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Modelo de Letramento e Práticas de Alfabetização

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Resenha do texto:”Modelo de letramento e as práticas de alfabetização na escola.” KLEIMAN, Ângela (2005)
Mariana. M. Volpato Mariutti
O texto nos aponta que muitos estudos são feitos no Brasil hoje sobre letramento. Que os olhos dos pesquisadores estão voltados para o letramento como um ”fenômeno de interesse social”(Kleiman,p.15), vendo a possibilidade de mudar uma realidade social sofrível, pois o distanciamento de alguns grupos da escrita, ajuda a manter e concretizar um status quo, de marginalidade desses grupos.
Na academia começaram a usar o termo letramento com o objetivo de diferenciar tal fenômeno da alfabetização, suas implicações e conseqüências, lembrando que temos aqui o conceito de alfabetização para um fenômeno individual e não social como pressupõe a prática do letramento. As idéias de Paulo freire, não se enquadram nessa concepção, pois via na alfabetização uma possibilidade de libertação e emancipação social.
Fez-se um estudo do letramento desde o sáculo XVI, para entendermos e avaliarmos o impacto da escrita através dos tempos na sociedade e pode-se constatar a importância da aquisição ou não do código para manter o poder e a divisão de classes.
Pautados nesses dados, pesquisadores voltaram-se para entender a relação que se estabelece entre pessoas analfabetas inseridas em um ambiente com pessoas altamente letradas, e experimenta diferentes situações de letramento com os analfabetos, para avaliarem seus desempenhos, frente a essas diferentes práticas.
 Percebemos que o termo letramento ainda abrange muitas frentes diferentes de trabalho, usado em várias linhas desde a metalingüística até uma vertente social, por isso ainda não temos uma conceitualização fechada e única para o termo.
Usa-se o termo letramento para diferenciar da alfabetização, porque esse é usado tanto para questões orais como para práticas de uso do código mesmo por crianças ou grupos que não sabem ler ou escrever, mas, vivenciam eventos e práticas de letramento que permite estabelecer relações entre a oralidade e a função social da rescrita, sendo assim mesmo sem o domínio do código, em algumas situações, o indivíduo pode fazer uso da leitura e da escrita, inserido em um contexto social.
Perguntamos-nos então, por que temos práticas tão diferentes de letramento? Por que não se faz um trabalho efetivo de letramento nas escolas? Infelizmente, por meio da leitura do texto e de nossas observações, constatamos que depende muito da da condição de letramento de quem alfabetiza, no caso o professor, e o que se valoriza ainda nas escolas, “mais importante agência de letramento”, é a alfabetização por si só, como única prática de letramento, distanciando a escola cada vez mais da realidade, fazendo uso de um “modelo autônomo” de letramento como exemplifica Kleiman em sua obra usando o conceito abordado por Street, nos apontando um distanciamento do “modelo ideológico”(também usado por Street), que concebe as práticas de letramento como sociais, culturais e intimamente relacionados com o contexto de cada grupo social. 
Diante disso a autora nos aponta sua preocupação em esclarecer a diferença entre os “modelos autônomo e ideológico”. Coloca que a autonomia desse modelo refere-se a uma escrita descontextualizada, vê a escrita como um fenômeno interno, o externo, o social como determinante na construção da escrita, usando a escrita como um instrumento de apartheid pois valoriza o cognitivo-que é individual, o distanciamento entre a oralidade e a escrita e por conseqüência reforça as relações de poder. Podemos dizer que os pesquisadores que acreditam nessa concepção têm uma visão etnocêntrica, pois vem apenas o conhecimento adquirido na escrita formal ensinada pela escola como capaz de desenvolver o pensamento abstrato. 
Esses pesquisadores justificam suas crenças a parti de um estudo feito por Luria, na década de 30, onde nos aponta uma sociedade basicamente rural, mas subdividida em um grupo de pessoas que freqüentaram a escola e outro grupo que não freqüentou a escola. Ambos os grupos tinham a escrita adquirida na família e na igreja, mas apenas o grupo que freqüentou a escola tinha a escrita inglesa ensinada pela escola e a isso, os pesquisadores atribuem a capacidade de abstração e generalização do grupo que freqüento a escola em detrimento do grupo não escolarizado, ou seja, “o desenvolvimento da “habilidades cognitivas que o modelo autônomo de letramento atribui universalmente a escrita é conseqüência da escolarização(...) Kleiman, p.27. A autora nos lembra do cuidado que devemos tomar ao atrelar o desenvolvimento da capacidade cognitiva a escolaridade, pois isso permite segregar sujeitos em analfabetos e alfabetizados.
Quando nos aponta a questão da dicotomização da escrita e da oralidade os pesquisadores dessa concepção justificam suas idéias falando da diferença entre a formalidade que há na escrita e que não há na fala. 
Contrapondo se a essa idéia temos as idéias sustentadas por Bakhtin, nos lembramos que nos constituímos com as vozes do outro e nos fala também que as escritas mais elaboradas, “surgem em condições de comunicação cultural mais complexa, relativamente mais desenvolvida e organizada, sobretudo escrita...”(1990:250),ou seja se considerarmos isso no processo de alfabetização da criança, vendo o outro como elemento constitutivo de sua linguagem e ainda tendo um adulto como mediador competente nesse processo, teremos uma escola mais democrática.
