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SEBRAE-MG Agosto a dezembro de 2008 ALECRIM FICHA TÉCNICA 2010 Sebrae-MG Nenhuma parte ou o todo desta publicação poderá ser reproduzido – em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação, etc. – nem apropriado ou estocado em sistema de banco de dados sem prévia autorização, por escrito, do Sebrae-MG. Sebrae-MG ROBERTO SIMÕES Presidente do Conselho Deliberativo AFONSO MARIA ROCHA Diretor Superintendente LUIZ MÁRCIO HADDAD PEREIRA SANTOS Diretor Técnico MATHEUS COTTA DE CARVALHO Diretor de Operações Unidade de Atendimento Coletivo – Comércio, Serviços e Artesanato Sebrae-MG AGMAR ABDON CAMPOS Gerente MÔNICA STELA DE ALENCAR CASTRO SAMIRA DE CARVALHO RIBEIRO Macrorregião Norte Sebrae-MG CLÁUDIO LUIZ DE SOUZA OLIVEIRA Gerente Microrregião de Diamantina LUCIANA TEIXEIRA SILVA Assessoria de Comunicação Sebrae-MG LAURO DINIZ Assessor MÁRCIA DE PAULA DA FONSECA FERNANDA ALMEIDA RUAS DANIELA CORREIA LEMOS DE CARVALHO Fundação de Arte de Ouro Preto – FAOP ANA PACHECO Presidente MARIA SONIA MADUREIRA DE PINHO Coordenação Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM VIVIANE CRISTINA DE PAULA Monitoria PERFIL PUBLICIDADE Projeto Grá� co A492 Ambiente gastronômico no Vale: região do Vale do Jequitinhonha. / coordenação, Maria Sonia Madureira de Pinho – Belo Horizonte: Sebrae-MG, 2010. 76 p. 1.Gastronomia – Vale do Jequitinhonha-MG I. Pinho, Maria Sonia Madureira II .Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais. IV. Fundação de Arte de Ouro Preto – FAOP. V. Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. CDU: 641 TURISMO DE SABOR E TRADIÇÃO A vida das pacatas localidades rurais de Minas Gerais, com paisagens pitorescas, costumes e artes seculares, linguajar típico e o sabor inesquecível de alimentos saudáveis, inspirou uma nova parceria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE-MG e do Governo do Estado para estimular o resgate da cidadania e o desenvolvimento econômico e social de comunidades das diversas regiões mineiras. O programa Turismo Solidário criou roteiros para despertar a imaginação e os sonhos dos visitantes, que viram protagonistas do processo de valorização da sabedoria popular, das tradições, da arte e da cultura, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da gente simples do interior. A coleção Ambiente Gastronômico do Vale registra a história, o ambiente e o saber culinário dos moradores de Alecrim, Bonfim, Capivari e Mendanha, distritos do Jequitinhonha que já desenvolveram atividades de organização do turismo receptivo familiar. Os quatro volumes foram produzidos com a participação das comunidades, que buscaram, nos tradicionais cadernos de receitas preservados e ampliados de geração em geração, as anotações pessoais sobre os pratos mais saborosos e informações sobre remédios caseiros para diversos males. A publicação também fala das rezadeiras e de bênçãos que a força da crendice popular ainda prefere no lugar de modernos tratamentos médicos. Na sua mais atualizada concepção, o turismo considera que a originalidade dos destinos e a emoção que provocam são marcas indispensáveis à atração de visitantes cansados da padronização mundial dos roteiros. Com esta coleção, o SEBRAE-MG entende que, além de divulgar um inovador programa turístico que possibilita a geração de emprego e renda, contribui para recuperar e preservar a rica culinária de Minas. Os sabores e cheiros dos salgados, doces e quitandas mineiros oferecem aos turistas, em singelas mesas de confraternização, o sonho e a fantasia. E, nas conversas sobre habilidades e conhecimentos culturais, artísticos e práticos, é possível reconhecer aquilo que, ao longo dos séculos, forjou o jeito de ser do povo mineiro. Roberto Simões Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-MG VIAGEM ÀS ORIGENS DE MINAS O programa Turismo Solidário, uma iniciativa do Governo de Minas Gerais, foi elabo- rado pela Secretaria de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas – Sedvan em parceria com SEBRAE-MG para realizar a ordenação turística de localidades atendidas pelo Estado nas três regiões, fazendo do turismo instrumento de promoção do crescimento sustentável dessas comunidades. A proposta privilegia a valorização e divulgação do jeito de ser, da cultura popular e das belezas naturais das comunidades. Os turistas solidários participam do cotidiano das famílias que os hospedam e usufruem do aconchego dos lares, das conversas ani- madas à mesa de refeições e dos sabores de alimentos dos quintais das casas, entre muitos outros atrativos. Possibilitando troca de conhecimentos e geração de renda às populações locais, o programa signi� ca esperança de vida melhor para centenas de famílias bene� ciadas pelo aumento do � uxo turístico e pela participação solidária dos turistas. Os distritos de Mendanha (em Diamantina), Alecrim e Bon� m (em São Gonçalo do Rio Preto) e Capivari (no Serro) já desenvolveram as atividades de organização dos recep- tivos familiares e são os primeiros a ter suas receitas culinárias tradicionais registra- das no catálogo Ambiente Gastronômico no Vale. Trata-se de mais uma contribuição para divulgar e consolidar as ações do inovador programa, que desperta no turista o interesse de participar do processo de transformação social e econômica regional, estimulando a cidadania e a inclusão social. A Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais sente-se honrada em dar conti- nuidade a mais um trabalho de resgate do patrimônio do Estado, executado pela Fundação de Arte de Ouro Preto – FAOP. A iniciativa confirma o importante papel da entidade na recuperação e salvaguarda da cultura popular mineira. O projeto Ambiente Gastronômico no Vale do Jequitinhonha apresenta um dos maiores patrimônios do imaginário e dos fazeres do povo mineiro: a culinária. O Vale do Jequitinhonha e sua rica gastronomia sintetizam os sabores e cheiros de Minas Gerais a partir de suas receitas de doces, salgados e quitandas. A gastronomia do Jequitinhonha sinaliza o significado de ser mineiro, além de re- velar símbolos da identidade cultural do Estado. Neste livro, a FAOP convida todos a explorar, desvendar e absorver esse grande mistério. Paulo Brant Secretário de Estado de Cultura de Minas Gerais O PROGRAMA TURISMO SOLIDÁRIO O programa Turismo Solidário foi criado para possibilitar a inclusão social de popu- lações carentes a partir da dinamização da economia de municípios que integram a área de atuação do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais – Idene, órgão vinculado à Secretaria de Estado Extraordinária para o Desen- volvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas – Sedvan. A proposta resultou da constatação de que a cadeia produtiva da atividade turísti- ca, envolvendo mais de 50 setores da economia, abre amplas possibilidades de de- senvolvimento para as comunidades locais, pois induz novos empreendimentos, cria postos de trabalho, aumenta a circulação de riquezas, distribui renda de forma mais democrática e combate à miséria e à fome. O programa estimula o aumento do número de turistas solidários aptos a transferir habilidades, conhecimentos ou interesses e a participar como protagonistas do pro- cesso de transformação do Estado. Simultaneamente, identi� ca as pessoas dispostas a aprender e a melhorar suas perspectivas de vida. O que se pretende é despertarno turista solidário o sentimento humanista de se tor- nar um voluntário e agente direto de mudanças na região. A sociedade