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FLUOROQUINOLONAS (QUINOLONAS) *As quinolonas representam um grupo muito antigo e que não tinha as características que as fluoroquinolonas têm hoje. Precisou haver uma modificação química. >> Histórico: • Década de 60: primeiro membro da classe: Ácido Nalidixico; • Década de 70: ácido Oxolónico, Cinoxacino, Ácido Pirimidico, Ácido Pipemidico ; • Década de 80: fluoroquinolonas. *Até hoje encontra-se ácido nalidíxico como antisséptico urinário. Ele era misturado a corante azul de metileno. Não era um antibiótico tão importante, já que não era capaz de causar os efeitos que desejava-se no tratamento de uma infecção. *Na década de 80 surgiram as fluoroquinolonas pela adição de um flúor à estrutura química. >> Estrutura química: *A grande vantagem das fluoroquinolonas é que a determinação da sua potência é dada por modificações no ponto 6 da estrutura. *Modificando os pontos da estrutura química é possível mexer no espectro. Como a estrutura permite várias mudanças, o número de quinolonas que têm surgido é enorme. Primeiro, porque estamos falando de um grupo de medicamentos de eficácia indiscutível. Segundo, porque eles têm um mecanismo de ação único. *Não existe nenhum outro grupo de antimicrobianos que tenha o mesmo mecanismo de ação que as quinolonas. Elas têm um alvo próprio, um objeto muito característico, um objetivo muito claro. São drogas, realmente, muito eficazes. *No final da década de 80, o comitê internacional determinou qual seria a lógica a ser seguida no tratamento das infecções. Quinolona era considerada reserva para todas essas infecções, ela não era droga inicial. *Atualmente nós temos muitas quinolonas, primeiro porque aprendemos a confiar nelas. Em segundo lugar, porque em 2001 ocorreram alguns ataques bioterroristas com antraz nos EUA, o que causava uma infecção generalizada, com formação de carbúnculos, e as drogas eficientes no tratamento eram justamente as quinolonas. Inclusive, foi preciso quebrar a patente para que as drogas fossem utilizadas. Como houve menos ataques do que o esperado, os EUA, que já tinha investido muito na produção de quinolonas, incentivou os estudos com essas drogas. *Atualmente, usa-se quinolona até para tratar sinusite, que deveria ser tratada com amoxicilina (pura ou com ácido clavulânico). *Numa infecção urinária, se temos a opção de tratar com bactrim ou com uma quinolona, a escolha será quinolona, porque é menos tóxica e tem uma eficácia maior. *Mas já houve casos de quinolonas que tiveram que ser removidas do mercado, por causarem lesão renal ou hepática, por exemplo. >> Mecanismo de Ação: • Interferência na síntese de DNA bacteriano, através da inibição de duas enzimas bacterianas: – DNA-girase (Gram-negativos); – Topoisomerase (Gram-positivos). • Essas enzimas são responsáveis pelo controle do processo de divisão, reunião de novas cadeias e enovelamento do novo DNA durante a replicação. *A topoisomerase IV da gram-positiva, no fundo, é o que chamamos de DNA-girase na gram-negativa. Todas são topoisomerases, só mudamos o nome de acordo com a estrutura. Como nas bactérias não há núcleo e, poranto, o material fica solto na carioteca, costuma-se chamar a enzima de DNA-girase. Em humanos, recebeu o nome de topoisomerase. Mas as topoisomerases não são as mesmas. Se fossem as mesmas, a quinolona iria causar uma destruição violenta nas células humanas. *Para que servem as topoisomerases ou a DNA girase? Essas enzimas, quando passam no DNA, vão fazendo a leitura do mesmo. No entanto, a fita de DNA está embolada. Então, à medida que solta-se essa fita para a maquinaria ir passando, aumenta-se a pressão na parte da frente da fita. Nós não podemos dobrar as fitas de DNA, então, elas são cortadas, passam uma por dentro da outra e depois se juntam. Quem faz isso é a topoisomerase, que, na verdade, é a DNA girase e a DNA ligase. Essas enzimas soltam as fitas de DNA e depois fazem a religação delas. *Quando são inibidas essas enzimas que cortam o DNA e permitem que a fita desenrole, não tem como passar nem a RNA polimerase nem a DNA polimerase. Com isso impede-se a replicação da bactéria e a transcrição, porque as fitas são impossibilitadas de desenovelarem. *Não existe nenhuma droga antibacteriana que a gente conheça que tenha um mecanismo tão eficiente. *A quinolona impede que seja feita a abertura indicada na figura abaixo. Então, o processo de leitura será interrompido. Quando isso ocorrer, haverá impedimento do avanço da cadeia. Portanto, a inibição da DNA girase é um dos supermecanismos em termos de eficiência. >> Mecanismos de resistência: • Mecanismos de origem cromossômica: – DNA-girase modificada que não sofre ação pelas drogas; *Bactérias estão gerando enzimas DNA-girase que não respondem mais à quinolona, através da modificação de sua estrutura. – Modificação dos canais porinicos da