fatores como faixa etária, tipo de trabalho, ou outras identidades culturais. 
Os tópicos “para uma caracterização dos falares brasileiros”, “a fonética da fala culta”, “os sotaques 
sintáticos da fala culta”, “normas, pluralismo, etc”, “traçando linhas imaginárias” citam exemplos da variação 
lingüística como: O artigo definido diante de nomes próprios e possessivos; Alternância nós/ a gente. Vale 
destacar que todas as análises apresentadas nestes itens são feitas com base no mesmo corpus: São Paulo, Porto 
Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e Recife, que fazem parte do Projeto NURC (Projeto de Estudo da Norma 
Lingüística Urbana Culta). 
“Voltando ao começo” lembra a chegada de Cabral ao Brasil, deparando-se com povos, costumes e línguas 
diversas. Também fala sobre a chegada dos jesuítas com “a missão de transformar os indígenas em cristãos” 
(p.60) e sobre diversas línguas indígenas existentes no Brasil. Todos estes fatos históricos servem para mostrar a 
origem da diversidade lingüística. 
Ao final da obra, as autoras fazem referência aos fatos exemplificados no livro e destacam suas fontes 
bibliográficas. 
 2 
O livro como um todo proporciona uma leitura não só instrutiva como agradável, desenvolvendo-se, de 
maneira geral, com simplicidade, clareza e objetividade. Conforme comentário de Jorge Zahar, editor de Como 
falam os brasileiros “[o] livro convida o leitor a desvendar os mistérios e sutilezas da diversidade e unidade dos 
falares brasileiros, apresentando um retrato sociolingüístico do falar culto carioca, gaúcho, paulistano, baiano e 
pernambucano”. Assim, Como falam os brasileiros será útil tanto para principiantes como para interessados que 
já tenham acumulado conhecimentos menos ou mais avançados da área. 
É importante ressaltar que um livro, com pouco mais de 70 páginas, e que trata de tantos tópicos, tem que 
necessariamente ser geral, mas, nem por isso, deixa de ser interessante e de trazer exemplos relevantes de variação 
lingüística. 
 
Fonte: http://rle.ucpel.tche.br/php/edicoes/v7n1/J_resenhas_v7n1.pdf 
 
 
 
Resenha 
 
EDUCAÇÃO EM LÍNGUA MATERNA: A SOCIOLINGÜÍSTICA NA SALA DE AULA 
 
Marcelo Módolo1 
 
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolingüística na sala de aula. São 
Paulo: Parábola Editorial, 2004 (Col. Linguagem, nº. 4) 112 p. 
 
Esta obra compõe-se de sete capítulos, escritos propositalmente em linguagem coloquial, assim 
distribuídos: 1) A sociedade brasileira: características sociolingüísticas, 2) Diversidade lingüística e pluralidade 
cultural no Brasil, 3) A variação lingüística em sala de aula, 4) A comunidade de fala brasileira, 5) O português 
brasileiro, 6) Competência comunicativa, 7) A variação lingüística no português brasileiro. 
Esses capítulos são ainda acompanhados de boa exemplificação e de sustentação teórica com elementos da 
sociolingüística variacionista, da sociolingüística interacional e da etnografia da comunicação. As questões aí 
tratadas podem ser complementadas pelas “Sugestões de leituras”, pp. 107-108, propostas pela autora. 
Trata-se de obra de leitura muito prazerosa, com pouca ancoragem teórica e com muitos recursos que 
promovem um bom entendimento do texto por parte dos leitores. No decorrer dos capítulos há ainda sugestões 
para atividades, discussões, leituras e reflexões o que torna o trabalho ainda mais didático. O livro destina-se a 
professores, de ensino fundamental e médio e a estudantes dos cursos de letras e de pedagogia. 
Passo à apresentação, capítulo a capítulo: 
1) A sociedade brasileira: características sociolingüísticas — “identificam-se as principais características 
sociolingüísticas da sociedade brasileira e suas implicações para a educação”. Um trecho do romance Rememórias 
dois de Carmo Bernardes serve como texto estímulo para que a autora insira o leitor na reflexão sobre a língua 
portuguesa no Brasil, suas características e sua variação, especialmente as diferenças entre o Brasil urbano e o 
Brasil rural. Decorre desse textoestímulo, o trabalho com alguns dados: a) Crescimento da população rural e 
urbana no Brasil, b) A evolução da alfabetização no Brasil e c) Taxas de alfabetização na população brasileira de 
15 anos ou mais; 
2) Diversidade lingüística e pluralidade cultural no Brasil — aqui são tecidas considerações que 
“facilitam a conscientização sobre variação lingüística”, tendo novamente como base a narrativa regional 
memorialística de Carmo Bernardes. Bortoni-Ricardo explora como a criança começa a desenvolver o seu 
processo de sociabilização em três domínios: a família, os amigos e a escola. Nesses domínios, as pessoas 
interagem assumindo certos papéis sociais, os quais são acompanhados por tipos específicos de comportamento 
lingüístico. São esmiuçadas as relações lingüísticas da criança com a família, com os amigos e com os professores 
na escola; 
3) A variação lingüística em sala de aula, ainda tomando como base a saga de Carmo Bernardes, a autora 
“refleti sobre a variação lingüística no repertório dos professores e dos alunos de ensino fundamental”. Discute 
elegantemente como o professor deve trabalhar a questão do erro lingüístico — não como uma deficiência do 
aluno, mas sim como diferença entre duas variedades. A pesquisadora insere também nesse capítulo a noção de 
adequação lingüística, que deve ser ministrada aos alunos, conscientizando-os quanto às diferenças para que eles 
possam começar a monitorar seu próprio estilo; 
4) A comunidade de fala brasileira, neste capítulo a autora “leva o aluno a aprofundar sua conscientização 
sobre a variação lingüística e a educação em língua materna”. Tomando como base a historinha O limoeiro de 
Maurício de Sousa (Chico Bento, nº. 354), a autora sugere que o personagem Chico Bento poderia se transformar 
— em nossas salas de aula — em um símbolo do multiculturalismo que ali deveria ser cultivado. A autora explora 
também conceitos como grupos etários, gênero, status socioeconômico, grau de escolarização, mercado de 
trabalho e rede social, que corroboram para o entendimento da variação lingüística; 
 