organizada agrega valor às ações solidárias dos visitantes, incentivando a cultura de cooperação, o resgate da cidadania, a valorização da identidade cultural das comunidades e a pre- servação do meio ambiente. Paralelamente à possibilidade de aumento da renda e aos avanços sociais das popu- lações locais é importante destacar que o turista solidário poderá usufruir das belezas naturais e culturais da área do programa, o que fomentará a cultura da paz. O alcance desses objetivos pelas comunidades contempladas depende do sucesso de ações e esforços coletivos. Elbe Brandão Secretária de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas – Sedvan RECEITAS DE ARTE E CULINÁRIA A Fundação de Arte de Ouro Preto – FAOP, órgão vinculado à Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, consolida-se como instituição de referência na preservação do patrimônio mineiro, con� rmando sua vocação de valorizar a multiplicidade cultural, com ações de reconhecimento, resgate e preservação dos saberes e fazeres dos lugares que tornam tão ricas, generosas e atraentes as terras e as tradições mineiras. Em mais uma parceria entre a FAOP e o SEBRAE-MG, o projeto Ambiente Gastronômico no Vale do Jequitinhonha propõe o mapeamento dos sabores e hábitos alimentares dos vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas para desvendar uma das mais sig- ni� cativas tradições mineiras: a arte da culinária. O projeto reabilita uma epifania de sabores, guiado pela tradição oral e por personagens característicos da cultura do Estado. Do processo de investigação em Diamantina, São Gonçalo do Rio Preto e Serro, participam quatro distritos do Jequitinhonha - Alecrim, Bon- � m, Capivari e Mendanha –, tendo as comunidades locais como participantes ativas, � os condutores da pesquisa e grandes responsáveis pelos resultados alcançados. A receptividade das famílias resultou num levantamento valioso de dados sobre a tradi- ção da mesa, os atributos do alimento e as funções do ambiente da refeição, permitindo a elaboração dos cadernos de receitas regionais. O comprometimento dos colaboradores locais na compilação e registro de próprio pu- nho de receitas de salgados, doces, remédios e quitandas, indicou o caminho editorial da reprodução dos textos que, por si só, pintam os cenários das regiões em que foram escritos. O leitor encontrará nas páginas desses Cadernos não somente receitas gastro- nômicas locais e regionais, mas a expectativa de suas populações de valorizar sua cultura, divulgando e preservando tradições e costumes. Capturar a essência do Vale do Jequitinhonha através de suas quitandas, doces, salgados, receitas, hábitos e diversidade de paladares, possibilita à FAOP o orgulho de adicionar tempero à preservação do sabor de Minas e de divulgar o resultado de um trabalho que representa mais um passo na consolidação da política de valorização e preservação do patrimônio cultural do Estado. Ana Pacheco Presidente da Fundação de Arte de Ouro Preto – FAOP TURISMO COM ORIGINALIDADE E EMOÇÃO Buscando consolidar e evidenciar os destinos turísticos que fazem parte do Programa Turismo Solidário, este trabalho busca resgatar aspectos importantes das tradições e costumes associados à gastronomia, presentes nas localidades de Mendanha, Ale- crim, Bonfim e Capivari, no Vale do Jequitinhonha. A participação espontânea dos moradores das comunidades e o compartilhamento de suas histórias e receitas foram imprescindíveis para garantir a riqueza dos resul- tados desta pesquisa, que propiciou o registro de diversos pratos da culinária local. Além de incentivar a reutilização de algumas receitas pouco valorizadas pelos mora- dores locais, este resgate possibilita ofertar uma alimentação genuinamente tradi- cional aos turistas solidários, interessados em conhecer as peculiaridades da região. Dessa forma, os saberes locais são incorporados como atrativos a serem disponibiliza- dos aos visitantes, contribuindo para o maior convívio entre as famílias e os turistas, além de possibilitar o incremento de renda da população dessas comunidades. A culinária faz parte da riqueza cultural e histórica de Minas Gerais. Em 1817, viajando pelo Brasil, o francês Auguste de Saint-Hilaire observou a recepção hospitaleira e a mesa farta dos mineiros. Ele escreveu importantes livros sobre costumes e paisagens do país. Em um deles, destaca que o mineiro come bem e come certo, pois tem o hábito de “produzir” a cesta básica em sua própria casa. Cria porco e frango, cultiva verduras, legumes e milho, faz o pão e o queijo e preserva a informação culinária de mãe para filha. Tradições que transformaram a gastronomia em atrativo turístico. Agmar Abdon Campos Unidade de Atendimento Coletivo – Comércio, Serviços e Artesanato Sebrae-MG SUMÁRIO Gastronomia: ambiente de cultura ...... 16 Alecrim ................................................. 19 História de Alecrim ............................... 21 Ambiente .............................................. 25 Na casa de Anésia ................................. 25 Na casa de Eleonor ............................... 25 Na casa de Marta .................................. 27 Na casa de Marilac ................................ 27 Na casa de Neuza .................................. 28 Receitas salgadas ................................. 30 Bolinho de assa-peixe ........................... 30 Bolinho de espinafre ............................. 30 Bolinho de fubá .................................... 31 Bolinho de mandioca ........................... 31 Canjiquinha com costelinha e folhas de couve .................................................... 32 Costelinha de porco com mamão ......... 32 Farofa de andu ..................................... 33 Frango com ora-pro-nóbis ................... 33 Frango com quiabo .............................. 34 Frango ao molho pardo ........................ 34 Frango com palma ................................ 35 Pirão ..................................................... 37 Salada de jiló ........................................ 37 Tempero de sal com alho ...................... 38 Umbigo de banana ............................... 38 Receitas doces ...................................... 40 Brigadeiro ............................................. 40 Cocada .................................................. 40 Creme de abóbora-moranga (falso coral) ........................................... 41 Doce de abóbora .................................. 42 Doce de chuchu .................................... 42 Doce de fava ......................................... 43 Doce de laranja-da-terra ....................... 44 Doce de leite (em barra) ....................... 44 Doce de mamão batido ........................ 45 Doce de mamão com leite .................... 45 Doce em barra de mamão ralado ......... 46 Quitandas ............................................. 48 Biscoito de polvilho .............................. 48 Biscoito frito de polvilho ....................... 48 Bolacha de queijo ................................. 49 Bolo de fubá cremoso ........................... 50 Bolo de mandioca ................................. 50 Bolo de mandioca ................................. 51 Pão caseiro ............................................ 51 Pão de sal sem ovo ............................... 52 Rosca baiana ......................................... 53 Rosquinha............................................. 53 Chás ..................................................... 