membrana externa das bactérias → faz com que haja menor difusão da droga para dentro da célula bacteriana. • Mecanismo de efluxo: retirada ativa da droga do meio intracelular, que é o local onde ela atua. Com isso, a quinolona não consegue acesso ao seu alvo. É um mecanismo eficiente. *Algumas bactérias estão começando a apresentar resistência à quinolona, porque ela tem sido muito usada (infecção urinária, de garganta, ocular, etc.). Antigamente, quando seu uso era mais restrito, isso era muito raro. >> Farmacocinética: • Absorção por via oral (mas existem aquelas que não têm absorção oral). – Absorção VO: levofloxacina, norfloxacina, ciprofloxacina. *A levofloxacina é muito usada por via oral porque ela tem uma biodisponibilidade maior que 90%. • Norfloxacino: biodisponibilidade de 30%. Isso não impede que essa droga seja usada por via oral, mas a dose deverá ser ajustada. • Ciprofloxacino: Biodisponibilidade de 70%. • Pefloxacino, Levofloxacino,Gatifloxacino e Ofloxacino: Biodisponibilidade de maior que 90%. • Baixa ligação proteica: 30%. • Meia vida prolongada (3a e 4a G); • Atravessam a barreira placentária. *Então, usamos quinolona para fazer tratamento de infecção fetal, embora existam riscos altos para o feto. *Obs: O ideal mesmo para tratar infecção na grávida ou no feto é penicilina. • 70 a 90% da concentração sérica materna no sangue fetal e líquido amniótico. • Eliminadas em alta concentração no leite materno. *Então, grávidas, antes de usarem quinolona, devem saber se é esencial ou se é possível substituir por uma droga que não apareça no leite. • A maioria das quinolonas é capaz de atravessar a barreira hematencefálica. Portanto, quinolona tem eficiência no tratamento de algumas infecções meníngeas. • Ajustes: apenas em casos de insuficiência renal e hepática graves. • Concetração-dependente ou dose-dependente. *Muitos antibióticos, quando atingem a concentração mínima, fazem o efeito completo. Já as quinolonas, dependendo da concentração, o grau de eficácia vai aumentando. Vão sendo obtidos efeitos cada vez mais intensos, porque está sendo inibida a progressão tanto da RNA polimerase quanto da DNA polimerase. Como a inibição é muito intensa, o efeito da concentração é importante. Mas basta manter a concentração um pouco acima da concentração mínima eficaz, não precisa elevá-la até o pico, contanto que esteja sendo usada uma dosagem eficiente. – Concentrações excessivamente elevadas (chegando ao pico) das quinolonas estão relacionadas com convulsões e outras reações adversas sérias do SNC. Portanto, sempre devemos tomar cuidado com o esquema terapêutico das quinolonas, porque às vezes pode-se aproximar a dose dessas drogas, como faria com azitromicina, e acabar levando o indíce terapêutico muito próximo à zona de convulsão. Portanto, isso deve ser evitado. *Sendo a quinolona usada de forma correta, na dose correta, esse efeito convulsivante não vai ocorrer. *Muitas vezes acontece de a prescriçãodo médico ter sido correta, mas a administração do medicamente ser incorreta. *Quinolona pode causar depressão medular, em altas doses também pode causar sonolência, tontura, quadros de agitação >> Reações adversas: • Incidência: 5 a 10% (não é tão alta). • Comuns: náuseas, vômitos, diarréia e dor abdominal. *A diarréa ocorre em função da destruição da flora intestinal causada pelo antibiótico. • Hipersensibilidade: urticária, eosinofilia (mais grave), erupções máculo-papulares e febre. • Tendinite e ruptura de tendões, espontaneamente (pefloxacino). • Deposição em tecido cartilaginoso de animais em crescimento: lesões articulares. *Portanto, quinolona em criança só se houver muita necessidade, porque como ela vai depositar na cartilagem, pode causar, posteriormente, lesões articulares. *Não podemos definir o parâmetro dessa reação, porque isso foi testado em animais. Mas como a quinolona já está sendo usada por humanos há algum tempo, devemos considerar essa possibilidade. >> Classificação: – Espectro de Ação; – Farmacocinética; – Constituição Química. → Primeira Geração: (são as quinolonas de fato) – Ácido Nalidixico; – Ácido Pipemídico. • Ação sobre enterobactérias; • Limitada ação sobre Pseudomonas; • Ausência de atividades contra gram-positivos; • Baixa difusão tissular, alta ligação proteica, CIM elevadas, não são utilizadas em infecções sistêmicas; • Ação terapêutica: vias urinárias e intestino. *Ácido nalidíxico era usado associado a corante azul de metileno, por isso, era comum ver manchas azuis nas roupas de quem usava esse medicamento. *Esse grupo de medicamentos, atualmente, não tem a menor indicação clínica como bactericida. → Segunda Geração: (já passam a ser fluoroquinolonas) – Primeiro grupo: Norfloxacino, Lomefloxacino, Enofloxacino (VO); – Segundo grupo: Ciprofloxacino, Ofloxacino, Pefloxacino (VO e EV). • Elevada potência antimicrobiana contra cocos e bacilos