1
 Doutor em Filologia e Língua Portuguesa pelo Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e 
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. 
 
 3 
5) Em O português brasileiro há uma “sistematização das informações sobre a variação lingüística no 
Brasil”, tomando por base três linhas, que foram classificadas de contínuos: contínuo de urbanização, contínuo de 
oralidade-letramento, contínuo de monitoração estilística. Evita-se, assim, a costumeira e tradicional criação de 
fronteiras rígidas entre língua-padrão, dialetos, variedades não-padrão, etc que compõem o português brasileiro. 
Mais precisamente, Bortoni-Ricardo nos mostra que o português brasileiro não possui uma feição única, mas sim 
é uma entidade heteróclita, ou seja, há vários “portugueses brasileiros”. Esse, sem sombra de dúvidas, é o capítulo 
mais significativo do livro, pois propõe um instrumental de análise para o português brasileiro distinto do que vem 
sendo apresentado por outros pesquisadores; 
6) Competência comunicativa — capítulo que visa “introduzir os conceitos de competência lingüística e 
competência comunicativa e suas implicações para a educação”. A autora rastreia o percurso desses conceitos a 
partir do lingüista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913), que postulou uma distinção entre língua e fala; em 
seguida o norte-americano Noam Chomsky (1928), que retomou a distinção entre língua e fala, com pequenas 
alterações, propondo uma dicotomia entre competência lingüística e desempenho 
(ou performance). Finalmente, a autora destaca o trabalho do norte-amerciano Dell Hymes (1927) em 1966, como 
a principal reformulação à dicotomia proposta por Chomsky. Para Hymes, o maior problema com o conceito de 
competência lingüística residia no fato de que esse conceito não dava conta questões de variação da língua. 
Hymes então propôs um novo conceito, o de competência comunicativa, que é bastante amplo para incluir não só 
as regras que presidem à formação das sentenças, mas também as normas sociais e culturais que definem a 
adequação da fala. Assim, Hymes inclui a noção de adequação no âmbito da competência; 
7) A variação lingüística no português brasileiro — Neste sétimo e último capítulo a autora “sistematiza 
informações sobre regras de variação na fonologia e morfossintaxe”. Mais particularmente, a autora quer 
responder às seguintes perguntas: “1) Quais as principais características da fala de um brasileiro com antecedentes 
rurais e urbanos se comparada à fala de um brasileiro com antecedentes urbanos?” e “2) Quais as principais 
características da linguagem de um falante usando estilo monitorado se comparado aos seus estilos não 
monitorados?” 
Trata-se de um trabalho muito interessante para os que se iniciam nos estudos de sociolingüística do 
português brasileiro, dado que a autora condensa – com inegável habilidade – discussões clássicas, a par de 
pesquisas recentes sobre esse tema. Se os especialistas estão relativamente bem servidos de publicações, o mesmo 
não se pode dizer, contudo, do público leigo que pretende se iniciar nessa área do conhecimento lingüístico. Para 
este, têm faltado boas obras introdutórias. Assim, esse trabalho vem preencher uma lacuna existente no mercado 
editorial e também fazer importante ligação entre a sociolingüística teórica sobre o português brasileiro e o 
público principiante nesse setor do conhecimento lingüístico. 
Espero ainda que, com a iniciativa da Profa. Bortoni-Ricardo, mais pesquisadores sintam-se estimulados a 
divulgar a não especialistas os estudos e as pesquisas lingüísticas sobre o português brasileiro. 
 