55 Recomendações para fazer o chá ......... 55 Chá de babosa ...................................... 55 Chá de baba-timão ...............................55 Chá de boldo ........................................ 55 Chá de capim-cidreira........................... 56 Chá de cipó-trindade ............................ 56 Chá de folha de algodão ....................... 56 Chá de flor de mamão .......................... 56 Chá de hortelã ...................................... 56 Chá de guaco ....................................... 56 Chá de macilica..................................... 56 Chá de mamão ..................................... 56 Chá de maveterna ................................ 57 Chá de pustemeira ............................... 57 Chá de salva-vida .................................. 57 Chá de santa-maria ............................... 57 Sucos .................................................... 59 Suco de inhame-da-china .................... 59 Suco de maracujina .............................. 59 Suco de folhas verdes ........................... 60 Hábitos, costumes e tradições .............. 63 Bençãos e garrafadas ............................ 63 Benzedeiros .......................................... 63 Como matar e destrinchar um boi ........ 64 Como pegar, matar e limpar um frango .. 64 Como matar e limpar um porco............ 65 Processo de limpeza da palma ............. 65 Festa do Rosário de Rio Preto ............... 66 Festa de Nossa Senhora da Conceição (padroeira de Alecrim) .......................... 67 Produtos rurais típicos .......................... 69 Glossário ............................................... 71 Grupo de participantes e colaboradores ...................................... 72 Posfácio ................................................ 75 Referências ........................................... 75 GASTRONOMIA: AMBIENTE DE CULTURA O projeto Ambiente Gastronômico no Vale, iniciativa do Sebrae-MG, convidou moradores do Vale do Jequitinhonha, mapeados pelo Programa Turismo Solidá- rio/SEDVAN-IDENE, a sentar em torno da mesa para trocar receitas da rica culiná- ria local e compartilhar os saberes e fazeres da região. A pesquisa percorreu as localidades de Alecrim, Bonfim, Capivari e Mendanha durante os cinco meses de duração do trabalho, iniciado em agosto de 2008. Para nós participantes, esse foi um emocionante processo de resgate da memória gustativa, olfativa e, principalmente, afetiva dos lugares e das pessoas que nos acolheram e com quem convivemos estreitamente. Pura história de Minas, me- tamorfoseada em quitandas, salgados, doces, garrafadas e infusões. O resultado você vai conhecer agora: são receitas de vida e de fé. Gastronomia é cotidiano e é cultura. É engenho e é arte. Os pratos nutrem o cor- po, a convivência nutre a alma. O relacionamento com as mulheres pesquisadas determinou nossa estratégia de trabalho. A culinária mineira é marcada pela orali- dade, com receitas transmitidas verbalmente através de gerações. Ainda assim, o caderno de receitas é percebido como um verdadeiro patrimônio familiar, sinô- nimo de pertencimento e de vivências compartilhadas. Com base nessa constata- ção, incorporamos às pesquisas o conceito de caderno de receitas, que se tornou o elo entre as mulheres e as suas comunidades, entre pesquisador e pesquisados. A principal missão foi expandir o olhar das envolvidas – de dentro de casa para fora dela, do familiar para o social. A alquimia dos encontros transformou intenção em ação. Munidas de seus cader- nos, as mulheres tornaram-se as protagonistas do resgate da sua cultura, de suas tradições, dos seus rituais, escrevendo a própria história por meio das receitas de 16 17 suas famílias e do seu território. Na riqueza do convívio, em conversas e trocas, revelaram-se os hábitos do cultivar, do colher e as diferentes maneiras de criar e recriar o alimento. As experiências do campo trouxeram respostas inusitadas. Na observação dos usos e costumes, a revelação da expressiva mobilidade das ervas e “matos”. A hor- ta que se apresenta como elementar no cotidiano, do cultivo aos cuidados de preservação das ervas nativas, em seu ciclo de vida possui funções diferenciadas que se interconectam, dependendo da missão: podem servir para benzer ou para temperar. Práticas que nesta oportunidade se apresentam reunidas aqui, na forma de um caderno de receitas escrito a muitas mãos, com a generosidade e a sabedoria de muitas gerações. A elas, todo o meu carinho e o meu profundo respeito. Maria Sonia Madureira de Pinho Coordenação de Projeto 17 19 ALECRIM Na comunidade de Alecrim, no Alto Jequitinhonha, encontramos edi� cações no esti- lo moderno e algumas poucas no estilo colonial, que restaram dos séculos anteriores e que retratam um pouco da história local. Há uma reserva ambiental, área de grande importância para Alecrim, onde tem a total preservação da bacia do Rio Preto, que é parte integrante e mantedora da bacia do rio Araçuaí. É de beleza inigualável, assim como a árvore de Sapucaia, raridade encontrada em Alecrim. A cidade possui uma casa de máquinas, inaugurada em 1991, mas muitos moradores ainda preservam a produção rudimentar de farinha, rapadura e cachaça. Passeando por lá, podemos nos deliciar com comidas típicas como rama de batata-doce, picão, berduega, caruru de porco, samambaia, toucinho cozido no feijão preto, farofa de andu, frango ao molho pardo, frango com quiabo, quiabo com carne de porco e leitoa assada na folha de bananeira. O artesanato constitui uma das atrações principais da cidade, com peças em barro, bambu, palha de bananeira e palha de milho, tudo feito com matéria-prima extraída da própria região. População: 445 habitantes Município Sede: São Gonçalo do Rio Preto Distância de Alecrim a São Gonçalo do Rio Preto: 7 km Acesso a São Gonçalo do Rio Preto: estrada de terra 19 21 21 HISTÓRIA DE ALECRIM Pesquisa: Ronaldo e Rafael Adriano Lopes (estudantes) Redação: Rafael Adriano Lopes Alecrim começou a se tornar comunidade quando o número de moradores da região aumentou com o crescimento das famílias, na época, não havia orientação sobre controle da natalidade. Com muito trabalho, alguns conseguiam construir barracos para morar, pois não havia muitos materiais de construção por perto e era preciso ir até Diamantina para comprar tijolos, telhas e outros produtos. Da região, podiam ser usados tijolos de adobe, alguns tipos de telhas, as portas e janelas, caibros e ripas (na época, eram usadas varas cortadas nas matas ao redor da própria comunidade). Não havia piso como hoje e as casas eram de chão bati- do, pintadas a cal. Também se recorria à tabatinga, um tipo de argila, quando não havia jeito de comprar tintas nem cal. Não havia estrada que ligasse Alecrim a São Gonçalo do Rio Preto. A pioneira foi feita no mandato de Luis Português, um dos primeiros prefeitos de São Gonçalo do Rio Preto. Uma das fazendas teve muitos escravos e nela, foi construída uma escola, onde as crianças de Alecrim podiam estudar. Os moradores plantavam bastante: milho, feijão, arroz, café, cana-de-açúcar, ba- nana, mandioca, laranja, urucum e mamona. Também produziam rapadura, fa- rinha de mandioca, fubá, azeite de mamona, etc. Na época, não havia muito di- nheiro para a compra das mercadorias que faltavam. Quem tinha produtos de que outros precisavam levava uma vida melhor. A assistência à saúde era muito precária, não havia transporte até o hospital nem havia hospital em São Gonçalo do Rio Preto. Era preciso ir até Diamantina e o doente era levado em padiolas feitas de varas e cobertores. Sem condução, eram carregados a pé ou a cavalo até o hospital de Diamantina. Se a doença era grave, o risco de morrer no caminho crescia, porque os carregadores não conseguiam percorrer toda a distância a tempo. Também não havia energia elétrica. A comunidade dependia do óleo de mamona, colocado em candeias de barro, para iluminaras casas à noite. Os banhos eram to- mados com águas postas em gamelas. Só mais tarde surgiram as bacias, só depois da metade do século passado foram substituídas pelos chuveiros. A dificuldade no banho é um bom exemplo da falta de condições da população de Alecrim para adquirir os bens necessários a uma vida mais confortável. Alecrim, 18 de setembro de 2008. 