gram-negativos. • Moderada ou potente ação anti-Pseudomonas. *Bactérias que causavam infecção hospitalar, infecção respiratória, infecção localizada, osteomielite, em paciente internado, com quinolona, isso era resolvido muito rapidamente. • Atividade contra estafilococos sensível a oxacilina. • Boa difusão tissular (concentração sistêmica, exceto norfloxacino). • Segundo grupo: tem alta penetração intracelular (por isso são chamados atípicos). *Quinolona, em geral, não entra muito na célula humana, por isso, não têm grande ação intracelular. No entanto, as quinolonas do segundo grupo da segunda geração penetram em meio intracelular. *Por que devemos nos preocupar com a penetração da quinolona em células humanas? Porque existe DNA girase humana, a qual pode sofrer a ação dessa droga. Devemos pensar nas nossas topoisomerases, dependendo da concentração de quinolona. *Não se encontra quinolona venosa em farmácias. A venda é apenas hospitalar. → Terceira Geração: – Levofloxacino; – Gentifloxacino; – Moxifloxacino; – Grepafloxacino; – Esparfloxacino. • Ação contra gram-negativos e gram-positivos (estreptococos hemolíticos, pneumococo e bactrérias atípicas). *São drogas de amplo espectro. • Pequena ação anti-Pseudomonas (menor que a ação do grupo de segunda geração). • Gatifloxacino e Moxifloxacino: ação contra alguns anaeróbios de pele e vias aéreas (além de todos os microrganismos já citados acima). • Odontólogos usam uma mistura de moxifloxacino, cloranfenicol e tetraciclina no local onde foi feito um procedimento, como um canal por exemplo. O objetivo é obstruir a fim de evitar infecção, febre reumática, etc. O efeito antibacteriano dessa mistura dura muitos anos. → Quarta Geração: – Trovofloxacino; – Clinafloxacino; – Sitafloxacino. • Ação contra anaeróbios, incluindo os componentes do grupo de Bacterioides fragilis e outros anaeróbios intestinais. • São drogas que competem com lincosamidas. >> Espectro de ação: • Ciprofloxacino permanece como a quinolona mais potente contra P. aeruginosa. • Quinolonas de terceira e quarta geração agem contra Estreptococos em baixas concentrações (MIC 0,06 a 1mcg/ml), então, têm muita eficácia. • Gatifloxacina é duas vezes mais ativa in vitro que Levofloxacina contra Pneumococos e apresenta, em geral, razão AUC:MIC elevada contra microorganismos gram-positivos. • Pouco ativas contra os enterococos, não oferecendo segurança para o tratamento clinico destes patógenos. *Terceira geração não é importante no tratamento contra enterococos. Talvez a quarta geração seja mais importante. • Quinolonas de terceira e quarta geração tem elevada potencia contra mcroorganismos atípicos (micoplasma, clamídia e legionelas). • Quinolonas de segunda geração não apresentam boa eficácia no tratamento destas infecções. • Micobactérias (M.tuberculosis, M.leprae, M.avium-intracellulare); Ciprofloxacino e Ofloxacino. *Tuberculose e hanseníase podem ser tratadas com quinolona, embora essa droga não faça parte do primeiro esquema. No entanto, quinolona já faz parte do esquema de tratamento de hanseníase e tuberculose multirresistentes [o esquema completo é composto por rifambutina, ofloxacina (quinolona) e espectinomicina (aminoglicosídeo)]. *Se quinolona fosse usada no tratamento de entrada da tuberculose, seria muito mais eficiente. Os impedimentos para esse uso são: 1) Preço; 2) Risco de resistência caso quinolona passasse a ser muito usada. >> Indicações Clínicas: • Infecções urinárias complicadas e não complicadas. • Prostatites. • Uretrites e Cervicite gonocócica. • Infecções gastrointestinais. • Osteomielite (devido à penetração). • Infecções de pele e tecidos moles. • Infecções respiratórias. *Pode-se usar quinolona para substituir penicilina e azitromicina, por exemplo. >> Posologia: *As dosagens são muito parecidas, porque essas drogas têm potências parecidas. *Normalmente a administração é 1 vez ao dia. Obs: Os mais antigos são feitos de 12/12 hs. Obs: Levofloxacino, dependendo da infecção, ainda é usado de 12/12 hs. *Macrolídeos e quinolonas têm um esquema posológico muito bom. >> Considerações: • Bactericidas (inibição das síntese de DNA). • Resistência crescente entre germes hospitalares (em função do aumento no uso de quinolonas). • Penetração liquórica inadequada para tratamento da maior parte dos patógenos (isso com relação a algumas quinolonas; com outras a penetração liquórica é boa). • Metabolismo hepático variável (alguns casos de uso de quinolona causaram lesão hepática). • Excreção renal ou hepática conforme o composto. • Ajustar doses na insuficiência renal ou hepática severa. • Excelente espectro de ação para patógenos respiratórios típicos e atípicos, urinários, fecais e hospitalares. • Excelente espectro anti-micobacteriano. • Bom perfil de segurança (não chega a ser excelente, como é o caso das penicilinas).
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