Fonte: http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/resenhabortoni-ricardo.pdf 
 
 
 
MACHADO, A. R. (1998) O diário de leituras. A introdução de um novo instrumento na escola. São Paulo: 
Martins Fontes, 263 p. 
 Resenhado por Angela B. KLEIMAN (Universidade de Campinas) 
 
 KEY WORDS: Discourse; Text Genre; School Situation. 
PALAVRAS-CHAVE: Discurso; Gênero de Textos; Situação Escolar. 
 Este livro trata do desenvolvimento e utilização de um novo gênero didático - o diário de leituras. O objetivo 
didático, ligado à formação de leitores reflexivos, fundamenta-se numa pesquisa apoiada num modelo de análise 
de discurso de base sócio-interacionista que postula, como elemento central da atividade da linguagem, a 
existência de gêneros portadores da experiência social, em constante transformação pelas exigências e parâmetros 
da ação social em curso, neste caso, a interação didática. A combinação, muito feliz, que a autora realiza entre os 
objetivos teóricos, de um lado, visando à descrição de um novo gênero e os objetivos aplicados, de outro, visando 
a avaliação crítica da experiência que possibilitou o estudo do diário de leituras como instrumento didático, faz 
deste livro leitura essencial tanto para teóricos da área do discurso quanto para alunos de cursos de Letras e 
docentes engajados no ensino de leitura e produção de textos no contexto universitário. 
O estudo - que foi apresentado como tese de doutorado no Programa de Lingüística Aplicada ao Ensino de 
Línguas da PUC-SP - está dividido em duas partes, precedidas de uma breve introdução geral, em que constam os 
objetivos do trabalho. Consta também um prefácio, escrito por Jean-Paul Bronckart, co-orientador do trabalho e 
autor do modelo de análise de discurso utilizado, no qual se tecem considerações sobre a relevância da pesquisa 
tanto para a difusão e reflexão crítica do modelo de produção de discursos que fundamenta o trabalho, quanto para 
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a pesquisa educacional. A base empírica do estudo é constituída por setenta e nove textos produzidos por alunos 
do primeiro ano de Jornalismo da PUC-SP. 
Na primeira parte, composta dedois capítulos, a autora apresenta os fundamentos teóricos subjacentes ao uso do 
diário de leituras enquanto instrumento educacional. No Capítulo 1, Ação e Gênero de Textos, a autora relaciona o 
conceito de ação comunicativa de Habermas (1981) à noção de gêneros de Bakhtin (1953), retomada no modelo 
de análise de discursos na perspectiva interacionista-social proposto pela escola de psicologia de linguagem de 
Genebra. O segundo capítulo, O Gênero Diário e sua Utilização na Prática e na Pesquisa Educacional, apresenta 
as características do gênero diário, procurando, nas situações de produção diarista ao longo da história e nas suas 
características textuais, os elementos comuns dos gêneros íntimos. Dentre essas características, a autora destaca: a 
construção de um superdestinatário, cuja representação fugiria às normas e convenções sociais, e os aspectos 
estilísticos relacionados à subjetividade e à expressividade informal e privada, que marcam uma pouca 
preocupação com procedimentos de textualidade. Resta determinar se os diários produzidos em situações 
didáticas partilham esses traços do gênero e do estilo, questão que fica para a pesquisa, apresentada na segunda 
parte do livro. 
A segunda parte está dividida em seis capítulos. No capítulo 3, O Quadro Teórico da Análise dos Textos, a autora 
expõe a teoria do funcionamento dos discursos de Bronckart (Bronckart, 1994), complementada com a teoria de 
análise textual de Adam & Petitjean (1989) e Adam (1992). Trata-se de um quadro teórico complexo, claramente 
apresentado, cuja pertinência e adequação são demonstrados nos capítulos analíticos. 
A teoria de funcionamento dos discursos toma como unidade psicológica central o conceito de ação, unidade que 
pode ser descrita mediante a identificação dos parâmetros da situação de comunicação e do conteúdo temático 
mobilizado pelo agente produtor do texto, podendo se concretizar, portanto, em diversos textos, com diversas 
características lingüísticas. Essas duas representações dos agentes produtores – de determinados parâmetros da 
situação de produção (material e de interação social) e dos conteúdos – formariam uma base de orientação para as 
escolhas a serem expressas através do texto: gênero, tipo discursivo, estabelecimento de coerência. 
Por sua vez, essas escolhas determinam outras. Por exemplo, as opções relativas aos tipos de discurso 