22 25 AMBIENTE Na casa de Anésia Cotidiano Refeição: arroz, feijão, salada, carnes. Horário: 11h – almoço; 19h – jantar. Local: sala ou cozinha. Mobiliário: mesa, sofá, fogão a gás. Louças: pratos e copos de vidro, panelas. Outros: toalha de mesa e guardanapo. Visitante: come com a família. Turista Refeição: arroz, feijão, salada, frango ao molho pardo, palma e sobremesa. Horário: 11h às 14h – almoço; 20h às 21h – jantar. Local: sala ou cozinha. Mobiliário: mesa, cadeiras, sofá, fogão a gás. Louças: pratos e copos de vidro. Outros: toalha de mesa e guardanapo. Na casa de Eleonor Cotidiano Refeição: arroz, feijão, salada, carnes, macarrão e verduras. Horário: 11h – almoço; 18h – jantar. Local: sala ou cozinha. Mobiliário: mesa com cadeiras, banco, sofá, fogões a gás e a lenha (o mais usado). Louças: pratos e copos de vidro, panelas (usadas para fazer comida). Outros: toalha de mesa e guardanapo. Visitante: come com a família. Turista Refeição: arroz, feijão, salada, frango com quiabo, frango com palma, frango com ora-pro- nóbis, costelinha com mamão, costelinha com canjiquinha; sobremesas: doces e frutas. Horário: 13h às 14h – almoço; 20h às 21h – jantar. Local: varanda. Mobiliário: mesa com cadeiras, fogões a gás e a lenha. Louças: pratos e copos de vidro, panelas (usadas para fazer comida). Outros: toalha de mesa e guardanapo. 25 27 Na casa de Marta Cotidiano Refeição: arroz, feijão, salada, verduras, carnes. Horário: 9h – almoço; 18h – jantar. Local: sala ou cozinha. Mobiliário: mesa, banco, fogões a gás e a lenha (o mais usado). Louças: pratos e copos variados, panelas (usadas para fazer comida). Outros: toalha de mesa. Visitante: come com a família. Turista Refeição: arroz, feijão, salada, verduras, carnes e sobremesas. Horário: 12h – almoço; 20h – jantar. Local: sala ou cozinha. Mobiliário: mesa com cadeiras, banco, fogões a gás e a lenha. Louças: pratos e copos variados, panelas (usadas para fazer comida). Outros: toalha de mesa e guardanapo. Na casa de Marilac Cotidiano Refeição: arroz, feijão, macarrão, batata, mamão, abóbora, salada e carnes. Horário: 11h – almoço; 19h – jantar. Local: cozinha. Mobiliário: mesa com cadeiras, fogões a gás e a lenha. Louças: pratos e copos de vidro, panelas (usadas para fazer comida). Outros: toalha de mesa e guardanapo. Visitante: come com a família. Turista Refeição: maionese, farofa e salpicão. Horário: 11h – almoço; 19h – jantar. Local: cozinha. 27 Mobiliário: mesa com cadeiras, fogões a gás e a lenha. Louças: pratos e copos de vidro, panelas (usadas para fazer comida). Outros: toalha de mesa e guardanapo. Turista Refeição: arroz, feijão, angu, frango com palma, frango com quiabo, salada, costelinha de porco com mamão; sobremesas: doces. Horário: 13h às 14h – almoço; 21h às 21h30 – jantar. Local: cozinha. Mobiliário: mesa com cadeiras, fogões a gás e a lenha. Louças: pratos e copos de vidro, travessas e panelas (usadas para fazer comida). Outros: toalha de mesa e guardanapo. Na casa de Neuza Cotidiano Refeição: arroz, feijão, macarrão, angu, verduras. Horário: 11h às 12h – almoço; e 18h às 20h – jantar. Local: sala, assistindo à TV, cozinha ou área. Mobiliário: sofá, banco, fogões a gás e a lenha (o mais usado). Louças: pratos e copos de vidro, canecas, panelas (usadas para fazer comida). Outros: toalha de mesa e guardanapo (às vezes). Visitante: come com a família. Turista Refeição: frango com ora-pro-nóbis, diversas saladas, frango ao molho pardo e sobremesas. Horário: 13h às 14h – almoço; 20h às 21h – jantar. Local: sala ou cozinha. Mobiliário: mesa com cadeiras, sofá, fogões a gás e a lenha. Louças: pratos e copos de vidro, talheres completos, panelas (usadas para fazer comida). Outros: toalha de mesa e guardanapo. 28 RECEITAS SALGADAS Bolinho de assa-peixe Por Neusa Miguel da Silva Ingredientes: 2 ovos 10 folhas de assa-peixe sal a gosto Modo de fazer: bater os ovos (em vasilha, tigela ou prato) com sal. Depois, passar cada folha no ovo e fritar no óleo de soja quente. Dica: adicionar cebolinha. Bolinho de espinafre Por Eleonor de Jesus Lopes Ingredientes: 4 ovos 1 pitada de sal 10 folhas de espinafre 2 colheres de sopa de fubá Modo de fazer: bater os ovos* e, em seguida, colocar o sal, as folhas picadinhas e o fubá. Me- xer bem e fritar em óleo de soja quente. Dica: dependendo do clima, tem espinafre o ano inteiro. * Bata as claras numa tigela até que vire em neve; em seguida, coloque as gemas e bata bem novamente, depois vire os ingredientes. Misture bem até obter a massa homogênea e faça bolinhas com uma colher para fritar. 30 31 Bolinho de fubá Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 6 ovos ½ colher de fermento ½ colher de sal com alho 6 gotinhas de pimenta 2 xícaras de fubá de moinho 1 xícara de farinha de trigo com fermento 12 folhas de cebolinha picadas Modo de fazer: bata as claras em neve; em seguida, coloque a gema e outros ingredientes e misture bem; frite em óleo quente até que o bolinho fique dourado. Consumir na hora. Rendimento: 15 pessoas Bolinho de mandioca Por Anésia Assunção Meira Ferreira Ingredientes: 2 mandiocas 6 ovos ½ colher de sopa de sal 3 folhas de cebolinha Modo de fazer: lave a mandioca* e ponha para cozinhar por 15 minutos. Espere esfriar e amas- se bem com um garfo. Coloque o sal, os ovos e a cebolinha picada e amasse novamente com uma colher. Faça as bolinhas e coloque para fritar (numa fri- gideira sem tampa) em óleo quente. Consumir na hora. Rendimento: 10 pessoas * Arranque a mandioca no quintal com uma enxada, lave e pique em pedaços. Depois, tire a pele e ponha para cozinhar. 31 Canjiquinha com costelinha e folhas de couve Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 1kg de canjiquinha 1kg de costelinha 6 folhas de couve grandes 2 colheres de sopa de gordura ½ colher de sal com alho 1 colherinha de chá de corante Modo de fazer: cozinhe a canjiquinha no fogo brando por 30 minutos, depois lave bem na água fria. Frite a costelinha e refogue com a canjiquinha. Rasgue as folhas de couve e ponha tudo para cozinhar por mais 10 minutos. Dica: se quiser, coloque cebolinha e pimenta do reino. Consumir no mesmo dia ou na mesma hora. Rendimento: 10 pessoas Costelinha de porco com mamão Por Eleonor de Jesus Lopes Ingredientes: ½kg de costelinha de porco 1 mamão comum verde 1 colher de sopa rasa de gordura de porco 1 colher de chá de sal com alho 1 colher de chá de corante Modo de fazer: refogue a costelinha e deixe fritar bem, por 10 minutos. Em seguida, coloque um pouco de água e deixe cozinhar por mais 40 minutos. Misture o mamão e deixe cozinhar por mais 30 minutos. 