Ao falar das qualidades intrínsecas da escrita, os autores relacionam diretamente a aquisição da escrita com o desenvolvimento de habilidades mentais com maior capacidade de abstração e conscientização. Falam da inferioridade do uso da fala em detrimento a escrita, pois vem a fala como algo quase que primitivo enquanto que a escrita “sublima” o sujeito, retomando a idéia da abstração, consolidando a idéia do “Mito do letramento”, idéia essa carregada de preconceito, pois supõe que ao alfabetizar-se o sujeito se tornará liberto das amarras que não lhes permite ascender social, cultural e economicamente. O modelo autônomo atrela ao insucesso na escola o insucesso na vida.
Vejamos agora os apontamentos feitos pela autora sobre o modelo denominado ideológico por Street. 
Para dar início a discussão, precisamos entender esse modelo de letramento percebendo que todas as práticas de letramento têm um caráter social, cultural e atrelado as relações de poder, assim como o papel da escola dentro dessa gama de fatores.
Kleiman nos fala das práticas discursivas e eventos de letramento, pondo que a s pessoas tem competência para usar o que já vivenciaram independente de sua condição social e econômica, ou seja, é de acordo com as vivências em eventos de letramento que as pessoas adquirem conhecimento em determinadas situações.
Segundo Heath, nos fala Kleiman, que a mesma situação de letramento se dá de diferentes formas em famílias com diferentes níveis de escolaridade, por exemplo, ao contar histórias a mediação feita pelo adulto durante a leitura será muito diferente por conta da escolaridade desse adulto. As intervenções que serão feitas pelo adulto de maior escolaridade serão muito mais analíticas, relacionais de generalização que os adultos menos escolarizados que se limitam a fazer perguntas simplórias e óbvias, na o levando a criança a elevados níveis de relação, generalização e análise. Este é um grande diferencial na vida escolar dessas crianças, a escola pressupõe que tais mediações com esses conhecimentos já aconteceram na família e partem desse ponto, o que leva as crianças filhas de adultos menos escolarizados a não ter o mesmo sucesso que as outras crianças e muitas vezes acabam por abandonar a escola após os anos obrigatórios.
Kleiman nos fala também das práticas de letramento na escola a partir dos relatos de Heath. Aponta-nos o modelo de letramento aplicado na escola sendo o autônomo, onde desconsidera todo contexto e realidade da criança, não considera a capacidade da criança, mas essa praticamente está predestinada
a ser o que sua classe social permite que seja. Este estudo relata sobre escolas nos EUA, mas aqui no Brasil temos situações muito semelhantes que colaboram para uma segregação social em massa quando se distancia a oralidade da escrita, ou seja, apoiando-se em uma estrutura léxica e sintática.
Pesquisas mostram que até mesmo os professores, grandes agentes de letramento na sociedade, muitas vezes têm dificuldades de leitura e interpretação de textos, mas não atrela o insucesso dos alunos apenas a má formação do professor, mas ao modelo de letramento escolar, que não possibilita ao sujeito práticas de caráter críticos e discursivos que possam ajudá-lo a resgatar sua cidadania.
Quando Kleiman nos fala sobre letramento e alfabetização de adultos na concepção do modelo autônomo estabelecendo relações ainda mais desastrosas. Professores com tentativas de aproximar seus alunos da realidade usam textos que julgam necessários como receitas, para quem sabe fazer um bolo “de cabeça” acabam por não entender e não trabalhar a real necessidade dessas pessoas, distanciando-as mais uma vez da escola.
 Opondo-se ao modelo autônomo, Kleiman nos aponta alternativas dentro do modelo ideológico que realmente aproximam o sujeito que está na escola de alfabetização de adultos de sua realidade. Aponta situações onde o aluno realmente possa se colocar como parte do processo de aprendizagem, discutindo sobre situações reais, colocando-se como sujeito atuante no processo. Kleiman nos fala, e compartilhamos dessa idéia, de que só será possível uma prática ideológica de letramento quando conhecermos as necessidades dos grupos com os quais trabalhamos, ou seja, só conseguiremos de fato atendê-los, quando passarmos a ouvir suas reais angústias antes de simplesmente sobrepormos nossos interesses “pedagógicos” e nossas angústias sobre a prática discursiva desses grupos, ouvir nos ajuda a redimensionar nossa prática frente a necessidades tão latentes desses adultos que não compartilham conosco da tecnologia da leitura e escrita.
Diante dessa leitura, mais uma vez reiteramos a intenção de termos práticas coerentes e respeitosas, que realmente se enquadrem em um modelo ideológico de letramento, que permitam que nossas mediações sejam engajadas em um modelo crítico de letramento que ajudem nossos alunos a realmente assumirem seu papel de cidadão nessa sociedade estratificada, levando a fazer uma leitura real de sua condição de agente transformador de sua realidade.

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