envolveriam operações para constituir o mundo discursivo, o grau de implicação da situação material, a escolha 
de um tipo de seqüencialidade, ou seja, um plano do discurso. As oposições relativas à escolha do mundo 
discursivo envolvem situar as referências num mundo distante ao da situação de material de produção (disjunção) 
ou num mundo conjunto ao da interação social (conjunção), enquanto a escolha do grau de implicação da situação 
material de produção envolve decisões sobre integrar no texto referências aos parâmetros da situação de 
comunicação (implicação) ou não integrá-las, produzindo-se um texto autônomo em relação a esses parâmetros 
(autonomia). Os quatro grandes tipos de discurso propostos pela teoria resultam das combinações entre essas 
diversas oposições: os discursos do eixo do EXPOR (conjunção) - interativo (implicação) ou teórico (autonomia) 
- e os discursos do eixo do NARRAR (disjunção) - o relato interativo (implicação) ou a narração (autonomia). 
Esse quadro teórico – parcialmente resumido aqui - é complementado com a noção de seqüencialidade (Adam & 
Petitjean, 1989, Adam, 1992), isto é, o conjunto de seqüências convencionalizadas para a organização cognitivo-
discursiva do tema, que determinam a reestruturação lingüística do conhecimento que resulta no texto. 
Considerável espaço é dado ao tratamento das seqüencialidades descritiva e explicativa, uma vez que essas são as 
predominantemente encontradas nos textos do corpus. 
O Capítulo 4, Questões Metodológicas, fornece dados sobre os sujeitos, os instrumentos de coleta de dados e sua 
contextualização, e os procedimentos analíticos. Estes últimos consistem em três procedimentos maiores, cada um 
dos quais é objeto de análise em capítulos posteriores. São eles: identificação das unidades de informação a fim de 
se identificar as representações dos alunos sobre a situação (capítulo 5), seleção das unidades lingüísticas a serem 
analisadas e levantamento de freqüências de cada unidade (capítulo 6); análise do plano do texto e da organização 
seqüencial (capítulo 7). 
O Capítulo 5, Representações sobre os Parâmetros da Situação de Comunicação sobre o Diário de Leituras, 
focaliza as "teorias diaristas" particulares encontradas nos diários dos sujeitos da pesquisa, a fim de se 
compreenderem os problemas com que os alunos se depararam, em relação aos temas, à relação entre locutor e 
interlocutor (o professor), e ao processo de articulação leitura/escrita. A diversidade de representações que os 
alunos se fizeram da situação aponta para a diversidade das soluções e, portanto, dos textos produzidos, questão 
abordada no capítulo seguinte. 
O capítulo 6, Características Discursivas dos Textos Produzidos, classifica a produção diarista dos alunos em três 
grandes grupos, tomando como base para a classificação as unidades lingüísticas presentes e/ou ausentes nos 
diferentes diários. No primeiro subconjunto, "Grupo Mais Teórico (GT)", os textos são construídos 
autonomamente em relação à situação de comunicação, com presença marcante de frases declarativas e ausência 
de elementos dêiticos de pessoa, tempo ou espaço. O outro grupo de textos, que contêm segmentos de discurso 
interativo, é dividido em dois subconjuntos, segundo a presença e freqüência de unidades que implicam a situação 
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de comunicação, em "Grupo Interativo com marcas do destinatário (GICD)" e "Grupo Interativo sem marcas do 
destinatário (GISD)". Todos os textos estão constituídos por discursos da ordem de EXPOR, embora nos textos 
interativos haja trechos dos mundos discursivos da ordem de NARRAR. 
O Capítulo 7, A Organização Seqüencial e os Planos de Texto, apresenta as diferentes formas de plano global de 
texto e de organização seqüencial encontradas nos três grupos de diários identificados no capítulo anterior. A 
análise é bastante detalhada a fim de "auxiliar outros profissionais que queiram utilizar a teoria adotada para fins 
didáticos ou de pesquisa."(p. 165). O detalhamento e minuciosidade da análise dificulta a percepção das 
regularidades, ficando a impressão de uma forte heterogeneidade tanto na organização seqüencial e no plano 
global, quanto no tipo de seqüências escolhidas. Entretanto, a autora tem o cuidado de apresentar um quadro-
resumo em que os vários subtipos de seqüências são eliminados, evidenciando-se, assim, que, no conjunto de 
textos produzidos, há forte predomínio de seqüências explicativas e descritivas e que, nos textos interativos, há 