32 33 Farofa de andu Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 1kg de feijão (tipo de feijão) ½kg de farinha de mandioca 1kg de toucinho ½kg de linguiça ½kg de carne moída 3 colheres de gordura de porco ½ colher de sal com alho Modo de fazer: frite o toucinho, a linguiça e a carne moída, separadamente. Depois, fervente o andu duas vezes e coloque para cozinhar por 1 hora. Em seguida escorra bem, frite os ovos, vire a linguiça, a carne, o torresmo e o andu. Misture a farinha e mexa bem. Dica: se quiser, coloque cebolinha. Consumir no mesmo dia. Rendimento: seis pessoasFrango com ora-pro-nóbis Por Anésia Assunção Meira Ferreira Ingredientes: 2 frangos inteiros de tamanho médio 3 molhos de ora-pro-nóbis 1 concha de gordura de porco 1 colher de sopa rasa de sal com alho 1 colher de corante de urucum Modo de fazer: limpar os frangos, temperar e depois ferventar por 10 minutos. Em seguida, cozinhar por 30 minutos. Adicione o ora-pro-nóbis* e deixe cozinhar por mais 10 minutos. Consumir em até dois dias. Rendimento: 10 pessoas *Apanhe as folhas com as mãos, no quintal, lave bem e pique como quiser’ 33 Frango com quiabo Por Eleonor de Jesus Lopes Ingredientes: 1 frango ½kg de quiabo 1 colher de sopa de gordura de porco 1 colher de sopa rasa de sal com alho 1 colher de chá de corante de urucum Modo de fazer: limpe o frango e fervente por 10 minutos. Logo após, refogue e deixe cozinhar por 40 minutos. Misture o quiabo (para tirar a baba, use uma colher de chá de vinagre ou limão) e deixe cozinhar por mais 30 minutos. Dicas: usar o tempero na hora de refogar. Comer com arroz, angu e feijão. Consumir em até dois dias. Rendimento: oito pessoas Frango ao molho pardo Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 2 frangos 1 copo de vinagre 6 colheres de farinha de trigo 3 folhas de louro 3 colheres de óleo de soja 1 colher de sopa rasa de sal com alho 1 colher de chá de corante de urucum cebolinha a gosto 34 35 Modo de fazer: mate os frangos e apare o sangue no vinagre. Depois limpe os dois e ponha para ferventar por 3 minutos. Refogue e deixe cozinhar por 30 minutos, mistu- rando as folhas de louro. Dissolva a farinha no sangue com vinagre e coloque um copo de água fria. Mexa bem, passe numa peneira, despeje sobre o frango e deixe ferver por 5 minutos. Retire do fogo e coloque cebolinha a gosto para servir com arroz e angu bem quentes. Consumir em até dois dias. Rendimento: 10 pessoas Frango com palma Por Eleonor de Jesus Lopes Ingredientes: 1 frango inteiro 20 palmas pequenas 1 colher de sopa de gordura de porco ou óleo de soja 1 colher de sopa rasa de sal com alho 1 colher de corante de urucum 1 litro de água Modo de fazer: refogue o frango até que comece a fritar; em seguida, coloque 1 litro de água aos poucos e deixe por 40 minutos. Adicione a palma limpa e picada e deixe por mais 30 minutos. Dica: o prato pode ser servido no almoço ou no jantar. A época da palma é geralmen- te a de chuva. Tempo de preparo: cerca de 2 horas e 30 minutos. Consumir no mesmo dia. Rendimento: 10 pessoas 35 37 Pirão Por Neusa Miguel Silva Ingredientes: 1½ litro de caldo de osso de boi 4 xícaras de fubá de milho sal a gosto cebolinha e salsinha a gosto Modo de fazer: coloque o caldo numa panela e adicione o fubá. Mexa até cozinhar por 15 minutos. Misture a cebolinha e a salsinha. Dica: também podem ser usados caldo de frango ou de carne que tenham sobrado de comidas da véspera. Sirva o pirão com carne frita ou cozida, peixe ou ovo cozido. Consumir na hora. Rendimento: seis pessoas Salada de jiló Por Júnia Ferreira Ingredientes: 10 jilós verdes 1 pitada de sal azeite a gosto Modo de fazer: basta picar os jilós em fatias finas e misturar com o sal e o azeite. Dica: a safra do jiló vai de agosto a fevereiro. Se quiser, pode usar também vinagre. Consumir no mesmo dia. Rendimento: cinco pessoas 37 Tempero de sal com alho Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 5 cabeças de alho 10 folhas de alfavaquinha 5 folhas de quitoco 4 folhas de hortelã 10 folhas de coentro Modo de fazer: coloque todos os ingredientes no pilão e soque com um pouco de sal. Continue socando e misture mais sal até chegar à consistência desejada. Num vidro bem fechado, o tempero dura até um mês. Umbigo de banana Por Marta das Trevas Brito Ingredientes: 20 umbigos de banana 1 concha rasa de gordura 1 colher de sopa de sal com alho ½ colher de sopa de corante de urucum Modo de fazer: limpar* bem e picar os umbigos de banana e colocar para ferventar por 10 minutos, escorrendo quatro águas. Lavar em água fria e cozinhar por mais 10 minutos, misturando os demais ingredientes. Dica: pode ser feito com costelinha de porco ou linguiça. Consumir no mesmo dia. Rendimento: oito pessoas * Para limpar os umbigos de banana, tirar as capas com as mãos untadas de óleo para evitar a nódoa. Quando ficarem brancos, picar com a ponta da faca. 38 RECEITAS DOCES Brigadeiro Por Ediméia Aparecida de Jesus Ingredientes: 1 lata de leite condensado 2 colheres de sopa de manteiga 4 colheres de sopa de Nescau ou chocolate em pó manteiga (para untar) granulados de chocolate (sem dosagem de� nida) Modo de fazer: coloque em uma panela todos os ingredientes e leve ao fogo brando. Quando a massa estiver soltando da panela, despeje num prato untado com manteiga e deixe esfriar. Em seguida, modele os doces e passe no chocolate granulado. Consumir em até três dias. Rendimento: 20 doces Cocada Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 1 prato cheio de mamão ralado 1 prato de açúcar 1 lata de leite condensado 500g de coco ralado 500g de leite em pó 1 colherinha de chá de bicarbonato 40 41 Modo de fazer: coloque todos os ingredientes num tacho e leve ao fogo brando, mexendo até dar o ponto. (Para saber se está no ponto, basta um prato com um pouco de água fria, na qual se põe uma colherinha de chá do doce. Se estiver começan- do a endurecer, pode tirar do fogo). Bata a massa por 30 minutos. Num plás- tico estendido sobre a mesa, ponha os doces feitos com uma colher de sopa. Deixe secar por 1 hora e guarde em uma lata com tampa. Consumir em até 20 dias. Rendimento: 20 pessoas Creme de abóbora-moranga (falso coral) Por Neusa Miguel Silva Ingredientes: 600g de abóbora cozida 1 litro de leite 4 colheres de sopa de farinha de trigo 1½ xícara de chá de açúcar 1 colherinha de sal 1 colher de sopa de manteiga canela em pó a gosto Modo de fazer: colocar em uma panela a abóbora cozida e amassada, acrescentando o leite (reservar 1 xícara para misturar na farinha de trigo). Adicionar o açúcar e o sal. Misturar a farinha de trigo ao leite e mexer bem. Quando o creme estiver fervendo, misturar a farinha com leite e mexer bem para não encaroçar. As- sim que engrossar, deixar ferver apenas para cozinhar a farinha. Acrescentar a manteiga, despejar em uma vasilha e pôr na geladeira. Dica: serve como sobremesa ou lanche. Consumir em até duas semanas. Rendimento: 20 pessoas 41 Doce de abóbora Por Eleonor de Jesus Lopes Ingredientes: 20 fatias de abóbora cozida 2 xícaras de açúcar 1 lata de leite condensado 100g de coco ralado 3 xícaras de leite Modo de fazer: depois de cozinhar a abóbora, retire a casca e bata no liquidi� cador com leite. Leve ao fogo e adicione o leite condensado e o coco ralado até completar cer- ca de 2 horas. Se preferir massa mais consistente, deixe mais tempo ao fogo. Dica: doce tipo compota para sobremesa. Consumir em até 10 dias. Rendimento: 20 pessoas Doce de chuchu Por Anésia Ferreira Ingredientes: 10 chuchus 2 xícaras de açúcar 2 litros de leite Modo de fazer: em uma panela, ferva o leite e o açúcar até virar um creme. Misture o chuchu ralado e lavado (tem que lavar para tirar a nódoa). Dica: doce tipo compota para sobremesa. Consumir em até 10 dias. Rendimento: 10 pessoas 42 43 Doce de fava Por Conceição das Graças Saraiva Lopes Ingredientes: 2kg de fava 1kg de açúcar 2 litros de leite Modo de fazer: ponha as favas selecionadas num tacho médio, cubra com água fria e deixe de molho de um dia para outro. No dia seguinte, escorra a água e aperte os grãos um por um para tirar acasca. Lave e coloque para cozinhar até que � quem bem cozidos. Retire do fogo, escorra a água e deixe esfriar. Depois, ponha as favas aos poucos no liquidi� cador, acrescentando leite e açúcar. Leve a mistura ao fogo brando até que � que grossa. Leve a massa à geladeira e sirva gelada. Consumir em até 10 dias. Rendimento: 15 pessoas Doce de fava Por Eleonor de Jesus Lopes Ingredientes: 2kg de fava 1kg de açúcar 2 litros de leite 1 colher de chá de canela Modo de fazer: cozinhe a fava, depois de selecionar os grãos e lavar. Bata no liquidi� cador com o leite, leve ao fogo, misture o açúcar e a canela, e deixe secar até dar o ponto de massa cremosa (tempo de preparo: cerca de 1 hora). Dicas: doce em compota, tipo sobremesa. Conserve em local refrigerado por até 30 dias. Consumir em até 30 dias. Rendimento: 30 pessoas 43 Doce de laranja-da-terra Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 2 dúzias de laranja-da-terra ½ rapadura 1kg de açúcar 1 pacote de cravo Modo de fazer: raspar as cascas das laranjas e abri-las em cruz, tirando os miolos. Deixe de mo- lho por três dias, trocando a água uma vez por dia. Depois, raspe as cascas por dentro com uma colher para deixá-las bem limpas. Fervente as cascas em uma panela com tampa, escorra a água e deixe tampado até melar. Quando o melado estiver pronto, despeje as laranjas e deixe ferver por 1 hora. Adicione o cravo, tire do fogo, deixe esfriar, coloque numa vasilha com tampa e ponha na geladeira. Dica: a melhor época da laranja-da-terra vai de julho a agosto. Consumir em até 15 dias. Rendimento: 20 pessoas Doce de leite (em barra) Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes 2 litros de leite 10 copos de açúcar Modo de fazer: coloque o leite e o açúcar num tacho, leve ao fogo médio e mexa até dar o pon- to. Tire do fogo e mexa por mais 40 minutos. Forre uma forma de bolo com um plástico, despeje a massa e esparrame bem. Depois de 15 minutos, corte em pedaços, no tamanho que preferir. Consumir em até um mês. Rendimento: 50 pessoas 44 45 Doce de mamão batido Por Conceição das Graças Saraiva Lopes Ingredientes: 1 mamão verde grande 2 litros de leite 1kg de açúcar Modo de fazer: descasque, limpe e pique o mamão em pedaços, no tamanho que desejar. Leve ao fogo numa panela com água e deixe ferver por 30 minutos. Retire a água e deixe esfriar. Bata no liquidi� cador, acrescentando aos poucos o açúcar e o leite. Engrosse a massa em fogo brando, despeje numa tigela e espere esfriar, antes de pôr na geladeira. Consumir em até 10 dias. Rendimento: 10 pessoas Doce de mamão com leite Por Ediméia Aparecida de Jesus Ingredientes: 2 litros de leite ½kg de açúcar 1 mamão verde pequeno cravo (se gostar) Modo de fazer: numa panela, leve o leite e o açúcar ao fogo, até formar um creme. Em segui- da, adicione o mamão lavado e ralado, acrescente o cravo e misture até dar consistência para cortar em pedaços. Dica: quando o doce estiver soltando da panela, é hora de tirar do fogo e continuar mexendo até esfriar. Espalhe o doce numa tábua ou em qualquer superfície lim- pa para cortar em pedaços. Consumir em até 20 dias. Rendimento: 50 doces 45 Doce em barra de mamão ralado Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 1 prato de mamão ralado 1 litro de leite 1kg de açúcar Modo de fazer: ferva o leite com o açúcar até virar creme. Misture o mamão ralado bem es- corrido e mexa até começar a endurecer. Tire do fogo e mexa por mais 30 mi- nutos. Forre uma forma de bolo com plástico, despeje o doce e espalhe bem. Espere 30 minutos e corte as barras com uma faca. Consumir em até 20 dias. Rendimento: 30 pessoas 46 QUITANDAS Biscoito de polvilho Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 2kg de polvilho azedo 2 colheres de sal 2 copos de óleo 2 colheres de farinha de fubá (de moinho de pedra) 2 xícaras de água 4 ovos Modo de fazer: coloque para ferver a água, o sal, o fubá e meio copo de óleo. Misture sobre o polvilho até esfriar, adicione os ovos, o óleo e mais um pouco de água e amas- se bem. Faça os biscoitos, ponha para assar por 30 minutos e deixe por mais 30 minutos secando dentro do forno. Guardado em lata fechada, pode ser consumido por muito tempo. Rendimento: 50 pessoas Biscoito frito de polvilho Por Cristina Aparecida Lopes Ingredientes: ½kg de polvilho azedo 1 colher de sopa rasa de sal 2 xícaras de água 2 ovos 1 litro de óleo para fritar 48 49 Modo de fazer: coloque a água para ferver, enquanto mistura o sal no polvilho. Vire a água fer- vendo no polvilho. Mexa bem até a massa esfriar. Adicione os ovos e amasse bem. Faça os biscoitos do tamanho que quiser, coloque no óleo frio, leve ao fogo brando e deixe fritar até começar a dourar. Deixe uma tampa por perto, pois há risco de estouros e nunca coloque os biscoitos no óleo quente, pois pode estourar muito. Dica: se quiser, pode misturar um pouco de farinha de trigo na massa. Consumir em até dois dias. Rendimento: 30 pessoas Bolacha de queijo Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 1kg de farinha de trigo ½kg de açúcar 1 prato de gordura 1 colher de manteiga ½ queijo ralado 1 copo de leite 6 ovos Modo de fazer: bata todos os ingredientes, menos a farinha. Adicione a farinha e amasse bem. Faça as bolachas com uma colher de sopa, ponha numa forma e asse. Dica: manter em lata tampada para durar mais tempo. Consumir em até quatro dias. Rendimento: 70 bolachas 49 Bolo de fubá cremoso Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 3 xícaras de açúcar 3 ovos 1 colher de sopa de manteiga 2 colheres de fubá 1 xícara de queijo ralado 4 xícaras de leite 1 colher de sopa de fermento Modo de fazer: bata bem todos os ingredientes, no liquidi� cador ou numa bacia. Coloque a massa numa forma untada e asse. (No fogão a lenha, por 30 minutos; no fogão a gás, por 1 hora). Consumir em até três dias. Rendimento: 30 fatias Bolo de mandioca Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 1 prato de mandioca ralada 1 prato raso de açúcar 2 colheres de sopa de manteiga 4 ovos 1 colher de sopa de fermento 1 pitada de sal Canela a gosto 500g de farinha de trigo Modo de fazer: ralar e espremer a mandioca, misturar bem com os outros ingredientes e pôr em uma forma untada. Assar em forno quente por cerca de 30 minutos. Consumir em até três dias. Rendimento: 50 fatias pequenas 50 51 Bolo de mandioca Por Eleonor de Jesus Lopes Ingredientes: 4 ovos 1 xícara de mandioca crua e ralada 1½ xícara de açúcar 1 xícara de leite 1½ xícara de farinha de trigo 1 xícara de queijo ralado 1 pitada de sal 1 colher de fermento 2 colheres de sopa de manteiga 1 colher de chá de canela Modo de fazer: no liquidificador ou na batedeira, bata bem, até virar um creme, o açúcar, a manteiga e os ovos, acrescentando o leite, a farinha de trigo e o sal. Des- peje em uma tigela e adicione o fermento, o queijo, a mandioca e a canela. Misture bem e leve ao forno para assar por 30 ou 40 minutos. Dica: se gostar, coloque queijo por cima antes de assar. Consumir em até dois dias. Rendimento: 15 pedaços Pão caseiro Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 1kg de farinha de trigo 1 copo de óleo de soja 1 copo de água fria 1 copo de