predomínio de descrições de texto e de ação. A heterogeneidade se mantém em relação ao plano global, que pode 
ou não estar presente nos textos. Cabe apontar também que a análise permite evidenciar problemas na teoria da 
organização seqüencial, primeiro porque os critérios de identificação de seqüências não são facilmente aplicáveis 
e porque a própria noção de seqüência deve ser questionada, já que os textos não são construídos em seqüências 
completas, mas em fragmentos de seqüências. 
No capítulo final, Conclusões, a autora, primeiramente, tece considerações sobre os resultados da pesquisa, para 
depois apresentar uma reflexão teórica sobre a contribuição da pesquisa aplicada na análise da reestruturação e 
constituição de gêneros na instituição didática. 
Quanto ao estatuto do diário de leitura, a autora aponta que as regularidades na construção dos textos (tal como 
apresentadas nos capítulos 6 e 7) pareceria ser evidência de uma transposição das caraterísticas típicas do gênero 
de diário privado para um gênero ainda em constituição- o diário de leitura. Entretanto, ela argumenta que, ao se 
levar em consideração a incompatibilidade existente entre os parâmetros das situações de produção do diário 
íntimo e do diário institucional, outras conclusões parecem mais plausíveis. Assim, para a autora, outros gêneros 
indexados à situação escolar, como o resumo, a resenha crítica e a dissertação, seriam também gêneros dos quais 
o aluno se serve na sua produção diarista. Tal combinação explicaria a existência dos diários mais teóricos e a 
enorme variação dos textos produzidos quanto à implicação dos parâmetros da situação no diário de leituras. 
Por outro lado, também tiveram influência na produção as instruções didáticas que precederam a produção dos 
textos, que traziam implícito um modelo pré-teórico que guiou as produções dos alunos para a descrição e para 
um diário reflexivo: "À medida que lê, vá escrevendo como se fosse para você mesmo(a). Descreva o que o texto 
traz de interessante tanto em relação à forma quanto ao conteúdo; descreva em que o texto lido contribuiu para 
sua aprendizagem, para mudanças em sua prática de leitura e produção …"(p. 233). 
Do ponto de vista da contribuição teórica, a pesquisa didática se constituiu como um instrumento eficaz para a 
análise da reestruturação e constituição de um novo gênero no contexto universitário, em que a situação de ação 
verbal complexa com que os alunos se deparam exige a produção de uma unidade intertextual multimodelar em 
função dos parâmetros da situação didática em curso. A conclusão central, decorrente da análise da situação 
material de produção e dos textos efetivamente produzidos é que, na produção diarista dos alunos, há exemplos 
"da constituição de um novo instrumento semiótico a partir de instrumentos conhecidos."(p. 234). 
O capítulo também inclui uma avaliação crítica da experiência didática. Em primeiro lugar, fica evidente a 
importância de pesquisa aplicada para a (re)formulação teórica. O estudo permite uma caracterização teórica do 
diário de leituras, gênero já utilizado com fins didáticos, porém sem a conceitualização teórica que este estudo 
aporta. Além disso, os procedimentos analíticos detalhados, de textos completos, levanta questionamentos 
importantes para os quadros teóricos utilizados. 
A reflexão teórica, ao ocupar um lugar central na pesquisa, permite redimensionar o trabalho didático, 
entendendo-o não apenas como uma experiência local, mas como um trabalho que reflete e refrata as condições 
sociais da universidade e da escola brasileira, que determinam os processos de ação comunicativa aí 
estabelecidos. Esse redimensionamento é, sem dúvida, uma das contribuições mais importantes do trabalho, pois 
ele permite a utilização não ingênua de um importante instrumento de trabalho didático. 
Ao contrário de outros gêneros escolares que se constituem em modelos rígidos a serem seguidos pelo aluno, o 
diário permitiria elaborações e escolhas muito mais variadas. Devido a essas características, sua utilização 
didática permitiria configurar uma situação de produção de textos através da construção em vez da reprodução, 
pouco comum (mas sempre desejada) na situação escolar. 
No trabalho de Anna Rachel Machado vemos combinados a escolha de um problema relevante para o ensino, o 
domínio de um quadro teórico complexo e o rigor analítico que exige o retorno e a revisão da teoria, constituindo-
se, por isso, no tipo de trabalho que deveria servir de parâmetro para a pesquisa aplicada.

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