açúcar 1 pitada de sal 2 colheres de sopa de fermento biológico seco 1 ovo 51 Modo de fazer: bata o ovo, o açúcar, o óleo, o sal, a água fria e o fermento no liquidi� cador. Depois, vire em uma tigela e vá colocando farinha de trigo até a massa des- prender das mãos. Deixe crescer um pouco, modele os pães e deixe crescer mais. Assar em forno moderado por 45 minutos. Dica: depois demodelar, passe em cima dos pães um pouco de café em pó com ovo, pois � ca muito saboroso. Rendimento: 10 a 12 pães pequenos ou quatro a cinco grandes Pão de sal sem ovo Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 1½ copo de água 1 colher de sobremesa de sal 1 colher de açúcar 1 colher de fermento biológico seco 1 copo de óleo de soja 800g de farinha de trigo Modo de fazer: misture os ingredientes sobre a farinha de trigo e amasse até despren- der das mãos. Deixe descansar por 20 minutos. Modele os pães e coloque numa assadeira untada, até que eles cresçam. Assar em forno moderado. Dica: antes de levar ao forno, risque os pães com uma lâmina de barbear para formar a casca. Rendimento: 10 a 12 pães pequenos ou quatro a cinco grandes 52 53 Rosca baiana Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: ½ copo de óleo de soja 4 ovos 1kg de farinha de trigo 1 lata de leite condensado 200g de coco ralado 2 colheres de fermento biológico ½ colher de sal 1 colher pequena de canela 1 medida da lata de leite condensado de água morna Modo de fazer: bata todos os ingredientes, menos a farinha de trigo, no liquidificador, vire a massa numa bacia e sove (cuidando para que se solte da vasilha) até o ponto de enrolar com as mãos untadas de óleo. Ao enrolar as ros- cas, acrescente uma gema de ovo e um pouco de café líquido, empastele, deixe crescer por meia hora e ponha no forno, por 25 a 30 minutos. Consumir em até 15 dias Rendimento: até cinco roscas de 40cm Rosquinha Por Anésia Ferreira Ingredientes: 200g de manteiga 6 ovos 2 xícaras de açúcar 2kg de farinha de trigo 3 copos de leite Modo de fazer: bata os ovos, o açúcar e a manteiga, adicione a farinha de trigo e o leite e continue batendo. Enrole a massa em tranças e coloque para assar por 30 minutos. Consumir em até 15 dias. Rendimento: 40 pessoas 53 55 CHÁS Recomendações para fazer o chá Por Marilac do Rosário Almeida Como se prepara adequadamente um chá? “A pessoa põe água para ferver e deixa as folhas em outra vasilha. Despeja a água fervendo nas folhas e tampa, deixando por uns 15 minutos. Em seguida, tempera a gosto (para os turistas, sem açúcar).” Quantas vezes pode ser bebido durante o dia? “Durante o dia todo, sem restrição.” Por quanto tempo podem ser tomados os chás? “Se estiver guardado na geladeira, dura até oito dias.” É mais comum tomar chá quente ou frio? ”Em geral, toma-se mais quente que frio.” “Recomendo ainda identificar corretamente a flor, fruto, ervas e folhas, em todos os deta- lhes. É preciso ter todo cuidado, para colher as plantas: elas devem ser reconhecidas como próprias para chás.” Chá de babosa “Pegue meio metro da folha de babosa pela manhã, antes de amanhecer. Limpe com pano branco, tire os espinhos, corte em pedaços miúdos e ponha no liquidificador com meia garrafa de mel e um cálice de cachaça ou uísque. Bata bem e coloque num vidro escuro, tomando uma colher de sopa, durante 15 dias, pela manhã em jejum. Fazer um intervalo de oito dias e recomeçar.” Chá de baba-timão Bom como anti-inflamatório, para curar gastrite e úlcera. Modo de fazer: um pedacinho de casca na água fria. Chá de boldo Recomendado para má digestão e dor de cabeça. Modo de fazer: coloque folhas da erva na água quente ou fria. 55 Chá de capim-cidreira Serve para gripe e é calmante. Modo de fazer: coloca na água fervente. Chá de cipó-trindade Indicado para reumatismo. Modo de fazer: misturar o cipó com cachaça. Chá de folha de algodão Serve para rins e inflamação no útero. Modo de fazer: vire a água fervente na folha. Chá de flor de mamão Serve para o estômago. Modo de fazer: flor na água fervente com uma pitada de bicarbonato. Chá de hortelã Conhecido como antigripal e para combater vermes e problemas nos rins. Modo de fazer: misturar três galhos de hortelã e meia colher de açúcar em meio copo de água. Beber na hora. Chá de guaco Indicado contra gripe. Modo de fazer: misture cinco folhas de guaco com água fervente e açúcar ou mel. Chá de macilica Serve para gripe e dor de barriga. Modo de fazer: na água quente, para gripe; e na água fria, para dor de barriga. Chá de mamão Serve para quando o estômago não aceita as refeições. Modo de fazer: 3 pontas de folha na água fervente. 5756 Chá de maveterna Recomendado contra gripe, dores de cabeça e estômago, para controlar a pressão arterial e na prevenção de derrames cerebrais. Modo de fazer: esfregar as folhas de guaco e pôr em água fria. Chá de pustemeira Serve para machucão. Modo de fazer: ferve ao leite. Chá de salva-vida Usado em casos de inflamações. Modo de fazer: ferver a erva com leite. Chá de santa-maria Indicado no combate a vermes. Modo de fazer: bata as folhas com leite no liquidificador e adoce com açúcar. 57 59 SUCOS Suco de inhame-da-china Por Marilac do Rosário Almeida Ingredientes: 250g de inhame-da-china 1 litro de água açúcar a gosto Modo de fazer: descasque os inhames e lave bem cada um. Depois, corte, junte a água e bata no liquidificador por cinco minutos. Coe numa peneira e adoce a gosto. Servir gelado. Dica: se quiser, pode adicionar gotas de limão. Suco de maracujina Por Anésia Ferreira Ingredientes: 6 maracujinas 2 litros de água 1½ xícara de açúcar Modo de fazer: apanhe e lave as maracujinas. Corte todas ao meio, tire as sementes e bata no liquidificador com um pouco de água por cinco segundos. Em seguida, coe em uma peneira. Ponha o suco numa jarra e adoce. Tempo de preparo: 15 minutos Consumir no mesmo dia. Rendimento: cinco pessoas 59 Suco de folhas verdes Por Anésia Ferreira Ingredientes: 30 folhas da horta 1 litro de água 1 xícara de açúcar Modo de fazer: bata as folhas no liquidificador com água, por 10 segundos. Coe em uma pe- neira, coloque numa jarra e adoce. Tempo de preparo: cinco minutos Consumir no mesmo dia. Rendimento: quatro pessoas 60 63 HÁBITOS, COSTUMES E TRADIÇÕES Bençãos e Garrafadas Em Alecrim, são tradicionais as bênçãos e garrafadas, com destaque para: Garrafada de “Seu Rufino”: mistura de arnica, cipó-trindade, salva-vida, raízes e car- queja com cachaça. Indicada contra reumatismo e cansaço. Bênçãos de “Seu Guido”: “sol na cabeça; espinhela caída; ventre-virado, quebranto de recém-nascido, ofensa de cobra’ e ‘estancar sangue”. De Dona Maria da Conceição, benzedeira e parteira: “bênção na plantação para evitar minhoca, cobra, etc.”. Benzedeiros Guido, Maria da Conceição, Sebastiana, Vicente Cassiano, José Preto, José Correia, Ale- xandrina e outros. O que benzem: Ventre-virado Quebranto Estancar sangue Lagarto e cobra na plantação Coser carne quebrada Dor de dente Sol na cabeça Espinhela caída Os benzedeiros de Alecrim preferem não revelar os segredos de suas rezas, mas foram generosos nos comentários sobre suas benzeções. 63 Como matar e destrinchar um boi Por Cristina Aparecida Lopes e sua mãe, Conceição “Vá ao pasto, lace o boi que desejar, usando corda grossa e amarrando uma ponta entremeio de árvores. Lace o chifre ou o pescoço e dê uma machadada na testa. E sangre (fazer um corte) na parte do pescoço que se chama ‘cabelo loro’ com um punhal (faca que corta dos dois lados). Quando o boi estiver morto, tire o couro com uma faca bem afiada. Vire o animal de barriga para cima e abra a carcaça do pescoço até o rabo. Depois, tire as miudezas: fato (bucho), coração, bofe (pulmão), passarinha (órgão próximo ao fígado), rins, lín- gua, fígado, barrigada, etc. Agora vem o processo de separar as bandas: tire as costelas do quarto (traseiro) e da pá (parte da frente). E é hora de destrinchar como se deve: descarna os ossos e separa as partes.”Como pegar, matar e limpar um frango Por Cristina Aparecida Lopes “Jogue milho no terreiro e chame as galinhas para escolher o frango. Pegue uma faca e um prato. Coloque os pés do frango debaixo de seu pé direito e as asas debaixo do pé esquerdo. Segure o pescoço, raspe algumas penas e passe a faca na altura da ore- lha, em diagonal. Recolha o sangue numa vasilha. Processo de limpeza: vire água fervida sobre o frango. Não deixe a água esfriar e vá puxando as penas até tirar todas. Leve o frango perto da labareda do fogão para sa- pecar (retirar as penugens). Arranque o couro dos pés e corte as unhas. Depois, pegue um pouco de fubá com sabão de quadro* e esfregue no frango para limpá-lo bem. Lave na água fria e vire de barriga para baixo. Abra a carcaça do lado esquerdo e tire a moela, o fígado e o coração (jogue fora as vísceras, que não servem para nada). Só falta cortar os pedaços, sempre nas juntas, tirando toda a gosma. A partir de oito meses já tem franga botando ovos. Nós aproveitamos os ovos, a carne e, às vezes, até a pele da galinha. Depende da preferência.” *Sabão de quadro: misture cinco latas de óleo usado, 1kg de soda cáustica, 1 litro de água e um copo de amaciante (se tiver sebo, bastam três latas de óleo). Rendimento: 50 pedaços 6564 Como matar e limpar um porco Por Cristina Aparecida Lopes “Pegue uma corda média, vá ao chiqueiro e amarre um dos pés do porco. Leve-o para o lugar da matança e amarre a corda num poste. Depois de uma machadada na cabeça, dê uma facada debaixo da mão esquerda do animal para acertar o coração. Molhe o porco com água fria, sapeque toda a pele com fogo de palha de bananeira ou fogareiro a gás ou água fervendo. A seguir, passe o facão, raspando a pele para limpar bem. Vire a carcaça de barriga para baixo e passe a faca para fazer o lombo (separar uma banda da outra). Vire para cima, abra a barriga com uma faca e retire a barrigada, toda a miudeza (bofe, fígado, língua etc.). Tire também a suã (espinha), terminando de separar as bandas. O porco está pronto para ser destrinchado.” Processo de limpeza da palma Por Cristina Aparecida Lopes “Primeiramente, tome bastante cuidado ao colher a palma, pois ela é cheia de es- pinhos. Pegue uma por uma, cortando os pezinhos com uma faca. Depois, retire os espinhos, também um a um. Agora, é só lavar e picar como desejar.” 65 Festa do Rosário de Rio Preto Por Kátia Cirlene Silva, secretária de Turismo e Cultura “É sempre em agosto. A festa começa pelo cardápio especial: arroz, tutu de feijão, maionese, leitão assado, carne de boi cozida, frango e batata refogados com cachaça e vinho. Há um dia de doces dos festeiros e outro de farofas (mistura seca de arroz, carne, ce- noura, farinha e torresmo). Nos dias do rei e da rainha, há almoços tradicionais. Trata-se de um cortejo pelas ruas da cidade, começando na ‘Casa dos Doces do Rei’ e terminando na ‘Casa dos Doces da Rainha’. São doces de leite pastosos, de mamão com rapadura ou com açúcar e de laranja-da-terra. No total, são duas casas de doces (do rei e da rainha) e seis de farofas (conde, con- dessa, príncipe, princesa, prior e priora). A festa dura das 6 às 22 horas e a corte está sempre acompanhada da marujada. Os moradores só podem entrar nas casas depois que a marujada come e canta. Cada um dos personagens cuida de seus próprios trajes.” 6766 Festa de Nossa Senhora da Conceição (padroeira de Alecrim) Descrição do grupo “Antigamente, a festa acontecia em maio, mas, nos últimos anos, é celebrada em 8 de dezembro ou no fim de semana mais próximo da data. No domingo, às 11 horas, tem missa com procissão. A procissão sai da igreja e dá a volta na antiga escola (desativada). Tem música de violão e teclado dentro do templo. Se não tiver padre, a própria comunidade reza o terço e hasteia a bandeira. Pela tradição, os festeiros servem um lanche depois da missa. O lanche, com biscoi- to, bolacha, pão com salame e suco ou refrigerante, é aberto a toda a comunidade. Também há um almoço só para o padre e alguns convidados e a comida depende do gosto do religioso. No sábado, tem leilão, com o José de Fátima, com frangos, pratos salgados e quitanda. A Festa do Produtor Rural atualmente se parece muito com as antigas comemorações do Dia de Nossa Senhora da Conceição, com barraquinhas, forró e muita animação.” 67 69 PRODUTOS RURAIS TÍPICOS Queijo frescal Requeijão Produtores Zé Pascoal, Ademar, João de Jacob, Maria Soledade, Raul e Walmir Cachaça Produtor Wilson José Almeida Rapadura Produtores José Ru� no, José de Pascoal e Efraim Farinha de mandioca Produtores Neuza, Anésia, Lia, José Ru� no e Efraim Fubá de moinho Produtores José de Pascoal e Efraim 69 71 Baba-timão – arbusto do cerrado brasileiro, cujo nome certo é barbatimão; recomendado como cicatrizante e anti-inflamatório. Cabelo-loro – veia na base do pescoço do boi, mortal ao primeiro golpe. Guaco – segundo a tradição indígena, são trepadeiras usadas como antídoto de veneno de cobra. Também conhecida por erva-de-cobra e cipó-caatinga. Intacar – estancar (sangue). Quento – coentro. Quitoco ou kitoco – subarbusto do cerrado; erva usada para tempero. Machucão – ferida ou machucado. Maveterna – também chamada de cicuta, marimbondo e macaé na região. Vire ou virar – ato ou ação de misturar os ingredientes de uma receita. Sangrar – fazer um novo corte no pescoço do boi. 71 GLOSSÁRIO GRUPO DE PARTICIPANTES E COLABORADORES Anésia Ferreira Cristina Aparecida Lopes Conceição das Graças Saraiva Lopes Ediméia Aparecida de Jesus Eleonor de Jesus Lopes Júnia Ferreira Maria Aparecida do Nascimento Cunha Maria de Jesus da Cunha Ferreira Marilac do Rosário Lopes Almeida Marta das Trevas Brito Neuza Miguel Silva Raquel Jesus Lopes Rafael Adriano Lopes Ronaldo Adriano Lopes 72 75 POSFÁCIO Esta pesquisa foi feita no campo, com a comunidade e os grupos da localidade, con- tando com plena e decisiva colaboração de todos os participantes. Também livros e publicações sobre o tema serviram como alimento, acompanha- mento e fontes de conhecimento, estudos e pesquisas. REFERÊNCIAS STRONG, Roy. O banquete. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. COMER bem, Dona Benta – 1001 receitas de bons pratos. 49ª ed. São Paulo: Compa- nhia Editora Nacional, 1963. SIMON, François. Comer é um sentimento. São Paulo: Senac, 2006. CARNEIRO, Henrique. Comida e sociedade – uma história da alimentação. Rio de Janeiro: Campus, 2003. CULINÁRIA da Vovó Rina. São Paulo: Formar, v.1-3. CORREIA, M. P. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1975, v.6. ZURLO, Cida; BRANDÃO, Mitzi. As ervas comestíveis: descrição ilustração e receitas. Rio de Janeiro: Globo, 1989. BRILLAT-SAVARIN, Jean. A � siologia do gosto. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. MONTANARI, Massimo. A fome e a abundância: história da alimentação na Europa. 3ª ed. Bauru: EDUSC, 2003. CAMARGO, Maria Thereza Lemos Arruda. Medicina popular – Aspectos metodológi- cos para pesquisa – garrafada. São Paulo: Almed, 1985. ARAÚJO, Alceu Maynard. Medicina rústica. São Paulo: Brasiliana, 1977. 75 FERRI, Mário Guimarães. 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